REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10800201
Maria Margareth De Sousa
Dr. Francisco Alberto Severo De Almeida
Resumo
Este estudo propõe uma significativa contribuição teórica ao analisar a conexão entre desigualdade ambiental, justiça climática e eventos climáticos extremos no contexto brasileiro, a partir das ideias de Michel Foucault e de outros autores relevantes. Adotando uma abordagem foucaultiana, investigamos como as estruturas de poder e controle permeiam a gestão ambiental e a resposta aos eventos climáticos extremos, influenciando a distribuição dos impactos climáticos e a percepção pública da justiça climática. Por meio de uma análise crítica, buscamos compreender as complexas dinâmicas sociais e de poder que contribuem para a formação e persistência da desigualdade ambiental. Além disso, identificamos as estratégias de controle e resistência adotadas por diversos atores sociais diante desse desafio. O estudo também tem como objetivo promover reflexões e discussões que catalisem uma busca mais imparcial e inclusiva pela justiça climática no contexto brasileiro. Ao explorar as conexões entre as teorias foucaultianas e as questões ambientais críticas, este estudo visa a enriquecer o entendimento das complexas relações entre poder, sociedade e meio ambiente. Ao fazê-lo, pretende-se contribuir para construção de um futuro mais perseverante, justo e sustentável em face dos desafios climáticos que o Brasil e o mundo enfrentam na atualidade.
Palavras-chave: Desigualdade Ambiental; Justiça Climática; Eventos Climáticos Extremos.
Abstract
This studyproposes a significant theorical contribution by analyzing the connection between enviromental inequality, climate justice, and extreme weather events in the brazilian context, drawing from the ideas of Michel Foucault and Other relevant authors. Adopting a foucaldian approach, we investigate how power and control structures permeate environmental management and the response to extreme weather events, influencing the distribuition of climate impacts and public perception of climate justice. Through critical analysis, we aim to understand the complex social and power dynamics that contribute to the formation and persistence of environmental inequalyty. Moreover, we identify the strategies of control and resistence adopted by various social actors in the face of this challenge.The study also aims to foster reflections and discussions that catalyze a more impartial and inclusive pursuit of climate justice in the Brazilian context. By exploring the connections between Foucauldian theories and critical environmental issues, this study seeks to enrich the understanding the complex relationships between power, society, and the environment. In doing so, it aims to contribute to the construction of more persevering, fair, and susttainable future in the face of the climate challenges that Brazil and the world currently face.
Keywords: Environmental inequality; Climate Justice; Extreme Weather Events
1 Introdução
A desigualdade ambiental e a justiça climática emergem como tópicos cada vez mais presentes na esfera global, especialmente diante do aumento dos eventos climáticos extremos. No contexto brasileiro, marcado por ricos recursos naturais e uma diversidade socioambiental ampla, a interligação entre desigualdade ambiental, eventos climáticos extremos e a busca por justiça climática assume um papel ainda mais crucial.
A disparidade ambiental engloba a discrepância na distribuição de recursos, infraestrutura e impactos ambientais entre diversos grupos e comunidades. Essas desigualdades são muitas vezes ampliadas pelos eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e tempestades, que impactamos de maneira desproporcional as populações mais vulneráveis.
A busca pela justiça climática, por sua vez, Visa garantir uma postura equitativa na diante dos desafios climáticos. Isso implica em assegurar que as comunidades mais afetadas tenham acesso a recursos, resiliência e participação nas decisões relacionadas ao meio ambiente. Nesse contexto, uma perspectiva foucaultiana surge como um instrumento valioso para examinar as dinâmicas de poder e controle presentes na gestão ambiental e na resposta aos eventos climáticos extremos.
Michel Foucault, notável filósofo e teórico social, engendrou uma abordagem que desvela as relações de poder e os mecanismos de controle intrincados na sociedade. Sua análise focaliza não apenas como o poder se manifesta, mas como as estruturas de poder influenciam os discursos, as práticas institucionais e as percepções sociais. Mesmo que seu pensamento não esteja diretamente ligado à desigualdade ambiental e a justiça climática, suas premissas podem servir como ponto de partida para orientar nossa investigação.
Ao adotar essa perspectiva, reconhecemos que a complexidade da desigualdade ambiental injustiça climática não se resume à mera soma de informações isoladas sobre os impactos das mudanças climáticas em diferentes grupos sociais. Em sua obra Foucault (1996 p.31), na aula inaugural no College de France em 1970, afirma que: “Da mesma forma que a medicina não se resume a uma lista de fatos verdadeiros sobre as doenças e a botânica não é definida pela acumulação de todas as verdades sobre as plantas.” Abordar a desigualdade ambiental injustiça climática demandam análise profunda e abrangente.
Foucault (2013, p.26) destaca ainda que “É preciso também que nos inquietemos diante de certos recortes ou agrupamentos que já nos são familiares.” Isso nos lembra da importância de examinar criticamente os conceitos tradicionais relacionados à desigualdade ambiental e a justiça climática no contexto brasileiro. Isso requer não apenas considerar os efeitos climáticos desiguais, mas também avaliar estruturas de poder, desigualdade socioeconômicas, distribuição de recursos, acesso a serviços básicos e vulnerabilidades específicas de certas comunidades. A desigualdade ambiental e justiça climática são fenômenos multifacetados que exige uma abordagem holística considerando as complexas dinâmicas de poder e as injustiças estruturais.
Portanto, ao incorporar esse pensamento de Foucault, buscamos entender como as estruturas de poder e controle moldam a distribuição dos impactos climáticos, a resposta Governamental e a percepção social da justiça climática. Este estudo se propõe a analisar essa junção, aplicando abordagem teórica fundamentada nos conceitos foucaultianos, a fim de compreender como tais estruturas afetam os aspectos-chave da desigualdade ambiental e da busca por justiça climática no contexto brasileiro.
Por meio de uma revisão bibliográfica abrangente, exploraremos os estudos e as teorias relevantes sobre desigualdade de ambiental, justiça climática e eventos climáticos extremos no Brasil. A análise foucaultiana nos permitirá identificar as dinâmicas de poder presentes na gestão ambiental, discursos institucionais adotados, bem como resistências e esforços por equidade.
Este estudo, ao compreender as complexas relações de desigualdade ambiental, eventos climáticos extremos e justiça climática no Brasil, busca fomentar ações mais eficazes e inclusivas diante dos desafios climáticos. Através da perspectiva foucaultiana almejamos oferecer uma análise crítica que proporcione uma reavaliação das estruturas de poder e controle na gestão ambiental, impulsionando uma busca mais equitativa pela justiça climática em nosso país.
2 Objetivo Geral:
Analisar a conexão entre justiça climática e eventos climáticos extremos no Brasil, com fundamentação nos conceitos de Michel Foucault e de outros autores relevantes.
2.1 Objetivos específicos:
Analisar a frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos ocorridos no Brasil nos últimos anos utilizando dados em informações disponíveis em relatórios climáticos, registros meteorológicos e estudos científicos.
Investigar os impactos socioambientais dos eventos climáticos extremos em diferentes regiões do Brasil, analisando os efeitos sobre a infraestrutura, a saúde pública, agricultura, recursos hídricos, biodiversidade e as populações vulneráveis.
Avaliar as políticas públicas e as estratégias de adaptação aos eventos climáticos extremos implementadas no Brasil, analisando a efetividade das medidas adotadas, a coordenação entre os diferentes níveis de governo e a participação da sociedade civil.
3 Metodologia
Este estudo será conduzido por meio de uma pesquisa de natureza bibliográfica, utilizando fontes secundárias como artigos científicos, relatórios técnicos, documentos governamentais, estudos acadêmicos e outras publicações relevantes. Inicialmente, será realizado um amplo levantamento bibliográfico para selecionar referências pertinentes relacionadas aos eventos climáticos extremos, justiça climática e contexto brasileiro. Em seguida, essas fontes serão analisadas criticamente, buscando identificar teorias, conceitos e abordagens relevantes para a pesquisa. A discussão e síntese dos resultados permitirão estabelecer conexões entre os estudos e propor percepções para a compreensão da relação entre justiça climática e eventos climáticos extremos no Brasil, incluindo suas implicações na desigualdade ambiental.
Essa metodologia da pesquisa bibliográfica permitirá uma análise a profunda da conexão entre justiça climática e é ventos climáticos extremos do Brasil baseada em informações e conhecimentos já disponíveis. Embora não envolva a coleta de dados primários, essa abordagem fornecerá uma compreensão crítica e embasada sobre o tema contribuindo para o avanço do conhecimento e a formulação de ações efetivas para enfrentar esses desafios.
A metodologia proposta para este estudo é uma pesquisa de natureza bibliográfica, utilizando Fontes secundárias como artigos científicos, relatórios técnicos, documentos governamentais, estudos acadêmicos e outras publicações relevantes. Inicialmente, será realizado um amplo levantamento bibliográfico para selecionar referências relacionadas aos eventos climáticos extremos, justiça climática e contexto brasileiro. Em seguida, essas Fontes serão analisadas criticamente para identificar teorias, conceitos e abordagens pertinentes à pesquisa. A discussão e síntese dos resultados permitiram estabelecer conexões os estudos e propor percepções para compreender a relação entre justiça climática e eventos climáticos extremos no Brasil, considerando suas implicações na desigualdade ambiental. Essa metodologia de pesquisa bibliográfica possibilitará uma análise aprofundada da conexão entre justiça climática e eventos climáticos extremos no Brasil, com base em informações e conhecimentos já disponíveis. Embora não envolva a coleta de dados primários, essa abordagem fornecerá uma compreensão crítica e embasada sobre o tema, contribuindo para o avanço do conhecimento e a formulação de ações efetivas para enfrentar esses desafios.
4 resultados e discussões
4.1 eventos climáticos extremos e justiça social no brasil.
Os eventos climáticos extremos têm sido amplamente noticiados pela mídia em várias cidades do Brasil. Esses eventos incluem fenômenos como tempestades, enchentes, secas prolongadas, ondas de calor intensas e outros eventos meteorológicos fora do padrão normal. Embora não seja possível afirmar com certeza se esses eventos específicos são diretamente causados pelas mudanças climáticas, há um consenso científico de que a frequência e a intensidade desses eventos tendem a aumentar no futuro devido às mudanças climáticas.
O Brasil é um país de dimensões continentais e como tal apresenta uma grande diversidade de climas E condições meteorológicas. Essa diversidade climática resulta em diferentes regiões do país sendo afetadas de forma distinta por eventos climáticos extremos. Enquanto alguma área sofre com consequências devastadoras das chuvas intensas, como enchentes e deslizamentos de terra, outras localidades enfrentam períodos de seca prolongada, que levam à escassez de água impactos severos na agricultura e nos recursos hídricos. Essas disparidades na exposição e vulnerabilidade aos eventos climáticos extremos destacam a importância de abordagem adaptativas e políticas de resiliência que leve em conta as particularidades de cada região do Brasil. Ações coordenadas entre os diferentes níveis de governo, juntamente com a participação Da sociedade civil são cruciais para enfrentar esses desafios climáticos e trabalhar em prol de uma resposta mais eficaz e equitativa diante dos eventos climáticos extremos.
Ao longo dos últimos 50 anos, desde a primeira grande reunião de chefes de estado Organizada pela ONU em um 1972, na Suécia, diversas tentativas têm sido feitas para enfrentar os desafios da degradação do meio ambiente causada pelas ações humanas. No ano de 2022, celebramos meio século de esforços para solucionar os problemas ambientais que ameaçam Nosso planeta E nossa própria existência. Nesse contexto as palavras de Michel Foucault (2012 p.31) ressoam de forma significativa. Em sua obra, ele destaca: “Não é preciso remeter o discurso à longínqua presença da origem; é preciso tratá-lo no jogo de sua instância.” Essa situação nos convida a olhar para O Presente e para o contexto atual em que os discursos sobre o meio ambiente se manifestam. Em vez de nos prendermos apenas às origens históricas dos problemas ambientais, devemos compreender como esses discursos são construídos e como exercem influência nas políticas é ações ambientais contemporâneas.
As discussões e acordos internacionais ao longo de 50 anos refletem a preocupação crescente com a sustentabilidade ambiental e a necessidade de buscar soluções mais efetivas para enfrentar as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade e outros problemas ambientais globais. No entanto, também evidenciam as complexidades e os desafios em conciliar interesses políticos, econômicos e sociais na busca por uma governança ambiental eficaz.
Nesse cenário a abordagem foucaultiana nos lembra da importância de analisar criticamente os discursos e práticas relacionadas ao meio ambiente, identificando as estruturas de poder que moldam os as políticas ambientais e a distribuição dos impactos ambientais. Somente ao compreendermos essas dinâmicas sociais e de poder é que podemos avançar na busca por uma gestão ambiental mais justa inclusiva e consciente.
Portanto, ao celebrarmos meio século de esforços para lidar com os problemas ambientais, é fundamental que continuemos a utilizar perspectivas críticas e inovadoras de pensadores como Foucault para enfrentar os desafios ambientais contemporâneos. Somente através de uma análise cuidadosa e contextualizada dos discursos e práticas ambientais é que poderemos alcançar avanços significativos rumo à justiça ambiental e à sustentabilidade do nosso planeta.
No contexto das mudanças climáticas E dos eventos climáticos extremos, as enchentes têm sido uma das manifestações mais impactantes recorrente em várias regiões do Brasil. Esse fenômeno natural, muitas vezes agravado por questões urbanísticas e de infraestrutura, tem causado danos significativos à população e ao meio ambiente. A intensificação das chuvas e o aumento do volume de água acumulada têm representado um desafio para as cidades brasileiras, especialmente aquelas situadas em áreas mais vulneráveis e com o sistema de drenagem insuficientes. É importante analisar os eventos de enchente não apenas como desastres isolados, mas como indicadores dos impactos da adaptação para lidar com esses cenários cada vez mais frequentes.
Em janeiro de 2020, Minas Gerais, enfrentou uma série de enchentes devastadoras que afetaram várias regiões do estado. As chuvas intensas resultaram em uma grande quantidade de água acumulada, que sobrecarregou os sistemas de drenagem em infraestrutura de muitas cidades. Entre as cidades mais afetadas estavam Belo Horizonte, Contagem e outras áreas metropolitanas. As enchentes causaram estragos significativos, incluindo danos em estradas, pontes e casas, além de interrupções do fornecimento de energia elétrica e comunicações. Uma das principais consequências foi a quebra de tubulações de água esgoto, levando a inundações em áreas urbanas e afetando o abastecimento de água potável e o saneamento básico.
Esses eventos climáticos extremos evidenciaram as vulnerabilidades existentes nas cidades e a necessidade de investimentos em infraestrutura adequada para enfrentar as mudanças climáticas. Além disso a enchente esposa desigualdades socioeconômicas viu já que as comunidades de baixa renda, geralmente localizadas em áreas mais vulneráveis e com infraestrutura precária, foram as mais afetadas.
As autoridades e organizações locais tiveram que mobilizar esforços para resgatar pessoas presas em áreas inundadas, prestar assistência às famílias afetadas e iniciar ações de reconstrução e reparo da infraestrutura danificada. A tragédia também destacou a importância de uma abordagem holística para enfrentar os eventos climáticos extremos, incorporando medidas de adaptação e resiliência em níveis governamentais e comunitários. Esses eventos climáticos extremos e suas consequências são um lembrete da urgência de considerar a justiça social e a igualdade das políticas de enfrentamento das mudanças climáticas. O acesso a recursos e serviços essenciais devem ser garantida a todas as comunidades, independentemente de sua localização geográfica e nível socioeconômico. Somente uma abordagem inclusiva insensível às desigualdades pode contribuir para a promoção da justiça climática e da resiliência diante dos eventos climáticos extremos.
4.2 Justiça Climática: uma perspectiva para a igualdade socioambiental
O conceito de justiça climática tem ganhado destaque nas discussões sobre as mudanças climáticas e suas implicações sociais trata se de uma abordagem que busca compreender como as questões ambientais e climáticas afetam de forma dizia igual de diferentes populações, especialmente as mais vulneráveis e marginalizadas. A justiça climática reflete a necessidade de enfrentar a desigualdade ambiental e garantir que as políticas e ações relacionadas ao clima sejam inclusivas e igualitárias.
Nesse contexto, a justiça climática procura questionar as estruturas de poder que perpetuam a desigualdade socioambiental, considerando as disparidades nas demissões de gases de efeito estufa, nos impactos das mudanças climáticas e no acesso aos recursos naturais. Populações de baixa renda, comunidades indígenas, e minorias étnicas são frequentemente as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos e pela degradação ambiental, embora contribuam menos para as causas do problema. Rogério Santos Rammê assevera que:
o movimento por justiça ambiental torna evidente o fato de que as populações mais vulneráveis, que menos consomem, menos geram lixo, e menos se beneficiam das benesses do atual modelo econômico de desenvolvimento, são as que mais diretamente suportam os riscos gerados pela degradação ambiental. Evidência, portanto, que a lógica econômica dominante ignora por completo a ideia de equidade na repartição das externalidades negativas do processo produtivo. RAMMÊ (2012 p.06)
Além disso, a justiça climática também abrange a responsabilidade histórica dos países mais desenvolvidos na contribuição para as mudanças climáticas e a necessidade de apoiar financeira e tecnologicamente os países em desenvolvimento para enfrentar os desafios climáticos. A igualdade intergeracional também é uma preocupação central, considerando que as gerações futuras herdarão os impactos das ações tomadas atualmente.
Assim, a justiça climática busca promover políticas e práticas que garantam A proteção dos direitos humanos e a preservação do meio ambiente, considerando as diferentes realidades e perspectivas das comunidades afetadas. A abordagem justa e inclusiva para lidar com as mudanças climáticas é fundamental para construir um futuro sustentável e igualitário para todos. Nesse sentido, a incorporação da perspectiva foucaultiana pode enriquecer a análise crítica das estruturas de poder que influenciam as políticas climáticas e, assim, contribuir para a busca de soluções mais conscientes e transformadoras na construção de uma sociedade mais justa e resiliente frente aos desafios climáticos globais.
4.3 Contribuições dos conceitos foucaultianos e de outros autores na análise da dinâmica ambiental.
Embora Michel Foucault não tem abordado especificamente a questão ambiental em sua vasta obra, suas teorias e conceitos oferece uma perspectiva crítica inovadora para analisar a complexa relação entre sociedade, poder e meio ambiente. Através de uma interpretação cuidadosa e contextualizada de suas ideias, é possível aplicar sua abordagem teórica à discussão ambiental, compreendendo como os discursos, práticas e estruturas de poder estão intrinsecamente envolvidos na governança dos recursos naturais, na percepção da justiça climática e na resposta aos eventos climáticos extremos. Neste sentido, ao explorarmos a relevância das teorias foucaultianas para o âmbito ambiental, podemos desvendar novas perspectivas e desafios para enfrentar as questões ambientais contemporâneas de forma mais crítica, inclusiva e consciente Foucault (2013 p.31) diz: “Não é preciso remeter o discurso à longínqua presença da origem; é preciso tratá-lo no jogo de sua instância.”
As palavras de Foucault, ressoa de maneira significativa no discurso ambiental, pois nos convida a analisar o discurso não apenas em uma relação à sua origem histórica, mas sim no contexto presente em que ele se manifesta. Isso implica em considerar como os discursos ambientais são construídos e como exercem influência nas políticas, percepções e ações relacionadas ao meio ambiente atualmente. Ao invés de nos limitarmos a concepções antigas ou estereotipo dadas sobre a natureza e a sociedade, a perspectiva foucaultiana nos incentiva a examinar as narrativas contemporâneas e os interesses políticos, econômicos e sociais que permeiam a construção desses discursos. Ao compreendermos o poder presente nos discursos ambientais, podemos refletir criticamente sobre as estruturas de poder que moldam as políticas ambientais, a distribuição dos impactos climáticos e as relações de justiça climática. Dessa forma, podemos buscar abordagens, mas inclusivas e equitativas para lidar com os desafios ambientais do nosso tempo. Foucault (2008 p. 22 e122) assevera que:
Os agentes do poder: abrem-se as prisões, expulsa-se os juízes e fecha-se o tribunal. A justiça popular reconhece na instância judiciária um aparelho de Estado representante do poder público instrumento do poder de classe. Gostaria de lançar uma hipótese, da qual não estou seguro: parece-me que alguns hábitos próprios da guerra privada, alguns velhos ritos pertencendo à “pré-judiciária” se conservarão nas práticas de justiça popular. […] A questão do poder fica empobrecida quando é colocado unicamente em termos de legislação, de Constituição ou somente em termos de Estado ou de aparelho de Estado. O poder é mais complicado, muito mais denso e difuso que um conjunto de leis ou um aparelho de Estado. Não se pode entender o desenvolvimento das forças produtivas próprias ao capitalismo; nem imaginar seu desenvolvimento tecnológico sem a existência, ao mesmo tempo, dos aparelhos de poder.
Os conceitos foucaultianos oferecem uma perspectiva de relevância inestimável na exploração da temática ambiental. Sua abordagem crítica e inovadora lança luz sobre as complexas interações entre sociedade, poder e meio ambiente permitindo uma compreensão, mas profunda das dinâmicas subjacentes. Foucault nos lembra que análise do poder não pode se limitar às estruturas formais; ela deve transcender essas delimitações e reconhecer a densidade e a difusão desse fenômeno nas relações sociais. Nesse contexto, os conceitos foucaultianos proporcionam uma lente teórica valiosa para desvendar as estratégias de poder que moldam as percepções, práticas e políticas ambientais.
Ao examinar as intricadas interações entre sociedade e ambiente, a perspectiva foucaultiana reforça a necessidade de compreender como o poder opera nas esferas ambientais. Essa abordagem crítica nos convida a questionar não apenas as estruturas de poder evidentes, mas também as formas sutis implícitas de controle que permeia as relações sociais. Foucault nos lembra que o poder não é meramente uma manifestação estatal ou legal; ele é enraizado nas práticas cotidiana, nas narrativas culturais e nas estratégias disciplinares. Assim, os conceitos foucaultianos oferecem um arcabouço teórico fundamental para explorar a complexa interseção entre sociedade, poder e meio ambiente, abrindo novos horizontes na análise crítica das questões ambientais. Nesse sentido Milanez (2011p.03) e Scotti (2022 p.06) pontuam que:
O conceito de justiça climática surge como um desdobramento do paradigma da justiça ambiental e da percepção de que os impactos das mudanças climáticas atingem de forma intensidade diferentes grupos sociais distintos. Alguns casos de injustiça climática se relacionam com os efeitos de processos de desertificação, eventos climáticos extremos (chuvas intensas, ondas de calor etc.), do aumento do nível do mar, entre outros. Milanez (2011)
O debate climático surge nesse cenário de alterações ambientais produzidas pela atividade econômica e pela emissão de gases que intensificam o aquecimento global. Não à toa, a classificação dos direitos coletivos ocorrerá dentro de um contexto de crítica ao sistema capitalista que afronta a coletividade, a solidariedade, a fraternidade e a existência humana em sentido coletivo. Scotti (2022)
A vulnerabilidade emerge como um ponto crucial ao considerar as citações mencionada. A intensificação do aquecimento global e das alterações ambientais, provocadas pela atividade econômica e emissões de gases de efeito estufa, afeta desproporcionalmente grupos sociais mais vulneráveis. As comunidades marginalizadas muitas vezes enfrentam maior exposição aos impactos climáticos adversos devido há uma série de fatores, como a localização geográfica desfavorável e falta de recursos, além de acesso limitado a serviços básicos.
A crítica ao sistema capitalista presente na situação está intrinsecamente ligada à vulnerabilidade. Muitos desses grupos vulneráveis são aqueles que têm menos influência para se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas. O sistema econômico e as práticas que priorizam o lucro frequentemente exacerbam as desigualdades sociais e econômicas, aumentando a vulnerabilidade dessas comunidades diante dos desafios climáticos.
Portanto, a conexão entre o debate climático, as alterações ambientais e o sistema capitalista destacam a necessidade de abordagens que considerem as dimensões de vulnerabilidade social. O enfrentamento eficaz das mudanças climáticas requer adoção de políticas estratégias que busquem não apenas mitigar os impactos ambientais, mas também atenuar as desigualdades, em ponderar as comunidades mais vulneráveis e garantir que elas tenham acesso a recursos e medidas de adaptação adequadas.
A aplicação desses conceitos e teorias de diferentes autores na análise da dinâmica ambiental possibilita uma compreensão mais ampla dos desafios socioambientais contemporâneos e oferece bases para a busca de soluções mais equitativas e sustentáveis. A interseção entre as perspectiva foucaultianas e de outros autores Preocupados com a temática ambiental nos permite desvelar as relações de poder e controle que permeiam as questões ambientais, possibilitando uma análise crítica das políticas e práticas existentes, e promovendo a busca por uma justiça climática mais efetiva e inclusiva, dessa forma, O uso desses conceitos enriquece a discussão ambiental e contribui para a construção de sociedades mais conscientes e responsáveis em relação ao meio ambiente.
4 Considerações finais
As considerações finais deste estudo enfatizam a relevância da contribuição foucaultiana para a compreensão das complexas dinâmicas que permeiam a questão ambiental e a justiça climática. Embora Michel Foucault não tem abordado diretamente as mudanças climáticas e a desigualdade ambiental em sua obra, suas teorias e conceitos fornecem uma perspectiva crítica inovadora para analisar a relação entre sociedade, poder e meio ambiente.
Ao interpretarmos suas ideias dentro do contexto ambiental, torna se evidente como as estruturas de poder e os discursos dominantes estão intrinsecamente envolvidos na governança dos recursos naturais e na percepção da justiça climática. A abordagem foucaultiana nos convida a analisar os discursos ambientais não apenas em relação à a sua origem histórica, mas também no contexto presente em que se manifestam, os interesses políticos, econômicos e sociais que o permeiam.
A perspectiva foucaultiana, aliada a outras contribuições de autores relevantes para a problemática levantada, enriquece o debate sobre mudanças climáticas e desigualdade ambiental, permitindo uma análise crítica das estruturas de poder que bordão as políticas e práticas ambientais. Ao aplicarmos suas teorias à discussão ambiental, abrimos caminho para uma compreensão mais profunda das questões socioambientais contemporâneas e para a busca de soluções mais inclusivas e equitativas.
Dessa forma, ao unir a contribuição foucaultiana às reflexões sobre justiça climática e desigualdade ambiental no Brasil, este estudo destacou a importância de considerar as dimensões sociais, políticas e culturais envolvidas nas questões ambientais. A interseção entre as teorias foucaultianas e os desafios ambientais contemporâneos abrem espaço para uma análise mais abrangente e consciente dos mecanismos de poder que influenciam a relação entre sociedade e meio ambiente, contribuindo para uma busca mais comprometida com a justiça climática e o desenvolvimento sustentável do país.
Diante disso, é fundamental reconhecer o papel contínuo e dinâmico que é a perspectiva foucaultiana pode desempenhar no aprimoramento das abordagens voltadas para as questões ambientais, guiando nos em direção ao futuro mais resiliente e igualitário para o nosso planeta.
Referências Bibliográficas
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FOUCAULT, Michel, A arqueologia do saber. tradução Luiz Felipe Baeta Neves. – 8. ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
MILANEZ, Bruno. FONSECA, Igor Ferraz. Justiça climática e Eventos Climáticos Extremos: uma análise da percepção social no Brasil – ISSN 2237-079X – NUPEAT–IESA–UFG, v.1, n.2, jul./dez./2011, p.82 –100, Artigo 13
RAMMÊ, Rogério Santos. A Política da Justiça Climática: conjugando riscos, vulnerabilidades e injustiças decorrentes das mudanças climáticas. Revista de Direito Ambiental, vol. 65/2012 Jan 2012
SCOTTI, Guilherme. PEREIRA, Diego. Injustiça Climática: a desigualdade social como violação à garantia de direitos. RDP, Brasília, Volume 19, n. 104, out./dez. 2022, DOI: 10.11117/rdp.v19i104.6728 | ISSN:2236-1766 Universidade de Brasília (UnB). Brasília (DF). Brasil