DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS E AS CRENÇAS RELIGIOSAS: UMA  REVISÃO DE LITERATURA 

ORGAN AND TISSUE DONATION AND RELIGIOUS BELIEFS: A  LITERATURE REVIEW 

DONACIÓN DE ÓRGANOS Y TEJIDOS Y CREENCIAS RELIGIOSAS: UNA  REVISIÓN DE LA LITERATURA 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10888268


Eliabi Pereira da Silva1;
Tiago da Silva2;
Josieli da Silva Moura3;
Júlio Cesar de Santana  Gonçalves4


Resumo 

Objetivo: analisar se a religião interfere na decisão do doador e/ou da família para o  consentimento de doação de órgãos e transplante. Trata-se de uma Revisão Integrativa  Bibliográfica com caráter qualitativo e descritivo, permitindo a combinação de estudos com  diferentes abordagens metodológicas, mantendo o rigor da revisão por meio das seguintes  etapas: identificação do tema e critérios para inclusão e exclusão de estudos; definição das  informações a serem extraídas dos estudos selecionados; análise e interpretação dos resultados;  e reflexões pertinentes aos estudos. A coleta de informações foi realizada através das bases  eletrônicas: Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), acervos da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical  Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), foram selecionados artigos de 2019  a 2024, em português, relacionados a religião e crenças no processo de doação e transplantes órgãos/tecidos, utilizando na buscaos operadores booleanos or, ande not. Os resultados relatam  que os autores têm conhecimento que as crenças religiosas dos mais diversos segmentos estão  profundamente enraizadas na cultura da grande maioria dos brasileiros, e entre os desafios esta,  o “medo de mutilação ou deformidade do corpo”, que interfere nas crenças ou nos rituais  funerários, é necessário durante a entrevista, o esclarecimento que o corpo do falecido será  tratado com respeito. O líder religioso tem que estar consciente sobre o processo de morte  encefálica e seus deveres como cidadãos, exercendo sua cidadania e responsabilidade social diante da sociedade de forma altruísta. A necessidade de doação de órgãos e tecidos é uma  realidade, é fundamental um discurso embasado no altruísmo e na solidariedade no meio  religioso no intuito de conscientizar fies e líderes religiosos acerca do processo de doação,  diagnósticos sobre morte encefálica e mostrar através das interpretações da Bíblia Sagrada que  a carne e o sangue não herdaram o céu, mas pode dar oportunidade outras pessoas a chegar o  pleno conhecimento da Verdade.  

Palavras-chaves: Educação; Religião; Doação; Órgãos; Tecidos.  

Abstract 

Objective: to analyze whether religion interferes in the decision of the donor and/or family to  consent to organ donation and transplantation. This is an Integrative Bibliographic Review with a  qualitative and descriptive character, allowing the combination of studies with different  methodological approaches, maintaining the rigor of the review through the following steps:  identification of the topic and criteria for inclusion and exclusion of studies; definition of information  to be extracted from selected studies; analysis and interpretation of results; and reflections  relevant to studies. Information collection was carried out through electronic databases: Virtual  Health Library (VHL), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), collections of Latin American  and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) and Medical Literature Analysis and  Retrievel System Online (MEDLINE), articles were selected from 2019 to 2024, in Portuguese,  related to religion and beliefs in the process of organ/tissue donation and transplants, using the Boolean operators or, and and not in the search. The results report that the authors are aware  that the religious beliefs of the most diverse segments are deeply rooted in the culture of the vast  majority of Brazilians, and among the challenges is the “fear of mutilation or deformity of the body”,  which interferes with beliefs or funeral rituals, it is necessary during the interview to clarify that  the body of the deceased will be treated with respect. The religious leader must be aware of the  brain death process and their duties as citizens, exercising their citizenship and social  responsibility towards society in an altruistic way. The need to donate organs and tissues is a  reality, a discourse based on altruism and solidarity in the religious environment is essential in  order to raise awareness among believers and religious leaders about the donation process,  diagnoses about brain death and show through interpretations of the Bible Sacred that flesh and  blood did not inherit heaven, but it can give other people the opportunity to reach full knowledge  of the Truth. 

Keywords: Education; Religion; Donation; Organs; Fabrics. 

Resumen 

Objetivo: analizar si la religión interfiere en la decisión del donante y/o familiar de consentir la  donación y el trasplante de órganos. Se trata de una Revisión Bibliográfica Integrativa de carácter  cualitativo y descriptivo, que permite combinar estudios con diferentes enfoques metodológicos,  manteniendo el rigor de la revisión a través de los siguientes pasos: identificación del tema y  criterios de inclusión y exclusión de estudios; definición de información a extraer de estudios  seleccionados; análisis e interpretación de resultados; y reflexiones relevantes para los estudios.  La recolección de información se realizó a través de bases de datos electrónicas: Biblioteca  Virtual en Salud (BVS), Biblioteca Electrónica Científica en Línea (SCIELO), colecciones de  Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS) y Sistema de Análisis  y Recuperación de Literatura Médica en Línea (MEDLINE), artículos. fueron seleccionados de  2019 a 2024, en portugués, relacionados con religión y creencias en el proceso de donación y  trasplante de órganos/tejidos, utilizando los operadores booleanos o, y y no en la búsqueda. Los  resultados reportan que los autores son conscientes de que las creencias religiosas de los más diversos segmentos están profundamente arraigadas en la cultura de la gran mayoría de los  brasileños, y entre los desafíos está el “miedo a la mutilación o deformidad del cuerpo”, que  interfiere con creencias o rituales funerarios, es necesario durante la entrevista aclarar que el  cuerpo del difunto será tratado con respeto. El líder religioso debe ser consciente del proceso de  muerte cerebral y de sus deberes como ciudadano, ejerciendo su ciudadanía y responsabilidad  social hacia la sociedad de forma altruista. La necesidad de donar órganos y tejidos es una  realidad, un discurso basado en el altruismo y la solidaridad en el ámbito religioso es fundamental  para concientizar a los creyentes y líderes religiosos sobre el proceso de donación, diagnósticos  sobre muerte cerebral y evidencia a través de interpretaciones de la Biblia. Sagrado que la carne  y la sangre no hereden el cielo, pero puede dar a otras personas la oportunidad de alcanzar el  pleno conocimiento de la Verdad. 

Palabras-clave: Educación; Religión; Donación; Órganos; Telas. 

INTRODUÇÃO 

Doar órgãos é uma ação incalculável na vida do receptor, proporcionando  melhor qualidade de vida e sobrevida, podendo, inclusive, ser a única solução  para certas enfermidades. Vale ressaltar que órgãos e tecidos como os rins,  coração, pulmão, pâncreas, fígado, intestino, córneas, válvulas, ossos,  músculos, tendões, pele, veias e artérias estão elegíveis para doação. No caso  de doador vivo, apenas um dos rins e parte do fígado, medula ou pulmão podem  ser doados (Roza & Schirmer, 2021). 

No Brasil, o Decreto 9.175/2017, Brasil, 2017 instituiu que os órgãos  podem ser doados ainda em vida ou após diagnóstico de morte encefálica,  conforme a Resolução 2.173/2017 do Conselho Federal de Medicina (Conselho  Federal de Medicina, 2017). O país possui o maior sistema público de  transplantes do mundo, sendo o Sistema Único de Saúde (SUS) o responsável  por cerca de 96% dos procedimentos efetuados no território nacional.  Apresentando uma população com mais de 200 milhões de habitantes e  possuindo um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos no  mundo, Paim et al., (2021), o Brasil assume o segundo lugar no ranking dos  transplantes, atrás somente dos Estados Unidos da América. 

O percentual de consentimento para a doação de órgãos e tecidos na  população brasileira corresponde a 50% dos entrevistados Versa, 2013. A partir  disto, percebemos a necessidade de investigação identificando os motivos que  levam pessoas e famílias a não concretizarem a doação, conhecer esses fatores  vai permitir o desenvolvimento de atividades que possam planejar e executar  estratégias que possam superar as causas e motivos da negativa familiar. 

Um dos motivos que leva a recusa na doação de órgãos, apontada por  Moraes, 2009, p. 133-148, são as crenças religiosas, falta de conhecimento  sobre o diagnóstico de morte encefálica, a dificuldade dos familiares em aceitar  a manipulação do corpo do parente para retirada de órgãos para transplante.  Outro desafio no processo de doação de órgãos e tecidos é a falta de  conhecimento dos profissionais da área de saúde em determinadas crenças  religiosas, isto limita o diálogo e as abordagens, contribuindo em resultados  negativos. 

Sendo um dos países em que a maioria de sua população acredita em  Deus, conforme o último censo brasileiro realizado em 2010, cerca de 92% da  população se define como adepta de alguma vertente religiosa, como se pode  observar a seguir: 

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – IBGE, 2020 https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/23/22107

Diante disto, é fundamental que os líderes religiosos possam se  conscientizar sobre a relevância e necessidade de promover reflexões e ensinos  sobre a doação de órgãos e tecidos, tendo em vista que muitas pessoas buscam  apoio emocional nas religiões. Nesta perspectiva, constituímos como objetivo  analisar se a religião interfere na decisão do doador e/ou da família para o  consentimento de doação de órgãos e transplante. 

História dos transplantes no contexto religioso 

Os transplantes tiveram seu mais expressivo marco inicial com o milagre  atribuído aos santos, São Cosme e São Damião, na realização de um transplante  de perna. Esses santos tornaram-se padroeiros da medicina, sendo também  reconhecidos como padroeiros do transplante. Em homenagem a São Cosme e São Damião, desde 1999 é comemorado no dia 27 de setembro o dia do  transplante de órgãos e tecidos no Brasil (Garcia; Pestana; Ianhez, 2006).  Entretanto, a história dos transplantes está intrinsecamente ligada a  relatos religiosos, o primeiro deles, encontra-se registrado no livro de Gênesis  2:21-22, onde Adão aparece como o primeiro doador, ao ter sua costela retirada  para a criação de Eva (Howard, R. J. et al., 2012), evidências de autotransplante  ou alotransplante de tecidos não viscerais, como ossos, dentes e pele foram  descritos desde a Idade do bronze, na Pré-História.  

O interesse na remoção de tecido embora não estejam ligadas a era dos  transplantes, existem descrições mitológicos e religiosos e até registros  arqueológicos que mencionam o conceito de transplante de tecidos há vários  milênios (Linden, P. K, 2009), a mitologia grega alude a deuses, heróis e bestas  como a Esfinge, o Minotauro, Centauros, Sátiros e Quimera (parte cabra, parte  leão e parte serpente), que se tornou um símbolo dos transplantes (Howard et  al., 2012, p. 6).  

Na cultura oriental, existem descrições detalhadas do uso de enxertos de  pele a partir da própria nádega ou do queixo de um paciente, para reconstrução  de narizes mutilados como punição por crimes cometidos em texto hindu (2500- 3000 a.C.) Bergan, A., 1997. O médico chinês Pien Chiao trocou supostamente  os corações de dois indivíduos: um homem forte de espírito, mas com vontade  fraca, e um homem de espírito fraco, mas de forte vontade, a fim de alcançar um  equilíbrio em cada homem (Souza, A. S., 2020). 

O antigo Egito, Grécia, Roma e outros países da Europa Ocidental há  relatos de transplantes de dentes (Souza, A. S., 2020). O Novo Testamento da  Bíblia descreve o momento em que seria um autotransplante, quando Jesus de  Nazaré restaurou a orelha de um soldado, que havia sido cortada pela espada  de Simão Pedro. Entre os séculos XVII e XVIII houve experimentos e  observações significativas que contribuíram no aperfeiçoamento de alguns  transplantes, o cirurgião alemão Karl Thiersch conseguiu provar que o  transplante de animal para humanos não era possível sem rejeição, devido à  incompatibilidade entre os tecidos. 

Em 1900 Paul Ehrlich descobriu eritrócitos em transfusões de sangue que  poderiam potencialmente criar anticorpos hemolíticos, Karl Landsteiner  acrescentou explicações à descoberta de Ehrlich quando descreveu esses anticorpos e descobriu que eles se ligariam aos eritrócitos dos receptores de  enxerto (Shelley, J. L. 2010. p. 3). O primeiro transplante com resultado favorável  aconteceu na cidade de Boston, Estados Unidos, em 1954, pelo Dr. Jonh P.  Merril um transplante renal entre gêmeos univitelinos, com sobrevida do receptor  por 20 anos (Emed, 2003; Varga, 1998), a terapia intensiva e a definição da  morte do sistema nervoso em 1959, por um grupo de especialistas de Lyon  houve a definição de morte encefálica, suplantando os critérios clássicos da  parada cardiorrespiratória (Fernandez, 2000). 

Em 1960 Peter Medawar, brasileiro de Petrópolis, Rio de Janeiro, tornou se um dos principais personagens da história do transplante, descobrindo  “tolerância adquirida” e por estabelecer as bases de tolerância imunológica de  rejeição da pele (Garcia; Pestana; Ianhez, 2006; Vasconcelos et al., 2016), esses  fatos, somados à descoberta do imunossupressor ciclosporina, nos anos 1980,  foram fundamentais para que uma série de transplantes, especialmente de rim,  coração e fígado, conseguissem ultrapassar a fase experimental (Fernandez,  2000). 

O século XX também foi marcado pelo surgimento da Bioética, que têm  como proposito manter o diálogo entre as diferentes tradições culturais,  filosóficas e religiosas, sendo a base do respeito à diversidade humana e  religiosa (ou espiritual), desta forma esclarecer e conscientizar o quanto o  transplante de órgãos e tecidos pode transformar a vida de quem está nas filas  a espera de uma doação. Desta forma, podemos observar que o transplante de  órgãos, na antiguidade, era rodeado de misticismo e religiosidade, fazendo parte  de relatos bíblicos, com o passar do tempo passou a fazer parte da medicina  moderna.  

METODOLOGIA 

Trata-se de uma Revisão Integrativa Bibliográfica com caráter qualitativo  e descritivo, permitindo a combinação de estudos com diferentes abordagens  metodológicas, mantendo o rigor da revisão por meio das seguintes etapas:  identificação do tema e critérios para inclusão e exclusão de estudos; definição  das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; análise e interpretação dos resultados; e reflexões pertinentes aos estudos (Mendes KDS,  Silveira R.C.D., Galvão CM, 2008). 

A coleta de informações foi realizada através das bases eletrônicas:  Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), acervos da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde  (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE),  foram selecionados artigos de 2019 a 2024, em português, relacionados a  religião e crenças no processo de doação e transplantes órgãos/tecidos.  

Utilizaram-se os operadores booleanos or, and e not para melhor  resultado da busca. Dos 98 artigos selecionados, foram revisados 7 artigos com  diferentes delineamentos que focavam explicitamente o conteúdo pertinente ao  objetivo inicialmente proposto. A partir disso, foram excluídos artigos que não  continham título e conteúdo pertinente ao objetivo inicialmente proposto,  conforme a tabela a seguir: 

Título / Referência Tipo de Estudo / Objetivo Resultados
Título: Representações sociais  sobre doação de órgãos e tecidos  para transplantes entre  adolescentes escolares 
Referência: FERREIRA, D. R.;  HIGARASHI, I. H. Representações  sociais sobre doação de órgãos e  tecidos para transplantes entre  adolescentes escolares. Saúde e  Sociedade, v. 30, 2021.
Tipo de Estudo: Pesquisa de  caráter qualitativo, ancorada  na Teoria das  Representações Sociais  
Objetivo: Analisar as  possíveis representações  sociais que adolescentes do  Ensino Médio de uma escola  da rede pública têm sobre o  processo de doação de  órgãos e tecidos para  transplantes
As representações sociais são  elementos-chave na construção  histórica e social de conceitos  arquitetados na população, bem  como aqueles propagados pela  sociedade, ciência ou mídia,  compreender as concepções e  visões que uma população tem  sobre determinado assunto pode  refletir na sua conduta, em seus  valores e nas tomadas de  decisão.
Título: Experiência de famílias não  doadoras frente à morte encefálica 
Referência: ROSSATO, G. C. et al.  A experiência de famílias não  doadoras frente à morte encefálica  [Non-donor families’ experiences in  cases of brain death][La experiencia  de familias no donantes ante la  muerte encefálica]. Revista  Enfermagem UERJ, v. 28, p. 51140,  2020.
Tipo de Estudo: Estudo  qualitativo fundamentado no  Interacionismo Simbólico.  
Objetivo: Compreender a  experiência vivenciada de  famílias de adultos frente à  morte encefálica e a opção  pela não doação de órgãos.
Pode-se identificar que crenças  de que o corpo ficaria mutilado e  irreconhecível, caso  concordassem com a doação,  contribuíram para a decisão.
Título: Morte na doação de órgãos  e tecidos: discursos dos  profissionais de saúde 
Referência: SOARES, E. R. et al.  Morte na doação de órgãos e  tecidos:: discursos dos profissionais  de saúde. Revista Uruguaya de  Enfermería, v. 18, n. 1, p.  e2023v18n1a11-e2023v18n1a11,  2023.
Tipo de Estudo: Estudo  qualitativo operacionalizado  com a noção teórica de  discurso de Michel Foucault 
Objetivo: Identificar os  discursos que atravessam os  profissionais de saúde ao  significar a morte no contexto  de doação de órgãos e  tecidos para transplante.
Considerando que o discurso da  religião na temática da doação  de órgãos e tecidos faz  referência à ideia de  imortalidade, por entender que a  alma continua viva mesmo após  a morte, o discurso da tecnologia  também é sustentado pela ideia  de imortalidade que circunda as  diferentes crenças e religiões.
Título: Determinação de morte  encefálica, captação e doação de  órgãos e tecidos em um hospital de  ensino 
Referência: SOUZA, D. H. et al.  Determinação de morte encefálica,  captação e doação de órgãos e  tecidos em um hospital de  ensino. CuidArte, Enferm, p. 53-60,  2021.
Método: Estudo descritivo,  quantitativo, retrospectivo. 
Objetivos: Identificar perfil,  causas de morte encefálica,  motivos para a não doação  de órgãos de pacientes em  um hospital de ensino do  noroeste paulista e  correlacionar as variáveis no  período anterior e posterior à  Resolução n° 2173 de  novembro de 2017.
A religião pode interferir no  processo de doação de órgãos,  quando crenças, convicções,  superstições ou informações  distorcidas a respeito dele  transformam-se em dificuldades. Portanto, se faz necessário  informar e conscientizar os  dirigentes espirituais que a  religião precisa caminhar e  evoluir junto à ciência.
Título: Questões éticas na doação  de órgãos em casos de morte  cerebral: uma análise  multidisciplinar 
Referência: SOUZA F. D. H.;  SANTANA, A. M. R.; BOTELHO,  RAYANE, M. Questões éticas na  doação de órgãos em casos de  morte cerebral: uma análise  multidisciplinar. Revista JRG de  Estudos Acadêmicos, v. 6, n. 13, p.  1856-1867, 2023.
Tipo de Estudo: Revisão  sistemática 
Objetivo: Conhecer as  implicações éticas envolvidas  no processo de doação de  órgãos e tecidos.
Destaca a necessidade de uma  definição clara e consensual de  morte cerebral para orientar  decisões médicas e éticas na  doação de órgãos. A  controvérsia em torno dessa  definição ressalta a importância  de considerar tanto os aspectos  científicos quanto os morais ao  tomar decisões sobre a doação.  Além disso, as crenças religiosas  e culturais desempenham um  papel significativo nas decisões  de doação de órgãos,  enfatizando a necessidade de  uma abordagem sensível e  respeitosa ao lidar com questões  éticas em diferentes contextos.
Título: Os principais fatores de  recusa de doação de órgãos e  tecidos no âmbito familiar: Revisão  de literatura 
Referência: ARAUJO, H. V. et al.  OS PRINCIPAIS FATORES DE  RECUSA DE DOAÇÃO DE  ÓRGÃOS E TECIDOS NO ÂMBITO  FAMILIAR: REVISÃO DE  LITERATURA. Brazilian Journal of  Implantology and Health Sciences,  v. 5, n. 5, p. 1223-1243, 2023.
Tipo de Estudo: Revisão  bibliográfica de caráter  qualitativo e descritivo 
Objetivo: Evidenciar as  principais causas que  influenciam na recusa de  doação de órgãos e tecidos  pelos familiares de elegíveis  doadores.
Enfatiza que nenhuma religião é  contrária a doação de órgãos e  tecidos, o que se percebeu foi a  interpretação individual quanto  às escritas bíblicas.

RESULTADOS E DISCURSÃO 

O Brasil é um país de uma grande variedade de cultos e doutrinas  religiosas, no entanto, a pesquisa revelou que existem poucos estudos  relacionados às crenças religiosas, doação e transplantes de órgãos. Estudos  apontam à religião como fator decisivo na decisão de dor ou não Bispo et al.,  2016; Santos et al., 2016; Costa et al., 2018; Martino et al., 2021, outros relata  que a religião não impactou na doação de órgãos e tecidos, Costa et al., 2018;  Martino et al., 2021, e outro afirma que nenhuma religião é contrária a doação  de órgãos e tecidos Araujo, H. V. et al., 2023. 

Segundo Ferreira, D. R.; Higarashi, I. H., 2021, as representações sociais  são elementos-chave na construção histórica e social de conceitos arquitetados  na população, bem como aqueles propagados pela sociedade, ciência ou mídia,  compreender as concepções e visões que uma população tem sobre determinado assunto pode refletir na sua conduta, em seus valores e nas  tomadas de decisão. Apesar da evolução do número de transplantes no país, há  um grande desconhecimento da população sobre o processo que envolve a  doação de órgãos e tecidos, isso contribui no aumento da recusa familiar e  aumento das filas de espera.  

A tomada de decisão na doação de órgãos é influenciada pelas crenças  religiosas, isto pode contribuir na doação de órgãos e tecidos ou na negativa  familiar, outro fator é o desconhecimento dos profissionais de saúde a respeito  de algumas crenças religiosas, isto acaba prejudicando o diálogo na hora da  entrevista com a família. A decisão em doar está ligada à crença pessoal,  identificar estas crenças que influenciam na tomada de decisão é uma ótima  estratégia (Moraes, 2009, p. 133-134). 

Outro desafio no processo de doação é a mutilação do corpo, é comum  em muitas crenças relacionar agressões ao corpo com traumas para a alma e  problemas para o destino espiritual adequado. Algumas pesquisas apontam que  algumas crenças acreditam que o corpo fica mutilado e irreconhecível Rossato,  G. C. et al. 2020, outras adotam o conceito de sepultamento do corpo inteiro,  sem mutilação, mantém boa relação entre os mortos e remover órgãos,  compromete rituais de sepultamento (West R, Burr G., 2002).  

Algumas religiões interpretam como falta respeito ao falecido, a  manipulação do corpo para retirada de órgãos, e por não enxergarem o corpo  como algo material, e acabam resistindo à doação, acreditando que a aceitação  iria causar mais dor e sofrimento aos familiares, Marinho CLA, Conceição; AICC,  Silva, RS; 2008. Determinadas formas de religião defendem que o medo da  mutilação corporal, somado à ideia de que a doação pode antecipar a morte do  potencial doador, é um importante fator de influência sobre as famílias (Cajado  MCV, Franco ALS., 2016; Santos JIR, Santos ADB, Lira GG, Moura LTR., 2019). 

Soares, E. R. et al., 2023, considera que o discurso da religião na temática  da doação de órgãos e tecidos faz referência à ideia de imortalidade, por  entender que a alma continua viva mesmo após a morte, o discurso da tecnologia  também é sustentado pela ideia de imortalidade que circunda as diferentes  crenças e religiões, mesmo parecendo, em um primeiro momento antagônicos,  os discursos religiosos e tecnológicos possuem a imortalidade como elemento  central que os aproximam. Pensar de forma altruísta é uma das melhores estratégias que pode ser veiculada no seio religioso para desenvolver a empatia  e a solidariedade. Rosa et al. (2018) afirmam que a informação, o altruísmo, a  empatia, a cidadania, a solidariedade e a responsabilidade social são fatores  determinantes na captação de doadores. 

A religião pode interferir no processo de doação de órgãos, quando  crenças, convicções, superstições ou informações distorcidas a respeito dele  transformam-se em dificuldades Souza, D. H., et al. 2021. Portanto, se faz  necessário informar e conscientizar os dirigentes espirituais sobre os benefícios  que a pessoa transplantada juntamente com a família pode obter mediante um  transplante. A falta de informação e comunicação no processo de doação (Silva,  E. P.; Fernandes, M. L. B., 2022; Silva, E. P.; Fernades, M. L. B., 2023). 

O transplante de órgãos é um dos maiores avanços da medicina nas  últimas décadas, há uma necessidade diante do crescimento religioso que os  líderes expressem suporte teológico sobre a doação de órgãos e tecidos que  possam ter fundamento na interpretação das escrituras sagradas. A religião é  estratégica no acompanhamento e aconselhamento para a tomada de decisão  no processo de doação de órgãos e tecidos, isso pode resultar na mudança de  paradigmas sociais, nas diminuições do número de recusas, no aumento do  número de doações. 

Souza, F. D. H.; Santana, A. M. R.; Botelho, R. M., 2023, destaca a  necessidade de uma definição clara e consensual de morte cerebral para orientar  decisões médicas e éticas na doação de órgãos. A controvérsia em torno dessa  definição ressalta a importância de considerar tanto os aspectos científicos  quanto os morais ao tomar decisões sobre a doação. Além disso, as crenças  religiosas e culturais desempenham um papel significativo nas decisões de  doação de órgãos e tecidos, enfatizando a necessidade de uma abordagem  sensível e respeitosa ao lidar com questões éticas em diferentes contextos. 

Segundo Souza, Diego Henrique de et al. 2021, a religião pode interferir  no processo de doação de órgãos, quando crenças, convicções, superstições ou  informações distorcidas a respeito dele transformam-se em dificuldades,  portanto, se faz necessário informar e conscientizar os dirigentes espirituais que  a religião precisa caminhar e evoluir junto à ciência. O líder religioso tem a função  de preservar e repassar os ensinamentos religiosos, ele é considerado o  guardião das doutrinas e responsável em transmitir a Palavra Sagrada que deve ser preservada e repetida, mas também ter consciência sobre quais são os seus  deveres como cidadãos, isto significa exercer a sua função diante da sociedade e não ser apenas coadjuvante. Um dos exercícios da cidadania diz respeito à  atuação do cidadão em colaborar com o próximo, por meio de um ato de doação,  seja ela de sangue, órgãos, alimentos ou bens materiais, é uma forma de  contribuir para o bem-estar de toda a sociedade. 

Diante dos últimos avanços na medicina, há uma necessidade de que os  líderes religiosos se conscientizem para conscientizar sobre a relevância da  doação de órgãos e tecidos e os tipos de diagnósticos sobre a morte encefálica.  Há um desconhecimento na sociedade sobre o processo de doação (Galvão et  al., 2007; Neto et al., 2012; Reis et al., 2013; Santos et al., 2016; Costa et al.,  2018; Martino et al., 2021) e algumas pesquisas indicam dúvida sobre quais  órgãos podem ser doados em vida (Santos et al., 2016; Musa et al., 2020;  Sampaio et al., 2020) ou após a morte (Musa et al., 2020; Sampaio et al., 2020).  No entanto, a igreja com suas atividades religiosas e de ensino pode contribuir  de maneira significativa na tomada de decisão, diminuindo os índices de negativa  familiar, um dos principais obstáculos no processo de doação.  

Araujo, H. V. et al., 2023, enfatiza publicamente que nenhuma religião é  contrária a doação de órgãos e tecidos, o que se percebe é a interpretação  individual quanto aos escritos bíblicos. O posicionamento religioso sobre  determinados assuntos está associado a muitas decisões dos seus fiéis, há  também a impressão de que determinadas religiões proíbem a doação de órgãos  e tecidos Bispo et al., 2016; Santos et al., 2016. Embora não haja um  posicionamento absoluto contrária à doação, a crença da morte relacionada à  parada do coração e os rituais ligados ao corpo do falecido limitam a  possibilidade de adesão à doação e, posteriormente, ao transplante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Com base no levantamento apresentado, é evidente a escassez de estudos sobre a  interferência religiosa na decisão do doador e/ou da família para o consentimento de  doação de órgãos e transplante. Mesmo após tantas décadas, o processo de doação  continua sendo confrontado por alguns grupos sociais. A doação é um ato altruísta, de  uma grande dimensão moral e espiritual daqueles que doam, tornando possível a vida  daqueles que os recebem. É fundamental conhecer os fatores que influenciam as famílias  no processo de doação de órgãos, dentre os quais as crenças religiosas, estão  profundamente enraizadas na maioria dos brasileiros.  

Os autores têm conhecimento que as crenças religiosas dos mais diversos  segmentos estão profundamente enraizadas na maioria dos brasileiros, entre os desafios  está o medo de mutilação, deformidade do corpo, ou nos rituais funerários, é necessário durante a entrevista, que os familiares sejam esclarecidos, de que o corpo do falecido será  tratado com respeito, assegurando sua reconstituição de forma condigna para o  sepultamento, sendo garantido por lei. 

Mesmo sendo o guardião das doutrinas e responsável em transmitir a palavra  sagrada que deve ser preservada e repetida, o líder religioso também tem que estar consciente sobre quais são os seus deveres como cidadãos exercendo sua cidadania e  responsabilidade social diante da sociedade de forma altruísta.  

Ainda foi mencionado pelos autores a necessidade de conscientizar sobre o  processo de morte encefálica. É evidente, tratando-se de morte encefálica, que os  familiares não recebem informações suficientes por parte da equipe responsável  dificultando ainda mais a efetivação do processo. As famílias alegam que as crenças  religiosas e culturais desempenham um papel significativo nas decisões de doação de  órgãos e tecidos, isto necessita de investigação, devido ao seu impacto direto no processo  de doação-transplante. 

A necessidade de doação de órgãos e tecidos é uma realidade, é um fundamental  um discurso embasado no altruísmo e na solidariedade no meio religioso no intuito de  conscientizar fies e líderes religiosos acerca do processo de doação, dos diagnósticos  sobre morte encefálica e mostra através das interpretações da Bíblia Sagrada que a carne  e o sangue não herdaram o céu, mas pode dar oportunidade outra pessoa até chegar o  pleno conhecimento da Verdade. 

Referências 

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¹Graduado em Ciências Biológicas pela Faculdade Integrada de Vitória de Santo Antão  FAINTVISA. Graduando em Teologia pela Escola Teológica da Assembleia de Deus – ESTEADEB/Polo Carpina – PE. Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado Profissional  em Educação) da Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Mata Norte, Nazaré da Mata,  Pernambuco, Brasil. Email: eliabiomolecular@gmail.com, https://orcid.org/0000-0002-5912-6164;
²Graduando em Teologia pela Escola Teológica da Assembleia de Deus – ESTEADEB/Polo  Carpina – PE. https://orcid.org/0009-0008-2066-2227;
³Graduanda em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Centro  Acadêmico de Vitória de Santo Antão (CAV). https://orcid.org/0000-0001-9647-1883;
⁴Graduado em Administração Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestrado em  Administração pela Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Brasil. Professor da Escola  Teológica da Assembleia de Deus – ESTEADEB https://orcid.org/0000-0003-2132-2685