DIDÁTICA, POSSIBILIDADES E DESAFIOS: A ARTE DE ENSINAR E APRENDER

DIDACTICS, POSSIBILITIES AND CHALLENGES: THE ART OF TEACHING AND LEARNING

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202504281318


Edilaine Batista de Oliveira¹; Elaine Lima Nogueira²; Eunice Sassi dos Santos³; Natame Garanhani Gonçalves Chechetto⁴; Priscila Fernanda Morais Brandini Alves⁵; Sheila Pereira Venâncio⁶; Susana de Fátima Santos⁷; Viviana Cenamo Tasso⁸.


Resumo

A educação é fundamental ao desenvolvimento humano, sendo a escola um ambiente indispensável. O trabalho tem como tema “Didática, possibilidades e desafios: a arte de ensinar e aprender”, tendo como ambiente de pesquisa sala de aula do 7º ano C de uma escola estadual do município de Jundiaí, e seu objetivo é oferecer sugestões que auxiliem o docente na gestão da sala de aula e mitigação da indisciplina. O trabalho contempla os métodos bibliográfico e documental na análise de registros científicos e documentos, para a apresentação de conceitos relacionados ao tema, além de pesquisa descritiva e exploratória para uma imersão nas dificuldades em âmbito escolar, corroborada com a pesquisa de campo ao observar a  interação em sala de aula, além de pesquisa aplicada, visando à implementação da solução proposta. Para compreender a percepção dos professores, foi elaborado um questionário visando à coleta das informações no tocante ao ensino, de modo qualitativo e quantitativo. Os resultados revelaram o envolvimento dos alunos na aplicação do plano de aula, porém com uma consciência discreta de suas condutas, e dos docentes na gestão escolar. Desenvolver um plano de aula que agregue melhorias à indisciplina dos alunos e engajamento dos docentes requer um trabalho contínuo, multidisciplinar, revestido de relação interpessoal eficaz entre tais atores. Conclui-se, assim, que o processo de ensino e aprendizagem é dinâmico e bilateral, requer uma mediação do docente, por meio de um planejamento com recursos didáticos eficientes, e a aceitação do compromisso do aluno como um agente ativo do processo.

Palavras-chave: gestão da sala de aula; didática; indisciplina; aluno; plano de aula.

Abstract

Education is fundamental to human development, and schools are an indispensable environment. The theme of this work is “Didactics, possibilities and challenges: the art of teaching and learning”, with the research environment being a 7th grade C classroom at a state school in the city of Jundiaí. The objective is to offer suggestions that help teachers manage the classroom and mitigate indiscipline. The work includes bibliographic and documentary methods in the analysis of scientific records and documents to present concepts related to the topic, as well as descriptive and exploratory research to delve into the difficulties in the school environment, corroborated by field research to observe classroom interactions, as well as applied research, aiming to implement the proposed solution. In order to understand teachers’ perceptions, a questionnaire was developed to collect information regarding teaching, both qualitatively and quantitatively. The results revealed that students were involved in implementing the lesson plan, but with a discreet awareness of their behavior, and that teachers were involved in school management. Developing a lesson plan that improves students’ lack of discipline and teachers’ engagement requires continuous, multidisciplinary work, with effective interpersonal relationships between these actors. It can be concluded, therefore, that the teaching and learning process is dynamic and bilateral, requiring mediation by the teacher, through planning with efficient teaching resources, and acceptance of the student’s commitment as an active agent in the process.

Keywords: classroom management; teaching; indiscipline; student; lesson plan.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como escopo o desenvolvimento de um projeto integrador (PI) que visa conectar os conhecimentos obtidos nos diferentes componentes curriculares do semestre na elaboração de um plano de desenvolvimento prático, o qual trará uma solução para problemática levantada em estudo de campo. 

Tendo como tema norteador da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP) “Construir um plano de aula a partir de um determinado contexto escolar”, foi escolhida como campo de estudo uma escola estadual que atua nas etapas de formação no ensino fundamental e ensino médio, localizada no município de Jundiaí, e, após conversa com a diretora Carmem Lucia Pereira Gomes da referida escola, houve a oportunidade de identificar uma problemática preocupante que implica o progresso do desenvolvimento pedagógico dos alunos. 

Diante deste apontamento junto à direção da escola, foi selecionada uma sala como objeto de estudo, o sétimo (7º) ano C, e, por meio de uma pesquisa realizada com os professores desta sala, contendo informações relevantes à identificação das principais inconformidades no processo de ensino e aprendizagem, o presente estudo tomou como direcionamento a observação, análise e compreensão das dificuldades relatadas por uma docente no tocante à disciplina dos alunos e estratégias pedagógicas, aliadas às informações preliminares obtidas com a diretoria escolar, advindo, assim, o objeto de trabalho, com o intento de desenvolver uma proposta visando à mitigação das situações observadas e relatadas, à potencialização do plano de ensino e à interação entre os atores da escola. 

Destarte, foi identificada uma oportunidade de conectar os problemas elencados para a definição do título do trabalho “Didática, possibilidades e desafios: a arte de ensinar e aprender”. 

Para Oliveira (2021), a história da didática no Brasil está relacionada ao contexto educacional e político-social ao longo do tempo, inicialmente com um caráter prescritivo e instrumental até alcançar uma perspectiva individualista, focada na sistematização do saber. 

A temática, além de possuir referências bibliográficas ricas que conduziram a construção deste trabalho e dispuseram diversos elementos que nortearam as autoras no desenvolvimento de uma solução eficaz, contempla ainda a problemática informada pela direção da escola, estando diretamente relacionada ao tema norteador definido para a elaboração do PI. 

O ato de gerir uma sala de aula corresponde às ações realizadas pelo educador que propiciem um ambiente de aprendizagem efetivo e contínuo, onde os alunos se sintam seguros e incentivados a aprender (SAE Digital, 2023). 

O projeto tem como objetivo geral analisar como estratégias diferenciadas podem auxiliar o docente na gestão da sala de aula e minimizar a indisciplina.

Os objetivos específicos, que correspondem às ações a serem realizadas para alcançar o objetivo geral, estão compreendidos em:

a) conhecer o problema por meio da utilização das ferramentas de pesquisa, para a obtenção de informações atinentes; 
b) levantar referenciais teóricos que auxiliem na análise do problema e na elaboração da solução;
c) analisar a percepção dos professores do 7º ano C quanto às questões afetas à didática e disciplina;
d) apresentar as informações obtidas durante o processo de observação de sala de aula;
e) descrever os principais elementos contidos em documentos internos que podem auxiliar no processo de desenvolvimento do projeto;
f) elaborar o protótipo do plano de aula;
g) apresentar o plano de aula ao corpo escolar;
h) analisar o feedback obtido com a aplicabilidade do plano de aula em sala, promovendo adequações, se necessário;
i) apresentar solução final.

Com base nos depoimentos dos docentes, obtidos por meio do preenchimento de formulário de pesquisa, e das aulas assistidas na sala para a qual a direção da escola sugeriu o direcionamento, foi identificado que muitas vezes o aluno se depara com aulas não atrativas, desprovidas de ferramentas pedagógicas interativas, e que, consequentemente, despertem o interesse do discente.  

Verifica-se, assim, que a gestão da sala de aula deve corresponder a ações planejadas e executadas pelo professor, a fim de promover o aprendizado e o desenvolvimento humano, sob os aspectos sociais, culturais, emocionais, entre outros.

 Considerando o tema norteador da UNIVESP e a análise e priorização dos problemas relatados, algumas sondagens foram efetuadas, a fim de responder ao seguinte questionamento:

a ausência de didática compromete a gestão da sala de aula

Com base na questão problema, foram suscitadas as seguintes hipóteses:

a) a boa gestão da sala, feita pelo professor, é requisito associado à didática e ao fator aprendizado;
b) a indisciplina praticada pelo aluno é uma condição que compromete o processo de ensino e aprendizagem, afetando as atitudes do docente em sala de aula e o desenvolvimento das habilidades do aluno. 

Assim, sustentado na problemática observada, faz-se necessário o desenvolvimento de um projeto que possa contribuir com informações para a melhoria da proposta metodológica e didática do professor, bem como à postura e adequação do aluno, conscientizando-o do seu papel de estudante, com suas responsabilidades decorrentes, e como agente ativo do desenvolvimento do seu próprio projeto de vida, inserido em um contexto sociocultural e político. 

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Essa seção aborda os principais referenciais teóricos pesquisados acerca do problema identificado, permeando conceitos relevantes ao seu entendimento, bem como a definição de critérios que conduzam à proposta de solução, sendo que tais elementos estão organizados de forma lógica nas subseções a seguir.

Insta destacar que a pesquisa priorizou a análise de referências bibliográficas e documentais atuais, considerando o período de 5 anos, no entanto, não se ateve apenas a esse lapso, uma vez que foram localizados registros temáticos escassos, além da riqueza de conteúdo de doutrinadores e autores de períodos anteriores, cuja sua aplicabilidade não está em desuso atualmente.

2.1 Gestão da sala de aula

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) define a responsabilidade da escola e dos professores, com base em uma visão sistêmica e holística, no tocante à definição de regras para a garantia de um ambiente escolar harmônico, bem como estratégias para o alcance da aprendizagem:

[…]
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e executar sua proposta pedagógica;
[…]
IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;
[…]
VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;
VII – informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009
[…]
X – estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018)
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
III – zelar pela aprendizagem dos alunos;
[…]
VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.
[…] (Brasil, 1996, grifo nosso, Art. 12).

Trata-se de uma atividade diária, na qual o docente deve observar o perfil dos alunos, identificando pontos fracos e fortes de forma individual e coletiva, para a adoção de estratégias elencadas em um plano de ação, cabendo a ele potencializar o capital intelectual do aluno e fomentar a mudança de atitudes ou pensamentos que comprometam o seu pleno desenvolvimento.

A gestão da sala de aula tem como fatores condicionantes à sua eficácia, sendo intrínsecos ao professor e ao aluno, a didática, a disciplina, entre outros.

Segundo Moran (2012), a educação não se resolve somente dentro da escola e em específico na sala de aula, ela envolve toda a comunidade, e depende intimamente de políticas públicas e institucionais coerentes, sérias e inovadoras. Contudo, é na relação professor/aluno que se centra o processo de ensino e aprendizagem. 

A educação é um processo de toda a sociedade – não só dá escola- que afeta todas as pessoas, o tempo todo, em qualquer situação pessoal, social, profissional, e de todas as formas possíveis. Toda a sociedade educa quando transmite ideias, valores, conhecimento e quando busca novas ideias, valores, conhecimentos. Aprendemos com todas as organizações, grupos e pessoas a que nos vinculamos (Moran, 2012, p. 14).

Para Freire (2021), é de extrema importância salientar aos docentes a responsabilidade ética no exercício da docência. Segundo o autor, ensinar não é somente transferir conhecimentos, pois quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Nesse sentido, ensinar não se limita à sala de aula, aos conteúdos aplicados, sendo possível desenvolver o pensamento crítico do aluno.

E essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosas, humildes e persistentes. Faz parte das condições em que aprender criticamente é possível a pressuposição por parte dos educandos de que o educador já teve ou continua tendo experiência da produção de certos saberes e que estes não podem a eles, os educandos, ser simplesmente transferidos (Freire, 2021, p. 28).

De acordo com Kant (1996, p. 15), “O homem não pode tornar-se um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz”. 

Assim, chega-se à compreensão de que a educação não acontece só no espaço oficial e por um curto período. Trata-se de um processo contínuo e democrático, sendo que o educador exerce um papel fundamental na aprendizagem do aluno ao desenvolver as seguintes ações:

a) realizar a mediação entre o aluno e o conhecimento;
b) ser um facilitador da apreensão, por meio da utilização de ferramentas pedagógicas;
c) promover a interação com cada aluno, considerando suas características pessoais, e a interação coletiva por meio da compreensão da diversidade;
d) estimular a reflexão crítica e mudanças comportamentais. 

2.2 Didática

Neste último século ganhou força a pesquisa sobre a realidade escolar com destaque para os focos sobre a instrução, sobre o ensino, sobre os modos de se fazer o trabalho pedagógico, sobretudo em salas de aula. Com esse incremento surgiu toda uma atividade de investigação nessa área que é a didática (Marin, 2011, p. 16).

A autora entende que a didática é a área de conhecimento pedagógico dedicada ao estudo, à análise, à disseminação e ao desempenho do docente:  

  1. Ela é o núcleo do trabalho docente, a parte fundamental desse trabalho, a atividade de ensinar e levar os alunos a aprenderem; portanto é um conjunto de ações para articular muitos conhecimentos que o professor possui para poder atender tarefas fundamentais de mediação entre tias conhecimentos e a escolarização de crianças, jovens e adultos;  
  2. A Didática tem também a sua feição formadora de professores. Ela é fundamental nessa finalidade, componente central do currículo dos cursos de formação de professores. É o momento de se disseminar o conhecimento existente para auxiliar os novos professores a se prepararem para o desempenho de sua função nas salas de aula, pois, 19 nessa circunstância – nos cursos de formação – aprendem-se, por meio da Didática, vários princípios, procedimentos e atitudes para serem considerados bons professores, que saibam ensinar e que seus alunos aprendam; 
  3. A terceira feição, ou faceta da Didática, é a da investigação. É por meio dessa característica que profissionais desenvolvem novos conhecimentos sobre o ensino. Essa perspectiva investigadora é efetivada quando se busca saber mais sobre algum aspecto do trabalho docente que ainda precise de informações adicionais, de acréscimo de análises. Nessa perspectiva estudam-se procedimentos de ensino, materiais didáticos (livros, figuras, cadernos, filmes) utilizados por professores e alunos; formas de relacionamento entre professores e alunos; programação de seu trabalho e providências para o que se necessita; estudos realizados entre outros focos de atenção e interesse, bem como os problemas enfrentados pelos professores no seu dia a dia de serviço com essas tarefas. Tais conhecimentos produzidos vão compor os conteúdos da disciplina curricular para formar professores para que aprendam a trabalhar como professores e possam ensinar seus alunos (Marin, 2011, p. 18, grifo nosso).

É de extrema importância a compreensão de que a didática não se limita ao conhecimento de técnicas, considerando que sua amplitude alcança a inteligência e emocional do professor no processo interacional e dialógico com o aluno.

Para Freire (2021), antes de criar estratégias para qualquer problema, é preciso primeiro que o educador tenha estabelecido uma relação com seus alunos.

“Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e que a maneira como me percebem me ajuda ou desajuda no cumprimento da minha tarefa de professor, aumenta em mim os cuidados com o meu desempenho” (Freire, 2021, p. 95). 

De acordo com Moran (2012, p. 54), “O desafio de educar é o de ir construindo pontes entre universos de significação diferentes, entre formas de compreensão contraditórias e de comunicação divergentes.” 

O autor identifica, ainda, que por meio da educação é possível o desenvolvimento do potencial de cada aluno dentro de suas possibilidades e limitações. Para isso o educador precisa desenvolver e praticar a pedagogia da compreensão e não a da intolerância e rigidez. É preciso a pedagogia da inclusão.

A história tem mostrado que ações violentas quando não apresentam a conscientização não tem efeito a longo prazo, justamente por não terem sido acompanhadas de um trabalho educativo.

Para Vasconcellos (2010, p. 66), “[…] o problema não é só conseguir uma determinada mudança; o problema inicial é definir a qualidade desta mudança; depois é mantê-la e sustentála, ou seja, fazer com que seja uma mudança duradoura.” 

Segundo Libâneo (2017), o processo de ensino é composto por aspectos externos, que são os conteúdos que compõe as aulas, e aspectos internos, que dizem respeito os meios de ensino (utilizados pelos docentes) e os meios de aprendizagem (utilizados pelos alunos), que em conjunto auxiliam na transmissão e assimilação do dito conteúdo. Afirma que esses métodos podem ser definidos como um conjunto de ações, procedimentos e medidas, planejados em uma sequência lógica, visando ao alcance de objetivos educacionais específicos e gerais. 

O autor explica que somente conhecer diversos modos de ensinar os conteúdos escolares por vezes não é suficiente para que o educador seja bem-sucedido em seus objetivos. Antes de escolher quais caminhos irá trilhar, é necessário refletir sobre a realidade social e educacional na qual está inserido, sobre como os elementos que compõem o objeto de estudo estão relacionados com outros fatos e fenômenos e como seu significado pode ser influenciado pelas ações humanas.

Libâneo (2017) defende que a escolha de qual método utilizar, além dos objetivos da aula que será ministrada e os objetivos gerais da educação, deve levar em conta fatores como os conteúdos específicos de cada matéria, as características socioculturais dos estudantes, seu nível de desenvolvimento, capacidade potencial e conhecimentos prévios.

O autor destaca que os métodos de ensino comumente utilizados pelos educadores podem ser divididos da seguinte maneira: 

a) método de exposição pelo professor, que, apesar de bastante criticado, é um importante meio de transmissão de novas informações principalmente se o educador conseguir manter a atenção e a concentração dos estudantes e fazê-los refletir sobre o assunto que está sendo exposto; 
b) método de trabalho relativamente independente do aluno, com uma série de tarefas elaboradas pelo docente que devem ser realizadas pelos estudantes de maneira autônoma, por exemplo os estudos dirigidos e fichas didáticas;  
c) método de elaboração conjunta (ou de conversação), cuja forma mais comum é a comunicação didática ou aula dialogada em que o professor faz perguntas abertas sobre um determinado tema, estimulando o raciocínio e a reflexão dos alunos que devem dar opiniões e respostas bem fundamentadas;
d) métodos de trabalho em grupo, que dependem de fases preparatórias, de orientação e organização para que os alunos estejam aptos a realizar as tarefas da maneira mais adequada, e cujo objetivo final é a cooperação entre os alunos e o desenvolvimento da capacidade de verbalização dos alunos.

De acordo com Libâneo (2017), também podem ser realizadas as atividades especiais que colaboram para a assimilação dos conceitos estudados em sala de aula, como atividades de estudo do meio, assembleia de alunos, visitas a museus e teatros, a elaboração de um jornal escolar, entre outras.

2.3 Indisciplina escolar

Muito se tem discutido a questão da indisciplina na escola, não apenas na sala de aula, mas em todos os ambientes dentro e fora da escola que implicam na interação, na comunicação entre educador e aprendiz.

Para o entendimento dessa situação não interacional e que não está condicionada a um determinado ambiente escolar, faixa etária e condição social do aluno, insta inicialmente compreender o conceito de disciplina escolar, que, segundo Tiba (1996), corresponde a um conjunto de regras que devem ser conhecidas e cumpridas para que a aprendizagem seja alcançada. Tais regras estão relacionadas à convivência e ao papel do aluno como agente ativo de seu aprendizado.

Segundo Vasconcellos (2010, p. 45), “[…] participar do esforço civilizatório e a escola nada mais faria que colaborar com este esforço geral.”  

O Conceito de disciplina associada à obediência está muito presente no cotidiano da escola, mais ou menos conscientemente; isto porque há uma verdadeira luta em classes onde o professor está procurando sobreviver no contexto de tantos desgastes (Vasconcellos, 2010, p. 47).

A disciplina deve estar relacionada aos objetivos maiores da escola, que deve formar o aluno como pessoa capaz de refletir, de estudar, de caráter ilibado e assumir responsabilidades. Para o educador Paulo Freire, “[…] meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da história, mas seu sujeito igualmente” (Freire, 2021, p. 75).

Franco (1986) afirma que a disciplina deve ser uma preocupação constante da comunidade escolar como um todo, já que ela diz respeito não somente ao comportamento dos alunos, mas a forma como a escola se organiza e desenvolve o seu trabalho.  O ambiente escolar deve ser alegre, convidativo e atrativo para os alunos, pois a disciplina só poderá existir em um espaço em que os alunos se sintam valorizados, capazes e aptos a aprender e se desenvolver.

Deve ser entendida como a soma da influência educativa (instrução, métodos de ensino, interação professor-aluno, conteúdos transmitidos etc.) num processo de cooperação e comprometimento com a formação do homem necessário à construção de uma nova sociedade. A disciplina, por tanto, não pode ser conseguida com a dispersão das forças pedagógicas e com um ensino barateado e fácil (Franco, 1986, p. 63).

Segundo Giancaterino (2007, p. 87), “A indisciplina em sala de aula e na escola tem sido uma preocupação crescente nos últimos anos entre os educadores. Os grandes responsáveis pela educação de jovens, como a família e a escola, não estão sabendo ou conseguindo cumprir o seu papel.”

A indisciplina tem como fatores intrínsecos ao comportamento do aluno o ambiente familiar instável, a dificuldade de lidar com as próprias emoções, o ambiente social conflituoso, entre outras causas. Importa para a presente pesquisa analisar a indisciplina na seara escolar.

A indisciplina escolar infantil é um dos grandes desafios no universo escolar, tanto para alunos quanto para professores e família. Saiba como lidar com ela. Além de dificultar o processo de aprendizagem, indisciplina infantil pode afetar a construção das relações e prejudicar a sociabilização dos alunos (Cury, 2018, grifo do autor)9

Dessa forma, a indisciplina corresponde a uma manifestação inesperada, imprópria e indesejada do aluno, que afeta não apenas o processo de ensino e aprendizagem, como a convivência entre os atores do processo10

De acordo com Aquino (1998, p. 7), “[…] as crianças de hoje em dia não têm [têm] limites, não reconhecem a autoridade, não respeitam as regras, a responsabilidade por isso é dos pais, que teriam se tornado muito permissivos.” 

Ainda segundo o autor, a indisciplina transpassa o ambiente escolar, reverberando em fenômenos socioculturais e econômicos. 

Além da necessidade de se identificar as causas da indisciplina, que implicam na atuação de um grupo de pessoas que impactam no comportamento do aluno, é fundamental compreender seus impactos, a fim de se adotar de modo colaborativo e simultâneo ações que provoquem o despertar da consciência e consequente mudança comportamental.  

1. Queda no rendimento escolar individual

O primeiro a sofrer com a indisciplina é o próprio aluno. Os conflitos entre professor e estudante passam a ser constantes e a aprendizagem vai ficando comprometida. A criança não consegue mais prestar atenção nas aulas ou pode até começar a faltar e, com isso, as notas caem.

2. Comprometimento da aprendizagem do grupo

Um aluno indisciplinado geralmente rouba toda a atenção na sala de aula, tirando o foco das outras crianças. Com isso, além dele próprio ter um aprendizado menor, muitos colegas podem passar a ter dificuldade em acompanhar as aulas, o que ainda pode gerar mais indisciplina.

3. Desgaste da relação do professor com os alunos

Esse tipo de comportamento também impacta na relação entre o docente e os alunos. Os professores encontram cada vez mais dificuldades para exercer seu papel em sala de aula, o que pode gerar estresse, desmotivação e prejudicar seu desempenho (Cury, 2018, grifo nosso)¹¹.

Para Rego (1996) a ausência de autoridade e a falta de motivação e de controle do professor provocam desordem na sala de aula e, consequentemente, sendo inadequados à aprendizagem.

Em âmbito escolar gera várias dificuldades, além da aprendizagem, como o descumprimento de regras, afrontamento aos docentes e falta de cooperação com os demais alunos no processo de interação.

Além de a indisciplina causar danos ao professor e ao processo ensino-aprendizagem, o aluno também é prejudicado pelo seu próprio comportamento: ele não aproveitará que se nada dos conteúdos ministrados durante as aulas, pois o barulho e a movimentação impedem qualquer trabalho reprodutivo (Oliveira, 2005, p. 21). Pode ser caracterizada de várias maneiras, considerando a reação verbal, não verbal e até mesmo física às regras definidas pela escola.

Luna e Davis (1991) advertem que para ter sua autoridade reconhecida, o professor deve ir além do domínio intelectual, deve compreender as condições socioculturais e como podem afetar o comportamento do aluno.

[…] o professor com autoridade é aquele que deixa transparecer as razões pelas quais a exerce: não por prazer, não por capricho, nem mesmo por interesses pessoais, mas por um compromisso genuíno com o processo pedagógico, ou seja, com a construção de sujeitos que, conhecendo a realidade, disponha-se a modificá-la em conseqüência [consequência] com um sujeito (Luna; Davis, 1991, p. 69).

A educação não se faz sem autoridade, se o educador não consegue disciplina é porque não tem autoridade diante dos alunos. Atualmente, diferentemente de quando o aluno já tinha um reconhecimento natural, é preciso que seja conquistado pelo professor, que precisa exercer sua autoridade nos domínios (Vasconcellos, 2010).

Trata-se de um trabalho de desenvolvimento racional e emocional a ponto de conduzir os interesses do docente e aluno frente a uma relação possivelmente adversa. 

A afetividade por parte do professor não o abdica de sua responsabilidade e de sua autoridade. Ressalta que a prática educativa vivida com alegria e afetividade não prescinde da formação científica séria e da clareza política dos educadores. Enquanto os professores não perceberem que é, também através da dinâmica relacional do docente com a turma e da análise [análise] detalhada do que se possa no seio do grupo que podem melhorar o ambiente da sala de aula, não obterão grandes resultados (Freire, 1997, p. 60 apud Silva, 2013, p. 20).

O ensino não requer autoritarismo, ou seja, o entendimento de que a disciplina deve ser mitigada com imposições, determinações inquestionáveis, e sim um processo de transformação do pensamento, de um despertar de consciência do aluno e de estímulo à cooperação com os demais alunos, corpo docente e equipe escolar. Para isso, o projeto escolar é indispensável, deve apresentar estratégias essenciais que promovam a mudança de comportamento, o envolvimento escolar e a responsabilidade do aluno como agente ou interlocutor do processo de aprendizagem.

Para que a indisciplina não brote quase por geração espontânea, é útil que o professor tenha bem presente a importância dos aspectos relacionais com os seus alunos. Se o professor continuar a valorizar apenas a sua função de instrução (transmitir conhecimentos), é mais provável que os conflitos disciplinares apareçam. Para evitar tal situação, a tónica da acção [ação] da escola deverá centrar-se na prevenção da indisciplina e não na forma de a controlar. […] a escola deve começar por reorganizarse e por desenvolver competentemente o trabalho pedagógico, para de facto prevenir a indisciplina. Muitas iniciativas actuais [atuais] […] vão no sentido oposto: quando a escola multiplica faltas disciplinares e conselhos de turma para propor a aplicação de suspensões, não está a resolver o problema do aluno, está provisoriamente a resolver o problema do professor (Sampaio, 1997, p. 7 apud Fontana, 2007, p. 5).

Segundo Parrta-Dayan (2008), a indisciplina que tem como causa o cenário escolar, pode decorrer da irresponsabilidade do professor ou da utilização de métodos pedagógicos insuficientes.

Para Vasconcellos (2010, p. 50) “Ninguém disciplina ninguém. Ninguém se disciplina sozinho. Os homens se disciplinam em comunhão, mediados pela realidade”. 

De acordo com Libâneo (2017) a disciplina dos alunos ou a falta dela, está diretamente relacionada, em relação ao educador, com:

a) a autoridade profissional: domínio da matéria, de métodos e procedimentos de ensino; saber lidar com as individualidades dos alunos; 
b) a capacidade de controlar e avaliar o trabalho dos estudantes; 
c) a necessidade de refletir sobre seu próprio desempenho, moral (conjunto de qualidades de personalidade do educador), e técnica do professor (hábitos pedagógicos e didáticos, eficácia na transmissão e assimilação de conhecimentos de modo que os alunos se tornem sujeitos conscientes, ativos e autônomos). 

Segundo o autor, essas características dos professores são fundamentais para realizar uma boa organização de ensino, que envolve a formulação de um plano de aula que regule a distribuição do tempo e determine objetivos, conteúdos, métodos e procedimentos, a fim de permitir que os atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem (docentes e alunos) antecipem o andamento da aula.                                                                                           

Nesta mesma linha de pensamento, Cunha (2004) afirma que, segundo pesquisas feitas sobre a conduta/didática dos educadores em sala de aula, os estudantes esperam ser reconhecidos pelos seus esforços e conquistas e valorizam professores exigentes, que cobram a participação dos alunos e os induzem à crítica, curiosidade e pesquisa; aulas agradáveis e atraentes nas quais os professores utilizam métodos inovadores e compartilham as informações claras e compreensíveis.  

A autora ressalta a importância de uma boa relação entre educador e discente no processo de aprendizagem e na formação de futuros cidadãos, e afirma que quanto mais próximos forem os atores presentes em sala de aula maior será a influência que os professores terão sobre o comportamento dos alunos. É por meio da interação e do estabelecimento de laços afetivos entre eles que valores como honestidade, compromisso, coragem e responsabilidade são transmitidos.

Para Cunha (2004, p. 151) “Um professor que acredita nas potencialidades do aluno, que está preocupado com a sua aprendizagem e com o seu nível de satisfação, exerce práticas de sala de aula de acordo com essa posição.” 

Para Vinha (2009, p. 5), a função de educador consiste, entre outras coisas em:

[…] conhecer como se dá a aprendizagem e, com base nessa compreensão, planejar suas aulas, além de ter segurança sobre o conteúdo a ser trabalhado. A medida parece muito básica – e é. Ela vale para manter a disciplina e para chegar ao objetivo principal: fazer com que todos aprendam. 

Mesmo diante desse cenário, é possível que um aluno indisciplinado venha a se interessar pela escola, pelo aprendizado e internalize conscientemente valores sociais que impactarão positivamente no seu desenvolvimento pessoal, como cidadão.

Por vezes mudanças de estratégias são essenciais e a utilização de ferramentas que correspondam às expectativas dos alunos em relação ao conhecimento. O homem não é um ser isolado e, portanto, busca sua evolução pessoal por meio da convivência com outras pessoas, desde criança. Seja qual for o ambiente interacional, requer a estipulação de regras para que a convivência seja harmônica, pautada no respeito ao próximo e na garantia aos seus direitos.

Dessa forma, a escola tem necessidade impor e divulgar suas regras de conduta.

[…] são passíveis de apuração e aplicação de medidas disciplinares as condutas que professores ou a direção escolar considerem incompatíveis com a manutenção de um ambiente escolar sadio ou inapropriadas ao ensino-aprendizagem, sempre considerando, na caracterização da falta, a idade do aluno e a reincidência do ato. 

5.1. Ausentar-se das aulas ou dos prédios escolares, sem prévia justificativa ou autorização da direção ou dos professores da escola; 

5.2. Ter acesso, circular ou permanecer em locais restritos do prédio escolar; 10 | Normas Gerais de Conduta escolar;

5.3. Utilizar, sem a devida autorização, computadores, aparelhos de fax, telefones ou outros equipamentos e dispositivos eletrônicos de propriedade da escola; 

5.4. Utilizar, em salas de aula ou demais locais de aprendizado escolar, equipamentos eletrônicos como telefones celulares, pagers, jogos portáteis, tocadores de música ou outros dispositivos de comunicação e entretenimento que perturbem o ambiente escolar ou prejudiquem o aprendizado; 

5.5. Ocupar-se, durante a aula, de qualquer atividade que lhe seja alheia

5.6. Comportar-se de maneira a perturbar o processo educativo, como, por exemplo, fazendo barulho excessivo em classe, na biblioteca ou nos corredores da escola; 

5.7. Desrespeitar, desacatar ou afrontar diretores, professores, funcionários ou colaboradores da escola;

[…] (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo; Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2009, p. 10-11, grifo nosso).

3 METODOLOGIA

O projeto concentrou-se na análise de estratégias didáticas diferenciadas, para auxílio ao docente na gestão da sala de aula e mitigação da indisciplina, fornecendo subsídios que possam contribuir na gestão escolar, especificamente da sala de aula, tornando-a mais assertiva e eficaz.

De acordo com Gil (1999), o método científico corresponde a um conjunto de procedimentos técnicos para o alcance do saber. Somente será considerado conhecimento científico se houver a identificação dos passos para a sua verificação, ou seja, dos métodos que viabilizaram o entendimento, o conhecimento.

Trata-se de uma pesquisa sistemática e organizada, cujo processo foi delineado nos seguintes passos: identificação de fontes oficiais e, portanto, fidedignas; análise das informações; organização das informações obtidas; registro lógico e sequencial das informações; reflexão e alinhamento à temática; experimentação e observação; coleta e análise de resultados. 

Dessa forma, quanto à natureza, o projeto é sustentado em pesquisa aplicada, a fim de proporcionar uma solução para utilização pelo docente do 7º C, visando ao estímulo do aluno pelo aprendizado.

Quanto aos objetivos, a pesquisa é descritiva, pois apresenta o detalhamento de conceitos relacionados à gestão da sala de aula, e exploratória pela imersão necessária no problema, a fim de evidenciar suas causas e situações específicas.

O levantamento do referencial teórico e o raciocínio sistêmico para a resposta à questão-problema ensejaram a adoção de procedimentos voltados à utilização da pesquisa bibliográfica e documental. Foi realizada uma exaustiva análise a textos de artigos científicos, livros, trabalhos acadêmicos, ao conjunto normativo e a documentos obtidos na escola, respectivamente, que serviram para o entendimento do tema e à identificação da proposta de solução, relacionando o conteúdo obtido às descobertas provenientes da pesquisa de campo durante as visitas à escola, considerando-se, ainda, o estudo de caso, por se tratar de situações interacionais reais no ambiente escolar, especificamente na sala de aula do 7º ano C.

A pesquisa também é revestida, quanto à abordagem, de método qualitativo, utilizando como instrumento o questionário com perguntas estruturadas, e o método quantitativo, em busca da representação em dados numéricos da realidade em sala de aula.

Para identificar o processo de ensino e aprendizagem atrelado à didática e à indisciplina escolar, foram desenvolvidas as seguintes etapas do projeto:

a) descrição e análise de conceitos relacionados à gestão da sala de aula, didática e indisciplina escolar;
b) análise de documentos atinentes a regras de conduta e ao planejamento de melhorias na gestão escolar;
c) análise da percepção dos docentes, pautada em suas vivências em sala de aula e em como colocam em prática a gestão em sala.

Compreendendo uma das fases da metodologia, a pesquisa é apoiada na observação do ambiente escolar, durante as visitas realizadas na escola, e na coleta de informações da equipe pedagógica.  Para tanto, o projeto recorreu à aplicação de questionário aos docentes e à diretora da escola, mediante o aceite em Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 

A presente seção contém informações e dados extraídos do ambiente escolar, por meio da leitura de documentos escolares, observação, entrevistas, experimentação e análise de resultados. 

4.1 Regimento Escolar 

O documento explicita o funcionamento da escola, estrutura, organização, normas e regras. Em suma, as regras contidas nele direcionam todos os procedimentos da área administrativa, didática, pedagógica e disciplinar da escola. É por meio deste documento que a escola se compromete, junto a algumas instituições escolares, como o Grêmio Estudantil, o Conselho de Escola, a Associação de Pais e Mestres (APM), entre outras, a direcionar alguns esforços para que a formação social e pedagógica do aluno aconteça de forma eficaz. Esse compromisso é organizado e assinado pela direção escolar (São Paulo, 2021).

Assuntos como a participação da família, da comunidade escolar na formação do corpo discente pelo direcionamento de sua conduta e do seu aprendizado, são abordados no regimento. Aprimorar a convivência intra e extraescolar regidas pelos princípios de autoconhecimento, empatia e alteridade, assertividade na comunicação cordialidade e ética, são assuntos que devem ser administrados, cobrados e fiscalizados por essas instituições escolares e, inclusive, o documento contém diretivas que apresentam as consequências que ocorrem em casos graves de descumprimento dessas normas e regras. 

Dentre tantos direcionamentos das normas e regras que o regimento escolar traz, vale destacar algumas que vão ao encontro do escopo deste projeto, considerando os deveres e responsabilidades de cada aluno descritos no artigo (art.) 49 da seção II, dos direitos e deveres dos pais/responsáveis e alunos, do capítulo IV, das Normas de Gestão e Convivência. 

Dos direitos e Deveres dos Pais/Responsáveis e dos Alunos

[…]

  1. – Frequentar a escola regular e pontualmente, realizando os esforços necessários para progredir nas diversas áreas da educação;
  2. – Estar preparado para as aulas e manter adequadamente seus materiais escolares de uso pessoal e/ou de uso comum;
  3. – Ser respeitoso e cortês para com colegas, diretores, professores, funcionários e colaboradores da escola, independentemente da idade, sexo, raça, cor, credo, religião, origem social, nacionalidade, deficiências, estado civil, orientação sexual ou crenças políticas;
  4. – Contribuir para a criação e manutenção de um ambiente de aprendizagem colaborativo e seguro, que garanta o direito de todos os alunos de estudar e aprender;
  5. – Abster-se de condutas que neguem, ameacem ou de alguma forma interferem negativamente no livre exercício dos direitos dos membros da comunidade escolar;
  6. – Respeitar e cuidar do prédio e equipamentos escolares, ajudando a preservar o patrimônio público;
  7. – Respeitar a propriedade alheia, pública e privada;
  8. – Compartilhar com a direção escolar que possam colocar em risco a saúde, a segurança e o bem-estar da comunidade escolar;
  9. – Utilizar meios pacíficos de resolução de conflitos;
  10. – Manter pais/responsáveis legais informados sobre os assuntos escolares, sobretudo sobre o progresso dos estudos os eventos sociais e educativos previstos ou em andamento;
  11. – Ajudar a manter o ambiente escolar livre de drogas lícitas e ilícitas, substâncias tóxicas e armas (São Paulo, 2021, p. 15, grifo do autor).

Ainda, de acordo com o Regimento, há a descrição das condutas incompatíveis ao aluno:

Artigo 50º – É proibido ao aluno:

  1. – Retirar-se das aulas ou do prédio escolar, sem prévia justificativa ou autorização da direção;
  2. – Utilizar, sem a devida autorização, computadores, telefones, equipamentos e dispositivos eletrônicos de propriedade da escola;
  3. – Utilizar, em sala de aula, sem autorização do professor, equipamentos eletrônicos como telefones celulares, jogos portáteis, tocadores de músicas ou outros dispositivos de entretenimento que prejudiquem o aprendizado;
  4. – Ocupar-se, durante a aula, de qualquer atividade que lhe seja alheia;
  5. – Comportar-se de maneira a perturbar o processo educativo;
  6. – Desrespeitar, desacatar ou afrontar diretores, professores, funcionários, colaboradores da escola e colegas.
  7. – Fumar cigarros de quaisquer tipos dentro da escola;
  8. – Exibir ou distribuir textos, literatura ou materiais difamatórios, racistas, preconceituosos, incluindo a exibição dos referidos materiais na internet;
  9. – Danificar ou adulterar registros e documentos escolares, através de qualquer método, inclusive o uso de computadores ou outros meios eletrônicos;
  10. – Estimular ou envolver-se em brigas, manifestar conduta agressiva, ou promover brincadeiras que impliquem risco de ferimentos em qualquer membro da comunidade escolar;
  11. – Produzir ou colaborar para o risco de lesões em integrantes da comunidade escolar, resultantes de condutas imprudentes ou da utilização inadequada de objetos cotidianos que podem causar danos físicos;
  12. – Provocar ou forçar contato físico inapropriado ou não desejado dentro do ambiente escolar;
  13. – Ameaçar, intimidar ou agredir fisicamente qualquer membro da comunidade escolar;
  14. – Consumir, portar, distribuir ou vender substâncias controladas, bebidas alcoólicas ou outras drogas lícitas ou ilícitas no recinto escolar (São Paulo, 2021, p. 15-16).

Em uma análise minuciosa, nota-se que as condutas observadas dos alunos em sala de aula estão longe dos padrões estabelecidos. Em contrapartida, verifica-se que as instituições escolares estabelecidas como órgão de fiscalização, direcionamento e controle, não têm cumprido com seu papel de maneira eficaz, uma vez que o comportamento dos alunos do 7º C está distante do preconizado no Regimento Escolar, compatíveis ao observado pelas autoras do PI na observação à sala de aula, conforme descrito na subseção 4.3 mais a frente.

4.2 Proposta pedagógica – 2020

A proposta é desenvolvida pela gestão no planejamento escolar e tem como objetivo traçar metas de melhorias na qualidade de ensino, direcionando professores, gestores, funcionários, famílias e alunos para que juntos possam alcançar as metas de melhoria traçadas pela escola.   

A Proposta Pedagógica desta unidade escolar se constitui num documento formal, intencional e se revela como articulador dos processos que ocorrem na escola desde o mais simples aos mais complexos. Neste contexto a Proposta Pedagógica harmoniza o tempo, os recursos humanos e materiais, os espaços para atender a todos, prevendo diferentes tipos de aprendizagem de nossos alunos, atentando-se para a educação na diversidade, lembrando que ela só será eficaz se for fruto de uma ação reflexiva e coletiva.

‘O elemento estruturador dessa Proposta Pedagógica é a consciência de que num mundo essencialmente urbano e grafocêntrico o exercício pleno da cidadania pressupõe a competência plena no uso da leitura e da escrita em práticas sociais e cotidianas’ (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, 2021, p. 1, grifo nosso).

No que tange à gestão em sala de aula, a proposta posiciona o professor-coordenador como organizador e colaborador no elo de informações entre a gestão escolar, os alunos e a

comunidade escolar onde estão inclusas as famílias dos alunos. É este docente que tem como tarefa desenvolver a organização deste elo objetivando a formação dos cidadãos com qualidade.  

⮚ A participação ativa na elaboração da proposta pedagógica da escola, ao lado da direção e demais segmentos, revendo e atualizando o plano escolar;
⮚ A articulação das ações pedagógicas que o coletivo docente deverá desenvolver na UE conforme exposto na Proposta Pedagógica;
⮚ A coordenação e acompanhamento do processo de planejamento, desenvolvimento das ações dos diversos projetos da UE, não só no ensino regular como também nas aulas de reforço e recuperação, classe multisseriada, educação especial e inclusão;
⮚ A integração escola/comunidade, visando facilitar o relacionamento família/escola, orientando os pais sobre o estudo dos filhos em casa, estimulando a integração social, esportiva e cultural;
⮚ O auxílio ao corpo docente no planejamento e realização de suas atividades, selecionando materiais de estudo que visem o aprimoramento de técnicas e procedimentos para a melhoria das aulas, propondo, coordenando e facilitando atividades de aperfeiçoamento e atualização dos professores;
⮚ A garantia de espaço para discussões de propostas de trabalho e projetos que visem a integração do currículo e a interdisciplinaridade, fazendo compreender o entrelaçamento do mundo do conhecimento;
⮚ A execução, acompanhamento e avaliação das ações previstas na proposta pedagógica, norteando rumos, acertos e desacertos (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, 2020, p. 4).

 Todas as diretrizes e objetivos da proposta são direcionados para a melhoria do papel da equipe escolar no processo de formação do aluno, como desenvolver o professor por meio de formação continuada em suas Atividades de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPCs), sendo  uma diretriz que contribui para a resolução da problemática da gestão de sala de aula. 

Na análise de ambos os documentos escolares, ficou evidenciado que os alunos como os professores possuem amplo direcionamento documental para que os problemas de indisciplina e de gestão de sala de aula sejam cessados. 

Diante dos dados analisados, ficou entendido que a problemática informada pela equipe gestora da escola realmente é verídica. Intencionado à solução ao problema, foi desenvolvido um plano de aula para ser aplicado entre os alunos e professores do 7º C, a fim de estimular nos participantes da aula competências que possam minimizar os problemas levantados. Para tanto, foi realizado um levantamento dos materiais do currículo paulista, com vasta opção de atividades que desenvolvessem competências e habilidades socioemocionais. 

Em razão do problema ser estritamente de estrutura comportamental, concluiu-se que trabalhar temas relacionados ao desenvolvimento emocional para contribuir com a mudança dos alunos e dos docentes que fizeram parte deste estudo poderá ajudar no processo de solução de tais problemáticas. 

As competências eleitas têm como objetivo desenvolver e incentivar o sentido reflexivo e crítico de tal maneira que os alunos possam tornar-se cidadãos participativos, responsáveis e conscientes dos seus deveres e direitos, visando à formação de jovens que desenvolvam um sentimento de pertencimento coletivo, que almejem e se dediquem à construção de uma escola qualitativa e equitativa, sem esquecer de conscientizar a importância da qualidade do docente para este processo. 

O conteúdo das atividades pretende formalizar e externar as expectativas em relação ao ambiente escolar, bem como perceber os vínculos de amabilidade e respeito entre as pessoas com as quais se convive no cotidiano da escola, estimulando a atenção do outro, bem como a reflexão sobre os frutos que se pode colher por meio dessa atitude. 

4.3 Observação em sala de aula

Por meio da pesquisa de campo, foi possível utilizar a técnica da observação para a coleta de impressões e registros acerca da gestão da sala de aula. Insta relatar os fatores observados durante as aulas assistidas em 2 dias de observação, que afetam diretamente no desenvolvimento pedagógico dos alunos:

a) identificação de atitudes constantes, como uso de celular indevido, sala desorganizada, alunos na porta após o professor ter entrado e outros sentados de forma desordenada. A professora passou atividades a serem realizadas, mas os alunos estavam conversando muito e alguns em pé fora de seus lugares. No momento da correção das atividades, a docente precisou falar com entonação de voz elevada, acima do habitual, inclusive com gestos agressivos, como bater na mesa, para que os alunos a respeitem. Alguns alunos participavam da correção, porém a maioria apenas aguardava a resposta correta da professora para copiarem, sem desenvolverem a habilidade de pensar sobre o conteúdo lecionado para realmente aprenderem a matéria;
b) outro ato observado foi a reação de deboche dos alunos à medida que a docente explicava um assunto e como essa postura influenciou para que outros alunos agissem da mesma forma, inclusive o afrontamento de um dos alunos para com as autoras do presente projeto, fato ocorrido no último dia de observação. Palavrões também foram observados durante todo o decorrer da aula; 
c) também no último dia de observação, o professor chegou organizando a sala de aula. Ao transmitir orientações sobre como seria a aula, alguns alunos disseram que não estavam com o material, então o professor organizou duplas para se desvencilhar das desculpas dos alunos. Apesar da habilidade do professor para com a situação, havia tentativas de atrapalhar a aula. Houve momento em que o professor mudou um aluno do lugar em que estava sentado para melhorar a aula, porém, quando ele chamava atenção dos alunos, os demais aplaudiam e atrapalhavam. O professor tentou várias metodologias para conseguir ministrar a aula, e a última tentativa foi ditar o conteúdo para que copiassem, momento em que a sala finalmente se aquietou e seguiu o sugerido, porém, ainda com pequenos tumultos durante o processo da aula.

Para que fosse possível identificar oportunidades de melhoria e oferecer soluções eficazes para os problemas apontados e observados na sala de aula, foi desenvolvido um formulário em forma de questionário com enfoque na didática e disciplina. O questionário utilizado, google forms, foi disponibilizado aos docentes do 7º ano C, em um total de 10, e contendo quesitos voltados a identificar:

a) nome (completo); 
b) instituição de ensino em que trabalha; 
c) níveis de escolaridade em que atua;
d) função exercida no estabelecimento de ensino;
e) tempo de docência;
f) tempo de atuação na escola;
g) perfil da comunidade escolar;
h) formas de avaliação da aprendizagem dos alunos;
i) técnicas/ferramentas/instrumentos empregados durante o ensino;
j) utilização de técnicas didáticas eficazes;
k) consequências de uma didática ineficaz;
l) principais fatores impeditivos para o emprego de uma boa didática no ensino;
m) relação da didática à gestão da sala de aula;
n) relação da didática ao planejamento das aulas;
o) percepção sobre o papel do professor nas relações entre os alunos e na aprendizagem;
p) sugestões de melhoria para que a didática em sala de aula possa ser mais eficaz e contribuir ainda mais para o aprendizado do aluno;
q) normas e regras serem escolares divulgadas aos alunos;
r) normas e regras estabelecidas para a participação do aluno em sala de aula;
s) relação da falta de didática como indisciplina e desinteresse do aluno;
t) relação da indisciplina e a má postura do aluno com a gestão da sala de aula feita pelo professor;
u) utilização de práticas diferenciadas em aula;
v) momento de interesse dos alunos pela aula;
w) relação da indisciplina com o comprometimento do tempo das aulas e possíveis prejuízos;
x) estratégias para lidar com a indisciplina e má postura dos alunos;
y) influência do docente na mudança de comportamento e interesse do aluno pelas aulas.

Ao compilar as respostas da pesquisa, foram analisadas as principais respostas:

A sala possui 10 educadores, dos quais 40% possuem mais de 20 anos de experiência na profissão, sendo que na escola 75% destes professores atuam há menos de 5 anos nos níveis de escolaridade Ensino Fundamental II e Ensino Médio.  

Gráfico 1 Níveis de escolaridade em que atua

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 202

Gráfico 2 – Tempo de atuação na área de ensino

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

A opinião destes professores quanto à comunidade escolar refere-se ao conceito de que a comunidade como um todo é participativa e exigente, porém, embora considerem delicado generalizar, reconhecem que em sua maioria os discentes são descomprometidos e, principalmente entre os mais indisciplinados, os familiares não são presentes e não acompanham o processo de aprendizagem de seus filhos. A comunidade escolar, quanto à classe social, é heterogênea, admitindo alunos de áreas de periferia e de bairros nobres. 

Quanto aos métodos avaliativos, a maioria dos professores informou que utiliza avaliações internas e externas, conforme o currículo enviado pela Secretaria de Educação do Estado, enquanto apenas um informou considerar notas referentes ao comportamento, caderno e participação do aluno em sala de aula. Esse fator pode contribuir para o desengajamento do aluno, uma vez que pode se dedicar mais ao ser avaliado pela sua conduta. 

Os materiais utilizados pelos docentes em suas aulas se resumem aos materiais básicos existentes e disponibilizados pela própria escola, como os recursos digitais disponíveis, cadernos didáticos, lousas, entre outros. 

Quanto à avaliação da didática dos professores que atuam na escola, 50% considera que utilizam técnicas didáticas eficazes, enquanto 50% utilizam parcialmente de técnicas eficazes de didática. 

Gráfico 3 Utilização de técnicas didáticas eficazes

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

A maioria justificou que o fato de existirem professores que não possuem técnicas de didática eficazes está relacionado ao comportamento dos alunos. Responderam, ainda, que os principais fatores impeditivos para o emprego de uma boa didática são:

a) a hiperatividade do aluno;
b) o desrespeito deles;
c) o desinteresse em aprender;
d) a falta de material;
e) capacitação insuficiente do professor;
f) falta de tempo de aula;
g) ausência de recursos para alunos especiais.

Analisando tais respostas, é possível concluir que muitas vezes os docentes não entendem o que realmente está elencado dentro do conceito de didática. São poucos os professores que relacionaram corretamente suas justificativas com o conceito correto. Em suma, afirmaram que precisam aprender a buscar conhecimentos em diferentes recursos, não somente na escola, e que os discentes muitas vezes reclamam sobre o constante uso de textos expositivos sem explicação do conteúdo. 

Apesar da controvérsia entre a opinião e o conceito de didática, todos os docentes entrevistados assumem que, não tendo boa didática, os alunos apresentam falhas em sua aprendizagem, ficam desestimulados a aprender, não se concentram nas aulas, apresentam defasagem de aprendizado acima do normal e tornam o relacionamento entre o aluno e o professor desgastante. Quando questionados sobre gestão de sala de aula como um componente do qual a didática faz parte, muitos participantes voltaram a relacionar a problemática ao aluno, porém, todos concordaram que a didática está inserida na gestão de sala de aula.

Outro questionamento feito aos participantes da pesquisa foi se consideram o conceito de didática na hora de planejarem suas aulas, sendo que a maioria respondeu que sim. Cerca de 90% das respostas consideram o conceito de didática na hora de planejar uma aula, enquanto apenas 10% não consideram.  

Gráfico 4 – Planejamento das aulas com emprego da didática

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

A maior percepção sobre o papel do professor é de que é um mediador entre o aluno e o conteúdo curricular que está em aprendizado. No entanto, houve respostas sobre considerarem o processo de aprendizagem como uma via de mão dupla, podendo também o docente, muitas vezes, aprender com seus alunos. 

Algumas sugestões inseridas com relação à didática e à gestão de sala de aula consideram que o ensino deve ser significativo, atrativo e deve transformar a percepção da realidade do aluno. Outro fator mencionado foi a estimulação da participação mais eficaz por parte da família, tendo em vista que os alunos mais problemáticos não têm a participação constante da família em seu processo de aprendizagem.

Por mais que essa primeira parte da pesquisa estivesse debruçada no conceito de didática e de gestão de sala de aula, ficou evidente que a indisciplina dos alunos é um fator incontestável dentro da sala de aula, especificamente no 7º ano C, para o qual este projeto foi desenvolvido, o que ficou ainda mais exaltado na segunda parte do questionário que diz respeito especificamente a indisciplina dos alunos em questão. 

As respostas dos docentes frente a essa temática apresentaram ferramentas suficientes para dissertar esta parte da pesquisa. Ao serem questionados se no início do ano letivo a escola apresenta aos alunos normas e regras a serem cumpridas, bem como se em suas aulas há normas e regras, a resposta foi unânime: todos possuem normas e regras definidas aos alunos para que não ajam com indisciplina e desrespeito, o que mostra que os alunos possuem ampla orientação sobre o que devem ou não fazer na sala de aula e nos demais ambientes escolares. 

Gráfico 5 Divulgação aos alunos das normas e regras da escola

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Quando questionados se a falta de didática torna a aula desinteressante a ponto do aluno se comportar inadequadamente, 80% dos participantes responderam que sim, sendo que 20% responderam que não acreditam ser um fator influenciador.

Gráfico 6 – Ausência da didática tendo como consequência a indisciplina

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Em relação a como a indisciplina pode ser influenciada pela gestão de sala de aula do docente, muitos ainda atribuíram a culpa da má gestão de sala de aula ao comportamento do aluno, inclusive com posicionamentos desistentes da possibilidade de controle dos discentes e que mencionam o medo como sentimento emocional desenvolvido frente a várias afrontas recebidas pelos professores de seus alunos. 

Metade dos participantes acredita que nem atividades diferenciadas prendem a atenção dos alunos.

Gráfico 7 – Utilização de atividades diferenciadas como atratividade aos alunos  

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Ao serem questionados sobre em que momento percebem que os alunos prestam mais atenção nas aulas, algumas respostas observadas referem-se a contextos que não agregam valor pedagógico ao aluno:

a) terem atenção para em seguida pedir para irem ao banheiro; 
b) ao estarem comportados não recebem uma negativa como resposta;

Outra resposta obtida indica que certos professores não identificaram ainda nenhum momento em que os alunos realmente se mostram interessados nas aulas. Há também de se destacar determinados docentes respondendo que conseguem identificar o interesse dos alunos quando estes fazem perguntas sobre o tema da aula ou quando o conteúdo está relacionado às suas realidades, ou ainda quando utilizam de exemplos práticos do cotidiano deles. 

Para elencar momentos em que a aula é prejudicada por conta da indisciplina dos alunos, todos os professores citaram momentos de suas aulas que foram comprometidos por este fator, como o tempo desperdiçado para fazer chamada, para pedir silêncio e atenção, que chega de 10 a 20 minutos, ou seja, quase a metade de uma aula. Em geral, eles entendem o comprometimento da absorção dos saberes e vivência proposta pela professora, além de perceberem que o comportamento dos alunos acaba por comprometer o tempo valiosíssimo de conclusão de alguma atividade. 

O ponto de maior discrepância nas informações foi quando os docentes foram questionados sobre a habilidade de lidar com a indisciplina dos alunos. A maioria dos professores respondeu que possuem habilidade, e sugeriu dicas de estratégias eficazes, como;

a) a preparação de aulas que atribuam valor à nota bimestral;
b) o diálogo como premissa no relacionamento com o aluno;
c) o planejamento de aulas mais atraentes. 

Por último, eles se posicionaram quanto à possibilidade de existir algo que possa ser feito para influenciar os alunos a mudarem suas posturas e começarem a se interessar mais pelas aulas. Neste sentido, foram enfáticos ao responderem que incentivar o esforço, parabenizar os bons resultados, relembrar a importância do bom aprendizado para a sociedade, pode contribuir positivamente neste sentido.  

Em síntese, ao analisar tais respostas, ficou evidenciado que os problemas existentes no atual cenário da escola não estão relacionados apenas ao comportamento dos estudantes. Os próprios professores também se encontram sem perspectiva quanto ao desenvolvimento da sala de aula. 

4.4 Implementação e testagem

Após a elaboração do plano de aula, que trouxe o desenvolvimento de habilidades socioemocionais como norte para a solução do problema, ele foi apresentado, no dia 28 de abril de 2023, para a escola, em reunião previamente agendada com a diretora escolar, e com a professora escolhida para participar da aplicação do plano. De imediato o plano foi muito bem acolhido e não houve nenhuma sugestão de alteração para a aplicação, visto que, se todo processo fosse acatado pelos alunos e professores, as habilidades socioemocionais seriam desenvolvidas com sucesso e os problemas identificados seriam minimizados. No dia da aplicação da solução final, em 10 de maio de 2023, ao chegar na escola houve receio com relação à recepção que seria dada pelos alunos, visto que durante as aulas que haviam sido assistidas, a disfuncionalidade comportamental dos alunos era claramente presente em todos os contextos da sala. No entanto, ao iniciar a aplicação do plano de aula, os alunos mostraram-se interessados e curiosos com o que ocorreu ali, o que norteou o receio do trabalho para outras expectativas.

O plano de aula consistiu em desenvolver temáticas de gestão de sala de aula e indisciplina através de dinâmicas que buscaram desenvolver nos participantes da aula habilidades e competências que minimizassem os efeitos negativos observados. Na aula havia 28 alunos e duas professoras. Infelizmente as docentes não demonstraram interesse na participação das dinâmicas do plano de aula, o que comprometeu o desenvolvimento das habilidades socioemocionais por elas. 

A aula contou com a organização da turma em um único grupo organizado em círculo, que buscou uma melhor interação entre os alunos e docentes. 

A dinâmica do balão dos sonhos desenvolveu nos participantes a capacidade de posicionar-se de maneira correta e a respeitar o posicionamento do outro, além de direcionar o pensamento dos participantes para a integração de um grupo quando há um trabalho coletivo a ser realizado e a importância do entrosamento e respeito entre as pessoas que convivem no mesmo espaço cotidianamente. Após a conscientização desenvolvida, o plano sugeriu o desenvolvimento de um mapa conceitual onde os alunos puderam elencar as mudanças necessárias entre os participantes da dinâmica, para que ocorressem as melhorias elencadas como forma de comprometimento com a mudança.

Em um segundo momento da aula, foi aplicada uma segunda dinâmica sobre escuta ativa, onde foi apresentado um protocolo de abordagens e comportamentos que demonstram as principais preocupações que devem existir em um processo de escuta ativa. Este protocolo mostrou a importância em seguir normas e regras que podem enriquecer o diálogo e a convivência entre pessoas que se inter-relacionam. Com a aplicação da dinâmica, buscou-se desenvolver a construção de convivências harmoniosas que viabilizam cooperações importantes para ampliar a qualidade de vida de todos.

Após a aplicação das dinâmicas, houve a mostra de dois vídeos motivacionais. O primeiro vídeo, de Mário Sérgio Cortella¹², intitulado “Faça o seu melhor”, mostrou a importância do relacionamento entre alunos e professores e buscou resgatar o relacionamento

harmonioso entre eles (Cortella, 2019). O vídeo foi finalizado com os alunos escrevendo uma carta de reconciliação aos seus mestres, momento em que a grande maioria deles têm consciência da necessidade de mudança com relação a forma como agem dentro da sala de aula. 

O segundo vídeo, também de Cortella, trata de fazer o seu possível ou fazer o seu melhor (Cortella, 2017). Com esse vídeo, pretendeu-se encorajar o protagonismo positivo do estudante. 

Por fim, cada aluno recebeu uma lembrança do projeto a qual trazia uma mensagem de força que enaltece sua importância como aluno dedicado em seu processo de aprendizagem.

Para a aplicação das dinâmicas, todos os recursos foram cedidos pelas próprias desenvolvedoras do PI, o que inclui cartolinas, balões, canetas, lápis e recursos audiovisuais.

Com a finalização do plano de aula, não houve sugestões de melhorias indicadas pelo corpo docente e de alunos.

4.5 Resultados

Seguindo as premissas institucionais de ouvir as pessoas envolvidas, criar opções de solução e sua implementação exequível, para a construção da solução inicial, o grupo realizou uma série de etapas desencadeadas por meio de brainstorming¹³. 

Correspondem a fontes da investigação, da identificação do problema à solução inicial, a coleta de informações com a diretora escolar, que reportou problemas urgentes e significativos a serem abordados, além dos professores que atuam na sala do 7º C, sobretudo a gestão escolar no tocante à didática e disciplina dos alunos, além de consulta aos principais referenciais teóricos e documentais.

Para o desenvolvimento do plano de aula, foi inaugurado um estudo prévio dos materiais do currículo paulista. A princípio, foi realizada uma leitura imersiva do caderno da disciplina Protagonismo Juvenil, no qual foram identificadas algumas dinâmicas que vão ao encontro do conteúdo necessário ao desenvolvimento desta solução. 

Em seguida, outras obras voltadas a projeto de vida foram exploradas, no entanto, persistiu a decisão em trabalhar com algumas das dinâmicas do primeiro livro. Após concluir o levantamento dos conteúdos relevantes, foi esquematizado no plano de aula:

a) o bloco temático: definição das temáticas sobre gestão da sala de aula, didática e indisciplina;
b) os conteúdos: a fim de atender as expectativas dos atores da escola em relação ao ambiente escolar, promover a interação entre professor e aluno e fomentar o conhecimento;
c) os objetivos: o que se espera alcançar com a implementação do plano de aula; 
d) os procedimentos metodológicos: o passo a passo da aplicação do plano, respaldado na metodologia ativa;
e) avaliação: apresentar os instrumentos de avaliação, bem como o período de realização;
f) o mapeamento dos recursos didáticos: a serem utilizados na aplicação das dinâmicas e na avaliação;
g) as referências: referencial teórico que sustentou o desenvolvimento do plano.

Foi fundamental pensar em algo que tivesse um apelo emocional, e, além das dinâmicas escolhidas no currículo paulista, a proposta contempla dois vídeos que abordam a temática do respeito ao docente e da necessidade de se tornar uma pessoa melhor a cada dia.

O plano de aula visa incentivar e desenvolver os alunos a serem mais conscientes e responsáveis pelos seus direitos e deveres, e a formar jovens que desenvolvam um sentimento de coletividade e pertencimento de uma escola qualitativa e equitativa. Objetiva, ainda, oferecer dinâmicas que proporcionem o desenvolvimento dos participantes da aula (alunos e professores) de habilidades e competências que minimizem os efeitos negativos observado, por exemplo a dinâmica do balão dos sonhos, que, além de abranger todos esses aspectos, desenvolve a relação entre grupos, o respeito ao posicionamento e pensamento diverso.

No dia 10 de maio de 2023, foi implementado na sala do 7º ano C, às 16h40, pelas alunas pesquisadoras, compreendendo as seguintes etapas: coordenação de sala; anotações na lousa; facilitador na dinâmica do balão dos sonhos e da escuta Ativa e o registo em diário de bordo.

Fotografia 1 – Apresentação plano de aula aos alunos do 7º C

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Inicialmente, os alunos ficaram curiosos e apreensivos com a nossa presença. Houve uma apresentação pessoal das pesquisadoras e do projeto integrador aos alunos, além de um pedido de silêncio para que a professora pudesse realizar a chamada da sala, estando presentes 28 alunos. Além disso, foi chamada a atenção dos alunos para o foco em sala de aula, a importância dos estudos, além da explicação sobre as dinâmicas a serem realizadas (socioemocionais). Mais uma intervenção de silêncio e a pedido os alunos organizaram a sala com as carteiras em um semicírculo. 

Foi iniciada a aplicação da dinâmica do balão dos sonhos, cujas etapas estão descritas no item 4 do Apêndice A, teve duração de 45 minutos, com a entrega dos balões e tiras de papel aos alunos. Todos os alunos participaram, inclusive a docente. Alguns alunos estavam tímidos e tiveram auxílio para exporem suas sugestões.

Fotografia 2 – Aplicação da dinâmica do balão dos sonhos

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Durante a dinâmica, foram feitas anotações na lousa, tratando-se de apontamentos de alunos como sugestão para melhorias na escola.

Fotografia 3 – Feedback dos alunos em relação à dinâmica do balão dos sonhos

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

 Finaliza-se a dinâmica com sugestões propostas pelos alunos, como: a) relacionamento interpessoal entre alunos e professores; b) consciência de deveres e contribuição de cada um para a preservação do ambiente escolar.

Interessante destacar que os próprios alunos confeccionaram um mapa conceitual com os propósitos para uma escola com ambiente saudável, afixado no fundo da sala de aula e visível para todos, como forma de comprometimento.  

Fotografia 4 – Mapa conceitual

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

A dinâmica teve a seguinte reflexão: os alunos podem chegar aonde quiserem, serem o que quiserem e para isso é necessário a colaboração de todos, respeito e muita dedicação. É preciso ter consciência e força de vontade para realizarem o que desejam. Enfim, serem protagonistas da sua própria história.

A seguir, houve uma explicação sobre o respeito mútuo, ou seja, respeitar para ser respeitado, estar de corpo presente nas aulas e não opinar enquanto o outro fala. Após, foi dado início à dinâmica da escuta ativa, com os procedimentos descritos no Apêndice A, a qual foi apresentada na aula de uma professora que não quis participar, apenas ficou na observação, mas no término agradeceu. 

Para agilizar a dinâmica, ao invés de círculos, foram formadas duplas, posicionadas em duas fileiras, sendo que o lado esquerdo falou por dois minutos enquanto as duplas do lado direito permaneceram na escuta, para que após ocorresse a inversão de papéis. Após a dinâmica, houve um diálogo com os alunos sobre a importância da escuta. Apenas uma aluna se recusou a participar, enquanto os demais apresentaram comportamento tímido e outros mais participativos. 

Foi abordado com os alunos sobre a escuta com empatia na família e na escola, a importância de cada um fazer sua parte e sem comparativos. Afinal, quem se compara não se aceita.

Fotografia 5 – Aplicação da dinâmica da escuta ativa

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Corroborando ao apresentado até o momento aos alunos, foram exibidos os vídeos de Mário Sérgio Cortella, com ênfase dada à importância do professor na sala de aula e o vídeo “Afetividade, Vínculo e Aprendizado”.

Fotografia 6 Exibição do vídeo “Faça o teu melhor”

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Para fomentar a reflexão, alguns alunos escreveram uma breve carta de reconciliação aos professores. A carta tem por finalidade fazer com que os discentes encontrem seu papel como agentes do próprio aprendizado, reconhecendo suas falhas, e como podem alterar esse processo, passando a contribuírem de forma ativa com atitudes e comportamentos adequados, gerando um ambiente propício à aprendizagem.  

No momento da escrita das cartas vários estudantes apresentaram dúvidas sobre o termo reconciliação, pois não sabiam o que significava se reconciliar. Diante desse fato, foi explicado o contexto e importância dessa atividade. Após a explicação 2 alunos se recusaram a participar da escrita das cartas, justificando que não havia o que ser restabelecido entre eles e os docentes. Para a seleção das nove cartas apresentadas neste trabalho, foram estabelecidos alguns critérios, pois, após uma breve leitura, foi verificado que nem todas as mensagens escritas tinham relação ou agregavam valor ao propósito da atividade.

Retornando à aplicação da dinâmica do balão dos sonhos, os discentes receberam a demanda de exporem aquilo que no ambiente escolar sentiam que podia trazer-lhes melhorias, desde objetos ao subjetivismo, como as relações e questões comportamentais, no campo emocional e coletivo. Assim, os participantes deveriam escrever o que desejam de melhoria e suas contribuições nesse processo. 

Ao fim da atividade notou-se que em sua grande maioria as solicitações remeteram a melhorias de infraestrutura, conforme o Gráfico 9, enquanto apenas cinco estudantes escreveram sobre questões emocionais.

Gráfico 8 – Necessidades de melhorias relatadas pelos alunos

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Através da análise destes dados, foram definidos os seguintes critérios para seleção das cartas:

a) as que atendiam a proposta da dinâmica, algumas de forma parcial devido à dificuldade de interpretação do termo pelos alunos;
b) alunos que durante as dinâmicas manifestaram demandas emocionais e coletivas, que afetam a todos.

Fotografia 7 Carta de reconciliação – aluno 1

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Percebe–se na carta de reconciliação do aluno 1 o quanto a indisciplina pode afetar o emocional e até desencadear uma crise de ansiedade, através de um ambiente não saudável e caótico, onde professores choram e os alunos não conseguem ter integração.

Fotografia 8 – Carta de reconciliação – aluno 2

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Na carta de reconciliação do aluno 2 evidencia-se o pouco de empatia da aluna em relação aos docentes, no entanto, a participante reconhece que a indisciplina dos alunos leva à ingratidão pelo trabalho dos educadores, além de uma reflexão de que não gostaria que isso ocorresse com seus pais se estes fossem professores.

Fotografia 9 – Carta de reconciliação – aluno 3

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Na carta de reconciliação do aluno 3 nota-se que o aluno sente falta de empatia dos docentes por eles, porém ressalta que há cobrança por empatia.

Fotografia 10 – Carta de reconciliação – aluno 4

 Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Relata o aluno 4 em sua carta de reconciliação que há falta do domínio do educador em sala de aula, falta de empatia dos alunos, onde leva o comprometimento do aprendizado.

Fotografia 11    Carta de reconciliação – aluno 5

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

A carta de reconciliação do aluno 5 reconhece que todos os alunos deveriam pedir desculpas aos docentes, reconhecendo assim suas responsabilidades pela não aprendizagem.

Fotografia 12 – Carta de reconciliação – aluno 6

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

O aluno 6 faz um pedido de desculpas pelos alunos da sala em sua carta e espera que os outros também façam o mesmo. Relata, ainda, a falta de comportamento dos alunos e dos professores com os alunos na sala de aula.

Fotografia 13 – Carta de reconciliação – aluno 7

  Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

                                                      Fotografia 14     Carta de reconciliação – aluno 8

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

Os alunos da carta 7 e 8, têm uma conduta bastante interessante, apresentam aos professores que talvez o que falte para a sala é uma política de consequência mais afetiva, sugerindo até mesmo a retirada de dentro da sala dos alunos ou uma possível suspensão aos que não tiverem comportamentos dentro do padrão acordado. Além de seus pais serem comunicados dessa conduta prejudicial ao ambiente escolar.

Fotografia 15 – Carta de reconciliação – aluno 9

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

A carta do aluno 9 revela uma reflexão muito séria: o aluno que chama a professora de louca, após uma discussão na sala de aula. Quais são os valores socioemocionais desse aluno?

Relata que a educadora se desculpa, mas ele não a perdoa.

Do Demonstrado, é possível o apontamento de algumas inferências:

a) os alunos sabem qual as suas responsabilidades como discentes? 
b) são capazes de reconhecerem o papel do docente? 
c) o que realmente significa ir à escola para aprender? 
d) qual o valor do aprendizado como um processo libertador e esclarecedor à evolução e formação do cidadão? 
e) qual a importância do respeito mútuo na formação acadêmica? 

Das docentes responsáveis pela sala escolhida, apenas uma participou juntamente com os alunos e a outra se recusou a participar da aplicação do plano de aula, demonstrando desânimo para com a turma, apesar de acolherem o projeto e aprovarem o plano de aula.

Ao final da aula, foi entregue a todos que estavam presentes uma recordação com intuito de mostrar a importância de um aluno que se dedica em seu processo de aprendizagem.

                                                      Fotografia 16    Recordação entregues aos alunos

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2023.

A implementação do plano de aula foi registrada em diário de bordo, ou seja, relatado tudo o que ocorreu durante a aplicação da aula, conforme Apêndice B.

Durante os registros da aplicação das dinâmicas no diário de bordo, duas situações chamam atenção: 

a) o pedido de uma aluna para que tivesse fim dos assédios e bullyings, demonstrando uma certa preocupação e sugerindo palestras sobre o assunto no ambiente escolar; b) outra aluna sugeriu sessões de terapias, causando uma certa preocupação às autoras do projeto no tocante aos sinais de fala e comportamentos depressivos.

Observa-se a importância e o impacto desse tipo de aula onde é despertado o pensamento socioemocional dos alunos, trazendo a reflexão do que pode ser modificado e o que podem fazer para contribuir com essa mudança. 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente projeto buscou analisar e interpretar as principais dificuldades identificadas na sala de aula do 7º C de uma escola estadual, localizada no município de Jundiaí, considerando o processo de interação entre professor e aluno, pautada na gestão da sala de aula e a indisciplina escolar, a fim de oferecer uma proposta pedagógica, sustentada em bases científicas, capaz de promover a participação, colaboração, cooperação e o aprendizado dos alunos. 

Insta consignar que a análise dos documentos escolares e as informações registradas no trabalho a campo permitiram evidenciar a resposta à questão problema no tocante ao comprometimento da gestão da sala de aula pela inexistência de uma didática eficaz, uma vez que o trabalho do educador não pode ser isolado, ele é sistêmico e integrado, tendo outros atores da comunidade escolar: corpo diretor, professores, alunos e pais. No tocante à escola, requer a definição de diretrizes em regimento, plano e proposta escolar, com os quais alunos e pais devem estar comprometidos. Em relação ao docente, suas aulas devem ser planejadas, com o uso de recursos e métodos de ensino eficazes. 

Depreende-se, como fruto desta pesquisa, a importância do planejamento de ações pelo docente para o incremento do aprendizado e o desenvolvimento de competências socioemocionais e cognitivas dos discentes, considerando suas características individuais.

O objetivo geral do projeto, de analisar como estratégias diferenciadas podem auxiliar o docente na gestão da sala de aula e minimizar a indisciplina, desdobrado nos objetivos específicos, foi alcançado com a implementação de um plano de aula com base em técnicas e habilidades importantes para o docente, sendo que o referencial teórico analisado e as informações da comunidade escolar, incluindo a observação em sala de aula, foram achados imprescindíveis ao desenvolvimento. 

Notadamente, verifica-se, diante dos resultados obtidos com a implementação do plano de aula que, apesar dos alunos entenderem a proposta apresentada e participarem ativamente, houve a falta de engajamento por partes destes, desviando o foco do que foi proposto a todo o momento da aplicação do plano de aula, ocasionando que se dispensasse muito tempo para chamar a atenção deles e retomar às atividades propostas. Tais resultados demonstram que a hipótese de que a indisciplina é uma condição que compromete o processo de ensino e aprendizagem, afetando as atitudes do professor em sala de aula e o desenvolvimento das habilidades do aluno. 

Diante das dificuldades encontradas e dos resultados obtidos com sua implementação,  é válido que o impacto à comunidade escolar foi satisfatório e agregou valor ao processo de aprendizagem e relacionamento socioemocional. Apesar de todas as intercorrências relatadas, pode-se considerar que as aplicações das atividades refletiram o contexto do ambiente escolar e fizeram com que os alunos despertassem a consciência para o que é preciso melhorar, conforme se verifica nas cartas escritas, comprovando que a hipótese de que a boa gestão da sala, feita pelo docente, é requisito associado à didática e ao fator aprendizado.

Questões importantes como as abordadas na seção 3, resultantes de reflexões dos próprios alunos, podem ser trabalhadas pelos docentes em sala de aula, retendo, ao mesmo tempo, a atenção dos alunos.

É necessário ressaltar que os resultados efetivos e duradouros no processo de intervenção para elucidar aos discentes o compromisso em assumir o lugar de protagonistas de sua aprendizagem devem ser contínuos e implicam no acompanhamento constante e ajustes de acordo com o ambiente e momento socioemocional e cognitivo dos alunos, coadunado às reflexões do referencial teórico abordado no presente trabalho. É de suma importância o engajamento de alunos e da comunidade escolar para que a disciplina e gestão de sala sejam eficientes e produzam resultados relevantes, pois o desejo de aprender e ensinar deve ser uma busca compartilhada e integrada, onde cada ator é um agente ativo. Assim, chega-se à compreensão de que a educação não acontece só no espaço oficial e por um curto período. Trata-se de um processo contínuo e democrático.

Insta destacar a adequação necessária no momento da aplicação do plano de aula, tendo sido inevitáveis algumas adaptações em atividades para o andamento e conclusão da aplicação da proposta deste projeto, devido às interrupções e brincadeiras constantes e inoportunas da parte de alguns alunos, ensejando o comprometimento do tempo planejado. Também, deve-se levar em consideração que um plano de aula didático como esse tem suas particularidades e podem ocorrer imprevistos, para que o docente seja capaz de utilizar estratégias e recursos ao perceber que a atividade proposta não está tendo o alcance necessário para o aprendizado.

Os docentes precisam estar preparados para eventuais dificuldades, o relacionamento interpessoal entre educador e aprendiz é fundamental para que o plano de aula seja executado de forma adequada. Em suma, conhecer os alunos e o ambiente é essencial para uma boa gestão de sala de aula e disciplina.

Buscar estratégias de acordo com a realidade da sala é uma maneira para uma boa gestão, como foi aplicado no presente plano de aula, com utilização de dinâmicas; oportunidade dos alunos exporem os problemas do dia a dia e seus reflexos na aprendizagem; permitir que os discentes encontrem as respostas de como mudar esse contexto, para que desenvolvam o senso crítico e de valorização do processo em cada uma de duas etapas educacionais; estimular o entendimento da prática da escuta ativa; como professores e alunos podem se autoavaliarem para que a sala de aula se torne um ambiente saudável e prazeroso, onde ocorra desenvolvimento de múltiplas habilidades socioemocionais e cognitivas e haja acolhimento afetivo para a evolução dos alunos.

Dessa forma, sobre a efetividade do plano de aula, pode-se concluir que, apesar do desenvolvimento pelas alunas pesquisadoras de um plano de aula sólido consistente com a realidade encontrada e alinhado às necessidades propostas pelo corpo docente da escola utilizada como base para o estudo, tem como condição a sua manutenção, continuidade e ajustes pelos docentes gestores e orientadores que estão diariamente com os alunos.

Desenvolver um plano de aula que agregue melhorias tanto para a questão da indisciplina dos alunos quanto para a motivação dos professores não foi uma tarefa fácil. Para alcançar esse objetivo, foi concebido para enaltecer a habilidade de protagonismo juvenil, com ênfase na conscientização dos alunos quanto ao conhecimento de que são os responsáveis pelo seu aprendizado.


9Publicação disponível em meio eletrônico sem paginação.
10Corpo docente, equipe escolar e aluno.
¹¹Publicação disponível em meio eletrônico sem paginação.
¹²Filósofo, escritor, palestrante e professor universitário.
¹³Reuniões por meio da qual os participantes identificam problemas e prováveis soluções.

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¹Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. E-mail: ninaoliveira.fmera@gmail.com;
²Discente do Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. E-mail: nanelimaletras@gmail.com;
³Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. E-mail: eunice.sassi.dos.santos@gmail.com;
⁴Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. E-mail: natame53@gmail.com;
⁵Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. E-mail: prifernanda30@gmail.com;
⁶Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. E-mail: sheivavenancio@hotmail.com;
⁷Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. E-mail: susanestrela2@gmail.com;
⁸Discente do Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. E-mail: vivianacenamo@gmail.com.