EDUCAÇÃO INOVADORA NO SÉCULO XXI: O CASO SESI-RS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504251811


Sonia Elizabeth Bier1


Resumo 

O texto aborda as transformações do século XXI e como elas demandam uma educação inovadora, adaptada às necessidades das gerações digitais. O modelo tradicional de ensino, baseado em memorização e transmissão de conhecimento, é insuficiente para preparar os alunos para um mundo em constante mudança. Nesse contexto, o SESI-RS emerge como um exemplo de inovação educacional, combinando tecnologias integradas com práticas pedagógicas ativas centradas no aluno. A instituição prioriza o desenvolvimento integral dos estudantes, promovendo pensamento crítico, criatividade, colaboração, ética e cidadania. O currículo é flexível e personalizável, conectando a teoria à prática e preparando os alunos para desafios reais. Além disso, o SESI-RS valoriza a diversidade, a inclusão e o protagonismo estudantil, enquanto os professores atuam como facilitadores do aprendizado. A escola também transforma tempos e espaços tradicionais em ambientes dinâmicos que incentivam a aprendizagem significativa. A participação ativa da família e da comunidade é essencial nesse modelo, criando uma sinergia que transforma a realidade educacional e contribui para um futuro mais inclusivo e sustentável. 

Palavras-chave: Educação inovadora; Pensamento crítico; Tecnologia educacional; Protagonismo estudantil; Currículo flexível; Inclusão; Sustentabilidade. 

Abstract 

The text explores 21st-century transformations and their demand for innovative education tailored to the needs of digital-native generations. The traditional teaching model—focused on memorization and knowledge transmission—fails to prepare students for an everchanging world. In this context, SESIRS (SESI-RS) is an example of educational innovation integrating technology with active, student-centered pedagogical practices. The institution emphasizes holistic student development by fostering critical thinking, creativity, collaboration, ethics, and citizenship. Its flexible and customizable curriculum bridges theory and practice while preparing students for real-world challenges. 

Additionally, SESIRS values diversity, inclusion, and student agency, with teachers acting as learning facilitators. The school reimagines traditional schedules and spaces into dynamic environments that encourage meaningful learning. Active family and community participation is essential in this model, creating synergy that transforms educational realities and contributes to a more inclusive and sustainable future. 

Keywords: Innovative education; Critical thinking; Educational technology; Student agency; Flexible curriculum; Inclusion; Sustainability. 

Introdução 

O século XXI é marcado por rápidas e profundas transformações: a revolução digital, a globalização, as mudanças climáticas e as complexidades sociais alteram dramaticamente a maneira de viver, trabalhar, se relacionar e aprender. Diante de uma disrupção constante, o modelo de ensino tradicional, ainda enraizado na era industrial — com currículos fixos, aulas expositivas, memorização e repetição — tem se mostrado cada vez mais inadequado e insuficiente para atender às demandas das gerações “nativas digitais”. (BARROSO,2021; TIACK; CUBAN,2021). A sociedade clama, mais do que nunca, por uma educação que transcenda a mera transmissão de informações e conteúdo. É necessário promover o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo, habilidades de resolução de problemas, trabalho em equipe, comunicação eficaz, inteligência emocional e adaptabilidade. (MORAN.2015). 

As novas gerações precisam ser preparadas para lidar com desafios complexos e incertos em um mundo onde o conhecimento se torna obsoleto rapidamente. ( CANÁRIO,2005)Nesse contexto urgente e em constante transformação, o SESIRS surge como um exemplo instigante de inovação educacional: um laboratório vivo de novas práticas pedagógicas. Com uma proposta ousada, disruptiva e transformadora, o SESIRS não apenas “usa” tecnologia “na” sala de aula; ele repensa a própria natureza do processo de ensino-aprendizagem. ( MORAN,2015) 

Dessa forma, o SESI-RS combina tecnologias educacionais estrategicamente integradas — como plataformas digitais, ferramentas de colaboração online, recursos multimídia e ambientes virtuais de aprendizagem — com práticas pedagógicas ativas centradas no aluno. Essas práticas são fundamentadas na curiosidade, investigação, experimentação e cocriação do conhecimento. O currículo é flexível e adaptativo, focado no crescimento pleno do aluno e enfatizando valores como colaboração, diálogo, respeito à diversidade, ética, cidadania e sustentabilidade.( FREIRE,1996) 

A educação no SESI-RS torna-se uma ponte entre a teoria formal e a vida real, seus desafios e oportunidades. Este artigo propõe uma análise aprofundada da abordagem inovadora do SESI-RS ao dissecar seus princípios metodológicos e práticas pedagógicas. Vamos dar um “zoom in” em sua visão de futuro — presente na formação cidadã consciente, crítica, criativa e ativa — que busca impactar positivamente tanto a comunidade quanto a sociedade como um todo. (FREIRE,1996; MORAN.2015) Ao analisar como o SESI-RS integra suas ferramentas e ações educacionais às dinâmicas do século XXI, evidenciaremos a importância de uma educação que não apenas “preenche lacunas de conhecimento”, mas que também atua como agente transformador. Essa educação inspira indivíduos, fortalece comunidades e contribui para a cocriação de um futuro mais inclusivo, equitativo e sustentável. 

O modelo tradicional de escola — onde muitas gerações foram educadas — atingiu seu ponto de saturação e tornou-se obsoleto em muitos aspectos. Isso é compreensível quando consideramos as mudanças ocorridas na transição do século XX para o XXI: da era analógica para a digital; da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento; de um mundo relativamente estável para um mundo em constante transformação. (TYACK; CUBAN,2001; VIDAL.2005). 

Historicamente, as escolas eram o principal — muitas vezes único — meio de acesso à cultura, informação e conhecimento sistematizado para grande parte da população. Era um período marcado por comunicação lenta: cartas demoravam dias para chegar e interações instantâneas eram exceção. O ensino baseava-se na repetição, memorização de fatos e transferência vertical do conhecimento — do professor (detentor) ao aluno (receptor passivo). Esse método foi eficiente para treinar trabalhadores para a indústria e cidadãos para uma sociedade homogênea. (BARROSO,2001). Contudo, já não atende às necessidades dos estudantes contemporâneos nem às demandas da sociedade atual (CANARIO,2005). 

Como Paulo Freire (1996) destaca em Pedagogia da Autonomia, métodos de ensino devem ser dinâmicos e adaptáveis às rápidas mudanças sociais e tecnológicas. Mais importante ainda: devem atender às novas expectativas das gerações nascidas no mundo digital. Embora o modelo tradicional tenha sido bem-sucedido no passado ao formar profissionais competentes para sua época, hoje ele se mostra insuficiente — quando não contraproducente. (FREIRE.1996) 

Assim como a indústria farmacêutica evolui constantemente ao desenvolver medicamentos mais eficazes com menos efeitos colaterais, a educação também precisa evoluir continuamente. Métodos pedagógicos, currículos, recursos didáticos e sistemas avaliativos devem ser reavaliados para evitar problemas como altas taxas de evasão escolar, desmotivação dos alunos ou esgotamento dos professores. (MORAN,2005) 

Freire nos lembra (1996, p.67): “Educação não muda o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas mudam o mundo.” Precisamos de uma educação que empodere indivíduos para transformar sua realidade. O paradigma contemporâneo desafia educadores a buscar alternativas inovadoras à escola tradicional: quebrar estruturas ultrapassadas, realinhar objetivos educacionais e estabelecer novas conexões com a sociedade. 

A inovação já é aplicada por instituições visionárias que têm coragem de liderar mudanças significativas (NÓVOA,1995). Em 2015, o SESI-RS foi reconhecido pelo MEC(Ministério de Educação) como uma das escolas mais inovadoras do Brasil — um feito que destaca sua abordagem pioneira (SESI-RS,2015). 

Com uma proposta de inovação contínua — sem se prender a modismos passageiros — o propósito essencial do SESI-RS é expandir o senso de pertencimento dos jovens à escola, à comunidade e ao mundo. A instituição busca formar jovens ativos, empreendedores e curiosos não apenas para o mercado de trabalho, mas também para as múltiplas oportunidades do século XXI (MORAN,2015). Em tempos marcados por incertezas e complexidade crescente, essa preparação é essencial. 

As propostas educacionais do SESI-RS estão profundamente conectadas ao mundo do trabalho em rápida transformação. Nesse cenário dinâmico, a tecnologia educacional desempenha um papel central no processo formativo. No entanto, no SESI-RS ela não é vista como um fim em si mesma: é um meio poderoso para potencializar aprendizagem significativa, criatividade colaborativa e comunicação eficaz. (MORAN.2015) 

Além disso, a proposta valoriza o diálogo aberto entre alunos e professores; respeita as diferenças; promove diversidade; incentiva relações interpessoais saudáveis; tudo isso enquanto constrói pontes entre conhecimento acadêmico formal e práticas reais da vida cotidiana. (MORAN,2015) 

Nas palavras do pesquisador José Manuel Moran (2015, p.34): “A escola inovadora é aquela que melhor se conecta às reais necessidades dos alunos e da sociedade; que promove personalização do ensino; autoaprendizagem; cooperação; significado.” O SESIRS busca ser exatamente esse tipo de escola. 

Histórico do SESI RS 

O Serviço Social da Indústria (SESI) foi fundado em 1946, em um contexto de intensa transformação econômica e social no Brasil, marcado pela industrialização crescente e pela necessidade de atender às demandas dos trabalhadores da indústria. Inicialmente, o SESI teve como foco primordial proporcionar educação básica e formação profissional aos operários industriais, reconhecendo que a qualificação da mão de obra era essencial para o desenvolvimento do setor produtivo. Com uma proposta educacional inovadora, a instituição rapidamente se consolidou como um pilar fundamental na promoção de uma educação que fosse, ao mesmo tempo, técnica e humanista, buscando não apenas a inserção dos indivíduos no mercado de trabalho, mas também o seu desenvolvimento integral como cidadãos. 

Com departamentos regionais (DR) em todos os Estados da Federação Brasileira, cada DR construiu estratégias para atender suas necessidades locais, dando ênfase à Educação ou Saúde ou Lazer, principalmente. 

Ao longo das décadas, o SESI RS adaptou suas estratégias e programas às mudanças sociais, econômicas e tecnológicas que marcaram a trajetória do estado. Nos anos 2000, a instituição passou a focar mais intensamente em novas abordagens educacionais que incorporavam tecnologias emergentes e métodos pedagógicos inovadores. Essa transição refletiu a necessidade de preparar os alunos para um mundo do trabalho em constante evolução, onde habilidades soft, como criatividade, comunicação e trabalho em equipe, tornaram-se tão relevantes quanto às competências técnicas. O SESI RS também se destacou por suas iniciativas em saúde, cultura e lazer, oferecendo uma abordagem holística à educação, orientada para o bem-estar integral do trabalhador e de sua família. 

Na contemporaneidade, o SESI RS mantém seu compromisso com a inovação educacional, investindo em projetos e parcerias que visam integrar a educação formal com práticas do mercado e necessidades sociais. Através de avaliações constantes e de uma escuta ativa das demandas comunitárias e industriais, a instituição não apenas promove um ensino de qualidade, mas também se posiciona como uma agente transformadora, preocupada com o desenvolvimento sustentável e a inclusão social. No cenário atual, o SESI RS continua a ser fundamental, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e buscando preparar novos profissionais que estejam aptos a enfrentar os desafios do século XXI, consolidando-se assim como uma referência em educação inovadora e desenvolvimento integral. 

Desenvolvimento para a vida 

O SESI-RS compartilha, alinhado com as mais recentes pesquisas em educação e neurociência, a visão do currículo escolar como algo muito além de uma simples lista de conteúdos, disciplinas ou conhecimentos a serem “transmitidos” aos alunos. A instituição compreende que currículo é um conceito amplo, dinâmico e vivo, que abrange um conjunto integrado de competências, habilidades, atitudes e valores associados ao desenvolvimento integral das diferentes dimensões do ser humano: intelectual, cognitiva, cultural, física, emocional e social. (LIMA,2016; LOPES,2016 apud VEIGA,2007).Portanto, intrinsecamente ligado ao movimento social de um grupo de alunos,de uma comunidade. 

Diversos estudos em neurociência aplicada à educação reforçam a importância de considerar as múltiplas dimensões do desenvolvimento humano na elaboração curricular, destacando que a aprendizagem é um processo dinâmico e adaptativo, influenciado por fatores biológicos, psicológicos e ambientais (GROSSI; LOPES; COUTO, 2019). Assim, a educação integral, fundamentada em princípios neurocientíficos, propicia um ambiente mais inclusivo e equitativo, promovendo o pleno desenvolvimento dos estudantes (LIMA, 2016). Tornando-se princípio para a construção de modelos educacionais eficazes . 

As referências das escolas SESI-RS encontram ressonância na  Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que  representa um marco ao estabelecer diretrizes que buscam garantir o acesso de todos os alunos a um currículo que promova competências essenciais para o desenvolvimento integral (BRASIL, 2017; VANTROBA et al., 2023). No entanto, a efetivação dessas diretrizes exige que se vá além do ensino de conteúdos, questionando-se: “Quais capacidades desejamos desenvolver para que os alunos possam navegar com sucesso em um mundo complexo, incerto e em constante transformação?” (MORAN, 2011). Nesse sentido, Moran (2011) argumenta que o papel da escola no século XXI é formar indivíduos criativos, críticos, éticos, autônomos e colaborativos, capazes de aprender a aprender, resolver problemas e transformar a sociedade de forma positiva. 

O desafio contemporâneo, portanto, está em romper com modelos tradicionais de ensino, predominantemente conteudistas e transmissivos, e adotar abordagens inovadoras centradas no desenvolvimento de competências socioemocionais, cognitivas e culturais (MORAN, 2009; BEHRENS, 2009). A neurociência educacional contribui significativamente para esse processo, ao demonstrar que práticas pedagógicas alinhadas ao desenvolvimento cerebral promovem não apenas a aprendizagem, mas também o bem-estar emocional dos alunos (BLAKEMORE; FRITH, 2005) 

Portanto, não se trata apenas de “aprender conteúdo”, mas de refletir como estamos desenvolvendo as capacidades que desejamos para que as próximas gerações possam ser e estar, com sucesso, em um mundo com tanta dinamicidade. Como sugere José Manuel Moran (2013), o papel da escola no século XXI é formar seres humanos criativos, críticos, éticos, autônomos e colaborativos, capazes de aprender a aprender, resolver problemas e transformar a sociedade de forma positiva. A flexibilidade,a adaptabilidade e a autonomia são condições importantes para garantir espaço neste novo momento social, no entanto , nada disso poderá acontecer sem crítica e domínio de conhecimentos. 

Pensamento crítico e criativo 

O desenvolvimento do pensamento crítico envolve habilidades como raciocínio lógico, científico e computacional, ampliação da compreensão sobre o mundo, análise crítica de informações, identificação de Fake News, formulação de questões pertinentes, solução criativa e inovadora de problemas, argumentação coesa e tomada de decisões embasadas em evidências. (PERRENOUD,2000; MORAN,2011). A capacidade de pensar criticamente e de forma criativa é fundamental para que os alunos possam atuar de maneira autônoma e responsável em uma sociedade marcada pela complexidade e pela rápida transformação tecnológica (MORAN, 2011; DEWEY, 1979). Nas escolas SESI-RS a construção do pensamento crítico permeia todas as ações curriculares, pois se entende que não é isto ou aquilo que garante este desenvolvimento, mas sim o contínuo refletir sobre os fenômenos que vivemos. Uma atitude de observação e desnaturalização das coisas é importante para a construção de um pensar transformador. 

Diversidade e inclusão 

A promoção da diversidade e da inclusão é outro pilar fundamental do currículo contemporâneo. Valoriza-se o respeito às diferenças em todas as suas formas — cultural, étnica, religiosa, de gênero, orientação sexual ou habilidades —, promovendo empatia, tolerância, diálogo intercultural e a construção de uma sociedade mais justa e equitativa (UNESCO, 2017; SILVA, 2015). A escola, nesse contexto, deve ser um espaço de acolhimento e valorização das singularidades, favorecendo a aprendizagem significativa para todos (SILVA, 2015). 

A escola SESI-RS compreende a diversidade e a inclusão como desafios que devem ser enfrentados na rotina do convívio escolar,num exercício constante de empatia,colaboração e percepção da dignidade do outro. Assim, aprender está posto para todos e cada um, com as ferramentas sendo disponibilizadas pelo grupo áulico, num movimento constante de ampliar o convívio e desconstruir preconceitos. 

Comunicação e colaboração 

No que se refere à comunicação e colaboração, destaca-se a importância de incentivar a comunicação eficaz em diferentes linguagens — oral, escrita, visual ou digital — e o trabalho colaborativo. Tais competências incluem o estabelecimento de relacionamentos construtivos, o compartilhamento de saberes e a construção conjunta de soluções (BACICH; MORAN, 2018). A aprendizagem colaborativa potencializa a construção do conhecimento e contribui para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, essenciais para a vida em sociedade (BANDURA, 1986). 

Compreender a linguagem juvenil é algo presente na proposta pedagógica das escolas SESI-RS. Muito além da “gíria”, a linguagem com os jovens é pautada pelo interesse verdadeiro de conhecer suas representações e sua forma de lidar com as simbologias de seu entorno. O diálogo interessado e legítimo é uma busca constante , pois partir de pressupostos, de paradigmas vividos pelos adultos de décadas tão mais “lentas” do que as atuais, muitas vezes impede a escuta ativa e obstrui os caminhos para o alcance dos objetivos escolares , que nada mais são do que permitir a construção de um projeto de vida potente e humanisticamente transformador. 

Cidadania e ética 

A cidadania e a ética também são dimensões centrais na formação escolar. Busca- se formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, incentivando ações éticas e responsáveis voltadas para o bem comum, a preservação ambiental e a construção de um futuro mais justo (FREIRE, 1996; MORAN, 2011). A educação ética é indispensável para o fortalecimento da democracia e para a promoção de uma convivência social pautada no respeito mútuo e na solidariedade (FREIRE, 1996). 

Projeto de vida e autonomia 

Apoiamos os alunos na definição de metas claras para o futuro. Estimulamos organização, planejamento estratégico, perseverança na busca por objetivos pessoais e o desenvolvimento da autonomia. 

A presença do  professor articulador nas escolas do SESI-RS é um profissional com um papel estratégico no modelo pedagógico da instituição, atuando como um facilitador de processos educacionais integrados. Sua função principal é promover a articulação entre diferentes áreas do conhecimento, projetos pedagógicos, professores, alunos e a comunidade, alinhando-se à proposta educacional, que valoriza a interdisciplinaridade, a inovação e a conexão com o mundo do trabalho

O professor articulador não é apenas um docente, mas um agente de transformação pedagógica, responsável por criar pontes entre o conhecimento, a prática e o futuro dos estudantes. 

Tudo isso é realizado considerando as singularidades de cada aluno – sua história pessoal e coletiva, interesses, habilidades, dificuldades e ritmo de aprendizagem. Além disso, buscamos modernizar a aprendizagem por meio de atividades diversificadas que ajustem os desafios às capacidades individuais dos alunos. 

César Coll (2017) destaca que a personalização na educação não é um luxo, mas é uma necessidade fundamental para preparar os alunos para os desafios do século XXI. Segundo o autor, “na educação personalizada, os professores atuam como facilitadores ou mentores em vez de meros transmissores de conhecimento. Eles ajudam os alunos a aprender por meio da reflexão, experimentação e colaboração”. (COLL,2017, p.24). A personalização do ensino, aliada à diversificação das atividades pedagógicas, permite ajustar os desafios às capacidades individuais dos alunos, promovendo uma aprendizagem mais significativa e eficaz (COLL, 2017; BACICH; MORAN, 2018). 

Novos espaços e tempos 

Nas escolas inovadoras do SESI, tempos e espaços escolares tradicionais são transformados. A escola deixa de ser um conjunto rígido de salas para se tornar um ecossistema vibrante de aprendizagem – dinâmico, flexível e conectado. Salas se tornam espaços criativos ou laboratórios interdisciplinares onde os alunos trabalham em projetos reais, promovendo o protagonismo dos alunos (BACICH;MORAN,2018). 

Essa estrutura busca romper com modelos tradicionais, criando ambientes dinâmicos que estimulam a autonomia, a criatividade e a aplicação prática do conhecimento. O respeito ao ritmo e interesses individuais dos alunos,os problemas da indústria e da comunidade são incorporados ao currículo,o incentivo de práticas ecoeficientes e o desenvolvimento de habilidades técnicas, socioemocionais e digitais, são princípios que norteiam as concepções do uso do espaço e do tempo escolar. 

Essa organização reflete a visão do SESI-RS de formar cidadãos críticos, criativos e preparados para os desafios do século XXI, integrando educação formal, tecnologia e vivências práticas.Como afirmou Loris Malaguzzi, “o espaço é o terceiro educador”, destacando que a organização física do ambiente escolar exerce papel fundamental no processo de ensino- aprendizagem, ao favorecer a autonomia, a criatividade e a interação entre os sujeitos (MALAGUZZI, 1998). Nesse sentido, a arquitetura e a disposição dos espaços são pensadas para estimular múltiplas formas de expressão, experimentação e colaboração. 

Além disso, o tempo escolar também é flexibilizado, superando a rigidez tradicional das aulas de 50 minutos para se adaptar às necessidades dos projetos interdisciplinares e das metodologias ativas (BACICH; MORAN, 2018). A prática da dupla docência — com dois ou mais professores atuando conjuntamente — é incentivada, ampliando as perspectivas pedagógicas e promovendo um ensino mais colaborativo e integrado (SILVA; OLIVEIRA, 2020). 

A proposta pedagógica das escolas SESIRS valoriza a aprendizagem pela experimentação, investigação e cultura maker, em consonância com o conceito de “aprender fazendo”. Espaços como os laboratórios FabLearn e ambientes maker proporcionam aos estudantes a oportunidade de desenvolver habilidades criativas e competências técnicas por meio de projetos reais, integrando diferentes áreas do conhecimento (MARTINEZ; STAGER, 2014). 

Essa abordagem dialoga diretamente com as ideias de John Dewey, que já defendia que “a educação não é preparação para a vida; a educação é a própria vida”, ressaltando a importância da experiência concreta e da resolução de problemas reais como centrais para o processo educativo (DEWEY, 1979, p. 11). Assim, as escolas SESI-RS se consolidam como espaços vivos, nos quais os estudantes experimentam, criam, colaboram e aprendem de forma significativa, preparando-se para os desafios do século XXI. 

O papel dos educadores 

Nas escolas SESI-RS, os professores deixam de ocupar uma posição hierárquica de meros transmissores de conhecimento para atuarem como facilitadores do processo educativo, assumindo o papel de guias ao lado dos alunos em suas jornadas de aprendizagem. Paulo Freire enfatiza que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 47). Essa abordagem implica na criação de ambientes que favorecem a construção coletiva do saber, promovendo a autonomia e a reflexão crítica dos estudantes. 

Os gestores escolares, por sua vez, também assumem novos papéis ao liderarem processos pedagógicos inovadores. Sua principal função passa a ser a de criar uma cultura de confiança, na qual o erro é compreendido como oportunidade para o aprendizado e para o desenvolvimento de soluções criativas (COELHO; UNGLAUB, 2023). A gestão escolar inovadora é fundamental para fomentar práticas pedagógicas modernas, colaborativas e centradas no estudante, fortalecendo a construção de uma escola como organização aprendente. 

O protagonismo do aluno 

No contexto do protagonismo do aluno, este deixa de ser um “uma folha em branco” e se torna protagonista da própria aprendizagem, refletindo sobre seus interesses e objetivos educacionais, desenvolvendo autonomia, responsabilidade e criatividade. 

Carl Rogers defende que “a única educação válida é aquela que promove a libertação dos poderes individuais” (ROGERS, 1972, p. 85). A centralidade do estudante no processo educativo potencializa o empoderamento, o sentimento de pertencimento e a criticidade, permitindo que os aprendizados transcendem o espaço escolar e impactem a realidade social. 

Por fim, essa proposta educacional inovadora exige profunda compreensão por parte dos adultos envolvidos – gestores, professores ou orientadores –, pois visa formar seres humanos completos. Como Moran (2010) sugere: precisamos criar ambientes empáticos que estimulem criatividade e colaboração. 

No SESI-RS-RS, compreende-se que liberdade não significa permissividade, mas sim responsabilidade compartilhada entre todos os atores do processo educacional: professores comprometidos com o ensino significativo, gestores focados na inovação, famílias participativas e, sobretudo, alunos engajados com seu próprio futuro (UNESCO, 2017). A responsabilidade compartilhada é fundamental para o sucesso do processo educativo, como ressalta o Relatório de Monitoramento Global da Educação, ao defender o pacto coletivo entre escola, família e sociedade. 

Considerando a diversidade dos estudantes — especialmente no ensino fundamental, médio e na Educação de Jovens e Adultos (EJA) —, o diálogo aberto e honesto se apresenta como a principal via para uma aproximação significativa e sustentada. 

Para Freire (1980), “a educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (FREIRE, 1980, p. 69). O diálogo, entendido como escuta atenta, debate de ideias, construção de significados e negociação de sentidos, é essencial para a personalização do aprendizado e para a valorização das individualidades. 

A concepção de educação integral e transformadora do SESI não se realiza sem a voz ativa, a participação efetiva e o engajamento autêntico dos pais e responsáveis. A integração entre escola e família é fundamental para o desenvolvimento dos alunos, impactando positivamente tanto as competências cognitivas quanto as socioemocionais (CASSOL apud SESI, 2025). Bronfenbrenner (1996) destaca, em sua teoria ecológica do desenvolvimento humano, que “o desenvolvimento humano ocorre por meio de complexas e recíprocas interações entre um indivíduo ativo, em constante crescimento, e as múltiplas camadas de um ambiente que muda rapidamente” (BRONFENBRENNER, 1996, p. 191). 

Pais e mães buscam na escola não apenas a preparação para exames ou mercado de trabalho, mas experiências de aprendizagem pessoalmente significativas, relevantes para o desenvolvimento acadêmico, profissional, pessoal e social dos filhos. 

Querem que seus filhos sejam ensinados a aprender a navegar com segurança pelas complexidades e paradoxos do mundo; a revelar e agir criticamente, criativa e eticamente no mundo real e virtual; a construírem experiências de relacionamento saudáveis; a serem cidadãos comprometidos e responsáveis. (ROBINSON,2009). 

Em sua essência, a inovação educacional também se caracteriza pela capacidade de escuta atenta, pelo diálogo aberto e pela habilidade de articular criativa e colaborativamente os desejos, as expectativas e as necessidades expressas pelas famílias para a educação dos seus filhos. 

Quando a escola, em parceria com as famílias e com a comunidade, utiliza seus saberes, recursos, expertise e capacidade de articulação para construir arranjos pedagógicos, curriculares e organizacionais nos quais todos os atores – alunos,professores, gestores, famílias e comunidade – se identifiquem; se sintam reconhecidos; sejam valorizados; engajem-se como parceiros fundamentais no processo formativo; temos então a sinergia necessária para produzir o inédito: transformar a realidade e construir o futuro. 

Segundo Ken Robinson (2009), um dos maiores defensores do papel da criatividade na escola: “Ambientes de aprendizagem devem ser deliberadamente projetados para fomentar criatividade, pensamento crítico, colaboração, comunicação, resolução de problemas e conexão com o aprendizado”. Cada sujeito do processo educativo é único, trazendo sua história, talentos e sonhos, e a cultura do aprendizado deve ser contínua, permeando todos os espaços e tempos escolares (DOTDIGITALGROUP, 2023). 

Esses intercâmbios genuínos, autênticos abertos e harmoniosos vão muito além das atividades formais planejadas estruturadas no dia-a-dia escolar: ocorrem nos corredores; no pátio; nas salas de aula; nos espaços comuns; nas conversas informais; nos momentos livres; nas interações diárias. Esses momentos promovem não apenas o desenvolvimento integral dos alunos, mas também de toda comunidade escolar, consolidando a escola como espaço de vida, crescimento e construção de um futuro melhor para todos. 

Referências Bibliográficas

BACICH, L.; MORAN, J. M. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. 

BANDURA, A. Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1986. 

BARROSO, João. A escola e a sua organização: uma perspectiva sociológica. In: BARROSO, João (org.). A escola: organização e cultura. Lisboa: Universidade Aberta, 2001.p. 13-44. 

BLIKSTEIN, Paulo. Inovar na educação. Revista Educação, 27 maio 2021. Disponível em: https://revistaeducacao.com.br/2021/05/27/inovar-educacao-blikstein/. Acesso em: 13 abr. 2025. 

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. 

BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artmed, 1996. 

CANÁRIO, Rui. A escola: o lugar onde se aprende a ser aluno. Porto: Porto Editora,2005. 

COELHO, A. S.; UNGLAUB, E. Gestão escolar e inovação: novas tendências em gestão escolar. Centro Universitário Adventista de São Paulo, 2023. 

COLL, C. A personalização da aprendizagem escolar: o que é e por que é importante. Revista Educação, v. 40, n. 1, p. 19-28, 2017. 

COLL, César. A personalização na educação: um caminho para o século XXI. In: COLL, César; MONEREO, Carles (Org.). Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010. 

DEMO, P. Autonomia e qualidade na educação. Campinas: Papirus, 2009. 

DEWEY, J. A escola e a sociedade; A criança e o currículo. São Paulo: Nacional,1979. 

DEWEY, John. Democracy and education: an introduction to the philosophy of education. New York: Macmillan, 1916. 

DOTDIGITALGROUP. Cultura de aprendizagem contínua: impulsionando o sucesso nas organizações. LinkedIn, 2023. 

EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George (Org.). The hundred languages of children: the Reggio Emilia approach: advanced reflections. 2. ed. Greenwich: Ablex Publishing, 1998. 

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. 

GARDNER, Howard. Frames of mind: The theory of multiple intelligences. New York: Basic Books, 1983. 

GOLEMAN, Daniel. Emotional intelligence: why it can matter more than IQ. New York: Bantam Books, 1995. 

GROSSI, M. G.; LOPES, M. A.; COUTO, J. S. Conceitos da neurociência aplicados na educação. Revista Contemporânea, v. 5, n. 1, 2025, p. 1-17. 

LIMA, L. S. Neurociência e currículo escolar: contribuições para o desenvolvimento humano. Revista Contemporânea, v. 5, n. 1, 2025, p. 10-25. 

P. A. (Org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 2002. p. 7-21. 

MALAGUZZI, L. No caminho de uma pedagogia da escuta. In: GANDINI, L.; EDWARDS, C.; FORMANNI, G. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 117133. 

MALAGUZZI, Loris. O espaço como terceiro educador. In: EDWARDS, Carolyn; 

GANDINI, Lella; FORMAN, George (Org.). As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Penso, 2016. 

MARTINEZ, S. L.; STAGER, G. Invent to learn: making, tinkering, and engineering in the classroom. Torrance: Constructing Modern Knowledge Press, 2014. 

MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2010. 

MORAN, J. M. Por onde começar a transformar nossas escolas? In: MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 6. ed. Campinas: Papirus, 2016. p. 145-165. 

MORAN, José Manuel. A revolução na educação: novas metodologias e tecnologias. In: MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 20. ed. Campinas: Papirus, 2013. 

NÓVOA, António. Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995. 

PAPERT, Seymour. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Porto Alegre: Artmed, 1993. 

PAPERT, Seymour. Mindstorms: children, computers, and powerful ideas. New York: Basic Books, 1980. 

PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000. 

ROBINSON, K. O elemento: descubra sua paixão, mude sua vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2009. 

ROBINSON, Ken; ARONICA, Lou. Escolas criativas: a revolução que está transformando a educação. Porto Alegre: Artmed, 2010. 

ROGERS, C. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1972. 

ROGERS, Carl Ransom. Liberdade para aprender. São Paulo: Martins Fontes, 1973. 

SESI. Dia da Família na Escola: confira os benefícios de uma família participativa na educação dos filhos. Cuiabá: SESI, 2025. 

SESI. SESI RS é reconhecido como uma das escolas mais inovadoras do Brasil.Brasília: Ministério da Educação, 2015. 

SENGE, Peter M. The fifth discipline: the art & practice of the learning organization.New York: Doubleday, 1990. 

SHULMAN, Lee S. Those who understand: knowledge growth in teaching.Educational Researcher, v. 15, n. 2, p. 4–14, 1986. 

SILVA, F. R.; OLIVEIRA, D. A. Dupla docência e práticas colaborativas: desafios e possibilidades na educação básica. Educação & Sociedade, v. 41, e022504, 2020. 

SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. ed.Belo Horizonte: Autêntica, 2015. 

TYACK, David; CUBAN, Larry. Tinkering toward utopia: A century of public school reform. Cambridge: Harvard University Press, 2001. 

UNESCO. Educação para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: objetivos de aprendizagem. Brasília: UNESCO, 2017. 

UNESCO. Relatório de Monitoramento Global da Educação 2017/2018: responsabilidade compartilhada na educação. Brasília: UNESCO, 2017. 

VANTROBA, S. et al. Integração dos princípios de neurodesenvolvimento na aplicação prática da BNCC. Lumen et Virtus, São José dos Pinhais, v. XVI, n. XLIV, p. 29-42, 2025. 

VIDAL, Diana Gonçalves. A escola e a cultura escolar. In: VIDAL, Diana Gonçalves; GATTI JR., Décio (org.). Cultura escolar, currículo e saberes escolares. Campinas: Autores Associados, 2005. p. 13-34. 

VYGOTSKY, Lev S. Interaction between learning and development. In:   . 
18 Readings on the development of children. [s.n.], 1978.


1Universidad de la Empresa – Faculdad de Ciência de La Educacion – Maestria en Educacion – Montevideu-UY – soniaebier@gmail.com