ECO-ANSIEDADE, SAÚDE MENTAL E SINTOMAS DO ADOECIMENTO PSÍQUICO: A CRÔNICA DESTRUIÇÃO DA CASA COMUM E OS IMPACTOS DO AFASTAMENTO DO  SUJEITO HUMANO DA NATUREZA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7409557


Hannah Gabrielle Garcia da Rocha Ferreira
Orientador: Leonardo Agostini


RESUMO: Este artigo visa conscientizar sobre os impactos da alienação humana da natureza, devido ao  crescimento populacional e à migração nacional das florestas e do campo para os ambientes urbanos. Os efeitos  psíquicos e adoecimentos mentais são mencionados, estes sintomas ocorrem em virtude da crescente destruição  de áreas verdes, com interesses maciços de aumento de propriedades privadas e lucros industriais. Com estudos  revisionais, abrange o período da migração rural a partir da ditadura brasileira com a “Revolução Verde”.  Adicionalmente, este trabalho visa conscientizar a sociedade civil e os tomadores de decisões, sobre o afastamento  humano da natureza, bem como destacar os direitos ambientais como objeto de estudo para os profissionais de  saúde. Para além disso, a extensão da pesquisa e suas reflexões iniciais devem ser enriquecidas com análises  mais aprofundadas, não sendo possível neste estudo devida às limitações de tamanho dos artigos científicos. Se  faz urgente e emergente, o trabalho preventivo em termos de saúde biopsicossocial, sustentabilidade global e  responsabilidade social. Que a ecologia ressoa em eco sem fim.  

PALAVRAS-CHAVE: eco-ansiedade; responsabilidade social; sustentabilidade; meio ambiente; pandemias. 

ABSTRACT: This article aims to raise awareness of the impacts of human alienation from nature following  population growth and national migration from forests and countryside to urban environments. Psychic effects and  mental illness are mentioned as one of the consequences of the increasing destruction of green areas, with massive  interests of increasing private property and industrial profits. With revisional studies, it covers the period of rural  migration during the Brazilian dictatorship with the “Green Revolution”. Additionally, this work aims to make civil  society and decision makers aware of human distance from nature, as well as highlighting environmental rights as  an object of study for health professionals. In addition, the scope of the research and its initial reflections should be  enriched with more in-depth analyses, which is not possible in this study due to the limitations of the size of the  scientific articles. Preventive work in terms of biopsychosocial health linked to global sustainability and social  responsibility although incipient is urgent. May ecology resound in endless echo. 

KEYWORDS: eco-anxiety; social responsibility; sustainability; environment; pandemics. 

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 

Aquecimento global, pandemias, desastres ecológicos, incêndios florestais,  extinção de espécies, fome, famílias desabrigadas e inúmeras doenças até então  desconhecidas. Os impactos destes fenômenos têm comparecido no corpo do ser  humano. As pesquisas apontam para o crescente adoecimento mental em razão  da destruição célere do planeta Terra. 

Diante deste cenário, o problema a que esta pesquisa visa responder é:  quais são os impactos do afastamento humano de seu habitat, a natureza? Diante disso, o objetivo geral do artigo consiste em traçar paralelos entre a  saúde mental e os direitos humanos. E os objetivos específicos consistem em:  elaborar um panorama dos atuais cenários (em nível nacional e global) a respeito  dos temas de Direitos Humanos, Sustentabilidade Global e Responsabilidades  Sociais; identificar os riscos e ameaças do amplo aumento de consumo, produção  do lixo, poluição e afastamento do sujeito humano de seu sentimento de  pertença no planeta terra como casa comum a ser zelada, preservada e  restaurada. 

Para atender a tais objetivos, a metodologia utilizada é de natureza básica, abordagem qualitativa e procedimentos bibliográficos de coleta de dados  históricos e contemporâneos a respeito da sustentabilidade, saúde  bio psico emocional e políticas públicas do Brasil com recortes socioeconômicos.  

Busca-se com este trabalho refletir sobre a urgência do debate a respeito  de temáticas ambientais, visando a curto, médio e longo prazo, transformar a  conscientização dos riscos ambientais que sofremos. Além de visar uma  psicoeducação através da apresentação de novos temas recentemente  descobertos sobre as emoções. 

Pretende-se lançar mão de ferramentas ideológicas para a construção de  um futuro melhor para nossa casa comum. 

2. O AFASTAMENTO HUMANO DA NATUREZA  

A saída dos povos residentes de zonas rurais para áreas urbanas é  denominada êxodo rural, processo de movimentação humana do campo para as  cidades. São múltiplas as causas e consequências deste movimento. Esse  processo migratório interno, recorrente no século XX, tem como principal objetivo  questões econômicas (NOVAKOSKY, 2021). 

Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), os  principais movimentos deste tipo de migração ocorreram entre as décadas de  1960-1980 no Brasil. Nos dias atuais, segundo o IBGE, apenas 17,6% da  população brasileira vive em zonas rurais. 

A principal razão para ter havido esse fenômeno foi a busca por uma vida  melhor, em fuga da insegurança das guerras violentas por posses de terra e  vulnerabilidades sociais. E o que ocorreu para a vida no campo ter se tornado  mais custosa nesses 20 anos (de 1960 a 1980)?  

O motivo é que a partir da década de 60, acontecia o sombrio período da  ditadura militar no Brasil. Esta, promulgou um programa chamado “Revolução  Verde.” Na prática, isso significou um investimento maciço na agricultura brasileira a fim de transformá-la em um destaque mundial de exportação. Em vista disso, houve grande aporte pecuniário para a produção de sementes, utilização de  agroquímicos e na mecanização do campo. Na teoria, parecia um grande plano  para movimentar o Brasil da linha de país subdesenvolvido e dependente de  economia de investidores externos (CAMARANO; ABRAMOVAY, 1999). 

Ocorre que os principais beneficiados com o programa foram os grandes  produtores e abonados, já privilegiados pelos sistemas vigentes. Então, as riquezas do campo foram concentradas em uma minoria de donos de terras,  potencializando a desigualdade e a concentração fundiária da burguesia.  Impossibilitados de competir com estes produtores, grande parte dos pequenos  produtores e moradores de zonas rurais precisam vender suas terras ou foram  expulsos delas (alimentando o ciclo de concentração fundiária) e partiram em  busca de melhores condições de vida na “cidade grande” (cf. CANAL AGRO,  2022). 

Ademais, a metade do século XX foi período de industrialização no Brasil,  concomitante à Revolução Industrial ao redor do globo. Aumentando a  necessidade de mão de obra nas indústrias e culminando no crescimento  populacional nas áreas urbanas. 

As principais causas do êxodo rural foram: modernização das atividades  agropecuárias; destaque para a mecanização do campo; implantação de novas  técnicas de cultivos agropecuários geradas pela Revolução Verde; acentuação  da concentração fundiária presente nas zonas rurais de produção agropecuária;  aceleração do processo de industrialização nos principais centros urbanos e  populacionais; e elevação da busca por melhores condições de emprego, renda  e vida nas grandes cidades (MATTOS & PESSÔA, 2011). 

No entanto, as consequências vividas atualmente são de expansão dos  problemas sociais urbanos, como: o aumento da vulnerabilidade social e da  violência; acentuação dos problemas ambientais que derivam do crescimento das  cidades; aceleração da ocupação de zonas naturais instáveis por moradias  irregulares como as favelas; elevação do número de desempregados e/ou de  trabalhadores alocados no mercado informal, além de toda diminuição da  qualidade de vida em razão de problemas ambientais e sociais (cf. CANAL AGRO,  2022). 

Nesse contexto, o Brasil tornou-se oficialmente um país urbanizado em  1970, principalmente por causa do crescimento acelerado das cidades em  razão do fluxo de população proveniente das áreas rurais. Esse processo  
de urbanização aconteceu de forma intensa e acelerada no Brasil, que,  mediante a ausência de políticas de planejamento urbano, gerou inúmeros problemas ambientais e sociais. Atualmente, o fenômeno de êxodo rural  
ainda acontece no país, mas de forma bem menos acelerada que no século  anterior. (CAMPOS, 2021). 

Os espaços verdes dentro das grandes metrópoles foram considerados em  áreas de preservação ambiental e parques, mas Kristine Engemann e os demais  relatam que esses espaços, apesar de importantes, não são suficientes. Eles  afirmam que as áreas foram objetificadas para fins estéticos e recreativos. A leitura  feita é de uma proposta integrativa, unindo ambientes naturais verdes (bosques,florestas e plantações conscientes) aos ambientes naturais azuis (riachos,  cachoeiras, rios, praias, nascentes e afins) com a área urbana.  

Como afirma Engemann (2019): “a solução é integrar ambientes naturais  no planejamento urbano para reduzir a carga global de transtornos psiquiátricos”. Uma espécie de retorno à indistinção da natureza e vida humana com benefícios  mútuos, natureza promovendo a saúde humana e, com a integração, humanos  preservando o meio ambiente e protegendo o ecossistema. 

2.1 ECO-ANSIEDADE, O TERMO GUARDA-CHUVA DAS ECO-EMOÇÕES 

A ansiedade ecológica foi registrada pela Associação Americana de  Psicologia em estudos recentes, embora o termo seja novo e sem tradução para  muitas línguas. Mesmo sem saber o que é e como ocorre, o sujeito pode sofrer  dos sintomas. Os transtornos mentais são categorizados como transtornos  quando se atinge alta frequência e intensidade dos sintomas.  

A eco-ansiedade é, portanto, um termo guarda-chuva para sintomas  psíquicos, relacionados ao medo crônico da devastação e destruição ambiental  (cf. BRITT WRAY, 2021). Emoções como medo, tristeza, raiva, angústia,  melancolia, culpa e sentimentos de impotência, desamparo e pesar são respostas  emocionais às crises ecológicas. Em tradução literal, eco-ansiedade carrega um  termo ainda mais significativo: luto ecológico.  

Pesquisas de um grupo da Universidade de Stanford, apontam para maior  incidência de eco-ansiedades em jovens adultos, na faixa de 16 a 25 anos. Foram  entrevistados 10 mil jovens em 10 países, incluindo o Brasil. O resultado é que  45% dos jovens sofrem com transtornos ansiosos e tais fenômenos estariam  altamente correlacionados às crises climáticas e que estes sintomas afetam suas  relações interpessoais, seus estudos, trabalho, sono, dentre outras dimensões  psíquicas: 

Até onde sabemos, esta é a maior e mais internacional pesquisa sobre  ansiedade climática em crianças e jovens até hoje. Mostra que os fardos  psicológicos (emocionais, cognitivos, sociais e funcionais) das mudanças  
climáticas estão sendo sentidos por grandes proporções de jovens em todo  o mundo. Além disso, é o primeiro estudo a oferecer uma visão de como a percepção dos jovens sobre as respostas dos governos às mudanças  
climáticas está associada às suas próprias reações emocionais e psicológicas. Essas reações são relatadas por jovens de um conjunto  diversificado de países com uma gama de rendas e diferentes níveis de  exposição direta aos efeitos severos das mudanças climáticas. (HICKMAN et al., 2021, p. 2). 

A ONU (Organização das Nações Unidas) possui em seus ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis) a “Agenda 2030”, que são 17 objetivos a  serem alcançados até 2030. O ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis) compromete a vida mais saudável e sustentável nas cidades urbanas,  principalmente nos assentamentos e favelas. Ponto contemplado, que conversa  diretamente com o presente estudo, é o de 11.7 que afirma: “Até 2030,  proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos,  acessíveis e verdes, particularmente para as mulheres e crianças, pessoas idosas  e pessoas com deficiência” (ONU, 2016). 

Apesar das cidades verticais e hiper populosas por muitas décadas terem  sido sinônimo de civilização, os casos de adoecimentos mentais crescem em  escala vertiginosa. O fluxo intenso de trabalho, na sua maioria informal, só renova  o ciclo de urgência. Produzir mais, para ganhar mais e viver melhor. No entanto,  a última parte fica na utopia para grande parte da população. 

Fato é que em ritmo acelerado o consumo é menos consciente e mais  frequente. Busca-se pela praticidade ao invés de qualidade e, assim, a máquina  do capitalismo se retroalimenta. Um dos resultados da produção e consumo  acelerados, é o lixo. Só no Brasil, em 2019, foram acumulados 79,1 milhões de  toneladas de lixo. Foram somados 12,4 milhões de toneladas em comparação ao  contabilizado em 2010. Este estudo foi realizado e divulgado pela PNRS (Política  Nacional de Resíduos Sólidos), programa desenvolvido após este aumento  descomedido através da Lei 12.305, de 2010. No mesmo estudo, compreende-se  a atual marca de 379,2 Kg de lixo produzidos por cada brasileiro. Uma média um  pouco maior que 1 Kg por dia (ABRELPE, 2020).  

Vale ressaltar que, apesar do cenário caótico, temos avançado no que diz  respeito à coleta de resíduos e programas de reciclagem. O trabalho dos  catadores e a valorização dos garis têm papel fundamental neste avanço.  

Isso tudo seria altamente satisfatório, se não fosse pelo fato de que 8 anos  depois, o Brasil se tornou o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo segundo  a WWF (Fundo Mundial para a Natureza). Infelizmente, recuamos no avanço, por  interesses econômicos e disputa de poder. Em novembro de 2018, a COP-14 (14ª  Conferência das Partes), evento promovido pela ONU, reuniu representantes de  190 países integrantes da CDB (Convenção sobre Diversidade Biológica), incluindo o Brasil, nação que havia sido signatária dos acordos em 2010, que  agora esbarrou na sua própria política ambiental. Logo, 187 nações assinaram  um acordo pelo combate à poluição plástica. “Foram contrários à iniciativa apenas  o Brasil, os Estados Unidos e a Argentina. Lastimável postura ambiental, de profundas consequências para o planeta” (AGÊNCIA SENADO, 2021). Dados indicam que, entre 2007 e 2010, o governo federal destinou mais de  R$ 280 milhões a ações de gestão de resíduos sólidos. Já no atual governo, foram  investidos apenas R$ 7 milhões até janeiro de 2021, período em que no mundo  aumentavam-se os alertas de cuidado com as questões ambientais e  sustentáveis, principalmente após a disseminação da pandemia global do vírus  SARS-Cov-19. Esses R$7 milhões foram destinados apenas a 40 municípios em  8 estados da Federação (IPEA, 2012). 

Ainda com dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada),  constata-se que a comunidade de catadoras e catadores do Brasil, é responsável por quase 90% do lixo que é reciclado no país. A atividade é objeto do estudo de  “Os Desafios da Reciclagem e da Logística Reversa de Embalagens” – PLS (Projeto de Lei do Senado) de 90/2018. 

2.2 ANSIEDADE, UM MEDO DO FUTURO: CONSEQUÊNCIAS GERACIONAIS  E OS SENTIMENTOS DE TRAIÇÃO  

Há de se pensar que qualquer consequência deixada pelas gerações  passadas estão manifestando maiores impactos no presente e estes estarão  ainda mais pungentes no futuro. Como projetar uma vida no futuro, sabendo que  os recursos naturais estão acabando? 

Essa herança, deixada pelas gerações pós-revolução industrial, demanda de intervenção urgente e, apesar da globalização e extenso acesso à informação,  as notícias relacionadas às crises ambientais parecem ter baixa adesão. Este efeito  de negativa diante das realidades também já tem nome e, popularmente, tem  recebido a menção de “negacionismo”.  

Mas e quanto aos projetos de futuro dos jovens, a dificuldade de projetá-los teria relação com a eco-ansiedade? É sabido do crescente dilatamento  percentil dos adultos que ocupam o grupo da geração “nem”; chamam atenção  também os jovens adultos que sentem medo de ter filhos, mesmo quando o  desejo de tê-los se presentifica. Qual é a relação? 

(…) Essa angústia foi associada a crenças sobre resposta governamental  inadequada e sentimentos de traição. Uma grande proporção de crianças  e jovens em todo o mundo relata sofrimento emocional e uma ampla gama  de emoções dolorosas e complexas (tristeza, medo, raiva, impotência,  impotência, culpa, vergonha, desespero, mágoa, tristeza e depressão). Da  mesma forma, um grande número relata ter experimentado algum impacto  funcional e tem crenças pessimistas sobre o futuro (as pessoas falharam  em cuidar do planeta; o futuro é assustador; a humanidade está  condenada; eles não terão acesso às mesmas oportunidades que seus 
pais tiveram; as coisas seu valor será destruído; a segurança está  ameaçada; e hesitam em ter filhos). (HICKMAN et al., 2021, p. 2). 

É alto o índice de correlação entre a decisão de não ter filhos com o sentimento de medo do futuro do planeta. A pesquisa liderada pela Dra. Caroline  Hickman chegou ao percentual no qual indica que quase metade dos novos  jovens adultos que optam por não perpetuar seus genes, tomam esta decisão  baseados nas questões ambientais. “Eu mesma temo por meu futuro porque sou  jovem e não sei como será minha vida em um mundo onde há cada vez menos  água potável, cada vez mais poluição e catástrofes naturais”. E, ainda: “Eu não  me vejo impondo isso a uma criança que vai viver mais tempo que eu e que vai  enfrentar problemas mais graves”, disse Valentine de 20 anos. 

Destas preocupações insurge um novo movimento denominado de Gink,  sigla para “Green Inclination, No Kids” em tradução livre: Inclinação Verde, Sem  filhos. Estes jovens adultos militam pela redução da natalidade, alertam sobre a  superpopulação mundial, reconhecem a escassez de recursos e apontam para a  vulnerabilidade que vivem crianças já nascidas. Um jovem entrevistado afirma: 

Fazer um filho hoje, tendo consciência de todas as dificuldades ambientais,  seria submeter alguém a uma vida mais complicada do que a nossa, em  termos de energia, de alimentação, de acesso à água potável, com essa  
natureza cada vez mais degradada. E, por enquanto, não há nenhum sinal  de mudança de cenário. Além disso, também sinto o peso da responsabilidade em relação àqueles que já existem – sejam humanos ou o resto da biodiversidade – e que já sofrem o impacto da superpopulação. 
(Hickman et al., 2021). 

Dos 10 países pesquisados, os jovens brasileiros são os mais exitosos  no planejamento familiar. A maioria dos brasileiros entrevistados (79%) sentem  que o governo está falhando com eles, 92% acreditam que a humanidade falhou  em tomar conta do planeta e 86% dizem que acham o futuro assustador.  (Hickman et al., 2021). A projeção para o futuro do Brasil é de fato desanimadora. 

O país será fortemente impactado com as mudanças climáticas. Segundo o último  relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), a  América Latina e demais países do hemisfério Sul, sofrerão aumento de  temperatura maior que a média global, estações mais marcadas, secas mais  severas e consequências na agricultura e na alimentação – em 2022, mais da  metade da população brasileira já convive com algum grau de insegurança  alimentar (58%), conforme dados do Segundo Inquérito Nacional sobre  Insegurança Alimentar –, após agravamento das mudanças climáticas este  cenário previsivelmente tende a sofrer pioras nestes contextos. 

Anouchka Grose, psicanalista e autora americana, a respeito da eco-ansiedade, a nomeia como “luto ecológico”. Escreve que o luto e os sintomas pós-traumáticos vividos sobre o que está acontecendo com o planeta terra é um luto  pré-catástrofe. Então, estaríamos chorando ansiosos pela morte do que ainda não  morreu. Ela tece a conclusão de que todas saídas para o clima ecológico são  loucas e enlouquecedoras, seja na posição da omissão ou na posição de brigar  desesperadamente para que se evite as catástrofes.  

Não pode haver mais esconderijo, nem mais negação. O aquecimento global está sobrecarregando o clima extremo a uma velocidade surpreendente, e é visível no Brasil e além. A análise do Guardian revelou  
recentemente como o colapso climático causado pelo homem está acelerando o preço do clima extremo em todo o planeta. Pessoas em todo o mundo estão perdendo suas vidas e meios de subsistência devido a  
ondas de calor mais mortais e mais frequentes, inundações, incêndios florestais e secas desencadeadas pela crise climática. (THE GUARDIAN, 2019). 

A inquietação das consequências que afetam e afetarão a cada dia mais o  ser humano, com os reveses das destruições civilizatórias já espantam  pensadores e pesquisadores pelo mundo afora. A Dra. Courtney Howard,  presidente do conselho da Associação Canadense de Médicos para o Meio  Ambiente, disse em entrevista as seguintes palavras: “A intersecção entre a  emergência climática e a saúde mental e física se tornará uma das principais  questões do mundo”. 

De acordo com um relatório da IPBES (Plataforma Intergovernamental de  Políticas Científicas sobre a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas), a  urbanização pode aumentar o isolamento do humano com a natureza, fator  contribuinte para intoxicação com poluentes do ar que causam sedentarismo,  demências, problemas pulmonares, cânceres e diversos transtornos mentais,  incluindo o suicídio.  

O risco é especialmente alto entre os jovens que vivem em áreas urbanas:  de acordo com um estudo recente publicado na Psychiatry Research, as crianças se tornam três a quatro vezes mais propensas a ter depressão  
aos 18 anos se forem expostas maior poluição do ar aos 12 anos. (UNEP). 

2.3 PREVENÇÃO DE DOENÇAS ATRAVÉS DO CONTATO COM A NATUREZA 

Já o contato com a natureza, área verde e ar puro é um grande fator de  proteção à saúde física e mental – segundo o Global Environmental Outlook. Pesquisas recentes de neurociências apontam a importância do contato do  ser humano com a natureza. A melhora significativa de desenvolvimento cognitivo  foi constatada, de acordo com o aumento de contato com área verde que a criança em idade escolar foi exposta. As evidências também apontam para  aumento de estímulos sensoriais, contribuição no processo de aprendizagem,  memória e atenção. O índice de verdor ostentou modulação positiva para muitos  aspectos fisiológicos, cognitivos e mentais; além de estímulo da criatividade, e  bem-estar geral (DADVAND et al., 2015). Em contraponto, a restrição de  convivência e afastamento da biodiversidade, concomitante ao abuso de telas,  reduziu o desenvolvimento da substância branca cerebral, imprescindível para  habilidades cognitivas (JOHN et al., 2019). 

Um grupo de pesquisadores dinamarqueses conseguiu chegar a um valor  percentil da prevenção de transtornos mentais, com a simples estratégia de rotina  envolta de um ambiente verde até os 10 anos de idade. Surpreendentemente, o  risco é 55% menor deste adulto desenvolver enfermidades mentais como a  depressão crônica, a posteriori (ENGEMANN et al., 2019). Com isso, os  dinamarqueses concluem que toda infância deve ser verde. Na referida pesquisa,  foram utilizados dados de satélite do período de 1985 a 2013, além de dados de  saúde mental divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde).  

Similarmente, pesquisas divulgadas pela Environmental Health  Perspectives, realizada com o recorte populacional da população idosa,  apresentaram efeitos benéficos para declínio cognitivo mais lento para os que  possuem contato com área verde.  

Há evidências de que o risco de demência e declínio cognitivo pode ser afetado pela exposição a riscos ambientais relacionados a áreas urbanas (como poluição do ar e ruído) e estilo de vida (como estresse e  
comportamento sedentário). Em contraste, viver perto de espaços verdes tem o potencial para aumentar a atividade física e o apoio social, reduzir o estresse e mitigar a exposição à poluição do ar e ao ruído. Evidências  
recentes mostram benefícios cognitivos da exposição espaço verde em crianças, mas estudos sobre as possíveis relações de exposição a espaços verdes e declínio cognitivo em adultos mais velhos ainda são muito  
escassos e muitas vezes têm resultados inconsistentes. (KEIJZER, 2018). 

Em algum nível é importante e necessário que seres humanos possuam  um pouco de eco-ansiedade, uma ansiedade saudável, como forma de proteção  ambiental e preocupação com a saúde própria, da população em geral e das  próximas gerações.  

Como forma de mecanismo de defesa, uma parcela da sociedade opta por  negar as crises climáticas. Em 2021, foi lançado o filme “Não olhe para cima” que  ilustra tal fenômeno. Essa proteção é tão nociva quanto o medo paralisante. A  saída mais saudável é direcionar o medo em prol da mudança de hábitos e  atitudes sustentáveis. Entendendo a ameaça para combatê-la, ao invés de  depreender como um problema sem solução e incapacitante. Essa resposta combativa atende tanto ao indivíduo quanto o planeta. Há muito o que ser feito,
pequenas mudanças no dia a dia tem poder de mudar a direção do futuro.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Com este estudo podemos compreender a importância da reflexão sobre  as consequências do afastamento humano da natureza. As questões de direitos  humanos, saúde mental e ambiental, questões sociais e seus entrecruzamentos.  

Há pesquisas por todo o mundo a respeito das mudanças climáticas, crises  ambientais e desmatamento. No entanto, há uma grande parcela da sociedade,  bem como figuras públicas, políticas ou tomadores de decisões que insistem em  negar os impactos de quaisquer embasamento científico ou de notícias  amplamente divulgadas nos meios de comunicação sobre a temática. No Brasil,  acompanhamos um afrouxamento das medidas de proteção da Floresta  Amazônica, sendo institucionalizado.  

As inferências para este negacionismo, como ocorre inclusive sobre a crise  endêmica do covid-19, costumam girar em torno do interesse financeiro e  político. Para além destes fatores, é necessário um aprofundamento psicológico  e social de tais consequências.  

Há de se levar em consideração a necessidade de discutir amplamente as  consequências do individualismo e da destruição do meio ambiente. Tal como  corpo e mente são indissociáveis, casa comum e casa individual também o são.  Evidente que dentro disso há múltiplos desdobramentos como recortes sociais,  culturais, de etnias e de gênero que deverão ser pesquisadas atentamente.  

Circula no discurso e na crença popular a ideia de qualquer anunciação de  efetivo findamento de recursos ou perda da qualidade de vida em razão da  negligência humana, seja um exagero, um terrorismo ou fruto de um jogo político  daqueles que sejam contra o modelo vigente de sistema econômico, o  capitalismo. Com um olhar psicológico e/ou psicanalítico para estes fenômenos  podemos compreender também como fruto de adoecimento psíquico.  

Pode-se assim compreender o “negacionismo” como igual a primeira fase  do ciclo de luto, teoria desenvolvida pela psiquiatra suíça-americana Elisabeth  Kübler-Ross. Se trata da fase de negação, um tipo de mecanismo de defesa  capaz de afastar o sujeito da terrível dor iminente pela morte simbólica ou real  de uma fonte de amor. Essa é uma das hipóteses levantadas diante de um  fenômeno social e cultural, descrito no presente estudo. 

Outra hipótese é de que na base dessa negação incessante tenha um  movimento perverso. O psiquiatra e pai da psicanálise Sigmund Freud, descreveu  o mecanismo de defesa da perversão como: denegação. Uma forma de esquiva  para reconhecimento de um fato, um sintoma, uma dor própria ou de outrem,  como forma de obtenção de prazer (fetiche). Sujeito que tudo pode, aí dificilmente  há limites. O intento não é patologizar grupos sociais, mas, sim, ampliar o debate  e convidar as comunidades para participar dele também.  

Portanto, os principais problemas que afetam a sociedade tem a ver com  os atravessamentos culturais, sociais e da educação, que se possuem a respeito de  determinado assunto. Ou seja, como nos comunicamos, pensamos e compreendemos o mundo tem relação com a qualidade afetiva daquilo que  obtivemos de informação, ou a falta dela. Nunca vivemos tão conectados e tão  separados. Se, por um lado, a globalização trouxe a troca de tecnologias e de  ferramentas de comunicação, por outro, nunca a humanidade se viu tão adoecida  emocionalmente.  

No Brasil, por exemplo, a massa de trabalhadoras e trabalhadores passam  o ano inteiro trabalhando, para que, com sorte, possam desfrutar de uma semana  no litoral, apreciando a vista para o mar e entrando em contato com a natureza  para se sentir recompensado pelo esforço aplicado. E se abrirmos ou invertermos  essa lógica? E se não houver natureza para buscar ao final do ano? A natureza  não é essa instituição isolada e distante que podemos nos colocar como  hóspedes. Na verdade, a natureza é onde estamos agora, nesse instante. É onde  moramos. Sombra e água fresca é direito de todos.  

Apesar do cenário ser assustador, e de já vivermos em situações  emergenciais com relação ao aquecimento global, desmatamentos, extinção de  diversas espécies viventes, eminente escassez de recursos e em meio às epidemias de ansiedade e depressão , é possível transformar a realidade do  planeta com mudanças de hábitos e de construção urgente de consciência  ambiental.  

Não há mais espaço para “inconsciente coletivo” irresponsável. Há a  inadiável necessidade de desenvolvermos um coletivo consciente de  transformação de novas culturas de preservação ambiental.  

Há muitas perguntas lançadas e sem respostas. Será que conseguimos  incluir na equação de todas as perguntas (individuais e coletivas), os fatores  ambientais, sustentáveis e responsáveis? Será que o nosso desejo imediato vale  mais que a preservação milenar? O que oferecemos em troca, depois de tanto explorarmos o solo, a água e o ar? 

Não é necessário renunciar ao consumo, das formas de viver ou de  trabalhar; mas é possível incluir em todas as áreas da vida uma consciência  constante, visando obter os menores impactos negativos para o aumento da  expectativa de vida planetária.  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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