EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS POR ANÁLISES DO PRINCÍPIO E DA CONTEMPORANEIDADE 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10610926


Autores: Aldair Machado de Alvarenga; Charles da Silva Ramos Filho;
Co-autores: Diane Elias Rocha e Silva; Diego Antônio de Souza Pereira; Francisco Felipe Braga Júnior; Gledson Gouvea Magno; Sonaí Maria da Silva ; José Leônidas Alves do Nascimento; Marcos Lopes Spinola; Natalina Moraes Santos; Ubiranilze Cunha Santos


Resumo

 A pesquisa em questão visa analisar de forma crítica as relações etnico-raciais por intermédio dos feitos de Kebengele Munanga em “Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia”, Mário Theodoro em “A formação do mercado de trabalho e a questão racial no Brasil”, Oracy Nogueira em “Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem” e o filme “Quanto Vale ou É por Quilo?” fazendo assim uma relação com o âmbito atual em que se vive, no Brasil.

Palavras chaves: étnico-raciais, racismo e criticidade

Introdução

As relações étnico-raciais é um tema de extrema relevância para compreender e desafiar as desigualdades existentes na sociedade contemporânea. Este artigo tem como objetivo investigar as noções das relações étnico-raciais, baseando-se nas contribuições de renomados autores como Kebengele Munanga, Mário Theodoro e Oracy Nogueira, e também por meio do filme “Quanto Vale ou É por Quilo?”. Busca-se estabelecer um diálogo entre essas obras e o contexto atual, visando a compreensão das implicações históricas e das situações vivenciadas atualmente.

Em “Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia”, Kebengele Munanga examina as diferentes perspectivas sobre a raça, o racismo e as questões de identidade e etnia. O autor destaca a importância de compreender as relações sociais e de poder que permeiam a construção social da raça, considerando-a como uma categoria socialmente construída e não como uma determinação biológica. Além disso, Munanga explora os efeitos do racismo na sociedade, enfatizando a necessidade de uma análise crítica para desconstruir estereótipos e preconceitos arraigados.

Já em “A formação do mercado de trabalho e a questão racial no Brasil”, Mário Theodoro discute a influência do tráfico de escravos no Brasil colonial e como essa história ainda afeta as dinâmicas sociais e econômicas do país. Ele analisa a formação do mercado de trabalho e sua relação com as questões raciais, destacando a exploração da mão de obra africana escravizada e as consequências desse sistema para a estrutura social atual. Theodoro ressalta a importância de se compreender o legado histórico do racismo no Brasil e a necessidade de ações afirmativas para promover a igualdade e a justiça social.

Por sua vez, Oracy Nogueira, em “Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem”, foca nos aspectos psicológicos e sociais do preconceito racial. O autor investiga as diferentes formas de discriminação racial, explorando o preconceito de marca e o preconceito de origem. Nogueira discute como essas formas de discriminação impactam a autoestima, a mobilidade social e as oportunidades disponíveis para grupos étnico-raciais minoritários. O autor também destaca a importância de políticas públicas e de conscientização para combater o racismo e suas manifestações no cotidiano.

Além dessas contribuições teóricas, o filme “Quanto Vale ou É por Quilo?” apresenta uma poderosa narrativa cinematográfica. O filme expõe as desigualdades sociais e evidencia como a discriminação racial está enraizada em questões sociais, econômicas e políticas.

Diante desse contexto, esta pesquisa busca estabelecer uma análise crítica das relações étnico-raciais, fundamentada nas contribuições dos autores e no filme mencionado, ao relacioná-las com o contexto atual. Com base nesses estudos, pretende-se compreender as origens e as manifestações do racismo, bem como as implicações sociais, econômicas e psicológicas dessa questão complexa. Espera-se assim contribuir para um debate amplo e esclarecedor sobre as relações étnico-raciais na sociedade contemporânea e para o fortalecimento de ações que combatam o preconceito e promovam a igualdade e a inclusão.

Desenvolvimento

De acordo com Kebengele Munanga, em “Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia”, o racismo tem suas raízes em três fontes interconectadas, sendo a biológica, cultural e social. O racismo de origem biológica está relacionado à ideia de que algumas raças detêm características inerentes que as tornam superiores ou inferiores a outras. Todavia, esta teoria, em consenso, é rejeitada pelo âmbito científico, sendo raça então uma construção social. Já o racismo cultural é perpetuado por intermédio de estereótipos e preconceitos enraizados nas percepções de diferentes grupos. São retratos negativos de pessoas pretas, representações essas que prevalecem e corroboram com a desumanização e marginalização dos indivíduos. E o racismo de origem social faz referência às dinâmicas de poder e hierarquias sociais estabelecidas durante o período de dominação, exploração, colonização e que ainda hoje refletem na atualidade. Período este em que a princípio as potências europeias utilizaram o racismo biológico como ferramenta para justificar a dominação sobre outros povos, os esforços em colonizar, com a ideia definida da supremacia europeia no quesito intelectual.

Em “A formação do mercado de trabalho e a questão racial no Brasil”, Mário Theodoro, disserta sobre a colonização do Brasil, deixando em xeque que a mão de obra foi traficada de países africanos selecionando indivíduos especialistas para cada tarefa na qual desenvolveria no país colonizado, sendo, é claro, escravizado pelos europeus que acreditavam ser superiores a todos os povos não brancos. Os indivíduos sequestrados foram alocados em trabalhos nas plantações de açúcar, nas minas, fazendas de café, como ama-de-leite, comerciantes, dentre outros. O fluxo massivo do tráfico de pessoas moldou a composição demográfica, além de ter influência na estrutura social, esta por sua vez bem hierarquizada, onde as elites brancas detinham o poder e recurso, enquanto as populações não brancas eram subjugadas, reforçando a subserviência.

O processo de colonização que delimitou um esquema hierárquico e as origens do racismo geraram consequências que persistem no âmbito atual que se vive. No artigo “Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem”, produzido por Oracy Nogueira, é explanado de forma clara as sequelas geradas para as populações não brancas, consequências estas psicológicas que incluem baixa autoestima, sentimento de marginalização e racismo internalizado. Há a dificuldade da mobilidade social, acesso a educação de qualidade, empregos e oportunidades, fatores estes que acentuam cada vez mais a desigualdade social. Para além disso, o racismo moldou o sistema de justiça criminal, resultando em um quantitativo desproporcional de indivíduos pretos detidos e encarcerados, dentre outras decorrências produzidas. Oracy Nogueira traz qualificações desses tipos de discriminação em dois segmentos, o preconceito de marca que ocorre baseado na aparência física, como a cor de pele e traços faciais. E o preconceito de origem que envolve discriminações relacionadas à ancestralidade e a origem étnica.


O filme “Quanto Vale ou É por Quilo?” ilustra bem as desigualdades, mostrando como a discriminação racial está entrelaçada com questões sociais, econômicas e políticas, o que independe do momento histórico. O feito traz a representação sobre as relações entre senhores de engenho e os escravizados, o reforço sobre a subserviência e a escravização contemporânea. Para além, discorre em tom de crítica exploração de indivíduos vulneráveis por empresas e ONGs que visavam o lucro por intermédio da desgraça alheia, o marketing sensacionalista que lucra em cima de questões importantes, trazendo para os indivíduos sem informação uma falsa sensação de caridade. A linguagem cinematográfica utilizada mistura a ficção e a realidade dentro da dramaturgia, além de ter referência histórica, alternância de períodos, o autor insere dentro da produção casos do arquivo nacional. Traz uma noção de que a cosmovisão do indivíduo acaba sendo moldada pelo sistema que os rege, logo o indivíduo outrora oprimido pode se tornar opressor.

Conclusão

A análise dos autores e do filme mencionado traz uma visão abrangente sobre as relações étnico-raciais e o racismo no Brasil, relacionando-os com o contexto contemporâneo. De fato, o Brasil enfrenta desafios significativos relacionados ao racismo e desigualdades étnico-raciais.

No Brasil atual, o racismo continua sendo uma realidade, apesar da diversidade e da miscigenação da população. Ainda existem manifestações de racismo institucional, cultural e estrutural, que afetam negativamente a vida e as oportunidades das pessoas pertencentes a grupos étnico-raciais minoritários.

O racismo biológico, apesar de ter sido amplamente desacreditado, ainda persiste em discursos e ações discriminatórias que destacam supostas diferenças entre as raças. Essa mentalidade influencia a forma como as pessoas são tratadas e pode reforçar estereótipos e preconceitos.

O racismo cultural também é uma realidade, com estereótipos e preconceitos enraizados na sociedade. Esses retratos negativos podem levar à marginalização e à desumanização de indivíduos de grupos étnico-raciais minoritários, dificultando sua mobilidade social e acesso a oportunidades.

Além disso, o racismo social é uma realidade preocupante. As dinâmicas de poder e as desigualdades sociais e econômicas estabelecidas durante períodos de dominação, exploração e colonização ainda persistem, refletindo nas desigualdades presentes na sociedade brasileira atual.

O sistema de justiça criminal também é afetado pela discriminação racial, resultando em um número desproporcional de indivíduos negros detidos e encarcerados. Essa disparidade racional na criminalização e no encarceramento é um reflexo das desigualdades e preconceitos presentes no sistema judiciário.

O filme “Quanto Vale ou É por Quilo?” é uma representação artística que traz à tona as desigualdades sociais e evidencia as conexões entre a discriminação racial e questões sociais, econômicas e políticas. Embora seja uma obra ficcional, o filme traz reflexões sobre a exploração de indivíduos vulneráveis por empresas e organizações, bem como a manipulação da imagem e do discurso para mascarar a realidade e fornecer uma falsa sensação de justiça e caridade.

Em resumo, o trecho analisado e suas associações com a realidade contemporânea do Brasil destacam a persistência do racismo e das desigualdades étnico-raciais no país. Eles nos convidam a refletir sobre as origens e as diversas manifestações do racismo, suas implicações sociais, econômicas e psicológicas complexas, e a importância de debates e ações que combatam o preconceito e promovam a igualdade e inclusão na sociedade.

Referências

MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Programa de educação sobre o negro na sociedade brasileira, 2004.

THEODORO, M. A formação do mercado de trabalho e a questão racial no Brasil in THEODORO, Mário (org.). As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil, v. 120.

NOGUEIRA, Oracy. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil. Tempo social, v. 19, p. 287-308, 2007.

BENAIM, Eduardo et al. Quanto vale ou é por quilo? Roteiro do filme. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008.

QUANTO VALE ou é por quilo? Direção: Sérgio Bianchi. Roteiro: Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi. Rio de Janeiro: Agravo Produções Ciematográficas, Riofilme, 2005. 1 DVD (104 minutos).