DESENVOLVIMENTO HUMANO: UMA ANÁLISE FUNDAMENTADA EM KARL MARX, PIKETTY E LUDWIG VON MISES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202412242335


André Luiz Benchimol¹
Orientador: Professor Oriovaldo Rodrigues


Resumo

Este artigo examina o debate contemporâneo sobre redistribuição de renda e liberdade econômica por meio das contribuições teóricas de Thomas Piketty e Ludwig von Mises. O tópico transcende as fronteiras acadêmicas, envolvendo o discurso público e promovendo reflexões críticas essenciais para a construção de sociedades democráticas e equitativas. O estudo visa aprofundar a compreensão das propostas de Piketty, particularmente políticas redistributivas e tributação progressiva, e analisar os desafios práticos de sua implementação. Ele também investiga a praxeologia de Mises, destacando a liberdade econômica como uma pedra angular do desenvolvimento humano. Adotando uma abordagem qualitativa e exploratória, a pesquisa se baseia em fontes bibliográficas e métodos analíticos comparativos. As descobertas revelam que ambos os autores concordam sobre o papel crítico do desenvolvimento econômico na promoção da equidade social, mas suas abordagens divergem. Piketty enfatiza medidas redistributivas, como tributação progressiva, enquanto Mises destaca a eficiência e a cooperação fomentadas pelos mercados livres. A conclusão ressalta a relevância dinâmica e contínua desse debate intelectual. O estudo demonstra que integrar as perspectivas de Piketty e Mises pode orientar a formulação de políticas públicas equilibradas que promovam tanto a justiça social quanto o dinamismo econômico.

Palavras-chave: Redistribuição de renda; Liberdade econômica; Tributação progressiva; Equidade social; Desenvolvimento humano.

Abstract

This article examines the contemporary debate on income redistribution and economic freedom through the theoretical contributions of Thomas Piketty and Ludwig von Mises. The topic transcends academic boundaries, involving public discourse and fostering critical reflections essential for building democratic and equitable societies. The study aims to deepen the understanding of Piketty’s proposals, particularly redistributive policies and progressive taxation, and analyze the practical challenges of their implementation. It also investigates Mises’ praxeology, highlighting economic freedom as a cornerstone of human development. Adopting a qualitative and exploratory approach, the research is based on bibliographic sources and comparative analytical methods. The findings reveal that both authors agree on the critical role of economic development in promoting social equity, but their approaches diverge. Piketty emphasizes redistributive measures, such as progressive taxation, while Mises highlights the efficiency and cooperation fostered by free markets. The conclusion emphasizes the dynamic and ongoing relevance of this intellectual debate. The study demonstrates that integrating the perspectives of Piketty and Mises can guide the formulation of balanced public policies that promote both social justice and economic dynamism.

Keywords: Income redistribution; Economic freedom; Progressive taxation; Social equity; Human development.

Introdução

O debate sobre redistribuição de renda e liberdade econômica ocupa uma posição central nas publicações contemporâneas, não apenas no âmbito acadêmico, mas também em espaços públicos e políticos.                                                                                                                                                                  

A relevância do tema interconecta-se  ao conceito de desenvolvimento humano, a partir da fundamentação teórica e abordagem multidimensional, que vai além da acumulação de riquezas, abarcando aspectos sociais, culturais e políticos essenciais para a qualidade de

As ideias de Thomas Piketty e Ludwig von Mises emergem como pontos de referência fundamentais nesse campo, apresentando perspectivas contrastantes sobre como lidar com as desigualdades econômicas e promover o desenvolvimento humano.                     

Piketty defende a necessidade de políticas redistributivas e sistemas tributários progressivos para enfrentar as crescentes desigualdades sociais, enquanto von Mises enfatiza a importância da liberdade econômica e do mercado como motores de eficiência e cooperação social. Esses contrastes não apenas revelam divergências teóricas, mas também implicações práticas para os desafios econômicos do século XXI.

A importância dessa discussão transcende o ambiente acadêmico, alcançando questões centrais para a construção de sociedades democráticas e sustentáveis. A concentração de renda, as falhas de mercado e os limites das disciplinas estatais destacam a necessidade de uma análise aprofundada dessas abordagens, de forma a contribuir para o desenvolvimento de soluções equilibradas e inclusivas.

Nesse contexto, o presente estudo busca analisar criticamente as propostas de Piketty e von Mises, explorando suas implicações teóricas e práticas em um cenário marcado por desigualdades persistentes e rápidas transformações econômicas.

O trabalho está estruturado em seis partes: introdução, que apresenta o contexto e a relevância do tema; objetivos, detalhando as metas do estudo; metodologia adotando uma abordagem qualitativa e exploratória, a pesquisa se baseia em uma revisão bibliográfica e na análise comparativa das ideias desses autores. Ao integrar perspectivas liberais e antiliberais; revisão da literatura, fundamentada nas teorias de Karl Marx, Thomas Piketty e Ludwig von Mises; resultados, que sintetizam as análises realizadas; a conclusão propõe ampliar a compreensão dos desafios econômicos e sociais contemporâneos, bem como fomentar um diálogo interdisciplinar que contribua para a formulação de políticas públicas mais equitativas. Este estudo, portanto, posiciona-se como uma contribuição relevante para o debate acadêmico e político, ao abordar de forma integrada a questão entre liberdade econômica e justiça social no contexto das desigualdades globais.

Objetivos

– Compreender os aspectos centrais das propostas de Thomas Piketty

Este objetivo busca explorar as ideias fundamentais apresentadas por Piketty, com ênfase no conceito de redistributivismo e na aplicação de sistemas de tributação progressiva. A análise visa identificar as bases teóricas e práticas dessas propostas, bem como suas implicações para a redução das desigualdades econômicas e a promoção de uma sociedade mais equitativa.

– Investigar a praxeologia e a defesa da liberdade econômica de Ludwig von Mises

O segundo objetivo concentra-se em examinar os fundamentos da praxeologia, conceito central no pensamento de von Mises, e sua defesa da liberdade econômica como um elemento essencial para o desenvolvimento humano . A investigação busca esclarecer como essas ideias são aplicadas no contexto do mercado livre e quais são suas implicações teóricas e práticas na dinâmica econômica contemporânea.

Metodologia

O presente estudo adota uma abordagem qualitativa e interpretativa, fundamentada em uma revisão bibliográfica abrangente. A pesquisa se baseia na análise de obras primárias de Thomas Piketty e Ludwig von Mises, além de outros referenciais teóricos relevantes, como Karl Marx, para explorar as implicações econômicas e sociais das propostas comprovadas. Relatórios de instituições internacionais, como o da Oxfam Internacional, também compõem o conjunto de fontes utilizadas, ampliando a perspectiva sobre desigualdade e liberdade econômica no contexto contemporâneo.

A metodologia envolve uma análise comparativa das ideias dos autores, considerando suas contribuições teóricas e as possíveis aplicações práticas de suas propostas. A revisão bibliográfica inclui livros, artigos científicos e documentos institucionais, garantindo uma abordagem diversificada e interdisciplinar. Essa combinação de fontes permite identificar convergências e divergências entre as perspectivas de Piketty e von Mises, além de avaliar suas relações com os desafios econômicos e sociais do século XXI.

O foco interpretativo busca não apenas descrever os conceitos principais, mas também situá-los dentro do contexto histórico, político e econômico em que foram desenvolvidos, oferecendo uma análise crítica e integrada das teorias estudadas. Por meio dessa abordagem, o estudo visa contribuir para o aprofundamento do debate sobre redistribuição de renda, liberdade econômica e desenvolvimento humano.

Revisão Bibliográfica

4.1 Karl Marx e a Dialética Social do Capital

Karl Marx é amplamente reconhecido como um dos maiores teóricos da crítica ao capitalismo, e sua contribuição para a compreensão das dinâmicas sociais e econômicas que permeiam esse sistema continua relevante nos debates contemporâneos sobre desigualdade e desenvolvimento humano. No centro de sua análise está a noção de que as relações de produção moldam a estrutura da sociedade, e o capitalismo, enquanto sistema econômico, gera uma série de contradições inerentes que prejudicam o bem-estar humano e a equidade social. Sua obra permanece um pilar nas ciências sociais por explorar não apenas a economia, mas também as implicações culturais e políticas das dinâmicas capitalistas. Para Marx, compreender o capitalismo exige observar como ele estrutura e reorganiza a vida social, impondo novas formas de alienação e exploração.

Marx utiliza o método dialético para descrever o capitalismo como um sistema dinâmico, mas intrinsecamente contraditório. Ele argumenta que, embora o capitalismo tenha impulsionado o desenvolvimento das forças produtivas, como tecnologia e ciência, ele também aprofundou a exploração e a alienação dos trabalhadores. Esse método dialético, inspirado pela filosofia hegeliana, enfatiza que o progresso econômico no capitalismo é acompanhado por conflitos internos que levam à instabilidade do sistema. A dialética social, para Marx, revela como os próprios mecanismos que promovem o crescimento econômico geram desigualdades estruturais e conflitos de classe. Essa visão se alinha ao entendimento de que o capitalismo não se sustenta sem criar antagonismos entre burguesia e proletariado (Marx, 1867).

A teoria da mais-valia, um dos conceitos centrais do pensamento marxiano, ilustra como o extrai valor capitalista do trabalho do proletariado. Para Marx, a mais-valia é a diferença entre o valor produzido pelo trabalhador e o valor pago a ele em forma de salário. Essa exploração é a base do lucro no sistema capitalista, mas também uma fonte de crises econômicas recorrentes, pois a concentração de riqueza em poucas mãos reduz a capacidade de consumo da maioria, limitando a demanda por bens e serviços. Essa dinâmica é bem ilustrada na análise contemporânea de Harvey (2010), que reforça como o capitalismo exacerba as disparidades econômicas através da lógica de acumulação por espoliação, ampliando ainda mais a alienação trabalhista e as desigualdades globais.

Um dos pilares da análise marxista é a teoria da alienação. Segundo Marx, o trabalhador, no capitalismo, é alienado de várias maneiras: do produto do seu trabalho, do processo de produção, da sua própria essência como ser humano criativo e dos outros trabalhadores. Essa alienação não é apenas econômica, mas também psicológica e social, levando a um sentimento de desumanização e perda de propósito. Lefebvre (1968) complementa essa perspectiva ao destacar que a alienação no capitalismo é um processo multiescalar, ocorrendo não apenas no ambiente de trabalho, mas também na vida cotidiana, ao transformar a relação entre os indivíduos em um reflexo das dinâmicas mercantis.

No mundo contemporâneo, a alienação descrita por Marx assume novas formas. A automação, por exemplo, substitui empregos manuais por tecnologia, o que reduz ainda mais o controle dos trabalhadores sobre o processo produtivo. Essa dinâmica criou o que Marx chamaria de “exército industrial de reserva” – uma massa de trabalhadores desempregados ou subempregados que pressionaram para baixo os trabalhadores e perpetuaram a insegurança econômica. Essa ideia, retomada pelos autores como Gorz (1982), é amplificada no cenário atual, em que a digitalização e a precarização do trabalho não apenas fragmentam a força de trabalho, mas também minam as redes de solidariedade entre os trabalhadores.

Além disso, a precarização do trabalho, marcada por contratos temporários, baixas tensões e falta de proteção social, amplificam as desigualdades estruturais e tornam o discurso marxiano mais atual do que nunca. Para Marx, essas condições não são aberrações do capitalismo, mas sim elementos centrais de seu funcionamento. Essa perspectiva é corroborada por Standing (2011), que argumenta que a formação do “precariado” — uma nova classe de trabalhadores sem estabilidade — reflete a essência do capitalismo tardio. Esses trabalhadores vivem em constante estado de insegurança econômica, o que reforça a lógica de alienação e exploração descrita por Marx.

A crítica marxista ao capitalismo concentra-se na forma como perpetua e intensifica a desigualdade econômica. Marx argumenta que, no capitalismo, o capital tende a se concentrar em um número cada vez menor de mãos, enquanto a maioria da população enfrenta condições de vida cada vez mais difíceis. Essa tendência é visível em características contemporâneas, como o crescimento exponencial das grandes corporações e a concentração de riqueza entre bilionários. Piketty (2014) reforça esse ponto ao demonstrar, em sua análise empírica, que a concentração de capital não é apenas uma consequência do capitalismo, mas sua dinâmica estrutural, que tende a se intensificar sem disciplinas redistributivas.

A desigualdade não é apenas um problema moral ou social; para Marx, ela também é uma barreira ao desenvolvimento humano. Ele argumenta que o capitalismo limita o potencial humano ao obter o lucro acima do bem-estar. Em vez de promover o florescimento das capacidades individuais, o sistema força os indivíduos a se adaptarem às exigências do mercado, muitas vezes em detrimento de suas necessidades e aspirações pessoais. Isso é amplamente discutido por Fraser (2017), que conecta a crítica marxiana à desigualdade às questões de justiça ambiental e de gênero, destacando como uma lógica capitalista subordinada a todas as formas de vida ao imperativo de acumulação.

Para superar as contradições do capitalismo, Marx defende a necessidade de uma transformação social radical. Essa transformação, que chama de revolução proletária, envolve uma mudança nos meios de produção dos trabalhadores e a abolição da propriedade privada dos meios de produção. Marx visualiza uma sociedade comunista na qual a exploração e a alienação são eliminadas, e os recursos são distribuídos de acordo com as necessidades de cada indivíduo. Essa visão é frequentemente interpretada como utópica, mas autores como Eagleton (1991) argumentam que a utopia marxista não é uma fantasia, mas uma crítica prática ao que Marx considerava as distorções do capitalismo.

Embora a visão de Marx sobre uma sociedade pós-capitalista seja frequentemente criticada como idealista, sua análise das dinâmicas do capitalismo continua a oferecer ferramentas inovadoras para entender as crises econômicas e sociais que enfrentamos hoje. Em particular, sua ênfase na luta de classes como motor da história destaca a importância de movimentos sociais e políticos que buscam maior justiça social e equidade econômica. Nesse contexto, Harvey (2010) aponta que a luta de classes não é apenas um conceito histórico, mas uma força ativa nas tensões políticas e econômicas contemporâneas, especialmente em relação às demandas por redistribuição e justiça.

No contexto atual, muitos dos problemas identificados por Marx não foram resolvidos, e alguns até se intensificaram. A globalização, por exemplo, expandiu o alcance do capitalismo, mas também aprofundou as desigualdades entre países e dentro deles. As crises financeiras, como a de 2008, revelaram as vulnerabilidades estruturais do sistema capitalista, reforçando a relevância da crítica marxista. Wallerstein (1974) argumenta que a globalização é uma extensão da lógica capitalista que exacerba as desigualdades estruturais entre o centro e a periferia do sistema-mundo.

Além disso, questões como mudança climática, precarização do trabalho e desigualdade de gênero podem ser comprovadas através do prisma marxiano. O capitalismo, segundo Marx, tende a explorar não apenas os trabalhadores, mas também os recursos naturais, sem considerar os custos sociais e ambientais de suas práticas. Essa lógica predatória é claramente visível na crise ambiental que enfrentamos hoje, onde o lucro imediato é priorizado em detrimento da sustentabilidade a longo prazo. Moore (2015) destaca que o capitalismo não explora apenas a natureza como recurso, mas trata como um “campo infinito” de lucro, ignorando suas limitações ecológicas.

A crítica de Marx ao capitalismo tem implicações profundas para o conceito de desenvolvimento humano. Para Marx, o desenvolvimento humano pleno só pode ser alcançado em uma sociedade que elimina a exploração e promove a igualdade de condições. Isso requer uma reorganização fundamental das relações sociais e econômicas, com foco na satisfação das necessidades humanas em vez da acumulação de riqueza. Sen (1999), embora não marxista, ecoa essa visão ao afirmar que o desenvolvimento deve ser medido pela expansão das liberdades humanas, não apenas pelo crescimento econômico.

Embora suas propostas para uma sociedade comunista sejam objeto de debate, a análise marxiana oferece insights importantes para a formulação de políticas públicas que buscam reduzir a desigualdade e promover o bem-estar coletivo. Em particular, a ideia de que o progresso econômico deve ser acompanhado da justiça social é uma contribuição de Marx para o pensamento sobre o desenvolvimento humano. Sua obra continua a inspirar debates sobre como enfrentar as crises do capitalismo e construir um futuro mais justo.

Thomas Piketty: Desigualdade e Sustentabilidade Econômica

A concentração de renda é uma característica histórica que molda as estruturas socioeconômicas desde o período feudal até o capitalismo contemporâneo. Segundo Piketty (2014), a desigualdade de riqueza não é apenas um subproduto atrasado do crescimento econômico, mas uma característica estrutural do capitalismo em sua forma histórica.

No estudo seminal O Capital no Século XXI , Piketty demonstra que, em longos períodos históricos, a taxa de retorno do capital supera a taxa de crescimento econômico (r>gr > gr>g), perpetuando um ciclo de acumulação que concentra riqueza nas mãos de uma elite econômica. Essa dinâmica reforça as desigualdades estruturais e limita a mobilidade social.

O processo de concentração de renda remonta à Europa do século XVIII, quando as economias agrárias se baseavam em uma elite proprietária de terras que extraía renda de vastas parcelas da população camponesa. Esse modelo foi posteriormente adaptado ao capitalismo industrial, no qual o controle do capital financeiro e das indústrias emergentes substituiu o poder agrário. Piketty (2014) observa que “o longo século XIX foi marcado por uma enorme concentração de capital privado, com patrimônios individuais que cresceram em proporção muito maior do que os rendimentos do trabalho” (Piketty, 2014, p. 348).

A transição do século XIX para o XX trouxe a Primeira Guerra Mundial, a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, eventos que redistribuíram uma riqueza devido a impostos elevados e inflação descontrolada. Esses eventos interromperam temporariamente o acúmulo de riqueza privada, mas não alteraram fundamentalmente a lógica estrutural do capitalismo. No entanto, o período pós-Segunda Guerra, especialmente entre as décadas de 1950 e 1970, destacou-se como um momento de redução da desigualdade nos países ocidentais, em grande parte devido a políticas redistributivas e sistemas tributários progressivos.

Conforme Piketty (2014), essa redução foi uma exceção histórica e não a regra. No final do século XX, especialmente após as políticas neoliberais dos anos 1980, observou-se um aumento expressivo na desigualdade de renda e riqueza, particularmente nos Estados Unidos e no Reino Unido. Isso pode ser atribuído à redução dos impostos progressivos sobre a renda e o capital, desregulação financeira e concentração de poder corporativo. Nesse contexto, Piketty observa que “as economias modernas passaram a uma estrutura patrimonial, onde uma pequena parcela da população detém grande parte da riqueza nacional” (Piketty, 2014, p. 400).

Um estudo publicado no Journal of Economic Perspectives (Saez & Zucman, 2016) detalha como a redistribuição fiscal e os sistemas de bem-estar social atenuaram a concentração de renda nos países da Escandinávia, enquanto as políticas fiscais regressivas intensificaram a desigualdade nos Estados Unidos (Saez & Zucman, 2016, p. 225). Da mesma forma, uma análise de Milanovic (2016) no World Development Journal destaca que a globalização econômica, embora tenha reduzido a desigualdade entre países, exacerbou as disparidades dentro das nações.

Assim, a história da concentração de renda reflete a interação entre forças econômicas, políticas e sociais que perpetuam ou mitigam desigualdades. Para Piketty (2014), o papel das políticas públicas, especialmente no controle do capital e na tributação progressiva, é crucial para romper com essa trajetória histórica.

As propostas de Thomas Piketty para combater a desigualdade podem ser vistas como contraintuitivas em vários aspectos, especialmente no contexto político e econômico global. Ele defende uma implementação de políticas públicas robustas que não apenas redistribuam a riqueza, mas também reestruturem as bases do sistema tributário e econômico. Essas ideias contrastam fortemente com o paradigma neoliberal que prevalece em muitas economias avançadas.

Uma das propostas centrais de Piketty (2014) é a criação de um imposto global progressivo sobre grandes fortunas. Ele argumenta que tal medida seria uma ferramenta poderosa para reduzir desigualdades, ao mesmo tempo em que geraria receita para financiar políticas públicas essenciais. “A progressividade fiscal não é apenas uma ferramenta técnica, mas também uma forma de redefinir os limites éticos da desigualdade” (Piketty, 2014, p. 493). Essa ideia, no entanto, enfrentará resistência significativa, especialmente em países onde o poder político está amplamente concentrado nas elites econômicas.

Um estudo de Stiglitz (2015), publicado no American Economic Review , apoia a visão de Piketty, apontando que a tributação progressiva pode aumentar a eficiência econômica ao reduzir o impacto negativo das desigualdades extremas sobre a coesão social e o consumo interno (Stiglitz, 2015, pág. 22). No entanto, os críticos argumentam que a aplicação de impostos internacionais enfrenta desafios importantes em relação aos obstáculos políticos para o consenso em torno das propostas distributivistas.

Piketty  su a importância de políticas redistributivas como base para uma sociedade mais equitativa. Ele propõe um fortalecimento do estado de bem-estar social, com maior investimento em saúde, educação e infraestrutura. Segundo ele, essas políticas não são apenas moralmente desejáveis, mas também economicamente justificáveis, pois promovem a coesão social e a estabilidade. “Uma sociedade mais igualitária é, em última análise, mais e produtiva mais inovadora” (Piketty, 2014, p. 567).

Estudos como o de Atkinson (2015), publicados no Oxford Economic Papers , corroboram essa perspectiva, destacando que políticas redistributivas amplas têm efeitos positivos sobre o crescimento econômico de longo prazo e a redução de estresse social (Atkinson, 2015, p. 345). No entanto, a proposta enfrenta objeções de economistas liberais que têm que redistribuições excessivas podem desincentivar a inovação e a produtividade.

Piketty argumenta que as reformas tributárias precisam ser amplas, incluindo não apenas impostos sobre renda, mas também sobre heranças e ganhos de capital. Ele sugere que a ausência de impostos sobre grandes heranças é um dos principais motores da concentração de riqueza no século XXI. “Heranças representam um retorno ao modelo de riqueza patrimonial que pensávamos ter superado no século XX” (Piketty, 2014, p. 625).

Esta proposta, embora lógica em termos teóricos, é altamente contraintuitiva em sociedades onde heranças são vistas como direitos fundamentais. Publicações como a de Mazzucato (2018), no Cambridge Journal of Economics , reforçam o argumento de Piketty ao destacar que impostos sobre heranças poderiam gerar recursos para inovação pública e redução de desigualdades (Mazzucato, 2018, p. 212).

Essas medidas propostas por Piketty mostram uma abordagem pragmática que desafia as normas econômicas condicionantes, enfatizando a necessidade de mudança estrutural para enfrentar os desafios da desigualdade.

Thomas Piketty posiciona sua análise e propostas como centrais para enfrentar os desafios do desenvolvimento humano no século XXI. Para ele, a desigualdade extrema não é apenas um problema econômico, mas uma ameaça ao tecido social e à estabilidade política das nações.

No século XXI, a desigualdade extrema é cada vez mais vista como uma entrada ao desenvolvimento humano. Piketty (2014) argumenta que a concentração de riqueza é a base da democracia e limita o acesso igualitário às oportunidades. Essa perspectiva é reforçada por publicações como o relatório da Oxfam (2020), que evidencia que a desigualdade extrema prejudica o progresso na saúde e na educação, especialmente em países em desenvolvimento ( Oxfam International , 2020).

Um aspecto inovador do pensamento de Piketty é sua defesa de uma cooperação internacional mais profunda para enfrentar a desigualdade. Ele propõe que instituições globais, como o FMI e a OCDE, desempenhem papéis maiores na implementação de impostos progressivos globais. Essa visão contrasta com a soberania econômica que prevalece em muitas nações, mas reflete uma necessidade pragmática em um mundo cada vez mais interconectado.

Estudos como o de Alvaredo et al. (2018), publicado no World Inequality Report , reforçam a ideia de que as políticas tributárias globais são essenciais para lidar com a evasão fiscal e promover a justiça econômica global ( World Inequality Report , 2018).

Outro ponto de destaque do pensamento do autor é a conexão entre sustentabilidade ambiental e justiça social. Piketty argumenta que os desafios ambientais e econômicos estão interligados e que um modelo de crescimento inclusivo deve priorizar a redução das desigualdades. Ele sugere que as receitas de impostos progressivos sejam direcionadas para investimentos em energia renovável e mitigação de mudanças climáticas. Essa ideia encontra respaldo em autores como Sachs (2015), que no Sustainable Development Journal destaca que políticas redistributivas podem financiar transições para economias mais sustentáveis ​​(Sachs, 2015).

Portanto, assim, em síntese, Piketty oferece um modelo de desenvolvimento que prioriza a equidade, a sustentabilidade e a cooperação global como pilares para enfrentar os desafios do século XXI.

Ludwig von Mises e a Liberdade de Mercado

A teoria de Ludwig von Mises, amplamente discutida em sua obra Ação Humana (1949), constitui um dos pilares mais influentes do pensamento econômico liberal. Seus fundamentos baseiam-se na praxeologia, que interpreta a ação humana como intencional e racional, e no sistema de preços, visto como um mecanismo indispensável para a eficiência eficiente dos recursos. O pensamento de Mises (1949)  integra e interconecta os conceitos de cooperação estratégica e soberania do consumidor, enquanto discute as implicações da intervenção estatal no funcionamento do mercado.

Mises (1949) defende o princípio essencial  de que o livre mercado promove a eficiência econômica por meio da cooperação gradual. Segundo Mises (1949), os preços no mercado livre não são apenas um reflexo da escassez de recursos, mas também um guia para a ação econômica racional.  Os preços são os sinais que orientam a produção e o consumo, permitindo uma alocação eficiente dos recursos, explica Mises (1949).

A lógica por trás dessa afirmação é evidente ao observar como as oscilações nos preços incentivam ajustes sonoros entre oferta e demanda, portanto, em um cenário de aumento na demanda por um bem, o preço sobe, atraindo novos produtores e garantindo que o recurso escasso seja utilizado onde é mais necessário.

Sobretudo, Mises destaca que a busca pelo lucro é o principal motor do progresso humano. Empreendedores, guiados pelos sinais do mercado, identificam lacunas nas demandas dos consumidores e inovam para atender a essas necessidades. Esse ciclo virtuoso tem sido historicamente responsável por avanços tecnológicos e melhorias na qualidade de vida. Como o autor reforça: “A liberdade de empreender é a força propulsora do progresso econômico” (Mises, 1949).

Mises (1949) argumenta que, mesmo em um ambiente de busca individual por ganhos, o sistema de preços incentiva a colaboração entre diferentes agentes econômicos. Ele exemplifica: “O mercado é o local onde as diferenças se harmonizam por meio do intercâmbio” (Mises, 1949). Essa lógica permite que o mercado transcenda barreiras culturais, religiosas e ideológicas, criando um sistema de interdependência que favorece o progresso humano.

A noção de soberania do consumidor reforça o papel central das escolhas individuais na dinâmica econômica e, o autor é radicalmente contrário  a intervenção estatal, que muitas vezes desvia recursos para setores ineficientes e limita a criatividade empresarial.

Para Mises (1949), o consumidor, ao decidir o que comprar, determina quais bens e serviços serão produzidos, garantindo que a economia funcione para atender às reais necessidades da sociedade.

As intervenções estatais, mesmo quando forem feitas com boas intenções causam desvirtuam  o pleno funcionamento da economia de trocas, que são adequadas e necessárias para o funcionamento dos negócios.

Os controles de preços e subsídios, são, segundo Mises, fatores que comprometem a lógica de evolução espontânea do mercado. Ele afirma: “Qualquer tentativa de manipular preços desorganiza os sinais econômicos, criando ineficiências e desperdícios” (Mises, 1949).

O controle de aluguéis, por exemplo, pode parecer uma solução para proteger inquilinos, mas muitas vezes resulta em uma crise habitacional que desincentivarão novos investimentos no setor.

Além disso, ao proteger setores ineficientes com subsídios e tarifas, o Estado limita a concorrência e a inovação, elementos indispensáveis ​​para o progresso econômico. Para outros autores liberais, como Hayek (1944), a liberdade de mercado é essencial para a descoberta de soluções  e para o dinamismo da economia. Esse autor, também, defende que uma intervenção estatal não apenas reduz a produtividade, mas também perpetua práticas obsoletas, em detrimento de setores que poderiam trazer maior valor agregado à sociedade.

Mises (1949), Kayek (1944), Friedman (1962)  alertam para o risco de centralização do poder econômico e político como consequência das intervenções estatais. Esse processo, como evidenciado nos regimes totalitários do século XX, compromete não apenas a eficiência econômica, mas também a liberdade individual e a democracia. Segundo Friedman (1962), “o aumento do controle estatal sobre a economia é um prenúncio do autoritarismo”. Essa visão encontra eco análises em contemporâneas que identificam o crescimento do poder arbitrário como um desafio para as democracias modernas.

Ludwig von Mises defende a superioridade do mercado livre em “Ação Humana” (1949), os adversários teóricos questionam os limites e as contradições do liberalismo econômico. Essas críticas frequentemente destacam o papel da desigualdade estrutural, das falhas de mercado e da incapacidade do sistema capitalista de lidar especificamente com bens públicos e externalidades.

Um dos principais contrapontos ao pensamento liberal está relacionado à desigualdade econômica. Thomas Piketty, em “O Capital no Século XXI” (2013), argumenta que o sistema capitalista tende a concentrar a riqueza em detrimento da maioria da população. Ele demonstra que, historicamente, a taxa de retorno sobre o capital supera consistentemente o crescimento econômico, o que leva ao aumento da desigualdade. Piketty afirma: “Quando a taxa de retorno do capital excede a taxa de crescimento da produção e da renda, como ocorreu no século XIX e parece tentar ocorrer novamente no século XXI, o capitalismo automaticamente gera desigualdades arbitrárias e insustentáveis” (Piketty, 2013 , pág. 25).

De acordo com essa visão, a soberania do consumidor, exaltada por Mises, pode ser ilusória em contextos de alta concentração de riqueza. Em mercados dominados por grandes corporações, as preferências dos consumidores mais pobres são frequentemente negligenciadas, enquanto os consumidores mais ricos determinam os rumores da produção. Essa desigualdade reduz a eficiência social do sistema de preços, que Mises descreve como “o guia para a ação econômica racional” (1949).

Outra crítica central ao pensamento liberal envolve as falhas de mercado, particularmente em relação às externalidades negativas, como a poluição ambiental. Garrett Hardin, em seu influente artigo “The Tragedy of the Commons” (1968), aponta que a busca individual pelo lucro, sem regulamentação, pode levar ao esgotamento de recursos compartilhados. Ele observa: “Cada pastor é levado a maximizar sua vantagem. […] O pasto comum é degradado até o ponto em que deixa de ser útil para todos” (Hardin, 1968, p. 1244). Essa crítica desafia a visão otimista de Mises sobre a autorregulação do mercado, afirmando que uma intervenção estatal é necessária para preservar recursos naturais e combater os efeitos das mudanças climáticas.

Joseph Stiglitz, em “The Price of Inequality” (2012), reforça essa perspectiva, argumentando que mercados não regulamentados geram frequentemente alocações ineficientes de recursos. Ele afirma: “Os mercados, por si só, não garantem eficiência econômica. Quando existem externalidades, informações assimétricas ou poder de mercado concentrado, as intervenções públicas podem melhorar os resultados econômicos e sociais” (Stiglitz, 2012, p. 56).

Apesar das críticas, os defensores do pensamento liberal frequentemente argumentam que as intervenções estatais criam mais problemas do que soluções. Hayek, em “O Caminho do Servidão” (1944), sugere que a regulação excessiva leva à destruição das liberdades individuais: “A centralização econômica exige que as decisões sejam impostas por um pequeno grupo, ignorando os desejos e as necessidades individuais” (Hayek, 1944, pág. 90).

No entanto, autores como Amartya Sen, em “Desenvolvimento como Liberdade” (1999), apresentam uma visão mais equilibrada, argumentando que os mercados livres podem ser compatíveis com a redução da desigualdade e a promoção do bem-estar social. Ele afirma: “A liberdade econômica é uma parte essencial do desenvolvimento, mas ela não pode ser promovida de forma independente da liberdade social e política” (Sen, 1999, p. 10). Essa abordagem destaca a importância de complementar os mercados com políticas redistributivas e regulamentações inteligentes.

Embora críticos em relação aos limites do liberalismo, é importante considerar os benefícios do sistema de preços e da liberdade de mercado. Milton Friedman, em “Capitalismo e Liberdade” (1962), enfatiza que o mercado, apesar de suas imperfeições, é o melhor mecanismo para alocar recursos escassos. Ele afirma: “A única maneira de coordenar as atividades de milhões de pessoas sem coerção é através de um sistema de preços livres” (Friedman, 1962, p. 13).

Os defensores liberais também argumentam que a desigualdade não é parcialmente prejudicial, já que está associada ao mérito e ao esforço individual. Robert Nozick, em “Anarchy, State, and Utopia” (1974), apresenta a teoria da justiça baseada na transferência voluntária. Ele argumenta que “a desigualdade resultante de transações justas não é moralmente condenável” (Nozick, 1974, p. 160).

Além disso, o pensamento liberal destaca que uma intervenção estatal pode gerar ineficiências e distorcer incentivos. Como observa Hayek: “Cada restrição governamental ao mercado reduz o espaço para a descoberta individual e limita as possibilidades de progresso espontâneo” (Hayek, 1944, p. 123).

Esse confronto intelectual é fascinante e  felizmente está longe de terminar, as críticas contemporâneas ao liberalismo ressaltam questões importantes relacionadas à desigualdade, às falhas de mercado e à necessidade de equilíbrio entre liberdade econômica e justiça social e, a teoria de Ludwig von Mises oferece uma visão robusta e consistente do papel do mercado na promoção da eficiência econômica e da cooperação social. Ao integrar os argumentos liberais e antiliberais, apresentam-se a definição de mercados livres e contrapontos dos adversários dos neoliberais em que busca-se ampliar o escopo sobre o tema, os desafios econômicos e sociais do século XXI.

Resultados

Os resultados obtidos indicam que as teorias de Marx, Piketty e Mises oferecem contribuições significativas para o debate sobre o desenvolvimento humano, mas apresentam abordagens distintas. Marx e Piketty convergem em suas críticas ao capitalismo, ressaltando seus impactos negativos sobre a equidade social. Contudo, suas soluções divergem: enquanto Marx propõe uma transformação estrutural que supera o sistema capitalista, Piketty enfatiza reformas redistributivas e políticas tributárias progressivas como mecanismos para reduzir desigualdades. Por outro lado, Mises valoriza a eficiência e a cooperação promovida pelo mercado livre, mas suas propostas demonstram limitações em abordagem de desigualdades extremas e externalidades sociais.

Uma análise comparativa evidenciou que tanto Marx quanto Piketty colocam o social como núcleo de suas propostas, defendendo a redistribuição de renda e a implementação de políticas públicas como condições indispensáveis ​​para o desenvolvimento humano. Em contraste, a visão de Mises, embora destaque a liberdade econômica como pilar da eficiência, precisa de mecanismos robustos para tratar desigualdades sistêmicas e atender às demandas sociais contemporâneas.

A partir dessa análise, foram delineadas diretrizes para políticas públicas que buscam equilibrar a justiça social e o dinamismo econômico, ancoradas nas contribuições teóricas dos autores:

Reformas Tributárias Progressivas: Baseadas em Piketty, para financiar programas sociais e combater a concentração de renda é importante envolver toda sociedade no debate em relação as bases do tripé econômico e discutir publicamente a meta de inflação.

Conclusão

Sem que ocorra a  discussão pública das metas de inflação, da noção de  superávit primário e câmbio flutuante,  a  classe dos trabalhadores permanecerá refém dos setores que detém o poder sobre a mídia (mainstream) e da minoria que compõe o setor hegemônico do sistema financeiro.

A proteção aos direitos trabalhistas só se concretiza na luta organizada, para além da inspiração marxista, para mitigar a precarização e promover a dignidade do trabalho  é essencial o renascimento de sindicatos de trabalhadores.

As  economias dos países avançados e as políticas e práticas dos sistemas de ensino de países como Finlândia, Noruega, Suécia são aspectos do debate que não pudemos fazer avançar nesse trabalho, portanto,  há uma lacuna nessa pesquisa que deve ser explorada,  a partir de  estudos qualitativos em relação a contribuição determinante que a educação das crianças desde a creche, ensino fundamental e ensino médio para estudantes que desejam e reúnem capacidades para continuar os estudos no ensino superior acadêmico e  continuidade  dos estudos para estudante que optarem pelos  cursos técnicos  e tecnológico.

Possivelmente, um estudo investigativo dos incentivos ao bem estar social e educação das famílias, crianças, jovens e adultos, revelarão aquilo que imaginamos: a inovação e sustentabilidade do livre mercado, conforme defendido por von Mises, pode ser gerado e a sua eficiência e sustentabilidade dependerá tanto da qualidade da educação para todos, quanto da fomentação do mercado interno brasileiro e  progresso tecnológico  autóctone, não completamente dependente dos produtos de alta tecnologia importados  de outros países que já são desenvolvidos.

Quando se fala na importância do bem-estar social, está se falando do bem-estar de cada indivíduo da sociedade, sem gerar condições políticas para transformar a educação e a saúde como direitos básicos é impossível que o Brasil possa alcançar o status  de pais desenvolvido,  sem que isso seja concretizado, a sustentabilidade do próprio sistema capitalista  continuará sendo precária e dependente das economias dos países desenvolvidos.

Embora essas diretrizes representem um passo relevante para a formulação de políticas públicas integradas, sua eficácia depende de uma concepção pragmática que articula três dimensões essenciais:

Na linha de raciocínio que seguimos, considerando as propostas que foram delineadas, é bom que seja dito, é fundamental envolver especialistas e instituições acadêmicas na construção de um arcabouço conceitual sólido, que fundamentalmente as reformas propostas. Se a sociedade brasileira não construir um compromisso coletivo envolvendo formuladores de políticas públicas, o Congresso Nacional e a sociedade civil organizada, as reformas serão inexequíveis. Esse pacto deve garantir o engajamento em torno de objetivos comuns, permitindo que interesses divergentes sejam conciliados em prol do bem-estar coletivo.

As políticas devem ser operacionalizadas por meio de estratégias técnicas claras e viáveis, com desdobramentos detalhados que asseguram sua implementação eficaz e sustentável,  se não mobilizarmos conhecimentos e organização política, tudo que propomos é inalcançável. Sem um compromisso coletivo envolvendo formuladores de políticas públicas, o Congresso Nacional e a sociedade civil organizada, as reformas são inexequíveis. Esse pacto deve garantir o engajamento em torno de objetivos comuns, permitindo que interesses divergentes sejam conciliados em prol do bem-estar coletivo.

Essas diretrizes, quando integradas a um pacto político sólido e sustentado por conhecimento técnico e participação social ampla, podem transformar as desigualdades econômicas em oportunidades para crescimento equitativo. Somente por meio da cooperação entre os diversos atores sociais e políticos possíveis será possível enfrentar os desafios econômicos e sociais do século XXI, consolidando um modelo de desenvolvimento que promova tanto a justiça social quanto o dinamismo econômico.

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