ENTRETENIMENTO EM MASSA: COMO A INDÚSTRIA CULTURAL UNIFORMIZA O PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202504041405


Aline Fernanda Scotti de Almeida; Analice da Costa Azevedo; Carla da Rosa Pivetta; Claudia Medianeira Oliveira Batista; Heitor Leandro Foss Soares; Marilaine Langbecker Bianquin; Rogério Eduardo Leivas de Castro; Rosane de Lourdes Prates da Silva; Saulo Felipe Basso dos Santos; Verônica Peixe Flores de Souza; Wasley Barbosa Fagundes.


RESUMO

A indústria cultural exerce um papel determinante na conformação do pensamento contemporâneo, promovendo uma uniformização das ideias e do consumo simbólico. A produção de entretenimento em larga escala, orientada pelo lucro e pela lógica mercadológica, resulta na padronização dos conteúdos culturais, limitando a diversidade de narrativas e perspectivas críticas. O avanço das plataformas digitais e dos algoritmos de recomendação reforça essa tendência, direcionando o consumo midiático para produtos homogeneizados e previsíveis. Desse modo, a cultura de massa transforma-se em um instrumento de controle social, moldando comportamentos e valores coletivos em benefício das grandes corporações midiáticas. A popularização de franquias e formatos narrativos repetitivos gera um ciclo de consumo que privilegia a reprodução de fórmulas bem-sucedidas em detrimento da inovação e da pluralidade cultural. Além disso, a espetacularização do entretenimento converte a cultura em mercadoria, afastando-a de seu potencial crítico e reflexivo. A formação de subjetividades passa a ser influenciada por conteúdos massificados que reforçam ideologias dominantes e esvaziam a capacidade de questionamento da sociedade. Nesse cenário, o papel da cultura como meio de transformação e resistência é enfraquecido, uma vez que a produção independente e alternativa encontra dificuldades para competir com o monopólio das grandes indústrias culturais. Assim, a uniformização do pensamento promovida pelo entretenimento em massa compromete a construção de uma sociedade plural e crítica, limitando o alcance de manifestações culturais autênticas e diversificadas.

Palavras-chave: Indústria cultural. Padronização. Entretenimento.

ABSTRACT

The cultural industry plays a determining role in shaping contemporary thought, promoting a homogenization of ideas and symbolic consumption. Large-scale entertainment production, driven by profit and market logic, results in the standardization of cultural content, limiting the diversity of narratives and critical perspectives. The advancement of digital platforms and recommendation algorithms reinforces this trend, directing media consumption toward homogenized and predictable products. In this way, mass culture becomes an instrument of social control, shaping collective behaviors and values in favor of large media corporations. The popularization of franchises and repetitive narrative formats creates a cycle of consumption that favors the reproduction of successful formulas to the detriment of innovation and cultural plurality. Moreover, the spectacularization of entertainment turns culture into a commodity, distancing it from its critical and reflective potential. The formation of subjectivities becomes influenced by massified content that reinforces dominant ideologies and weakens society’s ability to question. In this scenario, culture’s role as a means of transformation and resistance is diminished, as independent and alternative productions struggle to compete with the monopoly of major cultural industries. Thus, the homogenization of thought promoted by mass entertainment compromises the construction of a plural and critical society, limiting the reach of authentic and diverse cultural manifestations.

Keywords in English Cultural industry. Standardization. Entertainment.

1 INTRODUÇÃO

A indústria cultural, consolidada como um dos principais eixos do entretenimento contemporâneo, exerce uma influência significativa na modelagem dos padrões de pensamento e comportamento da sociedade. A massificação da cultura e a produção em larga escala, estruturadas sob a lógica do mercado, promovem uma homogeneização dos conteúdos, reduzindo a diversidade de perspectivas e a capacidade crítica dos indivíduos. Esse fenômeno tem se intensificado com o avanço das plataformas digitais, que utilizam algoritmos para direcionar o consumo cultural de maneira cada vez mais previsível e controlada. Dessa forma, os produtos midiáticos passam a ser reproduzidos dentro de fórmulas comerciais, minimizando o espaço para expressões culturais autênticas e inovadoras.

A cultura de massa, ao ser orientada pelo lucro, torna-se uma ferramenta eficaz de reprodução ideológica, influenciando valores sociais e consolidando padrões estéticos e narrativos pré-estabelecidos. O consumo de conteúdos padronizados, reforçado por grandes conglomerados de mídia, gera um cenário no qual a cultura é transformada em mercadoria e submetida a um processo de espetacularização. Esse processo reduz a arte e o entretenimento a meros produtos de consumo, afastando-os de seu potencial reflexivo e crítico. A partir disso, a uniformização dos discursos culturais se intensifica, resultando na limitação da pluralidade cultural e na imposição de uma única perspectiva dominante.

O avanço da tecnologia e a popularização dos serviços de streaming potencializaram ainda mais essa dinâmica, uma vez que os algoritmos de recomendação promovem o consumo de conteúdos similares, reduzindo as possibilidades de contato com produções diversificadas. Assim, a cultura passa a ser distribuída com base em padrões de consumo pré-definidos, orientando as preferências do público e restringindo o acesso a novas formas de expressão artística. O monopólio das grandes indústrias culturais dificulta a ascensão de produções independentes e alternativas, que encontram barreiras para competir com produtos de alta visibilidade e ampla distribuição.

Nesse sentido, a padronização do pensamento impulsionada pelo entretenimento de massa compromete a formação de uma sociedade crítica e plural. A reprodução incessante de formatos narrativos previsíveis e a imposição de modelos de comportamento favorecem a manutenção do status quo e reduzem a capacidade de questionamento social. A indústria cultural, ao estruturar-se como um mecanismo de dominação simbólica, limita a diversidade de ideias e restringe o alcance de produções culturais que poderiam desafiar as concepções hegemônicas estabelecidas.

Diante desse cenário, torna-se fundamental analisar as implicações desse fenômeno para a sociedade contemporânea. Compreender os impactos da indústria cultural na uniformização do pensamento possibilita a reflexão sobre estratégias que possam fomentar a diversidade cultural e estimular a produção de conteúdos que promovam a crítica e a inovação.

2. DESENVOLVIMENTO

A indústria cultural, ao consolidar-se como um dos principais vetores do entretenimento contemporâneo, tem desempenhado um papel crucial na padronização do pensamento e na conformação de padrões de comportamento. O modelo de produção em larga escala, atrelado à lógica do mercado, conduz a uma homogeneização dos conteúdos, promovendo uma reprodução incessante de narrativas previamente estabelecidas e limitando a diversidade de discursos. Essa dinâmica afeta não apenas a forma como o entretenimento é consumido, mas também a maneira como as sociedades constroem suas referências culturais e simbólicas. Dessa forma, observa-se um estreitamento das possibilidades criativas, no qual as produções culturais são moldadas para atender a interesses mercadológicos, muitas vezes desconsiderando a necessidade de diversidade e inovação no âmbito cultural (DIAS, 2019).

O domínio das grandes corporações midiáticas sobre a produção e distribuição de conteúdos tem contribuído para a construção de uma cultura de consumo homogênea, na qual os mesmos formatos e discursos são incessantemente reproduzidos. A espetacularização do entretenimento, orientada por critérios comerciais, transforma a arte e a cultura em mercadorias, afastando-as de sua função crítica e reflexiva. Essa realidade reflete uma estrutura de poder que mantém o público cativo de um repertório cultural limitado, reduzindo o acesso a produções independentes e alternativas. Nesse contexto, a diversidade cultural é gradativamente comprometida, à medida que as grandes empresas priorizam a reprodução de fórmulas lucrativas, em detrimento da experimentação artística e da inovação estética (DUARTE, 2016).

A ascensão das plataformas de streaming e a introdução de algoritmos de recomendação intensificaram ainda mais esse fenômeno, tornando o consumo cultural previsível e altamente segmentado. Os algoritmos, ao priorizarem conteúdos baseados no histórico de consumo do usuário, restringem as possibilidades de contato com produções diversificadas, reforçando padrões pré-estabelecidos. Esse processo impacta diretamente na formação do repertório cultural das sociedades contemporâneas, uma vez que limita a exposição a diferentes perspectivas e impede o desenvolvimento de uma visão crítica sobre as narrativas consumidas. Assim, o entretenimento passa a ser direcionado por um sistema que privilegia a reprodução de conteúdos hegemônicos, dificultando a difusão de produções inovadoras que poderiam desafiar a lógica da massificação cultural (GONÇALVES, 2022).

O monopólio da indústria cultural sobre os meios de comunicação e distribuição de conteúdos reforça ainda mais essa padronização, tornando a produção cultural um instrumento de conformação ideológica. A concentração do setor nas mãos de poucos conglomerados midiáticos reduz as possibilidades de diversificação dos discursos e dificulta a emergência de novas vozes no cenário cultural. A padronização das produções midiáticas não apenas restringe a liberdade criativa, mas também influencia a maneira como o público interpreta a realidade, consolidando visões de mundo alinhadas aos interesses das grandes corporações. Dessa maneira, a cultura de massa se apresenta como um mecanismo de dominação simbólica, no qual a repetição de narrativas e formatos visa consolidar valores e comportamentos específicos na sociedade (GOMES, 2021).

Diante desse panorama, a busca por alternativas que promovam a diversidade cultural e incentivem a inovação torna-se um desafio fundamental para a sociedade contemporânea. A democratização do acesso à produção e distribuição de conteúdos independentes é essencial para combater os efeitos da padronização cultural imposta pela indústria do entretenimento. Ao ampliar as possibilidades de circulação de produções alternativas, cria-se um ambiente propício para a experimentação artística e para o desenvolvimento de discursos que desafiem a lógica hegemônica. Somente por meio do incentivo à pluralidade cultural será possível garantir que o entretenimento cumpra seu papel não apenas como forma de lazer, mas também como ferramenta de reflexão e transformação social (MARTINS, 2023).

2.1 Cultura em Série: A Indústria do Entretenimento e a Padronização do Pensamento

A indústria cultural, ao consolidar-se como um dos principais eixos do entretenimento contemporâneo, exerce uma influência profunda sobre a modelagem dos padrões de pensamento e comportamento da sociedade. A estruturação desse setor sob a lógica do mercado faz com que a produção cultural seja voltada prioritariamente para a obtenção de lucro, resultando na padronização dos conteúdos e na limitação da diversidade de perspectivas. Esse fenômeno tem implicações diretas na maneira como o público consome entretenimento, uma vez que os produtos culturais são concebidos para se adequar a fórmulas pré-estabelecidas, garantindo um retorno financeiro previsível e minimizando riscos para as grandes corporações do setor. Ao reduzir a variedade de discursos disponíveis, a indústria cultural enfraquece a capacidade crítica do público, restringindo sua exposição a novas ideias e formas alternativas de expressão artística. Nesse contexto, a cultura deixa de ser um espaço de questionamento e inovação, tornando-se, em grande parte, uma ferramenta de conformação social que reforça narrativas dominantes e valores preestabelecidos (MELO, 2018).

A ascensão das plataformas digitais intensificou ainda mais esse fenômeno, uma vez que os algoritmos passaram a desempenhar um papel central na forma como o conteúdo cultural é consumido. Diferentemente dos meios de comunicação tradicionais, que já apresentavam tendências de massificação e padronização, os serviços de streaming e as redes sociais utilizam sistemas avançados de recomendação que direcionam o usuário a conteúdos similares aos que já foram previamente consumidos. Esse mecanismo contribui para a formação de bolhas culturais, nas quais os indivíduos são expostos apenas a produtos que reforçam suas preferências, dificultando o contato com expressões artísticas diversas e limitando a possibilidade de ampliação de repertórios culturais. Além disso, essa lógica algorítmica favorece a centralização do mercado, uma vez que produções independentes encontram barreiras significativas para alcançar visibilidade e competir com as grandes produções midiáticas (NASCIMENTO, 2020).

A massificação da cultura não apenas impacta o consumo de entretenimento, mas também influencia diretamente a maneira como as sociedades interpretam a realidade e constroem suas identidades coletivas. A padronização dos conteúdos midiáticos leva à normalização de determinados valores e comportamentos, consolidando um imaginário coletivo que muitas vezes reflete interesses específicos das grandes corporações e dos grupos que controlam os meios de produção cultural. Esse processo reduz o espaço para narrativas dissidentes e expressões artísticas que questionem as estruturas de poder vigentes, dificultando o desenvolvimento de uma cultura verdadeiramente plural e democrática. Dessa maneira, a produção cultural torna-se um instrumento de influência ideológica, por meio do qual determinados discursos são reforçados e outros são sistematicamente silenciados, limitando o pensamento crítico e a capacidade de reflexão da sociedade (PEREIRA, 2017).

Diante dessa realidade, torna-se evidente a necessidade de políticas públicas e iniciativas que incentivem a diversidade cultural e garantam espaço para produções independentes no cenário midiático. O fortalecimento de mecanismos de financiamento e distribuição para artistas e produtores fora do circuito comercial tradicional pode contribuir para ampliar a oferta de conteúdos que escapem da lógica da padronização imposta pela indústria cultural. Além disso, a ampliação do acesso a conteúdos culturais alternativos e a promoção da educação midiática são estratégias fundamentais para desenvolver um público mais crítico e consciente dos impactos da massificação da cultura. Dessa forma, seria possível equilibrar a presença das grandes corporações midiáticas com espaços de inovação e experimentação artística, permitindo que a cultura cumpra seu papel de fomentar a diversidade de pensamentos e estimular o debate crítico na sociedade (TAVARES, 2019).

Por outro lado, é essencial compreender que a homogeneização da cultura não se dá apenas pelo viés do consumo, mas também pela maneira como os próprios produtores culturais internalizam as lógicas de mercado. Muitos criadores, ao perceberem que a previsibilidade e a repetição de fórmulas são mais rentáveis do que a inovação, passam a produzir conteúdos alinhados às tendências comerciais, contribuindo para a perpetuação desse ciclo de padronização. Isso significa que o combate à massificação cultural não depende apenas de transformações estruturais na indústria, mas também de um esforço consciente por parte dos produtores e consumidores para valorizar e apoiar conteúdos que desafiem a lógica dominante. Incentivar a experimentação artística e criar alternativas viáveis de distribuição são passos fundamentais para garantir a pluralidade cultural e evitar que a cultura se transforme apenas em mais um produto padronizado do mercado global (TAVARES, 2019).

A cultura de massa, ao ser orientada pelo lucro, torna-se uma ferramenta eficaz de reprodução ideológica, influenciando valores sociais e consolidando padrões estéticos e narrativos pré-estabelecidos. Essa realidade pode ser observada na maneira como os grandes conglomerados midiáticos estruturam suas produções, priorizando histórias e formatos que reforcem as normas sociais já aceitas em detrimento de discursos inovadores ou disruptivos. Essa lógica não apenas molda as preferências do público, mas também influencia a maneira como as sociedades percebem e interpretam a realidade ao seu redor. Dessa forma, a cultura se torna um veículo por meio do qual determinados valores são reafirmados continuamente, ao passo que outras perspectivas são marginalizadas ou mesmo silenciadas. Essa padronização dos discursos culturais resulta na limitação da pluralidade e na imposição de uma única visão dominante, restringindo a capacidade de reflexão crítica da sociedade como um todo (MELO, 2018).

A espetacularização do entretenimento, característica central da indústria cultural contemporânea, reforça ainda mais esse processo de homogeneização. O apelo ao sensacionalismo, à superficialidade e à emoção imediata são elementos cada vez mais presentes nas produções midiáticas, tornando o consumo de cultura um processo baseado em respostas instantâneas, em vez de reflexões aprofundadas. Essa estratégia é amplamente utilizada para manter o público constantemente engajado, direcionando sua atenção para conteúdos de fácil assimilação e evitando a exposição a temas mais complexos ou desafiadores. Assim, a cultura de massa se torna um mecanismo de entretenimento passivo, no qual a audiência é incentivada a consumir sem questionar, reforçando um ciclo de alienação e conformismo que favorece a manutenção das estruturas de poder estabelecidas (NASCIMENTO, 2020).

A padronização da cultura também reflete-se na mercantilização do entretenimento, no qual produtos culturais são criados com o objetivo principal de maximizar o lucro, muitas vezes em detrimento de sua qualidade artística ou relevância social. Nesse contexto, a arte perde sua dimensão crítica e passa a ser tratada como uma mercadoria qualquer, sujeita às regras do mercado e aos interesses comerciais das grandes corporações. Essa lógica limita as possibilidades de inovação e experimentação

artística, uma vez que os investimentos são direcionados para projetos que garantam um retorno financeiro imediato, em vez de apoiar iniciativas que desafiem os padrões estabelecidos. Como resultado, a diversidade cultural é comprometida e a cultura de massa assume um papel de reforço das ideologias dominantes, tornando-se um instrumento de conformação social, em vez de uma ferramenta de transformação e questionamento (PEREIRA, 2017).

A imposição de narrativas homogêneas e o enfraquecimento das produções culturais independentes dificultam a formação de um público crítico e reflexivo. Em um ambiente midiático onde as opções são reduzidas a formatos previsíveis e narrativas padronizadas, a sociedade perde a capacidade de questionar e reimaginar a realidade. Essa situação fortalece o status quo e reduz as possibilidades de mudanças sociais, uma vez que a cultura, ao invés de ser um espaço de debate e renovação, se transforma em um reflexo da estrutura de poder vigente. Por isso, é essencial desenvolver estratégias que ampliem a representatividade cultural e garantam que múltiplas vozes possam se expressar no cenário midiático, permitindo que a cultura cumpra seu papel como um agente de pluralidade e inovação (TAVARES, 2019).

Diante desse cenário, o incentivo à cultura independente e o fortalecimento de produções artísticas que desafiem a lógica mercadológica tornam-se fundamentais para garantir uma sociedade mais crítica e democrática. Ao proporcionar condições para que novos discursos culturais emergam e alcancem visibilidade, é possível romper com o ciclo de homogeneização imposto pela indústria cultural e promover um ambiente midiático mais diverso e representativo. Dessa maneira, a cultura pode voltar a desempenhar seu papel transformador, estimulando debates, incentivando a reflexão e contribuindo para a construção de uma sociedade mais plural e consciente (GOMES, 2021).

A expansão das plataformas digitais e a popularização dos serviços de streaming intensificaram a padronização do pensamento cultural ao direcionar o consumo por meio de algoritmos altamente sofisticados. Esses mecanismos, que inicialmente surgiram com a promessa de personalizar a experiência do usuário, acabaram restringindo significativamente o acesso a conteúdos diversificados, priorizando apenas aqueles que se alinham ao histórico de consumo prévio do público. Assim, cria-se um ciclo vicioso em que os consumidores são expostos repetidamente aos mesmos formatos, narrativas e perspectivas, reduzindo a possibilidade de contato com produções independentes ou inovadoras. Esse fenômeno amplia a homogeneização da cultura e reforça a dominação simbólica das grandes indústrias midiáticas, que controlam não apenas a produção, mas também a forma como os conteúdos são distribuídos e acessados, resultando na limitação das escolhas e na consolidação de um repertório cultural previsível e comercialmente seguro (DIAS, 2019).

A estrutura de poder por trás da indústria cultural se fortalece à medida que grandes conglomerados midiáticos monopolizam não apenas a produção, mas também os meios de distribuição e exibição de conteúdos. O avanço das tecnologias digitais permitiu que essas empresas expandissem seu alcance globalmente, tornando suas produções culturais referências dominantes no imaginário coletivo. Dessa forma, a hegemonia de determinadas narrativas e estéticas se consolida como padrão, tornando- se referência exclusiva para grande parte da sociedade. Esse domínio dificulta a inserção de expressões culturais locais e independentes, que, mesmo quando acessíveis, encontram obstáculos para competir com as produções midiáticas de grande orçamento e massiva divulgação. Assim, a predominância de um modelo de entretenimento voltado para o consumo rápido e superficial relega manifestações artísticas mais complexas a nichos restritos, reduzindo ainda mais sua visibilidade e impacto na construção do pensamento social (DUARTE, 2016).

O monopólio exercido pela indústria cultural também influencia diretamente a produção de conhecimento e a forma como determinados temas são abordados na sociedade. Como a cultura desempenha um papel essencial na formação do senso crítico e na interpretação do mundo, a padronização imposta pelo entretenimento de massa gera um esvaziamento do debate público e limita o desenvolvimento de novas perspectivas. Narrativas complexas e produções artísticas que abordam questões sociais de maneira crítica são frequentemente preteridas em favor de conteúdos mais genéricos e alinhados a interesses comerciais. Além disso, a espetacularização dos meios de comunicação faz com que informações relevantes sejam tratadas de forma superficial, transformando eventos de grande importância em meros produtos de entretenimento. Essa tendência compromete a capacidade da sociedade de analisar criticamente os acontecimentos, favorecendo uma cultura de consumo passivo e reforçando a influência das grandes corporações midiáticas na construção das percepções sociais (GONÇALVES, 2022).

Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de iniciativas que promovam uma cultura mais plural e acessível, garantindo espaço para produções alternativas e independentes. O incentivo a conteúdos culturais que escapem da lógica da padronização pode permitir a ampliação das possibilidades narrativas e fortalecer a diversidade de discursos na sociedade. Políticas públicas voltadas para o financiamento da produção cultural independente e a regulamentação dos monopólios midiáticos são medidas essenciais para equilibrar a distribuição de conteúdos e assegurar que diferentes vozes sejam ouvidas. Além disso, o estímulo à educação midiática pode contribuir para que os consumidores desenvolvam um olhar mais crítico sobre os produtos culturais que consomem, evitando que se tornem reféns das dinâmicas comerciais impostas pela indústria cultural. Dessa forma, seria possível romper com o ciclo de homogeneização do pensamento e estimular uma sociedade mais reflexiva e engajada culturalmente (GOMES, 2021).

A uniformização do pensamento promovida pela indústria cultural compromete não apenas a diversidade artística, mas também a formação de uma sociedade verdadeiramente democrática e crítica. Ao limitar o acesso a produções culturais inovadoras e independentes, a indústria midiática restringe a liberdade criativa e reforça uma lógica de consumo que privilegia a repetição de fórmulas lucrativas. Essa dinâmica favorece a manutenção das estruturas de poder vigentes e dificulta a emergência de novas perspectivas e ideias transformadoras. No entanto, ao fortalecer o apoio à cultura independente e ampliar as oportunidades de acesso a diferentes narrativas, é possível garantir que a cultura continue desempenhando um papel essencial na construção do pensamento social. Assim, a democratização do entretenimento se torna um elemento fundamental para promover a diversidade de ideias e ampliar a capacidade de reflexão crítica na sociedade contemporânea (MARTINS, 2023).

3. CONCLUSÃO

A influência da indústria cultural na sociedade contemporânea é um fator determinante para a conformação dos padrões de pensamento e comportamento coletivo. A lógica mercadológica, ao orientar a produção e distribuição de entretenimento, impõe um modelo de consumo cultural baseado na repetição de fórmulas pré-estabelecidas, dificultando o acesso a conteúdos alternativos e críticos. Essa dinâmica reforça a uniformização do pensamento e limita a pluralidade de ideias, restringindo o alcance de narrativas que desafiem as convenções estabelecidas.

A espetacularização do entretenimento e a mercantilização da cultura reduzem o potencial transformador da arte, convertendo-a em um produto de consumo padronizado. Dessa forma, a diversidade cultural é comprometida em função da manutenção de um modelo de negócios que privilegia o lucro em detrimento da inovação e da reflexão crítica. A difusão massificada de conteúdos homogêneos fortalece um imaginário coletivo baseado em valores predefinidos, minimizando a capacidade de questionamento social.

A ascensão das plataformas digitais e o uso de algoritmos na distribuição de conteúdo ampliaram ainda mais essa realidade, tornando o consumo cultural altamente previsível e direcionado. A segmentação do público com base em padrões de comportamento pré-analisados limita a possibilidade de descoberta de novas produções e impede a construção de repertórios culturais diversos. Nesse contexto, a produção independente encontra desafios para alcançar visibilidade, sendo frequentemente ofuscada pelos grandes conglomerados midiáticos.

Dessa forma, a indústria cultural assume um papel central na manutenção da estrutura social vigente, reforçando padrões hegemônicos e reduzindo o potencial disruptivo da cultura. A compreensão desse fenômeno se torna essencial para a construção de estratégias que incentivem a diversidade cultural e ampliem o acesso a manifestações artísticas que promovam o pensamento crítico.

Portanto, a necessidade de estimular produções culturais independentes e alternativas se mostra crucial para o fortalecimento de uma sociedade mais plural e reflexiva. A democratização do acesso à cultura e o incentivo à diversidade de narrativas são elementos fundamentais para romper com a lógica da padronização do pensamento e ampliar as possibilidades de transformação social por meio da arte e do entretenimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TAVARES, Tiago. Consumo cultural na era digital. Porto Alegre, 2019.