EFEITOS DA CINESIOTERAPIA ASSOCIADA A ELETROTERAPIA NA REABILITAÇÃO DE PACIENTES COM HEMIPARESIA NO AVC

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11319350


Estefni Camila Epifânio Da Silva;
Jéssica Santos Ribeiro;
Orientadora: Profa. Me. Taciana Mirelly de Melo Silva.


RESUMO

Introdução: O acidente vascular cerebral isquêmico (AVC) é uma condição comum que pode resultar em hemiparesia, afetando a funcionalidade dos pacientes. A fisioterapia desempenha um papel crucial na reabilitação desses pacientes e a combinação de cinesioterapia e eletroterapia tem sido investigada como uma abordagem eficaz para melhorar a recuperação motora e funcional. Objetivo: Analisar os efeitos da combinação de cinesioterapia e eletroterapia na reabilitação de pacientes adultos com hemiparesia pós AVC, visando contribuir para a prática clínica baseada em evidências e para a melhoria da qualidade de vida desses pacientes. Metodologia: Do tipo de revisão integrativa, foi realizada no período de fevereiro a maio de 2024 e seguiu seis fases: elaboração da pergunta norteadora, busca ou amostra na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa. Assim, este estudo investiga e apresenta as evidências científicas em fisioterapia e funcionalidade em AVC que possam direcionar os profissionais fisioterapeutas na prática clínica. Foram incluídos no estudo, artigos em idioma português e inglês. Resultados: Abordou 3 estudos, sendo 2 ensaios clínicos randomizados entre eles um duplo cego e 1 estudo prospectivo, longitudinal, randomizado e cruzado o tamanho da amostra variou entre 28 a 60 participantes. Dos 3 estudos analisados todos obtiveram resultados significativos para cinesioterapia, quanto para eletroterapia na hemiparesia após AVC. Conclusão: Os resultados mostraram que a combinação de cinesioterapia e eletroterapia é uma abordagem viável e eficaz para a reabilitação de pacientes com hemiparesia causada por um acidente vascular cerebral (AVC).

Palavras-chave: AVC; Fisioterapia; Cinesioterapia; Eletroterapia; Hemiparesia;

ABSTRACT:

Introduction: Ischemic stroke (CVA) is a common condition that can result in hemiparesis, affecting patients’ functionality. Physiotherapy plays a crucial role in the rehabilitation of these patients and the combination of kinesiotherapy and electrotherapy has been investigated as an effective approach to improve motor and functional recovery. Objective: To analyze the effects of the combination of kinesiotherapy and electrotherapy in the rehabilitation of adult patients with post-stroke hemiparesis, aiming to contribute to evidence-based clinical practice and to improve the quality of life of these patients. Methodology: Integrative review type, it was carried out from February to May 2024 and followed six phases: elaboration of the guiding question, search or sample in the literature, data collection, critical analysis of the included studies, discussion of the results and presentation of the integrative review. Therefore, this study investigates and presents scientific evidence on physiotherapy and functionality in stroke that can guide physiotherapists in clinical practice. Articles in Portuguese and English were included in the study. Results: It covered 3 studies, 2 of which were randomized clinical trials, including one double-blind and 1 prospective, longitudinal, randomized and crossover study, the sample size varied between 28 and 60 participants. Of the 3 studies analyzed, all obtained significant results for kinesiotherapy and electrotherapy in hemiparesis after stroke. Conclusion: The results showed that the combination of kinesiotherapy and electrotherapy is a viable and effective approach for the rehabilitation of patients with hemiparesis caused by a cerebrovascular accident (CVA).

Keywords: Stroke; Physiotherapy; Kinesiotherapy; Electrotherapy; Hemiparesis;

INTRODUÇÃO 

O Acidente Vascular Cerebral ocorre devido à interrupção parcial ou total do fluxo sanguíneo no cérebro e pode ser de origem hemorrágica, isquêmica ou subaracnóidea, sendo o tipo isquêmico o mais prevalente, tornando-se caracterizado pela obstrução de uma artéria cerebral. (Lotz et al.; Hui C et al., 2021). O AVC, acontece quando há obstrução na passagem de sangue no vaso sanguíneo, e a extensão do prejuízo está diretamente relacionada com o tempo, intensidade e causa (Fernandes et al., 2021). De acordo com o Ministério da Saúde, alguns fatores podem aumentar a probabilidade de ocorrência de um AVC. Dentre esses fatores, os mais frequentes são: hipertensão, diabetes tipo 2, colesterol alto, sobrepeso, obesidade, tabagismos, idade avançada, sedentarismo, histórico familiar e uso de drogas ilícitas (Ministério da Saúde, 2023).

A elevada morbidade e mortalidade da doença gera custo elevado de tratamento, reabilitação e o previdenciário no Brasil, é a principal causa de incapacidade em pessoas com mais de 50 anos, causando 10% de todas as mortes, 32,6% das mortes vasculares e 40% das aposentadorias precoces no Brasil. Este país está entre os 10 primeiros com a maior taxa de mortalidade por acidente vascular cerebral (Abramczuk, Vilela , 2019). No Brasil, as doenças cardiovasculares são a causa número um de morte, gerador de incapacidade em pessoas adultas e idosos, como existe uma relação direta entre fatores de risco, fisiopatologia e faixa etária, podemos concluir que quanto mais elevada for a idade do paciente, mais acentuado será o risco de ser acometido pelo AVC. Estima-se o número em 100 mil com base no número de mortes a cada ano, o nosso país está entre os 10 países com maior número de mortes por AVC (Lobo et al., 2021).

Com o aumento da expectativa de vida, mais pessoas estão expostas a fatores de risco para desenvolver um acidente vascular cerebral. Os fatores de risco para AVC são considerados multifatoriais e podem ser classificados em modificáveis e não modificáveis. Apesar dos fatores de risco para esta patologia, na população idosa serem mais homogêneos, incluindo hipertensão, diabetes e dislipidemia, eles não estão completamente estabelecidos na população mais jovem, para a qual são descritos fatores de risco mais heterogêneos (Boot, 2020). A reabilitação de indivíduos que sofreram um AVC deve ocorrer de maneira precoce e abrangente. As pessoas afetadas por um AVC podem enfrentar uma variedade de limitações decorrentes do evento, e a recuperação varia de acordo com cada caso. O tratamento médico imediato, combinado com uma reabilitação adequada, pode reduzir as incapacidades, prevenir sequelas e facilitar o retorno do paciente às suas atividades diárias e à participação na comunidade o mais rapidamente possível (Ministério da Saúde, 2013).

Para a prevenção secundária de doenças cardiovasculares em pacientes com doença estabelecida, incluindo a diabetes, são necessários tratamentos com os seguintes medicamentos: Aspirina, Beta-bloqueadores, Inibidores da enzima conversora da angiotensina, Estatinas. Os benefícios dessas intervenções são em boa parte independentes, mas quando combinados à cessação do tabagismo, é possível prevenir cerca de 75% dos eventos vasculares recorrentes (OPAS, 2023). Outros tratamentos para o AVC, é a trombólise, um medicamento de custo alto e disponível apenas em algumas enfermarias hospitalares ou centros de AVC, como nas capitais brasileiras, onde o mesmo só será administrado dentro de 4 horas e meia desde o início dos sintomas. Apenas uma parcela da população tem acesso após o aparecimento dos sintomas. Considerando que aproximadamente 1,9 milhão de neurônios são perdidos a cada minuto, é importante que a avaliação do paciente seja realizada em tempo oportuno (Martins, 2020).

Considerando a competência, no âmbito da atuação, do fisioterapeuta podemos afirmar que o próprio Decreto-Lei nº 938/1969, em que a norma de conteúdo aberto permite que o profissional fisioterapeuta restaure, bem como desenvolva e conserve, a capacidade física do paciente, nos termos do art. 3º do decreto supra, a saber: “ É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do cliente” (COFFITO, 2019). O profissional pode diagnosticar diversas alterações de movimento, dependendo da área lesionada. “As sequelas podem incluir fraqueza ou, até mesmo, a paralisia de movimentos. Diante de um quadro desses, o fisioterapeuta deverá criar um programa que ataque especificamente essas dificuldades. O importante é o diagnóstico correto e o tratamento adequado, visando à recuperação da funcionalidade dos movimentos” (COFFITO, 2014).

Assim, o presente estudo analisa a combinação de duas técnicas fisioterapêuticas, a Cinesioterapia e a Eletroterapia, utilizadas no processo de reabilitação em pacientes adultos hemiparéticos, sequelados do acidente vascular cerebral isquêmico. Com intuito de auxiliar o fisioterapeuta na tomada de decisões clínicas baseadas em evidências, bem como contribuir para o aprimoramento das práticas terapêuticas, de melhorias funcionais, tanto na  qualidade de vida, como recuperação motora.

METODOLOGIA

No presente estudo adotou-se a metodologia de revisão integrativa da literatura, para proporcionar a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos.

A revisão integrativa, finalmente, é a mais ampla abordagem metodológica referente às revisões, permitindo a inclusão de estudos experimentais e não-experimentais para uma compreensão completa do fenômeno analisado. Combina também dados da literatura teórica e empírica, além de incorporar um vasto leque de propósitos: definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, e análise de problemas metodológicos de um tópico particular. A ampla amostra, em conjunto com a multiplicidade de propostas, deve gerar um panorama consistente e compreensível de conceitos complexos, teorias ou problemas de saúde relevantes (Souza; Silva; Carvalho, 2010).

“A metodologia científica é capaz de proporcionar uma compreensão e análise do mundo através da construção do conhecimento. O conhecimento só acontece quando o estudante transita pelos caminhos do saber, tendo como protagonismo deste processo o conjunto ensino/aprendizagem. Pode-se relacionar então metodologia com o ‘caminho de estudo a ser percorrido’ e ciência com ‘o saber alcançado” (Praça, 2015).

Esse estudo busca responder à pergunta norteadora: “Qual eficácia da combinação de cinesioterapia e eletroterapia em hemiparéticos após AVC”?  A fim de responder e investigar essa pergunta, utilizou-se a metodologia/estratégia PICO (Polulation/População; Intervention/Intervenção; Comparison/Comparação; Outcomes/Desfecho).

P: Pacientes adultos

I: Cinesioterapia e Eletroterapia

C: Ensaios clínicos e estudos randomizados

O: Eficácia de atividades motoras

O estudo foi realizado entre os meses de fevereiro a maio de 2024, e seguiu em seis etapas: identificação do tema e seleção da hipótese, estratégia da pesquisa, definição e coleta dos dados com análise crítica, interpretação e divulgação dos resultados. O processo de revisão dos artigos, foi realizado a partir das recomendações da lista de conferência Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA).

A estratégia de busca dos artigos, foi realizada em bases de dados eletrônicas: Biblioteca Virtual em Saúde Brasil (BVS), Cochrane Library e Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Utilizando os descritores através de consulta ao DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e MeSH (Medical Subject Headings), aplicando operador booleano “AND” utilizado para junção dos termos nas bases de dados. Os termos de pesquisa usados foram: Stroke “AND” Electrotherapy; Stroke “AND” Hemiparesis; Stroke “AND” Physiotherapy.

Foram aplicados filtros de busca e como critérios de inclusão para o estudo, apenas artigos nos idiomas português e inglês, que apresentassem a relação entre o AVC e os aspectos relacionados com a fisioterapia, reabilitação do acidente vascular cerebral, disfunções cognitivas, terapia do exercício, coordenação motora e eletroterapia. Assim como, estudos de ensaios clínicos controlados e/ou randomizados. Como critérios de exclusão, foram descartados estudos com animais, artigos duplicados, revisões sistemáticas.

A pré-seleção dos artigos foi realizada em etapas, pela leitura preliminar de títulos e resumos, e leitura na integra. Foram identificados 187.884 artigos. Em seguida, após a aplicação dos filtros foram obtidos 9.715 artigos, destes 187.385 eram da BVS, 250 Cochrane, 249 Periódicos da Capes feito a leitura de seus títulos foram excluídos 9.597, após a leitura do resumo e introdução foram excluídos 106 artigos com isso, pré-selecionados 12 artigos (BVS) analisados na integra, verificando a sua duplicidade. Destes, 3 responderam à pergunta norteadora. O processo metodológico está representado na imagem 1, disponível a seguir:

Totalizaram em 187.884 artigos onde foram removidos 178.169 pelos critérios de artigos duplicados, revisões e artigos com mais de 10 anos, resultando em 9.715 artigos após a leitura do título, em seguida foram excluídos 9.597 pois não atendiam aos critérios de inclusão, sendo eles artigos entre 2019 a 2024, texto completo e AVC, foram excluídos mais 105 artigos após a leitura do resumo e introdução, resultando apenas 13 artigos que foram lidos na integra sendo excluídos por não se enquadra na proposta do tema abordado.

Imagem 1. Fluxograma da seleção dos estudos.

Fonte: Autores

RESULTADOS

Na busca pelos estudos foram separados apenas 3 artigos que lidos na integra se enquadra na proposta do tema abordado. Os três estudos escolhidos para a revisão integrativa sobre os efeitos da cinesioterapia associada à eletroterapia na reabilitação de pacientes com hemiparesia pós AVC abordaram diferentes intervenções e seus impactos. Esses estudos demonstraram os benefícios da cinesioterapia associada à eletroterapia na melhoria de diversos aspectos funcionais e de qualidade de vida em pacientes com hemiparesia pós AVC, contribuindo para a compreensão e aplicação dessas intervenções na prática clínica.

Os estudos foram realizados nos seguintes países Turquia (n=1), Brasil (n=1) e Irã (n=1), o realizado na Turquia foram envolvidos o total de 60 pacientes randomizados em dois grupos, controle e experimental, às intervenções escolhidas nesse estudo foram devido à sua eficácia comprovada na prevenção da atrofia muscular, na melhoria da força muscular e na capacidade funcional em pacientes com AVC, já no estudo feito no Brasil envolveu 28 pacientes que foram distribuídos de acordo com o treinamento feito no experimento, o estudo realizado escolheu comparar os efeitos do treinamento em esteira, associado a estimulação elétrica funcional com o treinamento em esteira para identificar as melhores estratégias de tratamento para pessoas com AVC, no Irã teve a totalidade de 30 pacientes que foram randomizados por um avaliador cego, a intervenção foi escolhida com base em dois padrões diferentes de estimulação o FES, com o objetivo de comparar os efeitos de cada um.

Segundo (Bilek; et al 2019) O estudo mostrou que a estimulação elétrica neuromuscular aplicada aos músculos do tronco resultou em melhorias significativas em diversos aspectos, incluindo equilíbrio do tronco, equilíbrio estático e dinâmico, controle postural, recuperação da deambulação, função cognitiva e qualidade de vida dos pacientes com AVC, conforme o estudo realizado por (Shariat; et al 2020) Ainda sobre as melhorias de acordo com (Dantas; et al 2023) Os estudos mostraram melhorias na mobilidade, equilíbrio, coordenação de membros não paréticos e resistência em pacientes que iniciaram com o treinamento em esteira com estimulação elétrica funcional.

Na tabela 1, estão demonstradas as características dos estudos inclusos nesta revisão integrativa, apresentando os seguintes itens: autor, ano de publicação, amostra, tipo de estudo e resultados. Dessa forma, foram incluídos: 3 estudos da BVS.

Tabela – 1.  Matriz de coleta dados, dos artigos publicados entre 2019 e 2023.

EENM: Estimulação Elétrica Neuromuscular.
TT-FES: Treinamento em esteira com estimulação elétrica funcional.
TT: Treinamento em esteira.

DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar a combinação de duas técnicas fisioterapêuticas sendo elas Cinesioterapia e Eletroterapia, utilizadas no processo de reabilitação em pacientes adultos hemiparéticos devido ao acidente vascular cerebral isquêmico. O objetivo do presente estudo foi investigar a contribuição adicional da reabilitação dos músculos do tronco para o equilíbrio, mobilidade e capacidade funcional, nesse estudo foi aplicado EENM por seis semanas, o que mostrou efeitos significativos em diversos parâmetros como equilíbrio corporal, equilíbrio estático e dinâmico, funções motoras, controle postural, funções cognitivas, deambulação e qualidade de vida. Ainda permitiu comparação entre dois grupos possibilitando avaliar os efeitos da estimulação elétrica neuromuscular em relação à fisioterapia convencional na melhoria do equilíbrio, função motora e capacidade funcional em pacientes com AVC.

Os resultados desse estudo mostraram que a EENM aplicada nos músculos ES (Eretores da espinha) fornecem melhorias adicionais como restauração da função muscular do tronco após acidente vascular cerebral podendo melhorar a estabilidade, facilitar o treinamento do musculo e ajudar o paciente a gerenciar melhor suas atividades de vida diária. Embora estes distúrbios sejam muito conhecidos, pouco se sabe sobre o efeito da reabilitação muscular do tronco na marcha, equilíbrio, capacidade funcional e mobilidade em pacientes com AVC. Esse estudo possibilitou ver que ambos os tratamentos diminuíram o comprometimento cognitivo de acordo com parâmetros como compreensão, atenção, recordação, teste de linguagem e orientação. Embora não tenha havido estatística significante entre a diferença de tratamento padrão e a EENM, a melhora no grupo EENM foi maior. Estes resultados enfatizam a importância de uma boa avaliação cognitiva detalhada de rotina em pacientes pós AVC (Bileka, F., et al 2019).

As escalas de avaliação que foram utilizadas no estudo para medir e quantificar diferentes aspectos relacionados à reabilitação de pacientes com AVC, foram: Avaliação de Equilíbrio de Brunnel (BBA): Desenvolvida para avaliar a eficiência do equilíbrio, função, controle postural, funções cognitivas, estado de deambulação, qualidade de vida e atividades diárias. Miniexame do Estado Mental (MEEM): Utilizado para avaliar o comprometimento cognitivo, abrangendo diferentes domínios cognitivos, como orientação, compreensão, memória, atenção, habilidades visuoespaciais e linguagem. Escala para Pacientes com AVC e Avaliação do Movimento de Reabilitação de AVC: Utilizada para avaliar equilíbrio, função motora e capacidade funcional em pacientes com AVC. Classificação de Deambulação Funcional (FAC): Categoriza o status de deambulação, avaliando o nível de dependência durante a caminhada, com notas variando de 0 a 5. Escala de Avaliação Postural para Pacientes com AVC (PASS): Utilizada para avaliar o controle postural e o equilíbrio estático e dinâmico em pacientes com AVC. Short Form-36 (SF-36): Uma escala amplamente utilizada para avaliar a qualidade de vida, abrangendo oito conceitos de saúde (Bileka, F., et al 2019).

Segundo a pesquisa os resultados obtidos mostraram que a estimulação elétrica neuromuscular teve um efeito adicional significativo no equilíbrio do tronco, no controle postural, na recuperação da marcha e nos demais aspectos avaliados. Eles destacaram a importância da terapia combinada de EENM como um método amplamente utilizado e fácil de implementar que pode ajudar a melhorar a estabilidade e facilitar a recuperação dos músculos dos membros e dos padrões de marcha em pacientes com AVC. Os autores também enfatizaram a importância de uma avaliação cognitiva detalhada e a necessidade de programas de reabilitação ideais para otimizar a recuperação funcional neste grupo de pacientes. Os resultados deste estudo destacam a importância de considerar a musculatura do tronco, especialmente os eretores da espinha, na reabilitação de pacientes com AVC, que são muitas vezes negligenciados, foi demonstrado ser crucial para uma recuperação eficaz após um AVC. Os resultados sugerem que a EENM pode ser uma ferramenta terapêutica eficaz para melhorar a estabilidade do tronco, o que pode ter um impacto positivo na mobilidade, equilíbrio e qualidade de vida em pacientes com AVC.

Outro estudo ressaltou que a eletroestimulação neuromuscular também é uma alternativa de tratamento para reabilitar o membro superior após um acidente vascular cerebral. Esse método consiste no uso de corrente elétrica para causar contrações musculares repetitivas, favorecendo a recuperação de movimentos limitados devido à hemiparesia. Elementos como movimentos repetitivos, feedback sensorial, prática intensiva, retorno visual e foco do paciente são essenciais para garantir a eficácia desse tipo de terapia. Sentandreu-Mañó, Tomas e Terrádez (2021)

Este estudo examinou os efeitos de um programa de 4 semanas de dois padrões diferentes de seguimentos e ciclagem em pacientes pós AVC com foco nos parâmetros da marcha. O ciclismo bilateral com assistência da FES demonstrou que o membro inferior afetado, melhora a capacidade de caminhada, podendo levar a uma recuperação mais rápida na locomoção, além disso a FES combinada pode levar a movimentos que provoquem aferência durante o processo fisiológico da fase de ativação de cada musculo. Foram utilizados dois protocolos, o protocolo linear, a estimulação elétrica funcional (FES) é aplicada de forma constante e contínua ao longo das sessões de ciclismo de membros inferiores por outro lado, no protocolo intervalado, a estimulação elétrica é aplicada de forma intermitente, com períodos de estimulação alternados com períodos de repouso durante as sessões de tratamento. Durante o estudo foram aplicadas as seguintes medidas de avaliação para analisar os efeitos da intervenção nos pacientes pós-AVC: FAC (Functional Ambulation Category): A escala que avalia a capacidade de deambulação funcional dos pacientes, classificando-os em diferentes níveis de independência e necessidade de assistência durante a marcha, 10 MWT (10-Meter Walk Test): Um teste de caminhada cronometrada de 10 metros que avalia a velocidade de marcha dos pacientes, sendo um indicador importante da capacidade funcional e mobilidade e a TUG (Timed Up and Go): Um teste que avalia a mobilidade e o equilíbrio dos pacientes, medindo o tempo que uma pessoa leva para levantar de uma cadeira, andar uma certa distância, virar e sentar-se novamente. Foram encontradas melhorias significativas na FAC, 10 MWT e o TUG após as 4 semanas da intervenção. Durante protocolo de ciclismo de membros inferiores com estimulação elétrica funcional (FES) com padrão intervalado de tempo, os pacientes podem ter ficado menos cansados como resultado do exercício baseado em uma serie de contrações musculares estimuladas eletricamente. Os benefícios achados neste estudo, foram avaliados por meio de diferentes medidas e testes, antes e após a intervenção com os protocolos de ciclismo de membros inferiores com estimulação elétrica funcional (FES). Foi descoberto também que a FES com o ciclismo pode melhorar a velocidade de caminhada, a mobilidade funcional e a independência na caminhada (Shariat, et al 2020).

Este estudo traz uma importante contribuição para a literatura sobre reabilitação pós-AVC, ressaltando a relevância da utilização de protocolos de FES intermitentes durante a terapia de ciclismo para promover avanços funcionais e de mobilidade em pacientes que sofreram AVC. Além disso, a comparação entre os protocolos linear e intermitente proporcionou insights valiosos sobre a eficácia dessas abordagens na reabilitação pós-AVC. Os resultados indicam que o protocolo intermitente de ciclismo + FES pode ser mais eficaz na redução da espasticidade e na melhoria da mobilidade funcional se comparado ao protocolo linear. Essas descobertas têm implicações significativas para a criação de protocolos de reabilitação mais personalizados e eficazes para pacientes pós-AVC, visando aprimorar a função motora e a qualidade de vida. Contudo, ressalta-se a importância de estudos adicionais com amostras maiores e acompanhamento de longo prazo para validar e fortalecer tais resultados. A continuidade da pesquisa nesse campo pode trazer novos insights sobre a otimização das intervenções de FES na reabilitação pós-AVC e contribuir para a melhoria dos cuidados e dos resultados clínicos nessa população.

Nesse estudo, foram comparadas duas técnicas de treinamento em pacientes pós-AVC: Treinamento em esteira com estimulação elétrica funcional (TT-FES): Protocolo que envolveu o treinamento em esteira combinado com a aplicação de estimulação elétrica funcional e Treinamento em esteira sem estimulação elétrica (TT): Protocolo que consistiu apenas no treinamento em esteira, sem a aplicação de estimulação elétrica funcional. Os  pacientes com hemiparesia pós-AVC foram distribuídos em dois grupos: Grupo AB (TT-FES seguido de TT) e Grupo BA (TT seguido de TT-FES). Essa divisão permitiu comparar os efeitos do treinamento em esteira com estimulação elétrica funcional (TT-FES) em relação ao treinamento em esteira sem estimulação elétrica (TT) em cada grupo, bem como avaliar os efeitos da sequência de treinamento na mobilidade e nos parâmetros da capacidade de caminhar.

Foi evidenciados em outro estudo que os indivíduos que realizaram exercícios associados à corrente elétrica apresentaram melhora da qualidade de vida, sobretudo em termos de domínios da capacidade física, aspectos físicos e dor. Verificou-se também que os protocolos de tratamento promoveram aumento da mobilidade e a flexibilidade de tronco que demonstraram melhora significativa na mobilidade lombar após intervenção com cinesioterapia associada de correntes elétricas apresentando maior benefício terapêutico, se comparada ao tratamento com exercícios de forma isolada. Sendo assim, o uso associado de técnicas fisioterápicas – exercícios e eletroterapia pode reduzir a intensidade da dor bem como melhorar a mobilidade/flexibilidade, a funcionalidade e a qualidade de vida dos pacientes.(Silveira; et al 2021)

Foram utilizadas as seguintes escalas e testes para avaliar os pacientes antes e após a realização das seções: Avaliação Fugl-Meyer (FMA) para avaliar o comprometimento sensório-motor, Escala de Equilíbrio de Berg (BBS) para avaliar o equilíbrio, Teste de Coordenação Motora de Extremidades Inferiores (LEMOCOT) para avaliar a coordenação dos membros inferiores, Teste de Caminhada de 6 Minutos (TC6M) para avaliar a capacidade funcional de resistência. Houve também comparação entre os momentos 1, 2 e 3 no estudo, foi realizada utilizando testes estatísticos para identificar possíveis diferenças e mudanças ao longo do tempo. Foram utilizados testes t pareados e testes qui-quadrado para verificar a homogeneidade entre os grupos em relação a diversos parâmetros, como massa corporal, altura, idade, tempo de lesão, função cognitiva, sexo, tipo de AVC e lado do corpo afetado. Os resultados mostraram que o grupo que iniciou com treinamento esteira e estimulação elétrica funcional (TT-FES) apresentou melhorias significativas no movimento, equilíbrio, coordenação e resistência do membro não parético. Por outro lado, o desempenho sensório-motor melhorou independentemente da sequência de treino e a coordenação dos membros paréticos melhorou no mesmo grupo após o treino TT-FES (Dantas, et al 2023).

Durante a pesquisa, foi observado que o grupo submetido ao tratamento com TT-FES demonstrou melhorias significativas na mobilidade, equilíbrio, coordenação dos membros não afetados e resistência. Em contraste, a função sensório-motora melhorou independentemente da sequência de treinamento, enquanto a coordenação dos membros afetados só apresentou melhora no Grupo BA após a aplicação do TT-FES. Esses resultados indicam que a combinação de cinesioterapia (treinamento em esteira) com eletroterapia (estimulação elétrica funcional) pode ser mais eficaz do que o treinamento isolado em esteira, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio, resistência e coordenação do membro não afetado. A eletroterapia, representada pela FES, parece ter desempenhado um papel crucial nos ganhos observados em pacientes com hemiparesia pós-AVC. Portanto, com base nos resultados deste estudo, a abordagem combinada de cinesioterapia e eletroterapia, especialmente o TT-FES, mostra-se promissora para melhorar a mobilidade e a funcionalidade em pacientes com hemiparesia após AVC. Essa estratégia terapêutica integrada pode proporcionar benefícios adicionais na reabilitação motora e na qualidade de vida desses pacientes.

De acordo com (Cunha M J et al., 2021), a FES tem uma alta indicação para se trabalhar na melhora da velocidade da marcha se essa mesma for associada com a fisioterapia, tornando-se possível o aumento na folga dos pés, levando a progressão da marcha anterior, melhora na estabilidade e velocidade ao se locomover.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos neste estudo, conclui-se que a estimulação elétrica neuromuscular (EENM) associada a cinesioterapia, obteve resultados significativos em diversos aspectos como equilíbrio estático, dinâmico e corporal, função motora, controle postural e qualidade de vida. Foram analisados ​​dois modelos diferentes de caminhada e ciclismo em pacientes com AVC, com foco nos parâmetros da marcha, onde foi observado que o ciclismo bilateral com FES melhora a amplitude de movimento dos membros inferiores afetados e na recuperação do movimento, sendo assim, os dados sugerem que a combinação do ciclismo e da FES pode ser mais eficaz na redução da espasticidade e na promoção da mobilidade. Com base nos resultados deste estudo, o método combinado do treinamento em esteira com a eletroterapia, é mais eficaz do que o treinamento isolado em esteira, em termos de equilíbrio e estabilidade, com foco na mobilidade e funcionalidade em pacientes com hemiparesia após acidente vascular cerebral.

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