AUTISM AND INCLUSION: THE IMPORTANCE OF PSYCHO-PEDAGOGICAL INTERVENTION IN THE DEVELOPMENT OF TEACHING STRATEGIES FOR CHILDREN WITH AUTISM
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505292213
Joelma do Socorro dos Santos Marques1
Jaqueline Mendes Bastos2
RESUMO
Este estudo discute a relevância da intervenção psicopedagógica por meio de estratégias direcionadas à crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O objetivo principal é investigar práticas pedagógicas que tornem o processo de ensino mais inclusivo, com metodologias que realmente funcionem na prática. A pesquisa foi desenvolvida a partir de um levantamento bibliográfico, fundamentado em obras especializadas e documentos normativos sobre educação inclusiva. A partir disso, reuniram-se informações que permitiram compreender que, embora haja avanços legais importantes, ainda há muitos desafios, especialmente na formação docente e na aplicação de estratégias que atendam, de fato, ás necessidades desses alunos. O estudo ressalta a importância de abordagens pedagógicas que promovam a inclusão e destaca o papel do psicopedagogo como facilitador no processo de ensino-aprendizagem. Como contribuições, são apresentadas sugestões práticas voltadas aos docentes, como o intuito de promover um ambiente escolar mais acessível às necessidades de estudantes autistas.
Palavras-Chave: Autismo; Inclusão; Psicopedagogia; Estratégias.
ABSTRACT
This study discusses the relevance of psychopedagogical intervention through strategies aimed at children with autism spectrum disorder (asd). The main objective is to investigate pedagogical practices that make the teaching process more inclusive, with methodologies that actually work in practice. The research was developed based on a bibliographical survey, based on specialized works and normative documents on inclusive education. From this, information was gathered that allowed us to understand that, although there are important legal advances, there are still many challenges, especially in teacher training and in the application of strategies that truly meet the needs of these students. The study emphasizes the importance of pedagogical approaches that promote inclusion and highlights the role of the psychopedagogue as a facilitator in the teaching-learning process. As contributions, practical suggestions aimed at teachers are presented, with the aim of promoting a school environment that is more accessible to the needs of autistic students.
Keywords: Autism; Inclusion; Psychopedagogy; Strategies.
1 – INTRODUÇÃO
A palavra “Autismo” tem origem no termo grego “autós”, que significa “de si mesmo”. Esse significado nos ajuda a compreender por que pessoas autistas tendem a direcionar sua atenção para o próprio mundo interior, com foco acentuado em seus próprios pensamento e comportamentos. Os Transtornos do Espectro Autista (TEA) englobam um conjunto de condições que afetam, em diferentes níveis, o comportamento social, a comunicação e a linguagem. Essas manifestações costumam ser acompanhadas por padrões repetitivos, interesses restritos e comportamentos estereotipados, que variam de pessoa para pessoa. (MELLO, 2007). Incluir na escola uma criança com diagnostico de TEA é um desafio, já que algumas apresentam características que dificultam a interação social, afetiva e biológica. Como por exemplo, há pouco contato visual, dificuldade de interação e atrasos na fala. Além disso, muitos comportamentos sensorio-motores considerados incomuns, acabam destoando do padrão formal adotado pelas instituições de ensino no Brasil (MENEZES, 2012).
Isso ocorre porque, apesar dos avanços significativos na área da inclusão obtidos legalmente, as escolas ainda não possuem, em sua maioria, uma visão individualizada dos alunos, com poucos profissionais qualificados e métodos alternativos que ofereçam suporte para atender as diferenças. Mesmo assim, é notório o direito à educação dos estudantes com TEA, assegurado pela Constituição Federal de 1988, no Artigo 205, assim como pela Lei nº 12.764 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA.
Para que uma escola seja inclusiva, é fundamental que os professores, assim como todos os profissionais que trabalham na escola, busquem formação continuada na área da inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD), mesmo que seja um percurso que exija que os professores saiam da sua “zona de conforto” e assumam mudanças na sua rotina escolar (MACHADO, 2009).
Assim sendo, para alcançar uma escola inclusiva, é preciso que ela tenha um Projeto Político Pedagógico (PPP) que inclua estratégias curriculares que possibilitem e orientem os professores sobre o processo de inclusão. Os professores da sala de aula regular, professores da Sala do Atendimento Educacional Especializado (SAEE), em conjunto com a família e o psicopedagogo, devem realizar uma avaliação minuciosa do aluno e traçar a melhor metodologia para ele, adaptando e flexibilizando o currículo e utilizando os melhores métodos possíveis para o discente (BRASIL, 2020).
A inclusão de alunos com autismo é um tema amplamente discutido na área da educação, mas ainda não há um método de ensino e aprendizagem que leve em consideração as diferenças individuais desses alunos (MARTINS, 2007). Para tanto, o papel do psicopedagogo nas escolas é crucial, pois esse profissional auxilia na identificação e solução de problemas no processo educativo.
A educação inclusiva demanda práticas educacionais que considerem as diferenças dos alunos, incluindo aqueles com deficiência, que são capazes de aprender e conviver em sala de aula regular (PAPIM e SANCHES, 2013). É na escola que ocorre o processo contínuo de transformação e construção de conhecimentos.
A intervenção psicopedagógica é fundamental para ajudar os professores a lidar com alunos com autismo, já que a aprendizagem é um processo intrínseco e particular, dependendo do ritmo e potencial de cada sujeito (MARTINS, 2007). O trabalho transdisciplinar do psicopedagogo, em conjunto com os professores da sala regular e do SAEE, é essencial para identificar as dificuldades dos alunos e definir metodologias que promovam o seu aprendizado.
Desta forma, esta pesquisa bibliográfica visa destacar a importância da intervenção psicopedagógica na inclusão social de alunos com autismo. Foram analisadas as metodologias e práticas pedagógicas utilizadas em salas de aula inclusivas, buscando identificar estratégias curriculares que possam ajudar os professores no trabalho com esses alunos.
Para este estudo, foram utilizados livros, artigos científicos e documentos relacionados à temática. A primeira parte da pesquisa abordará os conceitos e características do autismo, incluindo os conhecimentos sobre o TEA ao longo dos anos. Na segunda parte, serão discutidas as estratégias de inclusão social de alunos com TEA, incluindo a mediação no processo de inclusão e escolarização. Já na terceira parte, serão abordados os recursos que podem ser explorados no processo de ensino dos alunos com autismo e a atuação do psicopedagogo nesse processo.
Por fim, serão apresentados os resultados e as considerações finais da pesquisa.
2 – A INCLUSÃO SOCIAL AO LONGO DO TEMPO: PERSPECTIVAS E REALIDADES
Nos últimos anos, tem havido um progresso significativo nos estudos em Educação Especial no Brasil, com a ampliação do acesso à educação para educandos com necessidades especiais. A inclusão desses alunos na sociedade é determinada na legislação, como na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estabelece a educação especial como uma modalidade de educação escolar. Conforme o artigo 58 da LDB 9.394/96, pessoas com deficiência são aquelas que possuem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial (BRASIL, 2011, p. 26).
A atuação dos psicopedagogos é de grande importância para efetivar a inclusão dos alunos com deficiência, e acompanhar o processo de desenvolvimento sobre inclusão no ambiente educacional. Segundo Barbosa (2001), o papel dos psicopedagogos é transformar ou ampliar o que já se sabe, e ministrar práticas pedagógicas individualizadas que aceleram o desenvolvimento das crianças com autismo, a fim de que tenham sucesso no processo educacional.
Desde a década de 80, o tema da inclusão vem sendo discutido sistematicamente nos encontros de professores, tendo como referência o caráter político da prática pedagógica e o compromisso do educador com as classes populares (VENTURA, 2016, [s.p]). A educação inclusiva constitui um modelo educacional baseado na noção de direitos humanos, que unifica igualdade e diversidade como valores inseparáveis tanto no ambiente escolar quanto fora dele (BRASIL, 2007, p. 1).
No entanto, a diversidade comportamental nos ambientes escolares ainda representa um grande desafio para os professores, que precisam de novas intervenções, como novas metodologias de atividades, dinâmicas e adaptações individualizadas de conteúdo segundo as necessidades de cada aluno. A inclusão é um desafio permanente e é uma das coisas mais complexas da organização social, conforme destacado pela UNESCO (1994, [s.p]).
3 – AUTISMO: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS
O TEA é uma desordem neurológica que afeta a comunicação e as relações sociais na maioria das pessoas a partir dos três anos de idade. Esse período é crucial para estabelecer conexões neurais típicas, o que torna o autismo caracterizado por movimentos repetitivos e estereotipados e problemas de comunicação social. “Crianças com TEA reagem diferentemente a diferentes sensações, como ouvir, ver, tocar, sentir, equilibrar e degustar”, como aponta Silva (2012, p. 9-10).
A habilidade social é a principal área afetada, conforme observa Silva (2012, p. 9-10), que destaca a dificuldade de interpretar sinais sociais e intenções de outros indivíduos, o que impede que pessoas com autismo percebam corretamente algumas situações em seu ambiente. A comunicação verbal e não verbal também é prejudicada, assim como a área de comportamentos inadequados. De forma geral, segundo Castro (2024, p. 27)
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode se manifestar de modo precoce, geralmente antes do segundo ano de vida. Esse transtorno é caracterizado por prejuízos na comunicação, dificuldade na interação social e comportamento e/ou interesses repetitivos e restritos para coisas e pessoas. Esses prejuízos, por sua vez, afetam o desenvolvimento pessoal, familiar, social, pedagógico e, posteriormente, profissional do autista.
Segundo o Manual de Diagnósticos e Estatísticas Mentais – DSM (VITTORINO ANDREOLI et al., 2013), o TEA se manifesta, principalmente, em três áreas: dificuldades na comunicação, desafios nas interações sociais e comportamentos que fogem ao padrão esperado. Indivíduos autistas costumam apresentar um conjunto restrito e repetitivo de interesses e atividades, o que é conhecido como estereotipias, e isso pode impactar as relações sociais, conforme destacado por Silva et al. (2012, p. 6).
De maneira geral, os autistas têm dificuldade em lidar com coisas inesperadas e mudanças de rotina, além de apresentarem dificuldades de socialização. Essas características podem ser observadas precocemente, pois surgem desde o momento em que o indivíduo começa o processo de desenvolvimento social, assim como nas outras áreas das relações humanas. Crianças com autismo tendem a não considerar as emoções alheias em relação às mesmas e, conforme observado por Schwartzman (1994, p. 16), costumam interpretar de maneira errada as expressões faciais e o tom de voz dos outros. Além disso, enfrentam grandes desafios para formar amizades e, muitas vezes, não demonstram preocupação com seu isolamento, mostrando uma preferência por ficarem sozinhos.
O ser humano é inerentemente um ser social, como afirmou Aristóteles em sua obra Ética a Nicômaco (1973, IX, 9, 1169 b 18/20). Desde a infância, buscamos a interação com outras pessoas para aprender as regras e costumes da sociedade em que vivemos. No entanto, as pessoas com autismo enfrentam dificuldades em diferentes níveis de gravidades na socialização. Existem pessoas que se retraem em um universo fechado, outras que têm dificuldades em interagir com os demais, e ainda há aquelas que enfrentam desafios mais discretos. (SILVA, 2012)
O contato social é a característica mais prejudicada em indivíduos diagnosticados com TEA, uma condição amplamente discutida na literatura científica por meio de metáforas como conchas fechadas, fortalezas vazias, carapaças e tomadas desligadas (CAVALCANTI e ROCHA, 2001, p. 26). A sensibilidade acentuada torna o contato social ameaçador para muitos autistas, o que leva a um isolamento em seu próprio “mundo”, fazendo com que prefiram brincar sozinhos e não participar de atividades em grupo, como brincar com outras crianças no recreio escolar.
Cau (2016, p. 64) observa que a singularidade do autista é o que o afasta do mundo e dos outros, e sua presença pode causar medo e temor em outras pessoas, que se deparam com um indivíduo tão incrivelmente diferente. Os autistas têm dificuldade em interpretar a linguagem corporal, expressões faciais e entonações de voz dos outros, e muitas vezes não percebem que seu comportamento é inadequado ou incomoda outras pessoas (SILVA et al., 2012, p. 129).
Pessoas com autismo percebem, sentem e interpretam o do mundo de maneira diferente da maiora. Essas diferenças podem dificultar a interação social e criar barreiras na comunicação. Compreender essas particularidades é essencial para que familiares, educadores e terapeutas possam oferecer apoio adequado, contribuindo para uma vida com mais qualidade e bem-estar. Esse conhecimento é o primeiro passo para ajudar essas pessoas a enfrentarem os desafios sociais com mais autonomia e dignidade.
4 – ESTRATÉGIAS DE INCLUSÃO EDUCACIONAL
4.1 – Educação Inclusiva Com Foco Na Educação De Autistas
Uma educação de qualidade é um direito básico de todos, independentemente de sua condição social, econômica ou física. Beyer (2006) destaca a necessidade de construir e implementar uma pedagogia que seja comum a todos os alunos, sem exceção, inclusive aqueles com formas diferentes de aprender. Isso significa respeitar as particularidades de cada estudante, sem rótulos ou preconceitos. É fundamental que toda a comunidade escolar compreenda e valorize os direitos de cada aluno, promovendo uma educação realmente inclusiva e justa. Como reforça Cunha (2019), não é possível falar sobre inclusão sem pensar em um ambiente que, de fato, acolha. A escola precisa ser um espaço onde todos se sintam pertencentes, aprendam com dignidade e sejam tratados com respeito e dedicação.
Para um professor que recebe um aluno com autismo em sua sala de aula, é um desafio que requer apoio psicopedagógico adequado e a participação de toda a escola, desde o porteiro até a merendeira, para garantir o sucesso do trabalho (CARVALHO, 1999). A abordagem psicopedagógica com crianças autistas usa técnicas comportamentais que ensinam noções básicas de funcionamento, como vestir, comer e higiene. Isso é fundamental para que a criança possa ter autonomia sobre suas próprias vontades e necessidades (CUNHA, 2019).
Além da intervenção do psicopedagogo escolar, que trabalha com orientação técnica e domínio de recursos instrucionais específicos, é necessário que a criança seja acompanhada por outros profissionais, como psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, para criar estratégias de intervenção que ajudem no progresso escolar da criança com autismo (CUNHA, 2019; TEIXEIRA, 2016). Uma educação de qualidade para todos é um processo complexo que envolve a colaboração de toda a comunidade escolar e o reconhecimento das necessidades individuais de cada aluno.
De acordo com o “Manual Estratégias e Orientações para a educação de alunos com dificuldades acentuadas de aprendizagem relacionadas às condutas típicas” (MEC/BRASIL, 2022), a implementação da educação inclusiva requer a reestruturação da instituição de ensino a fim de aumentar as oportunidades de participação para todos os estudantes, atendendo assim às suas necessidades educacionais. Para que um sistema educacional inclusivo funcione de maneira eficaz, é crucial que toda a comunidade escolar se envolva no processo de inclusão ou transição de um aluno que anteriormente estava em programas especiais ou que não frequentava a escola.
Para os professores, há diversas estratégias que podem contribuir para melhorar o aproveitamento da aprendizagem de crianças com autismo. Conforme destaca Fonseca (2014), é fundamental que a sala de aula tenha como princípio a valorização do respeito mútuo. Cunha (2020), por sua vez, ressalta a importância de preservar a capacidade de observação, permitindo a identificação clara de comportamentos inadequados. Já Cavaco (2014) propõe que o ambiente de aprendizagem seja organizado de maneira a envolver e motivar os alunos, incentivando sua participação ativa e responsabilidade nas atividades realizadas em aula.
Do mesmo modo, é fundamental que os professores favoreçam a aquisição de consciência do mundo e de si mesmo pelos alunos com autismo. Isso pode ser alcançado por meio do uso da comunicação alternativa, que segundo Sameshima (2011) inclui gestos, expressões faciais e corporais, além de símbolos gráficos, como fotos, letras e números. Também é possível empregar computadores e dispositivos de vocalização digital, opcionalmente como métodos de comunicação para quem não consegue usar a linguagem oral.
Apesar de aparentemente contraditório, a comunicação alternativa é uma atividade atual e proposta por profissionais qualificados, de acordo com a indicação do Ministério da Educação do Brasil (BRASIL, 2012). Embora algumas pessoas com deficiência possam apresentar dificuldade para interpretar a linguagem corporal das outras pessoas, quando aplicada adequadamente, toda pessoa com deficiência incapaz de usar a linguagem oral tem a capacidade de aprender, conforme destacado por Sameshima (2011).
4.2 – A Atuação Do Psicopedagogo No Processo De Inclusão Educacional
De acordo com Fernandez (2001), o contexto escolar atual é marcado pelo fracasso dos alunos, desvalorização dos professores, falta de recursos e investimentos, e dificuldades de aprendizagem cada vez mais presentes. Por isso, profissionais que atuam na avaliação e na intervenção psicopedagógica têm buscado alternativas para minimizar esses problemas. A atuação do psicopedagogo na escola é preventiva e visa assessorar os professores, segundo Fernandez (2001).
O trabalho do psicopedagogo é de extrema importância para atender alunos com diferentes especificidades, como o autismo, que ainda é um dos maiores obstáculos do processo da educação inclusiva. Para que a inclusão ocorra, é necessária uma readaptação nas propostas educacionais, nas estratégias curriculares e no agregamento de outros profissionais que contribuirão com um ensino triunfador para todos, conforme Santos (2008).
Segundo Cunha (2019), o psicopedagogo como interventor coadjuvante do processo de ensino-aprendizagem de alunos com autismo usará uma abordagem mais comportamental, que é uma construção dialógica e não interpretativa. Além disso, a intervenção do psicopedagogo pretende libertar os alunos das limitações comportamentais que lhes trazem danos.
A educação inclusiva prevê a adoção de práticas diferenciadas pela escola, com o objetivo de auxiliar os profissionais que atuam na elaboração de estratégias que não se limitam a homogeneidade, mas que levem em conta as particularidades de cada estudante. Essas práticas envolvem modificações nos objetivos, conteúdos, critérios e formas de de avaliação, bem como nas atividades e metodologias utilizadas, de modo a atender às necessidades individuais dos alunos. (VALLE; MAIA, 2010).
Essas práticas diferenciadas podem ser envolvidas na intervenção do psicopedagogo com crianças autistas no espaço escolar, por meio de espaços de convivência, ou Salas de Reintegração, utilizando a ludoterapia como ferramenta psicopedagógica para facilitar o ensino e aprendizagem do aluno com TEA. É importante ressaltar que essa intervenção deve apontar para o desenvolvimento integral do aluno autista. Como diz Cana:
É fundamental lembra-se sempre de que: cada criança é uma criança diferente da outra. O olhar atento do professor e do psicopedagogo fazem grande diferença para que possíveis atrasos sejam notados o quanto antes e, consequentemente, a avaliação e intervenção possam acontecer de maneira mais precoce possível. (CANA, Luana Lage Moreno, 2024, p. 101)
5 – RESULTADOS
Desmistificando a ideia de que o cuidado com o aluno autista está restrito apenas a intervenções terapêuticas e clínicas, é importante destacar que as limitações biológicas não devem anular a existência cultural e social da pessoa com autismo. Além disso, é fundamental reconhecer que as possibilidades de desenvolvimento cognitivo e comportamental do aluno autista podem ser significativamente determinadas pela interação social.
Para tornar a inclusão de crianças com autismo em salas de aula regulares mais efetiva, é necessário utilizar intervenções psicopedagógicas que atendam às necessidades específicas desses alunos. É essencial considerar cada criança com autismo como um indivíduo único e desenvolver estratégias colaborativas que ofereçam suporte para seu sucesso escolar.
A atuação do psicopedagogo no espaço escolar tem contribuído para o surgimento de um ambiente plural e criativo, rico em liberdade de criação, observação e contextualização do “eu” no espaço escolar. O psicopedagogo reinventa metodologias e saberes essenciais ao desenvolvimento humano, como o contato com o outro, tornando a relação mais pluridimensional, lúdica, dinâmica, polissêmica e, consequentemente, inclusiva. Contudo, torna-se indispensável destacar que o psicopedagogo não consegue atuar sozinho, é necessário uma rede de apoio, como aponta Cunha (2019, 107)
[…] a Psicopedagogia não trabalha sozinha. É pertinente uma equipe de profissionais focados não somente nos problemas de aprendizagens mas também nas soluções, nos caminhos e nas alternativas. Pessoas que sejam afetivamente esperançosas e que creiam no seu trabalho e no discente.
A pessoa com autismo tem direitos previstos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (Lei n.º 9.394/96), nos Arts. 58 e 59, que garantem sua matrícula e sua permanência no ensino regular, além de sua socialização com pares que compõem o espaço escolar: família, docentes, alunos, gestores, coordenadores pedagógicos, psicopedagogo, entre outros. Ainda, nomeadamente no artigo 59, a legislação destaca, a obrigação dos sistemas de ensino de garantir os recursos fundamentais para a aprendizagem escolar e a inclusão dos alunos. Isso requer a implementação de currículos, métodos e técnicas adequadas, além de planos organizacionais e professores capacitados, prontos para integrar os estudantes à vida social (CUNHA, 2020).
Para a pessoa com TEA, a adaptação curricular é de grande importância. A adaptação curricular deve começar no PPP, que deve contemplar alunos da inclusão em equidade com os demais alunos, tendo os mesmos direitos ao aprender e ser inserido na sociedade. No entanto, a realidade das escolas ainda apresenta uma série desafios para a correta inclusão de alunos com TEA, como explica Capraro (2024,109):
As escolas muitas vezes se mostram despreparadas para lidar com as necessidades específicas dos alunos autistas. A falta de capacitação dos professores e da equipe escolar contribui para a inadequação do atendimento. Além disso, há carência de recursos materiais e financeiros destinados à adaptação do ambiente escolar e ao desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas.
Todo aluno é capaz dentro das suas potencialidades e precisa de estímulo e atenção de todos os envolvidos em seu processo de ensino-aprendizagem. Esse processo é fundamental para a inclusão e exige um espaço escolar onde os alunos aprendam por meio de atividades lúdicas, táteis, materiais e gráficas, visando o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, afetivo-emocionais e psicomotores. O psicopedagogo é capaz de auxiliar na adaptação e na estimulação das potencialidades do aluno.
A construção de uma cultura inclusiva na escola vai muito além de adaptar espaços ou seguir normas: ela abre caminho para uma comunidade verdadeiramente acolhedora e colaborativa, onde todos se sintam respeitados e valorizados. Para que isso aconteça de forma efetiva, o olhar psicopedagógico é fundamental. Esse profissional está preparado para atuar de maneira integrada com toda a equipe escolar, promovendo ações que favoreçam a inclusão no cotidiano escolar.
É vital ressaltar que a inclusão de crianças com autismo em escolas regulares exige ações integradas e colaborativas, onde todos os envolvidos no processo educacional estejam comprometidos em oferecer um ambiente acolhedor e propício ao desenvolvimento do aluno. Nesse contexto, o papel do psicopedagogo é fundamental, pois ele pode atuar na adaptação curricular, na identificação das necessidades específicas de cada aluno e no desenvolvimento de estratégias colaborativas que ofereçam suporte para o sucesso escolar. Como diz Cana (2024, p. 102),
Inclusão não é um favor; inclusão é direito de todo e qualquer indivíduo com qualquer tipo de transtorno do neurodesenvolvimento. A verdadeira inclusão acontece não apenas quando você insere uma criança em uma escola regular. Ela acontece quando você proporciona as mesmas oportunidades de aprendizado, com as devidas adaptações, para que ela atinja seu máximo potencial.
É necessário que a escola promova a inclusão com base na cultura inclusiva, em que todos os alunos sejam respeitados e valorizados, e em que a comunidade escolar atue de forma colaborativa. Dessa forma, a escola se torna um espaço plural, criativo e inclusivo, em que novos conhecimentos e comportamentos podem ser desenvolvidos no indivíduo, ultrapassando seus déficits sociais e educacionais e permitindo que o aluno alcance seu potencial máximo.
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão de crianças com autismo nas escolas é um tema que precisa ser tratado com seriedade e responsabilidade por todos os educadores. Mas do que um dever legal, trata-se de um compromisso ético com a valorização da vida e do aprendizado de cada aluno. É fundamental entender que a diversidade é parte essencial da condição humana – e a inclusão, um direito de todos os estudantes. A escola deve ser um espaço onde as diferenças não apenas existam, mas sejam acolhidas, respeitadas e valorizadas. Um ambiente em que cada criança tenha a chance real de desenvolver seu potencial. Para tornar isso possível, é indispensável investir na formação contínua dos professores e na criação de estratégias pedagógicas que levem em conta as especificidades de cada aluno, especialmente aqueles com TEA. Isso significa compreender as singularidades desses estudantes e contar com o apoio de profissionais capacitados, como o psicopedagogo, para orientar práticas mais inclusivas no dia a dia escolar. Somente assim será possível garantir não apenas o acesso, mas a permanência dos alunos com autismo na escola, assegurando que aprendam, convivam e cresçam com dignidade, independentemente de suas condições sociais, emocionais, físicas, intelectuais ou linguísticas.
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1Formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará e Filosofia pela UNIASSELVI; Especialista em Psicopedagogia Escolar pela UNAMA; Cursando Mestrado em Educação pela FICS. Cametá-PA. Email: jomarks43.jm@gmail.com .
2Doutrora em educação pela UFRN e orientadora do Curso de Mestrado em Educação pela FICS.
Email:jaquelinebastos321@gmail.com