REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202504190732
Rafael Cardoso Valença
RESUMO
Este artigo analisa as opções de captação de recursos disponíveis no mercado financeiro e de capitais, discutindo os riscos e benefícios do endividamento para as empresas. São explorados os limites do endividamento e seu impacto sobre o valor empresarial. A pesquisa baseia-se em uma revisão da literatura acadêmica e em estudos de caso, proporcionando uma visão abrangente sobre as melhores práticas de financiamento corporativo. O estudo destaca a importância de uma gestão estratégica do endividamento, considerando fatores como alavancagem financeira, deduções fiscais e flexibilidade financeira. Além disso, aborda os riscos associados ao endividamento, como aumento dos custos financeiros, restrições de liquidez e exposição a crises econômicas. A análise inclui exemplos de empresas brasileiras, enfatizando a relevância de boas práticas de governança corporativa para obter melhores condições de crédito e maximizar o valor de mercado.
Palavras-chave: Financiamento. Endividamento. Mercado Financeiro. Captação de Recursos. Valor Empresarial. Otimização de recursos
ABSTRACT
This paper analyzes the funding options available in financial and capital markets, discussing the risks and benefits of corporate debt. It explores debt limits and their impact on company value. The research is based on a review of academic literature and case studies, providing a comprehensive view of best corporate financing practices. The study highlights the importance of strategic debt management, considering factors such as financial leverage, tax deductions, and financial flexibility. Additionally, it addresses the risks associated with debt, including increased financial costs, liquidity constraints, and exposure to economic crises. The analysis includes examples of Brazilian companies, emphasizing the relevance of good corporate governance practices to obtain better credit conditions and maximize market value.
Keywords: Financing. Debt. Financial Market. Fundraising. Company Value.
1 Introdução
A captação de recursos financeiros é um fator essencial para a sustentabilidade, crescimento e competitividade das empresas em um ambiente de negócios dinâmico e globalizado. A escolha das estratégias de financiamento adequadas influencia diretamente a capacidade de investimento, inovação e expansão das organizações, impactando seu posicionamento no mercado e sua criação de valor para acionistas e stakeholders. No contexto empresarial moderno, as fontes de financiamento podem ser classificadas em capital próprio e capital de terceiros, cada uma apresentando vantagens e desafios específicos.
O financiamento por capital próprio, proveniente do reinvestimento de lucros ou da captação de investidores, possibilita maior autonomia e reduz riscos financeiros, mas pode resultar em diluição da participação societária. Já o capital de terceiros, obtido por meio de empréstimos, emissão de títulos de dívida e outros instrumentos, oferece a oportunidade de alavancagem financeira e ampliação dos investimentos sem comprometer diretamente o controle acionário. No entanto, o endividamento pode aumentar os custos financeiros, restringir a liquidez e expor a empresa a flutuações econômicas adversas.
Este estudo tem como objetivo analisar as diversas opções de captação de recursos disponíveis no mercado financeiro e de capitais, explorando os riscos e benefícios do endividamento e seu impacto sobre o valor empresarial. Adicionalmente, investiga os limites do endividamento e a importância da gestão estratégica da dívida como ferramenta para maximizar a eficiência financeira e a competitividade das empresas.
A metodologia adotada inclui uma revisão da literatura acadêmica e a análise de estudos de caso de empresas brasileiras, permitindo uma compreensão aprofundada das melhores práticas de financiamento corporativo. A pesquisa busca fornecer subsídios para gestores e tomadores de decisão avaliarem as alternativas de captação de recursos e estabelecerem estratégias que equilibrem crescimento, rentabilidade e sustentabilidade financeira.
2 Desenvolvimento
2.1 Opções de Captação de Recursos
A captação de recursos é um processo essencial para o crescimento e a sustentabilidade das empresas. No Brasil, as empresas têm acesso a diversas formas de financiamento, cada uma com suas vantagens e desvantagens. A seguir, detalhamos cada opção com exemplos de empresas brasileiras que utilizaram essas estratégias.
2.1.1 Capital Próprio
O capital próprio é uma das fontes mais seguras de financiamento, pois não gera dívida. Ele pode ser obtido por meio do reinvestimento dos lucros ou por aportes de sócios e investidores. Um exemplo brasileiro é a Natura, que historicamente reinvestiu grande parte de seus lucros em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para lançar novos produtos de cosméticos sustentáveis (Silva & Oliveira, 2020). Esse reinvestimento permitiu que a empresa se consolidasse como uma das líderes no mercado de beleza natural, além de atrair investidores interessados em seu modelo de negócios sustentável.
2.1.2 Emissão de Ações
A emissão de ações no mercado de capitais é uma alternativa para empresas que buscam expandir suas operações sem aumentar o endividamento. Um exemplo notável é a Petrobras, que realizou uma das maiores ofertas públicas de ações (IPOs) da história do Brasil em 2010, levantando bilhões de reais para financiar projetos de exploração de petróleo na camada pré-sal (Costa & Almeida, 2015). A emissão de ações permitiu que a empresa captasse recursos significativos sem aumentar sua dívida, mas também resultou em uma maior diluição do controle acionário.
2.1.3 Empréstimos Bancários
Os empréstimos bancários são uma forma tradicional de captação de recursos, oferecendo acesso rápido a capital. A JBS, uma das maiores empresas de proteína animal do mundo, frequentemente utiliza empréstimos bancários para financiar suas operações e aquisições internacionais (Mendes & Rocha, 2018). Por exemplo, a empresa obteve empréstimos para financiar a compra da Swift & Company nos Estados Unidos, o que permitiu sua expansão global. No entanto, os juros elevados no Brasil podem representar um custo significativo para a empresa.
2.1.4 Debêntures e Títulos Corporativos
A emissão de debêntures e títulos corporativos permite a captação de capital de terceiros sem a necessidade de diluir o controle acionário. A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, frequentemente emite debêntures para financiar projetos de infraestrutura e expansão de minas (Ferreira, 2019). Em 2021, a empresa emitiu debêntures verdes para financiar projetos sustentáveis, como a redução de emissões de carbono e a melhoria da eficiência energética. Essa estratégia permitiu que a empresa captasse recursos a taxas competitivas, sem perder o controle acionário.
2.1.5 Venture Capital e Private Equity
O venture capital e o private equity são formas de financiamento voltadas para empresas inovadoras e de crescimento acelerado. Um exemplo brasileiro é a 99, empresa de mobilidade urbana que recebeu investimentos de venture capital de fundos como a Monashees e a Qualcomm Ventures (Santos & Lima, 2021). Esses investimentos permitiram que a empresa expandisse suas operações e se tornasse uma das principais plataformas de transporte no Brasil, antes de ser adquirida pela chinesa Didi Chuxing.
2.1.6 Opções no Contexto Brasileiro
No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desempenha um papel crucial no financiamento de projetos estratégicos. A Embraer, por exemplo, utilizou linhas de crédito do BNDES para financiar o desenvolvimento de novos aviões, como a linha de jatos E-Jets (Rodrigues, 2020). O apoio do BNDES foi fundamental para que a Embraer se consolidasse como uma das principais fabricantes de aeronaves do mundo, competindo com gigantes como Boeing e Airbus.
2.1.7 Securitização de Recebíveis
A securitização de recebíveis tem se tornado uma estratégia relevante para empresas que buscam antecipar fluxos de caixa e melhorar sua liquidez. Um exemplo brasileiro é a Magazine Luiza, que utilizou a securitização de recebíveis de cartões de crédito para obter capital de giro e financiar sua expansão no varejo digital (Carvalho, 2018).
2.1.8 Crowdfunding
O crowdfunding é uma forma emergente de captação de recursos que permite que empresas e empreendedores obtenham financiamento diretamente do público. Um exemplo brasileiro é a Cervejaria Ambev, que lançou uma campanha de crowdfunding para financiar o desenvolvimento de uma nova linha de cervejas artesanais (Gomes & Pereira, 2021).
2.1.9 Financiamento Coletivo de Dívida
O financiamento coletivo de dívida, também conhecido como peer-to-peer lending, é uma forma de captação de recursos em que indivíduos emprestam dinheiro diretamente a empresas ou outros indivíduos. No Brasil, plataformas como a Biva e a Nexoos facilitam esse tipo de financiamento (Oliveira, 2019).
2.1.10 Financiamento Verde
O financiamento verde é uma forma de captação de recursos destinada a projetos que promovem a sustentabilidade ambiental. Um exemplo brasileiro é a CPFL Energia, que emitiu títulos verdes para financiar projetos de energia renovável (Almeida & Costa, 2020).
2.1.11 Financiamento por Meio de Subsídios e Incentivos Fiscais
Governos e instituições públicas frequentemente oferecem subsídios e incentivos fiscais para apoiar o desenvolvimento de setores estratégicos. Um exemplo brasileiro é a Totvs, empresa de tecnologia que se beneficiou de incentivos fiscais para investir em pesquisa e desenvolvimento (Martins & Silva, 2017).
2.2.1 Benefícios do Endividamento
A alavancagem financeira é um dos principais benefícios do endividamento. Ao utilizar recursos de terceiros, as empresas podem financiar projetos que potencializam os retornos sobre o capital próprio (Ross, Westerfield & Jaffe, 2010). Isso é especialmente vantajoso em períodos de crescimento econômico, quando os retornos dos investimentos superam os custos da dívida. Por exemplo, uma empresa de tecnologia pode utilizar empréstimos para financiar a expansão de suas operações internacionais (Brigham & Ehrhardt, 2017). Se a expansão for bem-sucedida, os lucros gerados podem superar os custos dos empréstimos, resultando em um aumento significativo no retorno sobre o capital próprio.
Outro benefício importante são as deduções fiscais. Os juros pagos sobre a dívida são dedutíveis do imposto de renda, o que pode reduzir a carga tributária da empresa (Graham, 2000). Isso torna o endividamento uma opção atraente em termos de planejamento tributário. Por exemplo, uma empresa de manufatura pode se beneficiar das deduções fiscais sobre os juros pagos em empréstimos utilizados para modernizar suas instalações, reduzindo seu imposto de renda e aumentando sua lucratividade.
Além disso, o endividamento pode proporcionar flexibilidade financeira, permitindo que as empresas ajustem suas estruturas de capital de acordo com as condições de mercado e suas necessidades de financiamento (Myers, 1984). Por exemplo, uma empresa de varejo pode utilizar linhas de crédito rotativo para gerenciar suas necessidades de capital de giro durante períodos de alta demanda, como a temporada de festas. Essa flexibilidade pode ser crucial para manter a operação eficiente e aproveitar oportunidades de mercado.
O endividamento também pode melhorar a estrutura de capital da empresa, equilibrando a proporção entre capital próprio e capital de terceiros (Jensen, 1986). Uma estrutura de capital bem equilibrada pode reduzir o custo médio ponderado de capital (WACC), aumentando o valor da empresa. Além disso, o uso de dívida pode sinalizar ao mercado que a empresa está confiante em sua capacidade de gerar fluxos de caixa futuros suficientes para honrar suas obrigações, o que pode aumentar a confiança dos investidores e melhorar a percepção de crédito da empresa.
2.2.2 Riscos do Endividamento
No entanto, os riscos do endividamento não podem ser ignorados. O endividamento gera custos financeiros na forma de juros, que podem impactar negativamente a lucratividade da empresa (Modigliani & Miller, 1963). Em períodos de alta taxa de juros, esses custos podem se tornar significativos. Por exemplo, uma empresa de construção civil pode enfrentar dificuldades financeiras se os custos dos juros sobre seus empréstimos aumentarem devido a uma elevação nas taxas de juros do mercado.
Outro risco é a restrição de liquidez. O endividamento pode impor restrições de liquidez, especialmente se a empresa tiver que cumprir obrigações de pagamento de juros e principal em períodos de baixa geração de caixa (Altman, 1968). Por exemplo, uma empresa de turismo pode enfrentar problemas de liquidez durante a baixa temporada, quando a geração de caixa é reduzida, dificultando o cumprimento de suas obrigações financeiras.
Além disso, empresas altamente endividadas são mais vulneráveis a crises econômicas, pois a queda na demanda e na receita pode dificultar o pagamento de suas dívidas (Opler & Titman, 1994). Por exemplo, uma empresa de aviação pode enfrentar sérias dificuldades financeiras durante uma recessão econômica, quando a demanda por viagens aéreas diminui significativamente, impactando sua capacidade de pagar suas dívidas.
Outro risco significativo é o aumento da probabilidade de falência. Empresas com altos níveis de endividamento podem enfrentar dificuldades para renegociar suas dívidas ou obter novos financiamentos em condições adversas de mercado, aumentando o risco de insolvência (Frank & Goyal, 2009). Além disso, a pressão para cumprir obrigações financeiras pode levar a decisões de negócios subótimas, como a venda de ativos estratégicos ou a redução de investimentos em inovação e crescimento.
A exposição a flutuações cambiais também é um risco relevante para empresas que possuem dívidas em moeda estrangeira (Shapiro, 2006). A depreciação da moeda local pode aumentar significativamente o valor das obrigações em moeda estrangeira, impactando negativamente a posição financeira da empresa. Por exemplo, uma empresa exportadora brasileira com dívidas em dólares pode enfrentar dificuldades se o real se desvalorizar significativamente em relação ao dólar, aumentando o custo de sua dívida.
Por fim, o endividamento pode afetar negativamente a percepção de crédito da empresa. Agências de classificação de risco podem rebaixar a nota de crédito de empresas altamente endividadas, aumentando o custo de novos financiamentos e restringindo o acesso a mercados de capitais (Standard & Poor’s, 2020). Isso pode criar um ciclo vicioso, onde o aumento dos custos de financiamento e a restrição de liquidez agravam ainda mais a situação financeira da empresa.
Riscos e Benefícios do Endividamento O endividamento pode ser vantajoso ao proporcionar alavancagem financeira, permitindo que as empresas realizem investimentos estratégicos e aumentem seu retorno sobre o capital (Modigliani & Miller, 1958). No entanto, o endividamento também apresenta riscos significativos, como o aumento dos custos financeiros, restrições de liquidez e exposição a crises econômicas (Damodaran, 2012).
2.3 Limite de Endividamento
Determinar o nível adequado de endividamento é um desafio complexo que depende de diversos fatores, como o fluxo de caixa da empresa, o setor de atuação e as condições de mercado. Indicadores financeiros, como o índice de alavancagem e a cobertura de juros, são fundamentais na avaliação da sustentabilidade da dívida (Assaf Neto, 2019).
2.3 Indicadores de Sustentabilidade da Dívida
Os indicadores de sustentabilidade da dívida são ferramentas essenciais para avaliar a capacidade de uma empresa honrar suas obrigações financeiras. Entre os principais indicadores estão o índice de alavancagem e a cobertura de juros (Gitman, 2021).
Índice de Alavancagem: O índice de alavancagem, também conhecido como relação dívida/capital, mede a proporção de dívida em relação ao capital próprio da empresa. Um índice de alavancagem elevado pode indicar um alto nível de endividamento, o que pode ser arriscado em períodos de instabilidade econômica.
Por exemplo, uma empresa de telecomunicações com um índice de alavancagem de 2:1 tem duas unidades de dívida para cada unidade de capital próprio. Esse nível de endividamento pode ser sustentável se a empresa tiver fluxos de caixa estáveis e previsíveis (Assaf Neto, 2019). No entanto, em períodos de crise econômica, um alto índice de alavancagem pode aumentar o risco de insolvência, pois a empresa pode ter dificuldades para gerar receita suficiente para cobrir suas obrigações financeiras (BACEN, 2024).
Cobertura de Juros: A cobertura de juros mede a capacidade da empresa de pagar os juros sobre sua dívida com seus lucros operacionais. Um índice de cobertura de juros baixo pode indicar que a empresa está tendo dificuldades para cumprir suas obrigações financeiras. Por exemplo, uma empresa de energia com uma cobertura de juros de 5x tem lucros operacionais cinco vezes maiores do que seus custos de juros.
Esse nível de cobertura indica uma posição financeira saudável e uma capacidade robusta de pagar os juros sobre sua dívida (Gitman, 2021). Empresas com baixa cobertura de juros podem enfrentar dificuldades para obter novos financiamentos, pois os credores podem considerar o risco de inadimplência elevado.
Além desses indicadores, outros fatores como a relação dívida/EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation, and Amortization) e o índice de endividamento total também são utilizados para avaliar a sustentabilidade da dívida (Assaf Neto, 2019). A relação dívida/EBITDA mede a capacidade da empresa de gerar lucros operacionais suficientes para pagar suas dívidas, enquanto o índice de endividamento total calcula a proporção do total de ativos financiados por meio de dívida.
2.3.1 Fatores Determinantes do Limite de Endividamento
Diversos fatores determinam o limite de endividamento de uma empresa, incluindo o fluxo de caixa, o setor de atuação e as condições de mercado.
Fluxo de Caixa: Empresas com fluxos de caixa estáveis e previsíveis podem suportar níveis mais elevados de endividamento, enquanto aquelas com fluxos de caixa voláteis devem ser mais conservadoras em suas estratégias de financiamento. O fluxo de caixa estável proporciona segurança aos credores, pois indica que a empresa terá capacidade de honrar suas obrigações financeiras regularmente (Gitman, 2021). Por exemplo, uma empresa de serviços públicos, que possui receitas recorrentes e previsíveis, pode suportar um nível mais alto de endividamento para financiar a expansão de sua infraestrutura (Assaf Neto, 2019).
Setor de Atuação: O setor de atuação da empresa também influencia sua capacidade de endividamento. Setores com alta volatilidade de receita, como tecnologia e biotecnologia, geralmente têm menor capacidade de endividamento em comparação com setores mais estáveis, como serviços públicos e saúde (BACEN, 2024). Empresas em setores voláteis enfrentam maior incerteza em relação à demanda por seus produtos ou serviços, o que pode impactar negativamente sua capacidade de gerar receita e pagar suas dívidas.
Condições de Mercado: As condições de mercado, como taxas de juros e disponibilidade de crédito, também influenciam a capacidade de endividamento das empresas. Em períodos de baixa taxa de juros, o custo do endividamento é reduzido, tornando-o uma opção mais atraente (BACEN, 2024). Empresas podem aproveitar as condições favoráveis do mercado para financiar a expansão de suas operações por meio de empréstimos de baixo custo.
2.4 Impacto do Endividamento no Valor da Empresa
A estrutura de capital de uma empresa influencia diretamente seu valor de mercado. A Teoria da Estrutura de Capital sugere que há um nível ótimo de endividamento que maximiza o valor da empresa, equilibrando o custo do capital próprio e de terceiros (Modigliani & Miller, 1958).
2.4.1 Teoria da Estrutura de Capital
A Teoria da Estrutura de Capital, desenvolvida por Franco Modigliani e Merton Miller, propõe que o valor de uma empresa seja independente de sua estrutura de capital em um mercado perfeito (Modigliani & Miller, 1958). No entanto, em mercados reais, fatores como impostos, custos de falência e assimetria de informações influenciam a estrutura de capital ideal.
A Teoria da Estrutura de Capital também destaca a importância do custo médio ponderado de capital (WACC). O WACC é a média ponderada dos custos do capital próprio e da dívida, e é utilizado para avaliar a atratividade de novos investimentos (Assaf Neto, 2019). Uma estrutura de capital que minimize o WACC maximiza o valor da empresa, pois reduz o custo total de financiamento.
2.4.2 Estudos de Caso de Empresas Brasileiras
Estudos sobre empresas brasileiras demonstram que o acesso a crédito pode ser um diferencial competitivo, permitindo investimentos em inovação e expansão de mercado. No entanto, o alto custo do capital no Brasil e a volatilidade econômica exigem uma gestão financeira cuidadosa para evitar sobre-endividamento (BACEN, 2024). Empresas que adotam boas práticas de governança corporativa e transparência tendem a obter melhores condições de crédito, reduzindo seu custo de capital e maximizando seu valor de mercado (Assaf Neto, 2019).
2.4.3 Boas Práticas de Governança Corporativa
A adoção de boas práticas de governança corporativa pode influenciar positivamente as condições de crédito e o valor da empresa. Práticas como transparência na divulgação de informações financeiras, responsabilidade social e ambiental, e a implementação de controles internos robustos podem aumentar a confiança dos investidores e reduzir o custo do capital (Gitman, 2021).
Além disso, a eficácia do conselho de administração é um componente crucial da governança corporativa. Um conselho de administração eficaz deve ter uma composição diversificada, liderança responsável e membros com as habilidades e conhecimentos necessários para tomar decisões informadas (Assaf Neto, 2019).
Em resumo, a estrutura de capital de uma empresa e suas práticas de governança corporativa desempenham um papel fundamental na determinação de seu valor de mercado. Empresas que equilibram adequadamente o uso de capital próprio e dívida, adotam boas práticas de governança e mantêm transparência e responsabilidade social tendem a obter melhores condições de crédito e maximizar seu valor de mercado.
3 Considerações Finais
A captação de recursos e a gestão do endividamento são aspectos críticos para a saúde financeira das empresas. Estratégias bem planejadas garantem acesso a capital competitivo e sustentável, promovendo crescimento e geração de valor para acionistas e stakeholders. No contexto brasileiro, é essencial considerar as particularidades do mercado, as políticas governamentais de incentivo e os desafios estruturais do sistema financeiro nacional.
A diversidade de opções de captação de recursos, como capital próprio, emissão de ações, empréstimos bancários, debêntures, venture capital, entre outras, oferece diferentes vantagens e desvantagens que devem ser cuidadosamente avaliadas pelos gestores. A alavancagem financeira proporcionada pelo endividamento pode aumentar o retorno sobre o capital próprio, mas também traz riscos significativos, como custos financeiros elevados, restrições de liquidez e exposição a crises econômicas.
A determinação do limite de endividamento adequado é um desafio que depende de fatores como fluxo de caixa, setor de atuação e condições de mercado. Indicadores de sustentabilidade da dívida, como o índice de alavancagem e a cobertura de juros, são essenciais para avaliar a capacidade de uma empresa honrar suas obrigações financeiras. Empresas com fluxos de caixa estáveis, atuando em setores previsíveis e operando em condições de mercado favoráveis, têm maior capacidade de assumir e gerenciar dívidas de forma eficaz.
A estrutura de capital de uma empresa influencia diretamente seu valor de mercado. A adoção de boas práticas de governança corporativa, como transparência na divulgação de informações financeiras, responsabilidade social e ambiental, e a implementação de controles internos robustos, pode melhorar as condições de crédito e maximizar o valor da empresa. Práticas de governança eficazes aumentam a confiança dos investidores e credores, reduzindo o risco percebido e, consequentemente, o custo do capital.
Em suma, uma gestão estratégica e bem-informada da captação de recursos e do endividamento é vital para o sucesso financeiro das empresas. No Brasil, a adaptação às especificidades do mercado e a utilização de incentivos governamentais podem proporcionar vantagens competitivas significativas, promovendo o crescimento e a geração de valor para acionistas e stakeholders. A abordagem cuidadosa e adaptada a essas especificidades pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso financeiro, garantindo a sustentabilidade e a prosperidade das empresas no longo prazo.
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