EFICÁCIA DAS INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS APLICADAS EM MULHERES MASTECTOMIZADAS

1Francisco José O.V Carvalho; 2Maria dos Prazeres Carneiro Cardoso

RESUMO

OBJETIVO: Analisar a eficácia das intervenções fisioterapêuticas aplicada em mulheres mastectomizadas. MATERIAIS E MÉTODOS: Trata-se de uma revisão integrativa pela busca na literatura que ocorreu na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nos meses de agosto de 2015 a novembro de 2015, nas bases de dados de literatura científica e técnica: Literatura Latino-Americana e de Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Goolge Acadêmico, utilizando as palavras-chaves: neoplasias da mama, mastectomia e fisioterapia. RESULTADO E DISCUSSÃO Como intervenções fisioterapêuticas mais eficazes em mastectomizadas encontram-se a Hidroterapia e cinesioterapia. As intervenções Fisioterapêuticas são efetivas em vários aspectos funcionais nas mulheres mastectomizadas como na melhora da postura no caso do uso da Hidroterapia, favorecendo o retorno das atividades de vida diária, diminuindo a incidência de morbidade corporal geral e dos membros superiores. Evidencia-se também que fisioterapia pré-operatória pode exercer papel fundamental na recuperação dos movimentos do ombro e na independência para realização das Atividades de Vida Diária. CONCLUSÃO: Ressalta-se a importância da fisioterapia em todas as fases do tratamento do câncer de mama, sendo um dos principais agentes preventivos de complicações após a mastectomia. As intervenções fisioterapêuticas mostram-se eficazes na prevenção de complicações em mulheres mastectomizadas.

Palavras-chave: câncer de mama, mastectomia, fisioterapia.

INTRODUÇÃO

O câncer de mama é a neoplasia que mais acomete o sexo feminino em todo o mundo (INCA 2011), se configurando como o segundo tipo de câncer mais comum, tanto em países de capitalismo periférico quanto em países de capitalismo central (BATISTON, TAMAKI, SOUZA, SANTOS, 2011).

No caso do Brasil, os Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) indicam que, entre os anos de 2000 e 2008, uma taxa de 46,2% foi referida ao diagnóstico de câncer de mama (INCA, 2012), e 52.680 novos casos de tumores malignos foram estimados para o ano de 2012, mantendo o índice de mortalidade bastante elevado (INCA 2011).

Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença ainda é objeto de muitas discussões, mas se destaca a idade avançada, história familiar positiva, alimentação, menarca precoce, menopausa tardia, primeira gestação a termo após os 25 anos, nuliparidade, uso de estrogênio exógeno, uso de contraceptivos orais, entre outros (ANDREOLI et al., 2002).

A cirurgia, associada aos tratamentos neo-adjuvantes como a radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia, poderá provocar complicações emocionais e físicas às pacientes (NISSEN et al., 2011), enfatizando as principais sequelas físicas o linfedema, diminuição e bloqueio da amplitude articular de movimento, redução de força muscular da cintura escapular, quadros álgicos no membro superior, lesões nervosas e desordens na cicatrização (LEAL, 2004) .

Essas complicações quando apresentadas podem afetar diretamente na qualidade de vida dessas mulheres, pois contribui de maneira negativa em seu cotidiano, restringe a execução de atividades físicas, domésticas e laborais, além de gerar impacto emocional e também em seus relacionamentos pessoais (VELLOSO, 2010).

Na busca de minimizar o impacto negativo gerado pelo câncer e seu tratamento na qualidade de vida da mulher, a atuação da fisioterapia deve ser implementada para favorecer o retorno das atividades da vida diária (AVD) e proporcionar melhor qualidade de vida, tornando-se necessária em todas as etapas do tratamento do câncer de mama: pré-tratamento (diagnóstico e avaliação); durante o tratamento (quimioterapia, radioterapia, cirurgia, e

hormonioterapia); após o tratamento (período de seguimento); e nos cuidados paliativos (BERGMANN et al., 2006).

A relevância deste estudo reside na necessidade de analisar a eficácia das condutas Fisioterapêuticas aplicadas no pós-cirúrgico de mulheres mastectomizadas. A abordagem do câncer de mama pode ser complexa e variada, necessitando agregar informações pertinentes para a promoção de um atendimento de qualidade, e obtenção de resultados satisfatórios quanto à reabilitação das mulheres acometidas pelo câncer de mama. Estre trabalho tem por objetivo analisar por meio de uma revisão integrativa de literatura a eficácia das intervenções fisioterapêuticas aplicada em mulheres mastectomizadas.

O fisioterapeuta pode intervir desempenhando um papel importante na prevenção de sequelas, fazendo parte integrante da equipe multidisciplinar no acompanhamento da recuperação destas mulheres, intervindo na recuperação física da mulher e diminuindo o risco de complicações no período pós-operatório e integrando-as novamente a sociedade, melhorando a autoestima e qualidade de vida.

Assim, faz-se necessário revisar a literatura sobre a atuação da Fisioterapia para melhora das complicações causadas pelo câncer de mama. Podendo assim, reunir os recursos fisioterapêuticos, bem como seus protocolos de atendimentos aplicados com eficácia científica comprovada, no sentido de promover resultados benéficos para as mulheres afetadas, assim como a melhoria da qualidade de vida e redução de riscos de maiores complicações.

METODOLOGIA

A busca pela literatura ocorreu na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nos meses de agosto de 2015 a novembro de 2015. As bases de dados de literatura científica e técnica consultadas foram: Literatura Latino-Americana e de Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Goolge Acadêmico. Utilizando os termos ou palavras-chaves encontrados nos Descritores de Ciências da Saúde (Decs) como: neoplasias da mama, modalidade de Fisioterapia, mastectomia, neoplasias da mama

AND fisioterapia.

Selecionado artigos completos, de acesso gratuito, publicados em periódicos nacionais nos últimos 10 anos e indexados em um dos bancos de dados descritos anteriormente. Em língua portuguesa e inglesa e que abordaram pelo menos uma das competências relacionadas a intervenções fisioterapêuticas no pós-operatório e fisioterapia. Excluídos teses, dissertações e projetos que não estavam disponíveis nas bases de dados, bem como os artigos sem possibilidade de acesso gratuito, que foram publicados em anos inferior a 2005, escritos em outras línguas e que estivessem disponíveis apenas no formato de resumo simples. Ao final da pesquisa, todos os resultados obtidos foram apresentados e dispostos no formato de quadro para que assim possamos organizar em síntese todos dados necessários para este estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os artigos foram selecionados com base na sua abordagem sobre eficácias das intervenções fisioterapêuticas em mulheres mastectomizadas. Os estudos selecionados foram organizados no quadro abaixo:

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Uma alteração que pode ser encontrada em mulheres mastectomizadas de acordo com Cardoso (2004) é a relacionada à postura corporal, em que mulheres que possuem uma mama grande e densa, ao realizarem o processo da mastectomia passam a ter uma ausência de peso de uma mama, o que acaba por elevar e girar internamento o ombro, realizando assim uma abdução da escápula, podendo vim a desenvolver contraturas musculares ao longo da cervical, causando dor e uma postura antálgica . A presença de linfedema no MSA também passa a ser um fator de aparecimento de assimetrias posturais.

A fisioterapia aquática e de solo mostraram-se eficientes para a postura corporal de mulheres mastectomizadas de acordo com Gimenes et al.,(2013). Em seu estudo dividindo dois grupos, um controle (GC) que realizou fisioterapia em solo e um grupo de estudo (GE) que realizou fisioterapia aquática. Obteve que ambos os grupos manifestaram correção na inclinação posterior do quadril, desencadeando uma melhora no alinhamento vertical do corpo, atentando que o grupo de estudo teve um resultado de melhoria maior que o grupo controle. A fisioterapia aquática é eficaz na correção de alteração corporal.

O uso da hidroterapia também foi analisado por Elsner et al. (2009) com objetivo de verificar o efeito da hidroterapia, na qualidade de vida de mulheres mastectomizadas após realizarem 10 atendimentos de hidroterapia. Observou-se que a hidroterapia beneficia a capacidade funcional, aspecto físico e aspecto emocional. A melhora da capacidade funcional, que a partir do questionário aplicado compreendia a presença e extensão de delimitações relacionadas à capacidade física, segundo Campion (2000) deve-se pela capacidade dos efeitos da água, relacionada a redução da dor e espasmos

musculares, auxilio na manutenção e aumento da ADM articular, amplificação da tolerância a exercício e fortalecimento de musculaturas inativas.

De acordo com Silva et al., (2004) a restrição do movimento completo do ombro é um dos sintomas mais mencionados por mulheres masctectomizadas. Relata também que estas mulheres possuem dificuldades de atividades diárias como vestir uma roupa, abotoar um sutiã, pentear os cabelos e levantar peso.

Góes et al., (2012) ao avaliar a influência da fisioterapia pré-operatória na amplitude de movimento do ombro e na medida de independência funcional de 14 mulheres submetidas à mastectomia radical modificada com linfadenectomia axilar, observou o que o grupo controle que recebeu somente informações através de cartilha como intervenção no pré-operatório apresentou maior déficit de amplitude de movimento quando comparado o pré-operatório e o 15º dia de pós-operatório. Enquanto o grupo de intervenção que realizou fisioterapia pré-operatória, através de cinesioterapia do ombro, apresentou uma melhor amplitude de movimento. Revelando assim, que a fisioterapia pré-operatória exerce papel fundamental na recuperação dos movimentos do ombro.

Corroborando com o autor anterior, Petito et al., (2012) avaliou a efetividade de um programa de exercícios domiciliares para recuperação da amplitude de movimento (ADM). Constando de uma intervenção com avaliação pré-operatória da ADM, orientação verbal e escrita, demonstração e execução dos exercícios e reavaliações nos retornos ambulatoriais até o 105º dia de pós-operatório (PO). A partir do 7º PO, houve aumento significante e contínuo na ADM, até o 105º PO. O que acabou por demonstrar que um programa de exercícios domiciliares é efetivo para a recuperação da ADM.

CONCLUSÃO

As consequências do processo cirúrgico de mastectomia causam nas pacientes restrições de movimentos, perda de força muscular, linfedema, alterações posturais, limitação e bloqueio da amplitude articular de movimento, algias no membro superior, complicações na cicatrização.

As intervenções Fisioterapêuticas são efetivas em vários aspectos funcionais nas mulheres mastectomizadas como na melhora da postura no caso do uso da Hidroterapia, favorecendo o retorno das atividades de vida diária, diminuindo a incidência de morbidade corporal geral e dos membros superiores. Evidencia-se também que fisioterapia pré-operatória pode exercer papel fundamental na recuperação dos movimentos do ombro e na independência para realização das AtividadeS de Vida Diária (AVD).

Nesse sentido, acredita-se que a intervenção Fisioterapêutica no tratamento de mulheres mastectomizadas deve ser instituída na equipe multidisciplinar que irá acompanhar a paciente, desde o momento do pré-operatório até o pós-operatório.

REFERÊNCIAS

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