EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UM ESTUDO DE CAMPO NO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO, DESAFIOS ENTRE SUCESSO E A EVASÃO ESCOLAR, MANAUS – 2019/2020

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202402141841


Silvia Pinho Gama1
ORCID: https://orcid.org/0009-0002-7583-888X
Victor Hugo De Oliveira Magalhães
ORCID: http://lattes.cnpq.br/0673911424971077
Juan Irineo Barreto2
ORCID: https://orcid.org/0009-0008-6532-9444


RESUMO: O objetivo deste artigo é explicar a contribuição da gestão escolar na identificação dos fatores de sucesso e desafios, que levam à evasão ou à permanência dos alunos do 1º ano do Ensino Médio, na EJA, da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, a fim de propor ações que promovam o retorno à escola daqueles que dela evadiram. Para isso, realizou-se um estudo de campo na Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, na modalidade EJA, com 90 alunos do 1º ano do Ensino Médio e 5 professores desta mesma série. Verificou-se que os alunos da EJA entrevistados, em sua grande maioria, são adolescentes e adultos, do sexo masculino, que moram com companheiros, que estão de 6 a 10 anos sem estudar, formando um grupo heterogêneo em que a maioria está inserido no mercado de trabalho, e deixou de estudar no passado pela necessidade de trabalhar e pela gravidez, contudo, retornaram as aulas pela vontade de alcançar um trabalho melhor e oferecer uma vida mais digna a sua família. Como sugestões de melhoria nesta modalidade, elencou-se: horários mais flexíveis de aulas, palestras motivacionais, oficinas e atividades práticas, trabalhos em grupos, vários instrumentos de avaliação, equilíbrio nas atividades entre difícil e fácil, atividades extraclasse, atividades profissionalizantes, principalmente em parcerias com ONG’s e associações, e políticas que amparem os pais que não possuem condições de deixar seus filhos em escolas, ou pagar por pessoas para cuidarem de suas crianças, na ausência de um adulto para fazer tal tarefa.

Palavras-chave: desafios, EJA, evasão, gestão escolar, prática docente.

INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade da Educação Básica, que recebe alunos a partir dos 15 anos de idade para o Ensino Fundamental e a partir dos 18 anos para o Ensino Médio. Os estudantes da EJA, em sua grande maioria, são adolescentes e adultos, compondo um grupo distinto e heterogêneo, com objetivos diversos, sendo que muitos deles, até mesmo, já estão fincados no mercado de trabalho (CARMO e CARMO, 2014).

De acordo com o Conselho Nacional de Educação (CNE), este público pluralista e heterogêneo de jovens e adultos, inseridos no mercado pelo trabalho, é o maior perfil dos alunos desta modalidade de ensino. Pois, a maioria já está trabalhando, e uma parte quer e necessita entrar no mercado de trabalho. Desta forma, resta aos sistemas de ensino garantir a oferta apropriada, exclusiva a este público, que não ingressou na escolaridade universal obrigatória, por meio de chances educacionais adequadas (BRASIL, 2000).

Afim de atender esse público distinto do esperado para o ensino regular, deve-se estabelecer uma metodologia própria, contendo uma proposta adequada para desta forma, proporcionar uma oportunidade escolar apropriada. Pois, o que se vê, na prática diária, são metodologias do ensino regular fracamente ajustáveis e aplicadas na EJA, destacando-se que os critérios e parâmetros utilizados para avaliar, planejar e discutir a EJA são iguais aos usados para alunos-criança do ensino regular, sem levar em conta que o público de que se trata é diferente (HADDAD, 2009).

Para o corpo docente da modalidade EJA, a justificativa desta pesquisa se dá pela suma importância de expor os desafios e sucessos deste ensino, para que se tenha estratégias que reforcem os pontos positivos e sanem os negativos, levando em conta a heterogeneidade dos educandos, bem como seus interesses distinguidos como consequência de diferentes idades, diversas histórias de vida e distintas colocações sociais. Desta forma, a partir deste estudo, o corpo docente é capaz de entender que se deve ter o cuidado de não padronizar a proposta escolar, considerando pontualmente essa diversidade. De tal modo, a relevância deste estudo para a sociedade está em colaborar com achados científicos, conforme o Parecer no 11/2000 do CNE, para uma reflexão que contemple a necessidade de projetos pedagógicos que olhem com atenção a heterogeneidade do público da EJA. Já que se trata de adolescentes, jovens e adultos, com suas múltiplas experiências de trabalho, de vida e de situação social, aí compreendidos as práticas culturais e valores já constituídos (BRASIL, 2000).

Assim, a problematização deste artigo é: Como a gestão escolar pode contribuir para identificar os fatores de sucesso e desafios que levam à evasão ou à permanência dos alunos da Modalidade EJA da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel?

O objetivo geral deste artigo é: Explicar a contribuição da gestão escolar na identificação dos fatores de sucesso e desafios, que levam à evasão ou à permanência dos alunos do 1º ano do Ensino Médio, na EJA, da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, a fim de propor ações que promovam o retorno à escola daqueles que dela evadiram.

Para alcançar o objetivo geral, tem-se os seguintes objetivos específicos: identificar as atividades e/ou fatores que colaboram para a permanência de alunos trabalhadores, escolarizados e assíduos na EJA; estabelecer as causas da evasão escolar na Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, buscando dimensionar as causas externas e internas à escola.

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SOBRE O EJA

A Constituição Federal (CF) de 1988 ampliou o direito de estudo a todas as idades, expandindo oportunidades de educação para as pessoas que, por conta da idade, não tinham mais acesso ao ensino regular. A CF ao citar o dever do Estado em relação à educação, desafia os professores a criar políticas para compreender os jovens e adultos na educação, assegurando o acesso (BRASIL, 1988).

Portanto, a EJA é flexível e leva em conta as condições rotineiras do seu aluno, de seu trabalho e seu interesse em arranjar um trabalho melhor, assim é importante proferir esta modalidade ao ensino profissionalizante. A LDB intensifica a EJA no Brasil, tornando-a uma política de Estado para acabar com o analfabetismo. Desta forma, é garantida a educação gratuita para jovens e adultos na escola, mas se espera que os interesses e condição de vida dos alunos sejam considerados e o poder público viabilize a continuação e o acesso do trabalhador na escola (BRASIL, 1996).

Verifica-se que os exames e os cursos desenvolvidos na EJA devem seguir o currículo nacional, e a idade mínima para prestá-los é de 15 para finalizar o ensino fundamental e de 18 anos para finalizar o ensino médio. Portanto, por receber jovens e adultos, a EJA deve ter uma organização diferente daquela oferecida às crianças que puderam estudar na idade apropriada (BRASIL, 1996).

Segundo Azevedo (2013), a questão da evasão e da repetência escolar no país retrata um dos maiores desafios encarados pelas redes do ensino público, já que as razões e consequências estão relacionadas a muitos critérios como social, cultural, político e econômico, como ainda a escola onde professores têm colaborado a cada dia para a problemática se agravar, a partir de uma prática didática extrapolada.

Para Campos e Oliveira (2003), as causas para o abandono escolar podem ser exibidos no instante em que o educando deixa a instituição escolar para trabalhar; quando as condições de acesso e segurança são precárias; os horários são conflitantes com as responsabilidades em que eles foram forçados a adquirir; evadem por razão de vaga, de ausência de professor, escassez de material didático; e ainda abandonam a escola por acharem que a formação que recebem não acontece de maneira expressiva para eles.

Sabe-se que as escolas noturnas matriculam muitos alunos, entretanto, poucos alcançam a conclusão do ano letivo, pois acabam desistindo nas primeiras semanas de aulas. Haddad (2009) completa que no começo do ano letivo, tem-se um alto número de alunos por turmas, já antecipando que no transcorrer do ano, muitos desistiram da escola. E anualmente, este fato é repetido.

Desta forma, é necessário que a escola reflita e se questione como pode colaborar com projetos e programas que minimizem esta problemática. Portanto, essa circunstância explica as múltiplas dificuldades de desenvolvimentos da EJA. O fenômeno do fracasso da aprendizagem continua sendo um problema antigo, mal resolvido por conta da necessidade de se trabalhar ainda a extensão da cidadania e a participação das classes de baixa renda.

Desta forma, verifica-se que o fracasso da educação na modalidade EJA está ligada a questões socioeconômicas e culturais, mesmo estando na era moderna, em que a educação é vista como a mola que alavanca o desenvolvimento do país. Entretanto, é preciso idealizar a EJA não somente como uma educação que assegura o progresso econômico e capacita a mão-de-obra, mas como um direito e como um meio para os alunos erguerem noções necessárias para a performance em vários espaços e conjunturas sociais.

PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS

Para desenvolver o estudo que busca investigar a contribuição da gestão escolar na Identificação dos fatores de sucesso e desafios, que levam à evasão ou à permanência dos alunos na EJA, realizou-se um estudo de campo em uma escola da cidade de Manaus-AM, Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, na modalidade EJA. Assim, a população investigada refere-se a alunos e professores da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, de modalidade EJA, da cidade de Manaus-AM. E a amostra, a parcela que realmente será submetida à verificação, refere-se aos alunos do 1º ano do Ensino Médio e professores desta série, da referida escola. Abrangendo-se assim, 3 turmas de aproximadamente 30 alunos em cada, totalizando 90 alunos e 5 professores, como amostra desta pesquisa, pois há 3 turmas de 1º ano do Ensino Médio da EJA, nesta escola, assim, os alunos destas turmas foram selecionados para compor a amostra do estudo, e os 5 professores que lecionam esta modalidade foram escolhidos por este motivo.

Esta amostragem é definida como intencional de acordo com os seguintes critérios: ser aluno do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, na modalidade EJA; e ser educador da modalidade EJA, do Ensino Médio da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel.

O instrumento de coleta de dados do estudo de campo definido para esta pesquisa foi o questionário com questões elaboradas sobre o tema. Os questionários possuíam perguntas abertas e fechadas para que os alunos e professores pudessem expor suas opiniões de maneira democrática, e sem se identificarem, para que pudessem ser sinceros em suas respostas. Sendo que, o questionário para os alunos continha 10 perguntas e o questionário direcionado para os professores continha 5 perguntas. Os dados obtidos no estudo de campo foram submetidos a um tratamento de dados, através do Programa Excel, para se obter, na sequência, a tabulação de dados e composição de gráficos, e desta forma, facilitar a compreensão das hipóteses. Por fim, os dados foram interpretados, analisados e discutidos.

RESULTADOS

Primeiramente, buscou-se conhecer o perfil dos alunos do 1º ano do Ensino Médio da modalidade EJA, da referida escola, principalmente se tratando de: sexo, estado civil, faixa etária, frequência e tempo de abandono da escola. Do total de participantes do questionário, 58 (64%) são do sexo masculino e 32 (36%) do sexo feminino. Quanto ao estado civil dos alunos, observou-se que, 30 alunos (33%) dos jovens e adultos são solteiros, 24 alunos (27%) casados, 36 alunos (40%) vivem com um companheiro e nenhum (0%) é viúvo. Outra característica relacionada ao perfil dos alunos da EJA está relacionada a idade, onde 15 alunos (17%) possuem de 15 a 20 anos, 40 alunos (44%) possuem de 21 a 30 anos, 33 alunos (37%) possuem de 31 a 40 anos, 2 alunos (2%) possuem de 41 a 50 anos e nenhum (0%) possui mais de 51 anos. Na sequência, buscou-se saber se os alunos trabalhavam atualmente, e 60 alunos (67%) responderam que trabalham, ao passo que 30 alunos (33%) responderam que não trabalham.

Por conseguinte, perguntou-se o tempo que o aluno estava sem estudar, e como pode ser visto no Gráfico 1, 10 alunos (11%) estavam até 5 anos sem estudar, 35 alunos (39%) estavam de 6 a 10 anos, 20 alunos (22%) estavam de 11 a 20 anos e 25 alunos (28%) estavam há mais de 20 anos sem estudar.

Gráfico 1 – Resposta à pergunta 5 do questionário para alunos: “Há quanto tempo estava sem estudar?”.

Fonte: Elaborado pela autora.

Procurou-se saber o motivo que fez o aluno da EJA deixar de frequentar a escola, marcando o motivo mais importante, e como pode ser notado no Gráfico 2, 47 alunos (52%) citaram a necessidade de trabalhar, 27 alunos (30%) citaram a gravidez, 6 alunos (7%) citaram a necessidade de ajudar nos afazeres domésticos, 5 alunos (6%) citaram que não conseguia aprender, 3 alunos (3%) citaram a distância de casa para a escola e dificuldade com transporte escolar e 2 alunos (2%) citaram situações de bullying.

Gráfico 2 – Resposta à pergunta 6 do questionário para alunos: “Por que deixou de frequentar a escola?”.

Fonte: Elaborado pela autora.

Sabendo dos motivos que fez o aluno abandonar a escola, perguntou-se o que o fez procurar a EJA, e como é visto no Gráfico 3, 33 alunos (37%) afirmaram buscaram a modalidade EJA para conseguir um emprego melhor, 20 alunos (22%) citaram que o motivo foi por exigência do trabalho, 20 alunos (22%) citaram que procuraram a EJA pela vontade de vencer na vida e dar um futuro melhor aos filhos e 17 alunos (19%) afirmaram que buscam a EJA para concluir o Ensino Médio.

Gráfico 3 – Resposta à pergunta 7 do questionário para alunos: “O que fez você procurar a EJA?”.

Fonte: Elaborado pela autora.

Em seguida, procurou-se saber se os conhecimentos que o aluno adquiriu, colaborou para melhorar, de alguma forma, a vida pessoal/profissional deles, e 71 alunos (79%) responderam que sim, ao passo que 19 alunos (21%) responderam que não.

Algumas das justificativas mais citadas foram: “Uso no meu trabalho bastante assunto que vejo em sala de aula.”, “Consigo ensinar meus filhos, a partir do que aprendo na EJA, mesmo depois de tantos anos longe da escola.” e “Percebo que uso os conhecimentos adquiridos na escola, no ambiente de trabalho e em casa com a minha família, em nosso dia-a-dia.”

Questionou-se, em seguida, o que mais dificultou os estudos ou ajudou para que o aluno pensasse em desistir das aulas. E as respostas mais citadas foram cansaço (59 alunos, 66%), horário incompatível (21 alunos, 23%) e distância da escola (10 alunos, 11%). Por fim, pediu-se que os alunos dessem sugestões para melhorarmos nosso trabalho, e como pode ser visto no Gráfico 4, 38 alunos (42%) ressaltaram usar metodologias mais práticas, 31 alunos (35%) sugeriram horários flexíveis, 11 alunos (12%) sugeriram ter palestras motivacionais na escola e 10 alunos (11%) sugeriram duração das aulas reduzida.

Gráfico 4 – Resposta à pergunta 10 do questionário para alunos: “Dê uma sugestão para melhorarmos o nosso trabalho”.

Fonte: Elaborado pela autora.

Tendo conhecimento que a relação professor-aluno faz toda a diferença na vida escolar dos alunos, aplicou-se um questionário a 5 professores do 1º ano do Ensino Médio, da modalidade EJA da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel. Sendo importante descobrir a experiência profissional dos educadores nesta modalidade, e dos cinco docentes pesquisados, todos, 5 professores (100%), responderam que trabalham de 1 a 5 anos. A segunda pergunta para os professores buscou saber se o educador encontrava dificuldades no trabalho na EJA, e todos, 5 professores (100%), alegaram que sim.

E então, sabendo que há dificuldades, perguntou-se quais eram, e eles citaram: “Alunos muito desmotivados”, “Diferença muito grande de idade entre os alunos”, “Falta de interesse dos alunos”, “Frequência muito baixa nas aulas”, “Alunos que levam os filhos para as aulas” e “Pouco conhecimento prévio”. Por conseguinte, questionou-se o que era necessário avançar na garantia do acesso e permanência dos alunos na EJA, e as respostas discursivas foram: “Equilíbrio nas atividades entre difícil e fácil”, “Realizar mais aulas práticas e oficinas”, “Desenvolver vários instrumentos de avaliação”, “Elevar a autoconfiança e autoestima dos alunos”, “Desenvolver atividades extraclasse” e “Oferecer cursos profissionalizantes”.

E por fim, perguntou-se o motivo dos alunos evadirem, e 5 professores (100%) mencionaram a necessidade de trabalhar, 5 professores (100%) citaram gravidez, 5 professores (100%) citaram muito cansaço, 1 professor (20%) citou a distância da escola e 2 professores (40%) citaram ajudar a cuidar dos irmãos. De tal modo, é neste contexto que foi abordado as dificuldades e possíveis mudanças na modalidade EJA para a Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, levando em conta as necessidades e opiniões dos alunos do 1º ano do Ensino Médio e de 5 de seus professores. Para que assim, seja possível que os docentes, juntamente com a equipe pedagógica estudem e busquem maneiras para minimizar a evasão escolar, enfatizando a importância da assiduidade com os educandos, pais, responsáveis e comunidade, o que fortifica o trabalho sob essa vulnerabilidade, possibilitando alcançar melhores resultados.

Discussão dos resultados

Ao buscar saber o perfil do aluno da EJA, verificou-se que a maioria é do sexo masculino, ressaltando-se que a quantidade de alunos do sexo feminino, foi menor, contudo ainda elevado. Sendo que a maioria dos alunos vive com um companheiro, mas muitos são casados ou solteiros, com proeminência para os três estados civis, por isso os três destacados aqui, ao passo que nenhum aluno citou ser viúvo. Quanto a idade, a maioria (44% dos alunos) possui de 21 a 30 anos, seguido de alunos com 31 a 40 anos (37%), e 67% desses alunos estão inseridos no mercado de trabalho.

Em estudos desenvolvidos por Abramovay et al. (2015) afirmam a dominação do sexo feminino na Educação de Jovens e Adultos. Contudo, essa investigação revela que o maior percentual de alunos entrevistados neste estudo concentra-se no sexo masculino, pois muitos precisam assumir o papel de mantedor da família. E o fato de muitas mulheres buscaram a modalidade EJA, pode ser justificado pelo fato de as mulheres engravidarem, e por isso, devido a classe social que afeta a maioria do público EJA, precisam interromper seus estudos para dar atenção aos filhos, precisando recorrer no futuro a esta forma de ensino. Acontece que esses jovens matriculam-se uma vez, duas vezes, três vezes e por vários motivos desistem mais uma vez, assim, as estatísticas apontam um elevado índice de alunos evadidos, onde o fracasso escolar às vezes é conferido de forma específica aos meninos por ter que deixar de estudar para trabalhar, e no caso das meninas, a gravidez indesejada, entre outros diversos fatores que serão revelados aqui.

E diante do exposto, o maior percentual dos respondentes encontra-se no grupo de pessoas que vivem com um companheiro, com grandes números também no grupo de pessoas casadas e solteiras. Isso comprova a análise de que as necessidades financeiras assumidas pelos jovens, seja como casados, comprometidos ou ainda como solteiros, colaboram para o abandono da escola. De tal modo, os dados coletados até o momento, admitem afirmar que a família cumpre um papel expressivo relacionado à evasão escolar, já que os impactos negativos na renda dos pais elevam as chances dos filhos deixarem a escola, como cita Silva (2012, p. 2): “O maior índice de evasão escolar está relacionado às necessidades dos jovens trabalharem para ajudar na renda da família, fazendo com que aumente cada vez mais o número de adolescentes deixando as salas de aula”.

Pode-se notar assim que a pobreza e a evasão escolar estão interligadas, existindo uma relação direta e positiva entre a renda familiar e o avanço escolar. Portanto, a evasão escolar não se encontra somente na organização da escola, já que há vários fatores que competem para o aumento desses índices, desde políticas públicas do governo, a qualidade de ensino, a família e, também, ao próprio aluno.

Notou-se que entre a faixa etária de 21 a 40 anos concentram-se 81% dos alunos da EJA. Conforme Abramovay et al. (2015), isso ocorre porque os jovens estão, precocemente, assumindo responsabilidades dos adultos, levando-os a desistir da escola e, por conseguinte, acabam tornando-se mais vulneráveis socialmente. Assim, verifica-se que a juventude, umas das fases da vida na qual se encara muitos desafios, sejam eles conferidos pela sociedade, pela família e, até mesmo, pelos pares. A necessidade de manutenção de si ou de sua família, a busca pelo emprego, ligado a outros fatores da sociedade capitalista, como o consumismo e a conformação ao mundo da moda, geram demandas distintas que terminam contribuindo para o abandono da escola pelos jovens. Assim, tendo como referência a pluralidade sociocultural, alguns alunos nunca frequentaram a escola, outros, necessitaram afastar-se quando crianças por conta da entrada precoce no mercado de trabalho ou até mesmo carência de escolas, excedendo deste modo a idade normal para estudar no turno diurno. E com a trajetória escolar interrompida, esta modalidade tornou-se uma alternativa para estes alunos, além de direito constitucional. Desta forma, analisando o perfil desses alunos, verifica-se que a evasão escolar se torna um desafio à modalidade EJA na atualidade.

Em relação ao tempo que o aluno estava sem estudar, verificou-se que a maioria (39% dos alunos) estava de 6 a 10 anos sem retornar a escola, seguido de 28% que estava há mais de 20 anos sem estudar. Esses dados revelam que mesmo que os participantes desta pesquisa possam ter começado a sua vida escolar em idade regular, por abandonarem os estudos, hoje, fazem parte da EJA. Isso significa que se a interrupção não tivesse sido realizada, seria possível, hoje em dia, terem concluído, pelo menos, o ensino médio.

Verificou-se que a trajetória dos alunos da EJA é, na maioria das vezes, interrompida e dificilmente encontram-se educandos que nunca descontinuaram os seus estudos. Conforme Carmo e Carmo (2014), essa prática, de abandonar e retornar à escola, é comum aos alunos da EJA, o que é comprovado nas respostas dos educandos submetidos a esse estudo. Sabe-se que à medida que os sujeitos chegam à adolescência, os casos de abandono começam a aumentar. Vale destacar que a adolescência é vista como uma fase complicada na vida dos indivíduos por conta das mudanças físicas e biológicas que costumam transformar o comportamento humano. Por isso, a escola precisa se preparar para atender as demandas desse público, tendo que ser um espaço agradável e acolhedor, próximo da realidade do jovem, pois compete com os encantos da sociedade globalizada. A escola precisa, deste modo, levar em conta as necessidades e particularidades de cada sujeito, buscando maneiras de oferecer meios para que esse sujeito anuncie livremente sua cultura e ache sentido em frequentá-la. “A escola é um espaço de diversidade. Portanto, nela se encontram diferentes culturas – com as consequentes possibilidades de diálogo, mas também de conflitos” (ABRAMOVAY et al., 2015, p. 30). De tal modo, a escola deve saber lidar com os conflitos, respeitando os jovens, as suas particularidades, sentimentos e interesses.

Quando buscou-se saber o motivo que fez o aluno da EJA deixar de estudar, percebeu-se que a evasão tem representado um grande obstáculo a ser ultrapassado pela Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, e dentre os motivos que mais têm colaborado para isso é a necessidade de trabalhar como fator determinante (52%) e na sequência (30%) citaram a gravidez, teve-se ainda respostas como necessidade de ajudar nos afazeres domésticos, não conseguia aprender, distância de casa para a escola, dificuldade com transporte escolar e situações de bullying. Diante do exposto, verifica-se que o trabalho é um dos fatores assinalados como causador do abandono dos estudos, sendo esta uma das principais dificuldades em continuar estudando, mas é ainda motivo de retorno aos bancos escolares.

Percebe-se que há falta de motivação e cansaço por conta da necessidade de trabalhar, o que se tornam motivos recorrentes para o abandono. Pois, se por um lado o trabalho é uma razão difícil de enfrentar pela necessidade que muitos possuem de se manter ou manter a sua família, os motivos assinalados como causas seguintes, como dificuldades de aprender o que é ensinado e situações de bullying, podem sofrer ações da escola no sentido de alteração de conteúdos e práticas docentes, com ajuda da gestão escolar para mitigar esta problemática.

Nos estudos de Faria (2013), há a concordância quando o assunto trabalho é o fator motivacional para a evasão escolar de alunos da EJA. Assim sendo, é necessário que a escola seja atenta aos fatos citados e desenvolva ações que despertem no seu alunado desejo de estudar de forma que se sintam estimulados em frequentá-la.

Percebe-se que quando há causas para o abandono escolar como: não conseguia aprender, e concluir o ensino médio como o último motivo que o fizeram voltar a estudar, isso mostra que a escola precisa rever suas práticas e o método de abordagem dos conteúdos abordados. É preciso que estes conteúdos sejam notados pelos alunos como importantes e passíveis de serem empregados em seu cotidiano. Desta forma, aulas bem planejadas, educadores dedicados, metodologias lógicas, espaço propício, diversificação de práticas pedagógicas, uso de recursos didáticos apropriados aos interesses dos alunos, conteúdos relativos com a realidade desses indivíduos, são exemplos de sugestões imprescindíveis para o fazer pedagógico bem sucedido e para aprendizagem expressiva, ou seja, a aprendizagem em que “[…] o novo conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio” (BARON et al., 2001/2002, p. 38).

Verificou-se ainda a gravidez como uma das grandes causas da evasão escolar entre as Alunos da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, isso se dá porque cada entrevistado possui uma história de vida e suas particularidades. Conforme Pinto (1994) cita, o aluno adulto é antes de tudo um membro atuante da sociedade, não somente por ser um trabalhador, mas pelo grupo de ações que desempenha sobre um círculo de existência. O que acontece é que muitas das meninas que engravidam, são de uma classe social desfavorecida, ou não contam com o apoio dos pais, e também não possuem estrutura para deixar os filhos na escola. Assim, elas se veem obrigadas a interromper os estudos. Desta forma, acarreta-se uma questão social, pois a interrupção da educanda na sua trajetória escolar provoca uma série de prejuízos tanto para sociedade civil como para si mesmo.

Sabendo dos motivos que os levaram a deixar os estudos, durante a fase de entrevista por meio do questionário, os alunos foram questionados sobre os motivos que os fizeram voltar à sala de aula. A partir do que foi verificado nas respostas dos alunos, o retorno à escola está explicado mediante três motivos: 1. econômico/profissional: “conseguir um emprego melhor e por exigência do trabalho; 2. reconhecimento social: “vontade de vencer na vida e dar um futuro melhor aos filhos”; 3. pessoal: “concluir o Ensino Médio”. Assim, motivados por necessidades econômicas, realização e posição social, esses alunos buscam driblar as dificuldades que os anteparam de alcançar os seus objetivos, voltando mais uma vez à escola. Percebe-se que não importa qual seja a razão, existe o reconhecimento da importância da escola.

Mais uma vez percebe-se que é essencial zelar pela permanência do aluno na escola, sendo esta tarefa é uma responsabilidade de todos os profissionais da educação, estimulando, valorizando suas experiências e expondo que ele faz a diferença sempre que é promovido de série. Contudo, quando se fala em rever a organização didática da EJA, não se pretende dizer que é necessário ter menos cobrança dos alunos, mas considerar as particularidades intrínsecas a este público, pois isso contribui para a permanência e êxito dos alunos, favorecendo a formação integral do sujeito, bem como a conclusão do seu ensino médio. Pois, ao apresentar que o motivo que fez o aluno voltar à escola foi a necessidade de trabalhar, a busca por um emprego melhor e exigência do trabalho, nota-se que o retorno aos estudos está relacionado a busca pela certificação. Percebeu-se que ficou nítido que a busca por um emprego que proporcione melhor qualidade de vida para sua família, é o fator decisivo para voltarem à sala de aula, pois compreendem que partindo daí é que terão subsídios para cumprir sua cidadania com dignidade e oferecer uma vida melhor àqueles que dependem deles. Pois, acredita-se que a educação é o principal componente para o progresso do sujeito dentro da sociedade.

Ao buscar saber se os conhecimentos que o aluno adquiriu, colaborou para melhorar, de alguma forma, a vida pessoal/profissional deles, verificou-se que 79% dos alunos responderam com afirmação, sendo que muitos citaram que usam no ambiente de trabalho ou familiar os conhecimentos que adquirem em sala de aula.

Esta afirmação dos alunos revela o reconhecimento deles sobre os conteúdos abordados em sala de aula. É provável que estes conhecimentos estejam ligados à leitura, escrita e ao cálculo. Desta forma, destaca-se que “[…] é possível promover uma educação de jovens e adultos que articule escola e trabalho, posto que o conteúdo programático […] deve partir dos anseios e necessidades dos sujeitos […]” (COSTA, 2013, p.101).

Do percentual total de alunos, somente 21% afirmaram que os conhecimentos adquiridos não colaboraram para sua vida pessoal e/ou profissional. Compreende-se, assim que, a partir de como a unidade escolar se exibe para os alunos, passa a ser ou não bem recebida por eles. A ação de educar se conforma como uma grande ação humana de empoderamento que pode, tanto direcionar para o conhecimento, como designar um obstáculo de separação entre este e os alunos.

Em relação às dificuldades dos alunos para estudarem ou o que ajudou eles a pensarem em desistir das aulas, foi o cansaço com a resposta de 66% dos alunos, seguida de horário incompatível (23%) e distância da escola (11%). Assim, percebe-se que há fatores fundamentais que levam o educando a afastar-se da escola, como a ausência de recursos financeiros e a busca pelo avanço econômico, que como meio de reparar as condições de vida da sua família, para suprir as necessidades financeiras, os alunos acabam pensando em desistir das aulas, devido ao cansaço em conciliar trabalho e aulas, e ainda os horários incompatíveis da escola com seu emprego. Sem contar que o cansaço por conta da jornada de trabalho exaustiva e por vezes a distância da escola os deixa sem motivação, contudo este problema deve ser avaliado por outro ângulo, pois caso as aulas fossem atraentes, provocadoras e mostrassem mais atividades diferenciadas, será que os educandos não encarariam o cansaço por conta das novas perspectivas de aprendizagem? Pois, ressalta-se que 42% dos alunos sugeriram para melhorar o ensino, o uso de metodologias mais práticas, o que nos faz pensar que com aulas mais didáticas, esta dificuldade poderia ser superada.

Assim, a EJA nos níveis fundamental e médio deve ter seu projeto pedagógico próprio construído e praticado atendendo aos interesses e necessidades dessa população que se assinala pelas suas intensas diversidades. “[…] construindo seus conhecimentos de forma participativa e criando condições para o exercício de uma cidadania crítica, partícipe da sociedade e de mundo em seus aspectos amplos e de trabalho” (SCHEIBEL e LEHENBAUER, 2006, p. 38).

Os alunos ainda citaram horários flexíveis, palestras motivacionais na escola e duração das aulas reduzidas, visto que muitas pessoas precisavam trabalhar e estudar, como sugestão para melhor o ensino na EJA. Sendo assim, acredita-se que a evasão pode ser reduzida, empregando-se meios que busquem elucidar estes desafios determinados pelos alunos, a partir de aulas instigadoras, que estimulem a busca pelo conhecimento por parte do aluno, que pode muitas vezes superar ou diminuir o cansaço físico do trabalho diário; metodologias de ensino que envolvam pesquisa, aulas práticas, trabalhos em grupos, cooperativismo; melhor planejamento das aulas para que o horário não fique tão extenso para o aluno trabalhador; e palestras motivacionais para assim contribuir para a autonomia e o desenvolvimento da criatividade e criticidade dos alunos.

Neste contexto, cabe à escola rever como está sendo arquitetado seu projeto pedagógico, para passar a atender as necessidades do aluno, claro, sem deixar de lado o currículo estabelecido nacionalmente para a modalidade em questão.

Na pesquisa com os professores, 100% deles, ou seja, os cinco docentes entrevistados atuam na EJA de 1 a 5 anos, ou seja, pouco tempo, o que espera-se que estes educadores busquem diante de suas experiências, e da formação continuada, conhecimento de como lidar com os alunos da EJA, que são tão distintos dos alunos da educação básica normal. Para que assim, não se tenha despreparo do corpo docente para trabalhar com a especificidade da EJA, pois, muitas vezes o educador não valoriza a experiência de vida que este educando já traz consigo, como trabalhador, como adulto inserido em um processo de produção. Os docentes também foram capazes de evidenciar os fatores que dificultam a modalidade EJA, uma vez que todos afirmaram possuir dificuldades neste trabalho. E as respostas foram concorrentes com as dificuldades dos alunos, e com o que a literatura afirma: alunos muito desmotivados, diferença muito grande de idade entre os alunos, falta de interesse dos alunos, frequência muito baixa nas aulas, alunos que levam os filhos para as aulas e pouco conhecimento prévio.

Percebe-se que a EJA para ir além da Educação Formal, deve relacionar as práticas e os saberes estabelecidos no cotidiano, para assim, sanar muitas das dificuldades elencadas pelos docentes. Desta forma, ressalta-se que o aluno e o professor devem caminhar juntos, interagindo durante todo o processo de escolarização, de forma que o adulto entenda o que está sendo ensinado e que saiba usar em sua vida o conteúdo aprendido na escola. Contudo, quanto ao fato de os alunos levarem seus filhos para as aulas, deve-se ter políticas que amparam esses pais que não possuem condições de deixar seus filhos em escolas, ou pagar por pessoas para cuidarem de suas crianças, na ausência de um adulto para fazer tal tarefa. Pois, apenas trabalhando de forma coletiva e participativa que a educação alcançará a todos. Neste panorama, destaca-se que diante do percentual de alunos (79%) que reconhecem a importância da escola para a sua vida, espera-se contar com uma escola que os note na sua totalidade.

E quando os professores foram questionados do que seria necessário melhorar para que houvesse a permanência do aluno da EJA na escola, eles citaram: equilíbrio nas atividades entre difícil e fácil, aulas práticas e oficinas, vários instrumentos de avaliação, elevar a autoconfiança e autoestima dos alunos, atividades extraclasse e oferecer cursos profissionalizantes. Desta forma, percebe-se que os desafios apontados tanto pelos alunos como pelos professores da EJA na instituição escolar, são os mesmos fatores que geram a evasão, e as melhorias para mitigar este problema são concorrentes também.

Portanto, nota-se que não basta ter escolas e que os alunos estejam matriculados, é necessário que a escola tenha uma política educacional capaz de promover meios favoráveis para que os alunos que trabalham tenham a possibilidade de frequentar as aulas regularmente e gozar do conhecimento socializado na escola, “[…] para o exercício da consciência crítica, para a construção […] de uma nova sociedade” (CAPORALINE, 1991, p. 32).

Ressalta-se ainda que as atividades propostas pelos livros didáticos são tidas como fáceis e quando as atividades exibem certo grau de dificuldade podem originar decorrência negativa, pois muitos alunos se recusam a executá-las, ou quando são fáceis e simples podem não ser atrativas, já vez que não lhes agregam novas informações. “Para isso, é necessário que as aprendizagens não sejam excessivamente simples, o que provocaria frustração ou rejeição” (BARON, et. al., 2001/2002, p. 40). Portanto, o equilíbrio beneficia aprendizagem e incita o prazer em aprender.

Quanto às formas de avaliação, os educadores sugeriram diversidade, então tem-se: por comportamento, assiduidade, teste, prova, exercício, apresentação de trabalho, leitura. Estes métodos de avaliar representam uma prática correta, pois os alunos têm a chance de ser avaliados de várias maneiras. Outra particularidade frequente no aluno adulto é a baixa auto-estima, na maioria das vezes ocorrida de circunstâncias de fracasso escolar. A sua ocasional passagem pela escola, muitas vezes, foi caracterizada pela exclusão ou pelo fracasso escolar. Com um comportamento pedagógico anterior comprometido, esse educando retorna à sala de aula apresentando uma auto-estima fragilizada, demonstrando sentimento de insegurança de desmotivação e até de desvalorização pessoal diante dos novos desafios que se estabelecem (ALVARES, 2006).

Assim, o estímulo à autoconfiança, a autossuperação, a valorização dos empenhos, a certeza que pode ter o suporte do professor e dos colegas é essencial para que o educando tente superar sua dificuldade. Sugeriu-se o desenvolvimento de atividades extraclasse, pois entende-se o quão importante é promover atividades que não se restrinjam, sobretudo, à sala de aulas. Pois, o contato com outras realidades e ambientes é imprescindível para a expansão dos conhecimentos dos alunos e torna a escola mais interessante. O aluno da EJA deve estar mergulhado em um ambiente educacional motivador, que o estimule a superar os seus reais problemas de permanência na escola. Por conta disso, é indispensável que a escola desenvolva e/ou expanda atividades extraclasse, como aulas de campo, feiras culturais, campeonatos esportivos, gincanas, festivais de músicas, dentre outras atividades de caráter cultural, formativo e profissional. De tal modo, acredita-se que a escola se tornará um lugar mais convidativo em que o aprendizado possa cada vez mais se tornar o centro das atenções dos alunos (ALVARES, 2006).

Como ainda foi relatado, 30 alunos que estavam foram do mercado de trabalho, tendo necessidade de trabalhar para suprir as suas demandas materiais, há sugestões de curso de informática, manicure, cabeleireiro e eletricidade básica, sendo uma ajuda para que estes alunos possam ingressar em um trabalho que não fosse tão desgastante fisicamente. Acredita-se que a promoção de cursos profissionalizantes pela escola – em parceria com Organizações Não Governamentais (ONGs), associações etc, voltadas para os alunos da EJA, poderia colaborar para impedir muitos casos de evasão, pois seriam meios motivacionais para juntarem educação e trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo primordial deste artigo foi explicar a contribuição da gestão escolar na identificação dos fatores de sucesso e desafios, que levam à evasão ou à permanência dos alunos do 1º ano do Ensino Médio, na EJA, da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, a fim de propor ações que promovam o retorno à escola daqueles que dela evadiram; e frente ao apresentado, pode-se afirmar que sua intenção foi alcançada já que foi possível estabelecer o perfil do aluno da EJA, as dificuldades que eles enfrentam, o que fizeram deixar a escola e o motivo que os fizeram voltar, bem como entender e propor melhorias para atender melhor este público, na visão do aluno e do professor.

Observou-se primeiramente que o perfil do aluno da EJA do 1º ano do Ensino Médio, na EJA, da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, é composto em sua maioria pelo sexo masculino, ressaltando-se que a quantidade de alunos do sexo feminino, foi menor, contudo ainda elevado. Sendo que a maioria dos alunos vive com um companheiro, mas muitos são casados ou solteiros, com proeminência para os três estados civis, por isso os três destacados aqui e com idade de 21 a 30 anos, inseridos no mercado de trabalho.

Verificou-se que o público da EJA concentra-se no sexo masculino, pois muitos precisam assumir o papel de mantedor da família, contudo ainda há muitas mulheres como foi evidenciado, porque muitas passam por uma gravidez indesejada, as vezes sem apoio da família, e precisam deixar de estudar para criar de suas crianças, ou porque não tem estrutura para deixá-las na creche ou com outras pessoas. A maioria possui um companheiro ou é casado, e por isso, já admitem a responsabilidade de uma família para manter, muitas vezes filhos, e assim, abandonam a escola, e depois buscam a EJA, sendo que os solteiros e jovens também ocupam um grande índice de alunos da EJA, pois precisam trabalhar para ajudar na renda da família, fazendo com que aumente cada vez mais o número de adolescentes deixando as salas de aula.

O primeiro objetivo deste artigo procurou identificar as atividades e/ou fatores que colaboram para a permanência de alunos trabalhadores, escolarizados e assíduos na EJA, e através deste estudo, foi possível elencar a interação entre o professor da EJA e seu aluno, de forma que se tenha afetividade, afinidade, respeito e troca de experiências, para que o aluno seja reconhecido pela sua capacidade de construir seu próprio saber. Verificou-se que o professor deve estar sempre aberto às novas experiências, aos conflitos, aos sentimentos e necessidades e particularidades de seus educandos, para que se tenha um desenvolvimento absoluto. Tem-se ainda como fator que ajuda na permanência dos alunos na EJA, a motivação dos alunos da EJA diante da prática de ensino, pois se deve deixar de lado a técnica de empregar apenas a teoria, e sim, implantar a prática paralela à teoria, desenvolvendo trabalhos que promovam a capacidade de refletir e atuar do aluno, que não sejam periódicos e desgastantes, gerando desânimo e desgosto, a partir de aulas bem planejadas, educadores dedicados, metodologias lógicas, espaço propício, diversificação de práticas pedagógicas, uso de recursos didáticos apropriados aos interesses dos alunos, conteúdos relativos com a realidade desses indivíduos, valorizando o conhecimento prévio. E tem-se ainda o fator econômico/profissional: “conseguir um emprego melhor e por exigência do trabalho; reconhecimento social: “vontade de vencer na vida e dar um futuro melhor aos filhos”; e pessoal: “concluir o Ensino Médio” que fazem com que os alunos voltem às aulas e permaneçam. Percebeu-se que ficou nítido que a busca por um emprego que proporcione melhor qualidade de vida para sua família, é o fator decisivo para voltarem à sala de aula.

No segundo objetivo, buscou-se estabelecer as causas da evasão escolar na Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, buscando dimensionar as causas externas e internas à escola, e a partir dos resultados, foi possível concluir que a maioria dos alunos (39%) estava de 6 a 10 anos sem retornar a escola, seguido de 28% que estava há mais de 20 anos sem estudar, mostrando que se a interrupção não tivesse sido realizada, seria possível, hoje em dia, terem concluído, pelo menos, o ensino médio. Contudo, sabe-se que estes alunos passaram por muitas dificuldades em sua caminhada escolar, e as elencadas pelos alunos foram: necessidade de trabalhar (52%), gravidez, teve-se ainda respostas como necessidade de ajudar nos afazeres domésticos, não conseguia aprender, distância de casa para a escola, dificuldade com transporte escolar e situações de bullying.

Percebeu-se que o trabalho foi um dos fatores assinalados como causador do abandono dos estudos, sendo esta uma das principais dificuldades em continuar estudando, mas é ainda motivo de retorno aos bancos escolares. E por conta destas dificuldades apontadas, há a falta de motivação, horários de aulas incompatíveis e cansaço por conta da necessidade de trabalhar, o que se tornam motivos recorrentes para o abandono. Nota-se assim que a pobreza e a evasão escolar estão interligadas, existindo uma relação direta e positiva entre a renda familiar e o avanço escolar. Apontou-se ainda como uma grande dificuldade para os alunos da EJA, o fato de alguns alunos levarem os filhos para as aulas e pouco conhecimento prévio. Contudo, os motivos assinalados como dificuldades de aprender o que é ensinado e situações de bullying, podem sofrer ações da escola no sentido de alteração de conteúdos e práticas docentes, com ajuda da gestão escolar para mitigar esta problemática.

No terceiro objetivo, pretendeu-se identificar os pontos em que a gestão escolar da Escola Estadual Francisca de Paula de Jesus Izabel, na modalidade da EJA, precisa intervir para assegurar a permanência de alunos e evitar a evasão e para isso, verificou-se que primeiramente é necessário conhecer e analisar o panorama socioeconômico, histórico e os problemas dos alunos dessa modalidade de ensino para poder lidar melhor com eles, pois não existe educação sem parceria, sendo uma via de mão dupla. E após o levantamento de seu perfil e suas necessidades, diante das sugestões de professores e alunos entrevistados, chegou-se a tais pontos a serem melhorados: o uso de metodologias mais práticas, pois acredita-se que a partir de aulas instigadoras, que estimulem a busca pelo conhecimento por parte do aluno, pode, muitas vezes, superar ou diminuir o cansaço físico do trabalho diário e ajudar na falta de motivação dos alunos e dificuldade de aprendizado. Pois para a EJA ir além da Educação Formal, deve relacionar as práticas e os saberes estabelecidos no cotidiano.

Como sugestões, teve-se ainda: horários flexíveis, palestras motivacionais na escola para assim contribuir para a autonomia e o desenvolvimento da criatividade e criticidade dos alunos; aulas práticas, trabalhos em grupos, cooperativismo; melhor planejamento das aulas para que o horário não fique tão extenso para o aluno trabalhador; rever a organização didática da EJA, considerar as particularidades intrínsecas a este público, pois isso contribui para a permanência e êxito dos alunos, favorecendo a formação integral do sujeito, bem como a conclusão do seu ensino médio; equilíbrio nas atividades entre difícil e fácil, vários instrumentos de avaliação, elevar a autoconfiança e autoestima dos alunos, atividades extraclasse e oferecer cursos profissionalizantes e oficinas.

Desta forma, esforços pontuais dos sistemas de ensino são necessários para que a expansão do acesso e permanência desses alunos na EJA se concretize também na qualificação da aprendizagem, como foi citado. Pois, concluiu-se que garantir as condições básicas para os alunos da EJA é assisti-los nas suas necessidades, favorecendo meios para que frequentem a escola.

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1Universidad Del Sol. Manaus, Amazonas (AM), Brasil.
2Universidad Del Sol. Manaus, Amazonas (AM), Brasil.