DESIGN CARDS IN USER INTERACTION AND EXPERIENCE: A
LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202501120759
Márcia Machado França 1
Resumo
Este estudo tem como objetivo investigar o papel do design cards, analisando suas interações com a experiência do usuário e os processos colaborativos, com o propósito de compreender sua contribuição para o campo do design. Para isso, foi realizada uma revisão da literatura, utilizando bases de dados científicas e descritores específicos, priorizando artigos publicados sobre o tema e permitindo a seleção e análise de estudos relevantes. A análise dos resultados evidenciou que design cards são ferramentas para estimular a criatividade, a inclusão em processos colaborativos e incentivar a participação, destacando-se como elementos-chave para o desenvolvimento de soluções inovadoras e centradas no usuário.
Palavras-chave: design cards, experiência do usuário, inovação
Abstract
This study aims to investigate the role of design cards, analyzing their interactions with user experience and collaborative processes, to understand their contribution to the design field. To this end, a literature review was carried out, using scientific databases and specific descriptors, prioritizing published articles on the subject and allowing the selection and analysis of relevant studies. The analysis of the results showed that design cards are tools to stimulate creativity and inclusion in collaborative processes and encourage participation, standing out as key elements for developing innovative and user-centered solutions.
Keywords: design cards, user experience, innovation,
1 INTRODUÇÃO
Para Zampollo e Peacock (2016) design cards têm se consolidado como ferramentas práticas e tangíveis utilizadas no contexto da geração de ideias em design. Além de contribuí- rem para o desenvolvimento de produtos e serviços, estudos de Sanders e Stappers (2008) e Palus e Horth (2010) ressaltam sua importância na cocriação e na colaboração visual. Neste sentindo, design cards destacam-se como ferramentas essenciais para estimular a criatividade, o engajamento e inclusão em processos colaborativos.
Sanders e Stappers (2008) mencionam que a experiência do usuário é um aspecto central na prática do design contemporâneo. Historicamente, a abordagem centrada no usuário, que começou na década de 1970, demonstrou-se eficaz no design e desenvolvimento de produtos de consumo. No entanto, as complexidades do contexto atual exigem uma ampliação dessa abordagem para atender às demandas das experiências humanas (SANDERS; STAPPERS, 2008). Este artigo tem como objetivo investigar o papel do design cards no campo do design, analisando suas interações com a experiência do usuário e os processos colaborativos por meio de uma revisão da literatura, com o propósito de compreender sua contribuição para o campo do design.
2 DESENVOLVIMENTO
O papel do design cards na inovação é abordado neste item da pesquisa, destacando o uso de ferramentas criativas no design, que tem sido explorado por diferentes autores e evidencia sua relevância em processos inovadores.
Nesse contexto, Kudrowitz et al. (2014) analisaram os métodos utilizados pelos chefs na criação de pratos inovadores, relacionando as práticas e ferramentas de design criativo. Nessa pesquisa, aplicaram a ferramenta SCAMPER (substituir, combinar, adaptar, modificar, usar, eliminar, reorganizar) para sistematizar o processo criativo na culinária. Os autores evidenciaram que técnicas de geração de ideias podem ser adaptadas de forma colaborativa, promovendo melhorias na experiência do usuário.
De forma complementar, Golembewski e Selby (2010) investigaram o uso dos Ideation Decks como ferramentas metodológicas para apoiar a ideação em design. Essas ferramentas baseadas em cartões facilitaram a exploração de problemas e o refinamento de conceitos, promovendo uma abordagem estruturada e criativa. O estudo destacou que o sistema proposto permite a definição de problemas de design, mesmo em contextos complexos, estimulando a criatividade durante o processo. Para Lee, Breuer e Schifferstein (2020) ressaltam a importância dos cartões como facilitadores em processos de inovação. Segundo os autores, os cartões desenvolvidos são utilizados para incentivar discussões, gerar ideias e refinar conceitos. Além disso, os tópicos abordados por esses cartões tornam-nos ferramentas versáteis, adequando-se a diversas etapas do processo de design, como sessões de brainstorming e a avaliação de ideias.
Por fim, Roy e Warren (2019) investigaram o uso dos cartões para organizar processos criativos e gerar ideias em diferentes contextos de design. Os autores destacam que essas ferramentas auxiliam no desenvolvimento de conceitos inovadores, mas também proporcionam uma abordagem estruturada, contribuindo para a eficiência e eficácia no processo de criação.
Em relação ao item “contribuições do design cards para a experiência do usuário”, Casais, Mugge e Desmet (2016) exploraram como o significado simbólico pode ser incorporado ao design de produtos com o objetivo de promover a felicidade. O estudo apresenta um conjunto de cartões como ferramenta para orientar designers na criação de produtos com significados simbólicos, conectando-se ao conceito do design cards. De maneira semelhante, Lucero e Arrasvuori (2013) destacaram o papel dos cartões em comunicar 22 categorias de um framework de experiências lúdicas. Esses cartões auxiliam designers e outras partes interessadas na exploração e estímulo à criatividade, incentivando a criação de objetos que promovam abordagens lúdicas e proporcionem experiências.
No contexto do design relacionado à alimentos, Zampollo e Peacock (2016) analisaram o processo criativo e as interações entre consumidores e alimentos, enfatizando a necessidade de métodos específicos para estimular o pensamento criativo no design desse setor. Por fim, Deng, Antle e Neustaedter (2014) exploraram o uso de cartões como ferramentas de desenvolvimento de jogos educativos, conectando teoria e prática no design. Esses cartões desempenham o papel de conectar teoria e prática no design educacional, facilitando o acesso dos designers a conhecimentos teóricos sobre jogos e aprendizagem, tornando-os mais acessíveis e aplicáveis.
Para o item “contribuição do design cards em processos colaborativos”, Sanders e Stappers (2008) destacam a cocriação como central no design contemporâneo, onde a participação dos usuários qualifica o processo criativo. Os cartões são usados como ferramentas participativas para integrar perspectivas e facilitar as ideias, promovendo soluções inovadoras e colaborativas. Palus e Horth (2010), por sua vez, apresentam os cartões como mediadores criativos, que facilitam diálogos e superam as barreiras de comunicação em equipes multidisciplinares. A tabela 1 apresenta o levantamento dos artigos pesquisados.
Tabela 1: Artigos selecionados
| Autor e Ano | Título do Artigo |
| Jegou, F., Verganti, R., Mar- chesi, A., Simonelli, G., Dell’Era, C. (2006) | Design-oriented toolbox: The tool for the develop- ment of meal services in restaurants |
| Kudrowitz, B., Oxborough, A., Choi, J., Stover, E. (2014) | The chef as a designer: Classifying techniques chefs use in creating innovative dishes |
| Lucero, A., Arrasvuori, J. (2013) | The PLEX Cards and its techniques as sources of inspiration when designing for playfulness |
| Lee, Y., Breuer, C., Schiffer- stein, H. N. J. (2020) | Supporting food design processes: Development of food design cards |
| Palus, C. J., Horth, D. M. (2010) | Visual Explorer Facilitator’s Guide |
| Roy, R., Warren, J. P. (2019) | Card-based design tools: A review and analysis of 155 card decks for designers and designing |
| Lucero, A., Dalsgaard, P., Halskov, K., Buur, J. (2016) | Designing with Cards |
| Deng, Y., Antle, A. N., Neu- staedter, C. (2014) | Tango Cards: A card-based design tool for inform- ing the design of tangible learning games |
| Golembewski, M., Selby, M. (2010) | Ideation Decks: A card-based design ideation tool |
| Sanders, E. B.-N., Stappers, P. J. (2008) | Co-creation and the new landscapes of design |
| Kudrowitz, B., Oxborough, A., Choi, J., Stover, E. (2014) | The chef as a designer: Classifying techniques chefs use in creating innovative dishes |
| Casais, M.; Mugge, R.; Desmet, P. M. A. (2016) | Using symbolic meaning as a means to design for happiness: the development of a card set for de- signers |
| Zampollo, F. (2013) | Food and design: Space, place and experience |
| Zampollo, F.; Peacock, M. (2016) | Food design thinking: a branch of design thinking specific to food design |
Fonte: Elaborado pela autora
3 MÉTODO
A pesquisa foi conduzida por meio de uma revisão da literatura, abrangendo publicações disponíveis nas bases de dados científicas. Para a realização da pesquisa, foram utilizadas as bases de dados Scopus e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), com a aplicação dos descritores design cards, experiência do usuário e processos colaborativos. Estes descritores possibilitaram o levantamento de artigos relevantes. Portanto buscou-se teóricos e autores selecionados na área design ou em temas correlatos à presente pesquisa. Os critérios estabelecidos priorizaram a relevância dos estudos, resultando na seleção de dez artigos para análise. A tabela 2 apresenta os critérios adotados para a seleção de artigos.
Tabela 2: Critérios para a revisão da literatura
| Critérios/Filtro | Descrição |
| Critérios de inclusão | Publicações nas áreas de design a partir de 2000; Descritores: design cards, experiência do usuário, processos colaborativos. |
| Critérios de exclusão | Estudos publicados antes de 2000. Temas relacionados exclusivamente à área da saúde e que não apresentem relação com o objetivo da pesquisa. |
| Filtros | leitura de títulos e resumo das pesquisas e nas seções de introdução, método, discussão e conclusão. |
Fonte: Elaborado pela autora
Foram analisadas publicações na área de Design a partir de 2000, conforme os descritores da tabela 2. Os critérios de exclusão incluíram estudos anteriores a 2000 e temas exclusivamente da área da saúde, sem relação com os objetivos da pesquisa.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Kudrowitz et al. (2014); Golembewski e Selby (2010) e Roy e Warren (2019) apresentam o uso de ferramentas criativas para sistematizar o processo de ideação. Por sua vez, Golembewski e Selby (2010), Lee, Breuer e Schifferstein (2020), e Roy e Warren (2019) compartilham proximidade temática ao analisarem o papel das ferramentas baseadas em cartões no design, destacando a sua importância na experiência do usuário e inovação. Casais, Mugge e Desmet (2016) e Lucero e Arrasvuori (2013) exploram como os cartões podem orientar o design para proporcionar significados emocionais ou experiências lúdicas aos usuários. Em contextos específicos, Zampollo e Peacock (2016) e de Deng, Antle e Neustaedter (2014) reforçam a aplicação prática dos cartões como ferramentas criativas que conectam teoria e prática em processos inovadores.
No âmbito dos processos colaborativos, Sanders e Stappers (2008) enfocam a cocriação com usuários, enquanto Palus e Horth (2010) destacam a mediação criativa em equipes multidisciplinares. Ambos os estudos, enfatizam o papel dos cartões como ferramentas facilitadoras de processos colaborativos no design, promovendo a integração de ideias e perspectivas diversas. A tabela 3 apresenta as contribuições dos autores para o tema.
Tabela 3: Contribuições dos estudos
| Autores | Contribuição |
| Kudrowitz, Oxborough, Choi e Stover (2014) | explora o uso da ferramenta SCAMPER para geração de ideias, demonstrando como chefs podem criar pratos inovadores por meio de abordagens de design criativo. |
| Golembewski e Selby (2010) | propõem Ideation Decks, ferramentas baseadas em cartões |
| Lee, Breuer e Schifferstein (2020) | desenvolvem Food Design Cards para facilitar processos criativos interdisciplinares, promovendo a colaboração em design de ali- mentos. |
| Roy e Warren (2019) | fornecem uma análise detalhada de baralhos de cartões usados no design, destacando sua aplicação em processos criativos e centra- dos no usuário. |
| Casais, Mugge e Desmet (2016) | apresentam um conjunto de cartões para designers, focando no uso de significados simbólicos para criar produtos que promovam a felicidade do usuário. |
| Zampollo e Peacock (2016) | apresentam o método Food Design Thinking, abordando a criatividade no design alimentar. |
| Lucero e Arrasvuori (2013) | propõem PLEX Cards como inspiração para experiências lúdicas, permitindo aos designers explorarem interações lúdicas nos pro- dutos e serviços. |
| Deng, Antle e Neustaedter (2014) | propõe Tango Cards como ferramenta para criar jogos educativos tangíveis, integrando teoria e prática no design de aprendizado. |
| Sanders e Stappers (2008) | desenvolvem o conceito de cocriação, enfatizando a criatividade coletiva no design e a integração de usuários nos processos criativos |
| Palus e Horth (2010) | exploram o uso de cartões visuais para facilitar processos criativos e colaborativos, promovendo a interação e compreensão em equipes de design. |
Fonte: Elaborado pela autora
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa destacam o papel do design cards no campo do design, atendendo ao objetivo de investigar suas interações com a experiência do usuário e os processos colaborativos. Por meio da revisão da literatura, foi possível identificar que o design cards não apenas promove a inovação na interação com o usuário, mas também atua como uma ferramenta em processos colaborativos, integrando diferentes perspectivas e resultados criativos. Além disso, a pesquisa apresentou que o design cards estabelece uma ligação entre a teoria e prática, sendo aplicável em contextos específicos, o que reforça sua importância no campo do design contemporâneo. Assim, esta pesquisa contribui para o entendimento do design cards como uma abordagem capaz de ampliar processos criativos e intensificar a relação entre a teoria, prática e colaboração no design.
REFERÊNCIAS
CASAIS, M.; MUGGE, R.; DESMET, P. M. A. Using symbolic meaning as a means to de- sign for happiness: the development of a card set for designers. In: PROCEEDINGS OF THE DRS CONFERENCE ON FUTURE-FOCUSED THINKING, London: Design Re-search Society, 2016. p. 1553-1570.
DENG, Y.; ANTLE, A. N.; NEUSTAEDTER, C. Tango cards: a card-based design tool for informing the design of tangible learning games. In: PROCEEDINGS OF THE 2014 CON- FERENCE ON DESIGNING INTERACTIVE SYSTEMS, New York: ACM, 2014. p. 695-704.
GOLEMBEWSKI, M.; SELBY, M. Ideation decks: a card-based design ideation tool. In: PROCEEDINGS OF THE 8th ACM CONFERENCE ON DESIGNING INTERAC- TIVE SYSTEMS, Aarhus: ACM, 2010. p. 89–92.
KUDROWITZ, B.; OXBOROUGH, A.; CHOI, J.; STOVER, E. The chef as designer: classi- fying the techniques that chefs use in creating innovative dishes. In: LIM, Y. K.; NIEDDERER, K. (Ed.). Proceedings of the 2014 Design Research Society Conference. Umeå, Sweden: Design Research Society / Umeå Institute of Design, 2014. p. 127–146.
LEE, Y.; BREUER, C.; SCHIFFERSTEIN, H. N. J. Supporting food design processes: devel- opment of food design cards. International Journal of Design, v. 14, n. 2, p. 51–64, 2020.
LUCERO, A.; ARRASVUORI, J. PLEX Cards: a source of inspiration when designing for playfulness. In: PROCEEDINGS OF THE 3rd INTERNATIONAL CONFERENCE ON FUN AND GAMES, New York: ACM, 2010. p. 28-37.
LUCERO, A.; DALSGAARD, P.; HALSKOV, K.; BUUR, J. Designing with cards. In: MARKOPOULOS, P.; MARTENS, J.-B.; MALINS, J.; CONINX, K.; LIAPIS, A. (Eds.).Collaboration in creative design: methods and tools. Berlin: Springer, 2016. p. 75-95.
PALUS, C. J.; HORTH, D. M. Visual Explorer Facilitator’s Guide. Revised and expanded. Greensboro: Center for Creative Leadership, 2010.
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SANDERS, E. B. N.; STAPPERS, P. J. Co-creation and the new landscapes of design.CoDesign, v. 4, n. 1, p. 5-18, 2008.
ZAMPOLLO, F. Food and design: space, place and experience [Editorial]. Hospitality Soci- ety, v. 3, n. 3, p. 181–187, 2013.
ZAMPOLLO, F. What is food design? The complete overview of all food design sub-disci- plines and how they merge. Online School of Food Design, 2016.
ZAMPOLLO, F.; PEACOCK, M. Food design thinking: a branch of design thinking specific to food design. The Journal of Creative Behavior, v. 50, n. 3, p. 203–210, 2016.
1 Doutoranda em Design. Universidade Estadual Paulista (Unesp/ FAAC). Mestre em Ciências. Universidade de São Paulo (USP/Each). Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6135-656X,
e-mail: marcia.mfr@gmail.com