DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA: UMA REVISÃO SOBRE CAUSAS, DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM TERAPÊUTICA

PREMATURE PLACENTAL DETACHMENT: A REVIEW OF CAUSES, DIAGNOSIS, AND THERAPEUTIC APPROACH

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202408121407


Rosane Dias da Silva1; Vinicius Barros Prehl2; Mariana Thiel Biava3; Patricia Ribeiro Achilles4; Juliana Câmara Aty5; Agatha Alexsandra Falchetti Volpato6; Bianca Frazon Nogueira dos Santos7; Leonardo Salles de Oliveira Moura8; Debora Glenda dos Santos9; Gabriella Mariane freire Ramos10.


Resumo

O descolamento prematuro de placenta (DPP) é uma condição obstétrica séria caracterizada pela separação súbita da placenta do útero após a 20ª semana de gestação, resultando em complicações graves tanto para a mãe quanto para o feto. Esta revisão aborda as causas, diagnóstico e manejo do DPP, enfatizando sua importância como uma causa significativa de sangramento vaginal na segunda metade da gravidez e suas implicações para a saúde materno-fetal. As causas do DPP incluem fatores traumáticos, como acidentes e traumas abdominais, e não-traumáticos, como hipertensão, tabagismo, uso de drogas, idade materna avançada, e condições como pré-eclâmpsia e ruptura prematura das membranas. O diagnóstico é primariamente clínico, baseado em sintomas como dor abdominal intensa, hipertonia uterina e sinais de sofrimento fetal, com a ultrassonografia e a cardiotocografia auxiliando na avaliação do bem-estar fetal. O manejo do DPP é uma emergência obstétrica, requerendo intervenções rápidas para estabilizar a mãe e o feto. A abordagem terapêutica inclui a estabilização hemodinâmica materna, monitorização fetal contínua e, em casos graves, cesariana de emergência. Após o parto, o foco permanece na monitorização da hemorragia, estabilidade hemodinâmica e prevenção de complicações, como infecções puerperais.

Palavras-chave: Complicações materno-fetais. Emergência obstétrica. Descolamento prematuro de placenta. 

1. INTRODUÇÃO

O descolamento prematuro de placenta (DPP) é caracterizado pela separação súbita e prematura da placenta do corpo uterino após a 20ª semana de gestação, resultando em sangramento e formação de hematoma entre os tecidos envolvidos.

 Essa condição ocorre em aproximadamente 6,5 a cada 1.000 partos, constituindo uma causa significativa de sangramento vaginal na segunda metade da gravidez, especialmente entre 24 e 26 semanas.

As consequências do DPP podem incluir asfixia intrauterina, prematuridade e sequelas neurológicas em até 25% dos recém-nascidos afetados. Além disso, a morbimortalidade perinatal associada ao DPP é elevada, com uma incidência de 119 a cada 1.000 casos (REZENDE FILHO et al., 2017). A identificação precoce e o manejo adequado dessa condição são essenciais para minimizar os riscos e melhorar os desfechos materno-fetais.

Este artigo visa analisar a etiologia, diagnóstico e manejo do descolamento prematuro de placenta (DPP), com foco em suas implicações para a saúde materno-fetal. Busca-se compreender os fatores de risco associados, aprimorar as práticas diagnósticas e terapêuticas, e contribuir para a redução da morbimortalidade perinatal relacionada.

2. METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura realizada no período de maio a junho de 2024 por meio de pesquisas nas bases de dados PubMed, BVS e Scielo, bem como em livros acadêmicos recentes da área relativa à Obstetrícia e Emergência Médica. Foram utilizados os descritores: “Abruptio Placentae”, “Emergency”, “Management”. Desta busca foram encontrados 5073 artigos, posteriormente submetidos aos critérios de seleção. 

Os critérios de inclusão foram: artigos nos idiomas inglês, português e espanhol; publicados no período de 2006 a 2024 e que abordavam as temáticas propostas para esta pesquisa, disponibilizados na íntegra. Os critérios de exclusão foram: artigos duplicados, artigos que não abordavam diretamente o tema proposto nos objetivos. 

Após os critérios de seleção restaram 6 artigos que foram submetidos à leitura minuciosa para a coleta de dados.  Os resultados foram apresentados de forma descritiva.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

As possíveis etiologias do descolamento prematuro de placenta (DPP) são variadas e complexas, refletindo tanto fatores maternos quanto fetais. DPP pode ser classificado em causas traumáticas e não-traumáticas. Entre as causas traumáticas, destacam-se eventos como acidentes automobilísticos e traumas abdominais severos, bem como intervenções obstétricas como a versão cefálica externa (SOUZA & CAMANO, 2006). No entanto, essas causas externas são relativamente raras na prática clínica atual. 

As causas não-traumáticas incluem uma série de condições médicas e comportamentais da mãe. A hipertensão é um fator de risco significativo, estando presente em 20 a 30% dos casos de DPP (LUETH et al., 2022). Outras condições incluem tabagismo, uso de cocaína, idade materna avançada, gravidez múltipla, pré-eclâmpsia e ruptura prematura das membranas pré-termo (RPMP). Fatores anatômicos, como a presença de uma placenta circunvalada, infecção intramniótica (corioamnionite), e condições fetais, como movimentos fetais excessivos ou um cordão umbilical curto, também têm sido implicados (SOUZA & CAMANO, 2006). 

A etiologia multifatorial do DPP sugere que a interação de diversos fatores de risco pode precipitar o descolamento, sublinhando a necessidade de um monitoramento cuidadoso e uma abordagem preventiva abrangente para gestantes com fatores de risco identificáveis (LUETH et al., 2022). 

O diagnóstico do descolamento prematuro de placenta (DPP) é principalmente clínico, baseando-se na apresentação dos sintomas e nos achados físicos da gestante. As manifestações clínicas mais comuns incluem dor abdominal intensa, sangramento vaginal, hipertonia uterina e sinais de sofrimento fetal, como anormalidades na frequência cardíaca fetal detectadas pela cardiotocografia. A dor abdominal é geralmente contínua e localizada, podendo ser acompanhada de sensibilidade uterina à palpação. O sangramento vaginal pode variar em quantidade, mas sua ausência não exclui o diagnóstico de DPP. A ultrassonografia pode auxiliar no diagnóstico, embora nem sempre identifique o descolamento, especialmente nos casos mais leves. A cardiotocografia é crucial para avaliar o bem-estar fetal, detectando sinais de sofrimento fetal, como desacelerações tardias ou variáveis e ausência de variabilidade na frequência cardíaca. Em casos de suspeita de DPP, é essencial proceder com a avaliação rápida e contínua tanto da mãe quanto do feto, para decidir sobre a melhor abordagem terapêutica, que pode incluir desde a estabilização clínica até a realização de uma cesariana de emergência, dependendo da gravidade do caso e do comprometimento materno-fetal (TIKKANEN, 2011).

O manejo do descolamento prematuro de placenta (DPP) é uma emergência obstétrica que requer intervenções imediatas para assegurar a sobrevivência e a saúde tanto da mãe quanto do feto. Inicialmente, é crucial realizar uma avaliação rápida da condição materna e fetal, incluindo a monitorização dos sinais vitais da mãe e dos batimentos cardíacos fetais por meio de cardiotocografia. A estabilização hemodinâmica da paciente é uma prioridade, frequentemente necessitando de administração de fluidos intravenosos e, em casos de hemorragia significativa, transfusões sanguíneas. Em situações onde há evidência de sofrimento fetal agudo ou condição materna crítica, a realização de uma cesariana de emergência pode ser imperativa para evitar complicações graves ou óbito. Após o parto, cuidados intensivos devem continuar focando na monitorização da hemorragia, estabilidade hemodinâmica, tratamento da dor e prevenção de infecções puerperais. A abordagem terapêutica deve ser personalizada, considerando a gravidade do quadro e as condições clínicas individuais da paciente (SHEINER, 2011).

No pós-parto, a paciente deve receber cuidados apropriados, incluindo monitoramento contínuo da hemorragia e da estabilidade hemodinâmica, além de tratamento da dor e prevenção de complicações como infecções puerperais.

4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O descolamento prematuro de placenta (DPP) representa uma grave complicação obstétrica, com importantes repercussões para a saúde materna e fetal. Sua etiologia multifatorial, incluindo fatores traumáticos e não-traumáticos, destaca a complexidade do quadro clínico. O diagnóstico precoce e preciso, apoiado na avaliação clínica e em exames complementares, é essencial para a implementação de um manejo adequado e imediato. A estabilização hemodinâmica da mãe e a monitorização contínua do bem-estar fetal são cruciais para determinar a melhor intervenção, frequentemente culminando em uma cesariana de emergência nos casos mais graves. A compreensão dos fatores de risco associados e a adoção de medidas preventivas podem reduzir a incidência e a gravidade do DPP. Assim, a abordagem multidisciplinar e a personalização do tratamento são fundamentais para melhorar os desfechos materno-fetais e minimizar as complicações associadas a essa condição crítica.

REFERÊNCIAS

LUETH, A. et al. Prospective evaluation of placental abruption in nulliparous women. Journal of Maternal-fetal & Neonatal Medicine, v. 35, n. 25, p. 8603, 2022. doi: 10.1080/14767058.2021.1989405. 

REZENDE FILHO, J. et al. Rezende: Obstetrícia Fundamental, 14. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 

SHEINER, E. Placental abruption: risk factors, perinatal outcomes, and consequences for subsequent births. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, v. 158, n. 1, p. 19-24, 2011.

SOUZA, E. & CAMANO, L. Descolamento prematuro da placenta. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 52, n. 3, p. 133, 2006. https://doi.org/10.1590/S0104-42302006000300008. 

TIKKANEN, M. Placental abruption: epidemiology, risk factors and consequences. Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica, v. 90, n. 2, p. 140-149, 2011.

VELASCO, I.T. et al. Medicina de Emergência: Abordagem Prática, 16. ed. – Santana de Parnaíba [SP]: Manole, 2022.