DIGITALIZAÇÃO DO COMÉRCIO EXTERIOR: APLICAÇÕES DE BLOCKCHAIN E IOT NO BRASIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505232344


Danillo da Silva dos Santos¹
Orientador: Julio Cesar Molon Bevilaqua²


RESUMO

Este artigo analisa a adoção das tecnologias de blockchain e Internet of Things no comércio exterior brasileiro, identificando avanços, desafios e oportunidades. Através de pesquisa documental e análise de dados de artigos e de fontes como a CNI , o estudo demonstra a atual adesão do uso de blockchain por empresas brasileiras; a aplicação em âmbitos como o agronegócio e na operação de portos; e o seus desafios na plena implementação frente a desafios como infraestrutura e lacunas regulatórias. Conclui-se que a transformação digital é estratégica para a competividade internacional do Brasil, exigindo políticas públicas integradas que superem três obstáculos principais: fragmentação tecnológica, custos de implementação para PMEs e a necessidade de atualização do marco legal. O estudo oferece um diagnóstico atualizado e recomendações práticas para governos e empresas.

PALAVRAS-CHAVE: Comércio exterior; Blockchain; IoT; Transformação digital; Políticas públicas.

ABSTRACT

This article examines the adoption of blockchain and Internet of Things technologies in Brazilian foreign trade, mapping current advances, challenges, and opportunities. Through documentary research and analysis of institutional reports, including CNI and academic articles, the study demonstrates the current adoption rate of blockchain by Brazilian companies; its practical applications in agribusiness and port operations; and persistent implementation barriers related to infrastructure and regulatory gaps. The findings reveal that digital transformation is strategic for Brazil’s international competitiveness, requiring comprehensive public policies to address three critical obstacles: technological fragmentation, high implementation costs for SMEs, and outdated legal frameworks. The study provides both an updated diagnostic of the current landscape and practical recommendations for policymakers and industry stakeholders.

KEYWORDS: Foreign Trade; Blockchain; IoT; Digital Transformation; Public Policy.

1 INTRODUÇÃO

A globalização e os avanços tecnológicos têm promovido transformações claras no comércio exterior, exigindo que nações e empresas estejam sempre atualizadas aos novos padrões de eficiência operacional, transparência e segurança de dados. Nesse contexto, novas tecnologias se tornam os elementos centrais para a competitividade internacional, com destaque para tecnologias como o blockchain e a internet das coisas (IOT). Ambas são reconhecidas pelo seu potencial de otimização em processos logísticos, na redução de custos e aumento da confiabilidade nas transações comerciais.

No contexto brasileiro, onde existe uma predominância do comércio exterior na economia, a adoção dessas tecnologias pode proporcionar oportunidades de melhorias na maioria de seus processos, como a excessiva burocracia, a falta de rastreabilidade e entraves logísticos. Para isso, é necessário compreender como essas tecnologias podem ser implementadas às operações de exportação e importação, e entender seus obstáculos para sua aplicação.

Este artigo pretende analisar o impacto das tecnologias de blockchain e IoT no comércio exterior brasileiro. A questão que orienta essa pesquisa é: quais são os principais avanços e desafios enfrentados pelo Brasil na adoção de tecnologias digitais no comércio exterior? O estudo busca compreender de que forma a digitalização tem contribuído para a redução de burocracias, custos e prazos, bem como os obstáculos presentes na implementação dessas ferramentas. A relevância desse tema se justifica pela crescente demanda por modernização nos fluxos de comércio exterior e pela importância estratégica da digitalização para a competitividade internacional das empresas brasileiras.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O comércio exterior é uma atividade econômica essencial para o desenvolvimento de países por meio da troca de bens e serviços entre nações. No contexto da globalização, a competitividade no comércio internacional não se limita apenas à qualidade e preço de produtos, mas também à eficiência das operações logísticas, da transparência de transações e da capacidade de atender às demandas do mercado global. Neste cenário, as inovações digitais têm se mostrado um fator determinante para a modernização de operações de comércio exterior, provendo maior agilidade, segurança e rastreabilidade.

A digitalização do comércio exterior se alinha ao conceito de Indústria 4.0, que integra tecnologias como IoT, inteligência artificial, big data e blockchain. Essas tecnologias permitem a automação de processos, a coleta e análise de dados em tempo real e a criação de redes entre os agentes da cadeia de suprimentos.

2.1 Blockchain: Conceito, funcionamentos e aplicação no Comércio Exterior

O blockchain é uma tecnologia de registro distribuído que permite a criação de um banco de dados descentralizado, seguro e imutável. Segundo o SEBRAE (2020), blockchain é uma tecnologia que permite o registro descentralizado, seguro e imutável de transações, eliminando a necessidade de intermediários. Dessa forma, eliminando a necessidade de intermediários, garantido transparência e segurança em transações.

No comércio exterior, o blockchain tem sido aplicado em diversas áreas, como na rastreabilidade da origem ao destino, monitorando o trajeto de produtos como commodities agrícolas e minerais. Segundo Kshetri (2018), o blockchain pode garantir a autenticidade e a integridade das informações, reduzindo riscos de fraudes e aumentando a confiança entre os parceiros comerciais. Além disso, a tecnologia também é utilizada para a segurança de dados, realizando a produção de documentos sensíveis, como certificados de origem e licenças de exportação. Segundo Treleaven et al. (2017), destacam que o blockchain pode reduzir significativamente a incidência de falsificação e fraude documental.

Outro método de aplicação relevante seria o uso de smart contracts, que são contratos autônomos programados para a execução automática quando condições pré-estabelecidas são atendidas. De acordo com Wang et al. (2019), os smart contracts podem agilizar as transações internacionais, reduzindo custos e eliminando a necessidade de intermediários.

2.2 Internet das coisas (IoT): Conceito e papel na logística e cadeia de suprimentos

A IoT se refere à conexão entre dispositivos físicos por meio da internet, realizando a coleta e compartilhamento de dados em tempo real. De acordo com Atzori, Iera e Morabito (2010), a IoT é composta por três pilares fundamentais: sensores, conectividade e processamento de dados. No comércio exterior, estes dispositivos estão presentes em monitoramento em tempo real e na automação de processos.

O monitoramento de carga em tempo real é uma das funcionalidades mais relevantes do IoT. Por meio de sensores é possível realizar o acompanhamento de condições da carga, como temperatura, umidade e localização de cargas, como alimentos perecíveis e medicamentos. Segundo Xu, He e Li (2014), o monitoramento em tempo real aumenta a eficiência e reduz perdas durante o transporte, garantindo a qualidade dos produtos. A IoT também possibilita a automação de processos, como a gestão de armazéns e portos. De acordo com Lee e Lee (2015), a automação baseada em IoT pode reduzir custos operacionais e aumentar a precisão de gestão de mercadorias.

2.3 Comércio exterior 4.0: A transformação digital do setor

Derivado do conceito de Indústria 4.0, o Comércio Exterior 4.0 surge da aplicação de novas técnicas e tecnologias no contexto do mercado global. Segundo o SEBRAE (2021), o processo de digitalização e inovação das economias passou a exigir um nível mais amplo e profundo de integração de sistemas, revelando também uma considerável vantagem das cadeias de processos que utilizam a rede blockchain e tecnologias semelhantes.

A eficiência é alcançada pela automação de processo e redução de burocracia, que aceleram as transações comerciais. Enquanto a transparência e segurança são garantidas por tecnologias como o blockchain, que assegura a integridade e rastreabilidade de dados e informações. E por fim, a competitividade global é fortalecida com a adoção de soluções digitais, que posicionam empresas e países como atores estratégicos no mercado internacional. De acordo com Kshetri (2018), a integração de blockchain e IoT cria um ecossistema confiável e eficiente, capaz de enfrentar os desafios logísticos e regulatórios do comércio global.

2.4 Aplicações de blockchain no comércio exterior

Com a tecnologia de blockchain, é possível monitorar o estado de carga em todo o período de transporte. Por exemplo, no caso de transporte de carne bovina, o sistema registraria informações como o local de criação do gado, processo de abate e o transporte, garantindo qualidade e conformidade aos padrões internacionais. Sendo assim, transmitindo informações transparentes e dados pontuais às autoridades e envolvidos no processo de exportação e importação de produtos.

No comércio exterior, os smart contracts são utilizados na automatização de pagamentos, liberação de mercadorias e cumprimento de obrigações contratuais. Por exemplo, em uma operação de exportação, o pagamento pode ser liberado automaticamente assim que a mercadoria for entregue no porto de destino e confirmada por sensores IoT.

E o blockchain pode ser utilizado para a segurança documental. De forma que esta ferramenta garante a segurança da autenticidade de documentos como certificados de origem, licenças de exportação e faturas comerciais. A estrutura dos registros no blockchain torna praticamente impossível a falsificação ou alteração desses documentos. Tendo a possibilidade até da emissão de certificados de origem digitais, que podem ser verificados instantaneamente por autoridades aduaneiras.

2.5 Aplicações de IoT no comércio exterior

Como mencionado anteriormente, o IoT pode ser uma ferramenta de monitoramento do estado da carga transportada. É possível verificar diversas condições como a temperatura, umidade e localização de mercadorias, atualizadas em tempo real. Como, por exemplo o estado de mercadorias como o café, que depende de sua forma de transporte ou especificações de armazenamento ideal, deve ter o controle de umidade regulado para chegar ao destino em perfeita condição.

A IoT também é utilizada na automação de portos e armazéns, melhorando a gestão e eficiência logística. Por meio de etiquetas especiais, é possível fazer o rastreio e identificação de mercadorias em um recinto. Outro exemplo seria como o do Porto de Santos, em que o uso dessa tecnologia possibilita o monitoramento de contêineres e reduz o tempo de espera.

Os sensores IoT também são utilizados para análise de desempenho de equipamentos como guindastes e empilhadeiras, para prever falhas antes que ocorram. De acordo com Porter e Heppelmann (2014), a manutenção preditiva reduz custos com reparos e aumenta a confiabilidade das operações, evitando paradas não planejadas.

2.6 Estudos de Caso: Experiências nacionais e internacionais

A adoção das tecnologias de IoT e blockchain no comércio exterior gera resultados significativos em diversos países e setores, em quesitos de eficiência, redução de custos e satisfação de clientes. Um dos principais exemplos internacionais é o caso da Maersk, uma das maiores empresas de transporte marítimo do mundo, que em parceria com a IBM, desenvolveu a plataforma TradeLens. Essa plataforma permitiria o compartilhamento seguro e em tempo real de informações entre exportadores, importadores, portos e autoridades aduaneiras, porém pelo tamanho do investimento necessário e a falta de viabilidade do projeto, a plataforma foi encerrada em 2023.

Outra empresa relevante é o Walmart, uma das maiores redes varejistas do mundo, que por meio do uso de IoT faz o controle da sua cadeia de suprimentos de alimentos, que monitoram a temperatura e umidade no transporte de alimentos perecíveis.

Já no Brasil, o Porto de Santos tem investido em tecnologias como o IoT e semelhantes para modernização de sua operação. A aplicação principal está presente na movimentação de contêineres, controle de espaço utilizado e redução de tempos de espera. Quanto ao uso de blockchain, segundo relatório da SEBRAE (2021), a empresa Covantis, uma das líderes nacionais em exportação de commodities, ao aplicar a tecnologia em suas exportações, reduziu o tempo de espera de navios para 7 a 10 dias.

Outros exemplos são as empresas JBS e Ambev. A JBS é uma das maiores empresas de alimentos do mundo, que utiliza blockchain para rastreabilidade de carne bovina exportada. Controlando informações desde a origem da carne, a criação do gado, o abatimento e o transporte do produto. Já a Ambev utiliza sensores IoT para controle da qualidade no transporte de cervejas e refrigerantes, controlando a qualidade do produto que chega ao consumidor.

2.7 Desafios para a implementação no Brasil

Enquanto as tecnologias de IoT são consideravelmente aplicadas sem muito empecilho de órgãos reguladores, o blockchain continua em desenvolvimento como técnica e tecnologia a ser aplicada e regulamentada no Brasil. Um dos principais desafios é a infraestrutura tecnológica insuficiente. Para o uso do blockchain e IoT são necessários investimentos em conectividade de alta velocidade, a aquisição de hardware especializado para o IoT e servidores especiais para suporte de redes de blockchain. Segundo relatório da SEBRAE (2021), no caso de PMEs exportadoras, seriam exigidos métodos e investimentos caríssimos em sistemas informativos capazes de interagir com os sistemas e um ambiente com muitos atores.

Outro aspecto importante é a falta de capacitação profissional. Ainda há uma escassez de profissionais que estão habilitados a operar com tais tecnologias. A falta de treinamento e educação especializada dificulta a adoção e operação dessas ferramentas, especialmente para pequenas e médias empresas, que muitas vezes não possuem recursos para a capacitação de colaboradores.

O custo inicial para implementação também é um empecilho para empresas de pequeno e médio porte. Com recursos limitados nos processos de capacitação e integração, como também na compra de hardwares e softwares, impedem muitas empresas de iniciarem a adoção dessa tecnologia em seus processos. Dessa forma, ampliando a desigualdade entre grandes corporações e empresas menores.

E por último, há a falta de clareza do uso do blockchain na legislação brasileira. Há leis e instruções normativas que mencionam o uso regulamentado da ferramenta na economia e em alguns processos de comércio exterior, como a assinatura automática de documentos. Porém, a tecnologia é apenas brevemente mencionada em normativas de diferentes aspectos. Segundo o Tribunal de Contas da União, TCU (2020), o blockchain pode ser uma ferramenta muito útil no combate à desburocratização e à corrupção, sendo um instrumento poderoso no processo de transformação digital, porém ainda falta o amadurecimento regulatório no país para o uso da ferramenta.

2.8 Leis e posicionamento da Receita Federal Brasileira

O processo de modernização dos procedimentos aduaneiros no Brasil é fortemente impulsionado pela criação do Portal Único de Comércio Exterior (PUCOMEX). Essa iniciativa, coordenada pela Receita Federal Brasileira (RFB) em parceria com a Secretária de Comércio Exterior (SECEX), visa, a integração, simplificação e automatização de processos de importação e exportação, em conformidade ao Acordo de Facilitação de Comércio da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Um dos principais objetivos em meio a essa transformação digital é encontrar formas de adoção de tecnologias emergentes nos processos atuais. Então, o blockchain já foi discutido e entrou em fases de testes para sua integração à cadeia de informações dos processos do comércio exterior brasileiro.

Por exemplo, o projeto denominado bConnect é uma iniciativa da RFB em conjunto com as autoridades aduaneiras dos países do Mercosul. Nesse, foi possível realizar o intercâmbio de informações com redução em redundâncias, aumento da confiabilidade e mitigação de fraudes.

No contexto do PUCOMEX, o blockchain é utilizado especialmente para os módulos de Declaração Única de Importação (DUIMP) e Licenciamento de Importação. Sendo uma possibilidade futura, a inclusão de documentos digitalizados com validade jurídica, como certificados de origem, notas fiscais e faturas comerciais. Todo o processo seria realizado em redes de blockchain privadas ou consorciadas, trazendo eficiência e segurança jurídica.

Contudo, a implementação dessa tecnologia em larga escala ainda demanda adequações normativas e tecnológicas. Uma das maiores preocupações é em relação ao tratamento de dados pessoais, conforme a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), Lei nº 13.709/2018, e a padronização dos formatos de dados entre os entes públicos e privados. Sendo assim, a integração plena desse sistema demanda não apenas viabilidade técnica, mas também de governança interinstitucional e de acordos internacionais de cooperação digital entre os atores globais.

2.9 Perspectiva e Potenciais

A adesão às tecnologias que surgem a todo momento, como o blockchain e IoT, podem ser grandes mudanças aos processos atuais nas exportações e importações brasileiras. Como mencionado anteriormente, a gestão do processo do comércio internacional seria desburocratizada e modernizada. O primeiro resultado que pode se esperar dessa mudança seria o aumento da competitividade das exportações brasileiras, agregando valor por meio de tecnologia e informação precisa quanto às informações transmitidas. Desta forma, acumulando valor por meio de processos mais eficientes e transparentes.

Outra oportunidade significativa seria a atração de investimentos estrangeiros em setores de tecnologia. Ao adotar as novas tendências tecnológicas, o Brasil sinalizaria aos investidores internacionais o seu comprometimento com a modernização e inovação. Podendo se beneficiar de investimentos em infraestrutura e aumentar sua participação no comércio mundial.

Com o alto investimento em tecnologia, também é possível que o Brasil se torne um líder no comércio exterior digital na América Latina. Conforme a SEBRAE (2021), as oportunidades que o blockchain oferecem variam desde a integração e compartilhamento de dados de forma segura, a redução de burocracia, a imutabilidade, a inviolabilidade de dados, a transparência de dados, a capacidade de rastreio de etapas processuais, a eliminação da necessidade de intermediários e a redução de custos nas operações de exportação sejam no âmbito regulatório ou econômico.

A adoção dessas tecnologias pode também impulsionar a diversificação da pauta exportadora brasileira. Atualmente, o Brasil ainda é dependente da exportação de commodities. Porém, com a transparência do processo de produção e entrega de produtos, será possível a expansão de outros produtos, como alimentos processados e tecnologia.  Reduzindo a vulnerabilidade quanto à flutuação de preço e dependência da exportação de commodities.

E por último, seria possível contribuir com a sustentabilidade e responsabilidade ambiental. Há uma grande campanha quanto ao uso de recursos naturais por empresas ao redor do mundo. Por meio da eficácia de transmissão de informação, seria possível otimizar o consumo em recursos como água, energia e demais, aumentando a visibilidade de empresas brasileiras como parceiros comerciais responsáveis e confiáveis. Porém, deve ser levado em consideração o consumo de recursos naturais para o uso de novas tecnologias. Uma situação difícil de se encontrar um ponto de equilíbrio em meio aos atuais avanços tecnológicos e essa preocupação mundial.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este artigo utiliza uma abordagem qualitativa e exploratória, com base em pesquisa bibliográfica e documental. A escolha dessa metodologia se justifica pela necessidade de compreender, de forma aprofundada, os impactos da digitalização no comércio exterior brasileiro e na implementação de novas tecnologias no mesmo.

Para a elaboração deste artigo foram utilizados diversos artigos sobre as áreas de tecnologia e comércio exterior, alguns publicados em idiomas estrangeiros. Juntamente, foram analisadas informações quanto às instruções normativas do Brasil quanto aos temas de blockchain no âmbito do comércio exterior.

Outras fontes de informações utilizadas foram os relatórios de autoridades, legislação e órgãos, como artigos do SEBRAE em conjunto com entidades com a CNI, para os dados apresentados quanto ao contexto do Brasil no tema pesquisado.

Foram utilizadas pesquisas e informações de profissionais das áreas de tecnologia e logística operacional, para a explicação da aplicabilidade e cenário no período de 2018 a 2023 sobre as tecnologias emergentes no comércio exterior.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados desta pesquisa apresentam que a adoção de tecnologias inovadoras como o blockchain e IoT no comércio exterior brasileiro tem gerado impactos significativos, embora ainda em estágio de maturidade. No caso do blockchain, o seu uso e aplicação são predominantes em aspectos de rastreabilidade, segurança e automação de processos. O setor do agronegócio se destaca como pioneiro dessa adoção, como observado na exportação de carne bovina realizada pela empresa JBS. Essa iniciativa resultou em um aumento nas exportações do produto brasileiro a outras regiões do mundo, evidenciando como a competitividade deste mercado pode ser superada pelos padrões de qualidade e tecnologia.

Contudo, a implementação da tecnologia de blockchain possui obstáculos estruturais significativos. Desde a sua falta de padronização entre diferentes plataformas, como o custo de implementação da tecnologia por pequenas e médias empresas as quais são as principais exportadoras, e a legislação brasileira que estabelece as diretrizes e necessidades iniciais para a validação jurídica do uso dessa ferramenta.

Quanto ao IoT, o uso dessas tecnologias apresenta um futuro promissor, particularmente quanto ao monitoramento de carga e na gestão portuária. Há uma redução nos tempos de processos portuários em casos de portos que já fazem a aplicação da ferramenta. E a segurança de qualidade de produto tem sido melhorada para as empresas que usam o IoT para controle e condicionamento de carga. O IoT apresenta melhoras significativas na eficiência e na redução de custos operacionais de exportações.

Entretanto, a adoção do IoT não é tão simples devido aos desafios infraestruturais em rotas logísticas, as quais não possuem a cobertura adequada para suportar os dispositivos de IoT. Além da necessidade de um controle de segurança mais robusto e sempre atualizado a possíveis interferências. Sugerindo a necessidade de investimentos em infraestrutura digital e protocolos de segurança rigorosos.

O Brasil continua em um processo inicial de adoção dessas tecnologias e outras, em comparação a outros países como a China, que já possui uma exigência de rastreabilidade nas importações de alimentos, e os EUA onde os maiores portos já utilizam o IoT em suas operações. O Brasil carece de uma estratégia nacional integrada. Dessa forma, há um comprometimento na competitividade internacional do país caso não sejam implementadas políticas públicas mais assertivas.

Em síntese, os resultados indicam que o blockchain e IoT apresentam um potencial transformador para o comércio exterior brasileiro, como evidenciado nos casos de sucessos apresentados, onde se pode observar maiores resultados quanto à eficiência e transparência de informações. No entanto, para que esses benefícios sejam amplamente disseminados, torna-se imperativo superar os desafios de infraestrutura, regulação e capacitação tecnológica. O estudo sugere que a convergência entre políticas públicas, investimentos privados e cooperação internacional será fundamental para posicionar o Brasil como líder em comércio exterior digital na América Latina.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desta pesquisa confirmam que blockchain e IoT apresentam potencial significativo para modernizar o comércio exterior brasileiro, com casos concretos de sucesso no agronegócio e logística portuária. Porém, a implementação em larga escala ainda enfrenta obstáculos críticos: falta de padronização tecnológica, infraestrutura digital insuficiente e arcabouço regulatório incompleto.

Esta análise demonstra que os benefícios em eficiência e transparência já são mensuráveis, mas sua plena realização depende de ações coordenadas. O estudo sugere três eixos prioritários: desenvolvimento de políticas públicas integradas, investimentos em infraestrutura de conectividade e criação de programas de capacitação tecnológica.

Como contribuição acadêmica, a pesquisa oferece um diagnóstico atualizado do estágio de adoção dessas tecnologias no Brasil, servindo como base para futuras investigações sobre modelos de implementação para PMEs e análises de impacto regulatório. A transformação digital do comércio exterior mostra-se não apenas desejável, mas essencial para manter a competitividade internacional do país nos próximos anos.

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¹Faculdade de Tecnologia da Zona Leste. E-mail: danillo.santos3@fatec.sp.gov.br;
²Faculdade de Tecnologia da Zona Leste. Orientador. E-mail: julio.bevilaqua@fatec.sp.gov.br.