EFEITOS NEUROTRÓFICOS E BIOQUÍMICOS DA ATIVIDADE FÍSICA COMO TERAPIA COMPLEMENTAR NA ESCLEROSE MÚLTIPLA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

NEUROTROPHIC AND BIOCHEMICAL EFFECTS OF PHYSICAL ACTIVITY AS A COMPLEMENTARY THERAPY IN MULTIPLE SCLEROSIS: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102491251


Elaine Grohmann 1
Fabiana Guichard de Abreu 2


RESUMO

A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurológica autoimune que afeta o sistema nervoso central, causando inflamação, desmielinização e neurodegeneração. Objetivou-se revisar os efeitos da atividade física (AF) em pessoas com EM, especialmente em relação aos fatores neurotróficos e marcadores bioquímicos. A revisão incluiu estudos que investigaram o impacto da AF em marcadores como neurofilamentos, citocinas e proteínas. A seleção envolveu uma triagem de artigos nas bases de dados PubMed e Science Direct, resultando na inclusão de 12 estudos com 471 participantes ao todo. Os resultados indicam que a AF melhora a massa muscular, a capacidade funcional e os marcadores neuroprotetores. Reduzindo os níveis de neurofilamento de cadeia leve e aumentando os níveis do fator neurotrófico derivado do cérebro. Além disso, a AF tem efeitos anti-inflamatórios, reduzindo substâncias inflamatórias como interleucina-6 e proteína C-reativa, enquanto aumenta substâncias anti-inflamatórias como interleucina-10. No entanto, os resultados variam conforme a intensidade e a duração do exercício, além do perfil dos pacientes. Alguns estudos relataram aumento de proteínas neuroprotetoras como irisina e fator de crescimento endotelial vascular, mas os efeitos podem ser temporários. A mobilização de células Natural Killer após o exercício também foi menos eficiente em pacientes com EM, sugerindo a necessidade de abordagens personalizadas. Apesar dos benefícios evidenciados, limitações metodológicas em muitos estudos indicam a necessidade de pesquisas mais robustas. Conclui-se que a AF pode ser uma estratégia terapêutica eficaz para a gestão da EM, proporcionando benefícios físicos e neuroprotetores, embora sejam necessárias intervenções mais personalizadas e estudos futuros para otimizar essas práticas.

Palavras-chave: Inflamação. Doença Autoimune. Citocinas. Neurodegeneração.

ABSTRACT

Multiple sclerosis (MS) is an autoimmune neurological disease that affects the central nervous system, causing inflammation, demyelination, and neurodegeneration. The aim was to review the effects of physical activity (PA) in people with MS, particularly regarding neurotrophic factors and biochemical markers. The review included studies investigating the impact of PA on markers such as neurofilaments, cytokines, and proteins. Article screening was conducted in PubMed and Science Direct databases, resulting in the inclusion of 12 studies involving 471 participants in total. Results indicate that PA improves muscle mass, functional capacity, and neuroprotective markers. It reduces levels of light chain neurofilaments and increases brain-derived neurotrophic factor levels. Additionally, PA has anti-inflammatory effects, reducing inflammatory substances like interleukin-6 and C-reactive protein, while increasing anti-inflammatory substances like interleukin-10. However, outcomes vary based on exercise intensity, duration, and patient profiles. Some studies reported increased levels of neuroprotective proteins such as irisin and vascular endothelial growth factor, but effects may be temporary. Natural killer cell mobilization post-exercise was less efficient in MS patients, suggesting the need for personalized approaches. Despite demonstrated benefits, methodological limitations in many studies indicate the need for more robust research. In conclusion, PA may be an effective therapeutic strategy for managing MS, providing physical and neuroprotective benefits, although personalized interventions and future studies are needed to optimize these practices.

Keywords: Inflammation. Autoimmune Disease. Cytokines. Neurodegeneration.

1. INTRODUÇÃO

A esclerose múltipla (EM) é uma condição neurológica autoimune crônica que afeta predominantemente o sistema nervoso central, caracterizada por inflamação, gliose, desmielinização e lesão neuro-axonal1. Patologicamente, manifesta-se de várias formas, incluindo síndrome clinicamente isolada, formas remitente-recorrente, progressiva secundária e progressiva primária2. Globalmente, estima-se que a EM afete aproximadamente 2,8 milhões de pessoas3, 4, enquanto no Brasil, a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) estima cerca de 40 mil casos, com uma predominância significativa entre mulheres jovens, com idades entre 18 e 30 anos 5.

As dificuldades enfrentadas por indivíduos com EM vão além dos desafios físicos imediatos, como demonstram estudos que revelam que até 43% enfrentam problemas de locomoção que impactam suas atividades diárias6, 7. Essas dificuldades decorrem de processos neurodegenerativos que comprometem a transmissão neural tanto no sistema nervoso central quanto periférico, afetando a interação entre nervos e músculos, essencial para o movimento motor8, 9, 10. Além disso, indivíduos com EM frequentemente apresentam menor capacidade cardiorrespiratória e qualidade de vida em comparação com pessoas saudáveis ou com outras condições crônicas11.

Complicações adicionais, como maior risco de doenças cardiovasculares, incontinência urinária, infecções do trato urinário, osteoporose e sintomas depressivos, contribuem para a necessidade contínua de cuidados médicos intensivos12, 13, 14, 15, 16, 17. Esta complexidade tem motivado um redirecionamento nos tratamentos para a EM, com um aumento do interesse em intervenções não farmacológicas, como a atividade física (AF), complementando os tratamentos tradicionais medicamentosos18, 19.

Anteriormente subestimada devido a preocupações com a fadiga e agravamento dos sintomas, a AF emergiu como uma estratégia terapêutica viável e segura para aliviar os sintomas associados à EM20, 21, 22. Este novo enfoque é respaldado pelo reconhecimento crescente do papel benéfico de um estilo de vida ativo na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida desses pacientes23, 24. Estudos têm demonstrado que a AF regular pode estabilizar ou mesmo reduzir processos inflamatórios, neuroinflamação e neurodegeneração associados à EM, resultando em benefícios como redução na taxa de recaída, melhoria na função motora, aptidão física, cognitiva e redução de sintomas como fadiga, ansiedade e depressão25, 26, 27, 28.

Apesar do crescente interesse em intervenções não farmacológicas, como a AF para auxiliar o tratamento da EM, há uma lacuna significativa na literatura sobre a compilação e análise dos efeitos específicos dessas intervenções, especialmente em relação aos impactos neurotróficos e aos marcadores bioquímicos associados. Portanto, esta revisão integrativa teve como objetivo investigar amplamente os resultados científicos de diferentes protocolos de AF e exercícios aplicados em pacientes com EM, com foco nos efeitos neurotróficos e bioquímicos associados.

2.     METODOLOGIA

2.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Esta pesquisa representa uma revisão integrativa ampla da literatura, com o objetivo de proporcionar uma compreensão abrangente das mais recentes pesquisas sobre AF em indivíduos com EM, destacando seus impactos sintomáticos e possíveis alterações nos fatores neurotróficos e nos marcadores bioquímicos da doença, como neurofilamentos, proteínas, citocinas e entre outros.

Foram considerados estudos originais de pesquisa que investigaram a temática estabelecida. A atividade física foi definida amplamente como “qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulta em gasto de energia”, incluindo exercícios e condicionamento físico29. Foram excluídas revisões de literatura, relatos de caso e artigos publicados há mais de cinco anos, para garantir a inclusão de informações atualizadas. Além disso, foram excluídos artigos que não abordavam avaliações sobre a influência da atividade física em marcadores bioquímicos em pessoas com esclerose múltipla.

2.2 MÉTODOS PARA IDENTIFICAÇÃO DOS ESTUDOS

Os estudos foram identificados por meio de uma busca sistemática em dois bancos de dados: PUBMED e Science Direct. Os termos de busca utilizados incluíram “multiple sclerosis”, “physical activity”, “exercise”, “aerobic exercise”, “resistance training”, “physical exercise”, “exercise intervention”, “biochemical markers”, “inflammation”, “cytokines”, “neurotrophic factors”, “oxidative stress” e “immune response”.

2.3 SELEÇÃO DOS ESTUDOS

A seleção dos estudos foi conduzida em etapas distintas: inicialmente, uma triagem dos títulos e resumos, seguida por uma avaliação minuciosa dos textos completos. Para garantir transparência e conformidade com as diretrizes metodológicas, adotou-se a lista de verificação PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) para o processo de seleção dos estudos, conforme ilustrado na Figura 1.

  1. RESULTADOS

Inicialmente, uma ampla pesquisa foi conduzida em dois renomados bancos de dados, PubMed e Science Direct, resultando na identificação de 451 artigos pertinentes ao tema de interesse. Após análise, foram excluídos 359 títulos que não satisfaziam os critérios de inclusão, utilizando um filtro incorporado nos próprios bancos de dados para remover artigos de revisão, relatos de caso, artigos publicados há mais de cinco anos, além daqueles que não abordavam avaliações sobre os marcadores de interesse, em amostras humanas. Isso culminou em uma seleção mais refinada de 92 artigos para uma segunda etapa de avaliação. O processo de seleção dos artigos foi conduzido meticulosamente, seguindo diretrizes rigorosas para garantir a qualidade e a relevância dos estudos incluídos (Figura 1). Por fim, foram utilizados 12 artigos nesta revisão.

Após a fase inicial de triagem dos artigos, a atenção foi dedicada à análise detalhada das características dos estudos selecionados, compiladas de forma abrangente. Esses dados incluem um total de 471 participantes ao todo. Nas tabelas, estão presentes informações, incluindo o desenho e objetivo de cada estudo (Tabela 1), as características da amostra e as medidas relacionadas à atividade física (Tabela 2), em intervenções de AF realizadas em estudos experimentais, destacando especialmente os resultados encontrados.

  1. DISCUSSÕES

A presente revisão integrativa aborda o papel AF e do exercício na gestão da EM e a avaliação de marcadores bioquímicos associados à doença. Os estudos analisados fornecem uma visão abrangente sobre o potencial terapêutico da AF na gestão da EM, embora também revelem algumas complexidades.

Os estudos de Maroto-Izquierdo e colaboradores(2024)28 corroboram com Banitalebi e demais autores (2020)30 destacando que a prática regular de atividade física, especialmente por meio do treinamento de resistência, pode resultar em melhorias significativas na massa muscular, capacidade funcional e neuromuscular em indivíduos com EM. A melhoria na massa muscular pode ter implicações neuroprotetoras, pois as fibras musculares produzem neurotrofinas, substâncias que estimulam o crescimento e a sobrevivência das células nervosas. Ambos os estudos observaram uma redução nos níveis séricos de neurofilamento de cadeia leve (NFL) e de fatores neurotróficos como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), fator neurotrófico-3 (NT-3) e fator neurotrófico-4/5 (NT-4/5), que estão diretamente ligados à neuroinflamação e neurodegeneração na EM. No entanto, Amiri et al. (2021)31 e Gravesteijn et al. (2023)32 não encontraram efeitos significativos do treinamento de resistência nos níveis de NFL. Adicionalmente, Amiri et al. (2021)31 relataram que o treinamento reduziu significativamente os níveis séricos da proteína tau em mulheres com EM, uma proteína essencial para o funcionamento saudável dos neurônios.

Zadeh et al. (2021)33 enfatizam os benefícios do exercício na redução da inflamação sistêmica em pacientes com EM. Eles observaram uma diminuição na produção de substâncias inflamatórias, como interleucina 6 (IL-6) e proteína C-reativa (CRP), juntamente com um aumento na produção de substâncias anti-inflamatórias, como interleucina-10 (IL-10). Isso é relevante, considerando a estreita ligação entre inflamação e atividade da doença na EM. Faramarzi et al. (2020)34 corroboram essas descobertas, fornecendo evidências de que o exercício impacta positivamente os marcadores inflamatórios, reduzindo níveis de IL-6 e proteína C-reativa ultrassensível (hs-CRP), e aumentando níveis de interferon gama (IFN-γ) e pentraxina-3 (PTX-3) também influentes na modulação da inflamação. Além dos efeitos sobre a inflamação, o exercício resultou em melhorias significativas na força muscular e na capacidade de caminhada dos participantes, independentemente do nível de incapacidade. As melhorias na capacidade funcional observadas por Faramarzi et al. (2020)34 foram correlacionadas com mudanças nos marcadores inflamatórios, sugerindo que o exercício não apenas reduz a inflamação, mas também melhora a força e a mobilidade em pacientes com EM. Essas descobertas sugerem que o exercício, ao modular a inflamação, desempenha um papel crucial no equilíbrio do sistema imunológico e promove uma resposta anti-inflamatória em pessoas com EM.

Savšek et al. (2021)35 encontraram um aumento nos níveis do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) após a intervenção com exercícios aeróbicos. Em contrapartida, Gravesteijn et al. (2023)32 e Devasahayam et al. (2021)36 não observaram efeitos significativos do treinamento aeróbico no BDNF, NFL e proteína ácida fibrilar glial (GFAP). Além disso, Savšek et al. (2021)35 observaram uma redução no volume de estruturas cerebrais como o putâmen e o giro cingulado posterior, sugerindo uma possível redução na progressão da neurodegeneração. Também foi observada uma redução no número de lesões ativas na ressonância magnética, indicando um potencial efeito anti-inflamatório do exercício de intensidade moderada. No entanto, ao contrário dos estudos de Zadeh et al. (2021)33 e Faramarzi et al. (2020)34, Savšek et al. (2021)35 não encontraram mudanças significativas nos níveis de citocinas pró-inflamatórias como IL-6 e interleucina-2 (sIL2R). Já Devasahayam et al. (2021)36 relataram níveis mais altos de IL-6 em pacientes com EM em repouso, que aumentavam após exercício de alta intensidade. Sugerindo que o exercício poderia levar a uma resposta inflamatória aumentada em alguns casos, indicando que o impacto do exercício na inflamação sistêmica pode ser mais complexo e necessitar de intervenções adicionais.

Bilek et al. (2022)37 relataram que o exercício aeróbico moderado resultou em maior liberação de irisina, uma proteína que promove a neuroproteção e a neurogênese, ajudando a reparar danos neuronais causados pela EM. Enquanto Rezaee et al. (2020)38 mostraram que o treinamento aeróbico aumentou os níveis de fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), uma proteína que promove a formação de novos vasos sanguíneos e pode ajudar na reparação tecidual. No entanto, após um programa de seis semanas de treinamento regular, os níveis de VEGF não mostraram mais essa elevação, indicando que o aumento inicial pode ser um efeito temporário e não sustentado com o tempo. Por outro lado, os níveis de fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), uma proteína associada à inflamação, diminuíram significativamente após as seis semanas de treinamento aeróbico regular. Isso sugere que, enquanto os benefícios no nível de VEGF podem ser passageiros, o exercício regular tem um efeito mais duradouro e positivo na redução da inflamação. Assim, o exercício físico parece ter diferentes impactos a curto e longo prazo em relação a essas duas proteínas.

Em outro estudo realizado por Bilek, Ercan, Demir (2022)39, os autores relataram que o exercício aeróbico regular pode aumentar os níveis de contactina-1 e contactina-2 no sangue de pessoas com EM. Essas proteínas desempenham papéis importantes na função e organização dos axônios, que são partes essenciais do sistema nervoso. O aumento dessas proteínas pode indicar uma resposta positiva do organismo ao exercício, potencialmente promovendo a regeneração e a organização dos axônios. Isso pode ser benéfico para pessoas com EM, pois a doença afeta o sistema nervoso, resultando em danos aos axônios. Portanto, o exercício regular pode ajudar a retardar o progresso da doença e até mesmo proteger contra danos adicionais ao sistema nervoso.

Munteis et al. (2024)40 descobriram que o exercício intenso causou mudanças nas células linfóides periféricas em pacientes com EM. Em particular, eles notaram que as células natural killer (NK), que são um tipo de célula do sistema imunológico, em pacientes com EM mostram uma resposta de redistribuição ao exercício diminuída comparada aos controles, indicando uma possível alteração na função imunológica associada à EM. Isso significa que, após o exercício, os pacientes com EM tiveram uma resposta imunológica menos robusta em termos de ativação e recrutamento dessas células NK em comparação com os indivíduos sem a doença.

É importante salientar que muitos dos estudos revisados apresentaram limitações metodológicas, como amostras pequenas e falta de grupos controle adequados. Portanto, são necessárias mais pesquisas com amostras maiores e desenhos de estudo mais robustos para confirmar os resultados e elucidar completamente os efeitos da AF na EM.

  1. CONCLUSÃO

A AF tem um papel significativo na gestão da EM e pode influenciar diversos marcadores bioquímicos associados à doença. Os estudos analisados fornecem evidências substanciais de que a prática regular de exercícios, especialmente o treinamento de resistência e aeróbico, pode trazer uma série de benefícios para indivíduos com EM.

Os achados indicam que a atividade física melhora não apenas a massa muscular, capacidade funcional e neuromuscular, mas também tem efeitos neuroprotetores. Isso ocorre devido à produção de neurotrofinas pelas fibras musculares, substâncias que promovem o crescimento e a sobrevivência das células nervosas. Adicionalmente, pode promover a neurogênese, regeneração axonal e, potencialmente, retardar a progressão da neurodegeneração.

Além disso, alguns estudos indicam que a atividade física pode reduzir marcadores inflamatórios como IL-6 e CRP, ao mesmo tempo em que aumenta os níveis de substâncias anti-inflamatórias como o IL-10. Isso é crucial, dado o papel central da inflamação na progressão da EM. A correlação entre a melhora na capacidade funcional e a redução dos marcadores inflamatórios sugere que o exercício não apenas melhora a força e mobilidade, mas também promove um equilíbrio no sistema imunológico, diminuindo a inflamação.

Os resultados também destacam a complexidade e variabilidade das respostas ao exercício entre os pacientes. Enquanto alguns estudos mostram aumentos em neurotrofinas como BDNF após exercícios aeróbicos, outros não encontraram mudanças significativas, o que pode ser atribuído a diferenças na intensidade e tempo do exercício, tempo de doença e idade dos pacientes. Outros marcadores, como VEGF e TNF-α, apresentaram respostas diferenciadas ao exercício, indicando que benefícios como a formação de novos vasos sanguíneos podem ser temporários, enquanto a redução da inflamação pode ser um efeito mais duradouro. A variação na mobilização de células NK observada sugere que a resposta imunológica ao exercício pode ser menos eficiente em pacientes com EM, necessitando de abordagens personalizadas para otimizar os benefícios do exercício.

Apesar das promissoras evidências, as limitações metodológicas de muitos estudos, como amostras pequenas e ausência de grupos de controle adequados, indicam a necessidade de pesquisas futuras mais robustas para confirmar esses resultados e compreender plenamente os mecanismos subjacentes.

Em suma, os estudos revisados apontam que a atividade física pode ter efeitos benéficos na gestão da EM, incluindo melhorias na função física, redução da inflamação sistêmica e possíveis efeitos neuroprotetores. No entanto, é essencial realizar mais pesquisas para otimizar as intervenções de atividade física e personalizá-las para as necessidades específicas dos pacientes com EM, garantindo assim uma abordagem terapêutica mais eficaz e abrangente.

 

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Figura 1. Fluxograma do PRISMA 2020, para processo de seleção de estudos.

Tabela 1.  Delineamentos, objetivos, intervenções e principais resultados dos 12 artigos revisados.

Autor e anoDelineamento do estudo e número amostralObjetivo do estudoAvaliações realizadasPrincipais Resultados
Amiri et al., 2021 31Quasi-experimental, randomizado e  n=24Investigar os efeitos do treinamento de resistência nos níveis séricos de proteína tau e neurofilamento leve (NFL) em mulheres com esclerose múltipla (EM).Avaliações clínicas iniciais, análises físicas, coleta de amostras de sangue antes e após o treinamento, análise bioquímica das amostras para medir os níveis de tau e NFL, além do monitoramento da aderência e técnica durante o treinamento.O estudo descobriu que o treinamento de resistência por oito semanas reduziu significativamente os níveis séricos da proteína tau em mulheres com EM, mas não teve um efeito significativo nos níveis de NFL em comparação com o grupo controle. Esses achados sugerem que o treinamento de resistência pode ter um impacto positivo na redução de certos biomarcadores associados à progressão da EM, embora sua influência sobre outros biomarcadores possa ser mais complexa e requer investigação adicional.    
Banitalebi et al., 2020 30Ensaio de controle randomizado e n=94Investigar os efeitos do treinamento físico em uma série de fatores neurotróficos em mulheres com EM, com base no nível de deficiência como um possível moderador da heterogeneidade da resposta.Exercícios de resistência, pilates, equilíbrio e alongamento. O nível de repouso dos fatores neurotróficos, a capacidade aeróbica, uma repetição máxima e o ICP foram avaliados antes e após o período de intervenção.O treinamento físico melhorou os níveis de BDNF, NT-3 e NT-4/5, com o efeito sobre NT-3 variando conforme o estado de incapacidade. Não houve impacto nos níveis de CNTF e GDNF. Observou-se que a capacidade aeróbica e a força muscular melhoraram com o exercício, independentemente do estado de incapacidade do paciente. A associação positiva entre os aumentos em 1RM e Vo2peak com o exercício e os níveis de BDNF e NT-4/5 reforça a associação entre o treinamento físico, os fatores neurotróficos e a melhoria da aptidão física.    
Bilek, Ercan,  Demir, 2022 39Ensaio clínico randomizado controlado com avaliação de desfechos cegos e n=56Avaliar o efeito de um programa de exercício funcional progressivo nos níveis séricos de contactina-1 e contactina-2 em pessoas com esclerose múltipla remitente-recorrente (EMRR). Além disso, o estudo visou investigar o impacto desse programa de exercício na capacidade aeróbica e no desempenho cognitivo dos participantes.As avaliações incluíram medições de velocidade de caminhada, fadiga autorrelatada, capacidade aeróbica máxima (VO2 máximo) durante o teste de esforço máximo (GXT) e coleta de amostras de sangue para medição dos níveis séricos de BDNF e IL-6 antes e após o exercício.Houve um aumento significativo nos níveis de contactin-1 e contactin-2 após o exercício em pacientes com EMRR. Além disso, melhorias significativas no desempenho cognitivo e na capacidade aeróbica. Sugerindo que o exercício pode ter um efeito benéfico na regeneração e organização axonal, oferecendo potencialmente um efeito neuroprotetor. Além dos aumentos nos níveis de contactin-1 e contactin-2, juntamente com melhorias na capacidade cognitiva e aeróbica, o estudo também destacou que o aumento desses biomarcadores esteve correlacionado com o desempenho cognitivo. Indicando uma possível relação entre o aumento dessas proteínas e a melhoria da função cognitiva após o exercício em pacientes com EMRR.    
Bilek et al., 2022 37Ensaio clínico randomizado e prospectivo e n=32Investigar o efeito de um programa de exercícios aeróbicos em combinação com exercícios de coordenação de Frenkel versus exercícios de coordenação de Frenkel isolados sobre diferentes medidas, como capacidade aeróbica, níveis séricos de hormônio irisina e resultados cognitivos, fadiga e depressão em pacientes com Esclerose Múltipla Remitente Recorrente (EMRR).O estudo incluiu avaliações de capacidade aeróbica, medição do hormônio irisina sérico e questionários para avaliar desempenho cognitivo, fadiga e depressão.No grupo de estudo, que realizou exercícios aeróbicos moderados além dos Exercícios de Coordenação de Frenkel, houve uma melhora significativa em todos os parâmetros avaliados (nível sérico de irisina, VO2max, PASAT-3, FIS e BDI). No grupo controle, apenas os escores de PASAT-3 e BDI melhoraram significativamente após o tratamento. Aumentos no nível de irisina (ΔIrisina) e na capacidade aeróbica (ΔVO2max) foram maiores no grupo de estudo (p < 0,05), assim como as melhorias em fadiga (ΔFIS) e depressão (ΔBDI) (p < 0,05). Os resultados sugerem que 6 semanas de exercício aeróbico melhoraram significativamente a depressão, fadiga e funções cognitivas, e aumentaram os níveis séricos de irisina em pacientes com EMRR.
Devasahayam et al., 2021 36Estudo controlado não randomizado e n=22Investigar os efeitos do exercício físico sobre os níveis séricos de fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e interleucina-6 (IL-6) em pacientes com esclerose múltipla (EM) progressiva. O estudo visa entender como o exercício pode influenciar esses biomarcadores que desempenham papéis importantes na saúde do sistema nervoso central e na resposta inflamatória.O estudo realizou coleta de amostras de sangue para determinar níveis de pentraxinas e citocinas pró-inflamatórias, avaliação da composição corporal, e repetição dos testes funcionais. Essas avaliações foram feitas para investigar os efeitos do treinamento físico combinado nas mulheres com esclerose múltipla, considerando o status de incapacidade.Os resultados mostraram que os participantes com EM tinham níveis mais altos de uma substância inflamatória chamada IL-6 em repouso e que esses níveis aumentavam após o exercício. No entanto, não houve diferenças significativas nos níveis de BDNF entre os grupos ou após o exercício. Além disso, a relação entre BDNF e IL-6 foi menor nos participantes com EM, indicando um desequilíbrio potencial entre inflamação e reparo. Isso sugere que o exercício pode afetar as respostas inflamatórias e de reparo no contexto da EM, mas são necessárias mais pesquisas para entender completamente esses efeitos.    
Faramarzi et al., 2020 34Ensaio clínico controlado randomizado e n= 106Avaliar os efeitos do treinamento físico combinado na concentração de pentraxinas e citocinas pró-inflamatórias em mulheres com esclerose múltipla recorrente-remitente (EMRR), levando em consideração o status de incapacidade dessas participantes. O estudo também visou determinar se havia variações nos resultados com base nos níveis de incapacidade, categorizados como baixa, moderada e alta. O estudo adotou um programa de treinamento progressivo de alta carga para avaliar seus efeitos abrangentes. O programa incluiu cinco exercícios realizados em máquinas, como leg-press bilateral e flexão plantar bilateral, além de extensão unilateral de joelhos e flexão dorsal em decúbito bilateral. Um exercício adicional foi conduzido utilizando uma faixa elástica para flexão dorsal unilateral. A avaliação abrangeu uma variedade de medidas, incluindo taxa de atrofia cerebral total, mudanças nas micro e macroestruturas cerebrais, função neuromuscular, função física, função cognitiva, saúde óssea e resultados relatados pelo paciente.Comparações iniciais mostraram diferenças significativas na incapacidade medida pelo FDD, mas não em outros marcadores inflamatórios. Pacientes com incapacidade moderada apresentaram níveis mais altos de FDD em comparação com os de baixa incapacidade. Em relação aos marcadores inflamatórios, o exercício teve um efeito significativo sobre IFN-ƴ, IL-6, PTX-3 e hs-CRP, independentemente do nível de incapacidade, com IFN-ƴ e PTX-3 aumentando, e hs-CRP e IL-6 diminuindo após o exercício. A capacidade funcional também melhorou significativamente, com aumentos na força muscular (medida pelo 1RM em vários exercícios) e na capacidade de caminhada (6MWT) e redução no tempo de execução do TUG, independentemente do status de incapacidade. Houve correlações significativas entre mudanças em mediadores inflamatórios e melhorias na capacidade funcional, indicando que a intervenção de exercício não só melhora os marcadores inflamatórios, mas também a força e a capacidade de locomoção em pacientes com EM.    
Gravesteijn et al., 2023 32Multicêntrico, simples cego,  randomizado e n=55Investigar o efeito do treinamento físico combinado em biomarcadores específicos, como o BDNF sérico, NfL sérico e GFAP sérico, em pessoas com esclerose múltipla (EM). Especificamente, o estudo busca comparar as mudanças nas concentrações desses biomarcadores entre um grupo que recebe treinamento aeróbico e um grupo de controle que recebe consultas com enfermeiras especializadas em MS.Os participantes do estudo usaram pedômetro e acelerômetro para monitorar a atividade física. A avaliação foi dividida em três fases: pré-intervenção (questionários), intervenção de 12 semanas (pacotes enviados) e pós-intervenção (avaliação dos efeitos).Os resultados mostraram que o treinamento aeróbico não teve efeitos significativos nos biomarcadores sanguíneos estudados, incluindo fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), neurofilamento leve (NfL) e proteína ácida fibrilar glial (GFAP). Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de treinamento aeróbico e controle em relação aos biomarcadores estudados. Os resultados sugerem que o programa de treinamento aeróbico não teve impacto significativo nos biomarcadores estudados em pacientes com EM.    
Maroto -Izquierdo et al., 2024 28Estudo piloto longitudinal, contrabalançado.  e n=11Investigar os efeitos do treinamento de resistência de alta intensidade na massa muscular, força, capacidade funcional e dano axonal em pacientes com EM.As avaliações foram realizadas com pacientes com EM e controles saudáveis. Eles foram submetidos a um teste de exercício em uma bicicleta ergométrica, enquanto sua frequência cardíaca e parâmetros respiratórios foram monitorados. Amostras de sangue foram coletadas antes, durante e após o exercício para análise imunológica das células sanguíneas.Os resultados do estudo indicam que um programa de treinamento de resistência de curto prazo e alta intensidade teve efeitos significativos em várias variáveis, incluindo aumento da massa muscular, melhora da capacidade funcional e neuromuscular, e redução das concentrações séricas de NFL. Apesar desses achados promissores, os autores destacam a necessidade de mais pesquisas para confirmar a extensão e a persistência desses efeitos protetores, bem como para entender melhor as relações entre os resultados funcionais e os biomarcadores neuroquímicos, como o NfL.    
Munteis et al., 2024 40Etudo transversal e n=23Determinar se o exercício agudo afeta a redistribuição das células natural killer (NK) em pacientes com esclerose múltipla (EM) e em indivíduos saudáveis. Para medir a aptidão física, foi conduzido um teste de GXT, com monitoramento da pressão arterial e frequência cardíaca. Amostras de sangue foram coletadas antes e após a 1ª e 18ª sessões de treinamento para análise laboratorial dos níveis de VEGF e TNF-α. As análises estatísticas foram realizadas para comparar os resultados entre os grupos controle e de tratamento. Essas avaliações visaram entender os efeitos do treinamento aeróbico na capacidade cardiovascular, neuroproteção e imunomodulação em pacientes com EM.Os resultados encontrados indicaram que as mudanças nas células linfoides periféricas induzidas pelo exercício agudo diferiram nos pacientes com EM em comparação com os controles saudáveis. As principais diferenças foram observadas no compartimento das células NK. Enquanto tanto os pacientes com EM quanto os controles apresentaram um aumento no número total de células NK e nas células NK CD56dim induzidas pelo exercício agudo, os controles experimentaram uma redistribuição de maior magnitude em repouso em comparação com os pacientes com EM. Além disso, foi observado que as células NK CD56 brilhantes diminuíram em pacientes com EM em repouso, em contraste com o aumento observado nos controles saudáveis em relação aos valores basais. Esses resultados sugerem que os pacientes com EM apresentaram uma mobilização reduzida das células NK induzida pelo exercício agudo em comparação com os controles.    
Rezaee et al., 2020 38ensaio clínico randomizado controlado e n=20Investigar os efeitos do treinamento aeróbico em indivíduos com EMRR. O estudo procurou avaliar os efeitos do treinamento aeróbico em vários aspectos, incluindo capacidade cardiovascular, neuroproteção e imunomodulação, utilizando medidas como os VEGF e TNF-α no sangue.O estudo realizou avaliações clínicas, coleta de sangue para análise de citocinas, testes neuropsicológicos, avaliação da fadiga e da depressão, análise da qualidade de vida e da imagem por ressonância magnética. Essas avaliações foram feitas antes e após a intervenção com exercício aeróbico para investigar os efeitos do exercício em pacientes com EM.Os resultados mostraram que o treinamento aeróbico aumentou os níveis de VEGF após uma única sessão, mas não houve mudança após 6 semanas. Por outro lado, os níveis de TNF-α diminuíram significativamente após 6 semanas de treinamento. Esses achados sugerem que o exercício pode ter efeitos diferentes na regulação de VEGF e TNF-α em pacientes com EMRR.    
Savšek et al., 2021 35ensaio clínico randomizado (ECR) com grupos de intervenção e controle, sem crossover e n=28Averiguar os efeitos do exercício aeróbico em pacientes com esclerose múltipla (EM), focando em biomarcadores clínicos e de imagem cerebral, assim como em medidas de qualidade de vida, fadiga, depressão, e função cognitiva.Foram realizadas avaliações de composição corporal e análises de sangue. As medições de massa corporal e altura foram realizadas com precisão de 0,1 kg e 0,1 cm, respectivamente, e o IMC foi calculado. Amostras de sangue em repouso foram coletadas de todas as participantes antes e 4 dias após o treinamento, após jejum noturno de 10-12 horas. As concentrações séricas de IL-6, CRP e IL-10 foram medidas em duplicata utilizando ensaios ELISA, conforme as instruções do fabricante. Essas avaliações foram realizadas para medir os impactos do programa de exercícios na composição corporal e nos níveis de biomarcadores inflamatórios e anti-inflamatórios séricos das participantes.    Houve uma diminuição no volume de algumas estruturas cerebrais, como o putâmen e o giro cingulado posterior, sugerindo uma possível redução na progressão da neurodegeneração. Além disso, foi observada uma redução no número de lesões ativas na ressonância magnética, indicando um potencial efeito anti-inflamatório do exercício. Por outro lado, houve um aumento nos níveis de BDNF após a intervenção de exercícios, sugerindo um possível mecanismo neuro-protetor. No entanto, não foram observadas mudanças signifi-cativas nos níveis de citocinas pró-inflamatórias, como IL-6 e receptor solúvel de sIL2R, indicando que o impacto do exercício na inflamação sistêmica pode ser limitado.    
Zadeh et al., 2021 33Ensaio clínico randomizado e n=30Investigar os efeitos de um programa de exercícios combinados (endurance, resistência e equilíbrio) sobre a composição corporal e biomarcadores séricos em mulheres com esclerose múltipla (EM). Especificamente, o estudo busca avaliar as mudanças nas concentrações séricas de IL-6, CRP e IL-10, bem como as alterações na composição corporal, antes e após a intervenção de 8 semanas de treinamento físico supervisionado.Foram realizadas avaliações de composição corporal e análises de sangue. As medições de massa corporal e altura foram realizadas com precisão de 0,1 kg e 0,1 cm, respectivamente, e o IMC foi calculado. Amostras de sangue em repouso foram coletadas de todas as participantes antes e 4 dias após o treinamento, após jejum noturno de 10-12 horas. As concentrações séricas de IL-6, CRP e IL-10 foram medidas em duplicata utilizando ensaios ELISA.Após um programa de exercícios de 8 semanas, as mulheres com esclerose múltipla (EM) que participaram do grupo de exercícios mostraram uma diminuição significativa nas concentrações séricas de IL-6 e CRP, indicando uma redução da inflamação. Além disso, houve um aumento significativo na concentração de IL-10, sugerindo uma resposta anti-inflamatória. Esses resultados sugerem que o programa de exercícios teve um impacto positivo na fisiopatologia da EM, com benefícios específicos na modulação do sistema imunológico.

*NFL: Neurofilamento de Cadeia Leve; NT-3 (FatorNeurotrófico-3); NT-4/5 (Fator Neurotrófico-4/5); BDNF: Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro; GDNF: Fator de Crescimento Derivado da Glia; CNTF: Fator Neurotrófico Ciliar; VO2peak : pico de consumo de oxigênio; ICP: Pressão Intracraniana; 1RM: Repetição Máxima de uma Repetição; PASAT-3: Paced Auditory Serial Addition Test-3; FIS: Escala de Impacto da Fadiga; BDI: Inventário de Depressão de Beck; EMRR: Esclerose Múltipla Remitente Recorrente; IFN-γ: interferon gama; IL-6: interleucina 6; PTX-3 :pentraxina 3;  Hs-CRP proteína C reativa ultrassensível; FDD: Distância Percebida de Fadiga; 6MWT: Teste de Caminhada de 6 Minutos; TUG: Levanta e Anda Cronometrad; GFAP: Proteína Ácida Fibrilar Glial; VO2max: Volume Máximo de Oxigênio; NK: células natural killer; VEGF: Fator de Crescimento Endotelial Vascular; TNF-α: Fator de Necrose Tumoral Alfa; sIL2R: interleucina-2; CRP: Proteína C-Reativa; IL-10: Interleucina-10; EM: Esclerose Multipla;

Tabela 2. Características das amostras/pacientes e as abordagens relacionadas à atividade física.

Autor e anoFaixa EDSSTempo da doença (anos  X ± DP )Idade (anos  X ± DP )Duração do estudo (semanas)Frequência (dias/semana)Tempo (min)Intensidade
Amiri et al., 2021 312 a 5não informado25 a 408345 a 60Moderada.
Banitalebi et al., 2020 30EDSS < 4  a EDSS > 6,5não informado17 a 50123100Leve a moderada.
Bilek, Ercan,  Demir, 2022 391,71 ± 1,137,46 ± 4,0428.29 ± 6.578360 a 70Inicialmente definida em 70% da capacidade aeróbica máxima (VO2peak) dos participantes e aumentada em 5% a cada duas semanas.
Bilek et al., 2022 371,69 ± 0,85não informado28,31 ± 5,896320 a 30A intensidade dos exercícios de coordenação de Frenkel variou de acordo com o nível de dificuldade, enquanto os exercícios aeróbicos foram prescritos a 50-60% da capacidade aeróbica máxima (VO2max).  
Devasahayam et al., 2021 36  6 a 6,516,57 ± 9,6954,07 ± 8,468130 a 40Alta.
Faramarzi et al., 2020 34Baixa incapacidade: EDSS entre 0 e 4.0; Incapacidade moderada: EDSS entre 4,5 e 6; Alta incapacidade: EDSS entre 6,5 e 8,.0não informadoentre 18 e 50 anos123100A intensidade do treinamento foi ajustada com base no nível de incapacidade dos participantes.
Maroto -Izquierdo et al., 2024 28<6.5não informadonão informado16345A intensidade variou ao longo da sessão de treinamento, começando com uma intensidade mais baixa (40% da potência máxima) e aumentando gradualmente para intensidades mais altas (60% e 80% da potência máxima) durante os intervalos de exercício.  
Maroto -Izquierdo et al., 2024 28EDSS ≤ 312,1 ± 6,740 ± 3,16330Alta ou vigorosa.
Munteis et al., 2024 400,25 a 2,0, com uma mediana de 1,2513,3 ± 5,641,7 ± 7,224360Alta ou vigorosa.
Rezaee et al., 2020 382,2 ± 0,4não informado28,9 ± 3.36330Moderada.
Savšek et al., 2021 35<6.58,4 ± 6,139,7 ±  6,712260Moderada, correspondendo a 60-70% da reserva de frequência cardíaca de cada indivíduo.
Zadeh et al., 2021 33não informadonão informado32,1 ± 2,18360Leve a moderada.

*X: média; DP: desvio padrão; EDSS: Escala Expandida do Estado de Incapacidade; VO2max: volume máximo de oxigênio; VO2peak: pico de consumo de oxigênio.


1. Acadêmica do Curso de Biomedicina do Centro Universitário FADERGS, Porto Alegre/RS – Brasil. E-mail: barbosaelaine08@gmail.com. (Autor correspondente)

2. Biomédica e Docente do Curso de Biomedicina do Centro Universitário FADERGS, Porto Alegre/RS – Brasil.