REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202504182115
Celso Aparecido da Silva1,
Telma Adriana Pacifico Martineli2,
Laura Silvério Silveira3,
Rafael Ayres Baena4
RESUMO
A pesquisa teve como objetivo mapear artigos e dissertações que apontem os principais conteúdos/unidades temáticas destacados na literatura recente sobre o ensino de Educação Física para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para este processo, utilizou-se a metodologia estado da arte, composta por uma pesquisa quali-quantitativa e bibliográfica, visando compreender como esses conteúdos contribuem para o desenvolvimento dos estudantes dessa modalidade de ensino. Utilizando o Google Acadêmico e a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), foram analisados 16 artigos e 3 dissertações publicadas entre 2018 e 2023. A pesquisa indica um aumento nas publicações pertinentes ao tema, apesar de existir uma limitação na relação entre “Educação Física”; EJA; conteúdo”. Destacam-se seis artigos e duas dissertações que respondem às questões da pesquisa, evidenciando contribuições significativas. As investigações apontam que os conteúdos abordados na Educação Física na Educação de Jovens e Adultos (EJA) vão além do desenvolvimento físico, integrando dimensões sociais, cognitivas e culturais.
Palavras-chave: Estado da Arte; Educação Física; EJA; Conteúdos.
Introdução
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) sempre foi um desafio para a sociedade, já que o poder público não a vê como prioridade. Todavia, há muito tempo, alguns estudiosos e educadores lutam pela melhoria dessa modalidade de ensino. Esse segmento atende demandas de pessoas que não concluíram seus estudos no tempo regular e que, por algum motivo, foram excluídas do processo (Santos, 2023, p.40).
Para Nascimento, Santos e Martins (2022), a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma resposta às demandas por escolarização colocadas pelos sujeitos sociais, demandas que são frutos de um longo período histórico de exclusão dos trabalhadores do acesso à educação escolar. Não se pode negar a importância da educação escolar como espaço privilegiado aos conhecimentos produzidos socialmente pela humanidade.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) abarca múltiplas realidades sociais em suas mais expressivas complexidades, que perfazem e entrepassam os processos de ensino e aprendizagem presentes no cotidiano dos jovens, adultos e idosos da modalidade (Di Pierro, 2005; Paiva, 2005; Gadotti, 2014).
Segundo Dulz (2015, p.1), entender quais os fatores que impulsionam a aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos (EJA) exige compreender necessariamente as especificidades desse público e de que modo as experiências trazidas por eles colaboram para o enriquecimento do processo educativo.
Tratar da temática aprendizagem na educação de jovens e adultos remete primeiramente à preocupação com as especificidades do sujeito educando dessa modalidade de ensino. É necessário considerar sua trajetória, culturas e vivências que podem colaborar para enriquecer as práticas do processo educativo (Dulz 2015, p.2).
A pesquisa conduzida por Alves et al., (2022) uma das características da Educação de Jovens e Adultos (EJA) é a convivência intergeracional entre jovens e adultos num mesmo ambiente. Observa-se um aumento do público jovem, nesse segmento, devido à certificação escolar exigida pelo mercado de trabalho. Isso representa um desafio para o professor, que precisa fomentar o diálogo entre alunos com ideias e conhecimentos diversos.
Tratando-se do público da educação de jovens e adultos há de se considerar a sua diversidade e características, formado por sujeitos com múltiplas histórias de vida e realidades que exigem atenção às suas características específicas, tanto em relação à própria educação básica quanto às suas diferentes formas de oferta (BRASIL, MEC, 2021).
Nesse contexto, a Teoria Histórico-Cultural, elaborada por Lev Vygotsky e seus colaboradores, surge como uma base teórica pertinente para a compreensão e aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A Teoria Histórico-Cultural, desenvolvida por Vygotsky (2001), leva em consideração aspectos relacionados à interação, à linguagem, ao contexto histórico do indivíduo, às particularidades individuais, às vivências, às experiências, aos aspectos biológicos e às condições materiais. Esse teórico afirma que o homem já nasce com aptidões e capacidades tipicamente humanas de aprender a construir a cultura e transmiti-las às futuras gerações, já que é um ser histórico-cultural.
Os estudos sobre a teoria Histórico-Cultural, muito devido às contribuições de Vigotski (2010, 2001, 2000) e seus colaboradores (Leontiev, Luria, Davídov entre outros) a respeito das funções psicológicas superiores (memória, consciência, percepção, atenção, fala, pensamento, vontade, formação de conceitos, emoção), mostraram que essas funções se desenvolvem a partir da interação do indivíduo com o seu meio social e cultural (experiências adquiridas por esse sujeito durante a sua vida) (Sousa; Andrada, 2013).
Leontiev (1978, p.267) nos ajuda a compreender esse fenômeno ao explica que”[…] as aptidões e caracteres especificamente humanos não se transmitem de modo algum por hereditariedade biológica, mas adquirem-se no decurso da vida por um processo de apropriação da cultura criada por gerações precedentes” (Pasqualini; Eidt 2019, p.61).
Segundo Meneses, Pordeus e Talmag (2020), a importância das contribuições de Vygotsky para a turma da EJA consiste em uma abordagem psicológica sócio-histórica, isto é, as funções psicológicas superiores construídas na interação do indivíduo com outros indivíduos e com o meio.
Os jovens e adultos não alfabetizados ou pouco escolarizados já construíram sua bagagem cultural, suas experiências de vida, isto é, já conhecem o funcionamento da língua materna. Este conhecimento, construído nas relações sociais, é sistematizado na escola pela intervenção dos companheiros de classe ou das educadoras. A mediação entre os colegas e as professoras favorecem a sistematização e a significação de assuntos que estejam sendo abordados pela turma (Talmag; Pordeus; Meneses, 2020, p.325).
A aprendizagem significativa, conforme proposta por Ausubel (2003), destaca-se como um princípio essencial na Teoria Histórico-Cultural. Os educadores da EJA podem facilitar essa aprendizagem ao incorporar as experiências de vida dos alunos no processo de ensino, criando uma conexão entre novos conhecimentos e conceitos já existentes.
Nesse sentido, o presente artigo parte do seguinte questionamento: Quais são os principais conteúdos/unidades temáticas destacados na literatura recente sobre o ensino de Educação Física para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e como a abordagem pedagógica desses conteúdos interfere no desenvolvimento físico, cognitivo e social dos estudantes dessa modalidade de ensino?
O início da busca das referências ocorreu no Google Acadêmico, e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), incluindo apenas publicações em português, na qual foi realizada uma seleção dos periódicos mais representativos, no período de outubro a dezembro de 2023, para organização das informações contidas nas publicações científicas determinou-se que os artigos e dissertações selecionados para o universo de análise seriam os publicados entre os anos 2018 e 2023, entendendo que este seria um período representativo da produção bibliográfica dos últimos anos.
Nesse levantamento de artigos e dissertações, estabeleceu-se como critério de seleção a presença nos títulos dos seguintes termos: “Educação física”; EJA, “Educação Física”; EJA; ensino e “Educação Física”; EJA; conteúdo”. Assim, quando um artigo apresentava um ou mais termos, era realizada uma leitura parcial para verificar o contexto em que aquele termo estava inserido no texto. Somente após essa revisão, o artigo/dissertação era selecionado. O universo analisado foi de 16 artigos e 3 dissertações. A pesquisa revelou que a maioria dos autores não se deteve em relação aos processos de aprendizagem de jovens e adultos. Muitos abordavam questões referentes a ensino de disciplinas específicas; currículo; formação de professores. Destes artigos, somente 06 foram relevantes e 2 dissertações por responder às questões deste estudo. Os dados demonstram que, de acordo com os descritores propostos para a seleção das produções científicas, o tema tem se mostrado cada vez mais recorrente nos últimos anos, apesar de haver um número reduzido de publicações no descritor “Educação Física”; EJA; conteúdo.
O artigo em questão está organizado da seguinte maneira: inicialmente, apresentamos uma discussão a respeito da matriz teórica que fundamenta as reflexões e análises presentes nesta pesquisa, com especial ênfase na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em seguida, descreveremos sobre a Educação Física, inserida na Educação de Jovens e Adultos (EJA) de modo a identificar o que vem sendo discutido a respeito desse componente curricular nessa modalidade de ensino. Posteriormente, apresentamos os resultados do levantamento bibliográfico realizado, acompanhados das análises desses dados. Por fim, compartilhamos as conclusões obtidas durante esta investigação.
Educação Física na Educação de Jovens e Adultos (EJA)
Do ponto de vista legal, a Educação Física está assegurada, existindo inclusive uma Proposta Curricular específica para orientar sua realização (BRASIL, 2002). Por outro lado, o mesmo artigo que assegura a obrigatoriedade desse componente curricular, lhe confere facultatividade conforme transcrição do Artigo 3o da LDBEN (BRASIL, 2003):
§3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação dada pela Lei no 10.793, de 1o.12.2003)
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; (Incluído pela Lei no 10.793, de 1o.12.2003)
II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei no 10.793, de 1o.12.2003)
III– que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; (Incluído pela Lei no 10.793, de 1o.12.2003)
IV– amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; (Incluído pela Lei no 10.793, de 1o.12.2003)
V – (VETADO) (Incluído pela Lei no 10.793, de 1o.12.2003)
VI– que tenha prole. (Incluído pela Lei no 10.793, de 1o.12.2003)
Para Günther (2014, p. 404) a redação dada ao texto acima cria uma situação de ambiguidade no que diz respeito a Educação Física e tem levado a interpretações, no nosso entendimento, equivocadas, de que, embora sendo um componente curricular obrigatório, o(a) estudante possa ser dispensado(a) das aulas considerando-se que, nas turmas de EJA, um número expressivo de estudantes encontra-se em alguma das situações apresentadas nos itens I, II ou VI.
Para Figueiredo (2021, p. 28) “A construção da relação entre a Educação Física e a Educação de Jovens e Adultos vem se constituindo a partir da lógica de assegurar o direito desse público às mais diversas áreas de conhecimento, sob a ótica de oportunizar a esse alunado o contato com a cultura corporal”.
A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo.
Nas aulas, as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível assegurar aos alunos a (re)construção de um conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de forma confiante e autoral na sociedade. É fundamental frisar que a Educação Física oferece uma série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, jovens e adultos na Educação Básica, permitindo o acesso a um vasto universo cultural. Esse universo compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas e agonistas, que se inscrevem, mas não se restringem, à racionalidade típica dos saberes científicos que, comumente, orientam as práticas pedagógicas na escola. Experimentar e analisar as diferentes formas de expressão que não se alicerçam apenas nessa racionalidade é uma das potencialidades desse componente na Educação Básica. Para além da vivência, a experiência efetiva das práticas corporais oportuniza aos alunos participar, de forma autônoma, em contextos de lazer e saúde (BRASIL, 2017, p. 213).
A Educação Física na Educação de Jovens e Adultos (EJA) pode ser compreendida como uma disciplina que integra e introduz o aluno à cultura corporal do movimento, de modo que o indivíduo possa produzí-la, reproduzí-la e transformá-la, por meio de vivências corporais abordadas nas unidades temáticas, beneficiando o exercício crítico da cidadania e ampliando o conhecimento acerca da qualidade de vida (MARINGÁ, 2020, p.1066).
A inclusão da Educação Física na Educação de Jovens e Adultos representa a possibilidade para os alunos do contato com a cultura corporal de movimento. O acesso a esse universo de informações, vivências e valores é compreendido aqui como um direito do cidadão, uma perspectiva de construção e usufruto de instrumentos para promover a saúde, utilizar criativamente o tempo de lazer e expressar afetos e sentimentos em diversos contextos de convivência. Em síntese, a apropriação dessa cultura, por meio da Educação Física na escola, pode e deve se constituir num instrumento de inserção social, de exercício da cidadania e de melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 2002, p. 193).
Para Galvão, Rodrigues e Neto (2015), essas formas básicas de movimento são combinadas de diferentes formas, em diversos espaços e demandas, também são consideradas elementos sociais e culturais, que originam novas formas de movimentações compartilhadas em um mesmo ambiente e tempo por agentes sociais, denominando, assim, a Cultura Corporal de Movimento.
Vale ressaltar que,
[…] a área da Educação Física tem importante contribuição no processo de formação de crianças, jovens e adultos por possuir um saber cultural, uma produção cultural humana que se estabilizou/legitimou no campo de conhecimento, que tem significação no mundo. A Educação Física é constituída por uma singularidade que não se expressa somente pela palavra, pela linguagem verbal, uma vez que sua materialidade se manifesta na linguagem não-verbal, na ação do tipo corporal, no corpo, no gesto do ser humano. A Educação Física tem como objeto de estudo a Cultura Corporal, participando do processo de formação escolarizada, socializando expressões que foram e vêm sendo desenvolvidas pelos seres humanos, que se expressam na dimensão corporal, no que designamos aqui de gesto significante, como forma de possibilitar a todos os estudantes o acesso ao conhecimento e aos seus meios de (re)produção como um direito inalienável de acesso à produção cultural imaterial. Nesta perspectiva, a capacidade da expressão corporal como linguagem desenvolve-se numa sequência de vivências e de experiências que se iniciam na interpretação espontânea ou livre, passando para a interpretação e explicação de conteúdos clássicos, em que conscientemente o estudante apropria-se e produz a linguagem corporal. Para tanto, a Educação Física trata diferentes ações humanas (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica, a luta, dentre outras), orientadas para a realidade concreta, às necessidades e motivações humanas, com fim formativo que promove a apreensão do conhecimento histórico indispensável ao desenvolvimento do pensamento sobre a Cultura Corporal, expressando o caráter político do ato educativo (BRASILEIRO et. al., 2016, p. 1009-1010).
Como exposto no Referencial Curricular do Paraná 2018, p. 337, torna-se necessário ampliar a percepção corporal, por meio da linguagem expressiva, favorecendo o autoconhecimento e o olhar crítico, que permita “visualizar novos conceitos para um corpo que sente, pensa e age”, possibilitando aos alunos resgatarem as memórias ancoradas em suas vivências corporais, que contribuíram para a construção de suas histórias pessoais .
Segundo Alves et al., (2022) o componente curricular Educação Física é fundamental à formação dos alunos, pois, dentre outros objetivos, ocupa-se de discussões sobre cultura, práticas corporais, lazer e saúde. Para isso, os objetivos do ensino devem ser claros e as práticas pedagógicas planejadas de acordo com a proposta pedagógica da escola a fim de atender as expectativas dos alunos, em harmonia com a realidade social de cada contexto escolar.
Resultados e Discussão
Destacam-se 06 artigos e 02 dissertações que respondem às questões da pesquisa, evidenciando contribuições significativas. Abaixo, apresentamos um quadro resumido das informações.
Quadro 1.
Total de artigos/dissertações selecionados

Os dados revelam que no conjunto de trabalhos analisados, segundo os descritores propostos para a seleção das produções científicas, o tema vem apresentando crescente número de publicações nos últimos anos, embora tenha se verificado um número restrito de publicações no descritor, “Educação Física”; EJA; conteúdo.
Apesar de não ser possível estabelecer uma abrangência da produção científica nacional a partir do número de artigos/dissertações identificados na plataforma, é possível constatar uma concentração de trabalhos nas Regiões Sudeste (cinco), Sul (dois) e Nordeste (um) do país. O quadro a seguir exibe essas informações.
Quadro 2.

Para análise do Quadro 2, situa-se cada artigo/dissertações visando identificar, quais conteúdos/unidades temáticas destacados na literatura recente sobre o ensino de Educação Física para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
O primeiro artigo intitulado “Atuação docente de Educação Física escolar na Educação de Jovens e Adultos (EJA): ações de promoção da saúde” (Costa; Souza; Carvalho, 2019). Os autores enfatizam a importância de uma abordagem mais ampla e contextualizada da temática de Promoção da Saúde (PS) nas aulas de Educação Física (EF) na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Os conteúdos a serem trabalhados nas aulas de Educação Física na EJA, segundo os autores, devem promover uma compreensão integral da saúde, considerar o contexto histórico e social, incluir formação específica para os professores, adotar uma abordagem crítica e reflexiva, e enfatizar a dimensão humana e social da Educação Física.
Já na pesquisa “Educação física na EJA: quem sabe faz a hora e não espera acontecer” (Camargo et al., 2020). Os pesquisadores destacam a relevância do trabalho pedagógico desenvolvido pelos professores que atuam na EJA e a necessidade de enfrentar as dificuldades para tornar a Educação Física uma disciplina obrigatória no currículo desta modalidade de ensino. Ressaltam que os conteúdos a serem trabalhados nas aulas de Educação Física da EJA devem ser diversificados, considerando as características e experiências específicas desse público. Isso pode envolver práticas corporais variadas, atividades lúdicas, promoção da consciência corporal e reflexões sobre a importância da Educação Física para o bem-estar e a qualidade de vida. Além disso, é importante assegurar o direito à consciência sobre o corpo, o acesso a diversas práticas corporais que integram a cultura humana.
O artigo “A educação física escolar como prática de promoção da saúde na educação de jovens e adultos – EJA” (Santos, 2020). O autor do texto ressalta a importância da Educação Física escolar na promoção da saúde e estímulo à vida saudável dos estudantes, especialmente na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Destaca-se a importância da motivação para a aprendizagem, indicando que a Educação Física escolar pode desempenhar um papel fundamental ao motivar os alunos a adotarem um estilo de vida saudável não apenas durante o período escolar, mas também em suas vidas cotidianas. É recomendável serem incluídas medidas preventivas e aplicáveis, o que significa abordar práticas que ajudem a prevenir problemas de saúde e que sejam aplicáveis à realidade dos estudantes.
A pesquisa “O ensino da Educação Física na EJA: uma análise a partir de falas dos professores” (Junior et al., 2021). Os autores apontam a diversidade de metodologias e estratégias de ensino utilizadas pelos professores para atender às necessidades dos alunos da EJA, considerando as peculiaridades desse público, como a diversidade de idades na mesma sala de aula. Embora não especifiquem os conteúdos exatos a serem abordados nas aulas de Educação Física, eles ressaltam a importância de garantir o acesso aos bens culturais e ao conhecimento histórico relacionado às práticas corporais. Além disso, destaca a necessidade de superar desafios, como a falta de infraestrutura e materiais nas instituições escolares, para proporcionar uma abordagem teórico-prática nas aulas de EF na EJA. Dessa forma, com base no contexto apresentado, é possível inferir que os conteúdos a serem trabalhados nas aulas de Educação Física devem abranger não apenas aspectos teóricos, mas também práticos, promovendo a vivência e a experimentação corporal. A adequação desses conteúdos deve considerar a diversidade de idades e as condições específicas das instituições de ensino da EJA, buscando integrar o conhecimento histórico-cultural às práticas corporais, e superando possíveis limitações estruturais.
No artigo “Singularidades e conteúdos da Educação Física na Educação de Jovens e Adultos” (Alves, et al., 2022). As atividades propostas na Educação Física na Educação de Jovens e Adultos (EJA) devem atender às necessidades e limitações dos estudantes. O objetivo das atividades de Educação Física na EJA é incentivar a socialização dos alunos, proporcionando um ambiente que respeite as diferenças. Além disso, é notável a relevância de orientações direcionadas à aquisição de saúde e à melhoria da qualidade de vida. A diversidade entre as faixas etárias é uma característica perceptível na EJA. Os educadores devem estar cientes dessa diversidade e ter sensibilidade para escolher atividades que envolvam todos os participantes, desde jovens até idosos. O compartilhamento de experiências entre indivíduos de idades diferentes é altamente valorizado. A troca de vivências entre idosos e jovens é considerada valiosa e intensa. A Educação Física na EJA deve contribuir para a formação de estudantes críticos e reflexivos, capazes de se envolver ativamente na promoção de um trabalho em equipe, adquirindo novos comportamentos e culturas. Apesar de os autores não detalharem conteúdos específicos, suas ideias apontam para uma abordagem inclusiva, adaptável e sensível às características e necessidades dos alunos da EJA. O foco é a promoção da saúde, a integração social e a valorização da diversidade de idades.
Em seu artigo “Os saberes e lugares da Educação Física na Educação de Jovens e Adultos: um estudo de revisão” (Gonçalves; Wittizorecki, 2023). As conclusões deste estudo indicam que, na Educação Física da Educação de Jovens e Adultos (EJA), os conteúdos devem ser revistos e direcionados conforme as particularidades dessa modalidade de ensino. Alguns pontos destacados são: os conhecimentos tradicionais que priorizam a adoção de hábitos saudáveis e práticas compensatórias para o exercício físico. A Educação Física na EJA deve ter uma abordagem integral e emancipadora, ultrapassando o desenvolvimento físico e adotando uma perspectiva que leve em conta a luta pela dignidade e emancipação dos indivíduos. Em síntese, os autores sugerem que a Educação Física na EJA deve superar as abordagens tradicionais, buscando uma proposta curricular que esteja mais alinhada com as realidades e necessidades dos alunos, promovendo uma abordagem crítica, integral e emancipatória.
A dissertação intitulada “Ressignificação de temas geradores na educação física da EJA: das situações limite aos inéditos viáveis” (Souza, 2023). Destaca a importância de abordar e problematizar temas relacionados à cultura corporal durante as aulas de Educação Física na Educação de Jovens e Adultos (EJA). O autor enfatiza a necessidade de uma prática pedagógica alinhada com as realidades, identidades e diversidades dos alunos, preconizando uma abordagem contextualizada. A proposta é que os conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física da EJA atendam a uma variedade de práticas corporais contextualizadas, levando em consideração a riqueza da diversidade cultural, as identidades individuais dos alunos e promovendo uma reflexão crítica sobre o mundo. O objetivo é que essas aulas contribuam para a formação integral dos educandos, considerando suas experiências, perspectivas e necessidades específicas.
Enfim, a dissertação seguinte intitulada “A educação física na modalidade de educação de jovens e adultos” (Winkler, 2023).Segundo o autor, os resultados da pesquisa indicam que todos os professores entrevistados afirmaram abordar todos os conteúdos do referencial curricular em suas aulas. Além disso, destacaram a capacidade de estender as discussões para além desses temas, abordando temas mais específicos que atendem às necessidades específicas dos jovens e adultos. Essas temáticas incluem cuidados com alimentação, índice de massa corporal, frequência cardíaca, anabolizantes, esportes e a importância da atividade física em diferentes faixas etárias. Dessa forma, o autor ressalta a relevância de uma abordagem abrangente que não se limite aos aspectos técnicos da Educação Física, mas que também leve em consideração as necessidades específicas dos alunos da EJA. A proposta é promover uma educação que seja ao mesmo tempo abrangente e emancipadora, proporcionando uma experiência significativa e adaptada à diversidade desse público.
Quadro 3.
O quadro abaixo destaca as principais ênfases e recomendações encontradas na literatura recente sobre o ensino de Educação Física para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Considerações finais
A partir dos estudos citados, percebemos que, nos diferentes artigos e dissertações, os conteúdos/unidades temáticas investigados na literatura recente sobre o ensino de Educação Física para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), é possível destacar argumentos que enfatizam a importância de uma abordagem integral e adaptada às necessidades específicas desse público diversificado.
Os conteúdos sugeridos, que abrangem desde a compreensão da saúde até a valorização da consciência corporal e pensamento crítico, refletem uma busca por uma Educação Física mais contextualizada e atenta. Essa perspectiva não se limita ao domínio físico, mas se estende à promoção da saúde e à reflexão sobre os hábitos de vida, destacando a disciplina como um elemento fundamental para o desenvolvimento dos estudantes na Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A ampliação de práticas corporais e a consideração da pluralidade de idades reforçam a necessidade de criar ambientes inclusivos que valorizem a heterogeneidade e promovam a coesão social. A interação significativa entre os conteúdos e as experiências de vida dos alunos apresenta-se como uma estratégia valiosa, tornando as aulas mais adequadas e significativas diante das diversas realidades, identidades e diversidades presentes na Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Além disso, a abordagem crítica e emancipatória proposta pelos estudos ultrapassa a transmissão de conhecimentos técnicos, buscando estimular mudanças comportamentais e culturais.
Ao superar desafios estruturais, fomentar a integração social e estimular reflexões e mudanças culturais, a Educação Física na EJA se destaca como um agente de transformação, contribuindo não apenas para o desenvolvimento físico, mas também para a formação integral dos estudantes.
Em síntese, as investigações apontam que os conteúdos abordados na Educação Física na Educação de Jovens e Adultos (EJA) vão além do desenvolvimento físico, integrando dimensões sociais, cognitivas e culturais. Porém, é perceptível a ausência de um currículo específico para a EJA nessa disciplina. Diante desse contexto, é necessário elaborar diretrizes curriculares específicas que reconheçam e valorizem a singularidade da Educação Física na EJA, garantindo assim uma abordagem educacional mais efetiva e alinhada aos princípios de equidade e inclusão.
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1Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação –Universidade Estadual de Maringá- Pr , e-mail: edfisicacelso@gmail.com
2Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá- Pr , e-mail: tapmartineli@uem.br
3Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação –Universidade Estadual de Maringá- Pr , e-mail: lsslaura2@gmail.com
4Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação –Universidade Estadual de Maringá- Pr , e-mail: ayresbaenarafael@gmail.com