DESAFIOS DA LEITURA NO ENSINO FUNDAMENTAL: O QUE PENSAM OS PROFESSORES SOBRE O SEU PAPEL PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES?

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411011045


Tiago Cordeiro De Muniz
Orientadora: Profa. Ma. Ivana Maria Medeiros de Lima


Este  Trabalho  de  Conclusão  de  Curso  apresenta  o  tema  ―desafios  da  leitura  no  Ensino Fundamental‖, assunto que incita a compreensão dos profissionais e especialistas da área. Buscou-se, por meio deste estudo, cultivar uma proposta de leitura intensiva, para que os estudantes consigam compreender suas necessidade, e, assim, possam construir uma percepção de cidadãos críticos, além de, por meio dessa prática, possam ter acesso à diversidade de cultura(s). Dessa forma, o estudo apresentou a percepção e a importância das práticas de leitura na escola, além de uma investigação acerca do papel do Professor enquanto mediador, e quais as táticas para formar um estudante leitor. Na metodologia utilizou-se a pesquisa de campo e, também, bibliográfica, tendo como base um questionário, elaborado pelo autor. Este trabalho assenta-se, teoricamente, em: Freire (2003), Kleiman (2002), Oliveira (2001), Cole (2001), Orlandi (2000), Porto (2001), Solé (1998), entre outros. Concluiu-se que são muitos os desafios enfrentados para formar um estudante leitor, mas que, com a mediação e a colaboração da escola, é possível permitir que a leitura seja um ato praticado sem obrigação, com o objetivo de (des)construção de conhecimento.

Palavras-chave: Leitura. Ensino Fundamental. Desafios.

This Course Conclusion Paper presents the theme “Reading Challenges in Elementary School”, an issue that encourages the understanding of professionals and specialists in the field. The purpose of this study was to cultivate an intensive reading proposal, so that students can understand their need, and thus, they can construct a perception of critical citizens, and, through reading, have access to the diversity of culture (s). Thus, the study presented the perception and importance of reading practices in the school, as well as an investigation about the role of the teacher as mediator, and the tactics to form a student reader. In the methodology was used the field research and also bibliographical, based on a questionnaire, prepared by the author. In order to give contributions and theoretical basis, the discussion counts on authors such as Freire (2003), Kleiman (2002), Oliveira (2001), Cole (2001), Orlandi (2000), Porto (2001), Solé others that contributed to the construction of knowledge related to the research area. The research made it possible to affirm that there are many challenges faced in the formation of a student reader, but with the mediation and collaboration of the school, it is possible to make reading an act practiced without obligation, but with the purpose of building knowledge.

Keywords: Reading. Elementary School. Challenges.

1  INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso está vinculado a uma reflexão sobre a relevância da leitura. Nos dias atuais, é simples perceber que o estudante, apenas, saberá a importância da leitura se a incluir em sua rotina e sentir o prazer em ler. Infelizmente, parte dos brasileiros não têm o hábito da leitura e, por isso, não é tarefa fácil incentivar as crianças, em idade escolar, a se tornarem leitoras. Compete, pois, à escola incentivar o hábito da leitura.

Nessa perspectiva social, o Professor tenta buscar e apresentar as melhores situações para que os estudantes cresçam e progridam como leitores. Ler é uma prática que faz parte do crescimento de todo cidadão. Os Professores precisam cultivar uma proposta de leitura intensiva, para que os estudantes consigam compreender sua necessidade, e, assim, possam construir uma percepção de cidadãos críticos, além de, por meio da leitura, terem acesso à diversidade de cultura(s).

Apesar de o desempenho dos pais ser essencial, é para o Professor que se aplica a maior responsabilidade. A partir do momento em que a escola passa a ser responsável pela alfabetização, o Professor deve incentivar a criança a ler, também, para que ela desenvolva o gosto e o prazer pela leitura; precisa indicar e separar material a ser lido, criar diferentes propostas de conquista de um leitor, entre as quais, o desafio à escolha do livro literário ou do assunto informativo a ser lido.

A leitura deve ser cogitada partindo da realidade e faixa etária do estudante. No Ensino Fundamental I, as informações recebidas pelos estudantes são diversas. É necessário um trabalho direcionado à leitura, partindo de todas as disciplinas e das realidades dos estudantes, para que estes se tornem cidadãos leitores.

Na escola, deve ser estimulada a ação de ler para se construir a concepção da importância da leitura e do prazer pela leitura, e é função essencial tanto dos pais, da escola quanto dos Docentes criar oportunidades para que a criança se descubra como leitora. A leitura necessita ser trabalhada no estilo interdisciplinar, desde cedo, para que, futuramente, os estudantes tenham interesse pelos livros e, assim, gostem de ler. Sendo assim, este trabalho apresenta o seguinte problema de pesquisa: como os Professores trabalham a leitura na sala de aula com seus estudantes?

Para responder a esse problema, tem-se como objetivo geral: analisar a percepção do Professor sobre o seu papel enquanto mediador no processo de formação do leitor. A leitura constitui a atividade de compreensão das ideias do autor e leva em conta os conhecimentos do leitor, para que ele (re)interprete o texto, e, talvez, a sua própria realidade e suas práticas

sociais. Nesse sentido, texto, discurso e sociedade se interrelacionam. Nesse processo, o conhecimento gramatical e linguístico constitui um aspecto visto como uma estrutura fundamental à leitura, sendo, também, uma atividade participativa altamente abstrusa de produção do sentido, cujo foco está na interação e compreensão do texto.

Elegeram-se os seguintes objetivos específicos, para o desenvolvimento deste trabalho: investigar o que os Professores entendem por leitura; descrever como os Professores compreendem o processo de aquisição da leitura; apontar as principais dificuldades apresentadas pelos Professores em relação às práticas de leitura.

A leitura é de suma importância para o aprendizado, pois leva o leitor ao conhecimento científico e ao conhecimento do mundo, o que trará a este novos conhecimentos. Foi iniciado um levantamento bibliográfico do conteúdo em estudo, passando-se a seguir à seleção da bibliografia juntamente à leitura das fontes selecionadas.

O Professor deve estar apto a fazer um diagnóstico de todas as variações encontradas nas leituras realizadas por seus estudantes e propor atividades que ajudem a solucionar os problemas detectados. O tema escolhido sempre foi uma dúvida inquieta que se tinha a respeito da prática da leitura, surgindo no momento a oportunidade de aprofundar os esclarecimentos acerca deste.

A escola deve conduzir o estudante ao ato de ler, no entanto, a leitura, que deveria ser lazer e fonte de informação, é considerada, muitas vezes, como uma obrigação, um dever escolar. Visando contribuir para que a educação consiga alcançar mais um degrau sobre essa hipótese, optou-se por abordar o tema escolhido, e, também, para comprovar, por meio da pesquisa, que é possível priorizar as atividades em que o uso dos textos chegue aos estudantes naturalmente, com metodologias que estejam voltadas para alcançar bons resultados para todos os envolvidos no Processo de Ensino e Aprendizagem.

O trabalho em estudo está dividido da seguinte maneira: apresentação do tema/título na introdução, no primeiro capítulo, abordaremos a leitura, o Professor e a sala de aula, no segundo capítulo, apresentaremos os procedimentos metodológicos e as fontes de pesquisa, no terceiro capítulo, elencaremos análises/discussões, no quarto trazemos as considerações e referências acerca do trabalho pesquisado.

Para a realização deste trabalho, como metodologia, optou-se pela pesquisa do tipo bibliográfica e de campo. Em função do alcance dos objetivos previstos para o estudo, a pesquisa foi realizada com base nos pressupostos trazidos por vários autores dessa área, a exemplo de Freire (2003), Kleiman (2002), Oliveira (2001), Cole (2001), Orlandi (2000), Porto (2001) Solé (1998), entre outros.

2  A LEITURA, O PROFESSOR E A SALA DE AULA

O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) é um programa do MEC, que se apresenta como um compromisso assumido entre o governo federal, estadual e municipal que anseia alfabetizar todas as crianças até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental, instituído pela Portaria nº 867 de 4 de julho de 2012.

A respeito do Pacto Nacional, este é destinado à formação continuada de Professores alfabetizadores, que são Professores que atuam nas turmas de 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental e Professores de classes multisseriadas. Essa formação incide no estudo de atividades práticas conduzidas pelos Professores orientadores, também Professores da rede pública de ensino.

2.1 CONCEPÇÃO E IMPORTÂNCIA DA LEITURA

Nas palavras de Kleiman (2002), O ensino de Língua Portuguesa na escola vem sendo debatido para o avanço da qualidade do ensino. Desde o início da década de 80 do século XX, uma das linhas que entra em discussão é o fracasso escolar no Ensino Fundamental e nos anos iniciais, que estão ligados à dificuldade que a escola tem de ensinar e aprender.

Essa dificuldade se expressa com clareza nos dois gargalos em que se concreta a maior parte da repetência: no fim do primeiro ano (ou mesmo nas duas primeiras) e no quinto ano. ―No primeiro, por dificuldade em alfabetizar; condição para que os  estudantes possam continuar a progredir até, pelo menos, o fim da oitava série‖ (BRASIL, 2001, p. 19).

Compreende-se que existe um problema em ensinar as crianças da Educação Infantil e no Ensino Fundamental, determinando, assim, a repetência. Esse impedimento é progredido em outros anos escolares, prejudicando até mesmo o acesso e a permanência em cursos de Ensino Superior, pois existe a dificuldade de compreensão dos textos em processos avaliativos para a entrada na universidade.

De acordo com Oliveira (2001), esse problema de compreensão dos textos para a leitura não acontece somente na Educação Infantil e nos anos inicias do Ensino Fundamental, mas também nas universidades, onde os estudantes não conseguem transpor suas ideias para o papel. Em provas para ingresso ao Ensino Superior, anteriormente, as questões eram testes de múltipla escolha e passaram a ser as dissertativas que corroboraram para se ter um fator determinante para a classificação dos ingressantes.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001), o ensino de Língua Portuguesa precisa ser reestruturado para assegurar o objetivo maior, que consiste em garantir a aprendizagem da leitura e da escrita. Essas evidências de fracasso escolar apontam a precisão da reestruturação do ensino de Língua Portuguesa, com o objetivo de encontrar formas de garantir, de fato, a aprendizagem da leitura e da escrita (BRASIL, 2001, p. 19).

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001), existe uma desigualdade social alusiva ao processo de aprendizagem. As crianças de famílias de classe mais beneficiadas eram mais desenvolvidas no processo escolar do que as crianças de famílias de classe menos favorecidas. As crianças de família economicamente mais favorecidas têm maiores oportunidades, mais experiências do que as crianças de famílias menos abastadas, diferenças que refletem o desenvolvimento escolar. As crianças entravam na escola com certa bagagem de informação e de aprendizagem, ou seja, possuíam um conhecimento prévio.

Segundo Freire (2003), o domínio da língua permite ao indivíduo se comunicar socialmente, viabilizando, assim, uma participação social, requerendo o acesso à informação, criando e defendendo seus pontos de vista, produzindo conhecimento e construindo a sua própria visão de mundo. Nesse contexto ressalte-se que é responsabilidade de todos garantir o acesso aos saberes linguísticos para o exercício da cidadania.

A escola permite que cada estudante seja capaz de interpretar os diferentes textos que lhe são apresentados e produzir os seus. A leitura permite a melhor compreensão do mundo e da vida. É preciso ler para que se possa entender melhor o mundo e, também, viver melhor.

Cole (2001) afirma que a produção da linguagem não acontece, exclusivamente, na escola, em leituras de textos, ou em uma roda de conversa sobre um tema atual, mas sim em lugares de encontros sociais, como: bares, boates, praças e outros. A língua possibilita ao homem a aprendizagem dos seus significados culturais, por meio dos quais as pessoas se revelam capazes de entender e interpretar a si próprias e a realidade.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001), o trabalho com a leitura tem como finalidade a formação de leitores e escritores regulares. O trabalho com leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências  modelizadoras.  ―A  leitura,  por  um  lado,  nos  fornece  a  matéria-prima  para  a escrita: o que escrever. Por outro, contribui para a constituição de modelos: como escrever‖ (BRASIL, 2001, p. 53).

Portanto, a leitura constitu um processo de formação de leitores competentes, possibilita ao estudante produzir, identificar e verificar os textos para a prática do ato de ler, e se constrói um espaço de intertextualidade. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001, p.53), ―a leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir do seu objetivo e do seu conhecimento sobre o assunto‖.

Consoante Orlandi (2000), não constitui uma prática, simplesmente, de retirar informação da escrita, mas trata-se da atividade de compreensão em que os sentidos começam a ser constituídos antes mesmo que a leitura aconteça. O ato de ler possibilita ao leitor experiente a análise de sua própria leitura, permite-lhe perceber que a decodificação é um dos procedimentos que é utilizado quando se lê.

A leitura fluente envolve várias estratégias, quais sejam: antecipação, verificação e as deduções, pois sem esses pressupostos, não é possível rapidez e competência. O uso dos procedimentos permite ao leitor ter um controle do que está sendo lido, tomar decisões diante das dificuldades de compreensão e aventurar-se frente ao desconhecido, buscando no texto a comprovação das hipóteses feitas.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001) destacam que, para ser um leitor assíduo, é preciso ser hábil em selecionar, por iniciativa própria, trechos que circulam socialmente e que possibilitem o atendimento aos leitores, criando, assim, estratégias de leituras adequadas às necessidades destes.

Um leitor competente é alguém que sabe o que lê; que estabelece uma relação entre o texto que está lendo como outros já lidos. O leitor se organiza mediante a prática da leitura, do trabalho feito com as diversidades textuais, envolvendo todos os estudantes, inclusive aqueles que, ainda, não sabem ler (BAMBERGER, 1977).

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001), a escola tem como objetivo o ensino para estabelecer a aprendizagem. Assim, a ―escola pretende converter a leitura em objeto de aprendizagem deve preservar sua natureza e a sua complexidade, se descaracterizá-lo‖ (p. 54), é também um espaço que necessita dar significado ao estudante e que leve à realização imediata deste.

Para os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001), o objetivo é formar cidadãos capazes de entender os diferentes textos; é a organização do trabalho educativo na escola, para que possa aprender. A escola deve ofertar aos estudantes

materiais de boa qualidade. É necessário que forneça textos e livros, não somente para operacionalizar a tarefa de leitura em sala de aula, mas para permitir a construção do leitor.

É preciso, portanto, oferecer-lhes os textos do mundo: não se formam bons leitores solicitando aos estudantes que leiam, apenas, durante as atividades em sala de aula, o livro didático.  ―Eis  a  primeira  e  talvez  a  mais  importante  estratégia  didática  para  a  prática  de leitura: o trabalho com a diversidade textual‖ (BRASIL, 2001, p. 55).

Percebe-se a importância de fornecer os textos para a formação de leitores, não somente para a prática dos estudantes em sala de aula ou pelo interesse somente do Professor, mas sim para construção da aprendizagem.

Sobre a prática constante de leitura, Porto (2001) afirma que a escola deve se amoldar às várias possibilidades de leituras. Para superar a interpretação única, é necessária a compreensão do Professor de que há diferentes sentidos atribuídos aos estudantes referentes aos textos, com vistas a provocar interpretações múltiplas, pois muitas vezes os textos são confusos, longos e pode ocorrer de os leitores terem pouco conhecimento sobre o tema.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001), para desenvolver bons estudantes, a competência e o gosto pela leitura, a escola tem que mobilizar meios para a prática dos estudantes, fazer com que a leitura se torne para estes algo interessante e desafiador, para que possa fornecer-lhes autonomia e independência, tornando-os, assim, confiantes em sua aprendizagem.

Os livros e materiais impressos não são apenas uma aparência determinante para a formação de leitores. Para possibilitar a prática e o gosto pela leitura, é preciso que a escola desenvolva momentos de leitura livre, em que o Professor possa, também, fazer a leitura, possibilitando a participação dos estudantes, proporcionando atividades de leitura diárias, garantindo que tenham a mesma importância das demais, acesso a uma boa biblioteca, com acervos de livros e materiais didáticos, tornando possível aos estudantes a escolha de seus textos.

A leitura colaborativa, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001), é uma atividade feita pelo Professor, em que este lê em voz alta para a classe. Ao fazer uso dessa metodologia, ele faz vários questionamentos. Tratando-se de uma excelente estratégia de formação de leitores, a leitura colaborativa permite a identificação, interrogação, diferenciação e outros aspectos dos conteúdos relacionados à compreensão dos textos.

Nos anos mais adiantados, a leitura feita pelo Professor em sala de aula não é uma prática comum na escola, pois os estudantes maiores precisam de exemplos de bons leitores e

o Professor passa essa imagem, a prática da leitura intensa é necessária por várias razões, como possibilitar a visão do mundo e a inserção do estudante na cultura letrada, expandir o conhecimento, aproxima ção do leitor e textos, possibilitar produções orais e escritas, a compreensão da relação inexistente em relação à fala e à escrita.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001), a intermediação da linguagem é importante para o conhecimento linguístico de uma criança, construindo-se e aprofundando-se com as práticas sociais. É pela mediação da linguagem que a criança estuda os sentidos atribuídos pela cultura às coisas, ao mundo e às pessoas. ―Essas são as principais razões para, da perspectiva didática, tomar como ponto de partida os usos que o estudante já faz da língua ao chegar à escola, para ensinar-lhe aqueles que ainda não conhece‖ (BRASIL, 2011, p. 101).

A mediação é um fator definitivo para a aprendizagem da criança e a linguagem faz parte dessa mediação, muitas crianças não têm essa mediação antes de chegar à escola.

A troca interpessoal, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001), permite o aprendizado tanto da linguagem verbal quanto das práticas sociais. As atividades, quando são realizadas em um contexto de cooperação, ganham muito mais sentido, pois o estudante consegue realizá-las, o que antes sozinho seria impossível, construindo, assim, a sua autonomia. Isso se deve ao processo da interação grupal. Esse intercâmbio possibilita aos estudantes intercâmbios comunicativos, mas nem sempre essa prática é produtiva. Para o sucesso, é preciso que os estudantes realizem juntos as atividades, para que de fato o produto seja da ação do grupo.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, é necessário que seja dada aos estudantes a oportunidade de perguntar e, consequentemente, de respostas.  ―Respostas  que  precisam  ser  adequadas  e  suficientes  para  que  possam  aprender com elas‖ (BRASIL, 2001, p.102). É preciso que o Professor faça uma investigação das ideias dos seus estudantes sobre o assunto, para que possa organizar um trabalho levando em conta as considerações dos estudantes.

Para os Parâmetros Curriculares Nacionais Língua Portuguesa (2001), é muito importante a observação do comportamento dos estudantes no desenvolvimento das atividades, o Professor sabe, perfeitamente, qual estudante tem informações para contribuir para a realização do trabalho, alguns estudantes não têm a facilidade de interagir em trabalhos em grupos, cabe ao Professor tomar essa decisão de juntá-los ou não.

Sem dúvida, durante toda a escolaridade, a aprendizagem dos estudantes depende muito da intervenção pedagógica do Professor. Entretanto, no primeiro ciclo, ela assume uma característica específica, pois, além de todos os conteúdos escolares a serem aprendidos, há, ainda, um conjunto de aprendizados decorrentes de uma situação nova para a maioria dos estudantes: a convivência no espaço público da escola (BRASIL, 2001).

Durante todo processo de escolarização, o estudante é muito condicionado à intervenção do Professor, pois este possibilita um aprendizado, viabilizando que os estudantes possam conhecer e se desenvolver no processo de ensino.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, cabe ao Professor contribuir para esse processo, direcionando as metas produtivas entre os estudantes, para  que  estes  estabeleçam  as  normas  de convívio.  Aos  estudantes  cabe  ―a  disponibilidade para aprender, a responsabilidade com os estudos e com o material escolar, a capacidade de trabalhar em parceria, o respeito a diferentes pontos de vista‖ (BRASIL, 2001, p. 103).

O Professor conduz para seus estudantes o conhecimento, direcionando para qual caminho seguir no processo de aprendizagem, possibilitando que estes possam ter a habilidade de trabalhar individualmente ou em grupo, respeitando, sempre, as diferenças.

Para ampliar a prática da leitura, a criança necessita, sempre, ser mediada, seja pelo Professor, pais ou colegas de sala. Em todas as disciplinas, a leitura é muito utilizada, em leituras de textos históricos, na leitura para resolver um problema matemático e outros e essa atividade pode ser realizada coletiva ou individualmente.

2.2 A LEITURA ENQUANTO PRÁTICA SOCIAL

Para grande parte dos estudantes, a escola é o ponto de partida, é o princípio da convivência com livros, com a leitura em si. Dessa forma, a escola deve promover   a leitura de modo que o estudante se interesse por livros, para que isso o leve a saber, a aprender com a leitura, a adquirir o prazer em ler e, consequentemente, a transformar a sua vida (COLE, 2001).

Dessa maneira, o Professor, quando propicia uma atividade de leitura em sua sala de aula, não deve escolher o livro para o estudante, pois este deve avaliá-lo para descobrir qual livro mais lhes interessa, uma vez que cada estudante pode se interessar por gêneros diferentes. Sendo assim, se a escolha partir do adulto, pode limitar o prazer do estudante em praticar a leitura.

Como afirma Freire (1995, p.45): ―nada ou quase nada se faz no sentido de despertar e manter acesa, viva, curiosa, a reflexão conscientemente crítica, indispensável à leitura criadora, quer dizer, a leitura capaz de desdobrar-se na reescrita do texto lido‖.

Muitas vezes, o estudante é despertado a ler pela capa ou pelo título do livro. Em sua afirmação, Freire (1995) quer comprovar que o que vale na leitura, muitas vezes, é a vivência do estudante, ou seja, sua escolha de leitura, sua leitura e sua concepção da leitura não se baseia em escolhas feitas pelos docentes, mas sim pela sua leitura com relação à sua experiência de vida, a sua relação social, como um indivíduo no mundo.

Dessa maneira, vale observar que o papel da escola, portanto, consiste em mostrar os caminhos que levam ao livro e não ao significado que os estudantes vão encontrar na leitura, ou, ainda, o significado que o livro tem, faz-se importante o Educador saber que a interpretação da leitura e seu significado partirá do estudante, com relação à sua experiência de mundo.

Dentre as várias probabilidades de atividades que o Docente pode empregar em sua prática diária, é de fundamental importância o contato das crianças com os livros desde muito cedo. Esse contato não deve ser entendido pelo Professor como algo que normalmente acontece em casa, em seu cotidiano ou de sua família. Muitas vezes cabe ao Professor assumir seus objetivos e suas responsabilidades, sem esperar que o estudante vá em busca de livros ou leituras, apenas, de forma autônoma, pois é muito importante a criança ter contato com o livro desde pequena. Para que se torne um estudante interessado pela leitura, é preciso que tenha contato com textos, diariamente.

Sobressai-se, nesse momento, também o fato de o estudante não ter acesso à biblioteca escolar ser o começo para não gostar da leitura, além disso, há o fato de os Professores não deixarem os estudantes à vontade para terem acesso aos livros, o que pode tornar-se um entrave para que eles sejam leitores assíduos e compreendam a leitura como um momento prazeroso.

Além disso, para recomendar atividades de leituras e/ou momentos de leitura escolares ou extraescolares, o Professor deve ter plena consciência da realidade do estudante, uma vez que as classes não são homogêneas, tem-se estudantes com diferentes realidades, oriundos de diferentes religiões, diferentes condições financeiras e de moradia, diferentes culturas e, com isso, o Professor deve ver cada estudante de uma maneira, mas deve olhar todos com o mesmo intuito, o de ensinar o prazer da prática da leitura, com atividades envolventes e diferenciadas, sem que a falta de acesso a diferentes materiais escritos torne-se para o estudante um desprazer à leitura.

Para uma concreta prática escolar, deve-se ter, em sala de aula, o estímulo visual em primeiro lugar: levar aos estudantes livros que prendam sua atenção; deixar as crianças terem livre acesso aos livros desde pequenas; terem livros expostos em sala de aula e visitas agendadas para conhecerem a biblioteca escolar. É de fundamental importância, também, que o Professor realize essa atividade com prazer, entusiasmo e responsabilidade na construção de leitores (KLEIMAN, 2002).

A seriedade, também, fica evidente quando o Professor, em sua prática escolar, mostra- se interessado em ler, juntamente ao estudante, desde a fase inicial escolar. Ele deve servir de exemplo aos estudantes, sempre estar com livros e deixar os estudantes rodeados de leitura e, ainda, deixar a criança à vontade para ler o que ela mais gosta, o que mais chama a sua atenção e despertar o gosto por realizar diferentes leituras.

O Professor leitor é o exemplo principal para o estudante. Ele serve de estímulo e, por esse motivo, este deve, também, refletir sobre sua prática diária de trabalho e promover rodas de leitura, ter o canto da leitura em sala de aula, usar todas as possibilidades possíveis para que o estudante sinta-se interessado pela leitura. Uma criança estimulada poderá, certamente, ser um futuro leitor.

Segundo Porto (2001, p.07):

Nosso desafio é o de não ser um mero transmissor de conhecimentos, mas um Professor que saiba ler criticamente o mundo e, a partir das suas sínteses pessoais, possa organizar programas pedagógicos que possibilitem o diálogo e interação com seus estudantes. Várias são as discussões sobre as diferentes estratégias para a prática da leitura e a iniciação literária. No entanto, o que se conquistou até o momento ainda não é definitivo. Por isso, é necessário que se continue buscando uma mudança mais profunda, não só nas metodologias, mas na mentalidade Docente.

Nesse contexto, apenas direcionar caminhos ou promovê-los não são tão significativos quanto o valor pessoal que o Educador pode demonstrar no trato com a leitura e sua prática em sala de aula e fora dela, ou, ainda, com seus estudantes.

Ás vezes, os Professores se relacionam bem com os livros e com a leitura, há alguns que afirmam que não gostam de ler, outros que não compreendem a leitura como lazer; outros que as poucas leituras que fazem são quase que, exclusivamente, para a preparação das aulas (MACHADO, 2001).

Nesse sentido, importa citar Kleiman (2002, p.34), quando diz que:

Quando uma criança não encontra proveito na leitura, o Professor deve fornecer-lhe outros exemplos. Quando uma criança não se interessa pela leitura, é o Professor quem deve criar situações mais envolventes. O próprio interesse e envolvimento do Professor com a leitura servem como modelo indispensável: ninguém ensina bem uma criança a ler bem se não se interessa pela leitura.

Assim, o Educador é um intermediário entre o estudante e o processo de aquisição da leitura, elemento impulsionador. O Educador cria, em sua sala de aula, condições para que seus estudantes possam ler.

Dessa forma, ao apoderar-se do hábito da leitura, com prazer e autonomia, tanto o Professor quanto o estudante estarão dilatando seus conhecimentos, compreenderão que ler é interpretar a vida social, ampliar a visão de mundo, reconhecer o outro e a si mesmo na leitura.

2.3 A LEITURA E O TRABALHO DO PROFESSOR EM SALA DE AULA

A leitura deve ser uma atividade particular ou colaborativa, mediada e presente no dia a dia do ser humano, pois, a cada dia, este deve interpretar tudo que está ao seu redor, seja um texto oral, uma situação social ou até mesmo o texto escrito, assim como ressalta Kleiman (2005, p.25).

Na leitura, a prática é colaborativa quando o Professor se carrega de fazer perguntas que orientarão o leitor iniciante, ou quando o Professor lê uma história para todos. Nesses casos, aquele que já é letrado (e necessariamente conhece o código) ajuda aqueles que não conhecem ainda o código nem a função das ilustrações no livro, mas que têm familiaridade com a prática de contar histórias e cooperam escutando em silêncio.

Desse modo, as práticas de leitura tão questionadas e cobradas dos educandos devem, também, ser motivo de questionamento para educadores, pois estes precisam, necessariamente, demonstrar que possuem um convívio com o mundo da leitura, para que, consequentemente, sejam capazes de motivar para a construção do hábito da leitura.

De forma geral, a prática da leitura não está moderada em decodificar um código emitido, sua dimensão determina outras competências, assim como afirma Solé (1998, p. 67):

O processo hermenêutico da leitura deve ser compreendido como uma unidade de três momentos: da compreensão, da interpretação e da aplicação. O sujeito apreende os sentidos, coteja-os à luz de seu conhecimento e introjeta-os, incorporando-os de acordo com suas possibilidades e necessidades.

Além disso, as pesquisas nessa área determinam o ato de ler, como um processo mental de vários níveis de concepção que muito contribui para o desenvolvimento do avanço cognitivo dos indivíduos. De acordo com Oliveira (2001, p.10),   ―o processo de transformar símbolos gráficos em conceitos intelectuais exige grande atividade do cérebro, durante o armazenamento da leitura num número infinito de células cerebrais.‖

Sendo assim, o processamento cognitivo da leitura, segundo Kleiman (2002), pode ser percebido pela percepção do material linguístico por meio dos olhos, passando por mecanismos mentais de agrupamento e lançado em seguida para a memória semântica.

Assim, o comportamento do Professor em sua prática pedagógica de leitura, também, pode fazer a diferença, ou seja, um Professor que tenha o hábito de ler, que seja convicto da importância da leitura e que proporcione condições para a aprendizagem e desenvolvimento da leitura dos seus educandos certamente alcançará resultados positivos na formação de estudantes leitores.

Por outro lado, se a leitura for ampliada e usada somente como um instrumento de avaliação, de decodificação de um código, na prática escolar, certamente fará com que ela não se efetive naturalmente entre os estudantes e seja até mesmo um fardo que, dificilmente, proporcionará ao estudante um gosto pelo ato de ler.

Considerações que beneficiem a leitura de mundo dos indivíduos favorecem, também, o hábito de leitura, no entanto, mais uma vez é o Educador, o Professor, que, necessariamente, deve compreender e fazer valer o significado da leitura do mundo, por meio de reflexões sobre as diferenças sociais e culturais que envolvem os educandos nos momentos de leitura e, também, de compreensão do texto lido. Isto quer dizer que, deve-se afastar a ideia de que a leitura é, apenas, a decodificação de um código pronto e acabado, justamente pelo fato de ser possível realizar várias leituras de um único texto, ou seja, a leitura pode ser entendida como um processo que envolve, também, a compreensão do mundo. Segundo Freire (2003, p.20),―a  leitura  do  mundo  precede  sempre  a  leitura  da  palavra  e  a  leitura  desta  implica  a continuidade da leitura daquele‖.

Freire (2003) afirma que a leitura é um método por meio do qual o sujeito se dispõe a realizar um trabalho ativo de interpretação e compreensão do texto, a partir de seus objetivos anteriores à leitura, de seu conhecimento sobre o assunto, ou, ainda, sobre o autor e de tudo que este sabe sobre a linguagem. Dessa maneira, a leitura não é um mecanismo de extrair informações, decodificar letras e palavras. A leitura é uma atividade que exige estratégias de interpretação, antecipação de ideias, inferências de conhecimentos prévios do sujeito sem as quais não é possível a realização de uma leitura proficiente.

Desse modo, é possível perceber que a construção do conhecimento dos estudantes sobre leitura se faz por meio da mediação, do estímulo e deve fazer parte do seu cotidiano, enquanto o Educador reflete sobre o desenvolvimento do hábito de ler, para que a leitura se torne  significativa  e  inerente  ao  estudante,  assim  como  reforça  Orlandi  (2000,  p.  45):  ―a leitura está inerente à vida do estudante, bem como pode ser usada como uma prática pedagógica para a construção do conhecimento.‖

Por esse motivo, os educadores, de um modo geral, devem reavaliar os projetos que ampliam a leitura ou a maneira mais eficaz para conscientizar, incentivar e desenvolver a prática da leitura dentro e fora da sala de aula. Segundo Freire (2003), a conscientização sobre a importância do ato de ler — considerando a leitura como a interpretação e compreensão do mundo — deve ser conduzida com vistas à compreensão de um texto, como nível de conteúdo visível, nível da situação social e nível do projeto de escrita do autor.

Usando as descrições e a ponderação trabalhada por esses diversos autores, entende-se que a noção de leitura compreende imputação de sentidos variados, pois se faz necessário entender que a verdadeira leitura deve passar por níveis de compreensão, constatação, reflexão e transformação que vão além do que está escrito, por esse motivo qualquer intensão de desenvolver ou praticar a leitura dentro ou fora do ambiente escolar deve levar em consideração que existem diferentes situação de leitura e maneiras de apreendermos os sentidos nela existentes.

Na escola, deve ser estimulada a ação de ler para se estabelecer a concepção da importância da leitura e do prazer de ler. Segundo Zilberman (1988, p.16), ―é a escola que conduz ao ato de ler.‖ No entanto, a leitura que deveria ser lazer e fonte de informação é considerada, muitas vezes, como uma obrigação, um dever escolar. Muitos adolescentes e jovens não leem com frequência, e, quando o fazem, é por obrigação. É preciso, pois, recuperar o seu prazer e a necessidade de se informar.

A proposta de que a leitura seja reintroduzida na sala de aula significa o resgate de sua função primordial, buscando sobretudo a recuperação do contrato do estudante com a obra de ficção. Pois é deste intercâmbio, respeitando o convívio individualizado que se estabelece entre o texto e o leitor, que emerge a possibilidade de um conhecimento do real ampliando os limites (MARQUES, 1988, p. 21).

O Professor poderá sugerir atividades interativas que estimulem o gosto pela leitura, mostrando  que  o  livro  não  é  uma  máquina  ―chata‖  que  somente  uma  pessoa  com  aptidões especiais  sabe  conduzi-la.  Também  se  faz  necessário  o  uso  adequado  do  ―arsenal‖  de materiais escolares, como o livro didático ou o livro de ficção, que poderão se constituir em instrumentos que veiculam o contato do estudante/leitor com os escritores e os demais informantes.

O livro didático, com seus inúmeros subsídios, pode se constituir em fonte de consulta na busca de informações e outros contatos culturais. Já o livro de ficção deve servir como o piloto da viagem pelo mundo da leitura, alimentando a imaginação e desenvolvendo a criatividade.

Espera-se essa proposta por meio da qual possam os estudantes desenvolver uma visão diferente da escola, da sala de aula, da leitura, construindo sentido em ser estudante. Porém, para orientar a leitura, é preciso que o Professor conheça as preferências literárias correspondentes à faixa etária dos seus estudantes. De acordo com Bamberger (1977), as preferências literárias são de acordo com a faixa etária do leitor.

Considera-se eficaz como ponto de partida, em uma proposta de leitura, conhecer um pouco a realidade dos estudantes, inclusive como leitores ou não. Com base nos estudos de Bamberger (1977), o primeiro passo para despertar o gosto pela leitura deve ser a motivação de quem lê. Por essa razão, é importante considerar a faixa etária e as características do leitor. A leitura deverá impulsionar a fantasia, a vontade, o desenvolvimento do raciocínio, podendo o leitor se tornar crítico e facilitar, assim, sua compreensão de mundo.

Compreende-se que somente se gosta daquilo que se conhece: as pessoas não conseguem gostar de algo que não conhecem ou que nunca viram. Também, a partir do momento em que é conhecida e entendida, a leitura começa a fazer parte da vida de quem interatua com ela; consequentemente se iniciará o processo de formação de leitores. É importante apresentar uma variação de propostas de leitura como entretenimento (em revistas de moda, esporte, contos, gibis…) ou como informação (em jornais, revistas, livros…), ações que poderão despertar interesse e prazer.

Segundo Foncambert (1989, p.10), ―a escola deve ajudar a criança a tornar-se leitor de textos que circulam no social e não limitá-la a leitura de um texto pedagógico, destinando apenas a ensiná-lo a ler‖.

Tanto a criança, quando lê um conto de fadas, quanto um idoso, quando lê um romance, podem fazer uma bela viagem pelo fantástico; ou quando a criança lê um gibi e um adulto lê uma revista de moda, podem sentir o mesmo prazer.

Quando o trabalho é feito com gosto, fica fácil descobrir a melhor forma de envolver a turma. É possível analisar o contexto da história, fazer um júri, uma dramatização, um debate … tudo vai depender da realidade de cada turma (MACHADO, 2001, p.22).

Quando a leitura é feita com gosto e deleite, envolvendo a realidade dos estudantes, ela se torna real e concreta, facilitando, assim, o desenvolvimento do trabalho com base no contexto da leitura, tornando possível suscitar diversas abordagens.

3  PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 PESQUISA DE CAMPO

O tipo de pesquisa elencada para este trabalho refere-se à pesquisa de campo de abordagem  qualitativa.  Para  Minayo  (1994,  p.21),  ―a  pesquisa  qualitativa  trabalha  com  o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitude‖, ou seja, ela se preocupa com a realidade investigada dos sujeitos envolvidos e não pode ser quantificada.

Uma pesquisa é fundamental a todos os demais tipos de investigação, já que não se pode promover o estudo de algo sem identificar o que já foi produzido sobre o assunto, evitando tomar como inédito o conhecimento já existente, repetir estudos já desenvolvidos, bem como elaborar pesquisas desguarnecidas de fundamentação teórica. Por ser etapa obrigatória a todos os demais tipos de pesquisa, não há unanimidade entre os autores sobre a caracterização de estudos eminentemente bibliográficos, como pesquisas científicas, embora esse tipo esteja presente na maioria das classificações.

Esta pesquisa é resultado de uma leitura baseada em fundamentações teóricas sobre vários autores que se dedicam ao estudo da avaliação da aprendizagem e da investigação das práticas pedagógicas adotadas por Professores no cotidiano escolar.

Esse estudo se configura como uma pesquisa de campo. Segundo Ludke (1986) esse tipo de pesquisa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada.

3.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada em uma escola municipal da zona urbana, na cidade de Sertãozinho-PB, mais especificamente em quatro turmas do Ensino Fundamental. As turmas as quais os Professores — sujeitos da pesquisa — lecionam, funcionam, respectivamente, nos turnos da manhã e tarde. Os sujeitos da pesquisa são Professoras, de turmas dos 3º anos, com idade de 18 a 35 anos, formadas em magistério e Ensino Superior com experiência em sala de aula entre 3 e 10 anos.

3.3 INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA COLETA DE DADOS

Um questionário foi elaborado com quatro questões objetivas e dez subjetivas para os Professores do Ensino Fundamental, objetivando o registro das observações realizadas durante o estágio supervisionado.

Foi apresentado a quatro Professores da escola um questionário contendo 10 itens, que contemplavam assuntos pedagógicos e avaliativos, no sentido de nos fornecer dados concretos acerca do objeto da pesquisa. Em cima das repostas ao questionário, foi possível apresentar e analisar os dados obtidos, e, consequentemente, apresentar algumas considerações.

Para o desenvolvimento da pesquisa, nos referimos à observação da prática dos Professores, relacionadas ao trabalho com a leitura. Além disso, aplicamos um questionário investigativo, o qual permitiu a compreensão dos Professores sobre a leitura no Ensino Fundamental. Para tanto, é preciso compreender para que serve um questionário investigativo. Nesse sentido conta-se com o parecer de Gil (1999, p.128), quando define o questionário:

Como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.

Com isso, é possível compreender que o questionário constitui uma técnica de investigar os interesses dos sujeitos envolvidos na pesquisa, ou seja, é uma técnica de investigação composta por questões escritas ao sujeito da pesquisa, tendo por objetivo buscar os conhecimentos e interesses das pessoas (GIL, 1999). Nesse caso, o questionário possibilita que o pesquisador obtenha dados concretos com base no estudo de campo.

3.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Para a coleta de dados deste trabalho, inicialmente, procedeu-se a uma revisão de literatura, realizada por meio de livros e artigos ao respeito do tema em análise.

Na sequência foi realizada uma pesquisa qualitativa e de campo em que foi aplicado um questionário juntamente aos Professores do Ensino Fundamental sobre a leitura. Na sequência, procedeu-se à análise de conteúdo.

Os dados coletados são predominantemente descritivos. O material obtido na pesquisa é baseado nas respostas dos Professores ao questionário a eles aplicado. Sobre o perfil dos

Professores: o trabalho foi baseado em 10 perguntas, aplicadas com Educadoras do sexo feminino com idades entre 25 e 35 anos, e com tempo de serviço variando de 1 a 10 anos. No tocante à formação acadêmica das Professoras, as quatro possuem, apenas, graduação, todas dentro da sua área de atuação. As quatro Educadoras consultadas exercem, apenas, a função de Professora, não havendo, portanto, acúmulo ou desvio de funções. Isso significa maior disponibilidade destas para com as turmas que lecionam.

4  ANÁLISES/DISCUSSÕES

Objetivou-se, por meio da aplicação de um questionário, responder a seguinte problematização: qual a percepção dos Professores sobre o seu papel enquanto mediador do processo de aquisição da leitura?

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Para auxiliar o registro de observação e avaliação do estágio supervisionado, foi utilizado caderno para anotações. A estrutura física da escola E.M.E.F. Profa. Maria de Lourdes Silva é regular, faltando alguns equipamentos como: quadros para sala de aula, carteiras, birôs, apagadores, tinta para canetas de quadro branco, aparelho de DVD, televisão, data show, para que o Professor execute uma aula diferente, com recursos diferenciados. A administração sempre está presente quando a equipe de trabalho solicita. A supervisão é restrita por falta de profissionais qualificados. A escola não tem orientação e atendimento psicológico.

A escola conta com um número insuficiente de salas de aula, são apenas seis classes, o que ocasiona turmas numerosas, são no mínimo 40 estudantes por sala, distribuídos nos dois turnos, tendo 03 Professores efetivos e 01 prestador de serviço, a direção escolar solicita o plano de curso ao iniciar as aulas, e não conta com especialistas.

A secretaria atualmente precisou passar por uma reforma, falta ventilação e mobília apropriada, sendo complicado atender os três turnos por falta de espaço e materiais de expediente. O equipamento destinado à tiragem de cópias xerografadas funciona, apenas, para os docentes. Existem dez funcionários que atendem os serviços gerais distribuídos nos dois turnos.

A recreação e os eventos são realizados numa área coberta, que está em muito bom estado. Existem alguns recursos didáticos como: televisão, vídeo, DVD e data show. Estão todos funcionando e em bom estado. Apesar de não ter uma sala adequada para esses momentos. Em relação ao material didático, todo o estudante tem livros, e são livros novos. O laboratório de informática, também, não está funcionando, por falta de instalação e equipamentos.

A escola promove feiras culturais, que são realizadas na área coberta com a participação dos estudantes, Professores e comunidade. Tem biblioteca, mas o acesso é limitado. Não há funcionários para o atendimento, não há cabines ou carteiras para estudo, não há ventilação e o espaço é pequeno.

A cantina é funcional, mas o local não é adequado em virtude de ser ao lado do banheiro. Esse espaço é estreito, não há cadeiras suficientes para que os estudantes façam suas refeições. A escola possui um diretor geral e um vice. A direção se preocupa com o planejamento de curso de cada Professor, e esse planejamento é feito bimestralmente, os Professores têm formação: 97% são graduados, 0.3% são mestres.

Na sala dos Professores, falta espaço, cadeiras, ventilador, armários, toda a escola precisa de uma reforma, para que, assim, possa oferecer melhores condições aos seus usuários.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

No questionário indagamos acerca dos desafios da leitura no Ensino Fundamental com suas turmas. A primeira pergunta do questionário, no tocante à pesquisa, enfatizava o que os Professores entendiam por leitura, ou seja, o que é leitura de acordo com as suas concepções. As respostas obtidas estão apresentadas a seguir e revelam que os Professores pensam de forma diferenciada sobre a leitura.

É um ato de se aprender um conteúdo de um texto escrito, é um processo de informação que permite práticas e exemplos (Professor A).

A leitura é onde você conhece e interage melhor (Professor B). É o ato de decifrar símbolos e sinais gráficos (Professor C).

Viajar no mundo da interpretação (Professor D).

O Professor A percebe a leitura como um ato de aprender um conteúdo escrito, que apresenta um processo de informação, enquanto o Professor B diz que a leitura constitui ―o lugar‖ em que se conhece e se interage melhor. Já para o Professor C, a leitura se resume, apenas, a decifrar símbolos e sinais gráficos. Enquanto o Professor D enfatiza que a leitura possibilita viajar pelo mundo da interpretação.

Como afirma Kleiman (2002, p.32): ―não podem permanecer práticas obscuras e obsoletas que privilegiam apenas a decodificação de letras e a decifração linear e regular de palavras num texto, o que empobrece a qualidade da interação entre leitor e texto‖.

As práticas pedagógicas proporcionam a apropriação de habilidades e estratégias por parte do estudante que podem torná-lo um leitor competente. Acreditamos que a leitura, quando trabalhada pelos Educadores, de maneira que haja interação com o educando, tornar- se-á uma prática diária.

Segundo Oliveira (2005),

É nesse momento que o Professor tem a tarefa fundamental de contribuir para o desenvolvimento da maturação cognitiva da criança através da provocação constante de inadaptações ou desequilíbrios internos. Por essa razão, ele deve estimular a criança a pensar sobre o próprio processo de pensamento até conseguir organizá-lo (OLIVEIRA, 2005, p. 32).

A leitura envolve o estudante num processo automático e inconsciente que lentamente regula a sua relação de indivíduo e de leitor:

O leitor utiliza estratégias necessárias para a compreensão de um texto, os níveis de conhecimento ativados pelo leitor no ato da leitura são indicadores de maior habilidade e competência. O texto em si não possui significados, ele apenas fornece pistas para que o leitor construa esses significados partindo do conhecimento e das experiências que já adquiriu ao logo de sua vida. Assim, a compreensão de um texto acontece quando o leitor ativa o conhecimento prévio que possui. Esse conhecimento integra vários outros, como o conhecimento linguístico, o textual e o de mundo (FREIRE, 2003, p.38).

De acordo com Martins Filho (2002), a utilização do livro, de forma democrática e popular, é um desafio a ser enfrentado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Uma das causas da falta de hábito é que a leitura tem que disputar espaço com outras formas de entretenimento. As grandes editoras do Brasil surgiram junto com o rádio e a televisão que, de alguma forma, são meios de lazer baratos e de fácil acesso […] A distribuição e a divulgação de livros no Brasil são precárias. Não há verba para se fazer divulgação de livros pela televisão, que é uma mídia cara. E os jornais tratam como assunto de final de semana. Um exemplo disso é que na França a venda de jornais aumenta no dia em que são publicadas resenhas. No Brasil as resenhas são publicadas nos dias em que se vendem mais jornais (MARTINS FILHO, 2002, p.02).

Dando sequência ao questionário, a segunda pergunta enfatizava como ocorria o processo de leitura, segundo os Professores, os estudantes acabam lendo algo que pouco desperta o interesse para a leitura, muitas vezes são textos que não condizem com a realidade do estudante. São utilizados textos artificiais, isso faz perder o sentido pela leitura, se torna algo desinteressante.

O consumo de livros no Brasil somente não é maior por uma questão de hábito, assim, o segundo questionamento feito foi: como ocorre o processo da leitura?

O processo se da através da aquisição da leitura, aprendendo e buscando aprender mais e mais (Professor A).

A leitura é um processo longo tem que ser muito trabalhada (Professor B).

A partir da observação das letras, palavras, pontuação, etc (Professor C).

Depende do ponto de vista de cada estudante, mas sempre de forma interpretativa (Professor D).

As bibliotecas e materiais pedagógicos encontram na escola um local privilegiado de formação de futuros leitores, pois há livros variados, educadores e educandos insaciáveis pelo saber. Nesse contexto, o terceiro questionamento foi: o ato de ler deve ir além da leitura das letras, de palavras?

Sim, o ato de ler ganha novos significados enraizados quando usamos algo a mais (Professor A).

Sim, pois a leitura do livro tem que ser alcançada (Professor B).

Sim, pois deve levar a imaginação e compreensão do que está sendo lido. (Professor C).

Faz parte do conhecimento do nosso cotidiano (Professor D).

Na escola tem-se o ensino da língua e da linguagem em que se espera que o estudante adquira o conhecimento sobre sua língua e o hábito da leitura com atividades como leitura, interpretação e produção textual. No entanto, sabe-se que somente esses meios tradicionalistas não são motivadores do hábito de ler, uma vez que reduzem a leitura a uma simples atividade escolar e, na verdade, ela deve ser entendida como condensação do conhecimento, ou seja, uma maneira pela qual o leitor aprofunda e amplia a sua percepção de mundo, em que, seus conhecimentos prévios se misturam a novas impressões adquiridas na leitura, transformando, assim, sua percepção de mundo.

Na sequência, buscou-se conhecer se o desenvolvimento da leitura de uma criança depende diretamente do meio em que ela está inserida:

Sim, a partir do meio em que ela vive, que se observa seu estado psicológico, através dele o amadurecimento afetivo e intelectual, seu nível de conhecimento e domínio da leitura (Professor A).

Não, porque primeiramente a família é a base de tudo (Professor B).

Sim, pois se a criança está em um meio onde a leitura é frequente, a criança cria o hábito da leitura (Professor C).

Sim, a família e a escola caminham juntas o aprendizado depende de uma boa estrutura familiar (Professor D).

A leitura promovida pela escola deve atender a diversos aspectos para não se tornar alvo de fracasso ou, simplesmente, uma rotina escolar, assim como afirma Silva (2000):

Ao ser institucionalizado, passando a responsabilidade da escola, o ensino da leitura perdeu sua naturalidade, caiu na esfera dos reducionistas e, de certo modo, transformou-se numa estafante rotina. Não mais se lê para melhor compreender a vida, mas para cumprir os artificialismos e pretextos impostos pela escola treinamento da língua ―culta‖, análises gramaticais, inculcação de valores, respostas fechadas a exercícios de compreensão e interpretação, pesquisas vazias na biblioteca da cidade, horários, provas, notas, etc.¹ com isso, a interação entre os textos e os leitores foi ficando cada vez mais distorcida, afetada ou estereotipada, desviando-se de propósitos como a fruição significativa e prazerosa, a reflexão, a discussão, a produção de novos significados, etc. (SILVA, 2000, p. 22).

A leitura na escola tem, apenas, o caráter secundário ao da escrita. Apesar de andarem lado a lado, a escrita toma todo o tempo, enquanto a leitura é deixada, sempre, em segundo plano, ela, muitas vezes, no decorrer do ano letivo, é vista como uma atividade extra na aula.

Em virtude de ser subutilizada, buscou-se conhecer a percepção dos Professores sobre quais condições são mais favoráveis no ambiente escolar para o estímulo e o desenvolvimento do hábito de ler, e as respostas foram:

Uma biblioteca que leve o estudante a sentir o hábito de ler, usar livros de histórias e desenvolver aulas com fantoches (Professor A).

Sempre dar livros aos estudantes para ler (Professor B).

Um ambiente calmo, sem barulho, tranquilo, com livros e textos ilustrados (Professor C)

O conhecimento prévio, aulas compartilhadas. .(Professor D)

Vale lembrar as considerações de Silva (2000) sobre esse assunto:

Filosoficamente falando, o homem possui uma consciência voltada para a busca incessante da verdade, para a descoberta do mundo e para a transformação dos elementos do real. E nós, Professores, sabemos que essa afirmação é irrefutável, pois vivemos diariamente com a curiosidade e a atividade das crianças. Diante de um texto instigante, que fale às suas experiências e seus problemas reais, a criança se embala e se embola de maneira natural, sem a necessidade de tecnicismos pretensamente motivadores (SILVA, 2000, p. 23).

Com relação à metodologia aplicada em sala de aula, questionou-se: quais as dificuldades presentes na prática Docente no que concerne ao ensino da leitura?

A leitura e a escrita é uma grande desafio, afirmam os especialistas (Professor A)

As principais dificuldades são falta de atenção e interesse dos estudantes (Professor B).

A principal dificuldade é o hábito de ler, que desde criança não foram incentivados (Professor C).

A falta de interesse dos estudantes sobre a leitura (Professor D).

Infelizmente, os Professores não assumem ter uma prática docente incoerente com o processo de leitura, colocando a responsabilidade na instituição escolar, em virtude de, muitas vezes, precisar demonstrar aos estudantes os aspectos positivos da leitura, que são tão importantes para sua formação social, uma vez que, na sua vida familiar, a leitura pode, ainda, ser uma prática estranha e negligenciada, pois a escola não tem como saber a realidade de vida de cada estudante.

Ao serem indagados se entendem que o Professor é o principal agente para a promoção do hábito de ler dos estudantes, todos responderam positivamente a esse questionamento, como se demonstra a seguir:

Sim, o Docente é o principal influenciador, se ele não lê , não vai formar leitor (Professor A).

Sim, porque o Professor sempre faz tudo para que o estudante leia (Professor B). Sim, é o grande incentivador e deve também dar o exemplo (Professor C).

Sim, tem muito estudante que se espelha no Professor, sendo então o Docente muito importante (Professor D).

Isto quer articular que, cabe ao Professor proporcionar diferentes formas de se ler o mundo e o acesso à diversidade de materiais escritos. Ele é o referencial, o motivador; é nele que os estudantes podem se espelhar. Por essa razão, a escola é uma instituição que tem a capacidade de preservar e ampliar a prática de leitura, de formar leitores, assim como afirma Silva (2000):

Modernamente, o único reduto onde a leitura ainda tem a chance de ser desenvolvida é a escola. O fracasso da escola nessa área significa a morte dos leitores através dos mecanismos de repetência, evasão, desgosto e/ou frustração. A qualificação e a capacitação contínua dos leitores ao longo das séries escolares colocam-se como uma garantia de acesso ao saber sistematizado, aos conteúdos do conhecimento que a escola tem de tornar disponível aos estudantes (SILVA, 2000, p.7).

Dessa forma, o foco do desenvolvimento da leitura escolar e do hábito de leitura cotidiana dos estudantes, em sua maioria, é responsabilidade do Professor, uma vez que este precisa ter conhecimento prévio de vários livros para inserir, comentar e instigar a curiosidade dos estudantes por essa leitura em sua sala de aula.

Ainda, refletindo sobre as estratégias utilizadas em sala de aula, levantou-se, juntamente aos Professores, o seguinte questionamento: considerando o tempo disponível das aulas, como o Professor pode contribuir para a formação de leitores no ambiente escolar?

Abrindo espaço nas rotinas escolares, para que tenham oportunidades de expressar suas dificuldades com a leitura, ter material de leitura apropriado para a faixa etária da turma (Professor A).

Pode contribuir por meio da leitura dirigida em sala de leitura (Professor B)

Incentivando a leitura em sala de aula com pequenos textos (Professor C).

De forma interdisciplinar e sendo flexível (Professor D)

O Professor precisa conhecer as reais dificuldades e particularidades de sua sala de aula para que alcance as práticas de leitura como algo natural e cotidiano na escola e na vida do sujeito, para que, dessa maneira, efetivamente, forme leitores.

Inquiriu-se, também, os Professores sobre o que eles fazem para estimular que os estudantes leiam fora do ambiente escolar, e as respostas foram diversificadas:

Mandando eles escolher livros para levar para casa, quando houver alguma leitura obrigatória na ementa , aborda-la como atividade atrativa , lúdica e divertida para o estudante (Professor A).

Revistas, poesias, histórias infantis, etc…(Professor B)

Gosto de fazer atividades de leitura para tentar incentivar a leitura (Professor C)

Tendo contato com pessoas que gostam de ler (Professor D).

São muitas as aberturas e os métodos dos quais os Professores podem se valer para direcionar seus educandos, porém, todos eles necessitam de uma reflexão teórica e também prática para que realmente a produção da leitura na escola traga satisfação ao estudante e ao Professor, assim como afirma Silva (2000):

Os Professores teriam muito a ganhar caso retornassem a coisa – mesma, refletindo sobre a sua história de leitura, despojando-se dos entraves burocrático-intitucionais, questionando os atuais objetivos do ensino e tomando a leitura como o momento crítico da constituição do texto, o momento privilegiado de interação verbal, uma vez que é nele que se desencadeia o processo de significação. Somente assim, ou seja, recuperando a naturalidade do ato de ler e combatendo a parafernália artificial enraizada nas escolas, parece ser possível a encarnação da leitura na vida dos estudantes (SILVA, 2000, p. 23).

O desafio de levar o estudante a desenvolver o gosto pela leitura nos instigou a outro questionamento: quais as sugestões de atividades que envolvem a leitura que você deixaria para os demais Professores enfrentarem os desafios de ensinar a leitura? As respostas a esse questionamento encontram-se descritas a seguir:

Criar alguns papeis do tamanho de cartões de visita e pedir para criarem uma receita, propor aos estudantes um faz de conta cada um se imaginando como autor, criar um programa de entrevista, criar um jogo de tabuleiro, rodas de leitura e música de leitura.(Professor A)

Na minha opinião seria o jornal escolar, pois os estudantes se preocupam em colher informações (Professor B).

Começar a utilizar pequenos textos e começar a trabalhar a interpretação e aos poucos ir aumentando os textos até chegar em livros, fazer debates sobre a leitura (Professor C).

Através de dinâmicas, interpretações sobre a sua família, sua vida e etc. (Professor D).

Constatamos que, por meio de sua experiência de vida, a criança desenvolve a leitura. É interagindo com os colegas que vai alcançar esse desenvolvimento. A criança precisa de contato com os livros; precisa estar em um ambiente propício e favorável, e a escola, então, se torna um espaço primordial para que esse processo ocorra. De acordo com Jolibert (1994), qual a atividade das crianças

para com o escrito se elas não têm nem questionamento, nem poder de intervenção sobre o restante de seu meio de vida? O que vem em primeiro lugar para nós é a escolha do meio de vida no qual os adultos mandam as crianças viverem na escola: em verdade, qual o sentido, para a criança, das seis horas por dia (no mínimo) que ela passa na escola? Qual o sentido para agora, e não só para mais tarde? (JOLIBERT, 1994, p.26).

Já faz tempo que desenvolver nos estudantes as competências básicas da leitura já não é suficiente em sua formação. É obrigatório que a criança esteja disposta para os desafios futuros. Percebe-se que a função da escola vai além; é preciso preparar o pensamento crítico e a capacidade de resolução de problemas, iniciativa, curiosidade e imaginação; e isso somente ocorrerá se o estudante conseguir interpretar os fatos. Para adquirir essa habilidade de interpretação, é preciso que a leitura esteja presente no cotidiano da sala de aula. Segundo o pensamento de Silva, quanto maior a diversidade e possibilidades,

maiores serão as condições de desenvolver a habilidade do pensamento, pois a leitura na escola oportunizará diferentes pontos de vista. Porém, outros propósitos devem orientar a leitura no contexto escolar: parar de ler para memorizar normas gramaticais ou conteúdos cristalizados, a passos largos começar a ler para enxergar melhor o mundo (SILVA, 2002, p.13).

A leitura abre passagens, faz com que o sujeito se habilite para enfrentar os obstáculos que a vida lhe apresentar, pois, somente com o desenvolvimento e ampliação das habilidades, poderá se tornar um agente participativo e crítico em busca de novos conhecimentos dentro do seu meio, e também, em diferentes espaços.

O desenvolvimento do zelo em leitura é um processo constante, que começa na família, se completa na escola e continua por toda a vida em diferentes espaços sociais. Mas, quando esse interesse não vem de casa, resta à escola recuperá-lo. Para que isso aconteça da melhor maneira, é necessário que todos dentro do ambiente escolar se conscientizem de que todos os educadores são participantes na formação de cidadãos leitores.

A leitura deve ser prazerosa e não feita por coação; deve ser aproveitada como uma atividade gostosa e prazerosa por ser interativa. No entanto, quando despojada de crítica, pode levar a simples aceitação mecânica, se transforma em rotina mecânica, perde seu prazer e, consequentemente, não tem nenhum sentido para quem lê. Sendo assim, não basta, apenas, incentivar a leitura, mas incentivar o gosto e prazer em praticar a leitura.

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS

A leitura como ferramenta facilitadora da aprendizagem precisa ganhar lugar de destaque nas escolas, principalmente durante os anos iniciais, pois as experiências escolares vividas nesse período deixam marcas profundas nos estudantes. Dessa forma, a leitura deve ser incitada na vida das crianças desde cedo, mostrando a elas livros e imagens coloridas, instigando, assim, um mundo de fantasia e imaginação. Se a prática da leitura for iniciada quando as crianças ainda forem pequenas, provavelmente se desenvolverão melhor socialmente, cognitivamente e afetivamente.

A criança, durante os anos iniciais do Ensino Fundamental, precisa de um direcionamento maior do Professor, sua mediação é importante no processo de aprendizagem discente. Para a criança, o Professor é a maior referência que tem na escola. Nesse sentido, colocando-se como exemplo, o Professor deve aproximar a criança das mais variadas leituras. A partir daí harmonizar atividades que contribuam para com a leitura escolar e sua contextualização com o seu cotidiano.

Dessa maneira, trabalhar a técnica da leitura em sala de aula com estudantes do Ensino Fundamental é estar em constante intercâmbio com a realidade e a ficção. Para que isso se torne uma prática, como mostrou este trabalho, o Professor do Ensino Fundamental deixa de ser, apenas, um transmissor do conhecimento, e passa a caminhar junto, e ao lado de seu estudante na interpretação de cada informação do mundo, assim como também passa a ensinar os meios para ela se apropriar de todo aquele aparato de conteúdos. Nessa relação com o conhecimento, está provado que o acesso aos livros, ou às outras fontes de informação, não é suficiente. É preciso que o Professor permaneça junto nesse caminho e traga os estudantes sempre com ele.

Finalizamos que o Professor formador de leitores deve ser, necessariamente, leitor e como leitor pode e deve ensinar modos de ler, vivenciar com seus estudantes a leitura como uma ferramenta cultural que intercede conhecimentos e práticas, importante instrumento no cotidiano da sala de aula, seja ela prazerosa ou não, intensiva ou extensiva, livre ou obrigatória. Para isso, o Professor precisa instituir condições estimuladoras em sala de aula e necessidades em seus estudantes, trabalhando a leitura de forma diferenciada, buscando tempos que permitam ler de forma expressiva, ler para além da decifração do código linguístico, ler para tornarem sujeito histórico, e, por meio da leitura, transformar a si mesmo e ao mundo do qual participa.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. 3 ed. Brasília: Ministério da Educação / Secretaria da Educação Fundamental, 2001.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. Tradução de Octavio Mendes Cajado. SP: Cultrix,1977.

COLE – Congresso de Leitura do Brasil. Com todas as letras para todos os nomes. Unicamp: Campinas, 2001.

FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. 2. ed. São Paulo: Olho d’água,1995.

                    . A Importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 45. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura. 8. ed. Campinas, SP: Pontes, 2002.

                    . Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. 9. ed.Campinas, SP: Pontes, 2002.

                    . Ação e mudança na sala de aula: uma pesquisa sobre letramento e interação. In: ROJO, Roxane. Alfabetização e letramento. Campinas: Mercado das letras, 1998.

                    . Preciso “ensinar” o letramento? MEC/Cefiel/IEL/UNICAMP, 2005.

MACHADO, Ana Maria. A literatura deve dar prazer. Revista Nova Escola.Setembro de 2001, p. 21.

MARTIM    FILHO,    Plínio.   Do    papiro    ao    papel    manufaturado.                    Disponível             em:

<http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2002/espaco24out/vaipara.php?materia=0varia>. Acesso em: 2 junho de 2018.

OLIVEIRA, Maria Isabel de. Seminário leituras em sala de aula: reflexões de uma Professora. 13º cole – Com todas as letras para todos os nomes. Campinas/SP, 2001.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2000.

PORTO, Regina Maria Laclette. A biblioteca infantil e sua importância para a formação do leitor – seminário 13º COLE – Com todas as letras para todos os nomes. Campinas/SP, 2001.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. A produção da leitura na escola: Pesquisas e Propostas. 2.ed. São Paulo: Ática, 2000.

                  ; Ezequiel Theodoro da. O Professor e o combate á alienação. 3. ed. São Paulo: Cortez/ Autores associados, 2000.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.

ZILBERMAN, Regina. A leitura em crise na escola: as alternativas do Professor. Ed.POA: Mercado Aberto, 1988.


APÊNDICES