REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8015375
Ursula Denecke Marinari Rodrigues1
Claudia Cristina Hastenreiter da Costa Nascimento2
Prof. Doutor Gláucio Diré Feliciano3
Resumo: É notável as crescentes discussões quanto a interdependência da saúde com o meio em que se vive. Através de uma pesquisa bibliográfica, este artigo buscou identificar e mapear quais os agentes ambientais que impactam a saúde e o bem-estar das pessoas no contexto dos espaços construídos. E como forma de elucidar essa pesquisa, foram elaborados como resultados esquemas ilustrativos desses agentes (fatores), corroborando assim para a conscientização dos profissionais envolvidos na criação de espaços construídos das possíveis interferências desses locais na saúde e no bem-estar dos usuários para os quais eles foram projetados.
Palavras-chave: arquitetura saudável; construção saudável; ambiente saudável.
1. Introdução:
Este artigo busca identificar e discutir quais os agentes ambientais que impactam a saúde e o bem-estar das pessoas no contexto dos espaços construídos. Em uma conjuntura em que é crescente a busca do ser humano por maior qualidade de vida, é de extrema importância entender a influência dos espaços construídos na mesma.
Dessa forma, primeiramente se faz necessário entender a relação entre ambiente e saúde e as diferenças conceituais entre agentes (fatores), impactos e riscos, podendo, assim, identificar os agentes (fatores) ambientais existentes nos espaços construídos e que geram impactos e riscos à saúde e ao bem-estar das pessoas.
Para tal, a questão norteadora será mapear esses agentes (fatores) ambientais, contribuindo assim para o melhor entendimento global da interação homem-ambiente-saúde.
2. Justificativa e relevância da pesquisa:
Este estudo se justifica pela sua contribuição no esclarecimento quanto aos agentes (fatores) ambientais que interferem na saúde e no bem-estar das pessoas no contexto dos espaços construídos. E a relevância dele está intimamente ligada ao fato de poder colaborar com a divulgação de um olhar mais atento aos espaços construídos em que se vive e como isso pode estar impactando a vida do ser humano.
3. Questão de partida e estado da arte:
É possível observar uma crescente nas discussões da interdependência da saúde com o meio em que se vive. Existem inúmeros estudos nas áreas da Medicina (comparando a influência ambiental com públicos e doenças específicas), da Saúde Ambiental (abordando de forma generalista o meio ambiente como um todo) e da Segurança do Trabalho (focando no espaço laborativo) quanto a temática. Porém, foi verificado poucas discussões que falem dos espaços construídos de uma forma geral, que é o que trata esse trabalho, esbarrando apenas no que tange à Síndrome do Edifício Enfermo (SED).
Dessa forma, pode-se observar que este estudo irá contribuir uma discussão geral sobre o assunto, servindo de referência para diversas disciplinas do conhecimento por abordar de forma holística a temática.
4. Metodologia:
Esse trabalho de pesquisa caracteriza-se: quanto à abordagem qualitativo, quanto à natureza aplicado, quanto aos objetivos descritivo e exploratório e quanto aos procedimentos, bibliográfico. Para tal, utilizou-se na pesquisa as seguintes palavras-chave: agentes ambientais, fatores ambientais, impactos ambientais e riscos ambientais, ambas combinadas com a palavra-chave saúde e espaço construído.
A busca foi realizada por meio de materiais disponíveis em sites e no Google Acadêmico, onde foram identificadas dissertações de mestrado, artigos científicos e reportagens, todos esses em português, sem recorte temporal. Foram selecionados para compor esse trabalho 7 publicações, através de sua maior relevância com a ideia central desse trabalho que é identificar e mapear os agentes (fatores) ambientais de impacto na saúde no bem-estar das pessoas.
5. Discussão:
Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS), conceitua saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não sendo apenas a ausência de doenças” já apresenta a ideia de uma concepção integral para a saúde através da interferência de diversos fatores, incluindo aí o ambiental. 1
A partir da segunda metade do século XX, através do debate ambiental internacional, a relação homem-ambiente-saúde passou a ser vista sob duas óticas distintas e complementares. A primeira relacionada aos efeitos antrópicos do homem sobre o meio ambiente e a segunda sobre os efeitos do meio ambiente no homem.1 E é nessa segunda ótica que se trata os questionamentos deste artigo.
Podemos observar que a influência ambiental na saúde aparece nos modelos de determinação de saúde criados ao longo do tempo, a citar o de Dahlgren e Whitehead e o de Barton e Grant, conforme pode ser observado nas figuras 01 e 02.2
Figura 01 – Modelo de determinantes sociais da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead em 1991
Figura 02 – Modelo de determinantes sociais da saúde e bem-estar proposto por Barton e Grant em 2006
Fonte: A própria Autora (2023) adaptado de Santana (2014)
No modelo de Dahlgren e Whitehead são demonstradas camadas de contribuição à saúde do indivíduo, sendo apresentadas da seguinte forma: fatores biológicos (idade, sexo, genética), fatores relacionados ao estilo de vida, fatores de convivência (redes sociais e comunitárias), fatores relacionados às condições de vida e de trabalho (neste contexto já incorporando a influência dos ambientes) e fatores relacionados a condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais. E no modelo proposto por Barton e Grant é introduzindo o conceito de bem-estar ao de saúde, onde pode-se observar mais claramente o espaço circundante como influenciador da saúde do indivíduo.3
Especificamente quando falamos de espaços construídos (ambiente antrópico), existem diversos estudos que apontam agentes (fatores) ambientais que, em níveis inadequados, podem representar riscos para a saúde, principalmente no que diz respeito à Síndrome do Edifício Doente (SED), tais como: temperatura, umidade, renovação do ar, partículas suspensas no ar, infiltrações, contaminantes biológicos e químicos, iluminação, idade do edifício, exposição a terminais de vídeo, fatores psicossociais, entre outros.4
Para tal entendimento, se faz necessário compreender a relação entre ambiente e saúde e as diferenças conceituais entre agentes (fatores), impactos e riscos. Agentes (fatores) ambientais são elementos específicos presentes no ambiente que têm o potencial de interferir na saúde e o bem-estar das pessoas. Esses agentes (fatores) podem incluir substâncias químicas, físicas ou biológicas, além de outros possíveis componentes ambientais.5
Vale ressaltar que determinado agente (fator) ambiental passa a ser um risco ambiental quando ele está em uma concentração, intensidade e tempo de exposição capaz de causar danos à saúde dos indivíduos. Essa diferenciação quanto ao risco também se dá quando comparado não mais a fonte e sim a consequência, onde diferente do conceito de impacto, que pode ser positivo ou negativo, o risco sempre tem caráter negativo. 5
É importante salientar ainda que nas diversas fontes consultadas entendeu-se como agentes (fatores) os seguintes termos encontrados: agentes, fatores ou riscos ambientais.
Por conseguinte, após os entendimentos e as conceituações acima, buscou-se identificar e mapear os agentes (fatores) ambientais e que serão apresentados como os resultados dessa pesquisa.
6. Resultados:
Diante do exposto, através da pesquisa realizada foram identificados e mapeados os agentes (fatores) ambientais de influência na saúde e no bem-estar das pessoas e elaborados como resultados esquemas ilustrativos desses agentes (fatores).
Dessa forma, primeiramente identificada e mapeada a classificação geral desses agentes (fatores) conforme ilustrado no esquema 01: Agentes Físicos; Agentes Químicos; Agentes Biológicos; Agentes Diversos. 6;7 E na sequência foram elaborados esquemas específicos para cada um desses citados.
Esquema 01 – Agentes ambientais de impacto na saúde
Por conseguinte, os Agentes Físicos identificados e mapeados, conforme esquema 02, foram os seguintes: Iluminação; Ventilação; Ruído; Vibração; Temperatura; Umidade; Ionização; Eletromagnetismo e Radiação; Fenômenos Geológicos; e outros. 6;7
Esquema 02 – Agentes ambientais físicos de impacto na saúde
Para os Agentes Químicos, foram identificados e mapeados, conforme esquema 03, os seguintes: Materiais Particulados (PM10, PM2,5 e PM1); Compostos Orgânicos Voláteis (COV); Disruptores Endócrinos (Parabenos, Flatos, Bisfenóis, etc.); Formaldeído (CH2O); Monóxido de Carbono (CO); Dióxido de Carbono (CO2); Ozônio (O3); Benzeno (C6H6); Amianto; Radão (Rd); Metais Pesados (Chumbo, Crômio, etc.); Biocidas e Persticidas; e outros. 6;7
Esquema 03 – Agentes ambientais químicos de impacto na saúde
Já os Agentes Biológicos identificados e mapeados, conforme esquema 04, foram os seguintes: Vírus; Bactérias; Fungos; Microrganismos diversos; Vetores; e outros. 6;7
Esquema 04 – Agentes ambientais biológicos de impacto na saúde
E por fim, os Agentes Diversos identificados e mapeados, conforme esquema 05, foram os seguintes: Psicossociais; Ergonômicos e de Prevenção de Acidentes; Sanitários e de Infraestrutura; e outros. 6;7
Esquema 05 – Agentes ambientais diversos de impacto na saúde
7. Conclusão:
Este artigo buscou identificar e discutir quais os agentes ambientais que impactam a saúde e o bem-estar das pessoas no contexto dos espaços construídos. Nesta conjuntura, após a pesquisa realizada, foram elaborados como resultados esquemas ilustrativos dos agentes (fatores) ambientais de impacto à saúde e bem-estar.
Diante dessa exposição, vale destacar que o trabalho corrobora para a conscientização dos profissionais envolvidos na criação de espaços construídos das possíveis interferências desses locais na saúde e no bem-estar dos usuários para os quais eles foram projetados.
8. Referências:
1) SILVA, L. M. Saúde Ambiental: a importância dos fatores ambientais para a promoção de políticas pública de saúde. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Medianeira, 2014.
2) SANTANA, P. Introdução à Geografia da Saúde – Território Saúde e Bem-Estar. Universidade de Coimbra, Coimbra, 2014.
3) GIRÃO, T. N. Impactos das condições de habitação na saúde num contexto de isolamento COVID19. Universidade de Coimbra, Coimbra, 2021.
4) SANGUESSUGA, M. S. G. Síndrome dos Edifícios Doentes. Instituto Politécnico de Lisboa, Lisboa, 2012.
5) BRILHANTE; O. M.; CALDAS, L. Q. A. Gestão e avaliação de risco em saúde ambiental, Fundação Oswaldo Cruz, 1999.
6) FUENTE, J. A. A. de la. O edificio doente: Relação entre construção, saúde e bem-estar. Universidade do Minho, 2013.
7) COHEN, S. C. et al. Habitação saudável e biossegurança: estratégias de análise dos fatores de risco em ambientes construídos. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. 123, p. 1194–1204, out./dez. 2019.
1Arquiteta e Urbanista, Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Campus Zona Oeste (UERJ-ZO).
2Biotecnologista da Faculdade de Ciências Biológicas e Saúde – FCBS, Laboratório de Análise Química e Biológica (LAQB), Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Campus Zona Oeste (UERJ-ZO).
3Docente pesquisador da Faculdade de Ciências Biológicas e Saúde – FCBS, Laboratório de Análise Química e Biológica (LAQB), Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Campus Zona Oeste (UERJ-ZO)