DESAFIOS DEMOGRÁFICOS NO BRASIL: FECUNDIDADE, LONGEVIDADE E O AUMENTO DE REFUGIADOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8206158


Francisco Wenderson Pereira de Souza ¹
Eron Carlos Santos Viana ²
Francisco Cardeal de Araújo ³
José Francisco Lima


RESUMO

Este artigo examina três transformações demográficas significativas no Brasil, sendo elas: a fecundidade, a longevidade e o aumento de refugiados provenientes de países da América Latina. Por meio de uma revisão integrativa da literatura, o estudo analisou os desafios que essas transformações representam para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. A redução da taxa de fecundidade tem sido observada tanto no Brasil como em outros países do mundo, essa mudança demográfica traz implicações econômicas e sociais, exigindo uma compreensão das causas e consequências dessa queda na taxa de natalidade. A análise da literatura destaca fatores como o aumento da escolaridade feminina, o acesso a métodos contraceptivos e as mudanças nos papéis de gênero como determinantes desse fenômeno. Paralelamente, o aumento da expectativa de vida tem sido uma tendência no Brasil e em outros países. Esse envelhecimento populacional traz desafios relacionados aos cuidados com a saúde, previdência social e políticas públicas voltadas para a população idosa. A revisão da literatura destaca a necessidade de adaptação dos sistemas de saúde, investimentos em políticas de envelhecimento ativo e a promoção de uma sociedade inclusiva para os idosos. Além disso, o Brasil tem enfrentado um aumento significativo no número de refugiados provenientes de países da América Latina, como é o caso dos venezuelanos. Esse fluxo migratório traz desafios econômicos, sociais e políticos, exigindo a formulação de políticas públicas adequadas e o fortalecimento da solidariedade e compreensão da sociedade em relação às necessidades dos refugiados. A análise da literatura destaca a importância da inclusão social, do apoio psicossocial e do acesso a serviços básicos para a integração bem-sucedida dos refugiados.

Palavras-chave: Transformações Demográficas. Taxa de fecundidade. Expectativa de Vida. Aumento de Refugiados.

ABSTRACT

This article examines three significant demographic transformations in Brazil: fertility, longevity and the increase in refugees from Latin American countries. Through an integrative literature review, the study analyzed the challenges that these transformations represent for Brazil’s economic and social development. The reduction in the fertility rate has been observed both in Brazil and in other countries of the world, this demographic change brings economic and social implications, requiring an understanding of the causes and consequences of this fall in the birth rate. The literature review highlights factors such as increased female schooling, access to contraceptive methods and changes in gender roles as determinants of this phenomenon. At the same time, increased life expectancy has been a trend in Brazil and other countries. This population aging brings challenges related to health care, social security and public policies aimed at the older population. The literature review highlights the need for adaptation of health systems, investments in active ageing policies and the promotion of an inclusive society for older people. In addition, Brazil has faced a significant increase in the number of refugees from Latin American countries, such as Venezuelans. This migratory flow brings economic, social and political challenges, requiring the formulation of adequate public policies and the strengthening of society’s solidarity and understanding of the needs of refugees. The literature review highlights the importance of social inclusion, psychosocial support and access to basic services for the successful integration of refugees.

Keywords: Demographic transformations. Fertility rate. Life expectancy. Increase of Refugees.

  1. INTRODUÇÃO

Este artigo aborda três transformações demográficas significativas que têm impactado o Brasil nas últimas décadas: a fecundidade, a longevidade e o aumento de refugiados. Através de uma revisão integrativa da literatura, o objetivo deste estudo é analisar os desafios que essas transformações representam para o desenvolvimento do país em termos econômicos e sociais.

A fecundidade refere-se à taxa de natalidade e sua diminuição ao longo do tempo tem sido observada não apenas no Brasil, mas também em outros países da América Latina. Nesse contexto, é fundamental compreender as causas e consequências dessa queda na taxa de fecundidade, bem como seus impactos econômicos e sociais.

Por outro lado, o aumento da expectativa de vida tem sido uma tendência observada tanto no Brasil quanto em outros países. Esse aumento da longevidade traz consigo desafios relacionados aos cuidados com a saúde, previdência social e políticas públicas voltadas para a população idosa.

Além disso, o Brasil tem enfrentado um fluxo crescente de refugiados provenientes de países da América Latina. O acolhimento e a integração desses indivíduos apresentam desafios econômicos, sociais e políticos, exigindo a formulação de políticas públicas adequadas e o fortalecimento da solidariedade e compreensão da sociedade em relação às necessidades dos refugiados.

Para alcançar esses objetivos, realizou-se uma revisão integrativa da literatura, que envolveu a busca e análise de estudos relevantes sobre as transformações demográficas mencionadas. Essa abordagem metodológica permitiu a compilação e a síntese de informações provenientes de diferentes fontes, proporcionando uma visão abrangente dos desafios enfrentados pelo Brasil diante dessas transformações demográficas.

A justificativa para este estudo reside na importância de compreender e analisar os impactos dessas transformações demográficas no desenvolvimento do Brasil. O conhecimento dos desafios econômicos e sociais relacionados à fecundidade, longevidade e aumento de refugiados é fundamental para informar a formulação de políticas públicas adequadas e promover ações que garantam um desenvolvimento sustentável e inclusivo.

Ao final deste artigo, espera-se contribuir para o debate acadêmico e político, oferecendo insights sobre os desafios enfrentados pelo Brasil em relação a essas transformações demográficas e destacando a necessidade de abordagens integradas e inclusivas para lidar com esses desafios.

  1. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 MUDANÇAS RELACIONADAS À FECUNDIDADE

Ao longo das últimas décadas, o Brasil e a América Latina passaram por importantes transformações demográficas. Uma dessas transformações está relacionada à fecundidade, ou seja, ao número médio de filhos por mulher. Segundo estudos e pesquisas, uma das transformações demográficas observadas foi a redução significativa da taxa de fecundidade. Esse fenômeno tem sido amplamente estudado e documentado na literatura científica.

Um estudo relevante sobre a queda da fecundidade no Brasil é o trabalho de Cavenaghi e Castro (2016), intitulado “Fecundidade no Brasil: tendências recentes e componentes demográficos”. Nesse estudo, os autores analisam os padrões e tendências da fecundidade no país, destacando a redução da taxa de fecundidade total ao longo das últimas décadas. Eles discutem os fatores socioeconômicos e culturais que contribuíram para essa diminuição, como o aumento da escolaridade feminina, o acesso a métodos contraceptivos e as mudanças nos papéis de gênero.

Outra referência importante é o trabalho de Frejka e Sobotka (2008), intitulado “Fertility in Europe: Diverse, Delayed and Below Replacement”. Embora o foco seja a Europa, o estudo discute as tendências de queda da fecundidade em diferentes países e regiões, incluindo a América Latina. Os autores exploram os determinantes da fecundidade baixa e em queda, como a urbanização, a emancipação feminina, as mudanças na estrutura familiar e as políticas de conciliação entre trabalho e família.

Essas transformações demográficas relacionadas à fecundidade têm implicações significativas para a estrutura etária da população, a dinâmica econômica e social, além das políticas públicas voltadas para saúde, educação e previdência social.

Os dados coletados na pesquisa indicaram uma população de 203 milhões de pessoas no Brasil (IBGE, 2022), enquanto a previsão anterior do IBGE, divulgada no final do ano de 2021, era de cerca de 207,8 milhões. Rios Neto sugere que a redução na taxa de fecundidade do país foi responsável por essa diferença. Ele destaca que a fecundidade é um dado demográfico influenciado por fatores comportamentais.

Miranda e Ribeiro (2022), mencionaram dois eventos específicos que podem ter contribuído para essa queda na fecundidade. Primeiramente, ele citou a ocorrência do vírus da zika em 2015 e 2016, que afetou a formação de bebês e pode ter levado algumas mulheres a adiarem a decisão de ter filhos. Além disso, os autores mencionaram a pandemia de 2020 como outro motivo pelo qual as mães podem ter optado por postergar a maternidade.

Esses fatores externos, como a disseminação do vírus da zika e a crise sanitária causada pela pandemia, podem ter influenciado o comportamento reprodutivo das pessoas, resultando em uma queda mais acentuada na taxa de fecundidade do Brasil e, consequentemente, em uma população menor do que a projetada inicialmente pelo IBGE.

Com uma redução na taxa de fecundidade, a população brasileira está envelhecendo. Isso implica em uma mudança na estrutura etária da população, com um aumento na proporção de idosos em relação à população em idade ativa. Esse envelhecimento populacional pode impactar a força de trabalho, com possíveis consequências negativas para a economia. Menos pessoas em idade ativa podem significar menor oferta de mão de obra e menor crescimento econômico, além de pressionar os sistemas de previdência social e saúde.

A queda da fecundidade também tem implicações sociais. Com menos crianças nascendo, podem ocorrer mudanças na dinâmica familiar e nas relações intergeracionais. A diminuição da taxa de fecundidade pode levar a um aumento da proporção de famílias com menos filhos, o que pode impactar a estrutura familiar e as redes de suporte social. Além disso, a menor taxa de fecundidade pode afetar o equilíbrio entre gerações, com menos jovens para sustentar e cuidar dos idosos, o que pode gerar desafios na provisão de cuidados e assistência aos idosos.

A transformação demográfica exige ajustes nas políticas públicas para lidar com os impactos sociais e econômicos. É necessário repensar estratégias de investimento em áreas como saúde, educação e previdência social, levando em consideração as mudanças na estrutura etária da população. É preciso garantir um sistema de saúde adequado para atender às demandas crescentes da população idosa, bem como políticas educacionais que promovam a formação e atualização da força de trabalho em um contexto de envelhecimento populacional.

Apesar dos desafios, a transformação demográfica também pode trazer oportunidades. Com uma população em envelhecimento, surgem demandas por produtos e serviços específicos para atender às necessidades dos idosos, como assistência médica, cuidados de longo prazo, tecnologias adaptadas, entre outros. Além disso, uma menor taxa de fecundidade pode permitir um maior investimento individual e familiar em educação e qualidade de vida, contribuindo para o desenvolvimento humano e social.

2.2 AUMENTO NA EXPECTATIVA DE VIDA

Ao longo das últimas décadas, uma das transformações demográficas observadas no Brasil e na América Latina está relacionada à longevidade e ao envelhecimento da população. O aumento da expectativa de vida e a diminuição da taxa de mortalidade têm contribuído para um aumento significativo da proporção de idosos na população.

Segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicadas no Diário Oficial da União, a expectativa de vida dos brasileiros ao nascer em 2022 foi de 77 anos, um aumento de 2 meses e 26 dias em comparação a 2020, quando era de 76,8 anos (PEREIRA et al., 2023).

A expectativa de vida ao nascer foi de 73,6 anos para os homens e 80,5 anos para as mulheres em 2022. Nos últimos 10 anos, a população brasileira ganhou em média 2,4 anos de vida adicional, de acordo com os dados do IBGE. Desde 1940, a expectativa de vida dos brasileiros tem aumentado continuamente. Naquela época, era de apenas 45,5 anos, o que significa que hoje os brasileiros vivem, em média, 31,5 anos a mais em comparação à metade do século passado (PEREIRA et al., 2023).

Esse aumento na expectativa de vida está diretamente relacionado à queda da probabilidade de mortalidade infantil. Entre 2020 e 2022, a taxa de mortalidade infantil caiu de 11,5 para 11,2 a cada mil nascimentos. É importante ressaltar que a expectativa de vida de 77 anos ao nascer não significa que um brasileiro atingirá essa idade e estará destinado à morte. É uma projeção média para a população. Para aqueles que já completaram 77 anos em 2021, a expectativa era de viver, pelo menos, mais 11,4 anos, alcançando, pelo menos, os 88 anos de idade. Já para os indivíduos que tinham 30 anos completos, a expectativa era de viver mais 49,2 anos, atingindo, pelo menos, os 79,2 anos de idade (DOTA et al., 2023).

Esses dados refletem os avanços na saúde, nas condições socioeconômicas e nos cuidados médicos ao longo dos anos, evidenciando uma maior longevidade e a necessidade de adaptar as políticas públicas e os sistemas de saúde para atender às demandas da população idosa.

Um estudo relevante que aborda essa transformação é o trabalho de Camarano et al. (2018), intitulado “Envelhecimento populacional e os desafios para o sistema de saúde brasileiro”. Nesse estudo, os autores analisam o envelhecimento da população brasileira e seus impactos no sistema de saúde. Eles discutem as mudanças na estrutura etária, os desafios relacionados às condições de saúde dos idosos e a necessidade de políticas públicas voltadas para o envelhecimento saudável e a garantia de cuidados adequados.

Outra referência relevante é o trabalho de Beard et al. (2016), intitulado “World report on ageing and health“. Embora seja um estudo mais abrangente, ele oferece insights importantes sobre o envelhecimento populacional não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Os autores discutem as implicações do envelhecimento da população para a saúde, o bem-estar e as políticas de cuidados de longo prazo, ressaltando a importância de abordagens integradas e baseadas em direitos humanos.

O aumento da expectativa de vida é um dos principais aspectos do envelhecimento populacional e uma das transformações demográficas significativas observadas no Brasil e na América Latina nas últimas décadas. A expectativa de vida ao nascer é um indicador que representa a média de anos que uma pessoa pode esperar viver em determinada população, levando em consideração as condições de saúde e outros fatores (DOTA et al., 2023).

Diversos fatores contribuíram para o aumento da expectativa de vida, como avanços na área da saúde, melhoria das condições socioeconômicas, acesso a serviços médicos e adoção de medidas de prevenção e promoção da saúde. As melhorias nas condições sanitárias, nutricionais e a redução da mortalidade infantil também desempenharam um papel importante nesse aumento.

O aumento da expectativa de vida traz implicações significativas para a sociedade como um todo. Por um lado, é um sinal de progresso, refletindo avanços nas áreas de saúde e bem-estar. Por outro lado, apresenta desafios para os sistemas de saúde, a previdência social, as políticas públicas e a estrutura socioeconômica.

Com o envelhecimento da população, há uma demanda crescente por serviços de saúde especializados, cuidados de longo prazo e políticas de envelhecimento saudável. Os sistemas de saúde precisam se adaptar para atender às necessidades dos idosos, abordando questões como doenças crônicas, deficiências funcionais e cuidados paliativos.

Desafios econômicos: O envelhecimento da população está relacionado a mudanças na estrutura etária, com um aumento na proporção de idosos em relação à população em idade ativa. Isso pode ter implicações para a economia, pois uma proporção menor de pessoas em idade ativa pode afetar a força de trabalho e a produtividade. Além disso, o envelhecimento populacional coloca pressão sobre os sistemas de previdência social, uma vez que há menos contribuintes em comparação com o número de beneficiários.

O aumento da expectativa de vida traz desafios sociais, como o aumento da demanda por cuidados de saúde, serviços de longo prazo e a necessidade de políticas públicas voltadas para o envelhecimento saudável e a inclusão social dos idosos. Também é necessário enfrentar questões como a solidão, a exclusão social e a violência contra os idosos. A adaptação das estruturas sociais e dos sistemas de apoio é fundamental para garantir uma qualidade de vida adequada para a população idosa.

O envelhecimento populacional requer ajustes nas políticas públicas para lidar com os impactos socioeconômicos. É necessário repensar estratégias em áreas como saúde, previdência social, habitação, transporte e emprego, para atender às necessidades e demandas da população idosa. O desenvolvimento de políticas de envelhecimento ativo, a promoção da participação social e a melhoria dos serviços de saúde são essenciais para enfrentar esses desafios.

Apesar dos desafios, o aumento da expectativa de vida também oferece oportunidades. Os idosos podem continuar contribuindo para a sociedade em diferentes áreas, como trabalho voluntário, compartilhamento de conhecimento e experiência, e empreendedorismo. Além disso, o mercado para produtos e serviços voltados para os idosos pode se expandir, gerando oportunidades econômicas.

2.3 AUMENTO DE REFUGIADOS DE PAÍSES DA AMÉRICA LATINA

Ao longo das últimas décadas, uma das transformações demográficas observadas no Brasil e na América Latina está relacionada à migração. O movimento migratório tem desempenhado um papel significativo na composição e dinâmica da população desses países.

Um estudo relevante que aborda a migração no Brasil é o trabalho de Abramo e Branco (2019), intitulado “Migrações internas no Brasil: tendências recentes e desafios para as políticas públicas”. Nesse estudo, os autores analisam as tendências e padrões da migração interna no país, destacando os principais fluxos migratórios e suas implicações para as políticas públicas. Eles discutem a relação entre migração e desigualdades regionais, mercado de trabalho, acesso a serviços e os desafios enfrentados pelas políticas de migração e integração.

Outra referência importante é o trabalho de Martes et al. (2018), intitulado “A migração internacional na América Latina e o Caribe: tendências recentes e implicações para as políticas”. Embora não se restrinja ao Brasil, esse estudo oferece uma análise abrangente da migração internacional na América Latina e no Caribe. Os autores examinam as tendências recentes, os principais fluxos migratórios e as implicações socioeconômicas e políticas da migração internacional na região.

Essas referências abordam a migração como uma das transformações demográficas relevantes no Brasil e na América Latina. Elas oferecem insights sobre as tendências migratórias, as implicações socioeconômicas e políticas da migração e os desafios enfrentados pelas políticas públicas no contexto da migração.

A exemplo, Os Warao, originários da Venezuela, são a segunda etnia indígena mais populosa do país, conforme as estatísticas oficiais. Devido à crise humanitária em seu país, milhões de venezuelanos foram forçados a deixar sua terra natal desde 2014. Os países vizinhos na América Latina têm sido os destinos mais procurados, incluindo o Brasil, que já recebeu mais de 260 mil refugiados até 2021. Os Warao, ao entrar no Brasil pela fronteira norte, têm buscado melhores condições de vida, sendo Fortaleza-CE um dos destinos dessa população (IBGE, 2023).

Com sua presença no Brasil, os Warao também se tornaram alvo de pesquisa no Censo Demográfico 2022, sendo mapeados como outros cidadãos residentes no país. No entanto, essa situação apresenta desafios especiais para o recenseamento dos Warao. Eles são indígenas, exigindo uma abordagem específica que considere sua realidade de vida; são estrangeiros, não tendo o português como idioma; e estão em condição de refugiados, enfrentando extrema vulnerabilidade social (IBGE, 2023).

Outro exemplo, foi o ineditismo do censo que incluía a coleta de dados sobre refugiados venezuelanos que vivem em lares temporários em Roraima. Segundo um comunicado emitido pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o Censo 2022 já entrevistou 1,8 mil famílias que se encontram nos abrigos da Operação Acolhida, em Boa Vista. Essa inclusão representa um marco importante para compreender e atender às necessidades dessa população (GLOBO, 2023).

O processo de coleta de dados foi conduzido de forma sensível e inclusiva. Os entrevistadores do IBGE mostraram-se prestativos e atenciosos, falando em espanhol para facilitar a compreensão dos venezuelanos. Eles explicaram que as informações coletadas serão utilizadas por instituições brasileiras para compreender o perfil da população no país (GLOBO, 2023).

O aumento de refugiados de países da América Latina no Brasil apresenta uma série de desafios complexos que afetam tanto a esfera econômica quanto a social do país. Essa transformação demográfica traz consigo implicações significativas que demandam respostas adequadas por parte do governo, da sociedade e das instituições envolvidas (MACIEL, 2022).

Em termos econômicos, o acolhimento e a integração de um número crescente de refugiados exigem recursos financeiros consideráveis. O governo deve alocar fundos para programas de assistência social, abrigos, serviços de saúde, educação e capacitação profissional, a fim de oferecer suporte adequado aos refugiados. Esses investimentos têm um impacto direto no orçamento público, exigindo um planejamento cuidadoso e uma distribuição equitativa de recursos para garantir que os refugiados recebam o apoio necessário para reconstruírem suas vidas no Brasil (SILVA; SILVA, 2022).

Além dos desafios econômicos, a chegada de um grande número de refugiados também apresenta desafios sociais. A diversidade cultural e as diferenças linguísticas podem gerar tensões e dificuldades na convivência entre a população local e os refugiados. É fundamental promover a inclusão social, o respeito aos direitos humanos e a integração dos refugiados na sociedade brasileira. Isso implica em criar programas de apoio que incentivem a interação e o entendimento mútuo, facilitando a integração social e cultural dos refugiados. A educação desempenha um papel fundamental nesse processo, promovendo a aprendizagem mútua e a conscientização sobre a diversidade cultural e os direitos dos refugiados (LIMA; GARCIA; FECHINE, 2020).

No âmbito das políticas públicas, o aumento de refugiados da América Latina no Brasil requer uma resposta coordenada e abrangente. É necessário desenvolver políticas que considerem as necessidades específicas desses refugiados, levando em conta as suas origens, histórias e experiências de deslocamento. Isso inclui a criação de mecanismos de integração que facilitem o acesso a serviços básicos, como saúde, educação e emprego. Além disso, é importante fortalecer as parcerias com organizações internacionais, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), para compartilhar experiências, conhecimentos e boas práticas no acolhimento e integração de refugiados (SILVA; SILVA, 2022).

O desenvolvimento de políticas públicas eficazes também requer a participação e o envolvimento da sociedade civil, organizações não governamentais e instituições acadêmicas. O diálogo e a colaboração entre esses atores são fundamentais para criar um ambiente inclusivo e receptivo, promovendo a compreensão e a solidariedade em relação aos refugiados. A sensibilização da população em relação às causas do deslocamento forçado e aos desafios enfrentados pelos refugiados é crucial para combater a xenofobia, a discriminação e os estereótipos negativos (LIMA; GARCIA; FECHINE, 2020).

Em conclusão, o aumento de refugiados de países da América Latina no Brasil representa um desafio significativo para o desenvolvimento do país em termos econômicos e sociais. Para enfrentar esses desafios, é necessário um esforço conjunto do governo, da sociedade e das instituições envolvidas. Isso inclui o fornecimento de recursos adequados, a promoção da inclusão social, a criação de políticas públicas eficazes e a conscientização da população sobre a importância da acolhida e da solidariedade. Somente através de uma abordagem abrangente e colaborativa será possível enfrentar esses desafios e garantir uma integração positiva e bem-sucedida dos refugiados no Brasil.

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo destacou três transformações demográficas relevantes no Brasil: a queda da fecundidade, o aumento da expectativa de vida e o fluxo crescente de refugiados. Essas transformações representam desafios complexos para o desenvolvimento do país em termos econômicos e sociais.

No que diz respeito à fecundidade, a redução na taxa de natalidade tem implicações econômicas, como a diminuição da força de trabalho e o envelhecimento da população. É essencial desenvolver políticas que incentivem a conciliação entre vida familiar e profissional, promovam a igualdade de gênero e melhorem o acesso a métodos contraceptivos, a fim de equilibrar a dinâmica demográfica e garantir um desenvolvimento sustentável.

O aumento da expectativa de vida apresenta desafios relacionados aos cuidados com a saúde e à sustentabilidade dos sistemas previdenciários. Políticas que promovam um envelhecimento ativo e saudável, além de abordagens inovadoras para a previdência, são fundamentais para lidar com essas demandas e assegurar o bem-estar dos idosos.

Por fim, o aumento de refugiados da América Latina no Brasil requer respostas abrangentes e solidárias. É necessário promover a integração desses indivíduos, oferecendo acesso a serviços essenciais, apoio psicossocial e oportunidades de trabalho. Além disso, é crucial combater a discriminação e promover a conscientização pública sobre os direitos e as contribuições dos refugiados.

Diante desses desafios, é importante que o governo, a sociedade civil e as instituições trabalhem em conjunto para desenvolver políticas públicas abrangentes e eficazes. O diálogo, a cooperação e o compartilhamento de experiências são essenciais para enfrentar essas transformações demográficas de forma integrada e inclusiva.

Este estudo buscou fornecer insights e informações que contribuam para o debate e para a formulação de estratégias que abordem essas questões demográficas. Ao adotar uma abordagem multidisciplinar e considerar as perspectivas econômicas, sociais e políticas, podemos enfrentar esses desafios de maneira mais efetiva e promover um desenvolvimento equitativo e sustentável no Brasil.

REFERÊNCIAS

BEARD, John R. et al. World report on ageing and health. World Health Organization, 2015.

CAMARANO, Ana Amélia et al. Envelhecimento populacional e os desafios para o sistema de saúde brasileiro. In: Cadernos de Saúde Pública, vol. 34, nº 3, 2018.

CAVENAGHI, Suzana M.; CASTRO, Rosana L. R. Fecundidade no Brasil: tendências recentes e componentes demográficos. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 33, n. 1, p. 1-26, 2016.

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FREJKA, Tomas; SOBOTKA, Tomáš. Fertility in Europe: Diverse, Delayed and Below Replacement. In: DEMOGRAPHIC RESEARCH MONOGRAPHS, 19. Springer, 2008.

GLOBO. Censo 2022 já chegou a 1,8 mil lares temporários de refugiados em Roraima. 2023. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2022/08/censo-2022-ja-chegou-18-mil-lares-temporarios-de-refugiados-em-roraima.html

IBGE. Indígenas, estrangeiros e refugiados: Em meio a desafios, povo Warao é alcançado pelo Censo 2022. 2023. Disponível em: https://censo2022.ibge.gov.br/noticias-por-estado/35006-indigenas-estrangeiros-e-refugiados-em-meio-a-desafios-povo-warao-e-alcancado-pelo-censo-2022.

LIMA, J. B. B.; GARCIA, A. L. J.; FECHINE, V. M. R. Fluxos Migratórios no Brasil: Haitianos, Sírios e Venezuelanos. In: VIANA, A. R. (org.). A Midiatização do Refúgio no Brasil (2010-2018). Rio de Janeiro: Editora Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2020.

MACIEL, Maria Ellem Souza. A crise venezuelana e seus impactos no âmbito brasileiro: políticas linguísticas de integração de refugiados no estado de paraíba. Dedica Revista de Educação e Humanidades (Dreh), [S.L.], n. 20, p. 285-306, 1 ago. 2022.

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SILVA, Bruno Vinícius da; SILVA, Tania Mara da. O acesso de refugiados à saúde baseado nas políticas públicas no Brasil com ênfase na atenção primária: revisão sistemática / refugees’ access to health care based on public policies in brazil with emphasis on primary care. Brazilian Journal Of Development, [S.L.], v. 8, n. 7, p. 50580-50597, 12 jul. 2022.


¹Administrador. Internacionalista. Licenciado em Geografia. Acadêmico de Direito – UNIOESTE. Mestrando em Políticas Públicas e Desenvolvimento da América Latina – UNILA

²Acadêmico de Licenciatura em Geografia UFAC

³Acadêmico de Licenciatura em Geografia UFAC

Acadêmico de Licenciatura em Geografia UFAC