EDUCAÇÃO NA ERA DIGITAL: NOVAS POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA EMEF DE CARAPAJÓ – CAMETÁ/PA 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12588615


Gilma Pinto Wanzeler1
Mílvio da Silva Ribeiro2


RESUMO

Esta pesquisa entende que a chegada da internet na EMEF de Carapajó significou o início de intensas mudanças no ambiente escolar, que subsidiou o tema desse estudo: EDUCAÇÃO NA ERA DIGITAL: Novas possibilidades de desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem na EMEF de Carapajó – Cametá/PA. Como objetivo geral para esse estudo escolhi: Analisar quais as contribuições das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem a partir das práticas pedagógicas dos professores na EMEF de Carapajó; e específicos: Enfatizar a cultura digital e sua importância na construção da identidade do povo; Analisar as práticas pedagógicas diante da inserção da internet na vivencia escolar; Investigar como alunos, professores e escola vêm significando o ensino com a rede da internet no sentido de dar mais significado a aprendizagem. A investigação partiu da seguinte problemática: Diante da chegada da internet, na EMEF de Carapajó, e das inúmeras transformações tecnológicas que o mundo vive, o que mudou pedagogicamente e tecnologicamente dentro do processo de ensino e aprendizagem dessa instituição de ensino? Norteadas pelas questões: De que forma o aluno é direcionado ao uso da internet? Os professores estão preparados para interagir com o mundo virtual dentro da sua sala de aula? A escola dispõe de suporte tecnológico suficiente para a demanda de seus alunos? Para ponderar as questões levantadas, estabeleceu-se a seguinte metodologia: no primeiro momento inicia com uma pesquisa bibliográfica sobre a expansão da internet e a influência da cultura digital no ambiente escolar; seguindo com uma pesquisa de campo, de abordagem qualitativa, com procedimentos de observação, investigação e coleta de dados, através de entrevistas semiestruturadas. O estudo foi desenvolvido na EMEF de Carapajó, localizada da Vila de Carapajó, que pertence ao município de Cametá e teve como sujeitos de pesquisa 150 alunos, regularmente matriculados no ensino fundamental II nessa instituição de ensino e 07 professores da rede municipal de ensino que são lotados na referida escola, a análise de conteúdo partiu dos dados coletados. Essa pesquisa possibilitou verificar que, a expansão da internet transformou a vivência humana e permitiu novas reconfigurações para facilitar a aprendizagem dos alunos na EMEF de Carapajó, mas precisa direcionar o uso, para que seus usuários possam usufruir dos recursos tecnológicos como instrumento aliado à sua evolução. Nessa perspectiva, constatouse a necessidade de capacitação dos docentes, mais investimentos em recursos tecnológicos e conscientização dos alunos para o uso benéfico da internet.

 PALAVRAS-CHAVES: Ressignificação. Internet. Ensino e Aprendizagem.  

1. INTRODUÇÃO

As consideráveis transformações e evoluções que o mundo sofre ao longo de sua trajetória de evolução é impossível ignorar o avanço tecnológico, uma vez que, o estado de bem-estar do homem, ou melhor dizendo, a maioria das comodidades, atualmente, são proporcionadas por este mundo virtual. Poder acessar, ligar, conectar às coisas ou lugares com apenas um comando de voz parecia algo impossível há tempos, mas quem, hoje, conhece a “Alexa”, uma inteligência artificial, nunca mais vai se separar dela, “Alexa toque uma música alegre”, “Alexa como está a temperatura nesse momento?”, “Alexa ligue a lâmpada!” … A tecnologia trouxe literalmente para as mãos das pessoas um universo quase infinito de conhecimentos, mas é necessário frisar que o homem nasce em contextos sociais que divergem e, conforme sua identidade cultural, podem estar diretamente conectados ao mundo virtual ou não, pois o alcance digital ainda não comtempla todas as localidades. 

A criança traz para a escola muito da sua vivência diária. É notório na EMEF de Carapajó a presença marcante de uma cultura local muito forte, que rege a vida das pessoas dessa localidade, que esperam e se prepararam para apresentar o melhor de si nas manifestações culturais da festa do Marierrê1, da dança do boi brabo que sai pelas ruas enfurecido pela provocação das pessoas que aguardam nas margens das pequenas ruas para provocá-lo, da matança do boi quando a festa acaba, das escolas de samba Quenzinho e Xavante, uma rivalidade do bem que só aprimora os espetáculos proporcionados por elas, da Festa de São Benedito e de muitas outras que fascinam quem aí chega. 

A EMEF de Carapajó foi fundada em 1984, inicialmente foi chamada de EMEF Santinho Cohen, em homenagem a um homem muito querido na Vila de Carapajó, que pertencia a uma família bastante rica e influente, que veio morar nessa localidade e logo, sua família, adquiriu muitas propriedades e fixaram residência. O que reforça a característica das pessoas que aí residem, pois se trata de um povo hospitaleiro e acolhedor.

A escola localizada na zona rural de Cametá, em uma vila chamada Vila de Carapajó, que é o principal ponto de acesso de entrada e saída do município, e é importante frisar, que essa comunidade não vive alheia às transformações tecnológicas, mesmo sem sinal aberto para chamadas telefônicas, a internet traz a conexão via Wi-fi, proporcionando chamadas via WhatsApp, ou por meios de outros aplicativos conversacionais, também, as tão acessadas redes sociais, que atualmente é o atrativo principal dos jovens, sem falar dos jogos virtuais que são a “febre” dessa nova geração. 

E, todas essas manifestações culturais chegam com toda força no ambiente escolar, trazidos pelos alunos nas suas interações escolares. É muita novidade surgindo a todo momento, o que antes parecia ser algo impossível, hoje é uma coisa simples, como acessar informações de algo que está acontecendo, nesse momento do outro lado do mundo, com um simples toque num aparelho de celular. 

A EMEF de Carapajó é uma instituição localizada na zona rural do município de Cametá, onde a tecnologia estava passando na porta, mas não entrava, porque a mesma não dispunha de recursos financeiros para contratar serviço particular de internet, e alguns alunos que já possuíam internet, via Wi-fi, em suas residências viam a escola como um local fora da realidade deles, mas a grande maioria por morar em áreas mais afastadas, ainda possuem essa dificuldade de acesso ao mundo digital.

Segundo o IBGE, em 2022, cerca de 87,2% ou 161,6 milhões de pessoas, entre 10 anos ou mais, utilizam internet em todo o território brasileiro, e esse índice só vem aumentando ao longo dos anos, pois se fizermos um comparativo ao ano anterior, 2021, houve um aumento de 2,5%, já que nesse ano o uso de internet era de 84,7%. Até 2022, segundo o IBGE, cerca de 98,9% das pessoas, de 10 anos ou mais, usam o celular como principal mecanismo de acesso à internet em todo o território brasileiro, ou seja, o universo tecnológico já é realidade na vida dessa geração. E a escola? O aluno chega numa sala de aula e se depara com um ambiente fechado por quatro paredes, uma lousa e professores e profissionais excelentes que se reinventam a cada necessidade dos seus alunos com metodologias que estejam mais próximas de suas realidades. 

Nesse momento surge a inquietação de entender como a escola está reconfigurando o ensino diante de uma geração que vive conectado ao universo digital. A chegada da internet na escola passou por um período muito conturbado, porque mesmo nós professores, em sua maioria, sabíamos manusear um computador, um celular ou outro aparelho eletrônico.

É necessário construir propostas e um direcionamento para o uso da internet dentro do ambiente escolar, porque mesmo que você não entenda nada sobre essas tecnologias digitais, mas elas mudam tudo ao redor desde a forma de aprender até a forma de ensinar, possibilitando assim uma reconfiguração da realidade. E, são essas reconfigurações ou possibilidades de aprendizagem que instigaram e impulsionaram esta pesquisa.

A questão é que a escola não pode ficar alheio a realidade do aluno quando se prioriza um ensino significativo. Dessa forma, novos olhares são necessários, novas práticas são exigidas, e diante desse cenário é importante saber: Diante da chegada da internet, na EMEF de Carapajó, e das inúmeras transformações tecnológicas que o mundo vive, o que mudou dentro do processo de ensino e aprendizagem dessa instituição de ensino? Norteando, também, algumas questões de investigação como: De que forma o professor induz o aluno para o uso da internet? Os professores estão preparados para interagir com o mundo virtual dentro da sua sala de aula? A escola dispõe de suporte tecnológico suficiente para a demanda de seus alunos? São questionamentos, que causam inquietação e curiosidade.

Os objetivos propostos para essa pesquisa são: Analisar quais as contribuições das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem a partir das práticas pedagógicas dos professores na EMEF de Carapajó. E, objetivos específicos: enfatizar a cultura digital e sua importância na construção da identidade do povo; analisar as práticas pedagógicas diante da inserção da internet na vivência escolar; investigar como alunos, professores e escola vêm significando o ensino com a rede da internet no sentido de dar mais significado a aprendizagem. 

Essa pesquisa busca analisar e compreender as contribuições da tecnologia na reconfiguração das práticas pedagógicas dos docentes na EMEF de Carapajó, seguindo a linha de pesquisa direcionada a linguagem e suas tecnologias. A abordagem usada nesta pesquisa é de cunho qualitativo por permitir investigar o entendimento que um determinado grupo de participantes associa ao objeto de estudo. Dörnyel (2007, p. 38) entende que “a pesquisa qualitativa está preocupada com as opiniões subjetivas, com as experiências e com os sentimentos dos participantes, e, por conseguinte, o objetivo explícito da pesquisa é explorar o ponto de vista dos participantes sobre a situação que está sendo estudada”.  

A pesquisa discorre de uma combinação de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, onde limitei meu espaço de investigação a EMEF de Carapajó, localizada na Vila de Carapajó, no município de Cametá/ PA e a 07 professores em exercício há pelo menos anos na referida instituição de ensino. Os instrumentos de coleta de dados discorrerão de observação do ambiente escolar, entrevistas e questionários semiestruturados, e o método de análise de conteúdo (Bardin, 1977). 

Selecionados para essa pesquisa, falaremos de Ressignificação, valores e costumes, Internet, Ensino e aprendizagem, como categorias centrais de investigação. 

II CULTURA DIGITAL, INTERNET, INCLUSÂO DIGITAL, FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O USO DAS TECNOLOGIAS.

– CULTURA DIGITAL

A cultura digital e a EMEF de Carapajó, trabalhou-se a conceituação de alguns termos e categoria, e a apresentação dos lócus dessa pesquisa fundamentando com dados coletados diretamente com alunos que estão regularmente matriculados nessa instituição de ensino. A discussão foi fundamentada nas teorias de alguns autores como: Alves (2011); Castells (2003); Costa (2003); IBGE; e informações coletadas com populares residentes dessa localidade. 

Cultura é um tema muito amplo e complexo, que chama atenção para instâncias multidisciplinares. Canedo (2009, p. 1) diz que “definir cultura não é uma tarefa simples”, principalmente, por tratar de relações humanas, de costumes, valores, crenças, de evolução e transformação social. A palavra cultura surgiu lá na Roma antiga (colare) para indicar cultivo dos campos, onde os mais experientes ensinavam os mais novos a melhor forma do cultivo da terra. Hoje, a cultura se reconfigura diante das evoluções tecnológicas, associada ao termo digital, que vem do latim digitalis, como impressão digital, para representar as marcas que deixamos nos caminhos percorridos durante a vida. Geertz entende que: 

A cultura fornece o vínculo entre o que os homens são intrinsecamente capazes de se tornar e o que eles realmente se tornam, um por um. Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós nos tornamos individuais sob a direção dos padrões culturais, sistemas de significados criados historicamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e direção às nossas vidas. (Geertz, 2011, p. 37). 

Cada pessoa é única na medida que assume seus padrões culturais, quando diante de tudo que vivência toma sua postura diante da sociedade, e Laraia (2006, p. 46) reforça dizendo que: 

O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. 

Nessa perspectiva, a cultura passa é vista como meio que procura entender como o homem consegue interpretar as coisas, principalmente no ambiente que o cerca, sendo assim um sistema semiótico, construindo uma teia de significados que são transmitidos de geração em geração. A partir, desse olhar semiótico, é impossível não considerar que em meados de 1950, emergiu na sociedade um novo ambiente constituído basicamente de signos, ícones e sinais: a informática (Alves, 2011). 

Castells (2003) defende a existência de uma cultura própria da internet somada ao pensamento de liberdade, onde os sistemas tecnológicos são socialmente constituídos, dando origem a uma produção social dividida em quatro camadas, resultado da combinação das culturas tecnomeritocrática, hacker, comunitária virtual e empresarial. O autor, complementa dizendo que: 

[…] a cultura tecnomeritocrática especifica-se como uma cultura hacker ao incorporar normas e costumes a redes de cooperação voltadas para projetos tecnológicos. A cultura comunitária virtual acrescenta uma dimensão social ao compartilhamento tecnológico, fazendo da internet um meio de interação social seletiva e de integração simbólica.  A cultura empresarial trabalha, ao lado da cultura hacker e da cultura comunitária, para difundir práticas da internet em todos os domínios da sociedade como meio de ganhar dinheiro. Sem a cultura tecnomeritocrática, os hackers não passariam de uma comunidade contra cultural específica de geeks e nerds. Sem a cultura hacker, as redes comunitárias na Internet não se distinguiriam de muitas outras comunidades alternativas. Assim como, sem a cultura hacker e os valores comunitários, a cultura empresarial não pode ser caracterizada como específica à Internet (Castells, 2003, p. 34-35). 

Essas culturas formam quatro camadas individuais, são independentes por apresentarem estruturas autônomas e se constituírem enraizadas nas suas concepções. Porém, quando se fala em cultura digital é imprescindível reuni-las significar o contexto educacional. A cultura tecnomeritocrática, primeira camada, refere-se a elite científica, responsável pelo desenvolvimento da tecnologia da informática, e sua essência baseia-se na intenção de colaborar com os desenvolvimentos científicos e tecnológicos para o progresso da humanidade e proporcionar o bem comum para a sociedade. 

A cultura hacker, segunda camada, que promove as inovações tecnológicas subsidiada pela cooperação e pela ideologia de comunicação livre, que dá impulso ao crescimento da internet, com livre acesso às informações. Porém, esquiva-se do rigor e da limitação científica, e por esse motivo, adentra o campo educacional pelo conceito de educação aberta, priorizando a universalização e a construção do conhecimento via internet, que Kahle (2014) define que: 

A educação aberta traz seu próprio conjunto de objetivos, valores e aspirações que transcendem qualquer projeto específico ou a qualidade funcional de tecnologia. Educação aberta, conteúdo aberto e código aberto como uma ideia coletiva são frequentemente discutidos como meio de libertação (UNSWORTH, 2004), capacitação e democratização (VEST, 2006). Igualdade de acesso ao atual conhecimento e um convite permanente a todos para participar no avanço de novas ideias são temas comuns do movimento de educação aberta. 

Uma proposta que defende a educação pela cumplicidade nos diversos contextos, seja formal ou informal, onde novas produções estão acima do conhecimento já estruturado. 

A cultura comunitária virtual, terceira camada, diz respeito aqueles que utilizam a rede e conhecem seus recursos e funcionalidades, seja de modo superficial ou aprofundado, gerando a interconexão interativa, atribuindo as tecnologias significado social, indo além dos aspectos tecnológicos. Porém, Vieira Pinto (2005) alerta para o cuidado com a ilusão que a tecnologia injeta, que constrói uma visão ingênua no homem sobre os benefícios da tecnologia tornando pacífico e desprovido de senso crítico, por achar ser o centro de tudo, provocando constrangimento em pessoas que não tem acesso a elas. 

Por fim, a cultura empresarial, quarta camada, composta pelos capitalistas que usam o meio para geração de riquezas, ressaltando a notabilidade da rede para o desenvolvimento da economia e o quanto a inovação empresarial vem sendo a principal força atuante no desenvolvimento da economia em rede. Demonstrando uma dubiedade de comportamentos, quando usa as tecnologias ora para reproduzir um comportamento omisso e ora para mobilizar ações coletivas. 

De mais (2014, p. 357) compreende que: 

Por sociedade industrial geralmente se entende aquela que prevaleceu em boa parte do Ocidente entre a metade do século XVIII e a metade do século XX, quando a maior parte do PIB provinha da indústria manufatureira, a maior parte da força de trabalho estava nas fábricas, prevalecia o conflito entre trabalhadores e proprietários dos meios de produção, a organização do trabalho e da sociedade tendia à racionalização das tarefas, do tempo e dos métodos. 

A cultura industrial, em meio a tecnologia, possibilitou o comercio e as indústrias muitas reconfigurações e possibilidades alternativas de produção, possibilitando uma pessoa comprar e vender sem sair de casa, indústrias reduzirem jornadas de trabalho e mesmo assim aumentar suas produções. Castells (2003) indica que a consolidação social da internet é a base da sociedade em rede, mas deve ser entendida como uma rede que congrega diversos grupos e está além se simples acesso em computadores, mas, também, a pessoas e informações. 

Essas camadas da internet são engrenagens ativas e transformadoras da cultura digital, seguindo as transformações da evolução tecnológica e ao mesmo tempo influenciando o modo de viver do homem. Costa (2003), defende a Cultura Digital como identidade do mundo moderno, diretamente ligado à ideia de interatividade, de interconexão, de inter-relação entre homens, informações e imagens de gêneros variados. Ao longo da história, a cultura digital vem se consolidando desde o desenvolvimento do rádio e da televisão, que impulsionaram a cultura de massa, até a internet, com os dispositivos móveis.  

A cultura digital evoluiu e se consolidou mundialmente com a expansão da internet, que possibilita conexões globais e distribuição imediata de dados entre dispositivos, em uma rede global de conexões em rede de WhatsApp, Messenger, jogos online, mecanismos de busca, Facebook, Web e outros. 

A evolução ganhou tamanha proporção social, que desde de 2013, muita coisa mudou ao longo desses anos EMEF de Carapajó, e a principal mudança foi a chegada da internet na escola, que agilizou e conectou a escola aos recursos virtuais transformando a forma de trabalho, principalmente na área administrativa, proporcionando acesso a plataformas on-line para fazer matrícula, lotação, expedição de documentos escolares dos alunos como: declarações, ressalvas, históricos, entre outros. A SEMED (Secretaria Municipal de Educação), começou enviar equipes de capacitação para ensinar os professores a preencherem suas cadernetas virtuais, deixando essa atividade totalmente digital. 

A chegada da internet à escola melhorou e agilizou muito os trabalhos administrativos, sendo uma grande novidade e um importante recurso, que agora possuía livre acesso ao sinal de Wi-fi para desfrutar dos recursos da internet. A chegada da internet na escola foi um tanto conturbada, pois a mesma não se preparou para tantas novidades, desde sua estrutura, pois, até hoje, não possui um laboratório de informática, onde os únicos computadores são de uso da secretária, os professores não receberam nenhum tipo de treinamento ou  orientação para o uso da internet no ambiente escolar, os alunos ficaram tão encantados com tanta novidade que um simples aparelho de celular poderia acessar, que mergulharam nos jogos virtuais e as redes sociais. Contudo, é importante ressaltar que, o problema não estava na internet, na verdade a internet trouxe o mundo para dentro da escola, rompendo as barreiras geográficas da física, a questão foi que a escola não se preparou pedagogicamente para usar a internet como instrumento facilitador na aprendizagem. 

A tecnologia, digital ou não, é parte essencial da cultura humana e constitui valores, uma vez que, é o homem quem a produz, e Castells (1999) reforça dizendo que, negar essa realidade é contradizer a humanidade em si, porque o homem vive o que ele constrói e seu pensamento evolui conforme eles se aprimoram. É preciso estar atento para as transformações e construções sociais que acontecem em decorrência das evoluções tecnológicas, para não ficar alheio ao que acontece ao seu redor. 

Dessa forma, é imprescindível não entender que a era digital tem características completamente diferente das anteriores, pois agora as pessoas protagonizam as mudanças sociais relacionadas a globalização ou a individualização, ao ponto de ser possível entender que o homem já não consegue mais sobreviver sem tecnologia, pois uma simples interrupção de energia elétrica é o suficiente para interromper desde um banho quente até o funcionamento de uma indústria. 

A frequência da evolução tecnológica é tão rápida que, numa pequena fração de tempo, surgem tecnologias mais modernas, ou seja, o ciclo de vida das tecnologias é bem curto, se contrapondo ao século passado, quando perduravam por mais tempo, já que, o rádio, a televisão, o telefone e outros sofreram poucas transformações durante várias décadas. A tecnologia como a ciência do fazer, não se resume a eletrônica, computadores e ou realidades virtuais, já que toda construção humana é uma forma de tecnologia, que vai desde as construções mais simples até as mais elaboradas, com recursos naturais ou digitais, que auxiliam o homem no seu trabalho ou estado de bem-estar social. 

A ascensão da cultura digital conseguiu, em tempo recorde, globalizar a economia, a tecnologia, a política, a educação e a cultura, consolidando uma intercomunicação entre todos os países, permitindo que as informações e seus recursos estejam acessíveis para todos. 

A nova sociedade nascida com o advento da cultura digital traz consigo novas gerações de nativo digitais que já nascem com o controle remoto, celular e o tablet nas mãos, interagindo e absorvendo informações das comunidades virtuais, e de encontro a essa geração os modelos educacionais precisam estar mais fluídos e dinâmicos, para que consigam se adaptar e modificar à medida que a evolução tecnológica acontece. 

Segundo Sibilia (2008, p. 36) “os textos eletrônicos, escritos e lidos nas telas dos computadores, muitas vezes pontilhados de sons e imagens fixas e em movimento, instauram novos hábitos e práticas”, remetendo a uma nova interação com o saber, onde o ensino precisa acompanhar a realidade dos alunos para se configurar em um ambiente significativo e produtivo. É preciso pensar a cultura digital com todas suas implicações buscando seu entendimento sem tentar burlar ou limitar suas dimensões, ou seja, encarar o novo de frente e estar aberto para novos conhecimentos.

INTERNET

No item, Internet: histórico, conceitos e trajetórias, traz conceitos, históricos e trajetória do processo de evolução e expansão da internet ao longo da história, até tornar-se realidade dentro da EMEF de Carapajó, para isso foi desenvolvido um diálogo com alguns autores como: Levy (1989); Marcuschi (2023); Thompson (1988) e IBGE. 

A internet chegou ao Brasil em 1988, para interligar os centros de pesquisas brasileiros e norte-americanos, instalando-se primeiro na USP, Unicamp e PUC. A história da internet no Brasil inicia-se com o acesso restrito da internet somente aos centros acadêmicos, posteriormente estendido para uso comercial, chegando nas casas dos brasileiros somente em meados de 1994, quando o ministério da Educação e da Ciência e Tecnologia assinaram um convênio disponibilizando internet para todo país, tornando a rede brasileira oficialmente comercializada e conectada com as demais redes ao redor do mundo. A chegada de 1996, marcou um desenvolvimento natural do mercado que ao mesmo tempo impulsionou a internet brasileira, tanto em número de usuários quanto de provedores e serviços prestados através da rede. Com isso, a rede brasileira se tornou oficialmente comercializada e conectada com as demais redes ao redor do mundo. 

Esse recurso tecnológico tão importante e fundamental na vida da maioria das pessoas iniciou sua origem durante o período da segunda guerra mundial, em meio a intensos conflitos entres duas das maiores superpotências mundiais, Rússia e Estados unidos. Onde os EUA, através da Information Processing Techniques Office (IPTO) do departamento de defesa americano, subsidiou a construção do projeto que daria origem a internet, juntou cerca de duzentos, estudiosos e pesquisadores, cruzando conhecimentos e informações na construção do principal meio de comunicação virtual para a sociedade moderna, possibilitando a conexão e troca de informações de milhares de pessoas ao mesmo tempo. Claro, que as primeiras conexões estavam restritas ao objetivo para que foi pensada, que era enviar mensagens de forma segura da base militar dos Estados Unidos para seus campos de batalha.  

Sendo um projeto de repercussão mundial é imprescindível as disputas na história da ciência e da tecnologia pelos méritos alcançados, mas é importante saber que a internet é resultado de uma multiplicidade de agentes envolvidos. A internet é um dos maiores avanços tecnológicos do século passado, que conseguiu democratizar a informação, e continua se sobressaindo ao passo que a sociedade se organiza e evolui. Em fevereiro de 1946, John Eckert e John Mauchly, apresentaram ao mundo o primeiro computador eletrônico de grande escala, em português, seu nome diz algo como Integrador e Computador Numérico Eletrônico, o EINAC (Eletronic Numerical Integrator and Computer), que tinha aproximadamente dois metros de altura e pesava trinta toneladas, ocupando 180 m², servia apenas para fazer cálculos e por isso o nome computador, que vem de computar, sinônimo de calcular. Quando foi acionado, seu consumo de energia foi tão intenso que as luzes da Filadélfia piscaram. 

Em, 29 de outubro de 1969 foi estabelecida a primeira conexão entre a Universidade da Califórnia e o Instituto de Pesquisa de Stanford, quando Ray Tomlinson, enviou o primeiro e-mail, estabelecendo um momento histórico mundialmente. Esse processo de informação virtual ganhou tamanha proporção possibilitando um protocolo que permitia qualquer tipo de computador se conectar à rede, chamado de TCP/IP (Transmission Control Protocol/ Internet Protocol), e essas redes conectadas entre si foram chamadas de internet. Essa tecnologia foi sendo compartilhada e interligando computadores, deixando de ser exclusividade da ARPA, e renomeada como Internet, a partícula de inter, que significa “entre dois”, uma relação recíproca, e net, rede, ou seja, uma rede de conexão mútua que acontece entre dois pontos. 

Somente em 1982, a internet recebeu sua primeira definição, sendo um conjunto de redes que utilizam o protocolo TCP/IP. Hoje, é entendida como uma rede mundial de computadores, dos tradicionais até os micros do porte de um PC, que segundo Thompson (1998), é uma rede que permite os computadores intercomunicarem-se através de linhas comuns de telefone, de linhas de comunicação privadas, cabos submarinos, canais de satélite e diversos meios de telecomunicação, uma rede de conexões global que permite o compartilhamento instantâneo de dados entre dispositivos.  

Ao longo do decenário de 1980, a internet foi se expandindo entre diversas instituições dos EUA e de outros países até que em 1984, o número de redes interligadas ultrapassou uma mil unidades, e o que antes parecia uma ficção cientifica dos filmes, tornou-se algo comum na rotina humana, e ao longo dessa década a internet foi se expandindo, até o ponto em que a pressão para que as empresas pudessem, também, estar conectadas à rede, trouxe para a década de 1990, o início de uma nova fase ou um novo mundo, quando a internet tornou-se aberta para uso comercial. 

Alguns estudiosos defendem que, depois da invenção do telefone em 1876, do rádio em 1898, da válvula a vácuo em 1906 e da televisão, a internet surgiu como um marco importante e decisivo na evolução tecnológica, pois conseguiu ultrapassar barreiras quando aproximou pessoas, culturas, mundos e informações. Sendo, hoje, utilizada no mundo todo, para diversão, comunicação, educação, informação, onde as pessoas já não conseguem imaginar a vida sem a internet. 

Segundo dados do IBGE, a internet está inserida em 90% dos lares brasileiros: Os dados, fazem uma descrição do uso de internet no Brasil, que em 2019 abrangia 84,0% dos lares, e no ano de 2021 aumentou para 90,0% dos domicílios. Na zona rural, a quantidade de domicílios com internet, entre os anos de 2019 e 2021, foi de 57,8% para 74,7%, enquanto na área urbana, ela subiu de 88,1% para 92,3%. Em 2021, o celular tornou-se o principal dispositivo, sendo utilizado em 99,5% dos domicílios, em segundo lugar, a televisão, em 44,4% dos domicílios, superando, pela primeira vez, o computador que caiu para 42,2%. Em 2021, pessoas com 60 anos ou mais de idade foi de 44,8% para 57,5%, entre 2019 e 2021. 

Diante desses dados, constatamos que o celular lidera o ranking de dispositivo mais usados pelas pessoas, ultrapassando a televisão, que caiu para o segundo lugar. Também, a conexão de internet por banda larga móvel perdeu espaço para a banda larga fixa, ou seja, cada vez mais o homem está inserido no mundo virtual, dependente de seus recursos, modificando e aprimorando suas conexões com as tecnologias.                

Segundo dados coletados entre os alunos da EMEF de Carapajó, no ano de 2023, cerca de 55% dos alunos possuem Wi-fi instalado em suas residências, e quando seu provedor de internet fica sem sinal, cerca de 30% buscam acesso nos roteadores próximos. Porém, 4% dos alunos usam sinal de internet somente de roteadores próximos, emprestam a senha do vizinho ou um familiar que mora próximo; alguns alunos que residem em áreas próximas a margem do rio, cerca de 5%, conseguem acessar a internet de dados móveis das operadoras de telefonia. Contudo, 6% ainda não possuem nenhum tipo de contato ou acesso à internet. 

A EMEF de Carapajó até pouco tempo funcionava alheia ao mundo virtual, e muitos professores nem possuíam computador, pois sem conexão com a internet, realmente não ajudava muita coisa para organizar metodologias interativas, seu uso ficava restrito a digitar apostilas. Porém, assim como a internet passou por todo seu processo evolutivo até alcançar à proporção que tem hoje, a escola de Carapajó, também, está escrevendo seu processo evolutivo, entre erros e acertos, mas aos poucos está ajustando as coisas. Nota-se professores mais próximos das tecnologias, aulas mais interativas, mesmo com recursos tecnológicos bem reduzidos, alunos começam entender a importância de as tecnologias serem inseridas na aprendizagem, a gestão está mais atenta as demandas e solicitações da escola, ou seja, o processo evolutivo está acontecendo, ainda não acompanha o mundo lá fora, mas caminha nessa direção, na intenção de assegurar um ensino de qualidade. 

A internet é parte ativa da vivência diária da maioria das pessoas, seja para trabalhar, pesquisar, jogar, interagir, comunicar ou acessar informações. Diante de tantos recursos e atrativos já é impossível pensar a vida sem ela, e por isso, é preciso o uso responsável da mesma, pois ela pode significar tanto crescimento e aprimoramento cognitivo, como, também, pensamentos alienados e fechados, dentro de um universo vasto de recursos e conhecimentos. 

INCLUSÃO DIGITAL

Inclusão digital: socialização e oportunidades, trata de uma discussão sobre a relação do homem com a tecnologia e a importância da inclusão digital para proporcionar oportunidades e desenvolvimento do homem em sociedade, subsidiado por alguns teóricos como: Castells e Cardoso (2005); Silveira (2001); Lemos (2007) e dados da ONU. 

Ensino e aprendizagem na era digital, traz uma discussão sobre a reorganização do conhecimento com a inserção da internet e suas tecnologias na atual geração, que se mostram multifuncional diante de tantas informações e recursos digitais que ficam disponíveis ao alcance do homem, subsidiado com alguns teóricos como: Levy (1981); Lemos (2002); Guimarães Junior (1997); Delors (2001). 

A revolução tecnológica que o mundo vive desde a disseminação da internet tem sido palco das consideráveis transformações que o homem conquistou, onde as Tecnologias da Informação e a Comunicação (TICs) proporcionam muitas possibilidades de acesso à informação, redução de custos trabalhistas, mais conectividade entre as pessoas mesmo estando distante. Contudo, essa construção digital não está acontecendo de forma igualitária para todos, de acordo com Castells e Cardoso (2005), as TICs surgiram nos anos 1960 e se propagaram de forma desigual pelo mundo todo, uma vez que, a sociedade apresenta uma considerável desigualdade de acessos, levando em consideração as condições sociais, pois mesmo que em quase a maioria os lares possuam um smartphone para acessar a internet, mas não é recurso suficiente para deixar esses lares literalmente conectados ao mundo digital.  

Até 2021 a EMEF de Carapajó, não possuía acesso à internet, pois fica afastada do centro urbano, às margens do Rio Tocantins, e somente o sinal de Wifi consegue interligar as pessoas que aí moram com o restante do mundo. Essa realidade dificulta muito a conexão com o mundo virtual e todos seus benefícios. E, a partir do momento que existe uma partilha desigual de acessos digitais está acontecendo a exclusão digital, que é a desigualdade de acessos à Internet e às TICs, por não proporcionar os mesmos recursos de forma igual para toda a sociedade. Segundo Silveira (2001, p.18): 

[…] a exclusão digital impede que se reduza a exclusão social, uma vez que as principais atividades econômicas, governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade vão migrando para a rede, sendo praticadas e divulgadas por meio da comunicação informacional. Estar fora da rede é ficar fora dos principais fluxos da informação. Desconhecer seus procedimentos básicos é amargar a nova ignorância.  

Essa situação ficou bastante evidente no período em que o mundo passou pela pandemia da COVID-19, onde o isolamento social era crucial para evitar a disseminação do vírus, e com isso precisou-se estudar, trabalhar, conversar, negociar e interagir sem contato físico, dando prioridade para as práticas via internet. A maioria dos alunos da EMEF de Carapajó, não conseguiram acompanhar as aulas virtuais e as atividades on-line, por dois principais motivos,  o primeiro é a falta de conhecimento em acessar links e plataformas e o segundo foi a escassez de tecnologias, pois a maioria das famílias possuem acesso à internet, mas não possuíam aparelhos tecnológicos suficientes para atender a demandas das aulas e atividades que as crianças necessitavam, uma vez que, a maioria das famílias, por possuírem pouco poder aquisitivo, dispunham de um único aparelho de celular para uso geral da família. 

Fato que levou muitos alunos da EMEF de Carapajó a não conseguirem acompanhar o ritmo as aulas virtuais e optavam por materiais impressos, muitos pais precisaram voltar paras as ruas, em meio à pandemia, para trabalhar porque não sabiam e ou não tinham acesso ao comércio virtual, da mesma forma que muitas pessoas acabaram desenvolvendo ansiedade ou depressão por conta do isolamento. Enquanto, por outro lado, havia uma parcela que disponibilizava de tantos recursos e acesso digitais que conseguiu até mesmo expandir seus negócios e realizar cursos EAD, se aperfeiçoando ainda mais para o mercado de trabalho. 

A EMEF de Carapajó não é muito diferente dos seus alunos, pois é uma escola de grande porte, mas com poucos investimentos em tecnologias, as salas ainda dispõe somente de carteiras, quadro, alunos e docentes e quase nada de tecnologia digital disponível para auxiliar a aprendizagem, para não resumir a nada os recursos tecnológicos, a escola possui um único aparelho de datashow para a escola toda, que precisa agendar seu uso, pois a escola possui dezesseis  salas de aula funcionando simultaneamente e às vezes as escolas vizinhas vem emprestar para usarem nas suas aulas. 

Segundo Silveira (2005) e Madon et al. (2009) as diferenças nos níveis de conhecimentos sobre as TICs pode acontecer em consequência da capacidade de integração aos subsídios tecnológicos, recorrentes da situação social, política, institucional e cultural onde o indivíduo está inserido, ou seja, a EMEF de Carapajó ainda caminha a passos lentos rumo às aulas mais interativas e tecnológicas por conta de pouco recurso tecnológico disponível, tanto pelos alunos, como pela escola, e a falta de treinamento para o uso das tecnologias em sala de aula, como também, propostas pedagógicas direcionadas ao seu uso. 

A distribuição desigual das TICs consolidou uma nova classificação social para o mundo moderno, dando origem a divisão digital, que é a mais recente forma de estereotipar as classes sociais entre os incluídos e excluídos digitais, partindo da verificação de familiaridade e tecnologias de acesso aos recursos digitais (Teixeira, 2001; Bucci, 2009). As desigualdades econômicas acabam criando um abismo tecnológico entre o homem e o universo digital, além de ficar excluído dos recursos digitais, limita a probabilidade de evolução e conexão com as sociedades em si. Essa disparidade tecnológica, também, cria um abismo distinto entre muitos países, possibilitando que uns evoluam mais que os outros, acentuando ainda mais o conceito de incluídos e excluídos digitais, culminado em mais uma forma de exclusão social. 

O avanço da tecnologia proporciona a possibilidade de ser conectado, em qualquer lugar onde deseja, sem obrigatoriedade de uma estrutura física conectada a cabos e fios, pois um smartphone e uma conexão via Wifi traz o mundo na palma das mãos em questão de segundos, o homem vai a qualquer lugar, busca as informações que deseja e interage com outras pessoas. Porém, para isso acontecer de forma democrática é necessário que a internet e as TICs sejam recursos corriqueiros no cotidiano do ser humano, de modo geral, o que ainda não acontece na realidade, o que acaba construindo um processo sem linearidade, onde uns dominam mais e outros menos, os recursos tecnológicos. 

A sociedade moderna é totalmente dependente da tecnologia e seus recursos. Portanto, a inclusão digital precisa ser pauta principal das ações governamentais e privadas, para assegurar que todos participem, contribuam e se beneficiem do mundo digital com todos seus recursos, mesmo que ainda exista aqueles que dizem não precisar das tecnologias, mas são necessárias e imprescindíveis para a qualidade de bem-estar do homem. 

Quanto a estar conectado com a tecnologia, a pesquisa TIC Domicílios aponta: 

82% das escolas brasileiras têm acesso à internet, enquanto nos domicílios esse percentual é de 83%. A pesquisa revela também que a utilização de plataformas para atividades pedagógicas nas escolas em áreas urbanas aumentou de 22% em 2016 para 66% em 2020. Contudo, o percentual de escolas com acesso à internet não é uniforme pelas regiões. No Norte, por exemplo, só 51% das instituições de ensino estão conectadas, enquanto no Centro-Oeste esse percentual sobe para 98%. (https://fia.com.br/blog/ inclusaodigital)   

A construção do saber deve partir de situações e experiências diárias de cada indivíduo envolvido no processo, e por isso prepara o indivíduo para a vida, segundo Paulo Freire (1991). seguindo essa reflexão, é necessário a inclusão digital escolar, assim, estar em consonância ao que a criança vive fora da escola e facilitar o entendimento. O acesso digital deve ser tratado como política pública, considerando que a sociedade vive a plena transformação digital e tudo transpassa por ela. 

A inclusão digital é uma questão de estratégias que precisam ser entrelaçadas e propagadas ao alcance de todos, para garantir  acesso à internet de qualidade e recursos tecnológicos, o primeiro já vem sendo fornecido parcialmente pelo governo e instituições privadas quando disponibilizam acesso à internet gratuito nas instituições de ensino e ambientes de trabalho, mas com relação aos meios de acesso ainda é uma barreira em decorrência de valores monetários, pois uma grande parcela da população não  possui recursos financeiros para adquiri. Um dos principais objetivos da inclusão digital é garantir que pessoas com pouco poder aquisitivo, idosos e PCDs (Pessoas com deficiências) não fiquem alheias ao mundo digital, garantindo seus direitos de estarem conectados. 

O Brasil precisa de políticas públicas que garantam o acesso digital de qualidade para a população em si e assim, assegurar seu pleno desenvolvimento social e tecnológico. Lemos (2007, p.16) defende que: 

A grande questão reside em como lidar com a exclusão digital existente no país, como o Brasil, que conta com altos índices de pobreza e analfabetismo. É certo que a pobreza e o analfabetismo se constituem como problemas que precisam ser sanados com urgência. Mesmo assim, não há como pensar a exclusão digital em segundo plano, visto que o desenvolvimento das tecnologias se dá cada vez mais rapidamente e o abismo existente entre incluídos e excluídos tende a aumentar.  

A inclusão digital depende da democratização do acesso à informação, para que todos tenham as mesmas oportunidades independente de classe social.Os recursos tecnológicos são importantes ferramentas que podem contribuir para a diminuição da pobreza e do analfabetismo, pois em meio a uma sociedade onde a maioria das crianças e jovens não despertaram o gosto pela leitura, ou melhor dizendo não se sentem atraídas pelos livros impressos, a internet e suas redes sociais surgem como estopim motivador, pois é um lugar onde a leitura acontece a todo momento, desde a conexão até as informações ali contidas, ou seja, as crianças nunca leram tanto quanto leem em seus acessos virtuais, por se tratar de um lugar cheio de recursos visuais e auditivos somados a palavra impressa.

A ONU recomenda que os governos e os setores de tecnologias devem criar estratégias para que os recursos e benefícios digitais sejam ampliados a todos, principalmente, às pessoas em situações maior vulnerabilidade, destacando que: 

“.. não devemos deixar ninguém para trás – online ou offline”, eles recomendaram que as plataformas devem ser inclusivas, envolvendo as pessoas no local e aumentando o investimento nos países menos desenvolvidos do mundo. Ao mesmo tempo, os estados também devem manter sua obrigação de promover e proteger os direitos humanos. Por exemplo, iniciativas para regular os espaços online devem ser “baseadas em padrões de direitos humanos (https://brasil.un.org/pt-br).  

A inclusão digital é essencial para assegurar o acesso à tecnologia e os serviços digitais, independente de classe social, para proporcionar mais oportunidades de desenvolvimento econômico, social, político, cultural e educacional. Porém, é preciso cuidar para não agravar a situação de desigualdades, já que nossa sociedade ainda não está totalmente conectada ao mundo digital, e isso pode limitar as possibilidades de aprendizado e informação de uma demanda de pessoas, o que vai refletir negativamente no desenvolvimento geral do país e do mundo. A Inclusão Digital é uma forma de garantir a todas as pessoas acesso ilimitado ao mundo tecnológico, e principalmente o discernimento de usar com responsabilidade e de maneira eficiente, proporcionando o desenvolvimento econômico, social e político do Brasil, e assim tornar-se um elo importante na economia mundial. 

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Formação de professores e o uso das tecnologias no trabalho docente, enfatiza uma discussão sobre o diferencial de um professor capacitado para lidar com a internet e suas tecnologias dentro da construção do conhecimento, fazendo diálogo com alguns autores como: Barreto (2004); Moran (2006); Arruda (2013). 

O educador na escola do campo e sua relação com os recursos tecnológicos, abre um diálogo sobre o professor que trabalha em escolas afastadas da zona urbana e as dificuldades quanto ao uso dos recursos tecnológicos, dialogando com: Caldart (2002) e enfatizando algumas leis que asseguram o processo de ensino e aprendizagem nas escolas do campo. 

Uma formação adequada aos professores é essencial para garantir o uso adequado dos recursos tecnológicos em sala de aula, viabilizando maior domínio e possibilidades de explorar a tecnologia dentro da educação. A escola já vive a transformação digital dentro do processo de ensino e aprendizagem e os educadores precisam estar preparados, pois já é consenso entender a tecnologia digital como um elemento essencial para a formação docente. Para Barreto (2004, p. 1.182): 

Essa presença tem sido cada vez mais constante no discurso pedagógico, compreendido tanto como o conjunto das práticas de linguagem desenvolvidas nas situações concretas de ensino quanto as que visam a atingir um nível de explicação para essas mesmas situações. Em outras palavras, as TIC têm sido apontadas como elemento definidor dos atuais discursos do ensino e sobre o ensino, ainda que prevaleçam nos últimos. 

As inovações tecnológicas dentro do processo de ensino e aprendizagem consolidaram-se com o passar dos anos, mas ainda é possível encontrar professores presos a práticas tradicionais e ultrapassadas, por isso, é preciso investir em qualificação da mão de obra docente, porque quem vive o contato direto com os alunos são os professores. Moran (2006, p. 49), entende que: 

Nosso desafio maior é caminhar para um ensino e uma educação de qualidade, que integre todas as dimensões do ser humano. Para isso precisamos de pessoas que façam essa integração em si mesmas no que concerne aos aspectos sensorial, intelectual, emocional, ético e tecnológico, que transmitem de forma fácil entre o pessoal e o social, que expressem nas suas palavras e ações que estão sempre evoluindo, mudando, avançando.  

A chegada da internet na EMEF de Carapajó não mudou somente a vida dos alunos, mas também dos professores, que numa fração de segundos se viram diante do mundo digital inserido em sua sala de aula, que antes ficava limitada as quatro paredes físicas, e agora o aluno consegue buscar na internet informações além das paredes de sala de aula, que de repente pode ser surpreendido com algum questionamento além do seu contexto, e o mesmo tenha dificuldades para responder naquele momento, sem falar das possibilidades de recursos digitais que podem ser aproveitadas para melhorar a qualidade do ensino, já que, o universo digital é cheio de recursos visuais, auditivos e informativos.  

A EMEF de Carapajó, ainda está se adaptando aos recursos da tecnologia, já pudemos observar professores inserindo recursos tecnológicos, metodologias com aplicativos virtuais, abordagens com recursos audiovisuais, incentivo as pesquisas virtuais, o uso do celular como instrumento auxiliador para resolução de atividades e pesquisas virtuais sobre o assunto que foi trabalhado em sala de aula, o que reforça a discussão de Severino e Pimenta (2011, p. 16) quanto ao trabalho docente que “[…] está impregnado de intencionalidade, pois visa à transformação humana por meio de conteúdos e habilidades, de pensamento e ação, que implica em escolhas, valores, compromissos éticos” 

Libâneo (2010) descreve o trabalho docente como uma atividade essencialmente social, que colabora para o desenvolvimento cultural e científico da sociedade, tornando-se indispensáveis para as novas conquistas democráticas. O que reforça a teoria de Paulo Freire quando defende que o trabalho docente não acontece em um contexto de neutralidade, porque ele precisa estar intencionado à realidade que circunda o aluno, aproveitar seus valores e costumes para significar a aprendizagem, de forma crítica e transformadora. 

A preparação de professores para utilizar as tecnologias digitais não tem sido uma prioridade educativa, uma vez que, a maioria das faculdades ainda não trabalham o uso das tecnologias em suas grades curriculares, no entanto, o professor precisa preparar seu aluno para lhe dar com essas tecnologias, ou seja, o professor, em sua formação, aprende todos os conhecimentos pedagógicos necessários e chega ao mercado de trabalho cercado de uma base cognitiva muito boa, mas em sua maioria não possui noções de educação digital, que é a base para o ensino dessa nova geração. O desafio é bem maior, quando se trata de professores, que já atuam há muitos anos em sala de aula com metodologias tradicionais e têm dificuldades em abraçar as transformações tecnológicas, alguns até querem se adaptar as novas tecnologias, mas não sabem como fazê-lo; outros sentem-se ameaçados, já que, implica nas metodologias que estão acostumados a trabalhar. 

As mudanças difundem em um processo complexo que precisa ser trabalhado conjuntamente, objetivando melhorar o ensino-aprendizagem, mas para isso acontecer de maneira eficaz é preciso que toda comunidade, desde a família até o governo, desempenhe seu papel com excelência, proporcionando o suporte necessário, pois só o professor não irá conseguir desempenhar todos os papéis na vida da criança. O aluno, também, pode ser protagonista do seu processo de aprendizagem, quando usa a internet como aliada na busca de conhecimento, da mesma forma que o professor está aberto à novas práticas metodológicas, que facilitam a compreensão dos alunos. 

A escola precisa assumir o papel de conscientizadora dessa transformação, que não veio para ameaçar ninguém, mas para ampliar os horizontes e potencializar ainda mais o ensino. 

Pretto (2002, p.126), afirma que “precisamos de professores bem pagos, com escolas bem equipadas e, principalmente, conectadas, para, em rede, articulandonos uns com os outros, montarmos uma verdadeira cruzada de transformação radical da educação em nosso país”. A vida do professor é sempre sobrecarregada e cansada, pois muitos precisam trabalhar em várias escolas para conseguir um padrão de vida melhor, e em sua maioria, são profissionais que se sentem desvalorizados, pois até sua formação e qualificação, estes precisam custear, se quiserem estar sempre antenados a atualidade. 

Os professores que compõem o quadro funcional da EMEF de Carapajó, são professores licenciados em suas áreas específicas de atuação e com especialização, alguns com várias especializações dentro e fora da sua área de atuação, norteados pela necessidade de conhecimento que vão surgindo na vivência escolar, um exemplo, são professores dessa instituição de ensino possuírem especialização na área de inclusão escolar, induzidos pela necessidade de conhecer melhor como lhe dar com os alunos PCDs, pois são professores abertos a novos conhecimentos e preocupados com a qualidade do ensino que proporcionam em sala de aula. Essa instituição de ensino possui um quadro de professores graduados e especializados, com mão de obra qualificada, que não se acomoda diante das dificuldades, ao contrário, buscam conhecimento para melhorar sua prática pedagógica. Com a chegada da internet, muitos professores passaram a buscar informações e cursos para começarem inserir a internet como instrumento pedagógico. 

A necessidade de estar em constante atualização remete a necessidade do processo de formação continuada ou permanente, que Paulo Freire (2011, p. 40) defende ao dizer que: 

[…] reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. […] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de porque estou sendo assim, mas me torno capaz de mudar, de promover-me, no caso de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica.  

A conscientização dos professores é muito importante, assim como valorizálos, melhorar a infraestrutura da escola e construir um planejamento mais inclusivo. A formação continuada, coloca o professor de volta à posição de aluno, na perspectiva de estar sempre antenado as transformações que o mundo vivencia, pois conforme Tardif e Lessard (2009) o trabalho docente acontece num contexto de interações humanas, sobre seres humanos, com seres humanos e para seres humanos, fazendo retornar para si a humanidade de seu objeto. 

Para Lévy (2001) é preciso olhar o hoje com os olhos do mundo de amanhã. O mundo, querendo ou não, vive um constante processo de evolução, e é nessa perspectiva que a educação, também deve caminhar. O papel do professor sempre será de extrema importância, pois mesmo com tantos avanços científicos e tecnológicos, é importante frisar que as novas tecnologias não mudam e nem mudarão o mundo sozinhas, elas dependem de quem as usa e de como são usadas. 

Libâneo (2010, p. 28) afirma que “a formação profissional do professor implica, pois, uma contínua interpenetração entre teoria e prática, teoria vinculada aos problemas reais postos pela experiência prática e ação prática orientada teoricamente. O autor ainda defende que: 

A formação profissional para o magistério requer, assim, uma sólida formação teórico-prática. Muitas pessoas acreditam que o desempenho satisfatório do professor na sala de aula depende da vocação natural ou somente da experiência prática, destacando-se a teoria. É verdade que muitos professores manifestam especial tendência e gosto pela profissão, assim como se sabe que mais tempo de experiência ajuda no desempenho do profissional. Entretanto, o domínio das bases teórico científicas e técnicas, e sua articulação com as exigências concretas do ensino, permitem maior segurança profissional, de modo que o docente ganhe base para pensar sua prática e aprimore sempre mais seu trabalho (Idem, 2010, p. 28)  

Sob essa ótica, o autor enfatiza a necessidade de professores com formação adequada que atenda as exigências educacionais da instituição de ensino onde trabalha, pois a realidade onde a escola está inserida exige um prévio conhecimento do professor para que este saiba lhe dar com sua clientela e consiga desenvolver um trabalho significativo, partindo da realidade do aluno, uma vez que, não basta ter somente apreço pela profissão, mas formação vinculada e orientada na construção de um processo de ensino e aprendizagem significativo. 

Entender que a formação do professor é um elemento determinante para o desenvolvimento do trabalho do professor, também seria importante repensar os cursos de formação de professores, com menos discurso teórico e mais práticas contextualizadas, pois a realidade do contexto educacional é bem diferente das que as teorias idealizam, principalmente quando se trata de escolas distantes dos centros urbanos, onde as dificuldades se multiplicam e exigem mais dedicação e empenho do professor em garantir que aquele aluno consiga estudar e chegar ao mercado de trabalho bem preparado e qualificado. 

PESQUISA E COLETA DE DADOS

Delineamento da pesquisa, que apresenta o modelo estruturado para chegar ao resultado final da problemática apresentada; participantes da pesquisa, uma amostra de 150 alunos do fundamental II e 07 professores para a entrevista; instrumentos de coleta de dados, onde enfatiza a entrevista semiestruturada e a observação do ambiente escolar; coleta e análise de dados, onde trata dos dados coletados e o processo de análise dos mesmos; entrevista com os alunos, delineando a relação deles com o objeto de pesquisa; observação do ambiente escolar, onde busco registro da estrutura onde os dados foram coletados; Entrevista com os professores, registro e coleta de informações com os agentes diretos que mediam o processo  de ensino e aprendizagem. 

Essa pesquisa segue o modelo de pesquisa descritiva de campo, que Gonsalves (2001, p. 67) entende que: 

As pesquisas de campo é o tipo de pesquisa que pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada. Ela exige do pesquisador um encontro mais direto. Nesse caso, o pesquisador precisa ir ao espaço onde o fenômeno ocorre, ou ocorreu e reunir um conjunto de informações a serem documentadas […]. 

Essa pesquisa, também, tem um caráter qualitativo por primar pela qualidade das informações e a interpretação dos dados coletados com as pessoas, através de um questionário com perguntas semiestruturadas respondidas diretamente pelos entrevistados. 

A pesquisa teve como participantes alunos regularmente matriculados na EMEF de Carapajó, no ano de 2023, sendo 150 alunos do fundamental II, para investigação do meio de acesso à internet que possuem fora do ambiente escolar. A escolha desses alunos foi em decorrência da idade e da habilidade em lidar com o uso da internet, pois como são maiores, já possuem um certo esclarecimento sobre o uso da internet e seus recursos digitais. 

Foram selecionados 07 professores que atuam na EMEF de Carapajó há mais de dez anos consecutivos, que conhecem e vivenciam bem a realidade dessa instituição de ensino. A escolha dos professores que atuam na escola há mais de dez anos, é justamente, para coletar dados que comprovem o processo evolutivo que a escola sofreu ao longo dos anos, considerando o antes e depois da chegada da internet dentro do ambiente escolar. A participação dos alunos regularmente matriculados no ensino fundamental II dessa instituição de ensino foi imprescindível para investigar de que forma conseguem acesso à internet no seu convívio social e escolar. 

As características do modelo de pesquisa aqui adotado, remete a uma coleta de dados incialmente por meio da observação do ambiente escolar onde a chegada da internet influenciou e ainda influencia bastante nas práticas pedagógicas dos professores diante de novas possibilidades de desenvolver o processo de ensino e aprendizagem com os alunos, na busca de um ensino mais significativo à realidade em que estão inseridos. A observação torna-se importante para esclarecer e buscar entendimento da realidade concreta do cotidiano a partir do entendimento de quem está pesquisando, que Fraisse entende que: 

A observação em todas as suas formas terá sempre um papel importante, mas será tanto menos contestável quanto ela seja considerada como um momento da ‘demarche’ experimental à qual nós temos que limitar sempre que a natureza dos factores ou as exigências morais impedirem o recurso à experimentação. Esta última permanece o ideal do cientista uma vez que nós não conhecemos adequada e exaustamente um facto a não ser quando somos capazes de o reproduzir. Nesse momento a ciência pode não apenas predizer os fenômenos, mas também chegar às aplicações científicas propriamente ditas. (FRAISSE, 1936 in Paúl, 1985, p. 18)  

A observação é um instrumento de coleta de dados muito rico em verificar detalhes, que segundo Paúl (1985, p. 17) está se reconfigurando de “condição de momento do método experimental” para “método de direito próprio”, em detrimento ao uso de registro de vídeos, filmagens, gravações de áudios atrelados a meios de registro e análise dos dados levando a situações de comportamentos exaustivos e rigorosos dos comportamentos. 

Então, surge a necessidade de abordar o uso de entrevista descritiva de cunho qualitativo, onde o pesquisador tem um contato mais próximo com o entrevistado, podendo observar suas reações e posicionamentos diante das perguntas propostas para investigação da problemática, uma vez que, “os dados recolhidos são designados por qualitativos, o que significa ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico”. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 16) 

A abordagem qualitativa é também caracterizada como naturalista, “[…] porque o investigador frequenta os locais em que naturalmente se verificam os fenômenos nos quais está interessado, incidindo os dados recolhidos nos comportamentos naturais das pessoas” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 17). A investigação qualitativa, segundo Bogdan e Biklen, originou nas práticas de observação, onde “[…] alargou-se para comtemplar uma metodologia de investigação que enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada e o estudo das percepções pessoais” (1994, p. 11), ou seja, é uma metodologia que assume diversas formas de investigação com a finalidade de buscar as respostas necessárias ao objeto em estudo e ou investigação. 

METODOLOGIA

Os procedimentos de coleta dos dados foram explanados em quatro etapas descritas a seguir: 

Observação do ambiente escolar  

A observação do ambiente escolar serviu de embasamento para analisar e registar o suporte estrutural que alunos e professores dispões para desenvolver o processo de ensino e aprendizagem no decorrer das aulas. Constatar se a referida escola dispõe mesmo de distribuição de internet suficiente para comtemplar o corpo discente, docente, apoio e administrativo da escola. 

Verificar, também, se a escola dispõe de recursos tecnológicos que professores e alunos possam utilizar em suas aulas para aplicação de metodologias mais dinâmicas e interativas conectadas ao universo digital. 

Entrevista com os alunos  

A primeira etapa compreende a investigação com os alunos para certificar até que ponto, estes considerados uma geração de nativos digitais, estão conectados com a internet dentro e fora do ambiente escolar. Para a realização dessa investigação, foi necessário, com a autorização do diretor da instituição de ensino, reservar um tempo de aproximadamente 20 a 30 minutos de cada aula minha, uma vez que, sou lotada nas 11 turmas do ensino fundamental II, dessa escola e aproveitei para coletar as informações necessárias, com os alunos, para essa pesquisa. 

Entrevista com os professores 

A entrevista com os professores selecionados para a coleta de dados discorreu por meio de um questionário semiestruturado, que foi enviado via WhatsApp, para os mesmos, conforme eles solicitaram, pois entenderam ser a melhor maneira, pois assim teriam mais tempo e privacidade e autonomia para lerem e responderem as perguntas de acordo com o que foi proposto e acrescentar algo, caso entendam que seja necessário.   

RESULTADOS E DISCUSSÕES   

Nesse capítulo, chego ao desafio de refletir e analisar acerca dos dados coletados, na busca de respostas das possíveis reconfigurações metodológicas que o processo de ensino e aprendizagem sofreu com a chegada da internet no ambiente escolar da EMEF de Carapajó. Como já foi mencionado anteriormente, os professores selecionados para coleta de dados dessa pesquisa, foram aqueles com pelo menos dez anos de serviço nessa escola, para garantir a veracidade dos dados coletados a partir da experiência de trabalho antes e depois da chegada da internet na EMEF de Carapajó.. 

O primeiro passo foi identificar a faixa etária de idade dos entrevistados, uma vez que, há a necessidade de entender o contexto social que o professor viveu e vive ao longo da sua jornada docente dentro do processo de ensino e aprendizagem com a chegada da internet na escola. 

A idade média de idade dos informantes, que ficou numa faixa etária entre 37 e 49 anos, ou seja, são professores com experiências de trabalho já com bastante tempo. Dos sete profissionais entrevistados, quatro deles são vinculados a outras instituições de ensino, uma possui duplo vínculo na mesma escola e dois possuem um único vínculo de trabalho, o que nos mostra que esses profissionais são atuantes no mercado de trabalho. 

 Quanto a área de formação e o grau de escolaridade de cada um e obtive: um informante licenciado em letras/ português e pedagogia; um informante licenciado em letras/ português; dois licenciados em matemática; um licenciado em educação física; um licenciado em geografia e pedagogia; um licenciado em Biologia e Química; e todos com cursos de especialização nas suas respectivas áreas de atuação, ou seja, mão de obra qualificada para trabalhar e aperfeiçoar o processo de ensino e aprendizagem nessa instituição de ensino. 

Contudo, existem situações que os cursos específicos das áreas afins, não ensinam ao professor, e atualmente uma das principais dificuldades está em saber lidar com os recursos tecnológicos, em meio as práticas pedagógicas. 

Os dados coletados mostram que 29% dos informantes se sentem seguros para trabalharem com recursos tecnológicos durantes suas aulas, enquanto 71% admitem que não se sentem seguros, pois sabem lidar mais ou menos com esses recursos. Porém, um dos informantes que afirmou saber lidar com esses recursos dentro da sala de aula, mais adiante admite que: 

sim, me sinto segura em usar, mas às vezes tenho algumas dificuldades, algumas coisas que ainda não tenho conhecimento na área da internet, né, aí, tem uma pessoa na escola que ele é técnico em informática, mas ele trabalha como agente administrativo, aí ele sempre me auxilia nas dificuldades que eu tenho (Informante 07)  

Em contraposição, o Informante 5, quanto ao uso dos recursos tecnológicos em suas aulas, respondeu: “não me sinto seguro para lidar com os recursos virtuais e tecnológicos dentro das minhas práticas pedagógicas, porque não tenho conhecimento suficiente até o momento para usar as várias tecnologias que existem e que podem serem usadas em sala de aula.”. Isso nos mostra que, o universo tecnológico é cheio de novidades, que mesmo quando nos sentimos preparados, mas ainda precisamos de ajuda em algumas situações, ou seja, a construção do ensino é uma via de mão dupla, pois sempre vamos precisar de ajuda, principalmente quando se trata desse universo digital. 

Nas últimas décadas estamos vivenciando mundialmente, de forma intensa e avassaladora, a expansão da internet e inserção das tecnologias digitais em todos os setores sociais, políticos, econômicos, culturais e educacionais. Essas mudanças constituem uma nova bagagem de valores e costumes que remetem o homem a uma nova realidade. Dos professores entrevistados apenas dois afirmaram sentirem-se seguros quanto ao uso das tecnologias em sala de aula, enquanto os demais assumem que precisam de mais habilidades para lidar com isso dentro da sala de aula, porque essa cultura digital que rege o mundo hoje, é bastante complexa, por estar sempre em evolução Para Silveira (2009, s/p) a cultura digital é a realidade de uma mudança de era que: 

como toda mudança, seu sentido está em disputa, sua aparência caótica não pode esconder seu sistema, mas seus processos, cada vez mais autoorganizados e emergentes, horizontais, formados como descontinuidades articuladas, podem ser assumidos pelas comunidades locais, em seu caminho de virtualização, para ampliar sua fala, seus costumes e seus interesses. A cultura digital é a cultura da contemporaneidade.  

Contudo, é importante ressaltar que a EMEF de Carapajó é uma escola que fica localizada na zona rural do município de Cametá, e por isso só recentemente conseguiu estar conectada à internet e seus recursos. E antes da chegada da internet os professores trabalhavam em sala de aula com os recursos que a escola disponibilizava ou custeavam com seus próprios recursos, e quando os informantes foram questionados sobre quais recursos usavam antes da escola ter acesso direto com a internet, eis que os recursos citados pelos entrevistados foram: 

Diante dessas metodologias usadas pelos professores, antes da chegada da internet na escola, a metodologia mais usada, com 34%, era copiar os assuntos no quadro, seguida de 22% de uso de apostila e livro didático, e 11% de uso de cartazes e vídeos baixados no computador do professor e socializado com os alunos em sala de aula. O que se observa é que o ensino ficava muito limitado a recursos e metodologias repetitivas que pouco transcendia as quatro paredes da sala de aula, ou seja, o professor passava o conteúdo, explicava, socializava e por fim trabalhava um exercício de fixação, pois como os recursos didáticos eram muito limitados e o acesso à internet não existia, os trabalhos de pesquisa e produção extraclasse ficavam muito complicados de serem trabalhados. 

A localização da EMEF de Carapajó é um fator que influenciou bastante para que o ensino ficasse muito restrito a essas metodologias repetitivas, por se tratar de uma escola afastada da zona urbana, mas que é importante ressaltar, se tratar de uma região, que é o principal acesso de entrada e saída do município de Cametá, mas isso não traz muitos investimentos por parte da administração pública. A questão é que, a EMEF de Carapajó precisou de quase quarenta anos de existência para só recentemente começar interagir em meio aos recursos digitais, que a chegada da internet proporcionou, e a questão é que, os professores sempre estiveram firmes no proposito de garantir um ensino de qualidade dentro das suas possibilidades, o que reforça as palavras de Paulo Freire (1996, p. 14) quando ele diz que: 

O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. Uma de suas tarefas primordiais é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que se “aproximar” dos objetos cognoscíveis. E essa rigorosidade metódica não tem nada que ver com o discurso “bancário” meramente transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo. É exatamente nesse sentido que ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprende criticamente é possível.  

A chegada da internet, na EMEF de Carapajó, logo de imediato transformou completamente a vivência e a forma de se relacionar, o que se trata de um processo natural frente as transformações que o homem vive a todo momento, mesmo que o ambiente possua pouco ou nenhum aparelho tecnológico, mas a vinda da internet instintivamente os traz para dentro do seu ambiente, por exemplo, sem acesso a internet a quantidade de celulares eram mínimas dentro da escola, mas o acesso livre fez com que a maioria dos alunos começassem trazer os aparelhos para a escola. Os professores foram questionados quanto as mudanças que sua vida docente e suas práticas pedagógicas sofreram com a chegada da internet na escola, e as respostas mostram que, cada um possui uma forma de interpretar as mudanças que a chegada da internet na escola causou. 

O professor é o principal mediador do conhecimento, precisa estar sempre se reinventando, principalmente diante de tanta tecnologia e transformação, pois mesmo com as transformações sociais, sempre será necessário a presença de um professor para mediar a relação do aluno a aprendizagem, sendo assim, Paulo Freire já defendia que: “O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens, não podemos começar por alienálos ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens” (FREIRE, 1996, p. 43), e esse papel de mediador é onde o professor, ao se adaptar à realidade e as transformações, está buscando subsídios para construir um ensino significativo e libertador, levando o aluno se perceber como um ser integrante da sociedade e que o universo do conhecimento parte da sua realidade, onde está inserido. 

Até aqui falou-se bastante sobre o aluno, sobre o professor, sobre a internet, sobre os recursos tecnológicos, mas, e a escola? A EMEF de Carapajó, diante da chegada da internet na escola, organizou um plano de ensino, uma proposta pedagógica para preparar os professores a lidar com a internet no ambiente escolar? E a resposta entre os entrevistados foi unanime, resumida em uma fala recorrente: “O papel da escola mediante a internet é preparar a sua clientela para o manuseio das ferramentas tecnológicas e fazer bom uso dessas ferramentas. Na minha escola não houve esse preparo”.  Em uma das falas: 

“Verdade, cada professor busca esse conhecimento por si só, ainda não teve, assim… um planejamento, um curso pra instruir, né, cada professor busca esse conhecimento por si só, né, cada um da sua forma, uns fazem cursos, outros vão aprendendo aos poucos com a própria internet”  

Essas informações nos mostram, que se trata de uma situação que não é particularidade somente da EMEF de Carapajó, mas que muitas escolas vivenciam, pois construir um panejamento com propostas e metodologias para o uso da internet direcionado ao processo de ensino e aprendizagem vai exigir um ambiente com suporte tecnológico para atender as necessidades dos alunos e assim possibilitar trabalhos e atividades diretamente conectadas aos recursos que a internet dispõe. Saber que o professor trabalha em uma instituição onde ele precisa custear um curso de informática na busca de conhecimentos tecnológicos para trabalhar com seus alunos em sala de aula, é mais uma situação reforçando o pensamento de que o sistema educacional brasileiro ainda precisa evoluir bastante e criar políticas públicas voltadas para a qualificação da mão de obra de quem atua e direciona diretamente o processo de ensino e aprendizagem. 

Ainda sobre suporte pedagógico, o informante 5 disse que: 

“na minha opinião, a gestão da escola, fez esforços para que a internet chegasse na mesma, seja essa internet via particular ou pública; com relação a plano de ensino o mesmo foi montado na semana pedagógica da escola e pra finalizar sobre o tema ‘preparação dos professores para lidar com a internet no ambiente escolar’, acredito que a escola já ofereceu formação para o professor aprender a preencher o diário porém para ajudar o professor a montar vídeo, informar onde conseguir vídeos e textos bons sobre os assuntos estudados em sala, não.”  

Segundo o que o informante relatou, a escola empenhou-se em trazer a internet para dentro do seu espaço, faz o planejamento pedagógico com os professores, mas ainda não dá suporte quanto a metodologias que auxiliem o professor a construir suas aulas fazendo uso da internet e das tecnologias, até mesmo, porque a escola não dispõe de aparelhos suficientes para todas as salas. Nota-se que a única formação de instrução com relação aos recursos digitais que a escola disponibilizou aos professores foi, conforme o informante, “aprender a preencher o diário”, que agora é on-line e a Secretaria Municipal de Educação (SEMED) disponibiliza uma equipe para estar fazendo o treinamento nas escolas, conforme são solicitados pela gestão de cada instituição. 

Entender como funciona e o universo digital requer muitos conhecimentos na área de informática e tecnologia, de forma que promova segurança em orientar propostas que envolvam recursos digitais dentro das metodologias docentes, o que talvez seja um fator que, também, limite as propostas da gestão quanto ao uso de tecnologias em sala de aula. 

[…] Se a tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a internet poderia ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão da sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da atividade humana. Ademais, à medida que novas tecnologias de geração e distribuição de energia tornaram possível a fábrica e a grande corporação como os fundamentos organizacionais da sociedade industrial, a Internet passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era da Informação: a rede (Castells, 2003, p. 36)  

Hoje, a internet é responsável por grande parte da comunicação e comodidade, pois um simples comando de voz é capaz de ativar funções como acender lâmpadas, tocar músicas, abrir portas, coisas que até pouco tempo eram especulações de filmes de ficção científica, mas que naturalizaram-se com os avanços tecnológicos. E, isso veio com toda força para dentro da sala de aula, e mesmo quem sabe manusear ou acessar, sente dificuldades pois a todo momento está se transformando, evoluindo.  

Receber todo esse arcabouço tecnológico sem uma prévia proposta de ensino pode acarretar sérios problemas ao processo de ensino e aprendizagem, uma vez que, a internet é cheia de jogos, aplicativos, redes sociais, conteúdos educativos, mas também, conteúdos nocivos, e mesmo que o público-alvo sejam nativos digitais, mas isso não garante que farão bom uso dos recursos tecnológicos, reflexo disso são tragédias e mortes induzidas por jogos virtuais. 

Quando os professores entrevistados foram questionados sobre o preparo direcionado ao aluno quanto ao uso da internet no ambiente escolar, para que eles entendessem a internet como um instrumento pedagógico facilitador no processo de ensino e aprendizagem, a resposta do Informante 7 foi: 

Os alunos não foram preparados para o uso da internet, porque em geral é proibido usar o celular na escola, que prende muito a atenção dos alunos com outras coisas, com jogos, com vídeos que não são educativos. Então, assim, a gente ainda não usa diretamente o aluno pra acessar a internet como aprendizado.”   

Diante dessa informação percebe-se que a internet chegou no ambiente escolar, e a escola precisa fazer melhor uso dela, até agora está deixando passar possibilidades de trabalhar os conteúdos de forma mais interativa entre os alunos. Fica evidente a falta de um direcionamento pedagógico, quando o informante evidencia a proibição do uso de celular na escola, por de certa forma atrapalhar ou distrair a atenção dos alunos. Porém, preciso ressaltar que essa medida de restringir o uso de celular no ambiente escolar aconteceu, a pedidos dos pais, numa reunião que estava tratando de supostas ameaças de invasão terrorista nas escolas, que ocorreu no início do ano de 2023 em todo o Brasil, e levou muitas escolas adotarem algumas medidas de segurança como: restringir o uso de celular, restringir o uso de materiais de metal (estilete, tesoura e outros), detector de metal na entrada das aulas, seguranças e policiamento nas escolas, com o intuito de evitar invasões e tragédias dentro do ambiente escolar. 

O Informante 2 fala que “não houve nenhuma formação direcionada para o corpo docente e nem para os discentes sobre essa prática pedagógica no âmbito escolar”, ou seja, escola e internet precisam estar conectadas na mesma sintonia para proporcionar um ensino significativo a partir da vivência da criança e da sociedade em que ela está inserida. E, mesmo se tratando de uma escola localizada na zona rural do município de Cametá, mas é uma região onde 94% dos alunos, regularmente matriculados na EMEF de Carapajó, possuem acesso direto à internet, conforme o gráfico 1 apresentado no capítulo 2, onde comprova esses dados que acabei de mencionar. 

O Informante 5, ainda sobre a preparação dos alunos para o uso da internet no ambiente escolar, ressalta que: 

O meu posicionamento com relação a preparação dos estudantes para uso da internet, como instrumento de ensino e aprendizagem na escola é de que a gestão da escola como, também, os professores oferecem uma formação muito superficial de modo que esta não tem tido resultados positivos quando analisamos a quantidade de estudantes que a escola tem.  

Em resumo, os informantes concordam que tanto os professores quanto os alunos não foram instruídos quanto ao uso pedagógico da internet no ambiente escolar. O professor tem a missão de mediar o ensino para transformar a informação em conhecimentos, dentro do vasto universo virtual que a internet trouxe para a vivência diária dos alunos, e é mais um desafio para os educadores. Diante disso, Martínez (2004, pp. 96-97), enfatiza que: 

O acesso a grandes quantidades de informação não assegura a possibilidade de transformá-la em conhecimento. O conhecimento não viaja pela Internet. Construí-lo é uma tarefa complexa, para a qual não basta criar condições de acesso à informação. Hoje, para poder extrair informação útil do crescente oceano de dados acessível na Internet, exige-se um conhecimento básico do tema investigado, assim como estratégias e referenciais que permitam identificar quais fontes são confiáveis. Por outro lado, não devemos esquecer que, para transformar a informação em conhecimento, exige-se – mais que qualquer coisa – pensamento lógico, raciocínio e juízo crítico.  

O ensino e o conhecimento do aluno precisam estar alinhados para a construção de um processo significativo, onde o processo aconteça de forma que os agentes envolvidos saibam por que estão ensinando e porque estão aprendendo, e que os recursos sejam vistos e entendidos como ferramentas de construção responsável do conhecimento. É preciso reconhecer os limites das escolas e dos educadores, mesmo sendo atores importantes na formação, mas não podem ser vistos como os únicos responsáveis e capacitados para resolver todos os problemas da sociedade, pois é preciso somar esforços, cada um, dentro das suas competências.  

CONCLUSÃO

Paulo Freire considera um dos maiores equívocos na prática docente a transmissão mecanizada dos conteúdos, uma vez que, o aluno não chega à escola como uma folha de papel em branco, ao contrário, ele traz em sua bagagem um arcabouço cultural recheado de costumes e valores da sua vivência diária, que não podem ser simplesmente ignorados, uma vez que, o homem como ser pensante, vai chegar o momento em que os questionamentos e as divergências de pensamentos vão surgir. Entender a construção interpessoal entre escola e aluno é compreender que suas relações são importantes para o processo de ensino e aprendizagem. Forquin (1993) entende que: 

A escola precisa construir uma proposta pedagógica intimamente ligada ao contexto do aluno, interligando sua realidade com as constantes de transformação social, política, econômica, científica e tecnológica, ou seja, o processo de construção do conhecimento precisa estar alinhado as mudanças que o mundo apresenta, para solidificar o aluno enquanto pessoa e futuro profissional para o mercado de trabalho. 

O mundo vive uma transformação tecnológica, que influencia diretamente a vivência humana. E, isso torna imprescindível considerar o contexto em que estamos inseridos e suas características culturais, já que vivemos imersos na cultura, que agora é digital. No Fórum da Cultura Digital Brasileira, o então Ministro da Cultura Gilberto Gil diz que: 

Cultura digital é um conceito novo. Parte da ideia de que a revolução das tecnologias digitais é, em essência, cultural. O que está implicado aqui é que o uso de tecnologia digital muda os comportamentos. O uso pleno da Internet e do software livre cria fantásticas possibilidades de democratizar os acessos à informação e ao conhecimento, maximizar os potenciais dos bens e serviços culturais, amplificar os valores que formam o nosso repertório comum e, portanto, a nossa cultura, e potencializar também a produção cultural, criando inclusive novas formas de arte (Gil, 2008, s/p). 

A internet e as evoluções tecnológicas já são realidade na vida das pessoas que fazem parte da Vila de Carapajó, em especial na vida dos alunos, que estão regularmente matriculados na EMEF de Carapajó, que popularmente, é mais conhecida por “Santinho Cohen”, e dos profissionais que aí atuam. Entender que 94% dos alunos de alguma forma buscam maneiras de se manterem conectados ao sinal de internet é aceitar que estamos diante de uma geração que prioriza muito os recursos virtuais, seja para jogos, redes sociais, aplicativos conversacionais ou pesquisas escolares, mas o fato é que estão conectados, mesmo se tratando de uma região localizada na zona rural do município de Cametá. 

É inegável o fato de que a chegada da internet mudou o ambiente escolar da EMEF de Carapajó, mesmo que alguns acreditem que pouca coisa mudou, mas sair de aulas expositivas, restritas a quadro, cartaz, apostila, assuntos e exercícios copiados no caderno, para aulas mais interativas com uso de datashow, celular, redes sociais, músicas, vídeos e pesquisas virtuais, é entender que, nesse período, de pouco mais de três anos, que a internet chegou dentro do ambiente escolar da EMEF de Carapajó, o processo de ensino e aprendizagem já passou por intensas transformações, mesmo que nem todos os professores consigam adotar essas metodologias de ensino nas suas aulas, seja por falta de habilidade, conhecimento tecnológico, ou pela escassez desses recursos disponibilizados pela escola, pois sabemos que são aparelhos caros e infelizmente a EMEF de Carapajó, assim como a maioria das escolas no Brasil, enfrentam o problema de escassez de recursos financeiros para custear a aquisição desses aparelhos. É notório, também, que a chegada da internet na escola agilizou os serviços administrativos, que ganharam mais agilidade e eficiência com a possibilidade de emitir documentos pessoais dos alunos numa fração de segundo, o que antes necessitava de um pré-agendamento, agora é emitido no ato da solicitação. 

O modo de ensinar se reconfigurou mesmo para os professores que ainda optam por metodologias mais tradicionais, uma vez que, os alunos pesquisam assuntos na internet, muitas vezes para confrontar o professor em sala de aula e ou testar seus conhecimentos. Da mesma forma que, professores instigam os alunos a pesquisarem e reproduzirem o que aprenderam por meio de seminários, debates ou explanações individuais em sala de aula, e isso são novas possibilidades de ensinar e aprender que a tecnologia trouxe para dentro do ambiente escolar. 

Durante a coleta e análise dos dados observei que todos os entrevistados, mesmo os que sentem seguros quanto ao uso da internet e seus recursos tecnológicos em sala de aula, apresentam insegurança em algum momento, seja na busca de conteúdo ou manuseio de aparelhos eletrônicos, mas isso é um comportamento natural considerando que a chegada da internet dentro da EMEF de Carapajó é bem recente, o que significa que ainda é um processo novo, que pode sim provocar dúvidas e insegurança na hora de usá-lo dentro das propostas metodológicas em sala de aula ou manuseio de aparelhos eletrônicos. 

Porém, uma questão preocupante são os relatos de que a gestão escolar ainda não constituiu uma proposta pedagógica ou uma formação com os professores no sentido de atentar para as reconfigurações da aprendizagem com a chegada da internet no ambiente escolar. A educação na era digital exige involuntariamente uma reconfiguração das práticas educacionais do ambiente escolar, pois é essencial a utilização dos meios tecnológicos nos métodos de ensino, aliado à adoção de processos mais dinâmicos de aprendizagem, onde a gestão escolar precisa estar atenta a essas práticas, para engajar a comunidade educativa no manuseio da tecnologia, e assim, conseguir subsidiar uma base estrutural necessária para compor e utilizar os meios tecnológicos, mas para isso acontecer com mais agilidade seria necessário que as políticas públicas Educacionais estivessem mais voltadas para esse fim. 

Diante desse cenário tecnológico é necessário a construção de uma base de princípios que garantam uma educação de qualidade, onde Estados e municípios assumam o compromisso de capacitar e qualificar os gestores escolares, para que estes possam, assim estar capacitando seus professores ao ensino que a era digital. Moran (2005) afirma que: 

Quanto mais avança a tecnologia, mais se torna importante termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos (p. 12) 

O contato com a tecnologia é uma realidade diária da atual sociedade, as crianças já nascem brincando com a tecnologia, o que aumenta ainda mais a necessidade, da gestão escolar direcionar e definir práticas pedagógicas mais próximas das tecnologias e criar ambientes que incentive a participação direta e ativa de todos, garantindo o aprimoramento da qualidade do ensino. 

As tecnologias regem as formas de leitura e interação da vida em sociedade e, também, no espaço escolar, por isso devem ser trabalhadas e ampliadas como aliada ao processo de ensino e aprendizagem. Mesmo que cada região tenha seus valores e costumes, mas a universalização das tecnologias, constituem uma cultura digital presentes no mundo inteiro, trazendo um universo carregado de novidades e significâncias. Segundo Kalinke (1999, p.15): 

Os avanços tecnológicos estão sendo utilizados praticamente por todos os ramos do conhecimento. As descobertas são extremamente rápidas e estão a nossa disposição com uma velocidade nunca antes imaginada. A internet, os canais de televisão a cabo e aberta, os recursos de multimídia estão presentes e disponíveis na sociedade. Estamos sempre a um passo de qualquer novidade. Em contrapartida, a realidade mundial faz com que nossos alunos estejam cada vez mais informados, atualizados e participantes deste mundo globalizado.

Estar sempre conectado à internet não garante o uso crítico e responsável, por isso a proposta da escola como um espaço crítico frente aos valores culturais e as evoluções tecnológicas, é uma forma de construir uma relação saudável entre o homem e a tecnologia. Frente ao exposto e entendendo que o processo de ensino e aprendizagem é inerente ao desenvolvimento cognitivo do aluno, a escola deve incorporar as diversas culturas e transformações sociais dentro da construção do conhecimento, para aperfeiçoar cada vez mais a formação pessoal e profissional do aluno.

A pesquisa revelou que a chegada da internet na EMEF de Carapajó contribuiu bastante para que o processo de ensino e aprendizagem desse um passo importante rumo as adequações do mundo digital, pois trouxe para dentro da escola possibilidade de acessar o mundo inteiro em uma fração de segundos, as aulas saíram da rotina do giz para atividades mais dinâmicas, e que ainda precisam de alguns ajustes, mas que está caminhando nessa direção. Os alunos ainda não estão recebendo o suporte necessário para o uso da internet como ferramenta de aprendizagem, mas já começam a usá-la em algumas atividades propostas em sala de aula, como estudo dirigido de exercícios e pesquisas, o que já é um grande avanço se considerar o fato de que a escola não possui um suporte tecnológico adequado e a chegada da internet foi muito conflituosa, pois o acesso foi liberado a todos os alunos, sem um prévio direcionamento, o que culminou em diversas situações onde alunos fugiam das aulas ou conectavam seus jogos e redes sociais em meio as atividades propostas pelo professor em sala de aula, demonstrando falta de respeito e interesse pelos conteúdos e a metodologia que o professor dispunha naquele momento.

Os professores não foram treinados e nem preparados para tanta informação e situações que a chegada da internet poderia ocasionar, pois, por mais que, muitos de nós professores entendamos a internet e suas tecnologias como uma ferramenta natural do nosso cotidiano. Porém, trata-se de algo mais complexo do que nossa compreensão consegue dimensionar, pois saber manusear um notebook, um celular, um datashow, ou qualquer outro aparelho, torna-se uma atividade muito mais complexa quando você leva para dentro da sala de aula, por exemplo, trabalhar com músicas para exercitar a oralidade dentro de uma aula de língua estrangeira, você corre o risco de essa música não agradar a maioria dos alunos, ou que os alunos não queiram cantar, ou que se sintam envergonhados em cantar em um outro idioma. Nesse momento, o professor precisa usar suas habilidades para envolver os alunos na proposta metodológica que foi selecionada para a aula corrente.

Diante dos dados e informações coletadas pode-se entender que a EMEF de Carapajó, ou carinhosamente “Santinho Cohen”, é uma instituição de ensino diferenciada em todos os quesitos, começando pelas pessoas que ali trabalham, que acima de profissionais, são seres humanos incríveis, que como toda família que se preze, tem suas avenças e desavenças, mas estamos sempre unidos, e ai! De quem ousar falar ou criticar da nossa família escolar, o tempo fecha. Segundo que é uma escola da zona rural, mas que procura dar seu melhor em tudo, e não é exagero meu, não é à toa que nossos alunos estão sempre entre os finalistas nas olímpiadas de matemática ou a tão concorrida OBEMEP, sem falar do empenho dos professores que organizam os famosos “aulões preparativos”, com direito a café da manhã e brindes para os alunos antes do início das provas. Não poderia deixar de falar da Banda Marcial da EMEF de Carapajó, comandada pelo nosso querido Joelson, “Pretinho” para os mais íntimos, e a disputa dos alunos para conseguir uma vaga para fazer parte dessa sinfonia de espetáculos, e mais uma vez, não é exagero meu, pois fomos campeões nos dois últimos concursos de apresentação de bandas marciais promovido pela prefeitura municipal de Cametá, já conquistou até uma lousa digital para a escola, mas que ainda não foi instalada, pois não temos uma sala adequada para acomodá-la.

Conforme os dados e informações coletados, pode-se conclui que esse processo de inclusão digital está em fase de desenvolvimento dentro da EMEF de Carapajó, que muitas coisas ainda precisam ser aperfeiçoadas, mas é importante enfatizar, mais uma vez, que a internet é uma novidade bem recente dentro desse ambiente escolar, em pouco mais de três anos a forma de lidar e ensinar com a internet dentro da escola e da sala de aula possibilitou a realização de aulas com vídeos, com músicas, com exposição de imagens, com exercícios virtuais, com recursos tecnológicos, que antes sem a internet não eram possíveis serem realizados, mas é claro que as informações coletadas chamam a atenção para a construção de planejamentos e metodologias que aproxime cada vez mais essa cultura local com o universo digital, na construção de um ensino significativo e participativo, onde a aprendizagem parte da realidade do aluno para o restante do mundo, conectados por essa imensa rede virtual de conhecimentos.

Analisar as novas possibilidades que a era digital proporcionou ao processo de ensino e aprendizagem é entender que a evolução faz parte da essência humana e precisamos nos preparar e ficarmos abertos a novos conhecimentos e novas formas de transmiti-los. O resultado dessa pesquisa chama a atenção para a necessidade de formar e capacitar o professor para lidar com a internet e suas tecnologias dentro de sala de aula, direcionar o uso pedagógico da internet dentro do ambiente escolar, de forma que os alunos comecem usá-la como instrumento mediador e ou facilitador no processo de ensino e aprendizagem, a gestão, também precisa fundamentar sua base pedagógica explorando os recursos tecnológicos. Porém, ao que se percebe o processo de ensino e aprendizagem esbarra muito na questão estrutural, mostrando a necessidade de mais políticas públicas que tragam suporte material e estrutural para dentro do ambiente escolar. Que as investigações que iniciaram nesse estudo sejam subsídios para novas análises em prol da melhoria da qualidade do ensino, não só na EMEF de Carapajó, mas para todas as instituições de ensino que se preocupam em construir um ensino significativo e de qualidade para seus alunos e assim formar profissionais qualificados e preparados para o mercado de trabalho.

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1Graduação em Letras/ Português pela Universidade Federal do ParáUFPA (2004). Especialista em Língua portuguesa e literatura no contexto educacional pela Faculdade UniCesumar (2022). Especialista em Metodologia do Ensino Fundamental e Médio com Ênfase em Língua Espanhola, pela Faculdade FLATED (2007). Especialista em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Estrangeira, pela Faculdade FACIBRA (2014). Cursando Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, Literatura e Artes, pela Faculdade FAVENI. Cursando Psicopedagogia e Educação Especial, pela Faculdade FAVENI. Mestranda no Programa de Pósgraduação em Ciências da Educação pela Faculdade de Ciências Sociais Interamericana – FICS.

2Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará – PPGEO/UFPA. Professor na Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel FATEFIG. Pedagogo; Geógrafo. E-mail: milvio.geo@gmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1118-7152