EFFECTS OF PHYSIOTHERAPY ON LOW BACK PAIN DURING THE GESTATIONAL PERIOD: LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11194249
Karla Karina Seabra Palos1;
Lucimara Lansing De Jesus1;
Thaiana Bezerra Duarte2
Resumo
Introdução: A gravidez é um momento de extrema importância para a mulher. Nesse período que a mulher reestrutura toda sua vida para assumir o papel de mãe, ajustando também sua vida conjugal, socioeconômica e profissional. Porém, um dos problemas mais frequentes no período gestacional é a dor lombar e em média 50% das gestantes informam ter esta dor, comprometendo assim a sua qualidade de vida, relatam ainda o consumo de analgésicos e repouso não são suficientes para amenizar o problema, tendo a grávida que recorrer à intervenção fisioterapêutica. Objetivo: Descrever os efeitos da fisioterapia na lombalgia durante o período gestacional. Materiais e Método: Este estudo apresentou como proposta metodológica a revisão de literatura, tendo como bases de dados consultadas para isto: Scielo, Lilacs e Bireme, com o período de busca de março de 2024. Resultados: Foram utilizados 4 artigos nos quais é possível observar que a fisioterapia atua como aliada ao propósito de amenizar, reduzir ou ainda cessar a dor lombar que é característica do período gravídico, independente da técnica usada, porém, algumas possuem sucesso maior, ainda mais quando associadas à outras atividades. As técnicas utilizadas foram; terapias manuais, auriculoterapia, acupuntura, bandagem elástica e hidroterapia. Conclusão: A aplicação dessas terapias ainda necessita de maiores estudos de intervenção no intuito de colaborar ainda mais a correspondência desses tratamentos a redução da dor lombar em grávidas, bem como desenvolver protocolos de manejo correto.
Palavras-chave: Lombalgia; Gestação; Dor Pélvica Posterior; Fisioterapia.
Abstract
Introduction: Pregnancy is an extremely important time for women. During this period, women restructure their entire lives to assume the role of mother, also adjusting their marital, socioeconomic and professional lives. However, one of the most common problems during pregnancy is low back pain and on average 50% of pregnant women report having this pain, thus compromising their quality of life. They also report that the consumption of painkillers and rest are not enough to alleviate the problem, The pregnant woman has to resort to physiotherapeutic intervention. Objective: To describe the effects of physiotherapy on low back pain during the gestational period. Materials and Method: This study presented a literature review as a methodological proposal, using the databases consulted for this purpose: Scielo, Lilacs and Bireme, with the search period of March 2024. Results: 4 articles were used in which it is possible Note that physiotherapy acts as an ally to alleviate, reduce or even stop the low back pain that is characteristic of the pregnancy period, regardless of the technique used, however, some are more successful, even more so when associated with other activities. The techniques used were; manual therapies, auriculotherapy, acupuncture, elastic bandages and hydrotherapy. Conclusion: The application of these therapies still requires further intervention studies in order to further collaborate in matching these treatments to reducing low back pain in pregnant women, as well as developing correct management protocols.
Keywords: Low back pain; Gestation; Posterior Pelvic Pain; Physiotherapy.
TEMA: FISIOTERAPIA NA LOMBALGIA GESTACIONAL
1 INTRODUÇÃO
A fase da gravidez se converte em um momento de extrema importância para a mulher. É nesse período que a mulher reestrutura toda sua carreira e vida para assumir o papel de mãe, tendo que junto a isso, ajustar também sua vida conjugal, socioeconômica e profissional (Cipriano, 2017).
Tais mudanças somam-se também às transformações que acontecem tanto no âmbito físico, como no emocional e fisiológico que são fatores geradores de desconforto nas gestantes, principalmente no momento de executar suas atividades rotineiras (Cipriano, 2017).
De acordo com Souza et al. (2017) todas as alterações pelas quais o corpo feminino passa no período gestacional, visam atender às exigências materna e fetal, podendo, em alguns casos, causar pequenos desconfortos até mesmo grandes limitações nas atividades domésticas e profissionais da mulher. A autora ressalta que o efeito do aumento de hormônios como estrogênio e relaxina, que são próprios da gestação, associado ao ganho de peso, fazem com que as articulações se tornem mais instáveis, causando alterações biomecânicas, frouxidão ligamentar e desordens musculoesqueléticas. Outro ponto a ser observado é o fato de o aumento do peso progressivo, decorrente desse período, ocorrer principalmente no último trimestre de gravidez, podendo sobrecarregar as articulações e intensificar os desconfortos e incômodos. Terminologias essas que no contexto do presente estudo relacionam-se às restrições do organismo materno, causadas pelas adaptações fisiológicas (hormonais e biomecânicas), resultantes em modificações dos sistemas musculoesquelético, gastrointestinal, urogenital, e também na qualidade do sono.
Cipriano (2017) ainda afirma que um dos problemas mais frequentes no período gestacional é a dor lombar. E em seu trabalho relata que em média, 50% das gestantes informam ter dor lombar, comprometendo assim a qualidade de vida das mesmas. Estas relatam ainda que não há melhora para tal dor e que o consumo de analgésicos e repouso não são suficientes para amenizar tal problema, fazendo com que a grávida recorra à intervenção fisioterapêutica.
Para Gualberto et al. (2015) a lombalgia se caracteriza por ser uma condição dolorosa situada na região inferior do dorso, especificamente na área centrada entre o último arco costal e a prega glútea. Os autores ainda ressaltam que, a ocorrência de lombalgia gira em torno de 48% a 56% das gestantes entre o 5º e o 7º mês de gravidez, e em muitas situações impossibilitando a realização as atividades corriqueiras. Assim, a lombalgia deve ser considerada uma preocupação entre os profissionais da saúde durante a assistência pré-natal. Outro ponto de destaque é que a etiologia da lombalgia não é totalmente esclarecida e considerada de caráter multifatorial. Dentre os possíveis agentes causadores para o seu acontecimento estão, segundo Gualberto et al. (2015), o aumento do peso do útero e sua pressão sobre as terminações nervosas da coluna lombossacral, aumentando a lordose, adulterando o centro de gravidade, frouxidão da musculatura e mudanças de cunho hormonal e vasculares. Segundo o Conselho Regional de Fisioterapia (CREFITO) a fisioterapia é uma área da saúde especializada no tratamento de distúrbios cinéticos funcionais em órgãos e sistemas do corpo, traz sua contribuição junto a equipes de profissionais de diversas áreas na atuação na saúde da mulher ou urogineco-funcional, possibilitando intervenções junto às gestantes que vivem essas transformações durante a gravidez. Sendo importante destacar que recursos fisioterapêuticos atuam associados à saúde da mulher, principalmente no tratamento de incontinências, disfunções sexuais, onde a atuação em fisioterapia por meio da diversidade de intervenções existentes, funcionará como agente promotor de bem-estar físico e mental das grávidas, proporcionando saúde de forma integral, garantindo maior êxito no processo de trabalho de parto, na redução das dores, incentivando o parto normal.
É importante destacar a necessidade de explorar o tema sob o olhar da fisioterapia e contribuir para as discussões sobre o assunto, agregando conhecimentos acadêmicos e profissionais sobre a relevância que tem o acompanhamento da assistência fisioterapêutica durante a gravidez, principalmente junto a mulheres portadoras de lombalgia.
Diante disso, e levando em consideração a importância de abordagem ao tema, este estudo tem como objetivo descrever os efeitos da fisioterapia na lombalgia durante o período gestacional.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo apresentou como proposta metodológica a revisão de literatura, que proporciona uma busca de artigos e materiais pertinentes a construção detalhada deste estudo. As bases de dados consultadas para isto foram: Scielo, Lilacs e Bireme, com as palavras-chave em português e inglês: “Lombar; Gestação; Dor Pélvica Posterior; Fisioterapia”, no período de busca compreendendo o mês de março de 2024.
Os critérios de inclusão foram: artigos publicados nos últimos 10 (dez) anos, que descrevessem intervenções fisioterapêuticas em gestantes com lombalgia.
Os critérios de exclusão foram: artigos não disponíveis na íntegra; em duplicidade e publicados em idiomas diferentes de português e inglês.
Os artigos foram selecionados por sua pertinência ao assunto, levando em consideração os que continham informações sobre os efeitos da fisioterapia na lombalgia durante o período gestacional. Para tanto foram lidos e analisados os resumos e os artigos na íntegra de todas as obras selecionadas.
Após a análises desses estudos, estes foram sistematizados e seus resultados apresentados por meio de tabelas e textos.
3 RESULTADOS
Os resultados apresentados após busca nas bases de dados estão sistematizados conforme Figura 1 e trazem um fluxograma indicando os artigos selecionados para inclusão neste estudo, onde totaliza-se 51 artigos, sendo estes encontrados após o uso das palavras chaves nos bancos de dados Scielo, Lilac’s e Bireme, e distribuídos da seguinte forma: Scielo: 30 artigos, Lilac’s: 3 artigos e Bireme: 18 artigos. Posteriormente foram excluídos 6 artigos que se apresentavam em duplicidade nas plataformas, 20 artigos fora do contexto da pesquisa, pois não apresentavam dados relacionados à lombalgia em mulheres grávidas e após a leitura na íntegra dos artigos restantes, foram excluídos um total de 21 artigos, sendo 14 fora do período de busca de 10 anos e 7 que se apresentavam em outro idioma.
Restando assim, 04 artigos apresentando as características elegíveis para inclusão no presente estudo, onde 2 foram retirados da plataforma Scielo e 2 da plataforma Bireme.
Figura 1 – Fluxograma de seleção de artigos para inclusão no estudo.
Fonte: As autoras (2024).
É importante ressaltar que os estudos que compõem esta pesquisa buscam avaliar o antes e depois da aplicação de técnicas fisioterapêuticas com objetivo de reduzir o desconforto da lombalgia gestacional.
Desta forma, priorizou-se por estudos de intervenção fisioterapêutica, usando diversas técnicas que permitam avaliar se de fato a fisioterapia seria aliada da gestante dentro desse processo.
O resultado da pesquisa foi disponibilizado na Tabela 1 e suas informações e resultados expostos na discussão deste artigo.
Tabela 1 – Artigos para inclusão no estudo.
AUTOR/ANO | TIPO DE ESTUDO | OBJETIVO | METODOLOGIA | RESULTADOS |
DE CONTI, M. H. S. et al. 2014 | Ensaio clínico, sobre os resultados de técnicas fisioterápicas. | Estudar os efeitos de técnicas fisioterápicas sobre os desconfortos músculo esqueléticos na gestação. | Estudo coorte prospectivo, com 71 gestantes nulíparas, de baixo risco, distribuídas conforme a participação (estudo; n=38) ou não (controle; n=33). O Programa Multidisciplinar de Preparo para o Parto e Maternidade constou de 10 encontros (da 18ª à 38ª semana), com atividades educativas, fisioterápicas e de interação. Compararam se, por questionário específico, no início e final do programa, a ocorrência (presença ou ausência), as características (local, tipo, intensidade, frequência e duração) e a evolução dos desconfortos músculo esqueléticos. | No início do programa, 63,6% das gestantes do grupo controle e 84,2% do Estudo relataram sintomas músculo-esqueléticos (p=0,05), caracterizados por dor na região lombossacra. No grupo controle predominaram a intensidade leve (18,2%) e grave (18,4%), e no grupo estudo, a grave (36,8%) e isolada ou associada (31,6%). No final, o grupo controle tinha sintomas de intensidade grave (60,6%), com frequência diária (42,4%) e duração maior que três horas (69,7%) (p<0,05). O grupo estudo referia intensidade leve (57,9%) e frequência quinzenal (50,0%) com duração máxima de uma hora (55,3%) (p<0,05). A evolução dos sintomas foi diferenciada, confirmando-se piora em 63,6% das gestantes do Controle e melhora em 65,8% das participantes do Programa (p<0,05). |
GRAÇA, B. C. DA. et al. 2020 | Estudo experimental. | Identificar as contribuições da auriculoterapia para a promoção da qualidade de vida de profissionais do sistema penitenciário. | Estudo experimental, com coleta de dados entre julho e dezembro de 2018 na cadeia pública feminina de um município mato-grossense, Brasil. Foram elencados os sintomas lombalgia, ansiedade e estresse para a intervenção com auriculoterapia, sendo avaliados a cada sessão por meio de instrumentos psicométricos. | Houve prevalência de mulheres com idade entre 30 e 44 anos, cor parda, com ensino superior completo e residindo com cônjuge. Verificou-se redução mais acentuada da intensidade dos sintomas no grupo intervenção, especialmente em relação ao estresse e lombalgia, o que aponta a efetividade da auriculoterapia nesse grupo. |
MARTINS, E. S. et al. 2019 | Estudo quase experimental, antes e depois. | Avaliar os efeitos da prática de acupuntura realizada no alívio da dor lombar em gestantes que se encontram no segundo e terceiro trimestre de gravidez, bem como na execução das atividades diárias. | Estudo quase experimental, antes e depois, realizado com 56 gestantes com idade gestacional entre 14 e 37 semanas e queixas referidas de dor lombar. | Encontrou-se redução significante (p<0,05) dos escores do índice de dor. A média da dor diminuiu na avaliação da segunda (4,92), quarta (3,24) e sexta (1,00) sessão. Algumas mulheres tiveram sua dor cessada antes de completar as seis sessões e houve melhora nas atividades prejudicadas pela dor. |
P. CIPRIANO. 2017 | Estudo experimental. | Verificar a influência da bandagem elástica no tratamento da dor pélvica posterior e na funcionalidade nas atividades de vida diária das gestantes. | Trata-se de estudo experimental, controlado e prospectivo. A amostra foi constituída de 20 gestantes, que foram divididas em dois grupos: Grupo de Estudo (GE): gestantes que fizeram uso da bandagem elástica e da hidroterapia (n = 10); Grupo Comparativo (GC): gestantes que fizeram hidroterapia (n = 10). | A dor foi avaliada pela Escala Visual Numérica e a funcionalidade por meio do questionário de incapacidade funcional de Rolland-Morris. Foram incluídas no projeto 20 gestantes, sendo 10 em cada grupo, com idade entre 18 e 39 anos. Não houve diferença estatística entre os dois grupos (p > 0,05), considerando-se os valores obtidos com esses dois instrumentos de avaliação. Os dois tratamentos mostraram melhora em relação à dor e à funcionalidade das atividades rotineiras das gestantes. |
Fonte: As autoras (2024).
O estudo de De Conti et al. (2014) foi conduzido por meio de ensaio clínico com 71 gestantes nulíparas, de baixo risco, divididas em dois grupos (estudo; n=38 e controle; n=33), onde o objetivo era estudar os efeitos de técnicas fisioterapêuticas sobre os desconfortos musculoesqueléticos na gestação por meio de ensaio clínico. Os estudos foram realizados no período de setembro de 1999 a maio de 2001, totalizando 1 ano e 5 meses, as gestantes selecionadas estavam entre a 18ª e 38ª semana de gestação, desconsiderando a idade das participantes, foram realizadas 10 sessões com atividades educativas, fisioterapêuticas e de interação, onde foram aplicadas técnicas de respiração, exercícios de alongamento combinados com fortalecimento muscular de intensidade leve, adequadas para a idade gestacional (exercícios metabólicos nos membros superiores – fechamento e abertura dos dedos das mãos – e nos membros inferiores – dorsoflexão e circundução do tornozelo). Ao início das sessões cerca de 63,6% das gestantes pertencentes ao grupo controle e 84,2% das gestantes pertencentes ao grupo de estudo relataram dor lombar, no final a evolução dos sintomas foi diferenciada, confirmando-se piora em 63,6% das gestantes do grupo controle e melhora em 65,8% das participantes do Programa, concluindo que as técnicas fisioterápicas agem na redução da intensidade, constância e duração proporcionando a melhora desses desconfortos musculoesqueléticos na gestação.
No estudo de Graça et al. (2020) a prática utilizada foi a auriculoterapia visando a diminuição de sintomas físicos e emocionais, especialmente em relação à dor, identificando as contribuições da auriculoterapia como promotora da qualidade de vida, por meio de experimentação, trabalhando com dois grupos distintos: grupo controle (GC – não tratado) e grupo intervenção (GI – com aplicação da auriculoterapia), aplicada na cadeia pública feminina de um município de Mato Grosso com 18 mulheres, com dados coletados de julho e dezembro de 2018. Durante a coleta das informações foram relatados com frequência os sintomas de lombalgia, da ansiedade e do estresse, com a prevalência de mulheres na faixa etária entre 30 e 44 anos, onde após 6 sessões de foi verificada uma redução, especialmente com relação a lombalgia, significativa para a ausência de lombalgia (50,0%), comprovando-se como uma terapia promissora neste contexto.
Martins et al. (2019) trouxeram em seu estudo a avaliação dos efeitos da prática de acupuntura orientada para o alívio da dor lombar em grávidas no segundo e terceiro trimestre de gestação. O estudo quase experimental, na modalidade antes e depois, foi realizado com 56 gestantes entre 14 e 37 semanas e que apresentavam dor lombar, desconsiderando outras variáveis (como cor, idade), onde foram realizadas, junto às grávidas, seis sessões de acupuntura, divididas em duas sessões por semana, e com duração de 30 minutos cada, com a aplicação de pontos sistêmicos e auriculares e com aplicação da Escala Analógica Visual para avaliação. De acordo com o relatado, foi constatada a redução significante (p<0,05) dos escores do índice de dor. Os resultados após as sessões, retratam que a média da dor diminuiu significativamente na avaliação da segunda (4,92), quarta (3,24) e sexta (1,00) sessão. Para outras mulheres, foi relatada a cessação da dor antes de completar a quantidade de sessões recomendadas (seis sessões) e também houve melhora nas atividades comprometidas pela dor, comprovando-se a eficácia da técnica.
No estudo de Cipriano (2017) o objetivo principal era verificar a influência da bandagem elástica no tratamento da dor pélvica posterior e no exercício das atividades diárias das grávidas. Para isso, fez uso do estudo experimental controlado e prospectivo, utilizando 20 gestantes, que foram divididas em dois grupos distintos: Grupo de Estudo (bandagem elástica e hidroterapia) e Grupo Comparativo (hidroterapia), com 10 mulheres em cada grupo, com idades entre 18 e 39 anos. É importante destacar que como resultado os dois tratamentos se mostraram promissores em relação à dor e ao desenvolvimento das atividades rotineiras das gestantes, porém o Grupo de Estudo apresentou melhores índices em comparação ao Grupo Comparativo. Desta forma, os dois tratamentos se mostraram eficazes, podendo inclusive usar a bandagem elástica no tratamento da dor lombar durante a gravidez de forma segura, como demonstra quadro comparativo abaixo.
Quadro 1 – Comparação entre os efeitos dos estudos utilizados na confecção deste artigo.
ESTUDO | Nº DE PARTICIPANTES | IDADE | Nº DE SESSÕES | TÉCNICA UTILIZADA | EFEITOS |
DE CONTI, M. H. S. et al. 2014 | 71 | Não relatada | 10 | Técnicas de respiração, sequências de exercícios de alongamento e fortalecimento muscular de intensidade leve. | Positivo em 65,8% das participantes. |
GRAÇA, B. C. DA. et al. 2020 | 18 | 30 a 44 anos | 6 | Auriculoterapia | Positivo em 50% das participantes. |
MARTINS, E. S. et al. 2019 | 56 | Não relatada | 6 | Acupultura | Positivo sem considerar percentuais totais. |
P. CIPRIANO. 2017 | 20 | 18 a 39 anos | Não informada | Bandagem Elástica e Hidroterapia | Positivo sem considerar percentuais totais. |
Fonte: As autoras (2024).
4 DISCUSSÃO
No estudo encabeçado por De Conti et al. (2014), que apresenta como objetivo o estudo dos efeitos de técnicas de fisioterapia utilizadas no Programa Multidisciplinar de Preparo para o parto e Maternidade (PMPMa) no que tange aos desconfortos musculoesqueléticos da gestação, foi realizada uma pesquisa no Serviço de Obstetrícia – assistência ao pré-natal, parto e puerpério, da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB– UNESP), no período compreendendo os meses de setembro de 1999 a maio de 2001, onde foram formados dois grupos de pacientes em concordância com a participação (grupo estudo- GE) ou não no programa (grupo controle – GC) onde estavam inseridas grávidas acompanhadas no pré-natal especializado de adolescentes e primigestas FMB-UNESP e como critérios utilizados para inclusão nesta pesquisa listou-se: nuliparidade, ausência de doença clínica ou obstétrica, gestação única, idade gestacional entre a 18ª e a 22ª semana e o desejo de participar de um programa de preparo para o parto.
É importante mencionar que o programa foi aplicado apenas para as gestantes do Grupo de Estudos e constituído de três atividades básicas: educativa, fisioterápica e de interação, onde metade das gestantes participou alternadamente das outras atividades de interação e fisioterapêutica, com duração média de 50 minutos cada.
No que tange às atividades fisioterapêuticas, foram aplicadas técnicas fisioterapêuticas padronizadas de acordo com Polden e Mantle e executadas primeiramente com treino respiratório, depois com cinesioterapia, finalizando com as orientações posturais e treinos para as atividades de vida diárias, sendo-lhes repassadas informações sobre a melhor postura para realizar os afazeres domésticos, levando em consideração as orientações para utilização de tronco e membros inferiores semiflexionados para permanência em pé em frente à pia da cozinha, ao tanque, à mesa de passar roupas e para a limpeza do chão, assim como orientações para realização das atividades de higiene e cuidados pessoais – tronco e membros inferiores semiflexionados diante do lavatório do banheiro, flexão e abdução coxofemoral na posição sentada para a colocação de sapatos.
De Conti et al. (2014) ainda relata que para realizar o levantamento de dados foi aplicado o Questionário de Desconforto Musculoesquelético em dois momentos distintos, entre a 18ª e a 22ª semana (início) e na 38ª semana (final) de gestação. O episódio foi considerado pela presença ou não de sintomas de desconfortos musculoesqueléticos.
É importante destacar que 80 gestantes colaboraram com este estudo, alocadas entre GC e GE e após aplicação dos critérios de exclusão da pesquisa, foram comparados os resultados de 38 gestantes do GE e 33 do GC.
De acordo com De Conti et al. (2014) o desenvolvimento dos desconfortos musculoesqueléticos se mostrou diferente entre os grupos, pois houve uma maior proporção de grávidas apresentando piora nos desconfortos no GC (63,6 vs 7,9%) e melhora no GE (65,8 vs 3,1%), onde, independente do grupo a predominância de queixas de desconfortos musculoesqueléticos está localizado na região lombo-sacra e sua manifestação é por meio de sintomas de dor, tanto no início como no final do programa. Dentro dessa perspectiva não foram observadas diferenças significativas. Ressaltando que a constatação do maior acometimento da região lombo-sacra poderá ser relacionada ao ganho repentino de peso, à acentuação das curvaturas da coluna vertebral e à embebição gravídica, efeitos esses advindos da necessidade de adaptação do corpo feminino no período de gestação.
Para De Conti et al. (2014) apesar de não haver distinção entre os grupos quanto aos sintomas de desconfortos musculoesqueléticos no final da gestação, foram destacados alguns efeitos desejáveis da prática da cinesioterapia neste trabalho.
Outro ponto do estudo que merece destaque é o que afirma que apesar de não influenciar na ocorrência dos desconfortos musculoesqueléticos, as técnicas fisioterápicas aplicadas favoreceram a diminuição da intensidade, frequência e duração e proporcionaram melhora na evolução dos sintomas. Portanto, essa prática se confirmou benéfica para assegurar a qualidade de vida materna na gestação.
Já no estudo de Graça et al. (2020), cujo objetivo foi identificar as contribuições da auriculoterapia para a promoção da qualidade de vida de profissionais do sistema penitenciário, foi apresentado um estudo experimental, dividido também em dois grupos: grupo controle (GC – não tratado) e grupo intervenção (GI – com aplicação da auriculoterapia), que foi desenvolvido na cadeia pública feminina de um município da região médio-norte de Mato Grosso.
De acordo com os autores, foram relatados os sintomas mais frequentes nos últimos 30 dias da pesquisa, sendo presença constante em todos os atendimentos a lombalgia e outros sintomas como ansiedade e estresse. Assim, esses três sintomas foram escolhidos para receber a intervenção por meio da auriculoterapia. Os dados foram coletados no período de 06 meses (julho a dezembro de 2018), em sala reservada para o atendimento, e a terapia auricular foi aplicada por profissional de enfermagem com formação em auriculoterapia chinesa. Os atendimentos ocorreram semanalmente por seis semana, na finalização das sessões o GI recebeu sessões de auriculoterapia com a mensuração do surgimento e também da intensidade de sintomas, já no GC foram avaliados todos os sintomas por meio de entrevista individual. Ressaltando que para a análise da dor produzida pela lombalgia foi utilizada a escala numérica de dor (zero-100), legendada da seguinte forma: zero = ausência de dor e 100 = dor inimaginável.
Os autores ainda afirmam que a prevalência no estudo foi de mulheres com idade entre 30 e 44 anos, observando ainda a redução significativa dos sintomas no grupo intervenção, principalmente frente aos sintomas de estresse e lombalgia, confirmando assim, a eficiência da auriculoterapia para esse grupo.
Como resultado, o estudo de Graça et al. (2020) relata que em 50% dos participantes do GI foi registrada a ausência de lombalgia na finalização do tratamento e no GC, 100% dos participantes apresentavam lombalgia durante o período da coleta de dados.
Os autores constataram que a aplicação da referida terapia apresentou efeitos positivos no sentido de amenizar a intensidade da lombalgia, da ansiedade e do estresse. No estudo de Martins et al. (2019) o objetivo era avaliar os efeitos da prática de acupuntura realizada no alívio da dor lombar em gestantes que se encontram no segundo e terceiro trimestre de gravidez, bem como na execução das atividades diárias. Como metodologia, a pesquisa se apresenta como estudo quase experimental, antes e depois, que foi aplicado em Fortaleza, precisamente no Centro de Desenvolvimento Familiar da Universidade Federal do Ceará, onde são realizadas consultas de enfermagem no pré-natal (PN) de risco habitual.
Martins et al. (2019) relatam que a amostra de mulheres eleitas para o estudo, após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, agregou mulheres entre 14 e 37 semanas de gestação, que apresentavam queixa de DL, no PN de risco habitual e que estavam disponíveis a se apresentar ao local de estudos duas vezes por semana no período de junho a outubro de 2016, e realizando até seis sessões de acupuntura com cada gestante.
Ainda de acordo com essa abordagem, foi possível averiguar que a maioria (85,7%) não praticava nenhuma atividade física e daquelas que praticavam (14,3%), a principal atividade era a caminhada e o pilates (37,5%). No que se refere ao tempo que sentem a DL, 42,9% afirmaram sentir desde o primeiro trimestre gestacional seguido pelo segundo trimestre (39,3%) e terceiro trimestre (17,9%).
Outro ponto da pesquisa que é importante relatar, é que antes de iniciar a intervenção, 58,9% relataram realizar métodos, alguns empíricos, na busca de alívio para a DL, sendo a massagem (28,6%) e o ato de se deitar (10,7%) os mais utilizados, além de compressa (7,1%), do alongamento (5,4%) e até o uso de fármacos (5,4%), assim mesmo alegando que a amenização da dor era passageira.
Martins et al. (2019) ainda afirmam que foi informado às participantes que, no período da pesquisa, as mesmas não poderiam fazer uso de outros meios para amenização da dor, como medicamentos, massagens, fisioterapia, atividades físicas, dentre outros, para evitar interferência no resultado e possibilitar a avaliação exata dos efeitos da acupuntura na DL.
Ainda no âmbito da pesquisa, é importante destacar que as sessões de acupuntura realizada nas participantes, apresentaram efeito positivo no que se refere ao alívio da dor, pois esse desconforto causa um impacto considerável no dia a dia da gestante, por se manifestar em intensidade e duração variáveis.
Nas constatações de Martins et al. (2019), algumas das gestantes inseridas no estudo apresentaram ausência total de dor em poucas sessões, relacionando esse feito aos pontos de acupuntura testados não só a médio prazo, em contraponto, para algumas mulheres a redução considerável da dor aconteceu ainda na primeira sessão.
No estudo de Cipriano (2017) o objetivo era verificar a influência da bandagem elástica no tratamento da dor pélvica posterior e na funcionalidade nas atividades de vida diária das gestantes.
A amostra do estudo foi composta por 20 gestantes, que foram divididas em dois grupos: Grupo de Estudo (GE): gestantes que fizeram uso da bandagem elástica e da hidroterapia (n = 10); Grupo Comparativo (GC): gestantes que fizeram hidroterapia (n = 10) da Clínica de Fisioterapia da Universidade Santa Cecília (Unisanta) durante o período que foi realizado esta pesquisa (março de 2014 a fevereiro de 2015).
De acordo com a autora, dentre os critérios de inclusão na pesquisa foram eleitas as seguintes características: gestantes com três ou mais meses de gestação, multíparas, primíparas, tinham idade entre 18 e 39 anos, com diagnóstico de dor pélvica posterior, comprovada pelo teste de provocação de dor lombar, mulheres alfabetizadas, e com cadastro no ambulatório de Fisioterapia Obstétrica da Unisanta, que eram acompanhadas pelo ambulatório, que comprovadamente apresentavam feto único e que concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Cipriano (2017) explica que para os dois grupos, foram realizadas sessões de hidroterapia incorporando exercícios de aquecimento, bem como de alongamento, de mobilidade pélvica, exercícios de fortalecimento e propriocepção do assoalho pélvico, fortalecimento dos membros superiores (MMSS) e inferiores (MMII) e relaxamento. Os exercícios cumpriam o programa de três séries de dez repetições e os encontros tinham duração de cerca de 45 minutos. Nas gestantes do GE, depois da sessão de hidroterapia eram aplicadas as bandagens elásticas na cor bege.
Após observação e avaliação, a autora afirma que os dois tratamentos se mostraram promissores na redução da e no que se refere a facilidade do desenvolvimento de atividades rotineiras das gestantes. Entretanto, o Grupo de Estudo apresentou índices bem melhores que do que o Grupo Comparativo e a partir desta observação, é possível afirmar que os dois tipos de tratamento trazem ótimos resultados no tratamento da dor pélvica posterior e na melhoria da do desenvolvimento de atividades corriqueiras das gestantes; e a bandagem elástica pode ser usada no tratamento da dor lombar durante a gravidez de forma segura.
Cabe ressaltar que um dos pontos de convergência de todos os estudos usados para confecção deste artigo, é o relato da ocorrência de dor lombar durante a gravidez, e pelos relatos sua intensidade é oscilante entre leve e muito alta dependendo do perfil da grávida.
É importante destacar que no universo de quatro estudos distintos, com aplicações, técnicas, abordagens, métodos diferentes, é possível observar que a fisioterapia atua como aliada ao propósito de amenizar, reduzir ou ainda cessar a dor lombar que é característica do período gravídico, independente da técnica usada, porém, algumas possuem sucesso maior, ainda mais quando associadas à outras atividades, como é o caso do estudo que observa o uso da bandagem elástica associada à hidroterapia, onde algumas gestantes chegaram a relatar o cessar das dores.
5 CONCLUSÃO
O presente estudo teve como objetivo descrever os efeitos da fisioterapia na lombalgia durante o período gestacional e para isso foram realizadas pesquisas em bases de dados digitais buscando artigos de intervenção que mostrassem a realidade dos tratamentos fisioterapêuticos.
No decorrer da pesquisa foi constatado que a lombalgia gestacional é uma das principais queixas durante o período de gravidez e que sua origem advém de múltiplos fatores. Nos estudos escolhidos para fazer parte desta pesquisa, evidencia-se o acometimento em gestantes a partir do segundo trimestre de gravidez e esse acometimento surge em decorrência das mudanças anatômicas e fisiológicas do corpo da mulher no período gestacional.
Além do comprometimento musculoesquelético, esse incômodo na região lombar inferior compromete a autoestima e as atividades diárias da grávida.
No que tange a avaliação das terapias fisioterapêuticas aplicadas nos estudos escolhidos para fazer parte desta pesquisa, foi possível constatar que a fisioterapia é uma aliada de extrema importância das grávidas na redução das dores da lombalgia gestacional.
Cabe ainda salientar, que os estudos escolhidos abordavam diferentes terapias aplicadas a grupos selecionados de grávidas e que nesses houve uma melhora significativa desses sintomas e até mesmo o desaparecimento deles.
Por fim, conclui-se que a aplicação dessas terapias ainda necessita de maiores estudos de intervenção no intuito de colaborar ainda mais na correspondência desses tratamentos a redução da dor lombar em grávidas, bem como desenvolver protocolos de manejo correto.
REFERÊNCIAS
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1Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE;
2Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia e Fonoaudiologia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE e do Curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas Itacoatiara. Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1232, Centro | Manaus | AM | CEP: 69020-030 | (92) 3212-5000