REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503281125
Karlus Henrique Santos de Lima
Orientador: Prof. Dr. Cid Tacaoca Muraishi
RESUMO
Este estudo focou na interação entre a densidade do fitoplâncton e os parâmetros de qualidade da água em sistemas de Aquicultura Multitrófica Integrada (IMTA) com tambaqui, curimbatá e camarão da Amazônia. O objetivo principal foi analisar o impacto da produção de tambaqui (Colossoma macropomum) nos em sistemas IMTA com curimbatá (Prochilodus lineatus) e camarão da Amazônia (Macrobrachium amazonicum) sobre a densidade do fitoplâncton e parâmetros de qualidade de água, como pH, oxigênio dissolvido e transparência da água. A metodologia envolveu o uso de 12 viveiros escavados na Embrapa Pesca e Aquicultura, divididos em três tratamentos (tambaqui, tambaqui com curimbatá, e tambaqui, camarão e curimbatá) com diferentes combinações de espécies. Os parâmetros da água foram medidos bi-diariamente pela manhã e à tarde, três vezes na semana, e a densidade do fitoplâncton foi quantificada em cinco momentos distintos durante o experimento. A análise estatística incluiu ANOVA e testes de correlação para avaliar as diferenças e relações entre os parâmetros e a densidade do fitoplâncton. Os resultados indicaram uma variação significativa na transparência da água no início do estudo, antes da introdução das espécies, apontando para a influência de fatores intrínsecos aos viveiros. A produção em IMTA não influenciou nenhum dos parâmetros de qualidade de água analisados, demonstrando um baixo efeito da inclusão de outras espécies nos parâmetros de qualidade de água durante o cultivo do tambaqui. Não foram encontradas correlações estatisticamente significativas entre os parâmetros ambientais e a abundância de fitoplâncton, o que sugere a influência de outros fatores ambientais ou biológicos. As tendências observadas, embora não estatisticamente significativas, apontam para a complexidade das relações ecológicas em sistemas IMTA e a necessidade de práticas de manejo adaptativas. Assim. Conclui-se que a produção em IMTA tem baixo impacto na comunidade fitoplanctônica e nos parâmetros de qualidade de água.
Palavras-chave: Fitoplâncton, Oxigênio, Aquicultura Multitrófica, Qualidade da Água, Ph, Transparência da água, Tambaqui, Curimbatá, Caramão-da-Amazônia, Aquicultura, Piscicultura.
INTRODUÇÃO
Aquicultura, definida como o cultivo controlado de organismos aquáticos como peixes, moluscos e vegetação marinha, é reconhecida como o segmento de produção animal que mais rapidamente se expande, superando até mesmo a pesca marítima tradicional. Este setor emergente é considerado o meio mais eficiente e sustentável de produzir proteínas necessárias para atender às demandas de uma população mundial em constante crescimento, além de promover a sustentabilidade da indústria pesqueira (TEIXEIRA, 2006).
Conforme destacado por Teixeira, (2006), a aquicultura representa um setor em rápida expansão, essencial para garantir a sustentabilidade da produção de proteínas em um mundo com demanda crescente. Essa tendência de crescimento é corroborada pelos dados recentes da FAO (2022), que indicam que, mesmo diante dos desafios impostos pela pandemia de COVID-19, a produção de aquicultura global continuou a aumentar, alcançando um total de 87,5 milhões de toneladas de animais aquáticos e 35,1 milhões de toneladas de algas em 2020 (FAO, 2022)
O crescimento contínuo da aquicultura, confirmado pelos dados da FAO (2022), destaca a necessidade de práticas inovadoras que não apenas atendam à demanda global por alimentos, mas que também sejam ambientalmente sustentáveis. Nesse sentido, a Aquicultura Integrada Multitrófica (IMTA) surge como uma solução promissora.
Este modelo de produção representa uma evolução significativa na aquicultura, pois não só otimiza a produção ao cultivar espécies de diferentes níveis tróficos em um único sistema, mas também cria um ciclo fechado que melhora a eficiência do uso de recursos e reduz o impacto ambiental. A IMTA ilustra o potencial da aquicultura para se desenvolver de forma sustentável, alinhando-se com as metas globais de sustentabilidade e segurança alimentar (BERGAMO, 2018).
Dentro de sistemas aquáticos, o fitoplâncton desempenha um papel importante na ecologia e na manutenção da qualidade da água, sendo geralmente benéfico para o ambiente, sendo equilíbrio e a gestão do fitoplâncton igualmente importantes para evitar desequilíbrios ecológicos. (BOYD, 2016).
O fitoplâncton é um componente fundamental dos ecossistemas aquáticos. Definido como um conjunto diversificado de microrganismos fotossintéticos, que está adaptado para viver em uma ampla gama de ambientes aquáticos, incluindo oceanos abertos, lagos, estuários e rios (ZAHEDI 2022).
Esses organismos desempenham um papel crucial na assimilação do carbono orgânico, contribuindo significativamente para a transferência de energia na cadeia alimentar. Com sua capacidade de realizar fotossíntese, o fitoplâncton afeta diretamente parâmetros-chave da água, como a concentração de nutrientes, oxigênio dissolvido e transparência, impactando assim a qualidade do ambiente aquático e a saúde dos organismos cultivados (ZAHEDI, 2022).
Diante do exposto, torna-se evidente a importância de compreender as interações complexas entre o fitoplâncton e os parâmetros da água em sistemas de aquicultura, como o IMTA, para promover práticas sustentáveis e eficientes. Este estudo visa preencher lacunas no conhecimento existente, explorando a dinâmica do fitoplâncton dos parâmetros da água e avaliando seu impacto na produtividade e sustentabilidade de sistemas aquáticos integrados.
OBJETIVOS
Objetivo geral
Analisar como a produção do tambaqui em sistemas de cultivo Integrado Multitrófico (IMTA) com curimbatá e camarão da Amazônia influencia na densidade do fitoplâncton e nos parâmetros de pH, temperatura, oxigênio dissolvido e transparência da água
Objetivos específicos
Quantificar a densidade do fitoplâncton em diferentes tratamentos dentro do sistema IMTA.
Avaliar os parâmetros de qualidade da água (pH, temperatura, oxigênio dissolvido e transparência) e suas variações em relação à densidade do fitoplâncton. Discutir as potenciais implicações das variações dos parâmetros da água, influenciadas pelo fitoplâncton, na gestão ambiental e na produtividade dos sistemas IMTA, com base na literatura existente e nos dados coletados.
REFERENCIAL TEÓRICO
A Aquicultura Multitrófica Integrada (IMTA) é inspirada nas interações naturais dos ecossistemas e propõe um sistema onde os resíduos de uma espécie são reciclados e utilizados como recursos para outras espécies. Este modelo de aquicultura combina a produção de organismos que dependem da alimentação artificial, com o cultivo de plantas aquáticas e outras espécies aquáticas que utilizem outros recursos disponíveis no ambiente de produção, criando um sistema equilibrado que visa a sustentabilidade ambiental e a estabilidade econômica. Um exemplo clássico de IMTA é o cultivo de salmão em gaiolas flutuantes, cujos resíduos orgânicos são utilizados por mexilhões e a parte inorgânica pelas macroalgas. Assim, o IMTA é uma prática mais sustentável que os sistemas convencionais de monocultivo. Além disso, a integração de várias espécies em um único sistema ou em sistemas conectados permite a redução de efluentes e o aumento da diversidade e capacidade de produção, resultando em um sistema mais eficiente e ambientalmente responsável (MORAIS, 2023).
Em sistemas de Aquicultura Multitrófica Integrada (IMTA), a seleção de espécies é fundamental para o equilíbrio e a eficiência do ecossistema. A curimbatá é frequentemente escolhida por sua habilidade em consumir detritos do fundo e bentos, contribuindo para a limpeza do ambiente e reciclagem de nutrientes. O tambaqui é valorizado por sua dieta baseada em zooplâncton, desempenhando um papel importante no controle da população desses organismos e na prevenção de superpopulações que poderiam desequilibrar o sistema. (LIMA, 2024). A tilápia, por outro lado, é conhecida por se alimentar de fitoplâncton, ajudando a manter a qualidade da água ao filtrar e consumir essas microalgas (MEI, 2024). O camarão, em particular, é um excelente candidato para IMTA devido à sua capacidade de se alimentar de partículas maiores em decomposição, o que ajuda a reduzir a matéria orgânica e a reciclar nutrientes dentro do sistema. Assim, as várias espécies produzidas na aquicultura podem ser escolhidas para serem produzidas de forma que atuem em nichos tróficos diferentes, evitando a sobreposição de hábitos alimentares, de forma que não haja competição entre as espécies no ambiente de produção.
Ao considerar a inclusão de espécies que consomem fitoplâncton, é importante avaliar a compatibilidade com as outras espécies presentes, bem como o potencial impacto na dinâmica do ecossistema. A escolha cuidadosa das espécies para um sistema IMTA pode levar a uma produção mais eficiente e sustentável, alinhada com os princípios da aquicultura responsável.
O fitoplâncton, composto por organismos unicelulares ou coloniais fotossintéticos adaptados à vida em suspensão nas massas de água, é um provedor essencial de diversos serviços ecossistêmicos. Cerca de metade da produção primária global e do oxigênio atmosférico é derivada da atividade fotossintética do fitoplâncton, apesar de sua biomassa representar menos de 1% da biomassa fotossintética global devido ao rápido ciclo de vida desses organismos. (NASELLI-FLORES et al., 2023).
O fitoplâncton desempenha um papel crucial na fixação de carbono, promovendo fluxos de energia eficientes e reciclagem de nutrientes, processos fundamentais para o funcionamento dos ecossistemas. Além disso, espécies de fitoplâncton diazotróficas são responsáveis pela maior parte da fixação de nitrogênio nos oceanos, equilibrando as perdas devido à desnitrificação e oxidação anaeróbica de amônio, e sustentando até 50% da produção total em algumas regiões oceânicas oligotróficas. A capacidade do fitoplâncton de atuar como produtores primários em uma ampla gama de condições ambientais expande as localizações habitáveis e autotróficas da Terra, destacando sua importância para a manutenção da biodiversidade e a integridade dos ecossistemas (NASELLI- FLORES et al., 2023).
O fitoplâncton, como importante produtor primário nos ecossistemas fluviais, é sensível a uma gama de fatores de qualidade da água, incluindo nutrientes, temperatura e turbidez, que podem influenciar sua abundância e composição. Através de sua atividade fotossintética, o fitoplâncton pode alterar a química da água, afetando o pH e outros parâmetros críticos que são indicativos da saúde do ecossistema aquático. Estudos realizados nos trechos médio e inferior do rio Yangtze demonstram que a qualidade da água e o habitat são fatores determinantes nos padrões de fitoplâncton, sugerindo que mudanças nesses parâmetros podem refletir alterações ambientais significativas, incluindo aquelas relacionadas ao pH (GAO et al., 2024).
Durante o dia, a fotossíntese do fitoplâncton consome dióxido de carbono, o que pode resultar no aumento do pH da água. À noite, processos como a respiração e a decomposição podem liberar ácidos, potencialmente diminuindo o pH (SALMASO, 2021). Além disso, o fitoplâncton contribui para os níveis de oxigênio dissolvido através da fotossíntese, que produz oxigênio como subproduto. Contudo, a respiração do fitoplâncton e outros processos biológicos também consomem oxigênio, o que pode causar variações nos níveis de oxigênio dissolvido ao longo do dia e da noite (DINIZ, A.S, 2023).
A densidade e a composição do fitoplâncton podem ter um impacto significativo na transparência da água. Em ambientes aquáticos, uma alta concentração de fitoplâncton pode reduzir a transparência, afetando a penetração da luz e, consequentemente, a fotossíntese em profundidades maiores. Estudos de Diniz (2023) indicam que a diversidade funcional do fitoplâncton é influenciada negativamente pela transparência da água, o que pode ser um indicativo da capacidade do fitoplâncton de absorver luz e, assim, afetar a visibilidade na coluna d’água. Além disso, mudanças na transparência causadas pela dinâmica do fitoplâncton podem influenciar fortemente o sistema como um todo, através da disponibilidade de crescimento de macrófitas e fixação de sedimentos. (STANKOVIĆ, 2024). Essas interações destacam a importância do fitoplâncton na manutenção da saúde dos ecossistemas aquáticos e na sustentabilidade da aquicultura.
Em resumo, o fitoplâncton atua como um regulador chave dos parâmetros da água, influenciando o pH, oxigênio dissolvido e transparência, que são vitais para a saúde dos ecossistemas aquáticos e a eficácia da aquicultura. A compreensão detalhada da dinâmica do fitoplâncton e sua interação com esses parâmetros é crucial para a gestão eficiente dos sistemas IMTA e para a promoção de práticas de aquicultura sustentáveis. Este estudo visa contribuir para esse entendimento, oferecendo insights sobre a correlação entre a presença e densidade do fitoplâncton e os parâmetros críticos da água, e discutindo as implicações dessas relações para a gestão ambiental e a produtividade do sistema.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Embrapa Pesca e Aquicultura, utilizando 12 viveiros escavados de 600 m2 cada, divididos em três tratamentos distintos, com quatro repetições cada. Os tratamentos foram: (T) monocultivo de Tambaqui (Colossoma macropomum) (0,4 peixes/m²); (TC) cultivo multitrófico com duas espécies, Curimbatá (Prochilodus lineatus) (0,3 peixes/m²) e Tambaqui (Colossoma macropomum) (0,4 peixes/m²); e (TCC) cultivo multitrófico com três espécies, Tambaqui (Colossoma macropomum) (0,4 peixes/m²), Curimbatá (Prochilodus lineatus) (0,3 peixes/m²) e Camarão-da-Amazônia (Macrobrachium amazonicum) (4 camarões/m²).
Para o experimento, os viveiros foram drenados, desinfetados com cal virgem (200 g/m²), calcareados com calcário agrícola (200 g/m²) e fertilizados (5 g/m² de ureia, 3 g/m² de superfosfato simples, 10 g/m² de farelo de arroz). O cultivo teve duração total de 7 (sete) meses.
Os peixes foram alimentados duas vezes ao dia com ração comercial extrusada contendo 32% de proteína bruta (PB), na taxa de 4,5%, 3% e 2% do peso vivo ao dia para as faixas de peso de 30 a 230 g, 230 a 410 g, 410 a 700 g, respectivamente, e ração contendo 28% de PB, na taxa de 2% e 1,5% do peso vivo ao dia para as faixas de peso de 700 a 1.130 g e 1.130 a 1900 g, respectivamente (OLIVEIRA et al., 2013). O cálculo de alimentação considerava a biomassa apenas do tambaqui em cada viveiro. Para um melhor aproveitamento e conversão da ração, os horários de alimentação foram às 9h e às 15h30, durante seis dias por semana, para simular um regime de produção comercial (FAROOQ AGA et al., 2017). A granulometria da ração foi ajustada progressivamente conforme o crescimento dos peixes. Biometrias mensais foram realizadas para ajuste de alimentação.
A cada dois dias Três vezes na semana, os parâmetros da água, oxigênio e pH eram medidos duas vezes ao dia, utilizando uma sonda multiparâmetro (YSI Professional Plus). As medições foram realizadas nos mesmos horários da alimentação dos peixes. Adicionalmente, pela manhã, a transparência da água foi avaliada com o uso de um disco de Secchi (MACEDO, 2012).
Durante o experimento, foram coletadas amostras de fitoplâncton de cada viveiro no momento inicial, a cada dois meses, no momento final do cultivo, totalizando cinco amostras por viveiro. A coleta foi realizada utilizando uma rede de fitoplâncton (ANA, 2011). Duas pessoas entraram no viveiro, uma segurando a rede e a outra uma corda ligada à rede. As duas se alinhavam, e a pessoa com a corda puxava a rede até a outra pessoa, concentrando o fitoplâncton em um compartimento. A rede foi arrastada por 10 metros em cada viveiro. As redes de fitoplâncton usadas tinham uma malha de 20 µm e diâmetro de 30 cm, e foram arrastadas aproximadamente 30 cm abaixo da superfície, resultando em um volume total de água filtrada de 0.71 m³ para fitoplâncton. (RODRIGUES, 2024), O material coletado era então armazenado em garrafas de 500 ml contendo uma solução preservativa preparada com 27 ml de formol puro (37%) e 1,5 gramas de bicarbonato de sódio, conforme descrito pela CETESB (2006). Foi utilizada a solução com formol por sua eficácia em preservar a estrutura morfológica do fitoplâncton, assim facilitando a contagem (BEGIĆ, 2023).
Após a coleta, as amostras foram analisadas para quantificação do fitoplâncton. Utilizando um microscópio óptico, seguimos os métodos padrões de contagem em câmara de Neubauer (APHA, 2017). Cada amostra foi analisada em duplicata, para garantir a precisão dos dados. Com base nas contagens, estimamos a densidade de fitoplâncton por litro em cada viveiro.
As densidades estimadas de fitoplâncton foram comparadas correlacionadas com pH, oxigênio dissolvido e transparência, para avaliar a influência do fitoplâncton na qualidade da água dos sistemas de IMTA.
Para avaliar as diferenças na quantidade de fitoplâncton e parâmetros entre os diferentes tratamentos, foi utilizada a Análise de variância (ANOVA), seguida pelo teste de Tukey, a 5% de significância. As premissas de normalidade e homocedasticidade dos dados foram verificadas por meio do teste de Shapiro-Wilk e teste de Bartlett, respectivamente.
Na análise de correlação da densidade do fitoplâncton com os parâmetros de qualidade de água, foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson para dados com distribuição normal e para dados não normais, foi aplicada a correlação de Spearman. Todas as análises estatísticas foram realizadas no software RStudio.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Durante o experimento, um dos viveiros do tratamento 2 foi excluído da análise devido a uma perda substancial de peixes ocasionada pelo ataque de pássaros biguá. Esse evento foi considerado um desvio das condições experimentais planejadas e, portanto, os dados relacionados a esse viveiro não foram incluídos nos resultados. A seguir, são apresentados gráficos que ilustram as médias dos parâmetros pH (Figura 1), oxigênio dissolvido (Figura 2), transparência (Figura 3) e da densidade de fitoplâncton (Figura 4) para cada tratamento, ao longo do cultivo no sistema e tempo. Os tratamentos são designados como ‘T’ para viveiros povoados com apenas com Tambaqui, ‘TC’ para aqueles povoados com Tambaqui e Curimbatá, e ‘TCC’ para aqueles povoados com Tambaqui, Curimbatá e Camarão.

Figura 1. Valores médios de pH registrados nos cinco diferentes tempos nos tratamentos de monocultivo de tambaqui (T), cultivo integrado multitrófico (IMTA) de tambaqui e curimbatá (TC) e IMTA de tambaqui, curimbatá e camarão da Amazônia (TCC) em viveiros escavados.

Figura 2. Níveis médios de oxigênio dissolvido (mg/L) observados nos cinco diferentes tempos nos tratamentos de monocultivo de tambaqui (T), cultivo integrado multitrófico (IMTA) de tambaqui e curimbatá (TC) e IMTA de tambaqui, curimbatá e camarão da Amazônia (TCC) em viveiros escavados.

Figura 3. Medidas médias de transparência da água (cm) nos cinco diferentes tempos nos tratamentos de monocultivo de tambaqui (T), cultivo integrado multitrófico (IMTA) de tambaqui e curimbatá (TC) e IMTA de tambaqui, curimbatá e camarão da Amazônia (TCC) em viveiros escavados. *Letras indicam significa que houve diferença significativa entre os tratamentos no tempo.

Figura 4. Variação média da densidade do fitoplâncton (indivíduos/L) nos cinco diferentes tempos e tratamentos ao longo do monocultivo de tambaqui (T), cultivo integrado multitrófico de tambaqui (IMTA) e curimbatá (TC) e IMTA de tambaqui, curimbatá e camarão da Amazônia (TCC) em viveiros escavados.
Em consonância com os achados de Kopp (2016), a figura 4 mostra uma alta variação na comunidade fitoplanctônica em diferentes tratamentos e tempo. Essa variação pode ser atribuída a múltiplos fatores abióticos e bióticos, incluindo a sazonalidade, práticas de manejo e etc. (Kopp, 2016).
A Tabela 1 resume os p-valores obtidos para cada parâmetro em diferentes tempos. Os valores de p abaixo de 0,05 indicam diferenças significativas entre os grupos.
Tabela 1. P-valores da Anova para os diferentes parâmetros avaliados.

A análise dos resultados iniciais (Tempo 0) revelou uma diferença significativa na transparência da água, conforme indicado pelo valor de p (0.0463), com menor transparência nos tratamentos que envolviam apenas tambaqui, camarão e curimbatá e a combinação de tambaqui e curimbatá, que está abaixo do limiar de significância de 0.05.TC e maior transparência no tratamento TCC, sem diferenças destes para o tratamento T. Em muitos viveiros, devido às altas transparência da água, houve o afloramento de algas aquáticas, que possivelmente interferiam na dinâmica de transparência da água, sendo a água sempre mais transparente nos viveiros que tinham a presença das algas.
A variação significativa na transparência da água observada nos viveiros no Tempo 0, antes da introdução dos animais, sugere que fatores intrínsecos aos próprios viveiros podem estar influenciando esse parâmetro. Essa diferença, indicada pelo valor de p de 0,0463, não pode ser atribuída aos tratamentos aplicados, uma vez que eles os peixes foram estocados nos viveiros exatamente no tempo inicial ainda não haviam sido implementados. Portanto, é plausível considerar que características físicas, como a composição do sedimento, a profundidade da água, ou a presença de matéria orgânica e nutrientes, possam ter contribuído para a variação na transparência no tempo inicial. A comparação com estudos anteriores, como o de Kong (2024), que encontrou correlações significativas em parâmetros de qualidade da água ao longo do tempo em um sistema IMTA, destaca a importância de considerar o ponto de tempo específico das medições. No entanto, é crucial notar que, ao contrário do estudo de Kong (2024), que observou mudanças ao longo de um período estendido, as variações significativas em nosso estudo ocorreram antes da implementação dos tratamentos, sugerindo que fatores pré-existentes nos viveiros podem ser responsáveis por essas alterações iniciais e que a presença dos peixes não gerou diferenças entre os tratamentos.
Portanto, nossos resultados indicam que as mudanças observadas podem não estar diretamente relacionadas às práticas de cultivo, mas sim a características intrínsecas ou condições ambientais dos viveiros. Essa observação reforça a necessidade de monitoramento contínuo e avaliação detalhada dos sistemas IMTA, especialmente durante as fases iniciais do cultivo.
Os demais parâmetros de qualidade de água não foram influenciados pelo sistema de cultivo, demonstrando um baixo efeito do cultivo IMTA nos parâmetros de qualidade de água na produção do tambaqui
Na Tabela 2, apresentamos os coeficientes de correlação entre os parâmetros (pH, oxigênio dissolvido e transparência) e a densidade de fitoplâncton.
Tabela 2. Nível de significância da correlação e correlação dos parâmetros de qualidade de água com a densidade fitoplanctônica.

Conforme mostrado na tabela, não foram encontradas correlações estatisticamente significativas entre os parâmetros ambientais e a abundância de fitoplâncton (p > 0.05). No entanto, é essencial considerar a relevância ecológica dessas tendências observadas. Um estudo realizado por Najmus Khan (2022), embora não tenha encontrado significância estatística para pH e transparência, foi identificado uma correlação significativa para o oxigênio dissolvido com o fitoplâncton. Isso sugere que, em certos contextos, como os estudados por Yusuf (2020) em reservatórios, relações significativas podem ser mais facilmente detectadas.
Os resultados deste estudo não revelaram correlações estatisticamente significativas entre os parâmetros ambientais e a abundância de fitoplâncton. No entanto, é crucial reconhecer que a ausência de significância estatística não invalida necessariamente a importância dos achados. As tendências observadas podem indicar interações ecológicas subjacentes que merecem atenção e podem ser exploradas em investigações futuras. Por exemplo, a correlação observada entre o oxigênio dissolvido e o fitoplâncton, embora não significativa, está alinhada com estudos anteriores que destacam a contribuição do fitoplâncton para a dinâmica do oxigênio em ecossistemas aquáticos (Yusuf, 2020).
CONCLUSÃO
Este estudo explorou a complexa interação entre a densidade do fitoplâncton e os parâmetros de qualidade da água em sistemas de Aquicultura Multitrófica Integrada (IMTA) com tambaqui, curimbatá e camarão da Amazônia. A ausência de correlações estatisticamente significativas entre a densidade do fitoplâncton e os parâmetros de oxigênio dissolvido, pH e transparência da água sugere uma baixa influência da qualidade da água na densidade fitoplanctônica, ao longo do cultivo, de fatores ambientais ou biológicos adicionais na qualidade da água desses sistemas.
As limitações deste estudo, particularmente a variabilidade natural dos ecossistemas aquáticos, devem ser levadas em conta ao interpretar os resultados. A complexidade desses ambientes pode ocultar ou intensificar as relações entre os organismos e os parâmetros físico-químicos, enfatizando a necessidade de métodos metodológicos robustos e um número maior de repetições para capturar todas as interações possíveis.
Eventos inesperados, como a perda de peixes devido ao ataque de pássaros biguá, ilustram a influência de fatores externos nos resultados experimentais. Esses incidentes sublinham a importância de um monitoramento e manejo adaptativos nos sistemas IMTA para mitigar riscos e preservar a integridade dos dados.
O principal achado deste estudo foi que a produção em IMTA não influenciou nenhum dos parâmetros de qualidade de água analisados, demonstrando um baixo efeito da inclusão de outras espécies nos parâmetros de qualidade de água durante o cultivo do tambaqui.
Em conclusão, os resultados deste estudo fornecem insights valiosos sobre a dinâmica do fitoplâncton em sistemas IMTA. Recomenda-se que pesquisas futuras investiguem mais a fundo a influência de diferentes práticas de manejo e configurações de IMTA na qualidade da água e na produtividade dos sistemas aquáticos, focando especialmente na sustentabilidade e resiliência ecológica.
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