DISPLASIA COXOFEMORAL EM ANIMAIS DOMÉSTICOS: REVISÃO DE LITERATURA

HIP DYSPLASIA IN DOMESTIC ANIMALS: LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10914606


Leonardo José de Souza Scardovelli1; Maria Raquel Silva2; Silvio Pires Gomes3; Lígia Rayssa Figuerêdo de Paiva Rodrigues4; Maria Bernardete Oliveira Trajano da Silva5; Ianca Soanne Souza Amorim6; Thaissa Emanuele Silva da Silva7; Polyanne Ferreira E Fonseca8; Vitoria de Lima Medeiros9; Tatiana Ganasevici10; Rafael Freire Pires Cardoso Ávila11; Orientador: Marcelo Domingues de Faria12


RESUMO

A displasia coxofemoral (DCF) se trata de uma anormalidade relacionada ao desenvolvimento e crescimento da articulação coxofemoral, fatores genéticos, nutricionais, biomecânicos e ambientais que estão intimamente ligados e têm influência direta na manifestação da doença. A doença é caracterizada por um arrasamento no acetábulo que causa uma instabilidade articular e a não coaptação da articulação leva o animal a apresentar um quadro de claudicação, dor constante e redução na prática de atividades físicas. Entre os tratamentos estão descritas uma variedade de técnicas e métodos cirúrgicos e clínicos além da possibilidade de utilização de terapias alternativas. Levando em conta todas as possibilidades de tratamento que estão disponíveis, objetivou- se realizar um levantamento bibliográfico sobre a técnica de denervação acetabular como uma alternativa para o controle da dor em cães que apresentam quadro de displasia. A denervação acetabular se trata de um procedimento cirúrgico utilizado em cães acometidos por (DCF) que visa romper o estímulo de sensibilidade dolorosa na articulação do quadril. O propósito deste estudo é elucidar a enfermidade DCF que afeta animais de companhia, desde sua origem até o manejo terapêutico por meio de revisão da literatura.

Palavras-Chave: animais, articulação, ortopedia, quadril.

ABSTRACT

Hip dysplasia (HFD) is an abnormality related to the development and growth of the hip joint. Genetic, nutritional, biomechanical and environmental factors are closely linked and have a direct influence on the manifestation of the disease. The disease is characterized by a tear in the acetabulum that causes joint instability and the failure of the joint to coapt leads to lameness, constant pain and a reduction in physical activity. Treatments include a variety of surgical and clinical techniques and methods, as well as the possibility of using alternative therapies. Taking into account all the treatment possibilities that are available, the aim was to carry out a bibliographical survey on the technique of acetabular denervation as an alternative for pain control in dogs with dysplasia. Acetabular denervation is a surgical procedure used in dogs affected by (DCF) which aims to break the stimulus of painful sensitivity in the hip joint. The purpose of this study is to elucidate the DCF disease that affects companion animals, from its origins to therapeutic management through a review of the literature.

Keywords: animals, joint, dysplasia, orthopedics, hip.

1. INTRODUÇÃO

A articulação coxofemoral é responsável por promover a união entre a ossatura do quadril e o fêmur, logo é uma estrutura que está predisposta a sofrer uma série de afecções que vão desde traumas a deformidades provocadas pelo crescimento rápido ou excessivo. (OLIVEIRA, 2018).

Displasia coxofemoral (DCF) é o nome dado a uma falha no desenvolvimento da articulação do quadril que acomete cães e gatos e leva esses animais a apresentarem quadros de luxação ou subluxação da cabeça do fêmur quando ainda jovens, animais idosos geralmente apresentam doença articular degenerativa (DAD) que vai de quadros leves a graves. A luxação da articulação coxofemoral é descrita como a separação completa da cabeça do fêmur e acetábulo, e a subluxação se trata de uma separação incompleta ou parcial (SCHULZ, 2014).

A primeira descrição a respeito da doença ocorreu em meados de 1930 na América do Norte. É uma patologia observada principalmente em cães de raças médias a grandes e afeta os animais em sua maioria de forma bilateral, resultando em dores articulares e claudicação .

A DCF é classificada como uma doença determinada pelas características genéticas dos animais e as doenças articulares degenerativas são representadas como manifestações secundárias que ocorrem em consequência da movimentação mecânica contínua em animais afetados pela doença (TODHUNTER e LUST, 2019).

Os animais acometidos geralmente expressam dificuldade excessiva para se levantar após descanso; outros animais se tornam intolerantes ao exercício físico e apresentam uma claudicação que pode se manifestar tanto de forma intermitente quanto de forma contínua. (SCHULZ, 2014). Em cães mais jovens a doença é ainda mais dolorosa pois pode haver o esgotamento da cartilagem articular que faz com que as fibras da dor estejam expostas ao osso endocondral, nos cães de maior idade a dor só se inicia com o desenvolvimento da osteoartrite. (SCHULZ, 2014).

Os tratamentos para esta patologia vão depender de fatores como idade, grau de desconforto, condição financeira do cliente e dos achados nos exames realizados. Atualmente são disponibilizados tratamentos conservativos, clínicos e cirúrgicos para cães, jovens e idosos.

O tratamento conservativo precoce pode fazer com que animais jovens apresentem uma evolução significativa em 75% dos casos, apresentando bons resultados clínicos a longo prazo (SCHULZ, 2014).

Entre os tratamentos conservativos estão a fisioterapia e a acupuntura. A acupuntura tem se tornado um tratamento cada vez mais conhecido e que apresenta benefícios em doenças musculoesqueléticas como osteoartrite, displasia coxofemoral e hérnias, esta terapia pode ser aplicada sozinha ou em conjunção com outras técnicas o que é mais recomendado para promover um efeito de sinergismo positivo para o tratamento (MCCANLEY e GLINSKY, 2004).

As terapias cirúrgicas só são indicadas para pacientes idosos em que não existe mais a possibilidade de se trabalhar com um método conservativo ou em cães jovens o qual o proprietário necessita de um desempenho atlético ou em que o dono deseje retardar a progressão da DAD e contar com a boa funcionalidade do membro a longo prazo (SCHULZ, 2014).

2. METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado por uma revisão bibliográfica sobre o a displasia coxofemoral (DCF), no qual se trata de uma anormalidade relacionada ao desenvolvimento e crescimento da articulação coxofemoral, fatores genéticos, nutricionais, biomecânicos e ambientais que estão intimamente ligados e têm influência direta na manifestação da doença.

Este estudo utilizou um procedimento de coleta de dados de pesquisa bibliográfica, entendido como revisão de literatura das principais teorias que norteiam o trabalho científico. Esta revisão é um chamado levantamento bibliográfico ou revisão bibliográfica, e pode ser realizada em livros, periódicos, artigos de jornais, sites de pesquisa, e outras fontes sobre o tema. Como explica Boccato (2006, p. 266), sobre a pesquisa bibliográfica:

(…) Visa a resolução de problemas (hipóteses) através de referenciais teóricos publicados, análise e discussão de diversas contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa subsidiará o conhecimento sobre o que está sendo estudado, como e sob que foco e/ou perspectiva os temas apresentados na literatura científica são abordados. Portanto, é importante que os pesquisadores planejem sistematicamente o processo de pesquisa, desde a definição do tema, até a construção lógica da febre aftosa, até a determinação da forma de transmissão (Boccato, 2006, p. 266).

As referências utilizadas no texto serão provenientes de livros, apostilas,  e periódicos de plataformas de pesquisa de alto impacto. Portanto, os artigos foram pesquisados ​​principalmente na base de dados SciELO, portal de periódicos da CAPES, BVS (bvsalud.org), LILACS, PubVet entre outros, pesquisados entre os anos de 2022 a 2023, abrangendo o tema deste estudo. A pesquisa se caracterizou como um estudo descritivo, do tipo revisão integrativa de literatura, com destaque para artigos com publicação sem limite temporal, abrangendo os Descritores: “Articulação”,  “Displasia”, “Ortopedia” e  “Quadril”. O critério de inclusão e exclusão partiram da seleção de 134 artigos, nas línguas portuguesa e inglesa, após tradução e resumos, havendo criteriosa análise quanto ao tema e sua relevância, restando assim 26 fontes para a composição do trabalho.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. Displasia Coxofemural

Animais com displasia coxofemoral apresentam uma anormalidade do desenvolvimento que resulta em quadros de subluxação e luxação que geralmente ocorre em animais mais jovens.

Já quadros de DAD, são observados em animais mais idosos. As causas relacionadas ao desenvolvimento desta doença são diversas como fatores hereditários, ambientais e nutricionais (SCHULZ, 2014). Animais que têm uma dieta desbalanceada, com ingestão excessiva de alimentos, podem ter um desenvolvimento acelerado dos tecidos moles que dão suporte à articulação, e isso irá contribuir para o desenvolvimento da DCF. A hereditariedade é o fator primário para o desenvolvimento deste distúrbio e tem se apresentado principalmente em cães de raças médias a grandes (SCHULZ, 2014).

3.1.1. Etiologia

A displasia coxofemoral é dividida em duas categorias etiológicas amplas, a primeira é a flacidez do quadril que pode resultar em uma instabilidade da articulação, e a segunda se trata de uma progressão anômala da ossificação endocondral que ocorre em ambas as articulações. Estas duas vastas categorias podem criar um ambiente mecânico anormal na região do quadril que vai favorecer o desenvolvimento de uma osteoartrite. A cápsula articular do quadril e a conformação condro-óssea são as estruturas principais responsáveis pela estabilidade da articulação quando ela está em sobrecarga. Quando uma cápsula frouxa sofre uma carga ocorre uma deformação maior do que em uma cápsula estável e ela é deslocada para a direita, nesta situação a cabeça do fêmur pode sofrer um deslocamento lateral em relação ao acetábulo, e ocorre então o comprometimento da integridade estrutural da cartilagem articular (TODHUNTER e LUST, 2002).

O ganho de peso excessivo e o crescimento disparado ocasionado pela falta de controle nutricional causam um aumento no desenvolvimento dos tecidos que fornecem suporte para articulação, este fator contribui diretamente para o desenvolvimento da doença. Alguns aspectos são responsáveis por causar inflamação sinovial, como traumas leves e contínuos, estes também têm uma relação íntima com a DCF pois a sinovite faz com que o fluido articular aumenta. Este aumento provoca uma instabilidade na articulação devido à ação de sucção que ela produz através de uma camada fina de líquido sinovial que fica entre as superfícies articulares. Isso faz com que a lassidão da articulação do quadril aumente e consequentemente gere um quadro de subluxação. Instalada a subluxação, ocorre uma distensão da cápsula articular fibrosa resultando em dor e claudicação (SCHULZ, 2014).

Existem animais com predisposição poligênica para a luxação congênita femoral, e estes têm múltiplos fatores que modificam e influenciam na afecção. Os fatores do ambiente são superpostos de acordo com a susceptibilidade genética de cada indivíduo. Os genes não acometem o esqueleto de forma primária, mas sim a cartilagem, sustentando os tecidos conjuntivos e os músculos da região coxofemoral. Uma explicação bioquímica para a displasia coxofemoral é que ela tem uma disparidade entre a massa muscular primária e um crescimento esquelético extremamente rápido e desproporcional (PIERMATTEI et al., 2009).

Quando o animal nasce as articulações coxofemoral são normais. Porém a falha da musculatura em se desenvolver e atingir a maturidade de forma simultânea com o Animais com uma massa muscular pélvica maior possuem uma articulação coxofemoral mais normal em comparação com cães de massa muscular pélvica menor. A gravidade da doença e sua incidência pode ser reduzida relativamente quando ocorre restrição sobre a taxa de crescimento de filhotes. A frequência e gravidade das osteoartrites em cães com displasia podem ser amenizadas limitando a ingestão alimentar e diminuindo o peso corpóreo de animais adultos, visto que o sobrepeso são um dos fatores agravantes e responsáveis por desencadear a doença. Cuidados com a reprodução podem reduzir a ocorrência de displasia, porém não eliminar. A seleção reprodutiva se dá entre cães que apresentem as articulações coxofemorais radiograficamente normais. Somente 7% de filhotes nascem normais quando ambos os pais são displásicos (PIERMATTEI et al., 2009).

3.1.2. Epidemiologia

A DCF é uma doença que, embora possa afetar cães de todas as raças, tem uma predisposição a acometer cães de raças grandes. A incidência conforme as raças foi estimada pela Orthopedic Foundation for animals (OFA), e revela índices que variam de 10% até 48%. Tanto cães de raças puras quanto mestiças podem apresentar a característica, mas é esperado que os sinais clínicos sejam evidentes em cães maiores. Essa estimativa apresentada pela OFA é baixa pois estima-se que os cães normais são mais submetidos a certificação do que cães displásicos, e isso tem influência direta na base de dados. As raças as quais as características são apresentadas com baixa incidência como o Galgo e o Borzoi são dolicocefálicos e possuem uma grande proporção de massa muscular e gordura corporal (HOLSWORTH e DECAMP, 2002).

A doença raramente se manifesta em cães que possuem um peso abaixo de 11 a 12 kg na vida adulta. Apesar de ter sido diagnosticada em cães de raças Toy e em gatos, as articulações destes animais não produzem tipicamente as alterações ósseas que são comumente observadas em animais mais pesados. A luxação coxofemoral, contudo, é vista após traumatismo insignificante (PIERMATTEI et al., 2009).

Além da incidência maior nos cães de raças grandes, a idade é um fator que interfere no histórico e nos sinais clínicos apresentados, em geral duas populações de animais são afetadas pela doença, os pacientes jovens que apresentem uma lassidão no quadril e pacientes mais velhos com quadros de osteoartrite. Felinos raramente são afetados pela DCF (SCHULZ, 2014).

Os cães acometidos frequentemente desenvolvem anormalidades e apresentam falha na marcha durante o crescimento, entre 3 e 8 meses de idade especificamente. A partir desta faixa etária já é possível, através de exames radiográficos ou palpação, detectar subluxação na articulação do quadril (TODHUNTER e LUST, 2002).

3.1.3. Patogenia

A displasia coxofemoral ocorre devido a uma falha no desenvolvimento da musculatura que circunda a articulação do quadril, além da má formação da cabeça do fêmur e do acetábulo, todas essas alterações contribuem para que os animais apresentem quadros de subluxação ainda em idade precoce (BETTINI et al. 2007). Conforme o desenvolvimento dos animais e o suporte anormal de peso vai ocorrer um excesso de desgaste na cartilagem articular e danos ósseos, além de microfraturas dolorosas e esclerose (TODHUNTER e LUST, 2002).

A cartilagem é a estrutura que mais sofre modificação, isso devido a carga exercida sobre ela, no início das modificações estruturais a cartilagem se encontra áspera e com a presença de fissuras, no decorrer da progressão da doença a coloração que antes era fisiologicamente transparente esbranquiçada começa a ganhar um aspecto amarelo acinzentado e algumas vezes avermelhado devido a lesões intensas onde ocorre a exposição do osso endocondral (SANTANA et al. 2010). Posteriormente osteófitos se formam e promovem um espessamento da capsula articular e hipertrofia das vilosidades da membrana sinovial, progressivamente os condrócitos de superfície morrem e ocorre alterações na matriz de proteoglicanos e na cadeia do colágeno (SANTANA et al. 2010).

 As alterações estruturais do ambiente articular desencadeiam um processo de degeneração articular que vai progredindo de forma irreversível provocando a desintegração do tecido osteoarticular, essa lesão se torna de caráter crônico com processo inflamatório persistente, as citocinas e fatores de crescimento são liberados na tentativa de suprir as perdas das estruturas articulares, porém a taxa de deterioração é muito maior que a taxa de regeneração (HUMMEL e VICENTE, 2018). Todo este cenário faz com que a superfície articular se deforme, ocorre a deposição de osteófitos e isto implica na capacidade de absorção das forças que os movimentos impõem sobre a articulação.

O animal tem diminuição na amplitude dos movimentos de extensão e flexão e tem a perda funcional do membro, não conseguindo se sustentar e com dores ao se movimentar, é possível observar a formação de fibrose periarticular, rigidez e edema. (HUMMEL e VICENTE, 2018).

3.1.4. Sinais Clínicos

Os achados clínicos variam de acordo com a idade de cada animal. Muito frequentemente não há sinais perceptíveis pelos proprietários e podemos dividir os animais clinicamente identificáveis em dois grupos: cães jovens entre 4 e 12 meses de vida e os cães acima de 15 meses de vida os quais já apresentam uma doença de caráter crônico. (PIERMATTEI et al., 2009).

Os sinais em pacientes jovens incluem a dificuldade em se levantar após descanso, claudicação intermitente ou contínua e intolerância ao exercício. De acordo com o desenvolvimento eles podem apresentar sinais adicionais que são atribuídos à dor na articulação do quadril. A DAD é frequentemente observada nos animais mais velhos e pode cursar com dificuldade ao se levantar, intolerância ao exercício, claudicação, atrofia da musculatura pélvica e marcha cambaleante (SCHULZ, 2014).

A manifestação em animais jovens geralmente demonstra um início súbito unilateral e é caracterizada por repentina diminuição da prática de atividade física junto da dor que se manifesta de forma acentuada nos membros pélvicos. Frequentemente os proprietários relatam que observam uma corrida curta, passos rápidos e um modo de andar diferente como o de um “coelhinho”. O início destes sinais geralmente se dá após a ocorrência de microfraturas nas bordas do acetábulo (PIERMATTEI et al., 2009).

Os cães mais velhos possuem um quadro clínico diferente, visto que são animais que já sofrem de um quadro mais crônico e desenvolveram DAD. A claudicação geralmente se apresenta de modo bilateral, mas existe a possibilidade de casos unilaterais. Estes sinais podem se tornar aparentes por longos períodos ou surgirem após um esforço exacerbado que resulta na laceração ou outra lesão de tecidos moles da articulação anormal. A grande maioria dos sinais são resultados de processos e mudanças degenerativas dentro da articulação. Os cães acometidos geralmente preferem sentar-se a permanecer em estação e, quando vão se levantar, fazem isso lentamente apresentando extrema dificuldade (PIERMATTEI et al., 2009).

3.1.5. Diagnóstico

O diagnóstico da DCF deve ser baseado de acordo com o histórico do animal, os sinais clínicos e radiográficos (SCHULZ, 2014). Conseguir diagnosticar a displasia coxofemoral precocemente é economicamente útil para os criadores e para os proprietários apegados aos animais podendo evitar consideravelmente a angústia de ter que descobrir tardiamente que seu animal tem a enfermidade (PIERMATTEI et al., 2009).

É importante além da avaliação radiográfica realizar uma boa anamnese e exame físico, estes exames vão ajudar a observar: o índice de distração que é caracterizado pelo afastamento da articulação coxofemoral, a claudicação, o sinal de Ortolani positivo (este pode estar ausente em casos mais crônicos devido a fibrose); dificuldade do animal ao se levantar, dor, crepitação, relutância a prática de exercícios, crepitação ao manipular a articulação, hipertrofia da musculatura dos membros torácicos e atrofia dos membros pélvicos (TUDURY, 2004).

Uma variedade de problemas neurológicos e ortopédicos se confundem por causar sinais clínicos semelhantes. Em cães jovens, a claudicação que é provocada por panosteíte, separação fisária, osteocondrose, osteodistrofia hipertrófica e lesão parcial ou completa do ligamento cruzado cranial (LCC) precisa ser diferenciada da displasia coxofemoral. Em relação aos pacientes idosos, os episódios ortopédicos como (ruptura do LCC, poliartrite e neoplasia óssea) devem ser eliminados antes de determinarmos os sinais da displasia coxofemoral (SCHULZ, 2014).

 A síndrome da cauda equina é uma patologia provocada pela compressão de um conjunto de raízes nervosas que ficam localizadas ao final da medula espinhal, os sinais clínicos são semelhantes aos da DCF e possui a mesma predisposição racial, os animais acometidos pela síndrome da cauda equina podem apresentar claudicação unilateral ou bilateral dos membros pélvicos, dores constantes ao movimento e dor à extensão das articulações coxofemorais (SCHULZ, 2014). Considerando que os sinais clínicos de uma doença na cauda equina podem imitar os sinais clínicos de animais com displasia coxofemoral é importante se atentar para não confundir os dois transtornos, visto que os cães podem estar predispostos a ambas as condições como é o caso da raça Pastor Alemão (SCHULZ, 2014).

3.1.6. Exames Ortopédicos

Os exames ortopédicos têm se mostrado muito relevantes para diagnosticar a doença e hoje fazem parte do protocolo para avaliar se existe ou não a presença de frouxidão articular. Atualmente existem 3 métodos mais conhecidos e que são realizados com mais frequência, entre eles estão: Teste de Ortolani (ORTOLANI, 1976). Teste de Bardens (BARDENS; HARDWICK 1968) e o teste de Barlown. (BARLOW, 1975).

O sinal de Ortolani é um achado da palpação que é utilizado originalmente na medicina humana mas é também um indicador de displasia coxofemoral na medicina veterinária especialmente em cães jovens. Para a realização deste teste, o paciente deve estar anestesiado e posicionado em decúbito dorsal ou lateral. O examinador deve segurar o joelho com uma mão e empurrar o fêmur no sentido proximal, com a mão contraída na pelve para causar a sua estabilização. Ao realizar a abdução do fêmur, o sinal de Ortolani será positivo caso for reproduzido um “click”, som este que acontece quando a cabeça femoral que esta subluxada entra em contato com o acetabúlo. O sinal de Barlow que também foi originado na medicina humana é bem semelhante ao de Ortolani, porém neste teste o som ocorre no processo de adução do fêmur e a cabeça femoral é luxada (NOGUEIRA e TURUDY, 2005) esqueleto resulta em uma instabilidade articular. Este desenvolvimento anormal é induzido quando a cabeça do fêmur e o acetábulo se separam e começam a gerar uma série de alterações que culminam na identificação da doença. Todas as alterações ósseas da DCF são resultado da falha do tecido mole em manter a congruência entre a superfície articular do fêmur com o acetábulo. (PIERMATTEI et al., 2009).

Animais com uma massa muscular pélvica maior possuem uma articulação coxofemoral mais normal em comparação com cães de massa muscular pélvica menor. A gravidade da doença e sua incidência pode ser reduzida relativamente quando ocorre restrição sobre a taxa de crescimento de filhotes. A frequência e gravidade das osteoartrites em cães com displasia podem ser amenizadas limitando a ingestão alimentar e diminuindo o peso corpóreo de animais adultos, visto que o sobrepeso são um dos fatores agravantes e responsáveis por desencadear a doença. Cuidados com a reprodução podem reduzir a ocorrência de displasia, porém não eliminar. A seleção reprodutiva se dá entre cães que apresentem as articulações coxofemorais radiograficamente normais. Somente 7% de filhotes nascem normais quando ambos os pais são displásicos (PIERMATTEI et al., 2009).

A palpação realizada pelo método de Bardens tem se mostrado estatisticamente importante para identificar a frouxidão em animais de 6 a 8 semanas de vida, desta forma é possível ter uma previsão de displasia coxofemoral em cães sob raças de risco. Bardens também relata em seu estudo uma precisão de 83% no prognóstico de displasia coxofemoral em filhotes (BARDENS e HARDWICK 1968). Esta é uma técnica mais indicada e melhor realizada em animais de oito a nove semanas de vida e requer uma sedação profunda ou anestesia geral leve. A técnica é realizada com o animal posicionado lateralmente, o polegar de uma das mãos se apoia na tuberosidade isquiática e o dedo médio na espinha ilíaca dorsal. O dedo indicador da mesma mão é colocado sobre o trocânter maior a medida que outra mão eleva o fêmur lateralmente, erguendo a cabeça femoral para fora do acetábulo. O quanto se ergue é possível estimar pela observação do dedo indicador no acetábulo. Esta técnica é subjetiva e pode ser realizada diversas vezes, um simples aparelho de alavanca tem sido descrito para tornar a medida mais objetiva (PIERMATTEI et al., 2009).

Existe correlação entre o grau de frouxidão e a presença de displasia coxofemoral aos doze meses de idade. A palpação de frouxidão em animais mais idosos geralmente é insatisfatória, devido a fibrose na cápsula articular e pouca profundidade do acetábulo. Neste caso o exame geral ortopédico seguido do exame radiográfico é mais indicado (PIERMATTEI et al., 2009).

O diagnóstico definitivo para DCF deve se basear em radiografias. Em cães jovens, no entanto, com o início da claudicação, as radiografias podem não mostrar alterações consideráveis. A palpação nestes casos é geralmente útil (PIERMATTEI et al., 2009).

3.1.7. Exames radiográficos

As necessidades baseadas em previsões mais precoces e precisas de diagnóstico continua estimulando o desenvolvimento de outros métodos para o diagnóstico da DCF.

O ângulo de Norberg é uma característica da radiografia ventrodorsal, a qual é a padrão na utilização como medida da frouxidão da articulação coxofemoral. Este ângulo é mensurado e caracteriza o relacionamento do centro da cabeça do fêmur em relação à face craniolateral da borda acetabular dorsal. A angulação geral de Norberg de 105° ou mais é caracterizado normal para todas as raças; no entanto, um estudo indicou ângulos de Norberg específico da raça e determinou que: Angulo de 99,9° para Labrador retriever, 101,9° para Rottweiler, 92,6° para Golden retriever e 100,3° para Pastor Alemão são limites normais para o ângulo de Norberg, específicos da raça (PIERMATTEI et al., 2009).

Cada método tem como objetivo quantificar uma característica radiográfica específica para identificar uma subluxação ou possível frouxidão articular que consequentemente evolui para uma doença articular degenerativa. Entre as técnicas radiográficas para avaliação estão o Ângulo de Norberg, e a Radiografia de Tensão e distração (SCHULZ, 2014).

A incidência para radiografia padrão para o diagnóstico da doença é a ventrodorsal da pelve com os membros traseiros estendidos simetricamente e rotacionados medialmente, para centralizar as patelas sobre os sulcos trocleares. Para realização desta técnica é necessário que o cão esteja completamente sedado. A modalidade de radiografia de tração é utilizada para detectar a suscetibilidade das raças à displasia coxofemoral aos 4 meses de idade. Para realizar uma radiografia de tração é exigido que o cão esteja em profunda sedação ou anestesia leve, dessa forma teremos a diminuição da tensão muscular. As incidências radiográficas vão ser realizadas tanto com os quadris posicionados em uma postura neutra, quanto desviados. A partir destas radiografias é possível fazer o cálculo de distração e este é utilizado na previsão da probabilidade de desenvolvimento de uma DAD secundária a lassidão do quadril. (SCHULZ, 2014).

Algumas técnicas foram desenvolvidas para acrescentar tensão nas articulações coxofemorais durante o processo de avaliação radiográfica, desta forma foram bem caracterizadas para melhorar a sensibilidade e especificidade da detecção da frouxidão articular em filhotes jovens de 4 meses de vida. O chamado índice de distração é uma medida radiográfica de frouxidão da articulação coxofemoral. Para a mensuração deste índice são avaliadas diferenças específicas entre raças, no entanto, um índice de distração geral menos que 0,3 nos mostra a separação entre cães normais e animais que possuem uma conformação suscetível ao desenvolvimento de DAD a partir da displasia coxofemoral. Alguns autores relatam que essa mensuração do grau de distração é um prognóstico da doença e se mostrou mais confiável que o ângulo de Norberg, e o sinal de Ortolani ou a medida de conformação coxofemoral (PIERMATTEI et al., 2009).

Outros métodos radiográficos diferenciam a frouxidão passiva e subluxação passiva da articulação coxofemoral. Radiograficamente descrevemos a subluxação passiva com as articulações coxofemorais na posição de sustentação de peso, sem tensão lateral aplicada, da mesma forma que é descrito para o índice de distração. Quando temos uma correlação forte entre o grau de subluxação dorsolateral e o índice de distração, é sugerido que exista uma diferença prática mínima entre os dois métodos (PIERMATTEI et al., 2009).

3.1.8. Tratamentos

O tratamento a ser estabelecido vai depender de vários fatores, entre eles estão principalmente a idade do paciente e o grau do desconforto, também devem ser avaliados os achados físicos e radiográficos seguidos da expectativa e da condição financeira do proprietário. Atualmente existem opções conservadoras e cirúrgicas que estão disponíveis para o tratamento dos animais tanto jovens quanto maduros com dor no quadril secundária à displasia coxofemoral (SCHULZ, 2014).

Apesar de ser notável a melhoria dos pacientes após uma intervenção cirúrgica precoce, aproximadamente 75% dos pacientes jovens que são tratados de forma conservadora tem a sua condição clínica mantida em níveis aceitáveis com a maturidade. O restante dos pacientes necessita de outras formas de tratamentos clínicos ou cirúrgicos ao longo da vida. Porém o tratamento cirúrgico só é indicado para pacientes idosos quando os métodos conservadores não é mais eficaz, ou para pacientes jovens em que o proprietário deseja que o animal tenha um desempenho atlético ou o dono deseja reduzir a progressão de uma doença articular degenerativa e aumentar as chances do animal ter uma boa funcionalidade do membro a longo prazo (SCHULZ, 2014).

3.1.8.1. Tratamento Conservador

Muitos cães com displasia coxofemoral não apresentam sinais de dor e alguns deles têm apenas sinais leves e intermitentes (PIERMATTEI et al., 2009). Um estudo demonstrou que de 68 cães que tiveram a displasia diagnosticada em idade prematura, 76% apresentaram anormalidades mínimas na marcha em média 4 anos e meio mais tarde. Isso nos mostra que um grande número desses animais pode ser tratado por métodos conservativos, os métodos incluem a diminuição na prática de exercícios abaixo do nível limite que as articulações coxofemorais podem tolerar sem sinais clínicos de dor e fadiga. Isso significa que talvez seja necessário “aposentar” o cão de atividades atléticas, ou moderar a quantidade de exercício exigida em algumas situações como frisbee e corridas com o proprietário. Atitudes como estas causam frequentemente um alivio dos sinais, é importante também estudar uma dieta para a redução do peso para animais obesos (PIERMATTEI et al., 2009).

Para se ter sucesso em um tratamento conservador prolongado para a dor associado a uma doença articular degenerativa crônica é necessário fazer o controle de peso, exercícios e administração de fármacos anti-inflamatórios (HULSE, JOHNSON, 2002). A pesagem do animal deve ser feita semanalmente junto do controle de ingestão calórica da dieta. Para se ter a manutenção do peso apropriado é necessário a prática de exercício, as atividades de grande intensidade só devem ser permitidas em curtas durações e após um período de aquecimento do animal (HULSE e JOHNSON, 2002). O uso de analgésicos e outros agentes anti-inflamatórios é indicado para muitos animais (PIERMATTEI et al., 2009). Os anti-inflamatórios só devem ser administrados se necessários e a administração deles não substitui o controle de peso nem o programa moderado de exercícios. Se o animal apresentar uma dor associada à displasia crônica que o impeça de praticar exercício, deve-se trabalhar a dieta para reduzir a ingestão calórica de forma que evite o ganho de peso (HULSE e JOHNSON, 2002).

Agentes da osteoartrite modificadores de doença, também chamados de “condroprotetores” são ativamente usados para o tratamento sintomático em seres humanos e dentro da medicina veterinária, estes fármacos são comercializados como nutracêuticos orais. (PIERMATTEI et al., 2009). A combinação mais utilizada é a de glicosamina e sulfato de condroitina. A glicosamina atua oferecendo estímulo e matéria-prima para que ocorra a síntese de glicosaminoglicanos e também atua na diminuição da estromelisina e do ácido ribonucleico (RNA) nos condrócitos.O sulfato de condroitina tem ação de estimulação na síntese de proteoglicanos e de glicosaminoglicanos, atua também inibindo de forma competitiva as enzimas degradantes na cartilagem e sinóvia. Foi comprovado que estes suplementos tem um efeito anti-inflamatório significativo em um modelo experimental de inflamação articular (PIERMATTEI et al., 2009).

Trabalhos têm sugerido que o uso de glicosaminoglicanos têm efeito anti- inflamatório benéfico. Os corticosteroides podem ser utilizados, porém com muita cautela pois causam imunossupressão, supressão da adrenal e isso pode acentuar o dano da cartilagem (HULSE; JOHNSON, 2002).

Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) promovem a remissão dos sinais clínicos relacionados à inflamação de forma rápida e eficaz, possui efeitos de analgesia e ameniza a dor provocada pela osteoartrite (OA) (MORISHIN FILHO e RAHAL, 2008). Alguns estudos demonstraram que quando utilizado os AINEs em doses efetivas em cães idosos, são capazes de controlar a dor e melhorar a mobilidade, ainda cães que recebem suplementação com base em ácidos graxos e ómega-3 podem ter suas doses de AINEs reduzidas sem afetar a sua qualidade de vida de maneira negativa (MORISHIN FILHO e RAHAL, 2008). Estudos realizados no Reino Unido concluíram que os efeitos colaterais mais encontrados durante a administração dos AINEs são emese e em menor frequência o desenvolvimento de insuficiência renal e hepática, por isso cada caso deve ser avaliado a fim de determinar a aplicação da medicação de forma cautelosa em relação às dosagens de administração (BELSHAW et al., 2016).

O colágeno do tipo 2 não desnaturado (UC-II), tem como principal constituinte em sua fórmula os aminoácidos glicina e prolina que auxiliam na regeneração e na estabilidade da cartilagem. A utilização de UC-II como suplemento em animais com doença articular demonstrou uma redução na dor e na rigidez do membro quando exposto a manipulação. Em estudos comparados com placebo o UC- II se demonstrou seguro e bem tolerado em cães artríticos (COMBLAIN et al., 2016).

Outro tratamento recomendado é o uso da acupuntura, embora se possa utilizá-la sozinha é mais aconselhável que se use em conjunto com outras terapêuticas para que se possa exercer um efeito de sinergismo. A ação é eficaz no alívio da dor, em doenças como a osteoartrose, estas técnicas auxiliam na melhora da mobilidade e marcha e no fortalecimento da musculatura que envolve as articulações afetadas (MCCANLEY e GLINSKY, 2004).

As técnicas manuais como a de fisioterapia podem ser aplicadas como técnicas auxiliares em cães que apresentem patologias musculoesqueléticas, é uma terapia que visa a manutenção fisiológica auxiliando na prevenção, e em pós operatório de doenças ortopédicas, com o intuito de acelerar a recuperação funcional de um membro, diminuir a chances de desuso e promover uma melhor qualidade de vida ao paciente (LAVINE et al., 2008).

3.1.8.2. Tratamento Cirúrgico

O médico veterinário se depara com um verdadeiro dilema quando tenta decidir sobre o tipo de tratamento cirúrgico para um cão displásico, principalmente quando alguns sinais de displasia se manifestam em idade prematura. Entre as técnicas cirúrgicas disponíveis estão: osteotomia tripla, osteotomia intertrocantérica, ostectomia de cabeça e colo femorais, alongamento do colo femoral, miectomia pectínea, sinfisiodese púbica juvenil, denervação e substituição total da articulação coxofemoral (SCHULZ, 2014).

A osteotomia tripla é indicada para animais entre quatro a oito meses de idade, a tentativa é de tomar vantagem da capacidade de remodelar os ossos imaturos antes que a cartilagem seja fortemente afetada (BRINKER et al., 1999). Este tipo de procedimento não apresenta um resultado satisfatório caso a cartilagem da cabeça femoral e a borda do acetábulo estiverem destruídas (BRINKER et al., 1999).

A osteotomia intertrocantérica tem como objetivo melhorar a movimentação biomecânica da articulação coxofemoral e promover a redução da dor (PIERMATTEI et al.,  2009). É uma técnica bastante efetiva quando realizada antes do desenvolvimento da DAD, em maior parte em cães com idade entre 4 a 10 meses, a seleção dos pacientes se dá através de avaliação cuidadosa através de radiografias e palpação, assim como deve ser na osteotomia tripla. É contra indicada em casos de DAD, indicada para casos menos graves (PIERMATTEI et al., 2009).

A ostectomia da cabeça e colo femoral é um procedimento indicado para todas as idades, e apresenta sucesso em animais com peso inferior a 18 kg. O objetivo do procedimento é remover a cabeça e colo femoral eliminado os pontos de contato articular, ele vai permitir que uma articulação de tecido fibroso substitua o lugar da articulação esférica de encaixe. O animal deve ser submetido a movimentação dos membros operados três a sete dias após a cirurgia, o membro volta a funcionalidade normal com em média três meses de pós operatório (OLMSTEAD, 1998). O alongamento do colo femoral é indicado como tratamento para animais displásicos com a cobertura acetabular adequada, porém com as articulações coxofemorais instáveis ocasionadas por uma força insuficiente da musculatura para impedir a subluxação (BRINKER et al., 1999).

A miectomia pectínea é caracterizada por uma série de procedimentos no músculo pectíneo e foi proposta para tratamento de displasia coxofemoral e também na sua prevenção. Essas cirurgias incluem miectomia, miotomia, tenectomia e tenotomia (PIERMATTEI et al., 2009). O objetivo é aliviar a tensão produzida pelo músculo que é transmitida para a articulação, foi comprovada que esta força exercida pelo músculo na cabeça femoral comprime a borda acetabular e favorece o desenvolvimento.

3.2 DENERVAÇÃO ACETABULAR

A denervação da cápsula articular coxofemoral visa ser uma técnica menos invasiva e que reduz significativamente a dor do paciente (FERRIGNO et al, 2004). A técnica tem como objetivo principal causar a interrupção nas fibras nervosas que são responsáveis pela sensibilidade dolorosa da articulação coxofemoral. Esta técnica pode ser realizada de duas maneiras, a percutânea (fechada) ou a de maneira convencional que se trata de uma técnica (aberta). A técnica descrita será a convencional (OLIVEIRA, 2018).

Kinzel e Küpper (1997) fizeram um relato sobre a denervação da cápsula articular coxofemoral com intuito analgésico, realizando a secção seletiva de fibras sensitivas da cápsula articular. Este tratamento baseia-se em técnicas já descritas na medicina humana há muitos anos e que obtêm sucesso terapêutico, principalmente em doenças articulares crônicas das mãos (FOUCHER et al. 1998). Para efeito na articulação do quadril, realiza-se a remoção semicircular do periósteo, na margem cranial do acetábulo.

3.2.1. Indicações

A denervação acetabular de forma seletiva é uma alternativa eficaz e indicada para o controle da dor ocasionada pela DCF, e que melhora de forma significativa a qualidade de vida dos animais (MINTO et al., 2012). É uma técnica simples, uma vez que não exige materiais específicos e sofisticados. Além disso, o tempo cirúrgico é relativamente curto, o que torna a denervação uma técnica segura para todos os tipos de pacientes, o procedimento também pode ser associado a tratamentos cirúrgicos convencionais da displasia coxofemoral, o que pode tornar a recuperação do paciente ainda mais eficaz (OLIVEIRA, 2018). A técnica de denervação acetabular foi descrita por Kinzel como uma técnica exequível e aplicável em qualquer realidade, sendo de baixa morbidade e pouco invasiva, não foram descritas maiores complicações na realização do procedimento sendo que o animal tem rápido retorno as suas atividades, além disso a técnica de denervação acetabular, não inviabiliza a aplicação de nenhuma outra técnica em casos do resultado esperado não ter sido alcançado (KINZEL et al., 2002).

3.2.2. Técnica Cirúrgica

É utilizado o acesso craniodorsal ao acetábulo. Faz-se uma incisão curvilínea, iniciando crânio dorsalmente ao trocanter maior, com este ao centro, e segue-se para distal na face craniolateral à diáfise femoral do terço proximal do fêmur. Incidam-se na mesma linha o tecido adiposo e a fáscia lata na borda cranial do bíceps femoral, afastando-o para caudal. Incisa-se e afasta-se em direção ventro cranial do músculo tensor da fascia lata do glúteo superficial. Elevam-se e retraem-se os músculos glúteos médio e profundo no sentido caudodorsal. Procure preservar a veia e artéria circunflexa lateral femoral. Com uma cureta, proceda à remoção do periósteo de um segmento dorsal e cranial próximo ao acetábulo. A curetagem deve marcar bem o osso cortical (OLIVEIRA, 2018).

Os cuidados pós-operatórios se concentram na limpeza da ferida cirúrgica, a redução da dor ao toque a movimentação, reduziu atrofia muscular aos 60 dias pós- operatórios, e melhorou a qualidade de vida dos pacientes tratados, sob a ótica dos proprietários e veterinários aos 360 dias de pós-operatório (FERRIGNO et al, 2007).

3.2.3. Prognóstico

Um estudo realizado por Ferrigno et al. (2007) evidenciou que a técnica de denervação reduziu a claudicação e dor à movimentação e toque à partir de dois dias de pós-operatório, reduziu atrofia muscular aos 60 dias de pós-operatório e melhorou a qualidade de vida dos pacientes tratados, sob a ótica dos proprietários e veterinários aos 360 dias de pós-operatório, obtendo-se 95% de sucesso na remissão da dor e claudicação. 

A denervação acetabular seletiva é alternativa terapêutica eficaz no controle da dor ocasionada pela displasia coxofemoral canina, melhorando a qualidade de vida dos animais, além de ser procedimento cirúrgico relativamente simples e rápido, que apresenta pouca ou nenhuma complicação trans e pós-operatória. Em um estudo realizado foi possível verificar que 93,4% dos cães sujeitos à denervação acetabular apresentam redução da dor, melhora na locomoção e maior qualidade de vida, provando que esta técnica é eficiente no tratamento sintomático da doença em cães (MINTO et al., 2012).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A displasia coxofemoral é uma doença que tem etiopatogenias variadas, a prevenção pode ocorrer de diferentes maneiras desde que os proprietários tenham acesso às orientações corretas desde cedo. Os tratamentos conservativos tem como seu objetivo aliviar a dor e retardar a doença, porém a sua eleição depende das condições do paciente como idade, tamanho e estado físico em que se encontra, por se tratar de técnicas paliativas não impedem que os animais progridem para uma doença articular degenerativa.

A técnica cirúrgica de denervação acetabular tem se mostrado satisfatória e apresentado sucesso em mais de 90% dos casos, entre as vantagens estão a simplicidade da técnica e a pouca invasão, além disso tem se mostrado uma técnica segura em todos os tipos de pacientes. Considerando os estudos realizados é possível observar que os cães submetidos à técnica de denervação acetabular apresentam redução da dor, melhora na locomoção e uma maior qualidade de vida, podendo assim atestar a eficácia do tratamento em cães que apresentam displasia coxofemoral.

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