REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7396137
Gledson Pedro da Silva1
Ana Tereza Viana de Araújo Santos2
Prof.ª Dr.ª Marcela Tarciana Cunha Silva Martins3
Resumo
As danças da cultura afro-brasileiras ao longo de sua trajetória foram marcadas por muita luta e resistência dos povos negros de todas as regiões do país. Dessa maneira, no intuito de fortalecer e preservar esta cultura, foi analisado através de um estudo, no campo da Educação Física escolar, a relação dos estudantes com esta temática. Entende-se que conteúdo é fundamental na formação sociohistórico dos estudantes, pois a Dança com todos seus sentidos e significados representa vários aspectos da vida dos indivíduos. Dessa forma, este artigo analisa a relação dos estudantes com as danças e o que eles conhecem de danças afro-brasileiras, em especial as danças mais presentes no estado de Pernambuco. Como percurso deste estudo, foram analisadas as garantias previstas nas leis e nas diretrizes curriculares da educação básica, referentes à cultura afro-brasileira. Em outra etapa desta pesquisa, analisou-se através da aplicação de questionários destinados a estudantes de escolas públicas, situadas na cidade de paulista-PE. Na questão analítica, este estudo buscou especificamente entender quais danças os pesquisados preferem e o quanto de conhecimento eles possuem em relação às danças da cultura afro-brasileira. Os resultados dessas análises mostraram que os estudantes optam pelas novas tendências musicais, em especial, as danças da periferia, demonstrando também, pouco conhecimento em relação às danças com influências nas matrizes africanas. Diante disto, conclui-se que não se pode pensar a da Dança na escola apartada das questões que envolvam o contexto onde ela está inserida e, neste sentido, o professor de Educação Física escolar deve utilizar-se destes elementos para provocar o debate e construir uma ponte entre as matrizes culturais e o contexto escolar, visando ampliar o campo das identidades culturais dos estudantes.
Palavras-chave: Dança afro-brasileira, Educação Física escolar, identidade cultural.
Abstract
The dances of Afro-Brazilian culture throughout its trajectory were marked by a lot of struggle and resistance by black people from all regions of the country. In this way, in order to strengthen and preserve this culture, the students’ relationship with this theme was analyzed through a study, in the field of Physical Education at school. It is understood that content is fundamental in the socio-historical formation of students, as Dance with all its senses and meanings represents various aspects of individuals’ lives. Thus, this article analyzes the students’ relationship with dances and what they know about Afro-Brazilian dances, especially the dances most present in the state of Pernambuco. As part of this study, the guarantees provided for in laws and curricular guidelines for basic education, referring to Afro-Brazilian culture, were analyzed. In another stage of this research, it was analyzed through the application of questionnaires destined to students of public schools, located in the city of paulista-PE. On the analytical question, this study specifically sought to understand which dances the respondents prefer and how much knowledge they have in relation to the dances of Afro-Brazilian culture. The results of these analyzes showed that students opt for new musical trends, in particular, dances from the periphery, also demonstrating little knowledge in relation to dances with influences in African matrices. In view of this, it is concluded that one cannot think of Dance at school apart from issues involving the context in which it is inserted and, in this sense, the teacher of Physical Education at school must use these elements to provoke debate and build a bridge between the cultural matrices and the school context, aiming to expand the field of students’ cultural identities.
Keywords: Afro-Brazilian dance, School Physical Education, cultural identity.
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo almeja trazer à luz das danças da cultura afro-brasileiras uma melhor compreensão acerca deste conhecimento no campo da Educação Física escolar. Por entendemos que o trato desta temática, a partir das mais variadas manifestações da nossa diversidade cultural, contribui de forma positiva na ampliação da identidade cultural dos estudantes, além de gerar possibilidades para discutir as questões étnico-raciais e socioculturais.
Para isto, Oliveira e Silva (2022) diz ser importante que a escola considere os sujeitos que compõem a comunidade escolar em sua diversidade étnica, religiosa e racial, reconhecendo que eles fazem parte dessa sociedade multirracial e pluriétnica. Santos, Bona e Torriglia (2020) corroboram dizendo, que a escola é um local privilegiado na análise e vivência da diversidade cultural, expressando o multiculturalismo como identidade do Brasil.
Neste contexto, no intuito de promover e fomentar a cultura afro-brasileira no contexto escolar, buscou-se, a partir do olhar dos estudantes, oportunizar aos professores de Educação Física um melhor entendimento para o trato com as danças desta cultura na sala de aula.
Mediante o exposto, este artigo vem apresentar o resultado da análise de dados obtidos por intermédio das respostas dadas por alunos do 1º ano do ensino médio, de duas escolas da rede estadual de ensino do estado de Pernambuco, situadas na cidade de Paulista-PE, região metropolitana do Recife. A análise destes dados foi ocasionada pelo estudo de campo da pesquisa de mestrado, que tinha como tema danças afro-brasileiras no ensino médio: conflitos e resistências.
Diante do exposto, como forma de superação destes desafios, destacaremos aqui proposições norteadoras que subsidiarão professores no trato das danças afro-brasileiras durante suas aulas. Mostraremos também, as garantias presentes na lei acerca desta temática. E por fim apresentaremos as respostas dos estudantes sobre suas relações e conhecimentos sobre as danças.
1.1 Educação Física escolar: um olhar para além do corpo
O Brasil é um país miscigenado, e por essa característica, educar em sintonia com sua diversidade sociocultural passa a ser um desafio enfrentado no cotidiano dos professores de todo território nacional. Atualmente, com as novas mudanças no Plano Nacional de Educação (PNE) encontramos a tentativa em articular os saberes tradicionais ao campo pedagógico, do ensino formal, através de uma aprendizagem significativa que leva em consideração o âmbito cultural de cada sociedade dentro de sua proposta pedagógica para a formação escolar.
Neste sentido, cabe compreender que esse processo vai além da busca por mudança na prática docente, exigindo da estrutura socioeducacional respostas que venham superar o pragmatismo do ensino tradicional, que circunstancialmente está pautado especificamente no saber científico, não obstante que é fundamental fazer com que a educação seja conexa e significativa para a vida dos sujeitos na sociedade.
Para tanto, é preciso compreender esta discussão, a partir do artigo 2º do Plano Nacional de Educação, com destaque nos seguintes incisos:
III – superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV – melhoria da qualidade da educação; V – formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade. (BRASIL, 2014, p. 1)
As prerrogativas destacadas no PNE refletem as conquistas e avanços da sociedade brasileira na busca pela superação da educação tecnicista e tradicional que por décadas definiram o modelo educacional brasileiro. Essa mudança emerge da luta popular por uma educação inclusiva pautada na equidade de direitos e respeito à diversidade, como está definido na Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional do Brasil (LDB).
Mediante a esses avanços, apoiando-se nas teorias críticas da educação e na tentativa de romper com os modelos tecnicistas, esportivistas e biologicistas da Educação Física escolar, novas tendências foram dando sustentação ao um novo modelo de Educação Física escolar, onde se fez presente outros temas relacionados à cultura corporal de movimento.
Nessa perspectiva, a Educação Física escolar, através da sistematização de seus conteúdos, passou a ter por finalidade à introdução do educando no universo das mais diversas manifestações culturais do corpo e, dessa forma, contribuir diretamente na formação do cidadão crítico, capaz de produzir, reproduzir e transformar o contexto a qual está inserido.
Portanto, cabe a Educação Física escolar, dentro das suas atribuições garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para a construção de um estilo pessoal de praticá-las, e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente” (BRASIL, 1998, p.30)
Diante deste entendimento, busquei introduzir em minhas aulas, conteúdos voltados para a dança afro-brasileira junto às turmas do 1° ano do ensino médio, com o foco nas danças regionais do estado de Pernambuco, visando a valorização da nossa diversidade cultural, buscando um diálogo entre movimento corporal e o contexto social no qual estamos envolvidos.
Contudo, em minha percepção pedagógica, quando abordamos o conteúdo Dança nas aulas de Educação Física escolar, em especial danças afro-brasileiras, numa perspectiva crítica, as respostas podem não ser as melhores, por parte dos educandos, não por uma postura contraria, mas sim pela cultura construída ao longo de anos de um ensino bem pragmático e constituído sem sintonia com o contexto sociocultural do Brasil.
Deste modo, mesmo sabendo que essas danças fazem parte da nossa identidade cultural, resistência, repulsa e silêncio foram alguns dos comportamentos observados nos alunos durante a exposição do conteúdo das de Educação Física na escola de referência em ensino médio Escritor José de Alencar, situada na cidade do Paulista-PE.
Este contexto aponta para a importância da reflexão sobre os desafios e contradições encontradas na sala de aula, mas também revela que mesmo estando em uma sociedade fundamentada na diversidade não estamos tão abertos para vivenciar experiências, cujo objeto esteja ligado à nossa origem étnica africana.
Partindo dos pressupostos, entendemos ser necessário que o professor em suas aulas assuma uma postura de superação das dificuldades encontradas frente às resistências, advinda não apenas dos alunos como da própria estrutura pedagógica das unidades de ensino ainda focadas no modelo tradicional em que as ações educacionais deveriam permanecer estáticas e sequênciais, mas baseados na ideia de linearidade na formação educacional. Nesse sentido, Kunz (1994 apud Taffarel e Morschbacher, 2013), enfatiza que
os profissionais que atuam cotidianamente na Educação Física podem garantir uma mudança efetiva ou propor um “programa mínimo” de conteúdos e métodos para cada série escolar, que por sua vez, abra espaço para a luta pela melhoria das condições locais e materiais da sua escola, bem como melhoria da “bagunça interna” da Educação Física, enquanto disciplina/ atividade. Redimensionar os programas, objetivos e metodologias em função da carga de exigências sociais que incide sobre as disciplinas escolares, inclusive a Educação Física, trará a formação crítico-emancipatória da escola, e não de uma disciplina.
Essa contribuição destacada na teoria da autora traz para o universo educacional, principalmente para o campo da Educação Física a responsabilidade em contribuir para uma educação emancipatória, através da autocrítica da prática pedagógica que por vezes sofre com as imposições das estruturas já consolidadas no território educacional, além de superar antigos modelos de ensino.
Diante disto, entendemos que o processo formativo através de uma educação crítica é a via que pode impulsionar a transformação da sociedade que busca superar as desigualdades presentes no contexto social no qual o indivíduo está inserido. Desta forma, se faz necessário transpor os limites da educação formal possibilitando ao aluno a ampliação de seus horizontes, através da construção de pontes entre os saberes socioculturais e aprendizagem escolar.
Desta maneira, é nessa perspectiva que buscaremos desenvolver nos alunos, capacidades suficientes para lidar e compreender melhor as questões que os cercam, ou seja, questões familiares, educacionais, sociais e culturais que se apresentam no tema dança afro-brasileira.
Em razão disso e, pelo simples fato de ter me deparado com o baixo interesse na discussão e na baixa participação nas aulas envolvendo práticas corporais relacionadas às danças da cultura afro-brasileira, por parte dos alunos dos 1º anos da escola de referência em ensino médio Escritor José de Alencar, despertou-me o interesse em investigar esse fenômeno.
Neste sentido, a investigação apontou para alguns questionamentos destacados a partir das seguintes reflexões: Como o professor de educação física escolar pode superar as barreiras impostas pelo pragmatismo pedagógico, do modelo tradicional no ensino escolar, para realização de um ensino articulado entre cultura e atividade física? Quais as dificuldades encontradas pelo professor quando o conteúdo são as danças afro-brasileiras nas aulas de educação física escolar? De que maneira os conteúdos da cultura afro-brasileira são vivenciados pelos alunos nas aulas de Educação Física durante o período de formação no ensino fundamental II?
Ciente de que vários fatores possam dificultar a aplicação de determinados temas ou conteúdos nas aulas de Educação Física escolar, o interesse por este estudo partiu das seguintes hipóteses:
Para superação do pragmatismo pedagógico no ensino de Educação Física escolar, o docente estabelece, através de práticas de ensino, um diálogo crítico e reflexivo entre a cultura afro-brasileira e atividade física de forma articulada ao currículo em sala de aula; A falta de estrutura presente na escola dificulta o desenvolvimento de práticas pedagógicas que possam impulsionar o pensamento crítico dos alunos com base nas atividades realizadas nas aulas de Educação Física escolar; As danças da cultura afro-brasileiras enquanto conteúdos da disciplina de Educação Física são vivenciadas de forma pontual no ensino fundamental II.
Diante disto, optamos neste trabalho ter por premissa maior, a reflexão frente às disparidades encontradas no campo da educação física escolar, no âmbito tanto da formação docente como no espaço da sala de aula. Deste modo, enquanto professor da área de Educação Física escolar tenho a oportunidade de lidar com dilemas encontrados no chão da escola.
Esta luta cotidiana está refletida nas minhas tentativas em trazer luzes às novas formas de realizar o trabalho pedagógico com proposições que visam valorizar a cultura local, através da pesquisa dos folguedos ligados a história da cultura afro-brasileira, bastante presente no estado de Pernambuco, e tradicionalmente marcado por sua expressão nas danças.
Deste modo, é importante destacar que o interesse dos alunos em participar das atividades envolvendo dança afro-brasileira nas aulas de Educação Física do 1º ano, na escola de referência em ensino médio Escritor José de Alencar foi de baixa expectativa, fato que me despertou a curiosidade em compreender por que as expressões culturais, principalmente advindas da matriz africana, não desperta o sentimento de reconhecimento cultural, mesmo se tratando de expressões genuinamente vivenciadas nos festejos brasileiros, tal cenário causou-me o estranhamento e o interesse em aprofundar meus estudos dentro deste fenômeno.
Sendo assim, ciente do meu papel enquanto cidadão, que valoriza a pluralidade cultural da sociedade brasileira, buscou-se neste estudo um aprofundamento que levava em conta entender os aspectos que sustentavam as novas gerações a não identificação com suas matrizes culturais.
Dessa forma, esta pesquisa teve como destaque o tema dança afro-brasileira, em especial, sua relevância social para a abertura de novos olhares e caminhos de discussão para a pesquisa educacional. Neste sentido, ao trazer para a Educação Física escolar este debate referente à introdução das danças afro-brasileira no âmbito da prática pedagógica procuro ampliar as discussões sobre um tema quase ausente na literatura da Educação Física escolar.
A partir dos resultados obtidos na pesquisa, apresentaremos neste artigo dados referentes às preferências musicais dos estudantes e da sua relação com as danças, em especial as danças da cultura afro-brasileiras. Assim sendo, este estudo tem como intuito, dar sustentação aos professores no trato desta temática, e também, promover a ampliação de referenciais teóricos acerca das questões étnicos raciais, no campo da Educação Física escolar.
2. DANÇA COMO PROPOSTA DE INTERAÇÃO SOCIOCULTURAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Para tratarmos do conteúdo dança no espaço escolar, é importante pensarmos nas aulas no sentido de totalidade na compreensão, por parte dos alunos, no que diz respeito ao conhecimento do seu próprio corpo, e de seu papel enquanto agente integrante e transformador em sua cultura. Contudo, sem querer impor um entendimento que apresente unanimidade, há de se convir que a abordagem da dança no contexto da escola pressupõe um modo sistematizado de concebê-la, tendo em vista os objetivos educacionais e, por conseguinte, uma relação de ensino/aprendizagem.
Diante disso, Silveira (2020) faz um adendo em relação ao ensino da dança, reconhecendo-a como um componente presente da cultura corporal na escola, com suas diversas formas de manifestação, com seus sentidos e significado, além das experiências e vivências, que proporcionam o desenvolvimento da expressividade, da criatividade, das habilidades motoras, da capacidade cognitiva e, principalmente, da compreensão de si, do próximo e do mundo.
Neste sentido, a linguagem da dança nos da à possibilidade de discutir, vivenciar e problematizar vários aspectos da nossa diversidade cultural. Para isso, é importante que os professores de Educação Física venham objetivar em seu planejamento um programa, a partir do conteúdo dança, que permita discutir problemas sócio-políticos presentes na realidade do aluno, tais como: relação de gênero, racismo, preconceito social, preconceito racial entre outros. “A reflexão sobre esses problemas é necessária se existe a pretensão de possibilitar ao aluno da escola pública entender a realidade social interpretando-a e explicando-a a partir dos seus interesses de classe social.” (SOARES et al., 1992).
Diante disto, Marques (2003) apud Pernambuco (2010), sugere uma prática pedagógica em Dança que supere a perspectiva de um movimentar-se destituído dos aspectos históricos e contextuais nos quais a prática da Dança está inserida.
De acordo com Sousa e Hunger (2019), a dança faz parte da cultura e é um conteúdo riquíssimo a ser trabalhado no contexto escolar, sendo o ambiente escolar reconhecido como um espaço de intervenções e transformações sociais, que possibilita a promoção de conhecimento, além da valorização de diversas culturas, por meio de uma leitura crítica de mundo.
Dessa forma, o educando passa a ter a oportunidade de valorizar os conhecimentos historicamente construídos, numa perspectiva social e cultural, oportunizando ao mesmo entender e explicar sua realidade atual, e de forma autônoma, possa fazer intervenções diretas na sua cultura, transformando-a, e consequentemente possa a vir contribuir para uma sociedade mais justa, tolerante e democrática.
Neste sentido, na luta por uma educação decolonial e compromissada com a transformação e superação de questões relacionadas a paradigmas direcionados a cultura afro-brasileira, faz-se necessário repensar as práticas pedagógicas da Educação Física escolar no trato das danças de matrizes africanas, visando, a partir de seus conceitos, debater sobre as questões raciais.
Portanto, em face do exposto, Pomim e Café (2020) sugerem que para essa transformação deve-se buscar a valorização do pluriculturalismo brasileiro, de modo que se promova a representatividade de todos os estudantes, por meio do reconhecimento da pluralidade, da diversidade e, acima de tudo, do respeito à diferença, evitando que a escola aprisione crianças e adolescentes em uma identidade única e que leve à destruição das representações dos diferentes grupos raciais e étnicos.
2.1 Danças afro-brasileiras nas aulas de Educação Física escolar: uma proposta de valorização da nossa cultura a partir da Lei 10.639/03 e 11.645/08
A lei 11.645/08, altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” […] § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. (BRASIL, 2008, p.1)
Diante do marco legal desta lei, a Educação Física escolar, por meio do conhecimento Dança afro-brasileira, tem a oportunidade elaborar práticas educacionais que venham promover debates que visem desfazer preconceitos construídos ao longo da história, além de proporcionar a exploração das tradições do povo negro afrodescendentes do nosso Brasil, buscando valorizar sua cultura historicamente construída.
De acordo com Mattos (2009, p.130) “no ensino da Educação Física se desconsidera o corpo negro, não reconhecendo como positiva a sua cultura e o valor simbólico que esse corpo carrega de uma construção histórica, social e racial”. Neste sentido, Paula (2018) destaca que as questões relacionadas à história e cultura afro-brasileira são praticamente inexistentes, superficiais ou distantes dos pressupostos e orientações presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais.
Este cenário demonstra que, mesmo com a consciência do debate público sobre as questões étnico-raciais, ainda é evidente uma grande disparidade quando se trata da temática dança afro-brasileira em ralação a outros temas abordados na perspectiva de corpo e corporeidade. Diante desses fatos torna-se necessário uma maior aproximação pautada nas diretrizes presentes na proposta da Lei 10.639/03 da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional Brasileira.
Para efetivação desta demanda social, presente na Lei 10.639/03 da LDB, e contribuir para o aumento das produções teóricas na área da educação física escolar é preciso despertar o senso de justiça social com intuito de efetivar a compreensão da identidade cultural brasileira através da sensibilização do coletivo social frente as disparidades fundantes de nossa identidade histórica.
Diante desta tarefa e, no intuito de desenvolver a cultura para uma melhor visão de mundo, a escola desempenhará o papel de incentivadora e formadora de alunos, que por meio da pesquisa, da leitura e do debate com outros alunos e professores venham adquirir um amadurecimento em relação a sua capacidade de contextualizar e raciocinar de forma crítica o objeto estudado.
A partir dos pressupostos, o estudo sobre a temática da dança afro-brasileira, no âmbito do ensino médio, é um caminho para abertura e compreensão de alguns aspectos fundamentais que possam vir a ajudar na prática e nas ações do professor em sala de aula, além de contribuir com a formação do aluno cidadão através de algumas questões levantadas neste estudo.
Portanto, este estudo deverá proporcionar aos professores e professoras de Educação Física escolar o entendimento relacionado às resistências encontradas no ambiente escolar quando o tema for danças da cultura afro-brasileira.
3. METODOLOGIA
A pesquisa teve por caminho metodológico a pesquisa de campo, descritiva e de abordagem qualitativa e quantitativa. Neste âmbito, o estudo contou com a participação de dois professores da disciplina Educação Física e 180 estudantes do 1º ano do ensino médio. Dessa forma, esse aprofundamento tem por objeto de estudo as danças afro-brasileiras e sua prática no currículo da Educação Física escolar.
Segundo Gil (1999), o método fundamenta-se em três princípios: A unidade dos opostos – os fenômenos apresentam aspetos contraditórios que estão unidos numa unidade dos opostos; Todavia, os opostos se apresentam numa condição constante de contradição, de luta entre si; A luta dos opostos é fonte do desenvolvimento da realidade; Quantidade e qualidade – são aspectos presentes em todos os fenômenos e estão interrelacionados.
Na busca por informações para desenvolver a pesquisa, o estudo pautou-se na pesquisa descritiva, que segundo Bruchês et al (2018), objetivam identificar correlação entre variáveis e focam-se não somente na descoberta, mas também, análise dos fatos, descrevendo-os, classificando-os e interpretando-os.
De acordo com Malhotra (2001, p.155), “a pesquisa qualitativa proporciona uma melhor visão e compreensão do contexto do problema, enquanto à pesquisa quantitativa procura quantificar os dados e aplica alguma forma da análise estatística”. Diante disto, os dados coletados foram analisados a paritr desta perspectiva.
Os dados qualitativos e quantitativos desta pesquisa foram obtidos a partir dos questionários aplicados aos estudantes e professores envolvidos no estudo. Dessa forma, a estratégia escolhida nos permitiu analisar como os professores de Educação Física escolar podem superar as dificuldades apresentadas no âmbito da sala de aula.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para apresentação dos resultados e discussões, utilizaremos na identificação das escolas dos referidos estudantes, as siglas EA e EB, ou seja, utilizaremos para a Escola de Referência em Ensino Médio Escritor José de Alencar a sigla (EA) que refere-se a Escola A, e para a Escola de Referência em Ensino Médio Professor Arnaldo Carneiro Leão utilizaremos a sigla (EB) que refere-se a Escola B.
Buscando investigar a relação dos estudantes com o conteúdo Dança, foi questionado, em relação às Danças, qual seria a preferência. De acordo com os resultados foi possível perceber de imediato, que as danças afro-brasileiras não se faziam presente no contexto dos alunos pesquisados.
Mediante observações, percebemos ser bem heterogênea às preferências relacionadas às danças, por parte dos estudantes pesquisados, vimos, conforme Quadro 1, que os ritmos de danças com maior percentual apresentado pela a Escola A foram o Trap/Rap com 19%, seguido do Pop com 18% e o funk com 10%. Por sua vez, a Escola B apresentou com o maior percentual o ritmo Brega-funk (17%), seguido do Funk com 13%, do ritmo pop e do trap com 11% cada (Quadro 1).
Quadro 1. Em relação à Dança, lista das preferências dos estudantes das escolas A e B, envolvidos na pesquisa, Maranguape I, Paulista – PE envolvidos na pesquisa.
A partir disto, é necessário esclarecer que não se pretende neste artigo pormenorizar cada estilo apresentado com maior percentual no Quadro 1, uma vez que o objetivo específico é compreender o porquê destas preferências. Para isto, será apresentado breves conceitos sobre as danças Trap/Rap, Pop, Funk e Brega-Funk, que apresentaram maior percentual.
De acordo com Oliveira, Sathler e Lopes (2020) o Rap (do Inglês “rhythmandpoetry” ou “ritmo e poesia”) é um ritmo originário dos becos e vielas do Bronx (EUA), criado por jovens afro-americanos nos anos 70.
Alves e Rigão (2020) apontam que, as letras das canções de rap representam um movimento cultural que representa a classe periférica, no entanto, para além de letras músicas, os desígnios trazidos pela população da periferia, incorporada ao subsistema das cidades não reconhecidas como algo civilizado, acabam por apresentar uma antagônia entre centro e periferia.
Outro ritmo de origem estadunidense, o Trap, é um subgênero musical derivado do Rap, tendo seu som caracterizado por conteúdos agressivos. Segundo Nunes (2022),
O cenário de drogas somado à falta de políticas públicas para as camadas mais populares e periféricas subsidiou as gangues ocuparem localidades, acarretando índices altos de violência e de consumo de drogas. Tal contexto possibilitou que gangues interestaduais chegassem, o que aumentou o tráfico e de usuários de drogas. Além disso, no subúrbio, festas eram patrocinadas com a finalidade de fazer a droga circular nos locais, chamados de Trap (armadilha), nos quais essas festas eram realizadas (2022, p.5).
Portanto, este era o cenário que deu sustentação para o surgimento deste estilo de música e dança. Quanto ao ritmo Pop, Dantas (2022), diz ser mais um ritmo que surgiu nos Estados Unidos na década de 50. É um estilo musical executada de modo sensível e melódico, normalmente assimilado por um grande público. O autor reforça dizendo que, os cantores deste estilo apresentam características semelhantes em seus shows, em relação aos cenários extravagantes, muita dança e inúmeros outros artifícios.
O funk, outro ritmo de dança bastante apontado pelos estudantes da pesquisa, foi mais um gênero musical que surgiu nos Estados Unidos, nos anos 60, criado por músicos negros como Horace Silver, James Brown, George Clinton, entre outros. No Brasil surgiu por volta dos anos 70, na região sudeste, mais fortemente no estado do Rio de Janeiro.
Atualmente, este ritmo pode ser considerado uma das principais manifestações culturais brasileiras, pois apresenta forte presença midiática, mobilizando jovens de todas as idades e gêneros, além de estimular a aparição de outras vertentes nas diferentes regiões do país.
Sob a influência do ritmo Funk, o Brega-Funk é um gênero musical que nasceu nos bairros da periferia de Recife, em Pernambuco, onde aconteciam encontros de Mc’s (Mestre de cerimônias) para apresentarem seus shows. Este estilo de música e dança é a mistura do ritmo brega, da musica eletrônica e do Funk carioca.
A ascenção meteórica desse ritmo aqui no estado de Pernambuco, de acordo com Matias (2021), ocorreu devido a nossa era digital, onde o acesso aos dispositivos já se faz presente no cotidiano da periferia, as músicas que antes eram consumidas através dos discos de vinis, fitas ou CD’s, ficaram a um clique do consumidor, ou seja, a indústria midiática, cito como exemplo a plataforma Youtube, que facilita a expansão deste estilo e, consequentemente, estimulando os jovens a consumirem cada vez mais.
Diante do exposto no parágrafo anterior, vimos que nas escolas A e B, os estudantes preferem os estilos mais direcionados ao público das periferias, superando o gênero musical MPB (Música Popular Brasileira), e até mesmo, outros gêneros da cultura popular pernambucana, como o Frevo, o Forró e os diversos gêneros musicais da cultura afro-brasileiras presentes no estado de Pernambuco.
Provavelmente, como observado nos encontros com os estudantes em suas respectivas escolas, as preferências por estes estilos de dança se dar pela influência da indústria midiática de massa, que de acordo com Santos, Silva e Lucena (2022), essa indústria cultural tem o poder de padronizar os gostos, modelar comportamento, alienar e massificar a forma de pensar e agir dos jovens.
Neste sentido, vimos no comportamento de boa parte dos estudantes, que eles reproduzem nas suas falas, nos seus gestos, nas suas vestimentas e acessórios utilizados, como correntes e colares, tal qual é mostrado nos ritmos da periferia, como o Funk e o Brega-funk. Em relação à cultura da periferia, Dayrell (2005) faz menção alegando que ela está presente de forma ativa na escola pública, revelando-se como estilo dos alunos, configurando-se até mesmo numa maneira de ver o mundo.
Desta forma, considerando e reconhecendo que a cultura da periferia está presente no cotidiano dos nossos estudantes, faz-se necessário pensar na valorização e aplicação desta cultura no contexto escolar, porém sempre ressaltando que no estado de Pernambuco temos uma rica cultura, em se tratando de danças populares e folclóricas, que a partir das suas vivências, nos possibilitam compreender o legado deixado por nossos ascendentes.
Seguindo com a pesquisa, perguntamos aos estudantes sobre as preferências musicais dos seus familiares. Diante das respostas, observamos que não condiz tanto com o apresentando no Quadro 1, ou seja, o gênero musical mais escutado em suas residências, conforme apresentado no Quadro 2, são as músicas Gospel com 19% apontados na Escola A e 25% na Escola B. O gênero musical pagode se apresentou como a segunda mais ouvida pelos familiares, sendo 18% da Escola A e 24% na Escola B.
Antes de darmos continuidade ao estudo e, sem a pretensão de esmiuçar as os estilos de músicas que apresentaram maior percentual (Quadro 2), mas enfatizando um pouco quanto as suas origens. Conforme apresentado no artigo 2º do projeto de Lei 7.654 de 2006, a música gospel é um gênero musical de origem afro-americana, nascido nas fazendas de escravos no sul dos Estados Unidos.
Quadro 2. Preferências musicais dos familiares da residência dos estudantes das escolas A e B, Maranguape I, Paulista – PE envolvidos na pesquisa.
E quanto ao estilo musical Pagode, Segundo Lacerda (2014)
Existem controvérsias quanto à origem do termo “pagode”. Sabe-se que, de início, designava uma espécie de festa, encontro que tinha um caráter mais íntimo baseado em círculos de amizades em que os sambistas iam apresentar suas composições e cantar sambas de partido alto, longe dos holofotes midiáticos que se interessavam pelos sambas enredos do carnaval (o que não significa dizer que os músicos que tocavam no carnaval não tocavam nos pagodes) (LACERDA, 2014, p.3).
Dessa forma, o pagode desde a sua origem até os dias atuais não está dissociado do samba, que é um gênero musical que surgiu a partir de um tipo de dança de matriz africana, surgido no Brasil, e atualmente é considerado uma das principais manifestações da cultura popular brasileira.
Dando continuidade ao estudo, o objetivo dos questionamentos levantados e apresentados nos Quadros 1 e 2, sobre as preferências musicais dos estudantes e de seus familiares, não foi a de querer convertê-los a ouvir o que eu penso sobre música, e sim de ter o entendimento do que o público pesquisado tem de cultura musical atualmente e tentar compreender o que os influenciam nessas escolhas.
Sabemos, a partir de Machado (2020), que contemporaneamente, a mídia se estabelece de forma vultosa na formação de uma nova sociedade, na indústria cultural e consequentemente na música, nas escolhas e no gosto musical dos jovens, influenciando-os no modo de pensar político, cultural e social.
Sobre a influência da música na vida das pessoas, seja ela nos campos religiosos ou não, Santos (2021) lembra que, Desde os tempos antigos, a música é ouvida pelas pessoas em diversos momentos, e nas mais diversas religiões, a presença da música em seus rituais pode ser percebida em vários eventos, como também em suas vidas no cotidiano, essa é responsável pela transmissão e pela transformação das tradições religiosas, de modo podemos entender que, música e religião estruturam-se entre si, seus impactos são percebidos nas mais diversas esferas, seja na economia, na politica, como na vida individual das pessoas. (SANTOS, 2021, p.84-85)
Diante disto, obtivemos como entendimento que a música em todas suas dimensões está presente no cotidiano do jovem estudante, por isso não podendo ficar fora do contexto pedagógico.
No decorrer da pesquisa, na segunda parte do questionário tivemos como intuito entender o nível de conhecimento por parte dos estudantes, quando o tema são danças da cultura afro-brasileira, além de buscar compreender o interesse desses estudantes em relação a esta temática.
Mediante observações, apresentamos no Quadro 3, o resultado dos apontamentos feito pelos estudantes envolvidos na pesquisa. Para isto, listamos dez ritmos de dança, e perguntamos quais dessas danças eles conheciam e, a partir disto, de um total de 472 respostas obtidas na Escola A e de 565 respostas na Escola B, obtivemos os seguintes percentuais:
Na escola A as danças Afoxé e Maculelê obtiveram 1% cada uma, o ritmo Passinho com 13%, os ritmos Funk, Forró e pagode com 15% cada um, o Frevo com 14%, o Maracatu com 9%, o ritmo coco com 3% e a Capoeira com 12%, e 3% para outros ritmos. A Escola B apresentou igual percentual nas danças Afoxé e maculelê (1%), também com o mesmo percentual, as danças Passinho, Frevo e Forró obtiveram 14% cada, já os ritmos Funk e Pagode representaram o maior percentual dentre todos os ritmos, 17% e 16%, respectivamente, encerrando o quadro, o ritmo coco representando 2% das respostas, o Maracatu 7%, a Capoeira 10%, e outros ritmos somaram 4% (Quadro 3).
Quadro 3. Lista de ritmos de Danças que os estudantes das escolas A e B conhecem. Maranguape I, Paulista – PE, envolvidos na pesquisa.
Diante do exposto (Quadro 3), observamos, comparada as outras danças da listagem do quadro, um baixo percentual para as danças da cultura afro-brasileira, com exceção da capoeira, que na maioria das vezes, dentro das aulas de Educação Física é apresentada como luta. Mediante a isto, constatamos o desconhecimento do aluno em relação às danças dessa cultura, prejudicando bastante o processo de formação de um cidadão crítico que possa vir a contribuir para o reconhecimento e (re)afirmação da cultura afro-brasileira.
Entendemos que o contato com esta cultura permite aos educandos conhecer mais sobre a história do seu país, a história de um povo que contribuiu diretamente na formação e construção de uma nação, além de proporcionar ao educando momentos de reflexão acerca de valores como o respeito a identidade cultural de boa parte das pessoas do nosso Brasil, e de certa forma corroborar na formação de novas identidades culturais no contexto escolar. Pois, é no espaço democrático do contexto escolar que os mais diversos assuntos de forma sistematizada podem ser debatidos. Como ressalta Coelho (2019),
É nesta instituição onde diferentes mundos e culturas se misturam através dos seus sujeitos, onde discussões são possíveis, e que se abrem oportunidades para a reflexão de aspectos que engendram as Danças Afro, bem como colado a esta questão, a cultura negra e outras ramificações que vão se abrindo a partir destes saberes. (COELHO, 2019, p.14-15)
Neste sentido, ciente do pouco conhecimento dos alunos, em relação às danças da cultura afro-brasileira, mas entendendo ser a escola um ambiente onde os diferentes universos, as diferentes culturas e os mais diversos pensamentos se misturam, começaremos aqui, pensar ações que venham futuramente instigar os estudantes a querer investigar e saber mais e mais sobre a cultura Afro, e ampliar o leque das discussões acerca das questões étnico-raciais.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A diversidade cultural que as danças afro-brasileiras apresentam pode constituir-se como uma importante ferramenta no processo de (re)afirmação e (re)significação da cultura afro-brasileira.
Partindo do entendimento que, a Educação Física escolar como uma disciplina que sistematiza conteúdos da cultura corporal de movimento, pode viabilizar a promoção da igualdade das diferentes manifestações cultural do povo preto, africano, indígena e europeu.
Dessa maneira, a efetivação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 no contexto das aulas desta disciplina se darão de forma democrática, e, por conseguinte promover o olhar crítico e humanizado do estudante.
Neste sentido, no intuito de proporcionar aos nossos estudantes melhores práticas pedagógicas, observou-se neste artigo que os participantes apresentaram nas suas preferências musicais e dançantes, ritmos bastante presente na cultura da periferia e, que sofrem fortes influências da indústria midiática. Entretanto, foi visto que, provavelmente, mesmo de forma inconsciente, suas preferências, com exceção do ritmo Pop, na sua essência tem o toque da África.
Pode-se constatar também que, mesmo sem influenciar nos gostos musicais dos estudantes, as músicas ouvidas por seus familiares, também são gêneros musicais que sofreram fortes influências da cultura africana, no caso do gênero Gospel, veio do povo afro-americano e, quanto ao gênero Pagode, a influência da cultura afro-brasileira.
Observou-se um considerável desconhecimento, por parte dos estudantes, em relação às danças afro-brasileiras com forte presença no estado de Pernambuco, como o Maracatu, o Coco, o Afoxé e o Maculelê. Estas danças são retrato da resistência do povo preto e indígena da nossa região, que por muito tempo foram marginalizados e fortemente oprimidos, e ao que parece, ainda vive por resistir.
Diante deste cenário, o professor não pode apartar os estudantes e a escola das questões que envolvam o contexto a qual eles estão inseridos. Para tanto, o profissional de Educação Física deve-se utilizar-se destes elementos para provocar o debate e construir uma ponte entre as matrizes culturais e o contexto escolar, visando ampliar o campo das identidades culturais dos estudantes e de toda comunidade escolar.
Em suma, espera-se que na inquietação em preservar e ressignificar as danças da cultura afro-brasileira, em especial as danças presentes na cultura popular pernambucana, desperte e estimule os professores de Educação Física a (re)pensarem novo prático pedagógicas, tornando este conhecimento conteúdo obrigatório a ser tratado e discutido no contexto escolar.
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