ENVELHECIMENTO E RESILIÊNCIA – DESAFIOS DOS IDOSOS NA COMUNIDADE XERENTE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249181602


Leonardo Sampaio Baleeiro Santana[1]
Neila Barbosa Osório[2]
Adriana da Costa Pereira Aguiar [3]
Silvinia Pereira de Sousa Pires [4]
Samuel  Marques Borges[5]
Marcos Aurélio Suwate Xerente[6]
 Rosy Franca Silva Oliveira[7]
Adryel Reis de Faria[8]
Elias Braz Leite[9]
Wallace Carvalho Lopes[10]
Rozilene Martins Louzeira[11]
Ana Paula Ribeiro de Andrade Oliveira Goveia[12]
Evelyn Monique dos Santos[13]
Lucas Alves Martins[14]
Joanderson Fernandes de Carvalho[15]


resumo

O artigo aborda os desafios enfrentados pelos idosos da comunidade indígena Xerente, localizada na Amazônia Legal no estado do Tocantins, com foco em três áreas críticas: cuidados de saúde, preservação cultural e inclusão social. A análise revela que a geografia remota e a falta de recursos impactam negativamente o acesso dos idosos aos serviços de saúde. Propõe-se a construção de centros de saúde estratégicos, capacitação contínua de profissionais e a implementação de clínicas móveis para melhorar a acessibilidade e a qualidade dos cuidados. No aspecto cultural, destaca-se a importância da participação ativa dos idosos na transmissão de conhecimentos tradicionais através de oficinas, eventos culturais e projetos de documentação. Essas iniciativas são cruciais para preservar a identidade cultural da comunidade. Em relação à inclusão social, o artigo sugere o fortalecimento de criação de novos Warã, além de programas que reduzam o estigma e promovam a participação ativa dos idosos na vida comunitária. A colaboração entre a comunidade Xerente, governos locais e organizações não governamentais é fundamental para implementar essas propostas, assegurando que os idosos possam envelhecer com dignidade e contribuir para a vitalidade cultural da comunidade. Pesquisas futuras devem focar na eficácia de programas de saúde comunitária, preservação de conhecimentos tradicionais e estratégias de inclusão social para desenvolver políticas públicas mais eficazes e culturalmente sensíveis.

Palavras-chave: Envelhecimento indígena. Preservação cultural. Inclusão social.

1 – introdução

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que apresenta desafios específicos em diferentes contextos culturais. Na comunidade indígena Xerente, localizada no Brasil, os idosos enfrentam uma série de dificuldades que afetam sua saúde, bem-estar e inclusão social. Inspirado pela fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty, este artigo explora as complexidades e os desafios do envelhecimento na comunidade Xerente, com um foco particular em três áreas críticas: acesso e qualidade dos cuidados de saúde, preservação cultural e integração dos idosos, e promoção da inclusão social.

De acordo com Merleau-Ponty (1999), a percepção é uma experiência subjetiva e corporal que molda nossa compreensão do mundo. Assim, a experiência dos idosos Xerente no acesso aos cuidados de saúde não pode ser compreendida apenas através de estatísticas e barreiras físicas, mas deve também considerar a vivência e a corporeidade desses indivíduos. A primeira seção do artigo examina as barreiras enfrentadas pelos idosos Xerente no acesso a cuidados de saúde adequados. As dificuldades geográficas, a falta de profissionais de saúde qualificados e a escassez de recursos específicos para a terceira idade são problemas recorrentes que impactam diretamente a qualidade de vida dessa população. Discutiremos estratégias viáveis para superar essas barreiras, visando melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde para os idosos Xerente, respeitando suas experiências sensoriais e corporais.

Em seguida, abordaremos a importância da preservação cultural e a transmissão de conhecimentos tradicionais. Com o avanço da modernização e a influência de culturas externas, há um risco significativo de perda de práticas culturais essenciais. A participação ativa dos idosos em programas de preservação cultural é fundamental para manter viva a identidade cultural da comunidade Xerente. Exploraremos maneiras de integrar os idosos nesses programas, garantindo que seus conhecimentos e experiências sejam passados para as futuras gerações.

Por fim, o artigo analisa as iniciativas necessárias para promover a inclusão social e a participação ativa dos idosos na comunidade Xerente. Reconhecidos como bibliotecas vivas, os anciões desempenham um papel central na vida comunitária, sendo fundamentais nas decisões e na preservação do conhecimento tradicional. Exploraremos ações e políticas que possam ser implementadas para fortalecer ainda mais a inclusão social e a participação dos idosos, contribuindo para sua resiliência e bem-estar. Identificaremos estratégias que reconheçam e valorizem a sabedoria dos anciões, garantindo que continuem a ser pilares essenciais na manutenção e transmissão da cultura e dos valores Xerente.

Através desta análise, buscamos fornecer uma compreensão abrangente dos desafios enfrentados pelos idosos Xerente e apresentar soluções práticas que possam ser adotadas para melhorar suas condições de vida. A resiliência e a sabedoria dos idosos são recursos valiosos para a comunidade, e sua inclusão e bem-estar são fundamentais para a continuidade e a vitalidade da cultura Xerente.

1.1 – Proposição

Para enfrentar os desafios do envelhecimento na comunidade Xerente, é essencial adotar uma abordagem integrada e culturalmente sensível que aborde as necessidades de saúde, preservação cultural e inclusão social dos idosos. Primeiramente, é necessário melhorar o acesso aos cuidados de saúde através da construção de centros de saúde estratégicos e da capacitação contínua de profissionais. A implementação de clínicas móveis e visitas domiciliares pode assegurar que os cuidados cheguem às áreas mais remotas, oferecendo consultas e tratamentos básicos diretamente nas aldeias (Farias, 1990).

No âmbito da preservação cultural, é crucial promover a Grande Festa (Dasipê) por meio da participação ativa dos anciãos em espaços que valorizem seus conhecimentos tradicionais. Momentos intergeracionais e eventos culturais podem proporcionar um espaço para que os anciãos compartilhem histórias e práticas culturais as demais gerações, garantindo a transmissão de conhecimentos e fortalecendo a identidade cultural da comunidade. Além disso, a documentação de tradições orais, através de gravações e produções de materiais didáticos, pode preservar esse patrimônio imaterial para as futuras gerações (Braggio, 1999).

A promoção da inclusão social dos idosos deve ser uma prioridade, reconhecendo-os como guardiões da cultura e incentivando sua participação ativa na vida comunitária. A criação de Warã, espaços de convivência e atividades intergeracionais, pode fortalecer os laços comunitários e proporcionar um senso de propósito aos idosos. Programas que envolvam os anciãos em atividades culturais, artesanais e ambientais podem valorizar suas contribuições e assegurar que continuem a desempenhar um papel vital na comunidade (Guimarães, 1996).

Finalmente, a colaboração entre a comunidade Xerente, governos locais e organizações não governamentais é fundamental para implementar essas propostas. A criação de políticas públicas que promovam a inclusão social e garantam acesso a serviços básicos pode assegurar um envelhecimento digno e saudável para os idosos Xerente, fortalecendo sua resiliência e contribuindo para a continuidade da cultura e dos valores tradicionais (Magalhães, 1927).

2 – revisão da literatura

2.1 – Estratégias para Melhorar o Acesso e a Qualidade dos Cuidados de Saúde para Idosos na Comunidade Xerente

Melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde para idosos na comunidade Xerente exige uma abordagem holística e culturalmente sensível. A comunidade Xerente, como muitas outras populações indígenas, enfrenta desafios únicos em relação ao envelhecimento e ao acesso aos serviços de saúde. Portanto, é essencial desenvolver estratégias que respeitem e integrem as tradições culturais e os conhecimentos locais (Farias, 1990).

Para início, é fundamental elaborar programas de saúde comunitária que envolvam agentes de saúde indígenas. Esses profissionais, provenientes da própria comunidade, têm um entendimento profundo das necessidades culturais e de saúde dos idosos Xerente. Sua atuação pode facilitar a comunicação entre os pacientes e os sistemas de saúde formais, garantindo que as intervenções sejam culturalmente apropriadas e respeitem as práticas tradicionais de cura. A formação contínua desses agentes, com ênfase em geriatria e saúde preventiva, é uma estratégia vital para fortalecer essa ponte entre o conhecimento tradicional e os avanços da medicina moderna (Braggio, 1999).

Igualmente, a promoção de clínicas móveis e mais visitas domiciliares. Ou seja, devido à localização geográfica na Área Grande e Funil nas mais de cem aldeias localizadas no município de Tocantínia, o deslocamento até a área urbana ou no Hospital Regional de Miracema para atendimento médico pode ser desafiador para os idosos. As clínicas móveis podem levar cuidados de saúde diretamente às aldeias, oferecendo consultas, exames preventivos e tratamentos básicos. As visitas domiciliares, por sua vez, permitem um acompanhamento mais próximo e constante do estado de saúde dos idosos, identificando precocemente problemas que possam ser tratados antes de se agravarem (Azanha; Ladeira, 1996).

A educação em saúde também desempenha um papel crucial na melhoria do acesso e da qualidade dos cuidados. Programas de educação em saúde como a “Tecnologia Social: Universidade da Maturidade da Universidade Federal do Tocantins” por meio do LABEFE – Laboratório de Exercício Físico e Envelhecimento desenvolve em parceria com os acadêmicos da anciãos, podem disseminar informações sobre práticas de saúde preventiva, nutrição adequada e manejo de doenças crônicas. Utilizar a língua nativa e os métodos tradicionais de ensino, como narrativas e oficinas práticas, facilita a compreensão e a adoção dessas práticas pelos idosos (Guimarães, 1996).

Paralelamente, é essencial fomentar a participação ativa dos idosos na comunidade. A criação de mais Warã espaços de convivência e atividades intergeracionais pode promover a saúde mental e emocional dos idosos, fortalecendo os laços comunitários e valorizando sua sabedoria e experiência. Programas de artesanato, agricultura comunitária e eventos culturais são exemplos de atividades que podem engajar os idosos, proporcionando-lhes um senso de propósito e inclusão social (Farias, 1994).

Além disso, a integração de tecnologias de saúde, como telemedicina, pode expandir o acesso a especialistas e tratamentos mais avançados. Estabelecer pontos de conexão em áreas estratégicas das aldeias para consultas virtuais com médicos e especialistas urbanos pode reduzir as barreiras de acesso e garantir que os idosos recebam diagnósticos e tratamentos em tempo hábil (Wewering, 2012).

A forma como as instituições de ensino e pesquisa se tornam fundamental para a construção de um sistema de saúde resiliente e adaptado às necessidades dos idosos Xerente. Parcerias com universidades podem promover estudos e intervenções baseadas em evidências, focadas nas especificidades culturais e sociais da comunidade. Tais colaborações podem resultar em programas de formação para profissionais de saúde, desenvolvendo habilidades específicas para o atendimento a populações indígenas (Reis, 2001).

E ratificando, melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde para idosos na comunidade Xerente requer uma abordagem integrada que respeite e valorize a cultura local. Através de agentes de saúde comunitários, clínicas móveis, educação em saúde, participação comunitária, tecnologia e parcerias acadêmicas, é possível construir um sistema de saúde inclusivo e eficaz, garantindo um envelhecimento digno e saudável para os idosos Xerente (Magalhães, 1927).

2.2 – Integração dos Idosos Xerente em Programas de Preservação Cultural

A transmissão intergeracional de conhecimentos, práticas e valores culturais é essencial para garantir que as tradições Xerente perdurem e se adaptem às mudanças contemporâneas. Nesse contexto, os idosos desempenham um papel central como guardiões e transmissores da sabedoria ancestral.

Uma estratégia eficaz para a integração dos idosos em programas de preservação cultural é a realização de oficinas e encontros intergeracionais. Esses eventos proporcionam um espaço para que os idosos compartilhem histórias, mitos e conhecimentos tradicionais com os jovens da comunidade. Esse processo não só fortalece a identidade cultural, mas também cria um vínculo entre as gerações, promovendo respeito e valorização mútua (Farias, 1990).

Além disso, os programas de preservação cultural podem incluir a documentação e registro das tradições orais. Projetos que envolvem a gravação de histórias e cânticos tradicionais, bem como a produção de livros e materiais didáticos baseados no conhecimento dos anciãos, são essenciais. Essa documentação não apenas preserva o patrimônio imaterial dos Xerente, mas também serve como recurso educativo para as futuras gerações e para a comunidade em geral (Braggio, 1999).

Incluir, de forma a “promocionar” os eventos culturais, como festivais e celebrações tradicionais, é outra forma eficaz de integrar os idosos. Esses eventos permitem que os anciãos desempenhem papéis centrais nas cerimônias, demonstrando rituais e práticas culturais importantes. Além disso, esses eventos podem atrair a atenção de pesquisadores e visitantes, promovendo um intercâmbio cultural e ampliando o reconhecimento e o respeito pela cultura Xerente (Farias, 1994).

Os idosos também podem ser integrados em programas de preservação ambiental que se alinhem com a cosmovisão Xerente. Muitas vezes, o conhecimento ecológico tradicional é vasto e abrangente, incluindo práticas de manejo sustentável da terra e dos recursos naturais. A incorporação dos anciãos em iniciativas de conservação ambiental não só preserva o meio ambiente, mas também reafirma a importância do conhecimento tradicional na gestão sustentável dos recursos (Azanha; Ladeira, 1996).

A educação é outro campo crucial para a preservação cultural. Programas de formação de professores e currículos escolares que incluam a cultura e a história Xerente são fundamentais. Os anciãos podem atuar como consultores e educadores, garantindo que os conteúdos ensinados nas escolas reflitam a cultura e os valores da comunidade. Essa integração pode fomentar um ambiente educacional que respeite e valorize a identidade cultural dos alunos (Guimarães, 1996).

Finalmente, é vital promover a saúde e o bem-estar dos anciãos para que possam continuar desempenhando seu papel na preservação cultural. Programas de saúde comunitária que abordem as necessidades específicas dos idosos, incluindo cuidados preventivos e tratamentos tradicionais, são essenciais. A valorização da saúde dos anciãos reflete diretamente na capacidade deles de transmitir conhecimentos e participar ativamente da vida comunitária (Wewering, 2012).

2.3 – Promoção da Inclusão Social e Participação Ativa dos Idosos na Comunidade Xerente

Cidadania é a capacidade conquistada por alguns indivíduos, ou (no caso de uma democracia efetiva) por todos os indivíduos, de se apropriarem dos bens socialmente criados, de atualizarem todas as potencialidades de realização humanas abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado (Coutinho, 1997, p. 146).

A promoção da inclusão social e da participação ativa dos idosos na comunidade Xerente é um tema de grande relevância, pois reflete a capacidade da sociedade de garantir a cidadania plena para todos os seus membros, conforme descrito por Coutinho (1997). A cidadania, nesse contexto, envolve a apropriação dos bens socialmente criados e a realização das potencialidades humanas, algo que deve ser acessível a todos os indivíduos, incluindo os idosos.

Para os Xerente, a inclusão social dos idosos começa com o reconhecimento e a valorização de seu papel na comunidade. Os idosos são frequentemente vistos como as bibliotecas-vivas e guardiões da cultura e da sabedoria ancestral. Promover sua inclusão ativa significa assegurar que eles continuem a exercer essas funções vitais, participando de decisões comunitárias, cerimônias e rituais, e na educação dos mais jovens (Farias, 1990). A criação de espaços de diálogo intergeracional pode facilitar esse processo, permitindo que os conhecimentos tradicionais sejam transmitidos e valorizados dentro da comunidade.

Além disso, é essencial que os programas de saúde comunitária estejam alinhados às necessidades específicas dos idosos. A saúde é um aspecto fundamental da inclusão social, pois permite que os idosos permaneçam ativos e engajados. Isso pode ser alcançado através da implementação de clínicas móveis e programas de saúde preventiva que abordem tanto os aspectos físicos quanto mentais do bem-estar dos idosos (Azanha; Ladeira, 1996). A formação de agentes de saúde indígenas que compreendam as necessidades culturais e de saúde dos idosos pode ser uma estratégia eficaz para garantir que os cuidados sejam adequados e respeitosos.

A educação também desempenha um papel crucial na promoção da inclusão social dos idosos. Programas educativos que incluam a participação dos anciãos como professores e mentores não apenas valorizam seus conhecimentos, mas também reforçam a identidade cultural da comunidade. A integração de conteúdos tradicionais nos currículos escolares, com a colaboração dos idosos, ajuda a criar uma ponte entre o passado e o presente, garantindo que a cultura Xerente continue a ser transmitida de forma viva e significativa (Guimarães, 1996).

Outra estratégia importante é a promoção de atividades culturais e recreativas que envolvam os idosos. Eventos como festivais culturais, oficinas de artesanato e agricultura comunitária podem proporcionar oportunidades para que os idosos compartilhem suas habilidades e conhecimentos, ao mesmo tempo em que permanecem fisicamente ativos e socialmente engajados (Farias, 1994). Essas atividades não só promovem a inclusão social, mas também fortalecem os laços comunitários e a coesão social.

Adicionalmente, a participação dos idosos em iniciativas de preservação ambiental pode ser uma forma de promover sua inclusão social. O conhecimento tradicional dos anciãos sobre práticas sustentáveis e manejo ambiental é um recurso valioso para a comunidade. Envolver os idosos em projetos de conservação e sustentabilidade não apenas protege o meio ambiente, mas também reafirma a importância do conhecimento ancestral na gestão dos recursos naturais (Wewering, 2012).

Finalmente, é fundamental que a comunidade Xerente, juntamente com parceiros governamentais e não governamentais, desenvolva políticas públicas que promovam a inclusão social dos idosos. Isso inclui a garantia de direitos sociais, acesso a serviços básicos e a criação de ambientes que incentivem a participação ativa dos idosos na vida comunitária (Magalhães, 1927). A criação de tais políticas deve ser feita de maneira participativa, envolvendo os próprios idosos no processo de tomada de decisão.

A educação também desempenha um papel vital na promoção da inclusão social dos idosos. Programas educativos que incluem a participação dos anciãos como professores e mentores ajudam a preservar e transmitir a cultura Xerente. A inclusão de conteúdos culturais nos currículos escolares, com a colaboração dos idosos, cria uma ponte entre as gerações e assegura que a identidade cultural continue a ser uma parte viva e significativa da comunidade (Guimarães, 1996).

Por conseguinte, envolver os idosos em iniciativas de preservação ambiental pode ser uma forma eficaz de promover sua inclusão social. O conhecimento tradicional sobre práticas sustentáveis e manejo ambiental é um recurso valioso para a comunidade Xerente. Projetos de conservação que integrem os anciãos reforçam a importância do conhecimento ancestral na gestão dos recursos naturais e promovem a sustentabilidade (Wewering, 2012).

3 – discussão

O acesso a cuidados de saúde na comunidade Xerente enfrenta desafios significativos, especialmente para os idosos. As barreiras geográficas e a falta de profissionais de saúde qualificados são questões recorrentes que dificultam a obtenção de cuidados adequados (Farias, 1990). A experiência de Merleau-Ponty sobre a percepção reforça a necessidade de considerar as vivências subjetivas e corporais dos indivíduos ao abordar essas questões (Merleau-Ponty, 1999). Programas de saúde comunitária que envolvem agentes de saúde indígenas podem ser uma solução eficaz, pois esses profissionais têm uma compreensão profunda das necessidades culturais e de saúde dos idosos Xerente (Braggio, 1999). A implementação de clínicas móveis e visitas domiciliares pode mitigar os desafios de acesso. Essas iniciativas permitem que os cuidados de saúde cheguem diretamente às aldeias, oferecendo consultas e tratamentos sem a necessidade de deslocamento para centros urbanos distantes (Azanha & Ladeira, 1996). Além disso, a educação em saúde é crucial para melhorar a qualidade dos cuidados. Programas que disseminem informações sobre práticas de saúde preventiva e manejo de doenças crônicas, utilizando a língua nativa e métodos tradicionais de ensino, podem facilitar a compreensão e a adoção dessas práticas pelos idosos (Guimarães, 1996).

A preservação da cultura Xerente é essencial para a identidade e coesão da comunidade. Os idosos desempenham um papel central na transmissão de conhecimentos tradicionais e na manutenção das práticas culturais. A realização de oficinas e encontros intergeracionais pode promover a integração dos idosos, permitindo que compartilhem suas histórias e sabedoria com os mais jovens (Farias, 1994). A documentação das tradições orais através da gravação de histórias e cânticos tradicionais também é uma estratégia eficaz para preservar o patrimônio cultural (Braggio, 1999). Eventos culturais, como festivais e celebrações tradicionais, permitem que os anciãos desempenhem papéis centrais nas cerimônias, demonstrando rituais e práticas culturais importantes. Além disso, esses eventos podem atrair a atenção de pesquisadores e visitantes, promovendo um intercâmbio cultural e ampliando o reconhecimento e o respeito pela cultura Xerente (Farias, 1994).

Os idosos também podem ser integrados em programas de preservação ambiental que se alinhem com a cosmovisão Xerente. Muitas vezes, o conhecimento ecológico tradicional é vasto e abrangente, incluindo práticas de manejo sustentável da terra e dos recursos naturais. A incorporação dos anciãos em iniciativas de conservação ambiental não só preserva o meio ambiente, mas também reafirma a importância do conhecimento tradicional na gestão sustentável dos recursos (Azanha & Ladeira, 1996). A educação é outro campo crucial para a preservação cultural. Programas de formação de professores e currículos escolares que incluam a cultura e a história Xerente são fundamentais. Os anciãos podem atuar como consultores e educadores, garantindo que os conteúdos ensinados nas escolas reflitam a cultura e os valores da comunidade. Essa integração pode fomentar um ambiente educacional que respeite e valorize a identidade cultural dos alunos (Guimarães, 1996).

A promoção da inclusão social e da participação ativa dos idosos na comunidade Xerente é um tema de grande relevância, pois reflete a capacidade da sociedade de garantir a cidadania plena para todos os seus membros, conforme descrito por Coutinho (1997). Para os Xerente, a inclusão social dos idosos começa com o reconhecimento e a valorização de seu papel na comunidade. Os idosos são frequentemente vistos como bibliotecas vivas e guardiões da cultura e da sabedoria ancestral. Promover sua inclusão ativa significa assegurar que eles continuem a exercer essas funções vitais, participando de decisões comunitárias, cerimônias e rituais, e na educação dos mais jovens (Farias, 1990). A criação de espaços de diálogo intergeracional pode facilitar esse processo, permitindo que os conhecimentos tradicionais sejam transmitidos e valorizados dentro da comunidade.

Programas de saúde comunitária que estejam alinhados às necessidades específicas dos idosos são essenciais para garantir sua inclusão social. A saúde é um aspecto fundamental da inclusão social, pois permite que os idosos permaneçam ativos e engajados. Isso pode ser alcançado através da implementação de clínicas móveis e programas de saúde preventiva que abordem tanto os aspectos físicos quanto mentais do bem-estar dos idosos (Azanha & Ladeira, 1996). A formação de agentes de saúde indígenas que compreendam as necessidades culturais e de saúde dos idosos pode ser uma estratégia eficaz para garantir que os cuidados sejam adequados e respeitosos.

A educação também desempenha um papel crucial na promoção da inclusão social dos idosos. Programas educativos que incluam a participação dos anciãos como professores e mentores não apenas valorizam seus conhecimentos, mas também reforçam a identidade cultural da comunidade. A integração de conteúdos tradicionais nos currículos escolares, com a colaboração dos idosos, ajuda a criar uma ponte entre o passado e o presente, garantindo que a cultura Xerente continue a ser transmitida de forma viva e significativa (Guimarães, 1996). Outra estratégia importante é a promoção de atividades culturais e recreativas que envolvam os idosos. Eventos como festivais culturais, oficinas de artesanato e agricultura comunitária podem proporcionar oportunidades para que os idosos compartilhem suas habilidades e conhecimentos, ao mesmo tempo em que permanecem fisicamente ativos e socialmente engajados (Farias, 1994). Essas atividades não só promovem a inclusão social, mas também fortalecem os laços comunitários e a coesão social.

Adicionalmente, a participação dos idosos em iniciativas de preservação ambiental pode ser uma forma de promover sua inclusão social. O conhecimento tradicional dos anciãos sobre práticas sustentáveis e manejo ambiental é um recurso valioso para a comunidade. Envolver os idosos em projetos de conservação e sustentabilidade não apenas protege o meio ambiente, mas também reafirma a importância do conhecimento ancestral na gestão dos recursos naturais (Wewering, 2012). Finalmente, é fundamental que a comunidade Xerente, juntamente com parceiros governamentais e não governamentais, desenvolva políticas públicas que promovam a inclusão social dos idosos. Isso inclui a garantia de direitos sociais, acesso a serviços básicos e a criação de ambientes que incentivem a participação ativa dos idosos na vida comunitária (Magalhães, 1927). A criação de tais políticas deve ser feita de maneira participativa, envolvendo os próprios idosos no processo de tomada de decisão.

4 – conCLUSÃO

A análise dos desafios enfrentados pelos idosos na comunidade Xerente evidencia a necessidade de uma abordagem multifacetada e culturalmente sensível para melhorar sua qualidade de vida. A acessibilidade aos cuidados de saúde é uma questão premente, com propostas de construção de centros de saúde e capacitação contínua de profissionais que podem garantir um atendimento adequado e culturalmente apropriado. A implementação de clínicas móveis e visitas domiciliares, bem como programas de educação em saúde, são estratégias fundamentais para assegurar que os idosos recebam cuidados personalizados e contínuos, independentemente das barreiras geográficas.

A preservação cultural é outro aspecto crucial para a comunidade Xerente, com os idosos desempenhando um papel central na transmissão de conhecimentos tradicionais. A participação ativa dos anciãos em programas de preservação cultural, através de oficinas intergeracionais, eventos culturais e projetos de documentação, é essencial para manter viva a identidade cultural da comunidade. Iniciativas que integram os idosos em práticas ambientais sustentáveis reforçam a importância do conhecimento ancestral e contribuem para a gestão sustentável dos recursos naturais.

Por fim, promover a inclusão social e a participação ativa dos idosos é vital para fortalecer os laços comunitários e garantir um envelhecimento digno. A criação de espaços de convivência e lazer, juntamente com programas de inclusão social, pode fortalecer e valorizar para contribuição dos anciãos. A colaboração entre a comunidade Xerente, governos locais e organizações não governamentais é fundamental para implementar essas propostas de maneira eficaz, assegurando que os idosos possam envelhecer com dignidade e continuar a desempenhar um papel vital na continuidade e vitalidade da cultura Xerente.

4.1 – Perspectivas para Pesquisas Futuras

As perspectivas para pesquisas futuras sobre o envelhecimento na comunidade Xerente são vastas e multifacetadas, oferecendo oportunidades para aprofundar a compreensão das necessidades e desafios dessa população. Um caminho promissor é a investigação detalhada dos impactos de programas de saúde comunitária específicos para os idosos Xerente. Estudos longitudinais que avaliem a eficácia de clínicas móveis, visitas domiciliares e programas de capacitação contínua para profissionais de saúde podem fornecer dados valiosos sobre melhorias na qualidade de vida e na saúde dos anciãos.

Um outra área de pesquisa importante é a documentação e análise das práticas culturais e dos conhecimentos tradicionais dos idosos Xerente. Projetos que utilizem tecnologias audiovisuais e digitais para registrar histórias, mitos, rituais e práticas sustentáveis podem não apenas preservar esse patrimônio imaterial, mas também servir como base para programas educativos e de preservação cultural. Pesquisas sobre a eficácia de oficinas intergeracionais e eventos culturais na transmissão de conhecimentos podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de preservação cultural.

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WEWERING, Sílvia Thêkla (org.). Povo Akwẽ-Xerente: vida, cultura e identidade. Belo Horizonte: Ed. Rona, 2012.


[1] Mestre em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: leonardosbsantana@gmail.com

[2] Pós-Doutora em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: neilaosorio@uft.edu.br

[3] Mestre em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: adriana.cpa@hotmail.com

[4] Mestranda em Governança e Transformação Digital. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: silvania.pires@gmail.com

[5] Mestrando em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: samuelbiologo11@gmail.com

[6] Mestrando em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: marcossuwate@gmail.com

[7] Mestranda em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: rosyfranca@uol.com.br

[8] Mestrando em Governança e Transformação Digital. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: adryelfaria10@gmail.com

[9] Mestrando em Governança e Transformação Digital. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: eliasbraz@mail.uft.edu.br

[10] Especialista em História e Geografia. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: wallacecarvalho007@gmail.com

[11]Especialista em Gestão, Orientação e Supervisão. UNITINS-Fundação Universidade do Tocantins. E-mail: louzeira13@gmail.com

[12] Especialista em Culturas e História dos Povos Indígenas. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: ana.paulapaz@hotmail.com

[13] Especialista em Gestão, Orientação e Supervisão. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: evelynpedro84@gmail.com

[14] Especialista em Educação Profissional e Tecnológica. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: alves1998lucas@gmail.com

[15] Graduado em Pedagogia. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: joanderson.carvalho@professor.to.gov.br