EDUCAÇÃO E PERMANÊNCIA: OS FATORES QUE DISTANCIAM O JOVEM E ALUNO DO VIVER E FAZER CAMPESINO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10002321


            Alan Alves Coutinho


RESUMO

O presente artigo trata do papel da educação para o incentivo do jovem do campo em permanecer e continuar o viver e fazer familiar, destacando assim, os altos índices de descontinuidade causada pelo êxodo dos jovens filhos que buscam por novas experiências de um novo fazer com mais aprendizagens, entendendo a educação como prática necessária à nova sociedade, sem a qual nenhum povo desenvolve, aparelhando-se com os novos tempos, já que o rural para eles não pode ser visto como apenas produtor agropecuário, passando a incluir outros valores a descobrir e dominar, necessitando assim, despertar o gigante adormecido que há na capacidade dessa nova juventude. Da mesma forma, destacando a falta de compromisso e assistência para com este povo, pois nesse país ainda prevalece um cenário de fechamento das últimas escolas rurais, ou a ausência de planejamentos e assistências educacionais de qualidade, que se define por reflexo preconceituoso em relação ao povo simples do campo, impactando diretamente na decisão de permanência da juventude que já não consegue se sentir pertencente ao campo se não forem alcançados por continuação da escolarização. E que por compreensão e indagação da pesquisa, define-se os objetivos, analisar resultados de produções científicos que abordam ao fator permanência campesina por jovens alunos na realidade do campesinato, onde a Educação do campo nomeia o fenômeno dessa desordem, protagonizada por jovens filhos do trabalhador  rural com suas formas de organização, assim como seus interesses sociais, suas lutas, lógicas e necessidades, Caldart ( 2008).

PALAVRASCHAVE: Papel da educação; incentivo para permanência; continuidade campesina.

ABSTRACT

This article deals with the role of educacion in encouraging young people from the coutryside to stay and continue living and doing family things, thus highlighting the high rates of discontinuity caused by the exodus of young children looking for new experiences of a new way of doing things with more learning, understanding educacion as a necessary practice for the new society, without wich not a single people develops in keeping with the new times, since rural areas for them cannot to include other values to discover and master, thus needing to awaken the sleeping giant within the capacity of this new youth. In the same way, highting the lack of commitment and assistance towards these people, as in this country there still prevails a scenario of closure of the last rural schools or lack of quality educational planning and assistance, which is defined by a prejudiced reflection towards the simples rural people, directly impacting the decision to stay of yong people who can no longer feel like they belong to the countryside if they are not achieved through continued schooling. And that through understanding and inquiry into the research, the objectives are defined to analyze results of scientific productins that address the campesina permanence factor by young students in the reality the peasantry where rural educacion names the phenomenon of this disorder carried out by young children of rural workers with their forms of organizations as well as their social interests, logical struggles and needs(CALDART, 2012).

KEY WORDS: role of education: incentive to stay: peasant continity.

INTRODUÇÃO

           Sabe que o fazer rural tem enfrentado atualmente um crescente desinteresse desta juventude em permanecer no campo.

Pesquisas sobre o fazer campesino tem ganhado espaço de debate entre o povo do campo para alcançar os meios difusores e consequentemente despertar projetos políticos a respeito. E assim, por se tratar de uma questão aos danos e decadência no fazer rural, causando significativas perdas profissionais para o campo, além da descontinuação de permanência e geração de segurança alimentar aos diferentes povos de outros seguimentos profissionais.

A preocupante questão tem sido levantada em nível internacional, conforme relatório  CEPAL/FAO/IICA (2014), que identifica a falta de compromisso dos governos em rever a questão da vida e o fazer rural do pequeno povo campesino. E assim entende que precisa haver investimentos e políticas públicas direcionadas ao modo de vida e do fazer deste povo, para garantir sustentabilidade e incentivo de fixação desse público em seu respectivo local de vivência. Pois destaca que a questão migratória do jovem camponês está representando uma ameaça ao fazer campesino, já que este fazer sempre demonstrou contribuição econômica ao país. Daí a necessidade de reconhecer que este fazer é uma atividade tão importante quanto, e que deveria pelo menos na teoria, receber maior atenção e incentivo à altura de sua contribuição.

Em face às questões levantadas, o que parece demonstrar o desinteresse dos jovens campesinos neste fazer, pode está associado à ascensão da modernidade representada desde a era industrial que tem se caracterizado por melhor foco de atração. Outro fator que muito tem contribuído para a redução do jovem campesino por este fazer, tem a ver com a redução da natalidade entre o povo do campo que também prejudica a cadeia produtiva por falta de jovens trabalhadores nativos. Outro fato é a própria falta de interesse dos demais jovens, em continuar a vida e o fazer campesino, por se tratar de uma vivência pacata, estando eles mais interessados em curtir outros modos de vida e trabalho com mais agitação. E desanimados do campo, acreditam que a cidade é a promessa de um futuro mais social, mais divertido e com maiores possibilidades em se darem bem. Mas  de acordo com Abramovay (1988), as fronteiras entre o rural e o urbano estão muito estreitas e vários fatores diminuem a distância entre estas realidades. Da mesma forma, Martins (2007), nesse processo os jovens não estão excluídos, tão pouco incluídos, vivem uma realidade paralela, onde a ilusão do ideal urbano reside. E a consequência, nesse caso pode ser o indesejado, pois muitos jovens despreparados e portando uma bagagem de aprendizagem inferior ou insuficiente para ser atendida em um novo modo de vida, lotam uma nova plateia urbana por não conseguir competir, tendo assim os sonhos frustrados e causando um outro problema de ordem urbana, sendo marginalizados e novamente sofrendo a segunda onda discriminatória por não conseguir nova superação. Dessa forma, para o problema de abandono ao  campo, o reflexo é notado por duas vertentes: de um lado, a sua vaga se torna quase insubstituível, deixando os seus familiares  à mercê da velhice e assim estagnando o fazer e a existencialidade do campesinato. Do outro lado, com a modernização e na falta destes nativos jovens, o fazer do campo, de modo geral, procura se readaptar a uma outra demanda de jovens, que por eles, novos e modernos meios produtivos, gerenciados para esta nova força operária e tecnológica que apresenta uma bagagem de conhecimentos buscados para melhor competir. Assim, alavancando um recorde de produção, devidamente contribuído pela inserção destes novos trabalhadores do urbano que na ocupação daquele fazer abandonado, se despertam e procuram preencher estas vagas com maior desempenho, preparação e acúmulos de conhecimentos tecnológicos para somar maior força para o outro lado do campo que mais cresce, não mais aceitando o tradicional viver e fazer do povo simples que a séculos representou o campesinato.

Nesse caso surge ordem ou desordem no fazer campesino? Que pessoas ainda querem compor o antigo quadro de trabalho campesino? Quem foi ou quem permanece? Qual tipo de jovem está se preparando para assumir este grande empreendedorismo no campo? Quais são os fatores que estão relacionados a desvalorização educacional e profissional desse fazer tem contribuído ou distanciado o jovem dessa realidade? Como a educação pode influenciar a vida cotidiana desses jovens? Em que consiste a relação entre educação e o fazer no / do campo? Quais os impedimentos têm se colocado contra o desenvolvimento e valorização desse fazer?

Estes questionamentos nos leva a entender o problema da pesquisa, assim, perguntas de investigação e os objetivos, visando analisar os fatores pelos quais estes jovens têm abandonado ou permanecidos neste fazer campesino.

Após questionáveis levantamentos é possível compreender que estes jovens representam um papel importantíssimo na continuação do fazer de seu povo, pois são eles que herdarão o direito de permanecer na terra, dando sequência ao modo de vida e do fazer de seus pais. Serão os futuros trabalhadores e administradores dos bens e do fazer, por isso há uma grande necessidade em rever estudos e pesquisas sobre a juventude rural e como cooperar para garantir esta perpetualidade, já que de um modo geral também são considerados os responsáveis pelo futuro do país e provedores das possíveis mudanças que possam acontecer para melhor viver e fazer com responsabilidade e sustentabilidade.

Em face, é possível detectar a desordem que afeta o desarticulamento desse viver e fazer campesino, ficando visível o desequilíbrio rural, pela sucessão da terra e seu povo, a insegurança por uma produção mais sustentável e saudável, e a formação social e cultural do campesinato.

 Também é notável que quando estes jovens crescem em meio a tantos desafios e dificuldades, se manterem socioeconomicamente ativos no campo, sendo ainda espremidos pela necessidade educacional, acabam por visualizarem a cidade como uma possibilidade de acesso a outros níveis de profissionalismo mais promissores.

1 O RURAL PARA SEUS JOVENS

             Segundo definição de povos do campo, publicada no texto das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação do campo, página 266: o rural, nesse sentido, mais do que um perímetro não urbano, tem que ser um rural de possibilidades que dinamiza a ligação dos seres humanos com a própria produção das condições da existência social e com as realizações da sociedade humana. Propondo   aluno campesino deve se ver integrante social no contexto da sua comunidade para depois se perceber como cidadão e jovem aprendiz inserido em um fazer de valor.

             Assim, o referente estudo, tenta contribuir no resgate da identidade desse aluno como sujeito valorizado que vive em um espaço e na relação dele, por um fazer continuado muito importante para o crescimento de todos. Pretendendo contribuir por uma educação que ensine a este jovem campesino, perceber-se como cidadão e jovem aprendiz que se orgulhe de sua identidade profissional, tradição, história de lutas, conquistas, superações e gratidão. Motivado para dar continuidade neste fazer, vivendo e se apropriando das inovações tecnológicas conquistadas e dominadas intelectualmente, levando-o apropriar-se de múltiplas capacidades na busca de soluções de problemas da sua vivência local. Pois o viver e praticar campesino ainda sofre com a ausência de benefícios públicos que lhes favoreçam de forma a agregar-lhes status de igualdade social na mesma proporção que há no urbano. Sendo assim, há portanto uma enorme desigualdade no tratamento dessa comunidade em comparação urbana, não só nos aspectos sociais, como também educacionais que sempre chegam de forma restringida ou incompleta. Embora o sistema não admita, permanece uma visível dicotomia entre o que é oferecido no urbano e o que é oferecido para o campo, dando entender que este lugar é atrasado e a cidade bem desenvolvida independentemente. Sendo assim, na visão de muitos, o fazer no campo continua estagnado, sendo visto como área indesejada até mesmo pelos próprios sujeitos que o integra. E desmotivados por achar que estão em um lugar inferior, dentre outros adjetivos, alimentando práticas discriminatórias contra a própria natureza, deixando recair este peso, principalmente contra os novos alunos que em suas inocências começam desejar outros fazeres opostos, na esperança de se tornarem mais importantes no meio urbano, indo contra a primeira citação que diz que o campo é um lugar de possibilidades criativas na dinâmica de um fazer produtivo para a existência social e humana. Portanto, percebe que os jovens campesinos ainda sentem na pele o antigo modelo escravocrata, deixados pelos portugueses e que mais tarde os próprios brasileiros dominantes de uma classe trabalhadora, o adaptaram para efetuar a exploração brutal sobre este povo, gerando assim, até os dias de hoje, preconceitos em relação aos povos que vivem, trabalham no campo. Brasil (2007). E assim, o fardo desse sentimento tem contribuído para determinar seus destinos na construção de outros fazeres antagônicos do modo de vida que sempre trilhou e assim contribuindo para o crescimento do êxodo rural. Mas segundo o que está escrito na LDB de 1961, há uma preocupação especial em promover a educação nas áreas rurais para frear a onda migratória do campo para as cidades. Já a LDB de 1971 (5692/71) incube o papel da escola, formação para o mercado de trabalho, ou seja, produção agrícola, Brasil (2019).

             Compreende que o próprio sistema educacional tem se preocupado com a questão educativa dos povos do campo no sentido de contribuição de um fazer profissional agrícola, consciente e capaz de superação aos desafios, principalmente os desmotivadores que obrigam o jovem campesino, desistir e abandonar seus sonhos, na continuidade da prática produtiva de seus pais, e assim, seguir sem direção novos rumos profissionais. Mas, “nosso pensamento é de defender o direito que essa juventude tem de pensar o seu mundo a partir do lugar onde vive, ou seja, da terra em que pisa, melhor ainda, desde a sua realidade,” Fernandes (In: kOLLING, CERIOLI e CALDARTE, 2002, p.97):

             .

             Sabe-se, que desde o surgimento do modelo de desenvolvimento industrial, o fazer campesino tem se intensificado de forma industrializada em direcão ao urbano, sempre alimentando o preconceito de ser pouco dinâmico, despreparado para as inovações tecnológicas, domínios criativos de gestão e poucos conhecimentos teóricos para lidar com certas precisões. E deparando com estas situações, o jovem do campo tem sua realidade distorcida por motivo de uma estagnada concepção educacional não concebida e alcançada, gerando assim uma nova questão de sobrevivência desvinculada de seu mundo real. E estes obstáculos vêm influenciando novas escolhas profissionais, na tendência de fazê-los afastar de tudo que possa está associado ao fazer campesino, direcionando-os, a readaptar-se em outras áreas, na ilusão de se sustentarem muito mais em status do que por seguimento de um trabalho de sua cultura.

            Conforme Repensando o Agro, a falta de estímulos para o jovem campesino permanecer em seu local de origem, esse fazer campesino sofrerá as penalidades por falta desse pessoal que domina bem esse trabalho, AHLERT (2001). Dessa forma, muitas propriedades tenderão ao abandono, o que já tem afetado a maior parte das atividades, conforme relatos de produtores questionados.

             Outra questão que tem causado desvio das funções campesina está relacionado à natureza social e cultural, pois desacreditados de um futuro próspero, muitos pais orientam os filhos a buscarem estudos, com visão de trabalho urbano, alegando que este fazer não é vida fácil, com pouca remuneração, vergonhoso, distante de tudo e todos, e por fim, desprezados até mesmo pelas políticas públicas  que dificilmente os atende. E movidos por este complexo de inferioridade e desprezo, propõe aos filhos se esforçarem bastante nos estudos para conseguir uma boa profissão urbana que lhes garantam status de personalidades mais importantes, que vivam, segundo eles, uma vida mais fácil, regada de maior prazer, acesso a grandes oportunidades e relações sociais diversas, alimentando assim o grande preconceito de exercer o viver e o fazer campesino.

            Em face a tantos fatores desmotivadores, muitos municípios tem buscado ofertar aos seus jovens, cursos de qualificação profissional nas áreas da agricultura e pecuária, na intenção de colaborar por uma educação e formação consciente, produtiva, auxiliadora e acima de tudo incentivadora, ajudando buscar reconhecimento, valorização, melhoramento e cooperativismo para que o produtor produza com segurança e convictos que o seu fazer e seu produto é importante para a economia do município além da auto satisfação econômica . Sabndor que é indispensável para manter o mundo em atividade. Importante porque vai gerar renda para a própria família. É importante porque sem produzir, o mundo para . É importante , principalmente provado no período da pandemia do COVID 19, que o mundo parou e que este fazer campesino esteve ativo para sustentar aqueles que pararam de produzir, mas precisaram se alimentar . Mostrando que este fazer carregou o mundo e que o preconceituado teve e terá seu momento de reconhecimento e valorização.

             E que o processo de ensino aprendizagem de muitos municípios, tem buscado influenciar na vida dos jovens, um aprender realista, proporcionado por profissionais nativos do campo, que procuram oportunizar a construção do conhecimento de seus alunos, conforme a realidade de vida de cada um, na tentativa de torná-los, cidadãos ou profissionais conscientes e capazes de recriar condições favoráveis ao seu modo de vida, na certeza de um fazer compensatório. E assim, a relação entre a educação e o fazer campesino tentará despertar nos seus jovens, suas potencialidades profissionais, habilidades e capacidades criativas em promover para se próprio um saber que lhe posicione de forma estratégica na demonstração de suas capacidades adquiridas. Nesse sentido, esta educação deverá ser entendida como provocadora do desenvolvimento da autonomia e do senso crítico, da progressão nos estudos posteriores e por fim, garantir a dignidade dessa sociedade para não ser mais compreendida por ser atrasada, simples e sem desenvolvimento criativo para transformar. E assim, ao nascer fraco, precisa se tornar forte. Como  nasce carente de tudo, precisa de toda espécie de assistência. No entanto, tudo que precisar quando grandes, pode ser alcançados pela prática da educação, (Rousseau, 2004). Da mesma forma, a relação da educação com o sujeito campesino deve ser entendida por um ensino que não é transferir o conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou construção, (FREIRE, 1997).

             Libânio ( 2007 ) também diz que a escola deve formar sujeitos preparados para sobreviver, principalmente na sua sociedade, na construção da sua dignidade e autoimagem positiva desse fazer e assim, apropriando positivamente dos benefícios da ciência e tecnologias em favor do seu trabalho e seu crescimento pessoal e profissional campesino.

2 REALIDADE DA NÃO PERMANÊNCIA POR GRANEREAU

Para esta compreensão, primeiramente partirá do ponto de contribuição que as (EFAs), Escolas Famílias Agrícolas possam proporcionar para melhor entender o processo de permanência ao próprio campo por seus jovens. Embora esse tipo de educação tenha se adequado bem à realidade do povo camponês e principalmente quanto a redução do êxodo, causado por seus jovens filhos. Pois estes centros educacionais atuam na satisfação do povo do campo, atendendo especialmente aos filhos da agropecuária, através de um sistema de alternância para que os filhos não sejam tirados do viver e fazer de seus pais, da sua realidade e da sua garantia de permanência, conforme entendimento dessa sociedade.

            Abbé Granereau sempre sensibilizou pela problemática que envolve o futuro do jovem do campo, sentia-se incomodado como o povo do campo era tratado pelo Estado ou até mesmo pela Igreja, entretanto, como estas instituições desconsideravam as necessidades educativas e profissionais desse povo, comparada aos atendimentos e considerações para com o povo urbano.  E dessa preocupação, nasce seu modelo de educação contribuitiva com a formação, capacitação e foco em continuidade, objetivando  tornar fixo o povo do campo, principalmente os jovens filhos, na sua própria essência de espaço e convivência. Portanto, a ação educativa não nasceu por acaso, nem de brilhantes projetos governamentais que historicamente deveriam pensar a verdadeira política pública para atender ao jovem do campo em suas principais necessidades. Assim, ao pensar uma maneira de contribuir com a educação do jovem filho do camponês, de forma que aprendesse a se desenvolver, sem que necessariamente fosse obrigado direcionar-se ao urbano. E contra essa ação voluntária, maior prevalecia o incentivo praticado pelo Estado que sempre se opunha às necessidades do povo do campo, principalmente contra a vontade dos pais que não conseguiam achar outra saída para seus filhos a não ser enviá-los para o urbano, para que lá tivessem a oportunidade de estudar e se profissionalizar, pois até mesmo contra a garantia de permanência, consistia a disseminação pelos próprios professores da época, que incentivavam estes pais que era preciso direcionar os jovens filhos para o urbano, por se tratar de melhor opção de formação e profissionalismo, desvalorizando assim, o viver e fazer do campo (GRANEREAU 1969, p. 22). E que semelhante realidade, ainda prevalece tais interpretações para com os atuais jovens do campo, pois são forçados a tomar esta decisão de não mais continuar no rural, não porque querem, mas sim pelo fato das condições internas e externas forçar esta decisão, e que ainda, conforme (QUEIROZ, 1997), os filhos de camponeses sempre terão que optar por continuar seus estudos saindo da presença dos pais, do seu viver e fazer rural, se estabelecendo na cidade ou permanecendo em seu lugar de origem, com a família e o fazer do campo, interrompendo assim, seu processo escolar. Mas , a família do campo sempre precisa da presença de seus herdeiros e ao mesmo tempo, este povo geralmente não possui as condições de mantê-los na cidade, longe da proteção familiar. Realidade que sempre esteve e está posta aos pais ou a grupos que direto ou indiretamente estão envolvidos na busca de soluções para manter a permanência do jovem do campo, atendido ali mesmo, em suas necessidades, formação e profissionalização para estar incluído na nova demanda de produção e competição. Entretanto, toda ação comunitária executada por Granereau, sempre esteve ligada à intenção de colonizar o povo camponês, e assim, superar o isolamento, porém, foi preciso adequar uma escola que atendesse a necessidade do campo, com uma formação capaz de tornar seus jovens, preparados para chefiar seu próprio empreendimento, mesmo na sua pequena propriedade, causando assim, a redução do êxodo rural por continuidade campesina. No entanto, sempre houve a questão do tempo disponível para o jovem do campo conciliar estudo e dedicação para com o fazer campesino, e assim, ser incluído em um processo de educação sem que aconteça a forçada desistência educacional, pois estes jovens sempre tiveram a necessidade de estarem constantemente envolvidos em algum fazer rural, na contribuição familiar. Dessa forma, as EFAs, foram as primeiras soluções pensadas e com condições de influenciar e evoluir, garantindo assim, a razão de permanência e continuidade no viver e fazer campesino (FREITAS, 2018).

            O Padre Granereau sempre contribuiu para a realização do jovem do campo, como sujeito que deve ser valorizado e ajudado em seu modo de vida. Lutava para aperfeiçoar, defender e difundir um sistema educacional diferente do convencional urbano, para que o jovem campesino tivesse real aproximação com o seu campo. Assim, compreendia que o homem do rural precisava de uma escola apropriada à sua realidade, focada no desenvolvimento de seu espaço e assim, causando sua permanência. E em seu diário, que se tornou “O Livro de Lauzun”(1969), registrava e preservava todas suas lutas e conquistas em prol da valorização do jovem campesino. Enfim, retratava os momentos de vitórias e frustrações, tudo em referência a um sistema educacional que se voltasse à valorização do povo campesino, resultando assim, no que se conhece hoje como modelo de Pedagogia da Alternância ou (MFR), Maisons Familiales Rurales. Atualmente, maior contribuição para compreensão e construção de um modelo que capacita a consolidação do conhecimento para que os jovens do viver e fazer campesino se guiem por caminhos que causem razões de permanência. E assim, inconformado com a devida desconsideração que se teve com o jovem campesino na Europa, a partir de 1930, e que ainda se tem para com a juventude do campo brasileiro, visto por muitos como modo de vida atrasado, ultrapassado, sujeito ao abandono, esquecido e que só o urbano representa pleno desenvolvimento, modernismo, conhecimento, aquisição e boa educação. No entanto, a cidade sempre simulou simpatia para com o povo do campo em parcelas de considerações e que no fundo da realidade sempre o subestimou, e desprezou-o enquanto se apropria de seus produtos, sossego de vida e indução de falsos conselhos para com o futuro de seus jovens. E que se entristecia ao perceber que o próprio campesino sempre caiu na falácia daqueles que ao invés de incentivar, buscavam e buscam conduzir a outros caminhos que não sejam o viver e fazer campesino.

[…] teu filho é inteligente; é preciso não deixá-lo atrás das vacas… é preciso pô-lo para estudar… será melhor que tu… terá um belo futuro. E sempre crentes, os pais confirmavam: Nosso filho é inteligente, faremos dele um sábio. Infelizmente, ele aprenderá tudo, exceto a ciência da terra. […].Partindo para estudar no grande centro urbano, o jovem camponês tornava-se quase sempre orgulhoso de si próprio e, rapidamente, passava a olhar de cima para baixo aqueles que continuavam muito “bestas”, permanecendo no campo. E quantas vezes, ele próprio envergonhando-se de sua origem. Dessa forma, o mundo rural estava sendo usurpado do que tinha de melhor em inteligência e de suas potenciais lideranças (GRANEREAU, 1969,  p. 35).

3  O EXEMPLO DE LAUZUN PARA ESTABELECER PERMANÊNCIA RURAL

Seu principal fundamento para com uma escola direcionada aos anseios e necessidades do jovem do campo, era desenvolver a ciência e tecnologia no trato com a terra, somada com a sabedoria acumulada pelos agricultores experientes e que pudessem contribuir para acrescentar novas aprendizagens para seus jovens. Dessa forma, contou com inúmeras disponibilidades que passaram a entender a importância dessa obra educativa para incluir o jovem do campo para o campo. E assim, esse projeto foi crescendo até chegar à cidade de Lauzun, toda Europa, África, Ásia e América, até Brasil em 1968, e assim, expandindo o trabalho, que a cada dia passa a integrar novas culturas de conhecimento e organizações de simpatizantes e associações de pais agricultores e campesinos que se solidarizam com a importância dessa obra para a realização e contribuição de permanência dos  filhos do campo. Fortalecendo assim,  a educação e a escola para o campo, por caminhos da necessidade de permanência,  que aproxima a uma compreensão educacional à realidade do alunado do campo. Da seguinte forma, levando em consideração o fator desistência campesina e o entendimento que a educação como prática social e histórica possa contribuir para o repensar a formação do jovem campesino por sua necessidade em aprender o verdadeiro valor de sua permanência, como ação atualizada, específica à nova realidade do seu viver e fazer no campo. Pois o rural já não pode ser entendido como apenas produtor agropecuário, que por causa dessa nova juventude, passa a agregar valor a bens que até então não eram de consumo, tornando-se, um espaço heterogêneo de acordo com as novas demandas. E essa juventude está sentindo a forte pressão que as diversas mudanças que ocorrem no cenário do agro, exercem sobre a sua vivência e ação no pequeno mundo campesino, não permitindo ser como antes. Assim, suas relações e condições de vida e trabalho estagnado deixam de ser atrativos para sua permanência, fazendo com que os problemas de sua falta, tornam-se crescente vazio para o campo. Dessa forma, não acreditando em perspectivas de desenvolvimento neste lugar, preferindo evadir-se dele, e se direcionando ao urbano, não pela aventura de viver novas experiências, e sim pela impossibilidade de neste campo, alcançar seu pleno desenvolvimento, sem que uma educação norteadora sobrepõe a seu favor e direcionamento em adequação de novas estratégias de crescimento e bem-estar. E sabendo que por intermédio educacional se fortalece entendimentos, caminhos, consciência e construção das capacidades, embora, o novo viver e fazer campesino também sobrecarrega a nova juventude por está preparado ao passo de novos tempos, por uma nova agropecuária e novos modos de produção campesina, com muita responsabilidade social,  ambiental e assim garantindo seu estado de segurança e permanência. Da seguinte forma, uma nova visão de campo e aquisição de conhecimento e tecnologia, muito contribuirá pela diminuição do êxodo rural por jovens, ao mesmo tempo que pode trazer as oportunidades de renda. Entretanto, a permanência ou desistência também está entrelaçada às dificuldades, injustiças e mazelas vivenciadas pelo jovem do campo que ainda traz a cicatriz  de que nascer e permanecer no rural, com um ensino limitado e no trabalho da lavoura, ainda parece ser sinônimo de atraso, ignorância, e que aparentemente dá a ideia de povo que não quer crescer e se desenvolver na vida. E assim, ao pensar uma educação que se volta à valorização do jovem do campo e sua permanência como solução dos problemas de abandono, cria-se fortalecimento ao real valor dessa vivência, desse fazer e por uma continuidade progressiva. Pois a ideia que se tem hoje, da educação oferecida é que a organização pouco está interessada em abordar e tratar os problemas presentes no campo, já que esta educação prioriza a experiência urbana, incentivando constantemente a migração da juventude do campo para a cidade, tratando o seu viver e fazer como algo arcaico, oposto à ciência e sem grandes perspectivas neste lugar (NOSELLA, 2012 ), que também demonstra, conforme conclusão de análise de que este problema no campo, nada mais era e continua sendo, um problema de educação, isto é, de uma formação capaz de preparar chefes para pequenas empresas rurais. E que o desejo desse padre sempre foi o de capacitar essa juventude para seu lugar de convivência, abrindo destaque para as necessidades deles estarem ligados às suas vivências rurais, de forma a ajudá-los com a compreensão do trabalho familiar e assim permanecer, mesmo que para isso fosse necessário deslocar alguns dias do mês, no chamado período de alternância e que necessariamente retornasse para os pais nos demais dias do mês, contribuindo assim com sua aquisição de  aprendizagem e desenvolvimento de estratégias de produção e bem estar para toda família e consequentemente a sua permanência conquistada.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Afinal, quem é o novo jovem do campo? E qual sua importância para o campo?

            Em sentido geral, jovem é uma categoria que não recebe qualificação específica por parte dos classificadores que os colocam como estudantes, filhos de agricultores, para este estudo, entre outros adjetivadores (CARNEIRO, 1998). Para o rural, é um aprendiz de agricultor no interior dos processos de socialização e de divisão social do trabalho na unidade familiar. Também é comumente visualizado como o futuro dos espaços em que atua. Considerado pessoa que se encontra na faixa etária entre 15 e 29 anos, para a categoria do campo. Importantes para o campo por sua força de trabalho e natas habilidades, sendo indispensáveis para a manutenção e continuidade produtiva familiar e existencial desse espaço para o viver e fazer menos agressivo ao meio ambiente, ao modo de vida na sua simplicidade e na relação e preservação de uma cultura milenar, onde a família prevalece unida. Onde seu papel é preponderante para a construção de uma sociedade social, humanamente mais natural e representando a garantia de uma parte da soberania alimentar e a continuidade do modelo de produção sustentável, com o respeito ao meio ambiente, consciente uso tecnológico, qualidade de vida e democracia (UNICAFES, 2021). Pois se sabe que este trabalho no campo começa cedo, tirando assim o direito de brincar e muitas das vezes, o direito de estudo das crianças do campo. Revelando assim, que mais de 95% desses jovens começam a trabalhar antes dos 17 anos de idade, tanto homens quanto mulheres. Idade em que deveriam está na escola, fazendo as tarefas dela, ou tirando o momento para entretenimento. Neste ritmo, se tornando jovens desmotivados com o campo, por carregarem desde cedo um pesado fardo. Da seguinte forma, estas condições em que são predestinados já indicam algumas das possíveis razões para não mais desejar o campo, e sim, a fuga para a cidade. E que quando se tornam crescidos, e seus hormônios se tornam uma inquietude, os homens correm para o urbano, já que no campo está reduzido o número de moças. Nascendo assim outra necessidade, a de escolha para constituir família, o que também, dependendo da escolha, esta ação pode contribuir para não mais retornar, pois nem toda mulher aceita viver dependência depois de experimentar a independência, já que no campo, dificilmente terá remuneração salarial semelhante modelo urbano. Outro empecilho seria a conclusão de estudos ou cursos que estas jovens possam está se preparando, o que não lhes permitiriam tão fácil desistência para acompanhar homem, até mesmo pelo fato de não ter esse acesso no rural. E também pelo fato desse jovem não ser dono da terra, mas futuro herdeiro, o que não significa está seguro para reconstituir nova família em cima de algo que ainda não é seu. Fator mencionado como principal demanda, para atrapalhar a vontade de permanência do jovem filho. Por estes e outros motivos, deixam sua comunidade, sua tradição, seus pais, toda sua vivência de campo, por buscar relacionamentos, estudos e trabalho pouco penoso. Pelas incertezas, dificuldades e negação educacional limitada que é oferecida no meio rural.  Por não participar da gestão e participação direta da lucratividade, e por não crescer educacionalmente e nem profissionalmente, até por não buscar qualidade de vida não contemplada no campo, por maior oferta de trabalho, relações, lazer, saúde, acesso a saneamentos, transporte, benefícios estruturais, etc. Neste sentido, a escapatória é sair para estudar e depois estuda pra não mais voltar. Não só pelo fato de opressoras experiências vividas no campo, mas também pelo fato do campo já não fazer parte da sua nova realidade, pois neste período, muitos jovens conseguem se superar e prosperar com aquilo que não obtiveram no campo, e assim, não tendo mais o sentido de retorno a não ser o de passeio. Outro exemplo em que saem para estudar e estudam para não voltar é o resultado cultural, onde o povo do campo aprendeu ditar para todos as crianças a seguinte frase:” Estude bastante para não ter que ficar no campo e ter uma vida sofrida de igual modo”. Ou seja, há nessa frase, conselho para não permanecer no campo, dando a ideia que na cidade a vida vai ser melhor, mais fácil, mais leve, mais confortável, mais agradável, mais tudo.

5 REFERÊNCIAS

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AHLERT, L. Estratégias para a pequena produção agropecuária com base no mercado consumidor do Vale do Taquari. Santa maria: UFSM, 2001

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