EDUCAÇÃO PARA A REDUÇÃO DE RISCOS DE DESASTRES: ANÁLISE DE CASOS EM SÃO PAULO E MINAS GERAIS.


EDUCATION FOR DISASTER RISK REDUCTION: CASE ANALYSIS IN SÃO PAULO AND MINAS GERAIS.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202501290724


Lenon Couto Ferreira1
Breno Luiz Thadeu da Silva2


Resumo

Este estudo tem como objetivo aprofundar a compreensão da educação para a redução de riscos de desastres (ERRD) como ferramenta fundamental para a construção de sociedades mais resilientes. Por meio de uma revisão bibliográfica abrangente, exploramos os conceitos, métodos e benefícios da ERRD, destacando sua relevância na gestão de riscos de desastres. A pesquisa evidenciou que a ERRD, ao promover a conscientização sobre os riscos, desenvolver habilidades práticas e fomentar uma cultura de prevenção, contribui significativamente para a redução da vulnerabilidade e o aumento da capacidade de resposta das comunidades frente a eventos adversos. A análise de materiais didáticos utilizados em SP e em MG, este último no município de Espírito Santo do Dourado, revelou lacunas na abordagem da ERRD no currículo escolar, evidenciando a necessidade de políticas públicas que incentivem a sua implementação de forma mais integrada e abrangente. Além disso, o estudo identificou a importância da participação ativa da comunidade escolar e de outros atores sociais na construção de um ambiente escolar mais seguro e resiliente. Assim conclui-se que a ERRD é uma ferramenta estratégica para a construção de sociedades mais seguras e resilientes. No entanto, para alcançar resultados efetivos, é fundamental investir em ações educativas contínuas, promover a integração da ERRD nos currículos escolares em todos os níveis de ensino e fortalecer a articulação entre as diferentes esferas de governo, instituições de ensino e comunidade.

Palavras-chave: Resiliência. Gestão de riscos de desastres. Prevenção.

1 INTRODUÇÃO

A frequência e a intensidade dos desastres naturais têm aumentado nas últimas décadas, impulsionadas por fatores como as mudanças climáticas, a urbanização desordenada e a degradação ambiental.

Nesse contexto, a educação para a redução de riscos de desastres (ERRD) surge como uma ferramenta essencial para fortalecer a resiliência das comunidades, preparando-a para se prevenir e para melhor se recuperar depois de eventos extremos, como enchentes, deslizamentos, estiagem severa, entre outros.

A educação para a redução de riscos de desastres é um processo contínuo que visa aumentar a consciência e o conhecimento sobre os riscos, capacitando indivíduos e comunidades a tomar medidas proativas para reduzir sua vulnerabilidade e melhorar sua capacidade de resposta a desastres. De acordo com Selby e Kagawa (2012, apud MATSUO; SILVA, 2021) a educação para a redução de riscos de desastres constitui um processo de construção do entendimento das causas, natureza e efeitos dos riscos, ao mesmo tempo em que contribui na promoção de uma série de competências e habilidades que permitem à sociedade participar de forma ativa na prevenção dos desastres.

Já a resiliência, no contexto da gestão de riscos de desastres, refere-se à capacidade de uma comunidade de resistir, absorver, adaptar-se e recuperar-se de maneira eficiente dos efeitos de um desastre. Nesse contexto, a resiliência trata então da capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade exposta a perigos para resistir, absorver, acomodar, adaptar, transformar e recuperar-se dos efeitos desse mesmo perigo de forma oportuna e eficiente, o que inclui a preservação e restauração de suas estruturas básicas essenciais e das funções de gestão de risco (UNISDR, 2009). Para a ONU, a resiliência deve focar não apenas na forma como os indivíduos, comunidades e negócios agem face aos diversos impactos e pressões, mas também na forma que eles identificam oportunidades para um desenvolvimento transformacional (ONU, 2015).

Neste sentido, o objetivo deste artigo é explorar, através de revisão bibliográfica, os conceitos, métodos e benefícios da educação para a redução de riscos, destacando sua importância na promoção de sociedades mais resilientes e preparadas para enfrentar eventos adversos, demonstrando sua importância no contexto da gestão de riscos de desastres. Analisaremos também como as práticas escolares relacionadas à Educação para a Redução de Riscos de Desastres (ERRD) podem contribuir para o fortalecimento da resiliência das comunidades e constituir-se como ferramentas de gestão do risco de desastres.

2 O CONCEITO DE DESASTRE E DE REDUÇÃO DE RISCO DE DESASTRES

As discussões sobre desastre avançaram nos últimos anos no Brasil. Como fenômeno ambiental, o desastre se apresenta como inundações, enchentes, deslizamentos, rupturas de barragens, entre outros, noticiados amplamente pela imprensa. A temática chama atenção e as pesquisas em torno aumentaram no sentido de despertar nas instituições de estado e de mercado estratégias de ação e/ou intervenção. As pesquisas, principalmente na área das ciências sociais, obtiveram avanços e nos chamam atenção, conforme (MARCHEZINI et al., 2017), a concepção do desastre como um fenômeno social, algo “desnaturalizado”. Em contrapartida, as ciências humanas lançam o olhar para um contexto mais amplo de desastres, assim incluindo a relação de estruturas sociais, arranjos institucionais, pressões dinâmicas, e, consequentemente, o evento físico. Neste sentido, as análises em torno dos riscos, vulnerabilidades, adaptação e resiliência podem ser investigadas.

Partindo-se da premissa de que a redução dos riscos de desastres contribui para o desenvolvimento sustentável, minimizando os impactos negativos dos desastres na economia local e na qualidade de vida da população, percebemos a real importância de se resgatar o protagonismo das ações de educação para a prevenção de desastres nos diversos níveis e espaços educacionais, buscando formar cidadãos conscientes e preparados para lidar com situações adversas, bem como contribuir para a redução de impactos negativos de desastres.

A abordagem da proteção e defesa civil, no contexto da redução do risco de desastres, fundamenta-se em diversos conceitos e princípios que orientam as ações de preparação e resposta diante de eventos adversos. De acordo com Cardona (2007), a redução do risco de desastres consiste em um processo contínuo de identificação, análise e gestão dos fatores que contribuem para a ocorrência de desastres, visando a redução das vulnerabilidades e o aumento da resiliência das comunidades.

Nesse sentido, ações educativas em proteção e defesa civil desempenham um papel central na construção de sociedades mais seguras e resilientes. Segundo Wisner et al. (2012), a educação para a redução do risco de desastres engloba atividades voltadas para a sensibilização, a capacitação e a mobilização da população, visando aumentar sua compreensão sobre os riscos, suas habilidades para lidar com situações de emergência e sua participação ativa na construção de comunidades mais seguras.

3 EDUCAÇÃO PARA A REDUÇÃO DE RISCOS DE DESASTRES COMO FERRAMENTA DE GESTÃO DE RISCOS DE DESASTRES

Na visão de Motta, Mendonça e Sato (2022), a ERRD é “parte potencializadora da gestão de riscos de desastres”. E a ERRD pode ocorrer de diversas maneiras, abrangendo desde a educação formal nas escolas até a educação informal e comunitária. Um método eficaz, segundo Selby e Kagawa (2012), consiste em incorporar conteúdos relacionados à redução de riscos e à resiliência nos currículos escolares, desde o ensino fundamental até o superior. Isso pode incluir disciplinas específicas ou a inserção de tópicos em matérias existentes, como geografia, ciências e estudos sociais. Ou, como estratégia educacional, consiste no desenvolvimento de projetos escolares e atividades extracurriculares que promovam o envolvimento ativo dos estudantes na identificação e na mitigação de riscos em suas comunidades. Exemplos incluem simulações de evacuação, campanhas de conscientização e participação em planos de emergência locais. Para isso, é necessário o treinamento de professores e educadores para que possam transmitir de maneira eficaz os conceitos de ERRD e isso envolve fornecer recursos pedagógicos, materiais didáticos e oportunidades de formação continuada.

No Brasil, infelizmente, a temática de redução de riscos de desastres não encontra guarida e amparo normativo no campo educacional. De acordo com Matsuo e Silva (2021), a primeira formalização da ERRD no currículo brasileiro se deu em 2012 com a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), ao estabelecer o desenvolvimento da cultura de prevenção de desastres. Contudo, em 2017, houve um retrocesso e a temática de ERRD foi imposta como caráter opcional nos sistemas de ensino estaduais e municipais. Na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) encontramos algumas pistas que nos tornam claros os objetivos de aprendizagem que se aproximam as temáticas de riscos e desastres. Se tomarmos o referido documento norteador, no currículo de Ciências e Geografia do 8º ano, temos as seguintes referências que podem nos nortear: “discutir iniciativas que colaboram para o restabelecimento do equilíbrio ambiental a partir da identificação de alterações climáticas regionais e globais provocadas pela ação humana” (BRASIL, 2018, p. 349) e “analisar a segregação socioespacial em ambientes urbanos da América Latina, com atenção especial ao estudo de favelas, alagados e zona de riscos” (BRASIL, 2018, p. 391).

Diante desse panorama, têm-se que a implementação de programas educativos voltados para crianças e adolescentes emerge como uma estratégia eficaz e necessária para aumentar a resiliência das comunidades urbanas frente aos desastres. Ao promover a conscientização sobre os riscos, fornecer informações sobre medidas preventivas e capacitar os jovens para agir de forma segura em situações de emergência, tais programas contribuem para a construção de uma cultura de segurança e prevenção, capaz de mitigar os impactos dos desastres e proteger a vida e o bem-estar das pessoas.

Mediante as reflexões sobre a promoção e continuidade de uma educação para a redução de riscos e desastres, trazemos a presente discussão, tendo em vista a construção de uma comunidade mais resiliente. Para que se torne realidade, faz-se necessária implementar programas educativos voltados para as presentes temáticas, tendo em vista, a reflexão e conscientização dos alunos no período escolar.

3.1 ERRD em SP

No estado de São Paulo, desde o ano de 2009, a ERRD tomou espaço no currículo educacional, alocando-se como um dos temas contemporâneos transversais em conformidade com a lei Federal nº 12.608/2012, a qual institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. Os temas relacionados a redução de riscos e desastres devem ser trabalhados durante toda escolaridade dos estudantes, perpassando pelas diferentes áreas do conhecimento e componentes curriculares. Neste sentido, desde 2011, as Equipes Curriculares da Coordenadoria Pedagógica do Estado de São Paulo vêm desenvolvendo uma série de projetos com foco na ERRD, sendo eles: abordar a temática nos materiais de apoio ao Currículo Paulista, promover seminários para divulgar informações e práticas inspiradoras em ERRD e estabelecer parcerias e divulgar campanhas voltadas à promoção da sustentabilidade e da resiliência nas comunidades escolares.

Com o avanço e implantação desses projetos, no ano de 2021, é lançada naquele estado o “Programa Escola + Segura” em ERRD, estando estruturado em três frentes de atuação, ilustradas na Imagem 1 abaixo:  1) Educação em Redução de Riscos e Desastres (ERRD); 2) Alerta sobre riscos e desastres; 3) Protocolo de proteção à vida.

Imagem 1: Frentes de atuação do Programa Escola + Segura

Fonte: https://efape.educacao.sp.gov.br/convivasp/nossa-atuacao/educacao-para-reducao-de-riscos-de-desastres/.

Como podemos observar na imagem acima, as três frentes de atuação do Programa Escola + Segura se ampara em três pilares que se espera atingir: Centros Educacionais mais seguros, gestão de desastres nas escolas e educação para redução de riscos e resiliência. Neste sentido, o programa traz como objetivos:

  • Fortalecer a educação para a redução de riscos e para a resiliência;
  • Proteger os estudantes e a comunidade escolar contra riscos e desastres;
  • Garantir o planejamento de ações pedagógicas junto à comunidade escolar em face de possíveis perigos e/ou adversidades.

As atividades desenvolvidas foram divididas sobre os seguintes eixos: a) Convivência e Acolhimento: Plano de melhoria da convivência escolar; Professor orientador de Convivência; Programa Psicólogos na Escola; b) Segurança e Proteção Escolar: Assessor da Segurança; Botão do Pânico; Educação para a Redução e Riscos e Desastres (ERRD), Programa Vizinhança Solidária Escolar (PVSE), Protocolo Conviva, Rede Protetiva, Videomonitoramento; entre outras formações. Um dos exemplos de materiais utilizados é o Documento Orientador Conviva SP-2024, programa este de Melhoria da Convivência Escolar, que utiliza da ERRD e da Defesa Civil naquilo que denominam como “Esquema de Rede Protetiva”, conforme demonstrado na Imagem 2 abaixo.

Imagem 2: Esquema “Rede Protetiva”

Fonte: https://efape.educacao.sp.gov.br/convivasp/nossa-atuacao/educacao-para-reducao-de-riscos-de-desastres/. Acesso em: 18/11/2024.

A rede protetiva é um conjunto de entidades, profissionais e instituições que atuam para garantir apoio e resguardar os direitos de crianças e adolescentes. Sendo constituída por serviços da área da saúde, assistência social e segurança pública (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, Secretaria da Educação, 2024).Com o exemplo dado da Secretaria de Educação do Governo do Estado de São Paulo, percebemos a implantação de um programa amplo, o qual está incluído Educação para a Redução e Riscos e Desastres. As chamadas “Trilhas formativas”, são formações voltadas para profissionais da educação e alunos, que abordam diversos temas, como: “Mudanças climáticas e desastres”, “Drogas e Violências”, “Comunidades Resilientes”, entre outros, levando as pessoas a refletirem sobre si mesmas e sobre o meio em que vivem.

3.2 ERRD em Espírito Santo do Dourado – MG

A nível nacional, a temática “risco” pode ser encontrada na literatura didática da área de humanas, principalmente em Geografia, no ensino médio. No Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), os riscos naturais e ambientais adotam uma abordagem técnica e geossistêmica dos processos, focada principalmente na compreensão dos processos físico-naturais e no entendimento da relação dicotômica, natureza e ser humano (CLEMENTE, 2018). Neste sentido, tomamos um material didático, do ensino fundamental, adotado pelo município mineiro de Espírito Santo do Dourado, para realizar uma breve análise de como é tratada a temática “risco”. O material escolhido foi “Geografia de Minas Gerais”, do 5º ano do ensino Fundamental, produzidos pelo Sistema de Ensino Aprende Brasil, do qual segue ilustração da capa na Imagem 3.

Imagem 3: Capa do livro didático “Geografia-Minas Gerais”

Fonte: Acervo pessoal.

Para que façamos a nossa análise, nos debruçaremos sobre três categorias abordadas por Clemente (2018): “Natureza”, “Meio Ambiente” e “Educação e riscos”. As categorias são assim identificadas pela autora:

Natureza: refere-se ao bloco/conteúdo que foca na descrição dos fenômenos e dos processos naturais. Essa categoria subdivide-se em duas subcategorias: “Descrição dos processos naturais”, em que se prioriza a descrição dos processos e a compreensão dos fenômenos e “Descrição dos processos naturais e seus efeitos sobre a sociedade”, em que, além de descrever os processos, os autores apontam como os mesmos podem gerar efeitos catastróficos para a população e para a sociedade.

Meio Ambiente: refere-se àquele bloco/conteúdo que aborda fundamentalmente as relações entre sociedade e natureza. Essa categoria também divide-se em duas subcategorias: “Relação entre processos naturais e ações antrópicas”, em que os textos enfatizam como as ações do homem podem acelerar e/ou intensificar um processo natural e “Relações entre processos sociais/naturais e vulnerabilidade”, em que o foco é discutir como os processos sociais (urbanização, segregação espacial, ocupação do solo, especulação imobiliária e outros) somados aos processos naturais torna aquele indivíduo que é economicamente vulnerável, também ambientalmente vulnerável.

Educação e Risco: refere-se àquele bloco/conteúdo que aborda a Educação para o risco. As duas subcategorias são: “Percepção do perigo”, em que os textos estimulam os alunos a observarem seu cotidiano no intuito de desenvolver a percepção dos perigos e “Ações Preventivas”, em que o foco do bloco está em trabalhar com ações que promovem a mitigação, a eliminação ou a redução dos riscos, a preparação para os eventos e o aumento da resiliência, no campo individual ou coletivo (CLEMENTE, 2018, p. 8).

Esse livro didático é dividido em três grandes temáticas, que são abordadas durante o ano: 1- Dinâmica populacional do território de Minas Gerais; 2- Espaço Urbano de Minas Gerais; 3- Energia, Transporte e Comunicação, conforme Imagem 4, que ilustra o sumário.

Imagem 4: Sumário do livro didático “Geografia-Minas Gerais”

Fonte: Acervo Pessoal

Ao tomar o material como objeto análise, observando as categorias apresentadas por Clemente (2018), percebemos que a temática “risco” vem a ser tratada, mesmo que de forma breve, apenas no segundo capítulo do material didático “Espaço Urbano de Minas Gerais”. Ao observar o mapa curricular integrado do material didático, tomamos o conhecimento de que o tema por nós estudado tem como conteúdos privilegiados os “Problemas Sociais e ambientais de Minas Gerais”. As Unidades temáticas abordadas são “Natureza, ambiente e qualidade de vida”, “Formas de representação e pensamento espacial” e “Natureza, ambientes e qualidade de vida”. Os objetos de conhecimento contemplam a “Qualidade ambiental”, os “Diferentes tipos de poluição” e a “Gestão pública da qualidade de vida”. Seguindo as orientações da BNCC, são apresentadas três habilidades a serem trabalhadas:

(EF05GE10): Reconhecer e comparar atributos da qualidade ambiental e algumas formas de poluição dos cursos de água e dos oceanos (esgotos, efluentes industriais, marés negras, etc.), fazendo um paralelo com a realidade vivenciada.
(EF05GE11): Identificar e descrever problemas ambientais que ocorrem no entorno da escola e da residência (lixões, indústrias poluentes, destruição do patrimônio histórico, etc.), propondo soluções (inclusive tecnológicas) para esses problemas.
(EF05GE12): Identificar órgãos do poder público e canais de participação social responsáveis por buscar soluções para a melhoria da qualidade de vida (em áreas como meio ambiente, mobilidade, moradia e direito à cidade) e discutir as propostas implementadas por esses órgãos que afetam a comunidade em que vivem. (APRENDE BRASIL, Geografia- Minas Gerais, 2023).

No decorrer do texto apresentado pelo material didático, a palavra “risco” não aparece explicitamente. Porém, os assuntos abordados e as imagens apresentadas levam o professor a refletir com os alunos sobre a temática principal por nós estudada. Cabe ao docente dinamizar suas aulas, buscar outros conteúdos para que a abordagem seja empregadas na temática redução de riscos.

Neste sentido, para melhor ilustrar nossa reflexão sobre o assunto empregado no material didático, optamos por dividir o estudo em três blocos, apresentados nos quadros abaixo:

Quadro 1: Bloco “Meio Ambiente”.

Fonte: autoria pessoal

Nesse sentido, como forma de complementar a estratégia de ensino, sugere-se a utilização da Imagem 5 para trabalho com os alunos.

Imagem 5: Sugestão de imagem para trabalho com os alunos

Fonte: GEOGRAFIA- MINAS GERAIS, Sistema de Ensino Aprende Brasil, 2023, p. 38.

Quadro 2: Bloco “Meio Ambiente”.

Fonte: autoria pessoal

Assim, sugere-se a utilização da Imagem 6 para trabalho com os alunos.

Imagem 6: Sugestão de imagem para trabalho com os alunos

Fonte: GEOGRAFIA- MINAS GERAIS, Sistema de Ensino Aprende Brasil, 2023, p. 40.

Por fim, o Quadro 3 abaixo traz o Bloco “Natureza”.

Quadro 3: Bloco “Natureza”.

Fonte: autoria pessoal

Assim, sugere-se a utilização da Imagem 7 para trabalho com os alunos.

Imagem 7: Sugestão de imagem para trabalho com os alunos

Fonte: GEOGRAFIA- MINAS GERAIS, Sistema de Ensino Aprende Brasil, 2023, p. 40.

Como podemos perceber, mediante as análises do material didático escolhido presente nos quadros acima, os temas abordados contemplam duas das três categorias abordadas por Clemente (2018): “Natureza” e “Meio Ambiente”. Mesmo que a expressão “risco” não se faça presente no texto do material didático, como foi apontado acima, o professor pode ser orientado a trabalhar com os alunos a temática nos conteúdos acima observados. A categoria meio ambiente se sobressai, no sentido de enfatizar reflexões sobre as consequências advindas das ações humanas e a busca pela sustentabilidade. Os recortes das temáticas abordadas pelo livro didático buscaram evidenciar como as ações humanas podem modificar o ambiente, prejudicando a si próprio e a natureza. A intervenção humana nos aspectos físico-naturais e consequentemente em outros fatores – econômicos e políticos -, contribui para o aumento dos desastres como também dos prejuízos materiais, conforme abordam em suas obras Veyret (2007) e Almeida (2012).

A importância da inserção da ERRD no campo educacional se faz indispensável no sentido da reflexão e no diálogo com as disciplinas abordadas e em situações que as pessoas muitas vezes tendem a conviver. É interessante observar, conforme Clemente (2018, p. 117), a partir de Moreira (2012), que as escolas “têm sido chamadas a servir como locais de abrigo para as vítimas de enchentes, deslizamentos de terras, entre outros desastres naturais”. Contudo, o que as escolas, como instituições de educacionais, tem feito para contribuir na questão da prevenção dos riscos e no fortalecimento da resiliência? Assim, devemos repensar a atuação das escolas.

A escola deve ser repensada como um espaço de formação de vidas, de consciências e de reflexões e, neste sentido, a Educação em Redução de Risco e Desastre pode ser inserida por meio de diálogos, vivências, ações e práticas de prevenção e segurança auxiliadas pela Devesa Civil. Os conteúdos e conhecimentos científicos podem ser trabalhados por meio da interdisciplinaridade, e disciplinas como a História, Português, Ciências e principalmente a Geografia. Cabe, neste sentido, ao professor orientar os estudos, discutir inter-relação sociedade/natureza no âmbito do risco ambiental, e, a partir dos conhecimentos prévios dos alunos, auxiliá-los na construção de conhecimentos e de uma cultura de prevenção dos riscos de desastre, tornando os estudantes menos vulneráveis a essas situações.

4 METODOLOGIA

Partindo-se da premissa de que a redução dos riscos de desastres contribui para o desenvolvimento sustentável, minimizando os impactos negativos dos desastres na economia local e na qualidade de vida da população, o projeto se justifica pela importância de se resgatar o protagonismo das ações de educação para a prevenção de desastres nos diversos níveis e espaços educacionais, buscando formar cidadãos conscientes e preparados para lidar com situações adversas, bem como contribuir para a redução de impactos negativos de desastres.

Assim, o presente artigo adota a abordagem qualitativa, com enfoque em revisão bibliográfica, no intuito de demonstrar como as práticas escolares relacionadas à Educação para a Redução de Riscos de Desastres (ERRD) podem contribuir para o fortalecimento da resiliência das comunidades e constituir-se como ferramentas de gestão do risco de desastres.

Para assegurar a atualidade e relevância das fontes, priorizou-se a utilização de materiais publicados nos últimos dez anos, representando pelo menos 50% das referências empregadas. O levantamento foi realizado em bases de dados acadêmicas reconhecidas, como Scielo e CAPES Periódicos, além de consulta à legislação disponível nos portais oficiais do Governo Federal.

Assim, através de uma revisão da literatura, pretende-se demonstrar como uma abordagem educacional tem o potencial de aumentar a conscientização, desenvolver habilidades práticas e promover uma cultura de prevenção e resiliência.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação para a redução de riscos de desastres emerge como uma ferramenta poderosa para fortalecer a resiliência das comunidades e aprimorar a gestão de riscos. Ao aumentar a conscientização, desenvolver habilidades práticas e promover uma cultura de prevenção, a ERRD capacita indivíduos e comunidades a enfrentar e se recuperar de desastres de maneira eficaz.

Durante esta pesquisa, percebemos que, o Estado de São Paulo vem trabalhando ERRD com professores e alunos, utilizando da abordagem de diversas temáticas. Em Minas Gerais, no ano de 2024, o governo estadual e a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil lançaram um projeto-piloto, na intenção de disseminar a cultura da resiliência e da autoproteção entre os alunos do ensino fundamental de escolas públicas do Estado. O objetivo é tornar o aprendizado mais dinâmico e prático, facilitando a absorção de conhecimentos cruciais sobre conceitos como Defesa Civil, tipos de desastres, meio ambiente, sustentabilidade, mudanças climáticas e percepção de riscos.

Nos casos analisados, observou-se que, enquanto o estado de São Paulo apresenta uma ênfase mais consolidada na educação para a redução de riscos de desastres (ERRD), com iniciativas mais estruturadas e integradas ao contexto escolar, em Minas Gerais, a ERRD ainda se encontra em estágio incipiente. Essa disparidade evidencia a necessidade de esforços direcionados para ampliar e fortalecer a implementação da ERRD em regiões onde sua abordagem ainda é limitada, a fim de garantir que todas as comunidades, independentemente de sua localização, possam se beneficiar dessa importante ferramenta de conscientização e resiliência.

Nesse sentido, a presente pesquisa buscou demonstrar como a abordagem educacional tem grande potencial para promover a conscientização, desenvolver habilidades práticas e promover uma cultura de prevenção e resiliência, restando inequívoco que a Educação para a Redução de Riscos de Desastres pode contribuir para o fortalecimento da resiliência das comunidades e constituir-se como ferramenta de gestão do risco de desastres. Ou seja, faz-se necessária a construção de uma Educação para a Redução de Riscos efetiva no Brasil, um país que constantemente tem sido assolado pelos mais diversos tipos de desastres.

REFERÊNCIAS

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CLEMENTE, Fernanda Silva. Riscos naturais, ambientais e os conteúdos similares presentes nos livros didáticos de geografia do ensino médio. 2018. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal de São João del-Rei, João del-Rei 2018. Disponível em: https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/ppgeog/Fernanda%20Clemente.pdf. Acesso em: 27 out. 2024.

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MARCHEZINI, V. et al. (Eds.). Reduction of vulnerability to disasters: from knowledge to action. São Carlos: RiMa Editora, 2017. 624 p. il. ISBN – 978-85-7656.050.0

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1 Discente do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Proteção e Defesa Civil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) – Campus Santa Luzia. e-mail: lenon.unifal@live.com
2 Docente do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Proteção e Defesa Civil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) – Campus Santa Luzia. Doutor em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU-UFBA). e-mail: breno.silva@ifmg.edu.br