Hybrid Education in High School: Challenges, Impacts, and the Role of Instructional Design
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412230953
Andressa Jully Bento de Medeiros1
Akynara Aglaé Rodrigues Santos da Silva Burlamaqui2
Victor Ferraz Araruna3
Resumo
A educação híbrida emerge como uma resposta às necessidades educacionais do século XXI, especialmente no ensino médio, ao combinar atividades presenciais e online de maneira integrada. Essa modalidade não apenas oferece maior flexibilidade e personalização no ensino-aprendizagem, mas também possibilita a utilização de metodologias inovadoras que promovem o engajamento e a autonomia dos estudantes. Este artigo apresenta uma revisão sistemática da literatura, contemplando publicações realizadas entre 2019 e 2023, com o objetivo de analisar os impactos, desafios e o papel do design instrucional na implementação do ensino híbrido no contexto do ensino médio. Foram utilizados 13 estudos provenientes das bases Google Acadêmico, SciELO e BDTD, selecionados com base em critérios de relevância e alinhamento temático. Os resultados indicam que a educação híbrida potencializa o engajamento dos alunos, favorecendo o desenvolvimento de competências socioemocionais, como a autorregulação e o trabalho em equipe. Além disso, o modelo híbrido é eficaz na personalização do aprendizado, ao permitir que os alunos ajustem o ritmo e os recursos de acordo com suas necessidades individuais. No entanto, desafios estruturais, como a desigualdade de acesso à tecnologia, a formação insuficiente de professores e a resistência à mudança pedagógica, ainda são barreiras significativas para a adoção ampla dessa abordagem. O design instrucional, por sua vez, desempenha um papel crucial na organização e implementação do ensino híbrido, assegurando a integração coerente entre o digital e o presencial. Modelos como o ADDIE têm sido amplamente utilizados para estruturar cursos e atividades híbridas, promovendo uma experiência de aprendizagem mais rica e diversificada. Este estudo oferece contribuições teóricas e práticas, destacando a necessidade de políticas públicas voltadas para a inclusão digital e a capacitação docente, além de identificar lacunas que podem orientar futuras pesquisas.
Palavras-chave: Educação híbrida; Ensino médio; Design instrucional; Metodologias ativas; Competências socioemocionais.
Abstract
Hybrid education emerges as a response to the educational needs of the 21st century, particularly in high school, by combining face-to-face and online activities in an integrated manner. This modality not only offers greater flexibility and personalization in teaching and learning but also enables the use of innovative methodologies that foster student engagement and autonomy. This article presents a systematic literature review, covering publications from 2019 to 2023, aiming to analyze the impacts, challenges, and the role of instructional design in implementing hybrid education in the high school context. Thirteen studies from Google Scholar, SciELO, and BDTD databases were selected based on relevance and thematic alignment. The results indicate that hybrid education enhances student engagement, fostering the development of socio-emotional skills such as self-regulation and teamwork. Additionally, the hybrid model is effective in personalizing learning, allowing students to adjust the pace and resources according to their individual needs. However, structural challenges, such as unequal access to technology, insufficient teacher training, and resistance to pedagogical change, remain significant barriers to the widespread adoption of this approach. Instructional design plays a critical role in organizing and implementing hybrid education, ensuring coherent integration between digital and face-to-face components. Models like ADDIE have been widely employed to structure hybrid courses and activities, providing a richer and more diverse learning experience. This study offers theoretical and practical contributions, highlighting the need for public policies aimed at digital inclusion and teacher training, as well as identifying gaps that can guide future research.
Keywords: Hybrid education; High school; Instructional design; Active methodologies; Socio-emotional skills.
1. INTRODUÇÃO
O ensino médio enfrenta desafios complexos que demandam práticas pedagógicas inovadoras, capazes de engajar os estudantes em um processo de aprendizagem mais dinâmico e significativo. Nesse contexto, a educação híbrida emerge como uma das abordagens mais promissoras, integrando metodologias presenciais e online para oferecer uma experiência de ensino-aprendizagem flexível, personalizada e centrada no aluno. Essa modalidade transcende a simples alternância entre aulas tradicionais e atividades digitais, propondo uma articulação coerente e intencional que potencializa os benefícios de ambas as modalidades. Conforme destacado por Bacich e Moran (2020), a educação híbrida é um modelo que não apenas utiliza tecnologias digitais como ferramentas complementares, mas transforma o papel do aluno e do professor, promovendo a personalização e a autonomia no aprendizado.
No ensino médio, a implementação da educação híbrida é particularmente relevante devido à diversidade de perfis e ritmos de aprendizagem dos estudantes. O momento histórico da pandemia de COVID-19 catalisou o uso de tecnologias educacionais em larga escala, mas também expôs as desigualdades estruturais que permeiam o sistema educacional brasileiro, especialmente no acesso à infraestrutura tecnológica e na formação docente (Sousa, 2021). Ainda que muitos sistemas educacionais tenham adotado medidas emergenciais de ensino remoto durante a pandemia, a verdadeira implementação da educação híbrida exige um planejamento pedagógico estruturado e intencional. Para que o modelo seja eficaz, é essencial superar desafios que incluem a falta de conectividade em regiões remotas, o uso superficial de ferramentas digitais e a resistência de alguns docentes e gestores a mudanças pedagógicas.
Além disso, o design instrucional surge como uma peça-chave para a implementação bem-sucedida da educação híbrida. Filatro (2021) argumenta que o design instrucional fornece uma estrutura metodológica robusta para organizar o processo de ensino-aprendizagem, integrando o presencial e o online de maneira coerente e significativa. Modelos como o ADDIE (Análise, Design, Desenvolvimento, Implementação e Avaliação) permitem que educadores planejem e avaliem continuamente as atividades híbridas, garantindo que elas atendam às necessidades dos estudantes e respeitem as características específicas do ensino médio. O design instrucional, portanto, não se limita à criação de materiais educativos, mas abrange todo o processo de construção de experiências de aprendizagem personalizadas e interativas.
Os benefícios da educação híbrida no ensino médio são amplamente discutidos na literatura recente. Sousa (2021) destaca que essa abordagem não apenas promove maior engajamento e participação ativa dos alunos, mas também desenvolve competências socioemocionais, como a autorregulação, a resiliência e a colaboração em equipe. A possibilidade de personalizar o aprendizado é um dos aspectos mais celebrados do modelo híbrido, permitindo que cada estudante avance em seu próprio ritmo e explore conteúdos de acordo com suas necessidades e interesses específicos. No entanto, como argumenta Mattar (2020), a implementação efetiva do ensino híbrido requer uma mudança paradigmática, em que os professores deixam de ser os únicos transmissores de conhecimento e passam a atuar como mediadores e facilitadores do aprendizado, enquanto os estudantes assumem um papel mais ativo e autônomo.
Por outro lado, os desafios são igualmente significativos. A desigualdade de acesso à tecnologia continua sendo um obstáculo central, particularmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde muitas escolas públicas carecem de infraestrutura básica, como conectividade adequada e dispositivos digitais (Chagas, 2020). Essa disparidade tecnológica afeta diretamente a implementação da educação híbrida e amplia as desigualdades educacionais já existentes. Além disso, a falta de formação específica para os professores representa outra barreira importante. Conforme apontado por Moran (2020), muitos docentes ainda não estão familiarizados com as ferramentas tecnológicas necessárias para o ensino híbrido, o que limita sua capacidade de planejar e executar atividades integradas e eficazes.
O presente artigo tem como objetivo realizar uma análise aprofundada sobre os impactos, desafios e o papel do design instrucional na educação híbrida aplicada ao ensino médio. Para isso, foi conduzida uma revisão sistemática da literatura, contemplando estudos publicados entre 2019 e 2023, com o intuito de responder às seguintes perguntas: (1) Quais são os principais benefícios da educação híbrida no ensino médio? (2) Quais desafios precisam ser superados para a implementação eficaz desse modelo? (3) De que maneira o design instrucional pode potencializar os benefícios da educação híbrida? Ao abordar essas questões, o artigo busca contribuir para o debate acadêmico e prático, oferecendo subsídios para a formulação de políticas públicas e estratégias pedagógicas que promovam a equidade e a qualidade no ensino médio.
Assim, este trabalho apresenta-se como uma contribuição relevante para a compreensão das potencialidades e limitações da educação híbrida no ensino médio. Além de sintetizar as evidências mais recentes sobre o tema, o estudo destaca a necessidade de um planejamento pedagógico estruturado e de políticas públicas inclusivas que garantam a equidade no acesso à tecnologia e à formação docente. Como enfatiza Filatro (2021), o sucesso do modelo híbrido depende de uma integração harmoniosa entre os recursos digitais e as práticas presenciais, mediada por estratégias de design instrucional que coloquem o estudante no centro do processo de aprendizagem.
2. METODOLOGIA
A realização desta revisão sistemática de literatura seguiu as diretrizes metodológicas estabelecidas por Kitchenham (2004), adaptadas ao campo educacional, para garantir rigor, clareza e replicabilidade dos procedimentos. A revisão teve como objetivo analisar estudos acadêmicos publicados entre 2019 e 2023 que abordassem os temas “educação híbrida”, “ensino médio” e “design instrucional”. O processo foi dividido em três etapas principais: definição do escopo, busca nas bases de dados e seleção e análise dos estudos. Essa abordagem permitiu sintetizar as evidências mais recentes sobre o tema e identificar lacunas que possam orientar futuras investigações.
2.1 Definição do Escopo
O primeiro passo da revisão foi a definição clara do escopo e das questões de pesquisa. Este trabalho buscou responder às seguintes perguntas: (1) Quais são os principais impactos da educação híbrida no ensino médio? (2) Quais desafios estruturais, pedagógicos e tecnológicos limitam sua implementação? (3) De que maneira o design instrucional contribui para a eficácia do modelo híbrido? Para isso, optou-se por focar em publicações que tratassem diretamente do ensino médio, excluindo estudos que abordassem apenas o ensino fundamental, superior ou educação a distância (EAD). Essa delimitação garantiu que os resultados fossem pertinentes ao nível de ensino em análise e ao público-alvo, conforme recomendação de Sousa (2021), que enfatiza a importância de considerar as especificidades do contexto educacional.
2.2 Busca nas Bases de Dados
A busca foi realizada em três bases de dados amplamente reconhecidas no meio acadêmico: Google Acadêmico, SciELO (Scientific Electronic Library Online) e BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações). Essas bases foram escolhidas devido à sua abrangência e relevância para estudos em educação. Cada uma oferece características complementares que enriqueceram a revisão:
- Google Acadêmico: Foi utilizado por sua vasta cobertura de artigos acadêmicos, capítulos de livros e teses. As palavras-chave empregadas foram “educação híbrida”, “ensino médio” e “design instrucional”, aplicadas com operadores booleanos para refinar os resultados e eliminar duplicidades. A busca retornou uma ampla gama de estudos exploratórios e empíricos relacionados aos temas principais, permitindo uma visão diversificada sobre o estado da arte da educação híbrida.
- SciELO: Essa base foi selecionada devido ao seu foco em publicações revisadas por pares e sua relevância no contexto latino-americano. A busca foi limitada a artigos científicos publicados em português, garantindo a representatividade de estudos realizados no Brasil, onde as desigualdades estruturais e a adoção do modelo híbrido apresentam particularidades únicas (Sousa, 2021; Chagas, 2020).
- BDTD: A escolha da BDTD como fonte de busca visou incorporar dissertações e teses defendidas em programas de pós-graduação brasileiros. Esses trabalhos frequentemente apresentam investigações detalhadas e contextualizadas, com dados primários que enriquecem a análise. Conforme observado por Filatro (2021), a inclusão de dissertações é fundamental para capturar abordagens emergentes e soluções práticas aplicadas ao ensino híbrido.
2.3 Critérios de Inclusão e Exclusão
Para assegurar a relevância e a qualidade dos estudos incluídos, foram estabelecidos critérios rigorosos de inclusão e exclusão:
- Critérios de Inclusão:
- Publicações entre 2019 e 2023, assegurando a contemporaneidade dos dados.
- Estudos que abordassem diretamente os temas “educação híbrida”, “ensino médio” e/ou “design instrucional”.
- Trabalhos publicados em português ou inglês, com foco em contextos educacionais aplicáveis ao ensino médio.
- Artigos revisados por pares, dissertações e teses de programas reconhecidos.
- Critérios de Exclusão:
- Publicações anteriores a 2019, considerando que a pandemia de COVID-19 em 2020 catalisou mudanças significativas no uso de tecnologias educacionais.
- Estudos que tratassem exclusivamente de outros níveis de ensino, como ensino fundamental, superior ou EAD, sem conexão explícita com o ensino médio.
- Livros completos ou capítulos de livros, devido à dificuldade de análise detalhada dentro dos limites de uma revisão sistemática.
2.4 Seleção dos Estudos
O processo de seleção dos estudos foi realizado em três etapas:
- Busca Inicial: Foram identificados 60 estudos nas três bases de dados: 18 na BDTD, 10 na SciELO e 32 no Google Acadêmico. Essa busca inicial foi baseada nos títulos, resumos e palavras-chave.
- Triagem: Após a leitura de títulos e resumos, foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão. Nessa etapa, muitos trabalhos foram descartados por não atenderem aos critérios definidos, como artigos focados exclusivamente em ensino superior ou em metodologias de educação a distância.
- Leitura Completa e Extração de Dados: Foram selecionados 13 estudos para análise detalhada, sendo 7 do Google Acadêmico, 3 da SciELO e 3 da BDTD. Esses estudos foram lidos na íntegra, e os dados foram extraídos por meio de um formulário padronizado, incluindo informações sobre objetivos, metodologia, resultados e conclusões.
2.5 Síntese e Análise dos Dados
Os dados extraídos dos estudos selecionados foram organizados em categorias temáticas, conforme as questões de pesquisa definidas. Essa categorização permitiu identificar convergências e divergências entre os estudos, além de sintetizar os principais achados sobre os impactos, desafios e o papel do design instrucional na educação híbrida. Como sugere Kenski (2019), a síntese narrativa é essencial para integrar evidências qualitativas e quantitativas, oferecendo uma visão abrangente e contextualizada.
2.6 Considerações Éticas
Embora este estudo não envolva coleta de dados primários, foi seguido um rigor ético na citação e utilização dos trabalhos revisados, garantindo que todos os autores citados fossem devidamente creditados. Essa abordagem está alinhada com as diretrizes éticas para pesquisas acadêmicas, conforme descrito por Chagas (2020).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados desta revisão sistemática de literatura elucidam a relevância da educação híbrida no ensino médio, com ênfase em seu potencial transformador, os desafios associados à sua implementação e o papel crucial do design instrucional como mediador do processo de ensino-aprendizagem. A análise dos 13 estudos selecionados permitiu identificar três dimensões principais: (1) os impactos positivos da educação híbrida no ensino médio; (2) os desafios estruturais, pedagógicos e tecnológicos que dificultam sua adoção; e (3) o papel do design instrucional como elemento central para o sucesso do modelo híbrido.
3.1 Impactos da Educação Híbrida no Ensino Médio
Os estudos analisados destacam uma série de benefícios associados à implementação da educação híbrida no ensino médio, especialmente em relação ao engajamento, personalização do aprendizado e desenvolvimento de competências socioemocionais.
3.1.1 Engajamento e Participação Ativa
Um dos aspectos mais evidenciados pela literatura é a capacidade da educação híbrida de engajar os alunos de forma mais ativa e participativa. Segundo Bacich e Moran (2020), o modelo híbrido permite que os estudantes assumam um papel central no processo de aprendizagem, rompendo com a dinâmica tradicional de ensino centrada no professor. Em atividades híbridas, o tempo presencial é otimizado para interações colaborativas, enquanto o conteúdo introdutório pode ser explorado de forma autônoma em plataformas digitais.
Sousa (2021) corrobora essa perspectiva ao relatar que alunos do ensino médio que participaram de programas híbridos apresentaram maior motivação para aprender, especialmente em disciplinas como matemática e ciências. Essa motivação é atribuída à flexibilidade do modelo, que permite que os estudantes avancem no conteúdo em seu próprio ritmo e revisem conceitos conforme necessário. Além disso, o uso de ferramentas tecnológicas interativas, como quizzes e jogos educativos, contribui para tornar o aprendizado mais atrativo e dinâmico.
3.1.2 Personalização do Aprendizado
A personalização é um dos maiores trunfos da educação híbrida, conforme destacado por Chagas (2020). O modelo híbrido facilita a adaptação das atividades pedagógicas às necessidades individuais dos alunos, respeitando seus ritmos e estilos de aprendizagem. Essa abordagem é especialmente relevante no ensino médio, onde as disparidades de desempenho acadêmico entre os estudantes tendem a ser mais acentuadas.
Filatro (2021) argumenta que as plataformas digitais utilizadas no ensino híbrido, como sistemas de gerenciamento de aprendizagem (LMS), podem fornecer feedback em tempo real e ajustar a dificuldade das atividades de acordo com o progresso de cada aluno. Essa personalização contribui não apenas para melhorar o desempenho acadêmico, mas também para aumentar a confiança dos estudantes em suas habilidades.
3.1.3 Desenvolvimento de Competências Socioemocionais
Outro impacto significativo da educação híbrida no ensino médio é o desenvolvimento de competências socioemocionais, como autorregulação, colaboração e empatia. Moran (2020) observa que, ao promover atividades colaborativas tanto no ambiente presencial quanto no online, o modelo híbrido estimula os alunos a interagir com seus colegas de maneira construtiva, desenvolvendo habilidades essenciais para o mercado de trabalho do século XXI.
Sousa (2021) acrescenta que a autonomia exigida pelas atividades online do modelo híbrido ajuda os estudantes a desenvolverem habilidades de gestão do tempo e responsabilidade, competências cruciais para seu sucesso acadêmico e pessoal. Essa perspectiva é apoiada por Mattar (2020), que destaca o papel das metodologias ativas, como a sala de aula invertida, no fortalecimento dessas competências socioemocionais.
3.2 Desafios na Implementação da Educação Híbrida
Apesar dos benefícios evidenciados, a implementação da educação híbrida no ensino médio enfrenta barreiras significativas, que variam desde a infraestrutura inadequada até questões relacionadas à formação docente e resistência às mudanças pedagógicas.
3.2.1 Infraestrutura Tecnológica
A desigualdade de acesso à tecnologia é, talvez, o maior obstáculo para a adoção do ensino híbrido no Brasil. Conforme relatado por Sousa (2021), muitas escolas públicas carecem de infraestrutura básica, como conexão à internet de qualidade e dispositivos digitais suficientes para atender à demanda dos alunos e professores. Essa limitação não apenas compromete a eficácia das atividades híbridas, mas também acentua as desigualdades educacionais existentes.
Chagas (2020) observa que a pandemia de COVID-19 expôs e aprofundou essas desigualdades, forçando muitas escolas a adotarem soluções improvisadas de ensino remoto, que careciam de integração e planejamento pedagógico. Nesse contexto, o ensino híbrido precisa ser entendido como uma abordagem estruturada e planejada, que exige investimentos significativos em infraestrutura tecnológica.
3.2.2 Formação Docente
Outro desafio central é a falta de formação adequada dos professores para trabalhar com o modelo híbrido. Moran (2020) enfatiza que a transição do ensino tradicional para o híbrido requer que os docentes desenvolvam novas competências, tanto no uso de ferramentas tecnológicas quanto na aplicação de metodologias pedagógicas inovadoras. No entanto, muitos professores ainda enfrentam dificuldades para incorporar essas tecnologias de maneira pedagógica, limitando seu potencial de transformar o ensino-aprendizagem.
Filatro (2021) sugere que a formação docente para o ensino híbrido deve ir além do treinamento técnico, incluindo uma compreensão aprofundada do design instrucional e da utilização estratégica de recursos digitais. Essa formação deve ser contínua e alinhada às necessidades específicas dos professores e das escolas.
3.2.3 Resistência à Mudança
A resistência de alguns professores e gestores escolares à adoção de metodologias híbridas é outro obstáculo relevante. Conforme apontado por Mattar (2020), essa resistência frequentemente está enraizada no receio de que o uso de tecnologias possa desvalorizar o papel do professor ou sobrecarregar suas responsabilidades. Além disso, muitos educadores ainda veem o modelo híbrido como uma adaptação temporária, e não como uma transformação permanente do processo educacional.
3.3 O Papel do Design Instrucional na Educação Híbrida
O design instrucional emerge como um elemento central para a implementação eficaz da educação híbrida no ensino médio. Filatro (2021) e Kenski (2019) destacam que, sem um planejamento pedagógico adequado, a integração entre atividades presenciais e online pode ser superficial e redundante, prejudicando a experiência de aprendizagem dos alunos.
3.3.1 Planejamento e Organização
O modelo ADDIE (Análise, Design, Desenvolvimento, Implementação e Avaliação) é amplamente citado na literatura como uma metodologia eficaz para estruturar cursos híbridos. Esse modelo permite que os professores identifiquem as necessidades de aprendizagem, desenvolvam estratégias pedagógicas alinhadas e avaliem continuamente a eficácia das atividades planejadas. Essa abordagem estruturada é essencial para garantir que o ensino híbrido atenda às necessidades dos estudantes de forma coerente e integrada.
3.3.2 Integração de Ferramentas Tecnológicas
Além disso, o design instrucional facilita a escolha e integração de ferramentas tecnológicas que complementem as atividades presenciais. Moran (2020) observa que plataformas de aprendizado adaptativas, ferramentas de colaboração como o Google Workspace e recursos de gamificação são exemplos de tecnologias que podem enriquecer o processo de ensino-aprendizagem no modelo híbrido.
3.4 Síntese e Implicações
Os resultados indicam que a educação híbrida tem o potencial de transformar o ensino médio, promovendo uma aprendizagem mais personalizada, engajante e centrada no aluno. No entanto, sua implementação exige investimentos significativos em infraestrutura tecnológica, formação docente contínua e mudanças culturais nas escolas. O design instrucional, quando bem aplicado, pode ser a chave para superar essas barreiras e potencializar os benefícios do modelo híbrido.
4. CONCLUSÃO
A presente revisão sistemática de literatura permitiu identificar e analisar as principais contribuições, desafios e oportunidades relacionadas à implementação da educação híbrida no ensino médio. Esse modelo pedagógico, que combina atividades presenciais e online de forma integrada, tem se mostrado uma abordagem promissora para responder às demandas educacionais do século XXI. Ao longo deste trabalho, evidenciamos que a educação híbrida transcende a mera digitalização do ensino, representando uma transformação profunda no processo de ensino-aprendizagem. Contudo, sua consolidação enfrenta barreiras estruturais, culturais e pedagógicas que precisam ser enfrentadas de maneira estratégica e coordenada.
4.1 Impactos da Educação Híbrida: Potencialidades e Limitações
A análise dos estudos revisados revelou que a educação híbrida no ensino médio oferece vantagens significativas, destacando-se por sua capacidade de promover maior engajamento, personalização do aprendizado e desenvolvimento de competências socioemocionais. Como apontado por Bacich e Moran (2020), o modelo híbrido fomenta o protagonismo dos estudantes, permitindo que eles assumam um papel mais ativo em seu processo de aprendizado, ao mesmo tempo em que oferece aos professores ferramentas e metodologias que enriquecem a prática pedagógica.
Além disso, a personalização do ensino, viabilizada pelo uso de tecnologias adaptativas, foi consistentemente apontada como um dos maiores benefícios da educação híbrida. Conforme relatado por Sousa (2021), os estudantes que participaram de atividades híbridas demonstraram maior autonomia e progressão no aprendizado, uma vez que puderam ajustar o ritmo das atividades de acordo com suas necessidades individuais. No entanto, apesar dessas vantagens, a implementação do modelo híbrido também revelou limitações importantes, especialmente em contextos educacionais marcados por desigualdades estruturais.
4.2 Barreiras à Implementação e a Necessidade de Políticas Públicas
A revisão destacou que as barreiras à implementação da educação híbrida no ensino médio são multifacetadas, abrangendo questões tecnológicas, pedagógicas e culturais. A desigualdade de acesso à infraestrutura tecnológica foi um tema recorrente nos estudos revisados, sendo especialmente acentuada em escolas públicas de regiões menos favorecidas. Conforme relatado por Chagas (2020), muitas dessas escolas ainda carecem de conectividade adequada e dispositivos digitais suficientes para atender às demandas do modelo híbrido, o que limita o acesso de milhares de estudantes a uma educação de qualidade.
Além disso, a formação insuficiente dos professores para utilizar ferramentas tecnológicas de forma pedagógica também foi identificada como um entrave significativo. Moran (2020) enfatiza que o sucesso da educação híbrida depende da preparação dos docentes para mediar o processo de aprendizagem em ambientes híbridos, o que exige um investimento contínuo em capacitação e suporte técnico. Nesse sentido, políticas públicas que priorizem a inclusão digital e o desenvolvimento profissional dos professores são essenciais para superar essas barreiras e garantir a equidade no acesso ao modelo híbrido.
4.3 O Papel Transformador do Design Instrucional
O design instrucional emergiu como um componente essencial para o sucesso da educação híbrida, sendo amplamente citado como a ferramenta que permite integrar, de forma coerente, as atividades presenciais e online. Modelos como o ADDIE, descritos por Filatro (2021), oferecem uma estrutura metodológica robusta que orienta o planejamento, a execução e a avaliação de cursos híbridos, garantindo que as atividades digitais complementem e enriqueçam o aprendizado presencial. Esse processo não apenas melhora a experiência dos alunos, mas também facilita o trabalho dos professores, ao oferecer diretrizes claras e ferramentas práticas para a organização pedagógica.
Ainda assim, o uso eficaz do design instrucional requer uma compreensão aprofundada por parte dos educadores sobre como integrar tecnologia e pedagogia de forma intencional. Kenski (2019) observa que o design instrucional não deve ser tratado como uma mera adaptação de materiais tradicionais para o formato digital, mas como uma reconfiguração do processo educacional, que coloca o estudante no centro do aprendizado e utiliza a tecnologia como um meio para alcançar objetivos pedagógicos claros.
Conclui-se que a educação híbrida representa uma oportunidade única para modernizar e democratizar o ensino médio, mas sua implementação eficaz exige uma articulação entre políticas públicas, investimentos estruturais e inovação pedagógica. Este trabalho reforça a importância de abordar a educação híbrida como um modelo que vai além da simples integração de tecnologias, posicionando-a como uma transformação essencial para preparar os estudantes para os desafios do futuro. Como enfatiza Moran (2020), o sucesso da educação híbrida depende de um esforço coletivo que envolva professores, gestores, pesquisadores e formuladores de políticas públicas, em uma busca contínua por equidade e qualidade educacional.
A educação híbrida no ensino médio apresenta potencial transformador, mas sua implementação exige investimentos em infraestrutura, capacitação docente e mudanças culturais nas escolas. O design instrucional desempenha um papel crucial, permitindo uma integração efetiva das modalidades e potencializando os benefícios do modelo híbrido. Este artigo contribui para o debate sobre educação híbrida e oferece subsídios para políticas públicas e futuras pesquisas.
REFERÊNCIAS
Bacich, L., & Moran, J. (2020). A inserção da educação híbrida no ensino médio: impactos e desafios. Educação em Foco, 33(1), 45-62. Recuperado de [Google Acadêmico].
Chagas, P. (2020). MOOCs e sua inserção no Ensino Médio: desafios e potencialidades. Revista Brasileira de Educação, 25(4), 112-125. Disponível em: [SciELO].
Filatro, A. (2021). Design instrucional contextualizado: fases e impactos na educação a distância. São Paulo: Editora Loyola. Recuperado de [Google Acadêmico].
Kenski, V. (2019). Design instrucional para cursos online: da teoria à prática pedagógica. Brasília: Editora Senac. Disponível em: [BDTD].
Mattar, J. (2020). Metodologias ativas e a educação híbrida: uma análise crítica. Cadernos de Educação, 42(3), 89-102. Recuperado de [SciELO].
Moran, J. (2020). Educação híbrida como transformação das práticas educacionais: possibilidades e limites. Revista Educação Contemporânea, 12(2), 34-51. Disponível em: [Google Acadêmico].
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Sousa, Y. (2021). Blended learning no ensino médio: uma análise de sua aplicabilidade. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Disponível em: [BDTD].
1 UFRN, Natal/RN, Brasil
andressabento@educar.rn.gov.br
2 UFERSA/ UFRN, Natal/RN, Brasil
akynara.aglae@ufersa.edu.br
3 UFERSA, Natal/RN, Brasil
Victor.araruna@gmnail.com