DIAGNÓSTICO NO MÉTODO DE DESCARTE DO RESÍDUO NA USINA NUCLEAR DE ANGRA DOS REIS-RJ

DIAGNOSIS IN THE WASTE DISPOSAL METHOD AT THE PLANT ANGRA DOS REIS-RJ NUCLEAR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8010100


Fellipe Meneses Malaquias;
Gabriel André Rampinelli;
Lucas Daniel Félix Silva;
Paulo Henrique Silva Santos;
Orientador: Dr. George Hiroyosi da Silva e Oliveira Yabusaki;
Coorientador: Dr. Anderson Figueiredo da Costa.


RESUMO

A energia nuclear ou energia atômica pode ser classificada como a liberação de energia em uma reação nuclear gerando um processo de transformação dos núcleos atômicos. No Brasil o sistema foi implantado em meados da década de 50, quando surgiram as aplicações biomédicas de radioisótopos. Um dos papéis fundamentais da energia nuclear é a utilização para a geração de energia elétrica, a maioria das usinas nucleares, são usinas térmicas que utilizam o calor produzido na fissão para mobilizar o vapor da água, a qual movimenta as turbinas para pôr fim à energia. O desenvolvimento integral da obtenção do combustível nuclear pode ser denominado como “ciclo do combustível” a qual é compreendido por diversas etapas diferentes, como, por exemplo, extração do minério do solo, conversão em gás do produto do beneficiamento, o chamado yellow cake (ou ‘bolo amarelo’) entre outros. Neste sentido, o presente trabalho realizará um levantamento de como é o processo de descarte e armazenamento do dejeto nuclear gerado pelo reator do Centro Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA).

Palavras-chave: Usinas; Nuclear; Energia; Dejeto; Térmicas.

ABSTRACT

Nuclear energy or atomic energy can be classified as the release of energy in a nuclear reaction generating a process of transformation of atomic nuclei. At the Biomedical applications of radioisotopes. One of the fundamental roles of nuclear energy is the use for the generation of electrical energy, most nuclear power plants are thermal power plants that use the heat produced in fission to mobilize water steam, which moves the turbines to put an end to energy. . The integral development of obtaining nuclear fuel can be called the “fuel cycle”, which is understood by several different stages, such as, for example, extraction of ore from the ground, conversion of the product of processing into gas, the so-called yellow cake ( or ‘yellow cake’) among others. In this sense, the present work will carry out a survey of how is the process of disposal and storage of the nuclear waste generated by the reactor of the Centro Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA).

Keywords: Power plants; Nuclear; Energy; manure; Thermals.

  1. Introdução

A definição de energia nunca foi exata, para alguns físicos a energia pode ser considerada a capacidade que um corpo, uma substância ou um sistema físico têm de realizar trabalho, para alguns filósofos como Aristóteles é a ação de um motor (físico ou metafísico) que permite a atualização de uma potencialidade. Embora não seja possível ter uma definição exata, conseguimos compreender que a energia pode ser considerada facilmente como o ingrediente principal para o desenvolvimento da população dos países de todo o planeta, para Goldemberg; et al, 2008. O consumo de energia per capita pode ser utilizado como um indicador da importância dos problemas que afetam alguns países, onde estão concentradas 70% da população mundial.

A partir da década de 70 o consumo de energia no Brasil vem aumentando a cada ano cerca de 4,6%, causado pelo crescimento eminente da população brasileira, a maior parte do consumo de energia no país é realizada através do setor industrial. Segundo BEN, 2022 (Balanço energético nacional). As maiores fontes internas de energia no país são o petróleo e derivados com 34,2%, seguido pelos derivados da cana com 16,4%. A energia nuclear entra apenas como participação das fontes de capacidades instaladas, tendo a contribuição de 1%.

Em 1950 a energia nuclear obteve um constante crescimento no mundo, alcançando cerca de 400 reatores e uma capacidade superior a 300 GW até o final da década de 1980, impulsionado pelas políticas de segurança enérgica para lidar com os choques do petróleo. Em 2011, após o grave acidente em Fukushima no Japão͕ e o desligamento temporário de todas as usinas japoneses, fez com que tivesse um declínio nos reatores em funcionamento, caindo assim para baixo dos 400 reatores, em 2016 os níveis voltaram a subir, mas foi apenas em março de 2020 que se estabeleceu um total de 443 reatores e uma capacidade de 391 GW distribuído por 31 países diferentes.

No Brasil existem duas usinas nucleares em operação (Angra I e Angra II) localizadas no Rio de Janeiro, atualmente a terceira unidade está em processo de construção. Baseando-se na geração dos resíduos nucleares dessas usinas, gera-se a seguinte pergunta: qual é o método utilizado no descarte dos dejetos nucleares das usinas de Angra dos Reis? Pergunta a qual é respondida no decorrer do projeto. Desta forma o presente trabalho tem como foco o levantamento dos processos utilizados para realização devidamente correta do despojamento de tais resíduos.

  1. Energia nuclear

Energia é a capacidade de realizar trabalho ou alguma ação. Qualquer coisa que esteja trabalhando, movendo outro objeto ou aquecendo-o, está gastando energia. Toda forma de energia pode ser transformada em outra, e não temos nenhuma perda de energia durante o processo, mas podemos ter um certo gasto energético para poder realizar a transformação. O presente artigo, dará ênfase na energia nuclear, que consiste na transformação da energia térmica provida da colisão de átomos de urânio. Assim, estamos falando sobre a transformação do calor gerado, em energia elétrica.(NUCLEAR, 2023)

A energia nuclear se deve ao físico Arthur Jeffrey Dempster em 1918 que criou o primeiro espectrômetro moderno, descobrindo o isótopo urânio 235 (U-235), em 1922 devido algumas melhorias em seu espectrômetro Arthur J. Dempster descobriu outros 212 isótopos lhe rendendo um prêmio Nobel.(USP, 2023)

O Urânio 235 não é encontrado em sua forma necessária para geração de energia nuclear, é preciso enriquecê-lo tendo em vista que apenas 0,7% de U-235 é encontrado direto na natureza dentro do U-238. O processo de enriquecimento via centrífuga consiste em colocar o U-238 em uma centrífuga e adicionar um gás chamado Hexafluoreto de urânio durante a centrifugação, devido o U-238 ser mais pesado ele é jogado contra as paredes do equipamento e desce enquanto o U-235 por ser mais leve fica no centro sendo extraído pela parte superior do equipamento, conforme imagem abaixo.(USP, 2023)

Figura 1: Como a centrífuga separa átomos de urânio, o U-235 e o U-238
Fonte: (BBC NEWS BRASIL, 2019)

Para produção de energia nuclear se utiliza de 3% a 5% de isótopo de U-235, devido sua reação em cadeia trabalhar com essa quantidade se obter um maior controle sobre essa matéria durante o processo de geração de energia, os outros 97% se utilizam o U-238 por ser uma matéria significativamente mais estável. Segundo a BBC, 2020. O U-235 é utilizado acima de 3% em outras duas situações, 20% em estudos científicos e em armas atômicas que utilizam em média 90% de U-235 em suas composições.(BBC NEWS BRASIL, 2019)

Após o enriquecimento, o U-235 é formatado em péletes, semelhante a uma pílula.

Figura 2: Péletes de U-235
Fonte: (VEGA, [s.d.])

Após os péletes serem produzidos, são colocados em barras de combustível, ao se obter um conjunto de barras é formado um conjunto de combustível. (NEY STROSKY, 2018)

Figura 3: Conjunto de barras de combustível de U-235
Fonte: (NEY STROSKY, 2018)

Quando montado o núcleo a geração de energia elétrica já pode ser iniciada, então é colocado no núcleo um nêutron fazendo com que a instabilidade do U-235 entre em ação fazendo com que o processo de fissão se inicie em cadeia, o nêutron se choca com o núcleo de U-235 com tanta força que o núcleo de divide em duas partes e por sua vez o nêutron também.

Figura 4: Esquema do processo de fissão nuclear
Fonte: (BATISTA, CAROLINA [s.d.])

Esta reação é tão forte que é gerada uma enorme quantidade de energia térmica que por sua vez é utilizada para aquecer a água até virar vapor, direcionado por via de tubulações até uma turbina que gira um motor, gerando energia elétrica.

Figura 5: Funcionamento de uma usina nuclear
Fonte: (ENGENHARIA 360, 2023)

2.1 Energia nuclear no Brasil

No Brasil a energia nuclear teve seu início a partir da década de 50, quando foi consolidado os padrões de ensino e pesquisa da Universidade de São Paulo, desenvolvendo assim o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), atualmente o setor responsável pelo IPEN é a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). A partir de 1950 o Brasil deu seus primeiros passos para o uso da energia nuclear no país, com aplicações de radioisótopos utilizados para a detecção de falhas, controle de qualidade e até mesmo de produção, especificamente nas indústrias metalúrgicas, no entanto, só a partir de 1959 que o Instituto de energia começou a produção de radiofármacos.

Segundo (CARVALHO, 2012), a sociedade tem aceitado bem as atividades para aplicações nas indústrias, biomédicas e agrícolas da energia nuclear, assim como o projeto de enriquecimento de urânio. Apesar deste fato, ainda existem inúmeras informações incorretas sobre este segmento de energia, como, por exemplo, acreditar que as usinas nucleares poderão garantir o suprimento da eletricidade ilimitadamente.

Atualmente a energia, esse tipo de energia pode ter um papel de destaque nos serviços de abatimento de emissão de gases de efeito estufa, assim como desenvolver maior resiliência dos sistemas elétricos.

Em 1985 foi inaugurada a primeira usina nuclear do país, Angra 1, localizada em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. Desde então, o Brasil tem investido na construção de novas usinas nucleares para aumentar a capacidade de geração de energia elétrica. Atualmente, o Brasil possui duas usinas nucleares em operação, Angra 1 e Angra 2, com capacidade total de geração de energia elétrica de aproximadamente 1.990 MW. A construção de uma terceira usina, Angra 3, está em andamento, mas tem enfrentado atrasos e dificuldades financeiras.

Inserida na Mata Atlântica, a CNAAA (Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto) é rodeada por uma natureza rica de biodiversidade da região de Angra dos Reis, Paraty e rio Claro, (“RELATORIO DE ATIVIDADES 2014 -.pdf”, [s.d.]).

Devido ao espaço relativamente pequeno que as instalações das usinas nucleares ocupam, é dispensável o desmatamento e desapropriação de áreas para sua implantação, não alterando significativamente o meio ambiente em que são instaladas. Para efeito de comparação, a maior hidrelétrica do Brasil, Itaipu, tem um reservatório de 1.359 Km de área alagada e possui capacidade instalada de 14.000 MW e produção de 10,4 MW/Km², já as usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2 ocupam uma área de 3,5 Km, com uma capacidade instalada de 1.990 MW e índice de produção de 570 MW/Km, (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2002).

Um dos principais impactos causados ocorre na extração do urânio, causando impactos no solo, água e na saúde dos trabalhadores, isso se dá pelo fato de que toda a cadeia de produção do urânio tem a base de radioatividade, os níveis emitidos durante a fase de extração do minério e de operação, operação da usina é monitorado e controlado constantemente, (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2008).

Grande parte das usinas nucleares usam quantidades de água para o funcionamento do sistema de refrigeração, mas um impacto ambiental causado pela mesma é a liberação de calor, que ao se dissipar pelas torres causa pequenas ilhas de calor no entorno da usina (GONÇALVES, FELIPE; RUIZ, RENATA HAMILTON DE, 2016).

A usina de Angra 1, localizada na praia de Itaorna no município de Angra dos Reis, descarrega aproximadamente 30 m/s de água utilizada para refrigerar o sistema de geração de energia elétrica no saco de Piraquara de Fora, baía da Ilha Grande, (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2002).

No Brasil a política nuclear brasileira (PNB), a qual foi estabelecida no decreto nº 9.600, de 5 de dezembro de 2018, consolida inúmeras diretrizes norteadoras, tendo como principal finalidade de orientar e planejar as ações e atividades nucleares e radioativas do país, como podemos verificar algumas abaixo:

  • Preservar o domínio da tecnologia nuclear no País;
  • Atender às decisões futuras do setor energético quanto ao fornecimento de energia limpa e firme͕ por meio da geração nucleoelétrica;
  • Garantir o uso seguro da tecnologia nuclear e fortalecer as atividades relacionadas com o planejamento͕, a resposta a emergências e eventos relacionados com a segurança nuclear e a proteção física das instalações nucleares.

Apesar das políticas públicas criadas para inovar cada vez mais na produção de energia nuclear, segundo o EPE (Empresa de Pesquisa Energética) em 2020, esta fonte de energia não emissora, representou apenas cerca de 2% da oferta interna de energia elétrica, como pode ser visualizado na tabela abaixo:

Figura 6: Gráfico de fonte de energia térmica 2020.
Fonte: (EPE, “A TRANSIÇÃO DA GERAÇÃO NO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO”, [s.d.], 2021)

Desta forma é possível compreender que o Brasil ainda tem um longo período a percorrer pela frente no sentido da utilização da energia nuclear, no entanto, devemos destacar que esta fonte energética só pode ser utilizada para fins pacíficos e mediante aprovação do congresso nacional, como está descrito na constituição brasileira de 1988.

2.2 Resíduos nucleares

Os resíduos nucleares são os materiais destinados ao descarte, em virtude de não possuírem mais função no processo. Seja ele da medicina, indústria, acidentes ou rejeito do reator nuclear. Em função da radioatividade esses elementos não podem ser descartados de maneira comum, a CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear estabelece normas com limites de exposição, a partir da Lei 10.308/2001.

A CNEN é também responsável pela divisão em classes dos resíduos nucleares, a partir dos níveis de radiação. (LANA; ALMEIDA, 2016)

Tabela representando as classes definidas pela CNEN.

Classe 0Rejeitos Isentos(RI)
Classe 1Rejeitos de Meia-Vida Muito Curta (RVMC)
Classe 2Rejeitos de Baixo e Médio Níveis de Radiação (RBMN)
Classe 2.1Rejeitos de Baixo e Médio Níveis de Radiação (RBMN)
Classe 2.2Meia-Vida Curta (RBMN-VC)
Classe 2.3Rejeitos Contendo Radionuclídeos Naturais (RBMN-RN)
Classe 2.4Rejeitos de Meia-Vida Longa (RBMN-VL)
Classe 3Rejeitos de Alto Nível de Radiação (RAN)

(ELETRONUCLEAR, 2023)

Os rejeitos que apresentam atividade inferior estão entre: luvas, aventais, máscaras, ferramentas, vidrarias de laboratório contaminados. Todos esses são armazenados em tambores por 50 a 300 anos. Entre os de média atividade, filtros de ar, de purificação do refrigerante e partes de equipamento substituídas são guardadas após sua incorporação em matriz sólida por cimentação e ficam armazenados também por 50 até 300 anos presentes.

Em muitos reatores utilizam técnicas de enterrar rejeitos de baixa e média atividade. A região de Nevada, nos Estados Unidos, era um local de testes nucleares, não à toa foi onde a primeira bomba nuclear foi detonada, por volta de 1951. Entre 1951 e 1992, foram realizados 928 testes nucleares.

Rejeitos de baixa atividade, já tiveram um destino de valas. Oak Ridge National Laboratory é um exemplo de reator onde isso era feito. Laboratório esse cujo objetivo era produzir e separar plutônio, no desenvolvimento de uma bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial no Projeto Manhattan.

Na alta atividade, é onde os combustíveis exauridos se encaixam. Anualmente troca-se ⅓ do combustível nuclear. A alta radioatividade também faz com que atinja altas temperaturas, sendo necessário ser estocado em uma piscina com profundidade de 10 m a 12 m, fica alocada nessa piscina que se encontra próximo ao prédio do reator de 5 a no máximo 40 anos. Após cheia, os rejeitos são migrados para dry casks (cilindros de em média 5,2 m de comprimento, 2,5 m de diâmetro e 150 toneladas.

Ainda não existem no mundo depósito permanente para o descarte de rejeito de combustível queimado de reator. Nos Estados Unidos existem cerca de 97 reatores de potência alta operacionais, sendo 36 deles desativados e dois em construção. Acredita-se que já tenham produzido 75 mil toneladas de rejeito altamente radioativo.

Desde o primeiro reator nuclear nos Estados Unidos, para extração de plutônio em 1944, em Handford, na Califórnia, iniciou-se uma corrida tecnológica, sem a consciência da importância do descarte adequado.

Após as piscinas lotarem, um processo que ficou muito popular foi o descarte no mar. Havia cogitado também a ideia de jogar no espaço, mas existia a eminente chance de retorno para o solo. Foi proposto pelo departamento de energia americano escrever a seguinte mensagem junto ao rejeite:

“Este lugar não é um lugar de honra. 
Nada extremamente estimado é comemorado aqui.
Nada de valor está aqui.
O que está aqui é perigoso e nos causa repulsa.
Esta mensagem é um aviso sobre perigo”.
(OKUNO, E. 2019)

3. DISCUSSÕES E RESULTADO

CENTRAL NUCLEAR ALMIRANTE ÁLVARO ALBERTO (CNAAA)

Angra 1 atua com 121 elementos já Angra 2 com 193, esses elementos combustíveis irradiados (ECI) é o elemento utilizado no reator, o ECI permanece no núcleo do reator aproximadamente 3 anos, cada ano equivale a 1 ciclo, logo após é trocado por um novo elemento.

Após essa troca esses elementos são armazenados inicialmente em racks submerso em uma piscina existente em Angra 1 e Angra 2, essas piscinas possuem um sistema de troca de calor, na qual permite a remoção do calor residual gerado pelo combustível armazenados, essa piscina conta com uma camada de água borrada com profundidade de 7 metros até os racks, essa camada tem a função de blindagem, ou seja, reduz a radiação a níveis adequados, assim permitindo os operadores da usina trabalhar ao redor do reservatório. (ELETRONUCLEAR, 2023)

No entanto, o objetivo de armazenar esses Elementos Combustíveis Irradiados (ECI) em Piscina de Combustível Irradiado (PCI) localizados dentro de instalações nucleares é reduzir a capacidade limitada de armazenamento desses ECIs nessas piscinas para uso a longo prazo, a gestão de combustível nuclear irradiado. Para acomodar o ECI armazenado a longo prazo na PCI, os elementos combustíveis devem agora ser transferidos para métodos alternativos de armazenamento. Uma proposta de utilização de uma unidade de armazenamento seco está em desenvolvimento no Brasil e representa uma alternativa ao componente de locação incluído na PCU e entrou em operação em 2021. (ELETRONUCLEAR, 2023)

O objetivo do UAS é abrigar os primeiros elementos combustíveis das usinas Angra 1 e Angra 2, sob responsabilidade da Eletrobras Termonuclear S.A.-Eletronuclear (ETN). Nesse sentido, a Eletronuclear, em conjunto com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), implementou o projeto adicional da Unidade de Armazenamento a Seco de combustíveis irradiados e a licença total da instalação para 15 overpacks (Cânister), dos quais 6 são destinados a Angra 1 e 9 unidades para Angra 2 como alternativa ao fornecimento adicional de Elemento Combustível Irradiada (ECI). Serão retiradas 288 ECI de Angra 2 e 222 ECI de Angra 1, abrindo espaço nos reservatórios de armazenamento por mais cinco anos. A instalação de armazenamento a seco pode conter até 72 módulos e pode armazenar ECI até 2045.(HOLTEC, 2021)

“Cânister” nomenclatura usada para o sistema de armazenamento a seco, se caracteriza por ser um casco de metal em aço inoxidável, soldado, com capacidade de armazenar até 37 elementos combustíveis, possui dimensões aproximada de 2 metros de diâmetro,4,6 metros de altura e 25mm de espessura, tendo a principal função o armazenamento de todo material radioativo, espaçadamente para que não ocorra reação nuclear assim permitindo a troca de calor com o meio externo. O Cânister é englobado por um casco de transferência de aço carbono com 300 mm de espessura, cuja função é a blindagem radiológica e estabilidade estrutural durante o processo de transporte (carregamento, descarregamento e movimentação entra a piscina das usinas e a UAS), um módulo de armazenamento que envolve o Cânister e o casco de transferência, tento estrutura em concreto e aço, com espessura de 70 cm, a função deste módulo é garantir a proteção física e estrutural e blindagem radiológica, além promover troca de calor entre o cânister e o meio externo. Esta forma de armazenamento é similar em cerca de 70 unidades americanas, tendo aproximadamente 2.300 cascos, e não se tem nenhum registro de incidentes com esse material radioativo, esse projeto tem um valor total de R$439,19 milhões, custo estimado para a contratação principal será de US$ 62,51 milhões. O prazo de implementação é de 34 meses e para iniciar as transferências dos ECIs é de 8 meses (4 meses para cada unidade).(ELETRONUCLEAR, 2023)

Figura 07: ARMAZENAMENTO A SECO DE RESIDUOS NUCLEARES
Fonte: (ELETRONUCLEAR, 2023)

O modelo de unidade de armazenamento a seco empregue na CNAAA é o HI-STORM FW (Holtec International Storage Module Flood and Wind), desenvolvido e fornecido pela empresa Holtec International.

A Holtec International disse em 4 de maio de 2021 que o primeiro recipiente multifuncional contendo combustível foi carregado em um módulo HI-STORM FW e colocado na nova instalação de armazenamento seco de combustível usado na CNAAA.(HOLTEC, 2021)

Inicialmente, o processo de transferência é realizado com a transferência do cânister e do casco de transporte, também chamado de Hi-Trac para o local de armazenamento de elementos combustíveis irradiados localizado na PCU. Antes de submergir o Hi-Trac, ele é lavado com água purificada para evitar a contaminação da superfície do casco. O cânister é então colocado dentro do Hi-Trac, onde é submerso na PCU.

O conjunto devidamente localizado na PCU receberá a carga ECI, separando suas colocações definidas dentro da rede respeitando a topologia e geometria dos elementos combustíveis. Observa-se que a tipologia de um elemento combustível derivado de Angra 1 (reator PWR) será localizado no MPC com 37 vacâncias, considerando o armazenamento de até 12 combustíveis danificados em locais específicos no reticulado.

Depois de carregar os elementos combustíveis irradiados no cânister, ainda localizado na PCU, a tampa superior é colocada e o conjunto é movido para soldar a tampa no cânister. Posteriormente, a água contida no interior do casco é drenada, introduzindo um gás inerte, normalmente o Gás hélio (He) que é utilizado para evitar a oxidação dos elementos combustíveis, referido ao seu revestimento e favorecer a transferência de calor entre o interior do cânister e o ambiente externo.

Depois de selar a tampa ao casco, o Hi-Trac é transferido e direcionado ao casco de armazenamento, chamado de Hi-Storm.(TV, ELETRONUCLEAR. 2021)

FIGURA 08: MPC-32ML É CARREGADO NO SISTEMA DE ARMAZENAMENTO SECO HI-STORM FW
FONTE: (GRANT, AMY. 2021)

O conjunto é então transportado por um veículo de transporte especial, chamado de “goldhofer”, que leva o Hi-Storm até a UAS. No pátio da UAS, a máquina de movimentação de cascos, chamada CHM, coloca o Hi-Storm em sua posição final. (TV, ELETRONUCLEAR. 2021)

FIGURA 09: CAMINHÃO DE CARGA PESADA HI-TRAN 300 DA HOLTEC
FONTE: (GRANT, AMY. 2021)

FIGURA 10: MPC-32ML ALOCADO NO ISFSI PAD NA USINA NUCLEAR DE ANGRA
FONTE: (GRANT, AMY. 2021)

4. CONCLUSÃO

Em virtude dos dados apresentados, podemos concluir que as usinas nucleares têm uma atuação muito importante na diminuição do impacto no meio ambiente em comparação com hidrelétricas, diminuindo a área utilizada em quase 400 vezes e obtendo um índice de produção quase 600 vezes maior a depender do caso. Além disso, elas não apresentam uma necessidade de backup como as renováveis, que em virtude de dependerem do clima, termelétricas necessitam estar à disposição caso as mesmas situações climáticas sejam adversas.

A oferta de energia é proporcional ao crescimento do PIB de um país, ou seja, uma das coisas mais importantes para os países em desenvolvimento crescerem é baratear a energia. Portanto, a energia nuclear, por ser a mais densa, pode ter papel importantíssimo em um futuro com uma demanda de energia crescente devido às grandes revoluções de tecnologia.

O processo de descarte em Angra é semelhante ao de outros países, tendo participação da empresa internacional hi-tec nos cascos de armazenamento. Os perigos de possíveis contaminações por radiações são improváveis pela presença de inúmeras camadas de profundidade de água antes do descarte. Após o resfriamento, a inserção de gás hélio dentro do canister e a cobertura do casco trazem total segurança.

Um pequeno impacto negativo é a água do mar, que mesmo não sendo afetada pela radiação, sofre influência da temperatura, gerando a poluição termal. Em Angra são recolhidas análises da temperatura em 0,5 m; 2 m e 4 m de profundidade. Durante 30 anos de análises as mudanças térmicas consideráveis foram apenas na profundidade de 0,5 m; que em virtude de estar mais próximo da superfície, dissipa o calor de maneira muito rápida. Por tanto, em angra este possível impacto negativo não é relevante.

O acompanhamento da vida marinha é outra tarefa presente em Angra, são feitas análises das espécies presentes e comparadas com os anos anteriores. Dentro dessas análises estão inclusos plâncton, bentos e necton. Outros pontos analisados são a salinização da água e oxigênio absorvido, que também não houve alterações consideráveis.

Com base nos estudos realizados, percebeu-se que a Unidade de Armazenamento a Seco de Combustíveis Irradiados é seguro de modo geral, mas apresenta limitação de espaço físico necessário para o armazenamento futuro.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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