REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12213149
Ariadna Medeiros De Souza Freitas
RESUMO– O presente artigo é resultado de um estudo teórico, onde buscou-se analisar as dificuldades de aprendizagem na leitura e escrita encontradas nas salas de aulas das séries iniciais. O objetivo do estudo foi perceber como é desenvolvido o trabalho diante das dificuldades encontradas no processo de aprendizagem da leitura e escrita. Propõe também melhor conhecimento do trabalho do professor mediante as dificuldades dos alunos, a importância do planejamento do trabalho pedagógico, o acompanhamento familiar e a mudança na prática docente para que juntos possam amenizar os sérios prejuízos tomados na aquisição do processo da leitura e escrita nas últimas décadas, resgatando assim uma aprendizagem mais significativa, bem como o sucesso da aprendizagem dos alunos.
PALAVRAS–CHAVE: Aprendizagem. Dificuldades, Leitura. Escrita.
1 INTRODUÇÃO
A aprendizagem vem sendo estudada cientificamente desde o século passado, e junto com os avanços obtidos com essas pesquisas, diversos conceitos foram apresentados como uma tentativa de melhor explicar a aprendizagem e como se dá o seu processo. Apesar de existir diferentes conceitos, todos eles concordam que a aprendizagem implica numa relação bilateral, tanto da pessoa que ensina como daquela que aprende. Segundo Ciasca (2003), pode-se entender que a aprendizagem é um processo evolutivo e constante, que envolve um conjunto de modificações no comportamento do indivíduo, tanto a nível físico como biológico, e do ambiente no qual está inserido, onde todo esse processo emergirá sob a forma de novos comportamentos.
A aprendizagem da leitura e escrita são processos muito complexos e as dificuldades podem ocorrer de maneiras diversas. Além disso, temos a aquisição da leitura e escrita como fator fundamental e favorecedor dos conhecimentos futuros; é uma ferramenta essencial, ou mesmo a estrutura mestra onde serão alicerçadas as demais aquisições. É apoio para as relações interpessoais, para comunicação e leitura de seu mundo interno e externo. Uma criança que não tenha solidificado realmente sua alfabetização poderá tornar-se frustrada diante da educação formal, terá deficitário do seu processo evolutivo de aprendizagem, apresentará baixo rendimento escolar e pouco a pouco sua auto estima estará minada, podendo manifestar ações reativas de comportamento anti-social, bem como levá-la ao desinteresse e muitas vezes até a evasão escolar. O problema pode ainda decorrer em outros secundários que acabarão se tornando tão ou mais graves daqueles originais que produziram a ineficiência da alfabetização.
Através da nossa prática escolar vivenciamos o desenvolvimento de muitas crianças que apresentam certas dificuldades em realizar atividades de aprendizagem, e várias eram as justificativas dos professores e pais para essa não aprendizagem. A partir dessas vivências surgiu a necessidade de estudar esse assunto que tem como objetivo: analisar as dificuldades de aprendizagem em leitura e escrita das crianças nas séries iniciais sob a ótica dos professores em sala de aula; analisar causas de DA (dificuldade de aprendizagem) em leitura e escrita de natureza cognitiva (relativo ao conhecimento) e afetiva (relativo a afeto ou afetividade) nas crianças das séries iniciais; realizar levantamentos através de observações, entrevistas não estruturadas com os professores, sobre dificuldades de aprendizagem na leitura e escrita; analisar o trabalho desenvolvido com esses alunos em sala de aula. Assim, nossa questão de investigação é: o que pensam os professores sobre os alunos com dificuldade de leitura e escrita nas séries iniciais? Como se dá o trabalho com esse aluno? Qual é o lugar que esse aluno ocupa na sala de aula?
Para aprofundamento da pesquisa, iremos abordar alguns fatores (já pesquisados por autores como FERREIRO e TEBEROSKY (1999), GARCIA (1998), LIMA (2002), SOARES (1995)) que podem ocasionar dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita. Para isso precisamos ter consciência de que os conhecimentos relacionados às D.A (dificuldade de aprendizagem) podem ser muitos e variados, não existindo uma causa única. Muitas vezes, são ocasionadas por diferentes fatores de ensino das instituições escolares ou causas de natureza cognitiva, afetiva e social.
Essa pesquisa contribuirá para melhor conhecimento do trabalho do professor, mediante as dificuldades dos alunos, sendo uma ponte para iniciar um grande desafio que é: quando o professor passa não somente mostrar seus conhecimentos, mas quando ele parte para um jogo dual onde o relacionamento entre ele e seu aluno interage com o objeto de estudo em um rico processo de conhecimento e reconhecimento a partir do conteúdo apreendido, levando em consideração o meio social da criança.
2 DESENVOLVIMENTO
Para os estudos da dificuldade de aprendizagem faz-se necessário uma abordagem, tanto no que se refere à aprendizagem e seus processos, quanto a ponto de vista de diversos profissionais da educação sobre fatores ou situações que podem ocasionar as dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita. Necessitando assim de um trabalho de intervenção bem elaborado e desenvolvido para que os professores possam conhecer e identificar quais os obstáculos que estão impedindo o sucesso da aprendizagem dos alunos.
A partir de então, pretende-se demonstrar a importância do trabalho pedagógico planejado e articulado com toda a equipe escolar, o acompanhamento familiar, a conscientização dos alunos sobre seus limites e possibilidades e mudança na prática docente para que juntos possam amenizar os sérios prejuízos tomados na aquisição do processo da lectoescrita.
Neste trabalho a pesquisa foi construída através de um bom referencial teórico, tendo como fonte de estudo, primeiramente os autores clássicos da área, como FERREIRO (1999), TEBEROSKY (1999), SOARES (1995), artigos de revistas educativas e de sites científicos, observações em sala de aula e entrevista com professores para obter o objeto de estudo: conhecer as dificuldades de aprendizagem por diferentes ângulos.
2.1 – Conceituando Aprendizagem
O ato ou à vontade de aprender é uma característica essencial do psiquismo humano, pois somente este possui o caráter intencional ou a intenção de aprender; dinâmico, por estar sempre em mutação e procurar informações para o aprendizado; criador, por buscar novos métodos visando à melhora da própria aprendizagem, por exemplo, pela tentativa e erro.
A aprendizagem é uma mudança relativamente durável do comportamento, de uma forma mais ou menos sistemática, ou não, adquirida pela experiência, pela observação e pela prática motivada.
O ser humano nasce potencialmente inclinado a aprender, necessitando de estímulos internos e externos para o aprendizado. Há aprendizados que podem ser considerados natos, como o ato de aprender a falar, a andar, necessitando que ele passe pelo processo de maturação física, psicológica e social. Na maioria dos casos a aprendizagem se dá no meio social e temporal em que o individuo convive; sua conduta muda normalmente, por esses fatores, e por predisposições genéticas. A aprendizagem é entendida como um processo de obtenção de conhecimento. E esses conhecimentos são resultados da própria atividade do sujeito (FERREIRO E TEBEROSKY, 1999, p. 31).
Através da aprendizagem, nós nos tornamos capazes de fazer algo que nunca havíamos feito antes. Através da aprendizagem, nós repercebemos o mundo e nossa relação para com ele e entendemos a nossa capacidade de criar e de ser parte do processo gerativo da vida.
2.2 – Conceituando Leitura e Escrita
A língua escrita é um produto da atividade humana, uma invenção social. Ferreiro e Palácio (1990) afirmam que historicamente falando, não há dúvidas de que a escrita tem uma origem extra-escolar. Assim, a idéia de que a única função da escrita está relacionada com o objetivo do ensino deve ser afastada das representações das crianças sobre a alfabetização.
A importância de se ensinar às crianças a função da língua escrita na vida delas e não apenas os códigos de leitura e escrita. As habilidades e conhecimentos de escrita estendem-se desde a habilidade de traduzir fonemas em grafemas até a capacidade de comunicar-se adequadamente com um leitor potencial (SOARES, 1995, p.9).
A compreensão e valorização das funções sociais da escrita é uma aprendizagem ligada aos planos conceitual, procedimental e atitudinal, que pode ter inicio desde os primeiros momentos da chegada da criança à escola e deve continuar até o final da sua formação estudantil.
Muitas crianças chegarão à escola sem saber não só como se escreve, mas também por que e para que se escreve. De acordo com grandes números de estudo e pesquisas recentes, o sucesso na apreensão do “como” está diretamente ligada a compreensão do “por que” e do “para que”. Em nossa sociedade, escreve-se para registrar e preservar informações e conhecimento, para documentar compromissos, para divulgar conhecimentos e informações, para partilhar sentimentos, emoções, vivências, para organizar rotinas coletivas e particulares. Essas funções da escrita se realizam por meio de diferentes formas – os diversos gêneros textuais -, que circulam em diferentes grupos e ambientes sociais, em diferentes suportes (ou portadores de texto). Acredita-se que um processo eficiente do ensino aprendizagem da escrita deve tomar como ponto de partida ou como eixo organizador à compreensão de que cada tipo de situação social demanda um uso da escrita relativamente padronizada. Essa relativa padronização, nascida dos usos e funções sociais, é que justifica o empenho da escola em ensinar e o empenho do aluno para aprender as convenções gráficas, a ortografia, a chamada “língua culta”. Isso pode ser feito na sala de aula desde os primeiros dias do ensino fundamental. O professor ou a professora estará orientando seus alunos para compreensão e a valorização dos diferentes usos e funções da escrita, em diferentes gêneros e suportes.
A leitura é uma pratica social que envolve atitudes, gestos e habilidades que são mobilizados pelo leitor, tanto no ato de leitura propriamente dito como no que antecede a leitura e no que decorre dela. Assim, o sujeito demonstra conhecimentos de leitura quando sabe a função de um jornal, quando se informa quando tem sido publicado, quando localiza pontos de acesso público e privado dos textos impressos (bibliotecas), quando identifica pontos de compras de livros (livraria, bancas, etc.). Dizendo de outra forma, depois que um leitor realiza a leitura, os textos que leu vão determinar suas futuras escolhas de leitura servirão de contraponto para outras leituras, etc.
Atitudes como gostar de ler e interessar-se pela leitura e pelos livros são construídas, para algumas pessoas, no espaço familiar e em outras esferas de convivência em que a escrita circula. Mas, para outros, é, sobretudo na escola que este gosto pode ser incentivado. Para isso é importante que a criança receba a leitura como um ato prazeroso e necessário e que tenha os adultos como modelo. Nessa perspectiva, não é necessário que a criança espere aprender a ler para ter acesso ao prazer da leitura: pode acompanhar as leituras feitas por adulto, pode manusear livros e outros impressos, tentando “ler” ou adivinhar o que está escrito.
Para desenvolver os estágios superiores da linguagem: a compreensão da palavra impressa (a leitura) e a expressão da palavra impressa (a escrita), a criança precisa (além de ter sedimentado de forma harmoniosa as etapas da oralidade), ser capaz de articular todos os sons da língua, o que normalmente se determina aos seis anos (observadas as diferenças maturacionais de cada indivíduo). Requer ainda a ampliação e domínio do universo vocabular. Outra etapa necessária que precisa ser vencida é a capacitação para analisar as palavras em seus segmentos subsilábicos, isto é analisar os sons, que as compõem. Esta possibilidade é a chamada consciência lingüística ou fonológica. Sabemos que até aos seis anos, observando sempre as características individuais, a criança só consegue segmentar palavra em sílabas, a partir desta idade passa a poder segmentá-las nas unidades mínimas: as vogais e consoantes; quando essa habilidade ocorre podemos afirmar que a criança passa a ter uma consciência metalingüística da mesma, a consciência fonológica que a permite analisá-la mais eficientemente.
O domínio da língua, oral e escrita, são fundamentais para a participação social e efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Por isso, ao ensiná-la, a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos, necessários para o exercício da cidadania, direito inalienáveis de todos. (PCN – Língua Portuguesa, p. 15).
Ainda analisando sob o viés do indivíduo, temos como outro aspecto importante para garantir este processo, que a criança tenha um nível suficiente de habilidades específicas como: o desenvolvimento da Motricidade Geral, da Integração Sensório-motora (esquema corporal, lateralidade, sentido de direção, conceito de direita e esquerda, ritmo, orientação espaço-temporal), das Habilidades Perceptivo-motoras (visão, audição, memória,…). Estas capacidades precisam ser estimuladas, já que contribuem para a viabilização do processo da leitura e escrita, ou impõem-se como impedimento para a aquisição do mesmo. A leitura é uma “atividade interativa complexa de produção de sentidos”. Isto é, quando lemos um texto estamos captando idéias do autor, interagindo com ele, mobilizando saberes. A capacidade do uso da linguagem, que diferencia o homem de outros animais, é uma admirável capacidade de forma idéias no cérebro dos demais. Portanto, a leitura é uma atividade na qual se levam em conta às experiências e os conhecimentos do leitor, exigindo dele um conhecimento dos sistemas da linguagem (conhecimento gramatical), o conhecimento de mundo ou enciclopédico (vocabulário, conceitos, representações) e o conhecimento sociointeracional (conhecimento sobre as ações verbais, formas de interação através da linguagem). Tais conhecimentos envolvem, também, o saber sobre as práticas peculiares ao meio social e histórico em que vivem os leitores para que possa existir o devido reconhecimento do que está sendo lido.
Quando lemos um texto não somos simplesmente um decodificador de textos, um receptor passivo, e sim sujeitos com conhecimentos em processo de interação com o conteúdo que gostamos ou que nos interessamos em ler. A mesma coisa ocorre quando escrevemos. Ao escrever um texto, uma mensagem, uma poesia, uma crônica, ou até mesmo um recado ou bilhete, utilizamos estratégias para construir da melhor forma possível o sentido do texto. Dessa forma, todo o processamento da leitura e da escrita é estratégico. Isso porque o conhecimento não consiste apenas em uma coleção estática de conteúdos de experiências, de representações, de palavras, mas também de habilidades para operar sobre tais conteúdos e utilizá-los na interação social e para o aperfeiçoamento do aprendizado. A mente humana é, portanto, um processador de informações. Ou seja, ela recebe, armazena, organiza, recupera, transforma e transmite informação. Os conceitos das coisas no mundo derivam de operações mentais que realizamos de forma abstrata e são os “tijolos” do sistema cognitivo. Pode se dizer que para o processamento textual é um conhecimento procedural, isto é uma forma de procedimento. São estratégias socioculturalmente determinadas que visam estabelecer, manter e realizar uma interação.
Portanto a leitura e a escrita não se limitam, apenas a decifração, a codificação e a decodificação de sinais gráficos.È muito mais do que isso exige do individuo uma participação efetiva levando a construção do conhecimento.
2.3 – Conceito de Dificuldade de Aprendizagem
Segundo Smith (2001), dificuldades de aprendizagem (D.A.) são “problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender, recordar, ou comunicar informações”.Considera-se que, tem-se estudado muito sobre o tema, mas as informações obtidas penetram no âmbito educacional de forma lenta. Assim, as dificuldades de aprendizagem referem-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho escolar. Raramente, elas podem ser atribuídas a uma única causa, e muitos aspectos diferentes podem prejudicar o funcionamento cerebral, até o ambiente domestico contribui para isso.(SMITH, 2001).
Muitas crianças em fase escolar apresentam certas dificuldades em realizar uma tarefa, que podem surgir por diversos motivos, como problemas na proposta pedagógica, capacitação do professor, problemas familiares ou déficits cognitivos, entre outros. A presença de uma dificuldade de aprendizagem não implica necessariamente em um transtorno, que se traduz por um conjunto de sinais sintomatológicos que provocam uma série de perturbações no aprender da criança, interferindo no processo de aquisição e manutenção de informações de uma forma acentuada.
É comum identificar uma criança com problema de aprendizagem quando não consegue alcançar o resultado esperado pela escola. É necessária uma avaliação minuciosa, antes que a criança seja rotulada, pois, uma criança com dificuldade escolar está marcada cruelmente, carregando a pesada cruz de não saber o que faz com suas dificuldades. Ela tem uma bomba nas mãos. Estas crianças são atingidas em cheio na sua alto estima quando, com nossas atitudes, mostramo-las como elas são preguiçosas, lentas, burras, desqualificadas…quando as desprezamos… as abandonamos…
Quando uma criança não aprende a ler ou a escrever, ou ambos, é preciso levar em consideração a escrita como um sistema que é uma manifestação da capacidade humana de simbolizar: o educando, seu período e desenvolvimento e sua experiência cultural; o professor, a qualidade da mediação realizada por ele, sua formação profissional e seu conhecimento pedagógico; a escola, a organização do tempo e do espaço, a gestão e o contexto de desenvolvimento por ela oferecido; o conhecimento, o momento histórico em que ocorre o ensino-aprendizagem; a cultura e a prática pedagógica, principalmente a dinâmica dos processos que acontecem na sala de aula. (LIMA, 2002, p.33).
2.4 – Dificuldades de Aprendizagem na Leitura e Escrita
A leitura e escrita são processos muito complexos e as dificuldades podem ocorrer de maneiras diversas, além disso, temos a aquisição da leitura e escrita como fator fundamental e favorecedor dos conhecimentos futuros; é uma ferramenta essencial, ou mesmo a estrutura mestra onde serão alicerçadas as demais aquisições. É apoio para as relações interpessoais, para a comunicação e leitura de seu mundo interno e externo. Uma criança que não tenha solidificado realmente sua alfabetização poderá tornar-se frustrada diante da educação formal, terá deficitário todo seu processo evolutivo de aprendizagem, apresentará baixo rendimento escolar e pouco a pouco sua auto estima estará minada, podendo manifestar ações reativas de comportamento anti-social, bem como levá-la ao desinteresse e muitas vezes até a evasão escolar. O problema pode ainda decorrer em outros secundários que acabarão se tornando tão ou mais graves daqueles originais que produziram a ineficiência da alfabetização. São eles de ordem cognitiva, emocional e social.
O atraso específico na leitura pode ser de natureza de déficit cognitivo, especificamente na esfera da capacidade verbal. Jorm (1985), em Psicologia das Dificuldades em Leitura e Ortografia, postula que um componente particular parece estar associado com dificuldades de leitura, é a capacidade de lidar com informações fonológicas na memória.
Outro aspecto que merece ser analisado refere-se à compreensão do texto. Sabe-se que a uma estreita relação entre a capacidade da leitura mecânica e a possibilidade de compreensão, assim sendo a criança que apresenta pouca eficiência na leitura, conseqüentemente apresentara dificuldades severas na compreensão do que lê. Por outro lado a indivíduos que mesmo não apresentando eficiência na identificação das palavras, ou seja, mesmo podendo traduzir literalmente as idéias propostas no texto, manifestam dificuldades para compreendê-lo, para estabelecer uma análise inferêncial e crítica.
Sobre os aspectos mais relativos à escrita, temos que, assim como na aquisição da fala a linguagem receptiva antecede a expressiva, no sistema visual a leitura antecede a escrita. Desta feita, a maior parte dos distúrbios da expressão da palavra impressa, a escrita, são decorrentes da ineficiência da leitura, todavia a indivíduos que mesmo sendo bons leitores apresentam distúrbios na expressão escrita.
Essas dificuldades não sendo trabalhadas, acarretarão vivencias frustrantes e limitadoras no processo geral e evolutivo da aprendizagem, isto é, a criança que não encontra suporte e continência para sua notação gráfica deficiente, desestimula-se frente ao fracasso que vivencia levando-a ao desinteresse, a impotência na forma de expressar-se e comunicar-se por escrito. Com isso passam a escrever cada vez menos, limitando seu imaginário e potencialidade criativa, temendo as punições que sofrerão frente aos seus erros ortográficos.
Segundo Lima (2002), qualquer ser humano, de qualquer idade, pode desenvolver uma experiência emocional negativa da situação de escrita. Escrever passa ser para estas pessoas uma situação difícil, penosa, que revela para si e para o mundo uma incapacidade pessoal. Sendo assim, o individuo procura fugir da situação de escrita.
A experiência emocional negativa da situação de escrita pode ser identificada também pela postura. O corpo conta muito sobre como a criança se sente na situação de ter que escrever.Para o educador, este é um indicador muito importante. Rigidez muscular ao segurar o lápis, tremor, ombros endurecidos podem revelar o desconforto do aluno na situação de escrita.
Aspectos físicos, psicológicos e políticos, acompanhados de problemas sociais como pobreza, violências domésticas e sexuais podem comprometer ou até mesmo interromper o aprendizado escolar das crianças e adolescente.
Enfrentar uma circunstância difícil, como a violência doméstica ou abuso sexual, pode ser muito difícil e causar um grande desgaste emocional na criança ou no adolescente. Problema pode se transformar na preocupação central da vida desse estudante, desviando sua atenção das tarefas escolares, já que sua energia está concentrada nos sentimentos de tristeza, raiva ou medo. A dificuldade de concentração e desmotivação para os estudos só poderão ser superadas quando os aspectos emocionais forem trabalhados.
Strick e Smith (2001) ressaltam que o ambiente doméstico exerce um importante papel para determinar se qualquer criança aprende bem ou mal. As crianças que recebem um incentivo carinhoso durante toda vida tende a ter atitudes positivas, tanto sobre a aprendizagem quanto sobre si mesmas. Essas crianças buscam e encontram modos de contornar as dificuldades, mesmo quando são bastante graves.
As autoras colocam que o stresse emocional também compromete a capacidade das crianças para aprender. A ansiedade em relação a dinheiro ou mudanças de residência, a discórdia familiar ou doença pode não apenas ser prejudicial em si mesma, mas com o tempo pode corroer a disposição de uma criança para confiar, assumir riscos e ser receptiva a novas situações que são importantes para o sucesso na escola.
2.5 – O Papel da Escola e do Professor
A escola é um dos agentes responsáveis pela integração da criança na sociedade, além da família. É um componente capaz de contribuir para o bom desenvolvimento de uma socialização adequada da criança, através de atividades em grupo, de forma que capacite o relacionamento e participação ativa das mesmas, caracterizando em cada criança o sentimento de sentir-se um ser social.
Se a criança não se envolve com o grupo ou este não a envolve, começa haver um baixo nível de participação e envolvimento nas atividades e conseqüentemente o isolamento que interferirá no desempenho escolar. O comportamento retraído de uma criança no ambiente escolar pode ser interferência do ambiente familiar.
A escola tem uma tarefa relevante no resgate da auto-imagem distorcida da criança, por ter uma concepção socialmente transmissora de educação e de cultura, que transcende as habilidades educacionais familiares, alem da responsabilidade e competência em desvendar para a criança o significado e o sentido do aprender.
As escolas devem buscar formas de prevenção nas propostas de trabalho, preparar os professores para entenderem seus alunos, diferenciar um a um, respeitar o ritmo de cada um. A escola deve ser um ambiente onde as crianças possam sentir-se bem, amadas e sempre alegres.
A metodologia da escola deve ser adequada, envolvendo seus alunos. E no momento em que surgir algum problema com algum aluno é importante que haja uma mobilização por parte da escola, a fim de que solucionem a possível dificuldade. A escola deve esforçar-se para a aprendizagem ser significativa para o aluno. Com isso todos têm a ganhar, a escola, a família e principalmente a criança.
Souza (1996) afirma que as dificuldades de aprendizagem aparecem quando a prática pedagógica diverge das necessidades dos alunos. Neste aspecto, sendo a aprendizagem significativa para o aluno, este tornar-se-á menos rígido, mais flexível, menos bloqueado, isto é, perceberá mais seus sentimentos, interesses, limitações e necessidades.
2.6 – O Papel da Família
Há uma grande necessidade da escola estar em perfeita sintonia com a família, para que juntas possam alcançar o maior objetivo que é um melhor futuro para o filho.
Segundo Smith e Strick (2006), é de grande importância que as famílias saibam reconhecer e lidar com a criança que apresenta problemas de aprendizagem, pois estas dificuldades podem afetar a vida social e emocional da mesma. Muitas vezes, os pais não sabem ou não identificam comportamentos-problema, como por exemplo: dificuldade para completar tarefas, incapacidade na alfabetização, problemas de socialização, etc. Como resultado, vemos que algumas crianças, por apresentarem estes comportamentos serão punidas em casa e na escola.
É importante que os pais estejam atentos aos filhos, o que eles falam, o que eles fazem, as suas atitudes e comportamentos. Pois muitas vezes os filhos estão querendo dizer alguma coisa aos pais e quando não são ouvidos acarretará dificuldades de aprendizagem em algumas disciplinas, o não entrosamento com os colegas, com professores, etc.
Para Garcia (1998), é possível conceber a família como um sistema de organização, de comunicação e de estabilidade. Esse sistema, a família, pode desordenar a aprendizagem infantil, o mesmo que pode fazer os fatores sociais tais como a raça e o gênero na escola.
Muito tem se transferido da família para a escola, funções que eram das famílias. Com isso a escola vai abandonando seu foco e a família perdendo sua real função. É necessária uma conscientização muito grande para que todos se sintam envolvidos neste processo constante de educar os filhos.
Os conflitos emocionais, decorrentes de problemas familiares comprometem a capacidade das crianças para aprender e interferem muito no seu dia a dia, gerando na família sentimentos ambivalentes, de culpa e frustrações. É preciso reconstruir as relações entre família e escola para que juntas encontrem soluções eficazes no processo de ensino-aprendizagem, pois expectativas positivas em relação ao bem-estar e à educação de seus filhos na escola dependem dessa acolhida, escola-família. A família também deve ser “cuidada” e amparada dentro do contexto escolar.
3 CONCLUSÃO
Este presente artigo compreendeu quais as dificuldades encontradas no trabalho do professor em sala de aula diante das dificuldades dos alunos no processo da leitura e escrita e como esses alunos são vistos na sala de aula.
De acordo com ao estudos realizados, compreende se que quando a aprendizagem não é consolidada, na maioria das vezes os alunos ficam agitados, impacientes, sem motivação, autoestima baixa e com isso tornam altamente dependentes, necessitando de acompanhamento individualizado. Segundo Smith (2001), dificuldades de aprendizagem (D.A.) são “problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender, recordar, ou comunicar informações”. Considera-se que, tem-se estudado muito sobre o tema, mas as informações obtidas penetram no âmbito educacional de forma lenta. Assim, as dificuldades de aprendizagem referem-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho escolar de uma criança. Raramente, elas podem ser atribuídas a uma única causa, e muitos aspectos diferentes podem prejudicar o funcionamento cerebral, até o ambiente doméstico contribui para isso.
Diante disso, pode-se dizer que os professores reconhecem as dificuldades dos alunos e que procuram diversificar as atividades para que possibilite melhor desenvolvimento dos alunos com dificuldades na leitura e escrita.
Souza (1996) afirma que as dificuldades de aprendizagem aparecem quando a pratica pedagógica diverge das necessidades dos alunos. Neste aspecto, sendo a aprendizagem significativa para o aluno, este tornar-se-á menos rígido, mais flexível, menos bloqueado, isto é, Segundo Lima (2002), quando uma criança não aprende a ler ou a escrever, ou ambos, é preciso levar em consideração a escrita como um sistema que é uma manifestação da capacidade humana de simbolizar: o educando, seu período e desenvolvimento e sua experiência cultural; o professor, a qualidade da mediação realizada por ele, sua formação profissional e seu conhecimento pedagógico; a escola, a organização do tempo e do espaço, a gestão e o contexto de desenvolvimento por ela oferecido; o conhecimento, o momento histórico em que ocorre o ensino-aprendizagem; a cultura e a prática pedagógica, principalmente a dinâmica dos processos que acontecem na sala de aula.
É necessário conhecer e acompanhar individualmente o desenvolvimento de cada criança durante o período escolar, pois não podemos nos guiar pelo que a criança não é. Necessita de um olhar voltado sobre o que eles não sabem e sobre o que eles sabem para descobrir como superar o fracasso escolar.
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