EDUCAÇÃO E FILOSOFIA: UM VÍNCULO NECESSÁRIO.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8014441


Davi Oliveira da Cruz
Leonardo Henrique Santos Mello
Maria Diva Silva Gomes
Roberto Carlos Farias de Oliveira
Ueudison Alves Guimarães


Resumo

Este trabalho tem como propósito evidenciar de maneira clara e objetiva o vínculo indispensável existente entre a Filosofia e a Educação, considerando os reais sentidos que ambas transportam em suas perspectivas e desenvolvimentos, bem como a sua contribuição para o processo de ensino-aprendizagem. Ressalta-se que a Filosofia não é vista como uma área do conhecimento que carrega consigo respostas prontas, ela não se identifica como algo completo e acabado, muito pelo contrário, é uma área que está sempre em movimento, buscando adquirir novos conhecimentos, mediante a utilização do pensamento, seu principal objeto de estudo, o qual não se cansa de questionar por não se conformar com resultados que apresentem um fim em si mesmo. Já a Educação, por pensar de modo distinto e teimar em utilizar métodos de ensino altamente tradicionais e mecanicistas que levam a respostas acabadas e são vistas como o único caminho para a efetivação de seus desejos, que é a melhoria do ensino-aprendizagem, continua errando e seguindo essas metodologias à risca.  Para abrir neste estudo tal discussão, buscou-se realizar uma pesquisa de cunho teórico-bibliográfico, mediante conceitos trazidos por autores renomados na literatura, com o intuito de promover a Filosofia, não somente como aporte exclusivo para alcançar os desígnios almejados no ensino-aprendizagem, mas como uma ferramenta que reafirma a sua relevância como disciplina, a qual nem sempre é lembrada, sendo afastada da prática educativa e, com isso, tirando a oportunidade que os alunos têm de aprender mediante ações que levem à reflexão, ao criticismo e à emancipação. 

Palavras-chave: Filosofia. Educação. Ensino.

Abstract

The purpose of this work is to show clearly and objectively the essential link between Philosophy and Education, considering the real meanings that both carry in their perspectives and developments, as well as their contribution to the teaching-learning process. It should be noted that Philosophy is not seen as an area of ​​knowledge that carries ready-made answers, it is not identified as something complete and finished, quite the contrary, it is an area that is always in motion, seeking to acquire new knowledge, through the use of thought, his main object of study, which he never tires of questioning for not conforming to results that present an end in themselves. Education, on the other hand, because it thinks differently and insists on using highly traditional and mechanistic teaching methods that lead to finished answers and are seen as the only way to fulfill its desires, which is the improvement of teaching and learning, continues to make mistakes and follows these methodologies to the letter. To open this discussion in this study, we sought to carry out a theoretical-bibliographical research, through concepts brought by renowned authors in the literature, with the aim of promoting Philosophy, not only as an exclusive contribution to achieving the desired designs in teaching-learning , but as a tool that reaffirms its relevance as a discipline, which is not always remembered, being removed from educational practice and, with that, taking away the opportunity that students have to learn through actions that lead to reflection, criticism and emancipation.

Keywords: Philosophy. Education, Teaching.

Introdução 

Ao longo dos anos, a história do homem vem se tornando um fator importante para o fortalecimento da sua identidade. Intermediado por ela, foi possível planejar e pensar suas ações que, constituindo-se num processo contínuo, englobam sua vida, seus mecanismos de sobrevivência, suas experiências, e ajudaram a construir, além da sua, a história da qual fez e ainda faz parte até os dias atuais. Esse processo, experienciado pelo homem nessa trajetória, vem acompanhado de um domínio que fez (e ainda faz) a diferença na construção do caminho a ser trilhado, que é a educação: uma parceira inseparável que, ao mesmo tempo em que se fortalece, fortalece-o, tornando-se ainda um mecanismo imprescindível na vida de todos. É com a educação que o sujeito adquire saberes a respeito de sua história e do universo, além de capacitá-lo para que possa modificar seu modo de viver por conta dos conhecimentos apreendidos. 

Quando o homem pensa em realizar mudanças significativas para a sociedade, é por meio da educação que isso pode ser realizado. A educação, assim, vista como parte integrante do sujeito, cumpre seu papel de auxiliar constantemente o seu desenvolvimento intelectual e cultural, influenciando ainda na sua maneira de viver e de interagir com o outro.  

Para além das possibilidades da educação, a filosofia apresenta-se como um importante aliado no processo educativo do sujeito, por ser ela uma área do conhecimento que integra a vida humana e reverbera em sua maneira de viver, em seus intercâmbios e suas linguagens. 

É importante registrar que ao analisar a relação, sociologia e educação, nota se que somente no séc. XVIII, sinalizam possibilidades de inserção da pedagogia como disciplina científica, estabelecendo um vínculo com filosofia. A aplicabilidade da pedagogia como uma ciência para inovação da educação apareceu na Alemanha, por volta de 1770. Quase uma década depois criam-se o ensaio de uma pedagogia (versuch einer pedagogik), a disciplina, pedagogia na Universidade Halle/Saale, sob a responsabilidade de Ernst Trapp, em 1779, porém ainda é citada como o começo de separação institucional, entre a pedagogia e a filosofia, iniciando não só um processo de emancipação nas próximas décadas, mais assinala ainda, a crescente retirada da filosofia da tematização de questões educativas, é o que afira (FRISCHMANN; MOHR, 1997, p. 9). Sob o mesmo olhar SCOLNICOV,(2006) acrescenta que 

A filosofia estabeleceu um vínculo originário com a educação desde que os gregos adquiriram consciência filosófica, no séc. IV a. C., aproximadamente. Trata-se do período em que a sofística deu início à problematização da prática e da teoria educacional, continuada por Sócrates e Platão, com uma “consciência profunda acerca da complexidade das questões humanas e sociais” (SCOLNICOV, 2006, p. 16).

Por volta do século IV/V a.C, período em que nasce na Grécia, a filosofia já procurava contribuir na construção do sujeito levando-o a vivenciar situações de observação, reflexão e problematização da realidade para delas extrair conhecimentos. Assim, a filosofia se tornou presente na 

vida do homem levando-o a enxergar de uma forma diferente, situações consideradas sem serventia por parecerem comuns, revelando uma perspectiva interessante, reflexiva e crítica, e apresentando resultados bastantes profícuos para a sociedade. Isso propiciou um diferencial em relação ao senso comum, suplantando conceitos ainda não bem investigados e, por vezes, caracterizados como reais, sem que houvesse qualquer postura reflexiva e questionadora desses fatos. Assim, no campo filosófico, o diferencial está na maneira como as coisas são vistas, ou seja, não é aceito um resultado sem que antes haja uma reflexão mais apurada, que possa levantar questionamentos.

Para a filosofia, o questionamento constante é mais adequado que a crença no que é apenas dado como acabado, sem a possibilidade de enxergar outros caminhos. E isso é visto como uma postura perigosa, porque questionar e procurar suplantar o aparente das coisas. Quem traz essa perspectiva é Platão, filósofo da Grécia Antiga, cujas ideias ainda vêm ensinando e mostrando-se válidas ainda hoje. Dele podemos destacar as obras “Teoria das Ideias” e a “Alegoria da Caverna”, nas quais ele defende a necessidade de o homem desenvolver um olhar que suplante o universo das aparências, ou seja, que abandone a caverna que o torna prisioneiro para seguir em busca da luz. Assim a filosofia, durante todo o seu processo histórico, sempre se pautou em buscar respostas para suprir as necessidades de seus questionadores. Apesar de que algumas foram contestadas de acordo com a época mediante diversos panoramas, visões de escolas distintas e correntes filosóficas que envolviam o pensamento, isso não diminuiu a força que a filosofia tem de ser uma alavanca na aquisição de conhecimento. É por esse motivo que, tanto a educação quanto a Filosofia, não devem seguir estradas distintas e contrárias: elas devem trabalhar em parceria, preocupar-se em observar o homem e suas experiências de vida. Uma contribui com a outra na maneira de educar. 

É possível identificar o trabalho de grandes filósofos e perceber que o seu objetivo sempre se manteve muito além da simples informação, já que também desejavam com sabedoria e eficiência exercer a sua prática educativa. Dentre esses filósofos, destacam-se como relevantes as obras Maiêutica de Sócrates, os Diálogos de Platão, a Metafísica de Aristóteles, entre outras produzidas no decorrer da história.  

  Essas obras, desenvolvidas no passado por esses mestres da filosofia, são relevantes porque contribuem, em sua maioria, para o entendimento da problemática do ser humano em cada época. E, por isso, carregam consigo uma enorme ação educativa. Conhecer os autores e suas obras, estudar e aprofundar-se no pensamento e na visão filosófica do mundo é importante na educação na contemporaneidade: porque ampliam o processo educacional e auxiliam no encontro de novos meios de pensar.

1. Uma breve reflexão acerca da filosofia

A filosofia promove um trabalho amplo, pois não se prende a um único problema. Ao contrário disso, sua preocupação está focada na realidade de maneira mais ampla, a fim de fazer um olhar mais crítico e reflexivo em relação aos diversos problemas do cotidiano. Por esse processo reflexivo, a filosofia pretende analisar minuciosamente as possibilidades existentes (e quantas vezes forem necessárias) para alcançar respostas satisfatórias ou que, pelo menos, levem a outras perguntas que visam a novas respostas. 

    A relação indissociável entre educação e filosofia, muitas são as questões envolvidas e ao tentar respondê-las não podemos perder de vista que estamos lidando com um tipo de saber que possui mais de vinte e cinco séculos de história que não pode ser ignorada. Deste modo, Gallo (2005) nos alerta que:

Ao falarmos em ensino de filosofia devemos estar atentos a esta vitalidade e história, nos dá três alertas: primeiramente nos orienta a mantermos sempre a atenção “ao filosofar como ato/processo”, pois trata-se de conteúdos vivos, os conteúdos que devem ser transmitidos mas também deve-se transmitir o processo de produção filosófica, “assim, ensinar filosofia é ensinar o ato, o processo de filosofar” (GALLO, 2005, p.16).

Outro ponto relevante para a Filosofia diz respeito à dúvida. É ela o que move o ser humano para novas buscas, pois não há certezas absolutas, mas temporárias e que devem ser questionadas, caso se deseje alcançar maior compreensão acerca do problema. Contudo, por conta desse olhar mais questionador sobre o problema e que não se mantém preso ao óbvio, ultrapassando os limites das aparências, em algumas situações, pode ser considerado como divagação e lapso divergente daquilo que é real. Em relação a isso, afirma Brangatti:

A filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da vida. Ao contrário, ela é a própria manifestação humana e sua mais alta expressão (…) A filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem. Evidentemente, o homem não se alimenta da filosofia, mas sem dúvida nenhuma, com a ajuda da filosofia (BRANGATTI, 1993, p.14).

Nessa perspectiva, a Filosofia faz parte da vida humana e integra completamente a sua experiência de vida. Além disso, abre importantes espaços para novos questionamentos inclusive a respeito de situações da vida diária, como por exemplo, o preço alto dos produtos, as posturas políticas, as leis, o comportamento das pessoas, dentre outras coisas que evidenciam que deve fazer parte do ser humano o ato de pensar de modo crítico e reflexivo. Isso é uma prova imperativa e inegável de que ela está intimamente ligada ao homem que, por meio de discussões, demonstra fazer uso da filosofia para pensar e organizar seu pensamento por meio da lógica, que é integrante da Filosofia. 

Assim, o ato de pensar – uma habilidade completamente inseparável do ser humano e que o diferencia dos demais animais – é o que o impulsiona a adquirir saberes a respeito das coisas, de si mesmo e das outras pessoas ao seu redor. Com isso, ele se torna capaz de perceber com nitidez as suas experiências de vida, podendo, inclusive, tomar decisões que o levem a modificar sua vida e atitudes, caso seja necessário.  

Nessa reflexão, enquanto que, para muitas pessoas, uma vida agradável e bem vivida está vinculada ao potencial financeiro que possuem durante toda essa trajetória (e as possibilidades de viajar, consumir e realizar todos os seus desejos), para a filosofia, o conceito de vida saudável, está na capacidade que o indivíduo tem de colocar em prática o pensamento crítico-reflexivo, questionador de tudo e todos, e as suas relações com o outro. Esse exercício de pôr em prática o questionamento e o diálogo a respeito das diversas temáticas que integram a sociedade (políticas, sociais, culturais etc), faz com que o homem passe a trabalhar a sua consciência também de maneira crítica e reflexiva. É isso, mesmo que indiretamente, favorece a edificação do pensamento e a construção do homem como um ser holístico.   

2. Contribuições da filosofia para a educação

A escola tem hoje um papel desafiador no âmbito educacional: preparar os estudantes para a vida, formando sujeitos críticos e capazes de trabalhar em equipe. Ou seja, ela está mais engajada na formação plena do sujeito. Dentre todas as instâncias – emocional, cognitivo, afetivo, social – é imprescindível que seus professores estejam capacitados para essa educação e que não tenham foco apenas no conteúdo de suas disciplinas. Para isso, a inserção da filosofia colabora levando o estudante a uma prática reflexiva, que valoriza o pensar crítico em todas as instâncias da vida cotidiana.  

É preciso resgatar as contribuições trazidas pelos filósofos clássicos e contemporâneos, em suas obras e nas revisões de conceitos, a fim de suplantar aqueles que já não têm suporte na sociedade e no contexto da pós-modernidade em que vivemos. Assim, a filosofia torna-se um aliado altamente relevante no processo de ensino-aprendizagem, que acaba por reverberar na sociedade em que estão inseridos. Em especial porque ela não tem um fim em si mesma, ou respostas prontas, mas pelo seu poder de trabalhar o pensamento, exercitando o ato de questionar a si mesmo, aos outros e ao mundo que o cerca de modo mais objetivo. Nesse exercício, a filosofia torna-se cada vez mais essencial para o processo de aprendizagem e de construção do indivíduo como ser pleno e cidadão. Infelizmente, houve um período não muito distante em que a Filosofia foi retirada dos cronogramas curriculares exatamente por trazer em sua essência essa consciência crítica, e por sua capacidade de colocar em dúvida os diversos modelos existentes, distanciando o ser humano cada vez mais da consciência de si mesmo, do mundo e de seus direitos enquanto sujeito.

Na sociedade moderna, em que as pessoas têm se revelado altamente presas às consequências advindas do tecnicismo e da mecanização da vida, tornando-se sujeitos completamente apartados de sua realidade, as inúmeras oportunidades de autonomia voltadas para si e para as outras pessoas acabam por ser reprimidas. Para que o homem não se mantenha como prisioneiro desse sistema, enclausurado há anos, é necessário que ocorra uma educação libertadora (PAULO FREIRE) capaz de potencializar o processo de desenvolvimento de sua consciência reflexiva, de uma visão crítica da realidade, a importância de um ensino-aprendizagem autônomo e democrático. 

É na Escola que a Filosofia entra em ação porque, atuando como exercício da visão crítica da realidade, serve de auxílio para que docentes e estudantes possam ultrapassar limites das aparências das coisas. Nesse processo de transformação, o estudante como sujeito e centro da aprendizagem, percebe que a educação extrapola os limites e territórios demarcados tradicionalmente, e ele passa a atuar como um agente de produção, não se limitando apenas aquilo que é possível aos seus olhos, mas criando oportunidades e ultrapassando as barreiras do que para muitos parece impossível, conforme defende Kant (1996):

Pela educação desenvolvemos capacidades e potencialidades para o “saber” e para o “fazer”. A escola contemporânea deve ser aberta ao diálogo, social para com todos, pois a desigualdade entre as pessoas está cada vez mais presente em nossa sociedade, desde então, é necessário que se resgate os princípios filosóficos do conhecimento, os valores éticos e morais, entre outros. Para Kant, a educação tem a função de transformar o ser humano em humano: “O homem não pode tornar-se um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz” (KANT, 1996, p. 15).

Desse modo, compreende-se conforme Luckesi (1994) que tanto a Educação quanto a Filosofia atuam para beneficiar os estudantes, porque está mais interessada nas questões reflexivas assim como as demais disciplinas que compõem o currículo escolar desenvolvem o entendimento das temáticas essenciais para o processo de formação pessoal e intelectual do estudante. Após a família, a escola é o segundo grupo social que atua na formação do indivíduo, por isso ela precisa enfrentar os desafios, quando se fala de transformação, a fim de reinventar-se para dar conta de sua função educativa. E se a escola procurar aliar a esse trabalho à filosofia – pelas suas contribuições ao processo de ensino-aprendizagem, bem como as possibilidades de levar o sujeito à reflexão, ao criticismo, à autonomia – e de promover diálogos essenciais, isso possibilitará uma melhora significativa no seu trabalho, resultando em transformação da realidade, conforme afirma Lorieri (2002):

Todos os seres humanos têm o direito de decidir os rumos das suas vidas. Também crianças e jovens têm esse direito, como cabe-lhes o direito de aprender a dominar o uso das ferramentas intelectuais que lhes possibilitem as decisões. Têm direito de ser educados para a autonomia. Nesse sentido, uma iniciação filosófica relativa aos bons procedimentos do filosofar deve ser iniciada quanto antes (LORIERI, 2002, p. 43).

Ao abordar conteúdos com uma perspectiva filosófica, o professor criar oportunidades de exercitar ainda mais o debate, o diálogo e o questionamento, princípios da Filosofia. Com isso, pode subverter o senso comum e inseri-los numa prática de construção da consciência crítica, podendo levá-los à aquisição de novos saberes, atuando como sujeitos (SAVIANNI,1990). Os educadores tornam-se, então, capazes de problematizar e identificar as inúmeras incoerências presentes nas práticas educativas, buscando encontrar soluções mediante diálogos, reflexões e novas estratégias que fundamentam um pensar diferente e atualizado. 

   Por conseguinte, segundo Saviani (1980):

Para imprimir maior coerência e consistência à sua ação, é mister que o educador se eleve do senso comum ao nível da consciência filosófica de sua própria prática, o que implica detectar e elaborar o bom senso que é o núcleo válido de sua atividade. E tal elaboração passa pelo confronto entre as experiências pedagógicas significativas vividas pelo educador e as concepções sistematizadas da filosofia da educação. Com isso, será possível explicitar os fundamentos de sua prática e superar suas inconsistências, de modo a torná-la coerente e eficaz (SAVIANNI, 1980, p. 8).

Alcançar resultados positivos na Educação que elevem o nível de formação dos educandos é um desejo que ainda não se tornou completo no que tange à realidade do sistema educacional como um todo.  Contudo, para amenizar e flexibilizar essa trajetória de desafios que a Escola vem enfrentando ao longo do tempo e para evidenciar a importância da Filosofia no ambiente educacional, mostra-se claramente ser necessário que haja uma formação docente apropriada e voltada para a reflexão, com o intuito de alcançar os objetivos inseridos neste trabalho, além de motivá-los a colocarem em prática o seu lado filosófico tanto dentro quanto fora da instituição de ensino.

3. Considerações finais 

A filosofia carrega consigo o desejo intrínseco de atuar significativamente com o propósito de desenvolver e potencializar os diversos saberes no sujeito, principalmente no que diz respeito aos educandos, uma vez que ela está sempre em busca de adquirir mais conhecimento e alcançar a sabedoria. Além disso, a sociedade sempre viveu um sistema de ensino opressor, tendo como única fonte de conhecimento o docente com suas práticas educativas que nem sempre evidenciam a participação ativa do aluno, colocando-o sempre como um mero receptor desse conhecimento. 

Esse modelo educativo vai totalmente de encontro com os interesses de Freire (1987), que sempre acreditou e evidenciou em seus escritos a respeito da necessidade de uma educação libertadora, preocupada com os interesses e as necessidades dos educandos. Essa educação freiriana busca incitar os estudantes a buscar novos saberes e, ainda, ensiná-los ao mesmo tempo em que aprendem, a fim de desenvolver suas habilidades de criticidade diante da realidade social em que vivem. Com efeito, para que ocorra de fato uma educação libertadora é necessário um trabalho em colaboração com a sociedade, pois “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” (FREIRE, 1987).

Neste contexto, a Filosofia – que não somente se preocupa com a busca incessante pelo saber – atua de modo transformador, porque integra o processo de ensino-aprendizagem, oportunizando ao estudante processos de transformação. Como bem destacou Freire (1987) acerca do poder da educação, afirmando que ela não transforma o mundo, mas sim as pessoas, as quais se tornam fundamentais para esse processo de transformação, pois são elas que mudam o mundo. 

Portanto, na sociedade moderna, é imprescindível a presença da Filosofia, que pode afastar as pessoas dos danos causados pela mecanização da vida e da alienação, do tecnicismo, além de ajudá-las a serem mais autônomas, podendo, inclusive, ajudar outras a seguirem o mesmo caminho de liberdade.

4. Referências 

BRANGATTI, Paulo R. O ensino de filosofia no segundo grau: uma necessidade de leitura do cotidiano. Piracicaba: Unimep, 1993.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

FRISCHMANN, Bärbel; MOHR, Georg. Einleitung. In: FRISCHMANN, Bärbel (Hrsg.). Erziehungswissenschaft, bildung, philosophie.(Pensar arriscado. relação entre filosofia e educação) Weinheim: Deutscher Studien Verlag, 1997. p. 9-18 

GALLO, . O que é filosofia da educação ? Anotações a partir de Deleuze e Guattari. Perspectiva, [S. l.], v. 18, n. 34, p. 49–68, 2005.

KANT, I. Sobre a Pedagogia. Trad. Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: UNIMEP, 1996.

LORIERI, M. A. Filosofia: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.

LUCKESI, C.C. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez,1994.

SAVIANI. Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo, Autores Associados/Cortez, 1980.

SCOLNICOV. SAMUEL. Platão e o problema educacional. EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2006.