EFICÁCIA DA CÂNULA NASAL DE ALTO FLUXO PARA EVITAR INTUBAÇÃO EM PACIENTES COM COVID-19

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11478787


Larysa Regina Araujo Pereira Da Silva
Luiza Renata Ferreira Da Silva
Rita De Kássia Lopes De França
Orientadora: Tamires Neves


RESUMO   

INTRODUÇÃO: A COVID-19 é uma doença contagiosa viral, tendo como o agente causador o coronavírus, também denominado de SARS-CoV-2. É caracterizado como de fácil disseminação e apresenta diversos sinais e sintomas, que podem evoluir para quadros respiratórios graves necessitando variadas intervenções. Dentre as terapêuticas que são oferecidas como suporte ventilatório para contribuir no tratamento dos casos agudos, a cânula nasal de alto fluxo é um instrumento bastante tolerado, que apresenta múltiplas características fisiológicas benéficas. OBJETIVO: Analisar eficácia da cânula nasal de alto fluxo para evitar intubação em pacientes com COVID-19. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa, realizada nas bases de dados PubMed, BVS, e Cochrane Library. Associando aos DeCS: COVID-19, Oxygen Inhalation Therap e Respiratory Physiotherapy, associados ao operador booleano “AND”. Foram considerados estudos publicados nos últimos 5 anos, do tipo ensaio clínico com ou sem randomização, nos idiomas Inglês, Português, e Espanhol, com ambos os sexos, idade igual ou superior a 18 anos. A escala de Jadad foi aplicada para avaliar a qualidade metodológica dos artigos selecionados. Dentre 417 artigos localizados, 3 foram escolhidos conforme os critérios elegíveis estabelecidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os estudos publicados abordam a CNAF como um dos meios de intervenção para evitar a intubação em paciente com COVID-19, associados a outros métodos. A abordagem também visa promover a melhora de outros fatores como o desconforto respiratório, a troca gasosa, frequência respiratória, saturação, e fração de oxigênio. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Analisou-se que a Cânula Nasal de Alto Fluxo apresenta resultados positivos de redução da taxa de intubação, porém, a mesma não se sobressai quando comparada a outros métodos terapêuticos de ventilação não invasiva ou oxigenioterapia convencional.

Palavraschave: Cânula nasal de alto fluxo; Intubação; COVID-19; Insuficiência respiratória aguda.

INTRODUÇÃO 

A COVID-19 é uma doença contagiosa viral, tendo como o agente causador o coronavírus, também denominado de SARS-CoV-2, gerando um quadro de infecção pulmonar. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os primeiros casos de infecção viral relacionado ao coronavírus foram relatados em 31 de dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, China, onde posteriormente resultou-se em um estado pandêmico. (OMS, 2020). A pandemia teve início em 11 de março de 2020 após declaração da OMS, diante de um quadro com mais de 110 mil casos espalhados por 114 países. (Cavalcante, et al., 2020). Por se tratar de uma doença infectocontagiosa de fácil propagação o vírus se disseminou rapidamente pelo mundo.

O SARS-CoV-2 se dissemina principalmente por secreções respiratórias e/ou gotículas da respiração. Nesse cenário, evidencia-se a capacidade do vírus de ser transmitido de uma pessoa para outra (transmissão direta), especialmente quando se mantêm maior contato (Fan et al., 2020). Segundo, Van Doremale (2020) a transmissão direta é identificada como um dos principais modos de disseminação, por outro lado a transmissão indireta acontece através de superfícies contaminadas que também contribui para uma propagação contínua do vírus. A forma simples de contágio colaborou para que os números de casos se tornassem históricos, fazendo com que os indivíduos infectados apresentassem sintomas diversos.

Os sinais da infecção pelo SARS-CoV-2 abrangem febre, tosse, cansaço, dificuldade respiratória, produção de secreção, cefaleia e dores musculares (Liu et al., 2020). De acordo com a OMS, aproximadamente 80% dos indivíduos infectados apresentaram sintomas leves, 14% desenvolveram sintomas graves e 6% tiveram condições críticas (OMS, 2020). Pacientes com sintomas leves foram tratados a domicílio com indicação médica, em contrapartida, os que evoluíram para quadros graves foram tratados em ambiente hospitalar, devido a um grau de maior comprometimento pulmonar, como uma insuficiência.

A insuficiência respiratória aguda (IRA) habitualmente se dá através de uma rápida mudança na condição clínica do paciente, podendo acontecer por meio de uma nova patologia, uma condição recém-diagnosticada ou até mesmo por meio de uma abrupta descompensação de uma doença crônica (Martins et al., 2022). A IRA pode emergir devido a variados mecanismos fisiopatológicos, principalmente: deficiência ventilatória, anormalidades na troca gasosa, desajustes na relação ventilação-perfusão e exposição a ambientes com níveis reduzidos de oxigênio (Pinheiro et al, 2015). Tais mecanismos evidenciam a complexidade desta doença, que pode levar o indivíduo a desenvolver outras complicações afetando o sistema respiratório como exemplo da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS).

A Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) é caracterizada por um quadro inflamatório e lesão alveolar difusa, podendo evoluir para uma tromboembolia microcirculatória deixando o estado do paciente incerto ao longo do tempo (Tagliari e Beiler 2022). O início da SARS relacionada ao COVID-19 geralmente ocorre entre 8 a 12 dias (Mendes et al., 2020). Logo após o seu desenvolvimento o paciente pode apresentar frequência respiratória (FR) aumentada, dispneia acentuada, cianose e baixa saturação de oxigênio (O2). Portanto, a diversas formas de tratamento que irá se adequar as características clínicas e necessidades de cada paciente.

Apesar de existirem diversos protocolos terapêuticos que seguem em constantes atualizações, por meio de evidências científicas, o tratamento do COVID-19 ainda é incerto (Mende et al., 2020). Dentre as alternativas de suporte respiratório frequentemente indicadas em ambiente hospitalar pode-se citar a Oxigenioterapia convencional, Cânula nasal de alto fluxo (CNAF), Ventilação mecânica não invasiva (VNI) e Ventilação mecânica invasiva (VMI). O CNAF é um instrumento de suporte respiratório bastante tolerado, que apresenta múltiplas características fisiológicas benéficas (Raoof et al., 2020).

O oxigênio de concentrações elevadas que é oferecido ao paciente, inicia-se em 21% a 100% e até 60L/min por um meio de cânula nasal. Esse gás é entregue umidificado e aquecido, com temperaturas confortáveis de 31°C a 37°C (Paraskevas et al., 2022). O uso dessa terapêutica em ambiente hospitalar pode reduzir a taxa de intubação, pois melhora significativamente as trocas gasosas e parâmetros respiratórios. Consequentemente isso acarretará um menor tempo de internação hospitalar (Pereira e Silva 2022). Contudo é de extrema relevância abordar o método terapêutico precocemente e avaliar sua eficácia através do índice ROX.

O índice ROX é uma ferramenta simples que é utilizada para avaliar a eficácia do tratamento com o CNAF, que pode ser utilizada em pacientes com insuficiência respiratória aguda devido à COVID-19. Se mostra eficaz em prever a necessidade de uma evolução para intubação nos casos em que a terapia não está respondendo positivamente ou interrupção por sucesso de sua aplicação. (Freitas et al., 2021). De acordo com o estudo de Ferrer et al., (2021), a nota de corte de 5,35 após 24 horas de início da terapia com o CNAF pode prever com precisão o sucesso do tratamento, evitando a necessidade de intubação em pacientes. Portanto, é válido que seja utilizado o índice como forma de monitorização da evolução do paciente.

O COVID-19 se trata de uma patologia que afeta agressivamente o sistema respiratório, com possibilidade de progredir para um estado crítico, resultando em consequências que afetam a vida do paciente a longo prazo. Portanto, é de extrema importância que haja evidências científicas direcionadas aos métodos de intervenções. Entre as alternativas de tratamento, o uso do CNAF é um grande aliado no suporte respiratório, podendo reduzir as possíveis progressões da doença e, consequentemente, a exposição aos tratamentos invasivos. Com isso, o atual estudo tem como objetivo analisar a eficácia da Cânula Nasal de Alto Fluxo para evitar a intubação em pacientes diagnosticados com COVID-19.

METODOLOGIA   

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa que foi desenvolvida com o intuito de analisar o uso da eficácia da Cânula Nasal de Alto Fluxo para evitar a intubação orotraqueal em pacientes com COVID-19. Foram utilizadas as bases de dados eletrônicas BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), Cochrane Library e PubMed (National Library of Medicine), aplicando os descritores consultados no DeCS/MeSH (Descritores em Ciências da Saúde) que se adequassem à temática do estudo, sendo eles: COVID-19, Oxygen Inhalation Therap e Respiratory Physiotherapy, associados ao operador booleano “AND” nos seguintes cruzamentos: COVID-19 AND Oxygen Inhalation Therap; COVID-19 AND Respiratory Physiotherapy; Oxygen Inhalation Thera AND Respiratory Physiotherapy.

A pesquisa foi realizada entre os meses de fevereiro a junho de 2024, empregando o filtro da data de publicação para os últimos 5 anos nas bases de dados citadas anteriormente, com restrição de idiomas, sendo eles: Inglês, Português e Espanhol. Definiu-se como critérios de inclusão: ensaios clínicos, ensaios clínicos randomizados, idade igual ou superior a 18 anos, sexo masculino e feminino, pacientes com diagnóstico de COVID-19 que evoluíram para uma insuficiência respiratória aguda, com internamento em ambiente hospitalar, com utilização da cânula nasal de alto fluxo para evitar a intubação orotraqueal. Como critérios de exclusão foram: artigos que fugissem da temática abordada, estudos duplicados, com pontuação < 3 na escala Jadad, com esboço de desenho distinto, e interrupção da cânula de alto fluxo para avanço da intubação orotraqueal.

A seleção e escolha dos estudos foram conduzidas em quatro etapas distintas. Na primeira fase, as pesquisas foram realizadas nas bases de dados utilizando os termos específicos, com aplicação de filtros e classificação dos estudos conforme o modelo adotado. A segunda etapa focou na seleção dos estudos por intermédio da análise dos títulos, identificando a relevância temática. Na terceira etapa, foi feita a identificação e remoção de estudos duplicados, seguida pela leitura dos resumos. Por fim, na quarta etapa, foi realizada a leitura integral dos estudos pré-selecionados, continuada pela avaliação com base em critérios qualitativos firmados na escala de Jadad. O processo de triagem dos estudos é apresentado no fluxograma abaixo na figura 1, detalhando todo o procedimento gradativo que resultou na seleção.

Figura 1. Fluxograma das etapas de seleção dos artigos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após etapa de triagem, dentre 417 artigos identificados, apenas 3 foram considerados elegíveis conforme os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos. Cada um desses estudos foram conduzidos em um lugar, abrangendo território internacional: Argentina, Itália, Reino Unido e Jersey. Em todos os estudos, o público pesquisado foram indivíduos do sexo masculino e feminino, com idade igual ou superior a 18 anos, e com diagnóstico de COVID-19. Em relação a metodologia, é possível encontrar algumas informações relevantes sobre cada um deles, a Tabela 1 apresenta o autor, ano, o tipo de estudo, objetivos e amostra. A tabela 2 relata as intervenções utilizadas pelos autores e colaboradores, a exposição de seus respectivos resultados e conclusões.

Tabela 1. Metodologia dos estudos

 Autor/ano Tipo de estudo                             Objetivos                                     Amostra
M. Walter J. et al., 2021Ensaio clínicoAvaliar o impacto do CNAF na prevenção da intubação e subsequente VMI em pacientes com SRAG secundária ao COVID-19.Durante o estudo, 301 pacientes foram selecionados, (2) excluídos por uso inicial de VNI, separados em 3 grupos- grupo 1- (n=299) suporte contínuo com CNAF – grupo 2- com ordem de não intubação (grupo não intubação) e grupo 3 progressão para VMI (grupo intubação).
G. Dominico Luka et al., 2021Ensaio clínico randomizado  Avaliar se a ventilação não invasiva com capacete pode aumentar o número de dias sem suporte respiratório em pacientes com COVID-19 em  comparação com oxigênio nasal de alto fluxo isolado.Com um total de 182 pacientes internados com IRA – 149 estavam em respiração espontânea, desses apenas 110 foram elegíveis à randomização, divididos em 2 grupos- VNI com capacete (n=55) CNAF (n=55).
P. Gavin D. et al., 2022Ensaio clínico randomizado  Determinar se o CPAP ou o CNAF, em comparação com a oxigenoterapia convencional, melhoram os resultados clínicos em pacientes hospitalizados com IRA relacionada à COVID-19.  Foram randomizados 1.273 pacientes adultos divididos em 3 grupos – CPAP (n = 380), CNAF (n = 418) e oxigenoterapia convencional (n = 475).

Legenda:  CNAF: Cânula Nasal de Alto Fluxo; CPAP: Pressão Positiva Contínua; VNI: Ventilação Não Invasiva; VMI: Ventilação Mecânica Invasiva; SRAG: Síndrome Respiratória Aguda Grave; COVID-19: Doença do Coronavírus; IRA: Insuficiência Respiratória Aguda; N: Número.

Tabela 2. Características dos estudos selecionados para análise

Autor/ano                         Intervenção                  Resultados                  Conclusão
M. Walter J. et al., 2021 A terapia com CNAF foi fornecida em salas próprias para tratamentos respiratórios, as configurações dos ventiladores foram realizadas partir do quadro clínico de cada paciente, sendo contraindicado em casos de exaustão ou confusão.Do total de pacientes (299) 84,3% tiveram critérios de VMI.  A intubação foi evitada em 40,1%, 95% dos não intubados tiveram alta hospitalar. Dos 59,8% em que a CNAF falhou, 15,7% não eram candidatos à intubação e 44,1% necessitaram de VMI. Excluindo aqueles que não eram candidatos ao VMI, a taxa de sucesso da CNAF subiu para 47,6%.O estudo sugere que o uso do CNAF pode reduzir as taxas de intubação e tem potencial para diminuir a mortalidade e morbidade a ele associadas, é importante notar que a mortalidade onde o CNAF falha é elevada, indicando que a eficácia desse tratamento pode variar dependendo do caso.
G. Dominico Luka et al., 2021O grupo de CNAF, recebeu oxigênio por 48 horas,60 L/min, FIO2 titulada para – SPO2 entre 92% e 98%, O grupo VNI recebeu 48 horas  com capacete interface em pressão suporte – 10 e 12 cm H2O, podendo ser aumentada para pico de fluxo inspiratório de 100 L/min, PEEP – 10 e 12 e FIO2 titulado para- SpO2 entre 92% e 98%.O estudo revelou que não houve diferença significativa na média de dias sem suporte respiratório entre os dois – (20 dias grupo do capacete – 18 dias grupo do CNAF). A taxa de intubação endotraqueal foi menor no grupo que usou capacete (30%) em comparação ao grupo de CNAF (51%). Entre pacientes com COVID-19 e hipoxemia moderada a grave, o tratamento com VNI com capacete, em comparação com CNAF, não resultou em diferença significativa no número de dias sem suporte respiratório em 28 dias.
P. Gavin D. et al., 2022Grupo oxigenoterapia convencional foi ofertado 02 por meio de máscara facial ou cânula nasal de baixo fluxo. Grupo CNAF ar umidificado e aquecido por cânula nasal. Grupo CPAP receberam terapia com CPAP que não permitia o ar inspiratório positivo, as configurações dos dispositivos e titulações dependiam dos critérios clínicos dos pacientes.Grupo oxigenoterapia convencional foi ofertado 02 por meio de máscara facial ou cânula nasal de baixo fluxo. Grupo CNAF ar umidificado e aquecido por canula nasal. Grupo CPAP receberam terapia com CPAP que não permitia o ar inspiratório positivo, as configurações dos dispositivos e titulações dependiam dos critérios clínicos dos pacientesGrupo oxigenoterapia convencional foi ofertado 02 por meio de máscara facial ou cânula nasal de baixo fluxo. Grupo CNAF ar umidificado e aquecido por canula nasal. Grupo CPAP receberam terapia com CPAP que não permitia o ar inspiratório positivo, as configurações dos dispositivos e titulações dependiam dos critérios clínicos dos pacientesxnGrupo oxigenoterapia convencional foi ofertado 02 por meio de máscara facial ou cânula nasal de baixo fluxo. Grupo CNAF ar umidificado e aquecido por canula nasal. Grupo CPAP receberam terapia com CPAP que não permitia o ar inspiratório positivo, as configurações dos dispositivos e titulações dependiam dos critérios clínicos dos pacientesGrupo oxigenoterapia convencional foi ofertado 02 por meio de máscara facial ou cânula nasal de baixo fluxo. Grupo CNAF ar umidificado e aquecido por canula nasal. Grupo CPAP receberam terapia com CPAP que não permitia o ar inspiratório positivo, as configurações dos dispositivos e titulações dependiam dos critérios clínicos dos pacientesParte superior do formulárioO estudo mostrou que entre CPAP e oxigenoterapia convencional, o resultado da intubação traqueal ou mortalidade em 30 dias ocorreu em 36,3%, do grupo CPAP vs oxigênio convencional 44,4%, entre a CNAF vs oxigenioterapia convencional, o resultado ocorreu em 44,3% dos participantes do grupo, CNAF vs oxigênio convencional 45,1%.Entre pacientes com insuficiência respiratória hipoxêmica aguda devido à COVID-19, o CPAP reduziu significativamente o risco de intubação traqueal ou mortalidade em comparação com a oxigenoterapia convencional. Não houve diferença significativa entre o uso do CNAF em comparação com oxigenoterapia convencional.

Legenda: CNAF: Cânula Nasal de Alto Fluxo; VMI: Ventilação Mecânica Invasiva; SRAG: Síndrome Respiratória Aguda Grave; COVID-19: Doença do Coronavírus; IRA: Insuficiência Respiratória Aguda; VNI: Ventilação Não Invasiva; CPAP: Pressão Positiva Contínua; FIO2: Fluxo Inspirado de Oxigênio; SPO2: Saturação Parcial de Oxigênio; PEEP: Pressão Positiva no Final da Expiração; CMH2O: Centímetros de Água.

No estudo realizado por Walter et al., (2020) foi notado uma melhora significativa na frequência respiratória após a intervenção com a cânula nasal de alto fluxo (CNAF), trazendo uma série de resultados favoráveis a terapêutica ofertada aos pacientes com insuficiência respiratória grave associada ao COVID-19. Dominico et al. descreve que não foi observado diferença significativa na frequência respiratória (FR) após as intervenções entre os grupos de ventilação não invasiva com capacete e o de CNAF. Em evidência, Yuste et al., (2019) alega que nas primeiras 4 horas diante do uso da CNAF, os resultados clínicos contiveram uma diminuição na FR.

Walter et al., (2020) analisou que o uso da CNAF apresenta uma redução no quadro do desconforto respiratório nesses pacientes, demonstrando ser eficaz. Em contrapartida o estudo de Dominico et al., (2021) relata que durante as primeiras 48 horas de tratamento, o desconforto respiratório melhorou no grupo ventilação mecânica não invasiva (VNI) com capacete, enquanto a redução do desconforto foi menor da CNAF, demonstrando uma melhora na dispneia com o uso do capacete. Por sua vez, Gavin et al., (2022) em seu estudo, não menciona resultados sobre o desconforto respiratório após a realização dos métodos terapêuticos. Entretanto, Yuste et al., (2019) observou uma diminuição de resistência nas vias áreas, logo melhorando o trabalho respiratório.

No que concerne a troca gasosa, Walter et al., (2020) menciona que houve uma melhora após a intervenção com CNAF, demonstrando ser uma técnica eficaz na otimização da troca gasosa em pacientes com IRA devido COVID-19. Dominico et al., (2021) conceitua que não houve diferenças significativas na troca gasosa entre os grupos que receberam o tratamento com capacete e o tratamento com cânula nasal de alto fluxo. A análise da troca gasosa inclui parâmetros como a saturação de oxigênio periférica (SpO2), a fração inspirada de oxigênio (FiO2) e a frequência respiratória. Por outro lado, Hu et al., (2020) comprova que após 6h de uso da CNAF, os índices PaO 2 /FiO 2, SpO 2 /FiO 2 e ROX foram favoráveis, mostrando o sucesso do tratamento aplicado.

A fração de oxigênio (FiO2) pode apresentar diminuição durante o uso do CNAF ou VNI. O estudo de Dominico et al., (2021) alega que a FiO2 média utilizada no grupo de VNI com capacete foi significativamente menor em comparação com o grupo que recebeu CNAF, o que resultou em uma melhor oxigenação com baixa FIO2 no grupo VNI com capacete. No entanto, Gavin et al., (2022) não fornece informações específicas sobre a melhora na fração inspirada de oxigênio (FiO2) após as intervenções de CPAP (ventilação com pressão positiva continua), CNAF e oxigenoterapia convencional. Em sua literatura, Canena, Reis e Saes-Silva (2023) afirmam que o alto fluxo fornece benefícios aos pacientes observando-se melhora de oxigenação com o aumento da FiO2.

Do ponto de vista de Walter et al., (2020), em relação ao desmame do CNAF, os pacientes que conseguiram desmamar da terapia, tiveram uma sobrevida significativamente maior do que aqueles que necessitaram de ventilação mecânica invasiva (VMI) Constatando que o desmame bem-sucedido da CNAF está associado a melhores desfechos clínicos. Por outro lado, Dominico et al., (2021) evidência que o desmame do grupo de alto fluxo, foi considerado bem-sucedido se a saturação periférica de oxigênio (SpO2) permanecesse adequada por pelo menos 48 horas.

A CNAF é vista como um dos instrumentos para evitar que o indivíduo seja submetido a uma intubação. Em vista disso, Walter et al., (2020) afirma que a cânula nasal de alto fluxo foi eficaz na redução significativa da necessidade de intubação em pacientes com insuficiência respiratória aguda grave devido ao COVID-19. Sua pesquisa trouxe dados que mostram que 40,1% dos pacientes analisados foram retirados com sucesso da CNAF, enquanto 59,8% necessitaram de ventilação mecânica invasiva. Sendo assim, o estudo alega que a terapêutica aplicada pode ser uma intervenção relevante quando se trata da redução da taxa de intubação.

Em contrapartida, o estudo de Dominico et al., (2021) aborda a questão da intubação endotraqueal em pacientes com COVID-19 e hipoxemia moderada a grave. Nele foi observado que a taxa de intubação endotraqueal permaneceu menor no grupo que utilizou o capacete em comparação com o grupo que recebeu oxigênio nasal de alto fluxo. Além disso, o uso de CNAF como intervenção de primeira linha para pacientes com hipoxemia é recomendado, e os resultados do estudo sugerem que a ventilação não invasiva com capacete pode ser benéfica para pacientes com maior comprometimento de oxigenação, resultando uma redução na taxa de intubação com uma diferença de 28% entre os grupos.

Gavin et al., (2022) afirma que a estratégia inicial de CPAP reduziu significativamente o risco de intubação traqueal ou mortalidade em comparação com a oxigenoterapia convencional. Por outro lado, não houve diferença significativa entre uma estratégia inicial de CNAF e a oxigenoterapia convencional em relação a esses desfechos. O estudo de Schwartz et al., (2022) mostra que o uso da CNAF como principal meio de oxigenação para insuficiência respiratória associada à COVID-19 foi seguro e resultou em uma incidência aceitável de intubação endotraqueal.

No que se trata de índice de mortalidade, o estudo de Walter et al., (2020) evidência que a mortalidade em pacientes que necessitaram de ventilação mecânica invasiva (VMI) devido ao COVID-19 foi alta, chegando a 80%. A maioria desses pacientes apresentava fatores prognósticos desfavoráveis, como idade avançada, diabetes, entre outros. Além disso, o estudo não observou diferenças significativas na mortalidade entre os pacientes que necessitaram de intubação antes ou após 48 horas do início da cânula nasal de alto fluxo. No entanto, Dominico et al., (2021) afirma que os resultados do estudo não mostraram diferenças significativas na mortalidade hospitalar entre os grupos que utilizaram o capacete e o oxigênio nasal de alto fluxo. A taxa de mortalidade hospitalar foi semelhante nos dois grupos de tratamento.

Em referência ao estudo conduzido por Gavin et al., (2022) constatou que o CPAP reduziu significativamente o risco de intubação e mortalidade em comparação com a oxigenoterapia convencional. Quando se trata do CNAF, foi evidenciado que não houve diferença significativa na mortalidade entre uma estratégia inicial de CNAF e a oxigenoterapia convencional. Além disso, o estudo relatou que a necessidade de intubação ou mortalidade em 30 dias não houve diferença significativa entre CNAF quando comparado com a oxigenoterapia convencional. Em um estudo realizado por Zhou et al., (2020) aponta que dentre os 41 pacientes submetidos ao tratamento com a cânula nasal de alto fluxo, 61% vieram a óbito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos estudos avaliados, foi constatado que houve resultados divergentes, levando há um empasse se de fato a cânula nasal de alto fluxo reduz a taxa de intubação em pacientes com insuficiência respiratória associada ao COVID-19. Concluindo que apesar das divergências metodológicas apresentadas, a CNAF mostra resultados positivos de redução da taxa de intubação nesses pacientes, porém a mesma não se sobressai quando comparada a outros métodos terapêuticos de ventilação não invasiva ou oxigenioterapia convencional.

No entanto, outros achados secundários podem ser valiosos para o uso dessa terapêutica, como uma melhora no desconforto respiratório, troca gasosa, frequência respiratória, Sp02 e FiO2. Além disso, a não exposição a ventilação mecânica invasiva, traz diversos benefícios como redução das infecções adquiridas, sequelas causadas pela intubação e um menor tempo de permanência hospitalar, levando esses pacientes a terem uma melhor qualidade de vida pós internação. Apesar das evidências encontradas, é imprescindível que haja mais estudos, para obter exatidão dos resultados quanto aos desfechos analisados.

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