DESAFIOS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NO ENSINO REMOTO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PERSPECTIVAS DE USO DAS TIC

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7932784


Carlos Manoel da Fonseca1
Clarice Pereira Nunes2
Ednelma Silva Santana Borges3
Elizangela Carla Beserra da Fonseca4
Feliciano Bernabé Cassanga Ndala5
José Evangelista da Silva6
Lidiane Eugenia Teza Rodrigues7
Noêmia Lima Neves8
Priscila Pinel Bernardo Vieira Rocha9
Silvanice Silva Moraes10
Silvia Cristiane dos Santos Moreto11


RESUMO:

A sociedade brasileira vem construindo uma cultura em que a educação básica é realizada exclusivamente de forma presencial. Contudo, essa realidade começou a ser modificada devido à nova realidade que se instaurou com a chegada do novo Coronavírus e a obrigatoriedade do isolamento social implementada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e em uma perspectiva local, pelos Estados e prefeituras municipais. Nesse contexto, a educação passou a ser implementada por meio do Ensino Remoto Emergencial (ERE), fato que trouxe várias implicações para professores e alunos que tentavam contornar a situação para que não houvesse a necessidade de os discentes perderem o ano letivo e ao mesmo tempo preservar a saúde da comunidade escolar. Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivos refletir sobre os principais desafios inerentes à formação de professores para o uso das novas tecnologias, tendo em vista que esse conhecimento tornou-se obrigatório à ministração das aulas na modalidade remota, visando ainda discutir sobre as perspectivas de uso das TICs nesse contexto de ensino.

Palavras chave: Sociedade brasileira. Isolamento social. Ensino Remoto Emergencial. Formação de professores. Possibilidades educacionais.

ABSTRACT:

Brazilian society has been building a culture in which basic education is carried out exclusively in person. However, this reality began to be modified due to the new reality that had been established with the arrival of the new Coronavirus and the mandatory social isolation implemented by the World Health Organization (WHO) and, from a local perspective, by the States and municipal governments. In this context, education began to be implemented through Emergency Remote Teaching (ERE), a fact that brought several implications for teachers and students who tried to work around the situation so that there was no need for students to miss the school year and at the same time preserve the health of the school community. In this sense, this work aims to reflect on the main challenges inherent in teacher training for the use of new technologies, considering that this knowledge has become mandatory for teaching classes in the remote modality, also aiming to discuss the perspectives of use of ICTs in this teaching context.

Keywords: Brazilian society. Social isolation. Emergency Remote Teaching. Teacher training. Educational possibilities.

INTRODUÇÃO

A sociedade brasileira vem construindo um sistema de ensino, onde a educação básica acontece somente de forma presencial e tendo como prioridade, a metodologia expositiva. Todavia, a inserção das TIC como ferramenta de uso cotidiano proporcionou ao longo do tempo, discussões sobre a necessidade de uso das novas tecnologias como recurso didático-pedagógico.

Como sabemos, a prática pedagógica fundamentada na metodologia expositiva e a transmissão de conhecimentos por meio de recursos didáticos básicos como o quadro e o piloto vem sendo alvo de constantes críticas no que diz respeito ao desenvolvimento da motivação discente, tendo em vista, ser essa última, coerente com a concepção de aluno como sujeito da aprendizagem.

 Assim, surgiu a ideia de que o uso de recursos tecnológicos na prática educativa proporciona um maior envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem, despertando o interesse e a autonomia na construção do conhecimento. Aliado a isso, foi considerado no momento de elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o contexto social vivenciado na atualidade, cujas tecnologias são ferramentas relevantes para as tarefas cotidianas, servindo ainda como mediadoras do conhecimento. Assim, foram incluídas na BNCC (2007), competências e habilidades que estão relacionadas ao processo formativo da educação básica ao uso de tecnologias como meio de interação social e de resolução de problemas cotidianos.

Apesar da abordagem das tecnologias como ferramenta pedagógica, percebe-se na prática que grande parte dos profissionais de ensino não possuem acesso aos recursos tecnológicos e à rede de Wife nas instituições onde lecionam. Além disso, um outro problema enfrentado no que tange a inserção das novas tecnologias na prática educativa é a falta de formação inicial e continuada dos docentes, fazendo com que se sintam inseguros e acabam adiando o uso das tecnologias na sala de aula.

Nesse contexto, o ensino baseado nas TIC torna-se pouco recorrente ou inexistente, contudo, essa realidade começou a ser modificada no ano de 2020, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou que estávamos vivenciando uma pandemia, necessitando, portanto, do isolamento social como forma de prevenção ao Novo Coronavírus. Desse modo, instaura-se a vida social passou a ser regulada pelos entes federativos e em uma perspectiva local pelos decretos emitidos pelos Estados e municípios. Assim, foram determinados que apenas as atividades essenciais fossem realizadas de forma presencial, levando os atendimentos nas esferas públicas a acontecerem de forma não presencial. 

No âmbito da educação foi adotado o Ensino Remoto Emergencial, uma modalidade de ensino, cujas ministração de aulas ocorreram por meio de videoconferências realizadas através de plataformas virtuais. Com isso, surgiram uma série de desafios vivenciados por professores e alunos que se esforçaram para continuar o processo educativo mesmo em meio ao isolamento social. 

Nesse contexto, esse artigo busca investigar os desafios enfrentados por professores e alunos no contexto pandêmico. Assim, realizaremos uma revisão integrativa sobre os desafios advindos da falta de formação docente para o uso de novas tecnologias, as dificuldades de acesso à internet e possibilidades de uso das novas tecnologias nas aulas remotas. 

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A SOCIEDADE BRASILEIRA NO CONTEXTO DA PANDEMIA

A história da humanidade é marcada desde os tempos remotos, pela convivência em sociedade e que estabelece certa relação socioafetiva e ao mesmo tempo de interdependência no que se refere ao desenvolvimento integral do ser humano. Assim, ao nascer a criança precisa de seus genitores para realizar coisas básicas ainda não permitidas pela estrutura do seu corpo como se alimentar e cuidar da sua higiene pessoal e ao mesmo tempo, a mãe precisa observar quais são as necessidades do bebê para poder supri-las de forma adequada, lhe dando alimento e água.  Isso acontece porque na primeira fase da vida, somos completamente dependentes daqueles que nos puseram no mundo.

Contudo, ao crescer, a criança torna-se fisicamente independente, mas existe uma relação de dependência social, emocional e cultural que faz com que o indivíduo nunca alcance a independência de forma absoluta. Em outras palavras, tudo o que aprendemos, o fazemos na sociedade e esta que molda, de certo, forma nossos valores. Somado a isso, tudo o que fazemos e que é necessário para a sobrevivência está relacionado ao outro, pois o indivíduo aprende, trabalha, se diverte e se relaciona com e entre pessoas e assim, o indivíduo mantém uma relação de interação social contínua e que está associada à certa proximidade física. 

Sob esse aspecto, Souza (2020) considera que a pandemia ocorrida no de 2020 alterou a forma de viver da população mundial, impondo-lhe uma nova ordem e um novo ritmo e isso não inclui apenas os serviços que passaram a ser desempenhados de forma remota. As pessoas começaram a desempenhar os seus serviços à distância, sobretudo, os profissionais atuantes da área administrativa, os cantores começaram a cantar de forma nas redes sociais e ficamos proibidos de acessarmos um mesmo espaço físico que onde estavam quantidades elevadas de pessoas. 

Nesse contexto, não se reunir em público passou a ser uma questão de saúde pública e por isso era evitado. Segundo Silva, Souza e Menezes (2020), isso aconteceu por que

O SARS-Cov-2, conhecido por novo Coronavírus, foi identificado pela primeira vez em Wuhan, na China, em dezembro de 2019, sendo transmitido de diferentes maneiras, inclusive pelo ar, e causando desde sintomas leves até a morte (BRASIL, 2020). O contágio acelerado e mortal do SARS-CoV-2 levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a decretar estado de pandemia (FIOCRUZ, 2020 apud SILVA et al., p.299).

Nesse contexto, tudo o que se sabia sobre o vírus era que o contágio se dava no contato entre as pessoas, sendo sua transmissão comum por meio da saliva. Assim, falar perto de alguém começou a ser considerado um risco para a saúde e todos foram obrigados usar máscaras faciais de proteção. Mas os índices de mortalidade da doença exigiram, na perspectiva de Costa e Nascimento (2020), um cuidado maior com relação à prevenção do vírus e isso se deu por meio do isolamento social.

 Sob esse aspecto, Costa e Nascimento (2020) relatam que as pessoas foram obrigadas a se distanciar de seus familiares para evitar o contágio. Podemos inferir ainda, que os relacionamentos mudaram: os amigos e grande parte dos familiares começaram a se comunicar apenas virtualmente. Somado a isso, as formas de lazer começaram a ser realizadas por meio do acesso a plataformas para ouvir músicas e as saídas para os restaurantes foram substituídas por delivery. 

Nesse contexto, podemos perceber que a sociedade modificou por meio de decretos advindos de recomendações da Ordem Mundial de Saúde, a sua forma de viver, adaptando-a para um mínimo de contato social possível. No contexto educacional surge a necessidade de realização do ensino remoto mediado por plataformas online de vídeo conferências, uma forma de lecionar os conteúdos sem perder a interações e a retirada de dúvidas recorrentes na aula expositiva e ao mesmo tempo, preservando a saúde de discentes e professores.

2.2. A EDUCAÇÃO E A SUA RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO DAS TECNOLOGIAS

A Sociedade humana vem percorrendo um longo percurso, onde as descobertas das necessidades em comum têm proporcionado o desenvolvimento de tecnologias com vistas a facilitar o cotidiano das pessoas. Embora, essa realidade seja quase sempre associada às tecnologias da informação e comunicação, é algo que acontece desde os primórdios.

Sob esse aspecto, podemos relembrar a criação de cabanas como algo que modificou, a vivência nas sociedades primitivas trazendo-lhes, abrigo contra o frio, a chuva e os animais da floresta, sendo essa uma invenção para atender uma necessidade humana e, portanto, uma tecnologia, ainda que fabricada manualmente. Também podemos relatar outras criações que facilitam a vida dos homens como o manuseio das sementes e das técnicas de caça e o domínio do fogo.

Contudo, existe um percurso histórico de invenções tecnológicas tão relevantes quanto as já mencionadas: àquelas possibilitaram, no decorrer do tempo, transformações nas formas de construção do conhecimento científico. Como sabemos, o mais antigo meio de comunicação da história da humanidade foi a fala em um período onde tudo que se sabia advinha das experiências cotidianas.

Conforme Ferreira (2010), foi nesse período que surgiu o desejo do homem em registrar suas experiências, culminando com a invenção dos primeiros sistemas de escrita, os quais permitia a circulação de informações no âmbito local. Com o passar do tempo, surgiu o papel e a criação da imprensa, sendo essa, um acontecimento importante para a história da humanidade, pois permitiu pela primeira vez a circulação de informações entre localidades distantes. 

Nesse contexto, foi criada a possibilidade de o homem tomar conhecimento de fatos que acontecem em outras cidades, estados ou países e também das novas descobertas científicas por meio dos noticiários impressos e, em um momento posterior pelos meios televisivos e realísticos, ampliando, assim, o acesso à informação e ao conhecimento.

Nesse contexto, há também uma modificação no acesso ao saber científico, pois, a disseminação de livros e artigos científicos em PDF passou a ser constante, propiciando um espaço de construção mais significativa do conhecimento do que àquela realizada a partir do acesso aos livros físicos nas bibliotecas.

Aliado a isso, os blogs e as páginas contendo hiperlinks trouxeram à leitura virtual, a vantagem de consultar vários assuntos com temáticas complementares ou similares à pesquisa original, fazendo com que o aluno decida sobre o seu próprio ritmo de leitura e o percurso leitor a ser seguido. Outra forma prática de aquisição do conhecimento na atualidade é o acesso a canais de vídeos educativos no Youtube, conferindo maior agilidade na apreensão das informações e na construção do saber.

Considerando esse contexto e a multiplicidade de funções desempenhadas pelas novas tecnologias na atualidade, surge na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o discurso pedagógico que inclui, como necessidade formativa da educação básica, o domínio no uso das novas tecnologias tanto para a interação social quanto para solucionar problemas cotidianos. 

Assim, cria-se uma ideia que relaciona as novas tecnologias às necessidades formativas necessárias ao desenvolvimento de um sujeito crítico e participativo na sociedade bem como associa a habilidade no manuseio das TIC com uma das exigências do mercado de trabalho.

Sabemos, contudo, que a inserção das TIC na educação pública é uma realidade pouco vivenciada pelas escolas brasileiras e esse fato pode ser associado, sobretudo, à falta de formação docente para o uso de tecnologias na educação e a própria disponibilização dos recursos tecnológicos nas escolas públicas.

2.3 O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL 

A educação brasileira tem seus fundamentos pautados na Constituição Federal de 1988, surgindo, a partir disso, ideias em sua defesa como direito a todos os indivíduos, sendo ela, mesma, “dever do Estado e da família” e que “[…] será promovida […] com a participação da sociedade. Assim, podemos compreender que existe uma coparticipação entre o poder público e as famílias dos estudantes na garantia do direito à educação, pois são os genitores que efetuam a matrícula enquanto ao Estado, cabe os provimentos para a sua execução.

É pertinente, observarmos que a educação, sobretudo, nos anos iniciais da vida escolar vem se pautando em práticas pedagógicas que envolvem o contato dos alunos com os demais colegas e o professor em um âmbito presencial de aprendizagem. Isso acontece independente de o docente pensar o fazer pedagógico de uma forma tradicional e meramente expositiva ou de um modo que preserve a autonomia discente ao longo do processo.

Sabe-se ainda, que as discussões que envolvem o uso de recursos tecnológicos na educação são recorrentes, sobretudo após a recomendação na Base Nacional comum curricular – BNCC (2018) que envolve o desenvolvimento de competências relacionadas à compreensão e uso das TIC na interação social e na busca de resolução de problemas no dia a dia.

Sob aspecto, Souza (2020) considera que o uso das TIC na educação já é uma realidade, contudo, sabemos que há inúmeros desafios no que se refere à disponibilidade de recursos tecnológicos nas escolas e a formação de professores que os capacitem nesse sentido. Todavia, Souza (2020) relata que no mencionado o uso das tecnologias no ensino passou a ser indispensável devido ao isolamento social causado pela pandemia de COVID-19 e que forçou professores e alunos a inserirem-se em um contexto educacional remoto. 

Desse modo, houve na perspectiva de Souza (2020), uma adaptação do que já ocorria no ensino presencial em termos de metodologias educacionais, contudo, ao migrar para o ensino remoto, os docentes vivenciaram uma nova realidade educativa à qual eles não estavam preparados devido à falta de recursos tecnológicos e também de capacitação para o uso de TIC em no âmbito virtual.

Com isso, surgiram na perspectiva de Souza (2020), desafios que geraram a necessidade de aprender a usar as novas tecnologias de uma forma diferente daquela que era utilizada no âmbito educacional, dificultando a experiência do ensino remoto mesmo para os docentes que já faziam uso das TIC no ensino presencial. Com isso, a prioridade foi compreender como repassar os conteúdos por meio das plataformas digitais, estabelecendo um vínculo de diálogo por meio do qual o discente pudesse participar ativamente e retirar suas dúvidas. Assim, o Ensino Remoto Emergencial (ERE) garantiu a interação direta com o professor, contudo, a relação entre o uso das TIC e a motivação discente não foi preservada. Por isso, Souza (2020) considera que houve uma transposição de uma metodologia que já havia nas aulas presenciais fundamentadas em uma prática pedagógica conteudista. Desse modo, podemos inferir que a nova modalidade educacional tornou o ensino incoerente com o disposto na BNCC (2018) sobre o papel das TIC na educação.

3. FORMAÇÃO DE PROFESSORES: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE USO DAS TIC NO ENSINO REMOTO

A educação brasileira está pautada no princípio de que a aprendizagem se desenvolve na interação com o outro, sendo assim, a modalidade presencial de ensino tem sido o único modelo de ensino na educação básica. Para Silva et al. (2020), o uso de TIC no ensino presencial já é uma realidade.

Sob esse aspecto, a própria BNCC (2018) orienta o uso das TIC na educação como princípio formativo, tendo em vista, o desenvolvimento de competências que envolvam a capacitação discente para o manuseio com as tecnologias na interação social e na resolução de problemas do cotidiano. 

Contudo, mesmo que existam alguns docentes que tenham acesso às novas tecnologias no âmbito educacional e se sintam preparados para o uso das TIC na prática pedagógica, a modalidade de ensino que surgiu decorrente da pandemia do Novo Coronavírus repercutiu em uma forma diferente de uso das tecnologias e que requer conhecimentos que favoreçam à adaptação ao contexto do Ensino Remoto Emergencial.

Com isso, Souza (2020) relata que surgiu nas residências dos docentes e alunos, uma nova realidade escolar que trouxe inúmeros questionamentos sobre como se daria o funcionamento da educação no contexto pandêmico. Somado a isso, acrescenta-se a necessidade de adequação à prática pedagógica no ambiente virtual. 

Segundo Souza (2020, p. 112) é a partir desse contexto, que surgem os seguintes questionamentos:  Como manter a interação entre professores e alunos, sendo que a explicação dos conteúdos não se dá no mesmo espaço  físico? Como utilizar as tecnologias digitais como garantia do acesso à educação, tendo em vista as condições desiguais de acesso à internet? e  De que forma as tecnologias seriam utilizadas como suporte para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem no espaço remoto, tendo em vista, a falta de capacitação docente e a inexperiência com o uso das TIC com essa finalidade?, evidenciando, assim, inúmeros desafios vivenciados pelos atores que compõem o processo de ensino e aprendizagem.

Sob esse aspecto, Souza (2020, p. 112) compreende que o ensino remoto trouxe

“[…] sentimentos de angústia, medo, tensão e cobranças (do outro e nossas) para sermos produtivos e vivenciando as tensões próprias desta realidade.”. As tensões que se instauram nesse novo contexto podem ser evidenciadas pelo fato de os alunos não estarem em um espaço físico e a própria aula por não ser realizada em um espaço propício. Assim, os discentes adquirem certa autonomia, pois muitos mantinham as câmeras dos aplicativos de transmissão das aulas remotas fechadas e isso repercutia por parte do professor na incerteza se o discente estava ou não assistindo às aulas.

Por outro lado, o ambiente doméstico não favorecia os estudantes, pois estes teriam que ouvir a explicação do professor ao mesmo tempo em que precisam lidar com barulhos externos como carros de som passando pela rua e as próprias pessoas que convivem com o aluno dentro de casa. Já na residência dos docentes algo semelhante acontecia, tendo em vista, que o ambiente familiar é compartilhado por várias pessoas, podendo participar dele, cônjuge e inclusive filhos do docente, o que dificulta a concentração do professor ao lecionar.

Se considerarmos um cenário onde os estudantes possuem acesso à internet e os docentes sentem-se capacitados para lecionar no ensino remoto, ainda assim, o ambiente não é propício. Contudo, não é isso que acontece, tendo em vista que os principais desafios do ensino remoto são a falta de capacitação docente para o ensino na nova modalidade educacional e o acesso e a qualidade da internet nas residências dos estudantes.

Conforme dados da PNAD (IBGE, 2018 apud Souza, 2020), os níveis de acesso à internet ainda são bastante precários: apenas 20,9% dos domicílios brasileiros não têm acesso à internet, isso significa que cerca de 15 milhões de residências não estão conectadas a uma rede de Wife. De acordo com o mesmo documento (IBGE, 2018 apud Souza, 2020), um percentual de 79,1% dessas famílias que tem acesso à internet não possui notebooks, sendo as aulas assistidas por meio do celular que é encontrado em 99,2% das residências. 

Outro fator relevante é que a porcentagem mencionada corresponde às famílias que compartilham o mesmo aparelho celular. Assim, o mesmo celular pode ser utilizado para diversas funcionalidades e nem sempre está disponível para ser usado pelos discentes. Tomando como base que os genitores são os responsáveis pelo sustento da família, provavelmente os celulares pertencem a um dos pais do aluno e se o genitor precisar levar o celular ao trabalho, o estudante ficará sem acesso às aulas e consequentemente aos conteúdos. Ainda que olhe posteriormente no grupo de WhatsApp da escola, geralmente utilizado para compartilhar links das videoconferências, haverá perdido a explicação dos conteúdos e atividades, gerando uma barreira para a aprendizagem. Tal situação faz com que o aluno que realmente se interessa pelos estudos, busque o professor em outros horários para solicitar explicações referentes ao conteúdo da disciplina e a atividade, exigindo, assim, que o docente amplie sua jornada de trabalho, tornando-se sobrecarregado e sem quaisquer recompensas financeiras por isso.

Somado a isso, Souza (2020) menciona ainda, um outro fator que torna o acesso à educação inviável no contexto remoto e que é provocado pela própria desigualdade social e falta de apoio financeiro do poder público para solucionar o problema, que é a falta de acesso à internet por grande parte dos estudantes brasileiros.

Nesse sentido. dados encontrados na pesquisa realizada por TIC Kids Online Brasil (CETIC, 2019 apud Souza, 2020, p. 112), relata que “[…] 11% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos não têm acesso a internet, correspondendo a 3 milhões de pessoas, sendo que 1,4 milhão nunca acessou a rede.”, consistindo em um dos desafios do ensino no contexto da pandemia.

Por outro lado, a situação excepcional vivenciada pelo sistema educacional veio, na perspectiva de Souza (2020), nos fazer refletir sobre a realidade social que impõe o uso das redes sociais como propulsoras “[…] da criação de novas relações com a informação” , configurando-se ao lado dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), uma possibilidade de uso na educação no período da pandemia.

Nesse contexto, Souza (2020) menciona as dificuldades enfrentadas pelos docentes no que se refere ao uso das TIC para a ministração de aulas no ensino remoto, sobretudo, à falta de formação docente e a inexistência de apoio pedagógico para enfrentar a nova realidade educativa. 

Sob esse aspecto, a pesquisa realizada pelo Instituto Península (2020 apud Souza, 2020) relata que “[…] 88% dos professores nunca tinham dado aula de forma remota e 83,4% não se sentem preparados”. Com base na mesma pesquisa, a autora (2020, p. 113) afirma que 

[…] mesmo os professores que já utilizavam as tecnologias digitais como apoio ao ensino presencial encontraram dificuldade para se adaptar ao ensino remoto, visto que muitos não têm infraestrutura adequada em suas casas, tampouco formação específica para atuar na docência online. INSTITUTO PENÍNSULA, 2020 apud SOUZA, 2020, p. 113)

Diante do exposto, o uso dos ambientes virtuais modifica, de certa forma, o conhecimento que os docentes possuem sobre o emprego das TIC, pois configura-se em um espaço educacional diferente do já vivenciado na prática presencial, trazendo a necessidade de novos conhecimentos sobre o uso das TIC. Por isso, Souza (2020, p. 113) considera que a formação docente é “antes uma práxis do que uma teoria sobre a prática”, ou seja, configura-se em um espaço formativo por meio do qual, a capacitação se desenvolve mediante à prática.

Sobre a metodologia adotada por grande parte dos professores, Moreira e Schlemmer (2020, p. 9 apud Souza, 2020) consideram que o ensino remoto foi desenvolvido, tendo como base o tempo síncrono para a ministração das aulas, sendo a comunicação ocorrida de forma bilateral: um para muitos. 

Sob esse aspecto, Souza (2020), o ensino remoto se transferiu e, em muitos casos, aflorou uma educação conteudista, por meio da qual os discentes necessitam ficar horas em frente ao computador assistindo as aulas remotas e respondendo as atividades. Sendo assim, as tecnologias foram subutilizadas, pois não foram usadas para o desenvolvimento de capacidades referentes à interação social e à resolução de problemas, cooperando com o desenvolvimento integral do discente. Em vez disso, consistiu em mera transmissão de conteúdos pelas plataformas de videoconferências, priorizando a transmissão das informações de forma expositiva, aliando, um caráter conteudista à nova modalidade de ensino.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade brasileira experienciou no ano de 2020, o começo da pandemia do novo Coronavírus que repercutiu na necessidade do surgimento de uma nova realidade social. Com a descoberta desse vírus, foram realizados estudos que detectaram como forma de transmissão, o contato com a saliva. Logo, interagir socialmente tornou-se um risco de contaminação.

Nesse contexto, a Ordem Mundial de Saúde (OMS) determinou que o isolamento social seria a melhor forma de evitar o contágio. Por isso, os estados e prefeituras municipais ficaram a cargo de se manterem informados sobre os índices de transmissão da doença, promulgando decretos para restringir o contato social em ambientes fechados ou abertos. Como medidas, foram adotados alguns procedimentos como horários de funcionamento do comércio, as lanchonetes passaram a entregar os alimentos das residências, a fim de evitar o contato entre as pessoas, o quantitativo de pessoas que pudessem frequentar simultaneamente os espaços urbanos fechados foram restritos e em alguns casos, houve inclusive paralisações de transportes coletivos nas capitais.

Nesse contexto, as escolas foram consideradas, locais propícios ao contágio e por isso, optou-se pela suspensão das aulas. Contudo, a perda de um ano letivo seria irreparável para os discentes. A partir disso, foi criado o Ensino Remoto Emergencial (ERE), uma modalidade de ensino que viabilizou a ministração de aulas em tempo real e à distância por meio de Webconferências.

Embora, configura-se como uma solução imediata, todas essas mudanças ocorreram de forma repentina e sem o devido aporte financeiro e pedagógico. Por um lado, docentes que nunca tiveram nenhuma formação em TIC foram obrigados a buscar esse conhecimento de forma autônoma e imediata e adaptar todo o seu planejamento de forma que os conteúdos fossem ministrados e a informação repassada de forma que os discentes a compreendessem. 

A fim de garantir uma interação entre alunos e professor, houve em grande parte das escolas brasileiras, o uso de grupos de WhatsApp onde os professores postaram o link da aula remota, realizada em tempo real, sendo uma das plataformas mais utilizadas, o Google Meet.

Para Souza (2020), o ensino remoto da maneira como foi instalado repercutiu em várias implicações para o ensino, entre eles, a falta de apoio pedagógico para o planejamento docente no contexto do ensino remoto, a falta de capacitação que acabou gerando inseguranças e auto cobranças aos docentes dentre outros aspectos que gerou uma sobrecarga de trabalho sem devida recompensa financeira.

Souza (2020) afirma ainda que muitos docentes não possuíam o aparato tecnológico necessário às aulas remotas, o que podemos inferir que os próprios docentes adquiriram por conta própria, os recursos necessários à prática pedagógica. Por outro lado, dados do PNAD (IBGE, 2018 apud Souza, 2020) demonstram que 20,9% das residências não possuíam acesso à internet, enquanto, 79,1% dos estudantes não possuíam notebooks e desse quantitativo, 99,2% possuíam apenas um celular o qual tinha o seu uso compartilhado pelos membros da família.

Com isso, podemos perceber que a desigualdade social tornou-se ainda mais explícita, pois os estudantes que não tinham acesso à internet foram lhes tirado, de certa forma, o acesso à educação. Por outro lado, isso sobrecarrega os professores e gestores educacionais que tiveram que encontrar formas alternativas de fazer com que o aluno tivesse acesso aos conteúdos ainda, sem a devida explicação do professor.

Diante desse contexto, Souza (2020) menciona ainda, que o uso das TIC no contexto da pandemia não teve como finalidade, a formação discente para a interação social e a resolução de problemas cotidianos, como pontua a BNCC. Desse modo, as novas tecnologias no ensino remoto reforçaram o ensino conteudista já existente na modalidade presencial de ensino.

Sob essa perspectiva, pudemos perceber a relevância do conhecimento sobre o uso das TIC no processo de formação docente, tendo em vista, que o uso das TIC não está relacionado apenas ao fator motivacional e o desenvolvimento integral do estudante por meio da aprendizagem significativa e do raciocínio lógico, mas como forma alternativa de aprendizagem em contextos emergenciais.

É necessário, contudo, que as universidades incluam nas grades curriculares dos cursos de licenciatura, componentes curriculares que tratam das possibilidades do uso das tecnologias e em contextos educacionais diversos. É preciso que o governo disponibilize formação continuada e gratuita para a inserção do uso das TIC, objetivando a qualidade formativa discente e uma provável necessidade de implementação de modalidades alternativas de ensino. 

Contudo, os desafios que envolvem as problemáticas do ensino remoto acontecem em um contexto onde a existência de políticas públicas para o acesso a ambientes digitais são relevantes ferramentas de inclusão social e educacional.

Um outro desafio foi encontrar uma plataforma de fácil utilização para docentes e estudantes 

6. REFERÊNCIAS

COSTA, A. E. R.; NASCIMENTO, A. W. R. Os desafios do ensino remoto em tempos de pandemia no Brasil in CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 7, 2020, Maceió. Educação como (re)Existência: mudanças, conscientização e conhecimentos. Maceió: Editora Realize, 2020. p. 1-6. Disponível em: TRABALHO_EV140_MD4_SA19_ID6370_30092020005800.pdf(editorarealize.com.br)

SILVA, Ana Carolina de Oliveira; Shirlaine de Araújo. MENEZES, Jones Baroni Ferreira de. O ensino remoto na percepção discente: desafios e benefícios. Revista Dialogia, São Paulo, nº 36, p. 298-315, set/set. 2020 Disponível em: O ensino remoto na percepção discente: desafios e benefícios | Silva | Dialogia (uninove.br)

SOUZA, Elmara Pereira de. (2020). Educação em tempos de pandemia: desafios e possibilidades. https://periodicos2.uesb.br/index.php/ccsa/article/view/7127 SOUZA, Elmara Pereira de. Educação em tempos de pandemia: desafios e possibilidades. Revista CADERNOS DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS,

Vitória da Conquista, nº 30., p. 1-9, out/nov. 2020. Disponível em:https://periodicos2.uesb.br/index.php/ccsa/article/view/7127

SILUS, Alan; FONSECA, Angelita Leal de Castro; JESUS, Djanires Lageano Neto de. Desafios do ensino superior brasileiro em tempos de pandemia da COVID-19: repensando a prática docente. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v.16, n.2, p. 1-17. dez. 2020.

OLIVEIRA, Raquel Mignoni de.; CORRÊA, Ygor; Morés, Andréia. Ensino remoto emergencial em tempos de covid-19: formação docente e tecnologias digitais. Revista Internacional de Formação de Professores (RIFP), Itapetinga, v. 5, p. 1-18, 2020. 

FERREIRA, Maria Thaizza Rafaelly da Silva. A evolução do livro: do papiro ao iPad. 2016. 40f.  TCC (Graduação) – Curso de Biblioteconomia, Universidade Federal do RioGrande do Norte, Rio Grande do Norte, Natal, 2010. Disponível em: Microsoft Word – Pre-textuais.doc (ufrn.br)


1Mestrando em Educação com Especialização com TIC na educação pela Universidad Europea del
Atlántico, UNEATLANTICO, E-mail: fonsecamano@hotmail.com
2Mestranda em Educação com Especialização em Formação de professores pela Universidad
Internacional Iberoamericana – UNINI-MÉXICO, E-mail: claricepereiranunes1@gmail.com
3Mestranda em Educação com especialização em Formação de professores pela Universidad Europea del
Atlántico – UNEATLANTICO, E-mail: ednelmasantana23@gmail.com
4Mestranda em Educação com especialização em TIC na educação pela Universidad Europea del
Atlántico – UNEATLANTICO, E-mail: elizangelafonseca415@gmail.com
5Mestranda em Educação com Especialização em Formação de professores pela Universidad
Internacional Iberoamericana, UNEATLANTICO, E-mail: felicianondala@gmail.com
6Mestrando em Educação com especialização em Formação de professores pela Universidade del
Atlántico – UNEATLANTICO, E-mail: maestrocaboevangelista@hotmail.com
7Mestranda em Educação com especialização em TIC na educação pela Universidad Europea del
Atlántico – UNEATLANTICO, Especialização em Formação de professores, E-mail:
lidianeteza_@hotmail.com
8Mestranda em Educação com Especialização em Formação de professores pela Universidad
Internacional Iberoamericana – UNEATLANTICO, E-mail: noemianeves27@gmail.com
9Mestranda em Educação com especialização em Formação de professores pela Universidad Europea del
Atlántico – UNEATLANTICO, E-mail: priscila.vieira@teologica.net
10Mestranda em Educação com especialização em Formação de professores pela Universidad Europea
del Atlántico – UNEATLANTICO, E-mail: sileduc22@gmail.com
11Mestranda em Educação com especialização em Formação de professores pela Universidad
Internacional Iberoamericana – UNIB, E-mail: silmoretinho@gmail.com