CURSOS DE IDIOMAS DE ESPANHOL COMO LE: UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS ATIVIDADES DE COMPREENSÃO E PRODUÇÃO ORAL EM SEUS LIVROS DIDÁTICOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7850966


Rafaela Fernandes dos Santos
Orientadora: Profa. Dra. Maristela da Silva Pinto


RESUMO

Esse trabalho monográfico tem por objetivo (i) fazer uma análise crítica quanto aos materiais didáticos no que concerne às atividades de produção e compreensão oral e (ii) propor uma atividade didático-pedagógica intervencionista a partir desta análise. Os materiais analisados nesta pesquisa são os ofertados por duas redes de franquias de cursos de idiomas renomados no Brasil e que tem o método comunicativo (Santos Gargallo, 1999) como norte de seu ensino. 

Os cursos livres de idiomas consistem em instituições particulares isentas de controle de órgãos públicos reguladores da educação que se dispõem a ofertar o domínio de uma língua estrangeira. E para essa pesquisa selecionamos os cursos CNA e Yes, Cursos de Idiomas, ambos são grandes redes de franquias que ofertam o curso de espanhol como LE no Brasil. 

Para desenvolvimento dessa pesquisa, verificamos as atividades presentes no conteúdo principal dos livros “En contacto 2”, do curso CNA e “Avanza”, do Yes curso de Idiomas que concentram a produção e de compreensão oral. Tal análise leva em consideração o quantitativo de questões, a presença ou ausência de diversidade de gêneros textuais, a presença ou ausência da variação dialeta e a qualidade dessas atividades elaboradas. 

Logo após a essa análise, apresentamos uma proposta de atividade-modelo para cada livro analisado, tendo como princípio que as atividades devem perpassar igualmente os domínios linguísticos, sociais e cognitivos, a partir de uma abordagem humanista (Maristela Pinto e Débora Zoletti, 2018). 

No que concerne aos resultados obtidos nesta pesquisa, encontrou-se que ambas as coleções apresentam problemas no que diz respeito a ofertar um ensino, de fato, voltado ao método comunicativo. Nessa pesquisa, constatou-se que um livro pode até propor uma quantidade maior de textos orais, porém o que vai influir ao definir se um é “melhor” que o outro é a qualidade das atividades elaboradas e se de fato vão explorar as habilidades que se dispõem a fazer. 

Para essa pesquisa, o ensino de espanhol como LE deve se dispor de uma abordagem de ensino mais significativo para o aluno e que trabalhe de igual maneiras as quatros habilidades (ler, escrever, ouvir e falar) com atividades lúdicas que representem de fato a vida cotidiana, explorando os domínios linguísticos, cognitivos e sociais. Não acreditamos num ensino eficaz no qual seus conteúdos estejam descontextualizados, não levando em conta a vivência do aluno, sem pensar numa construção do conhecimento, sem levar em conta a língua, o social e o cognitivo. 

Palavras-chave: Curso de idiomas, língua espanhola, produção oral, compreensão oral.

RESUMEN

Este trabajo monográfico tiene por objetivo (i) hacer un análisis crítico en cuanto a los materiales didácticos en lo que concierne a las actividades de producción y comprensión oral y (ii) proponer una actividad didáctica-pedagógica intervencionista a partir de este análisis. Los materiales analizados en esta investigación son los ofrecidos por dos redes de franquicias de cursos de idiomas renombrados en Brasil y que tiene el método comunicativo (Santos Gargallo, 1999) como norte de su enseñanza.

Los cursos libres de idiomas consisten en instituciones particulares exentas de control de órganos públicos reguladores de la educación que se disponen a ofrecer el dominio de una lengua extranjera. Y para esa investigación seleccionamos los cursos CNA y Yes Cursos de Idiomas, ambos son grandes redes de franquicias que ofrecen el curso de español como LE en Brasil.

Para el desarrollo de esta investigación, verificamos las actividades presentes en el contenido principal de los libros “En contacto 2”, del curso CNA y “Avanza”, del Yes curso de Idiomas que concentran la producción y de comprensión oral. Este análisis toma en consideración el cuantitativo de cuestiones, la presencia o ausencia de diversidad de géneros textuales, la presencia o ausencia de la variación dialectal y la calidad de esas actividades elaboradas.

En lo que concierne a los resultados obtenidos en esta investigación, se encontró que ambas colecciones presentan problemas en lo que se refiere a ofrecer una enseñanza, de hecho, orientada al método comunicativo. En esta investigación, se constató que un libro puede incluso proponer una cantidad mayor de textos orales, pero lo que va a influir al definir si uno es “mejor” que el otro es la calidad de las actividades elaboradas y si de hecho van a explorar las habilidades que se disponen a hacer.

Para esta investigación, la enseñanza de español como LE debe disponer de un enfoque de enseñanza más significativo para el alumno y que trabaje de igual manera las cuatro habilidades (leer, escribir, oír y hablar) con actividades lúcidas que representen de hecho la vida cotidiana, explorando los dominios lingüísticos, cognitivos y sociales. No creemos en una enseñanza eficaz en la que sus contenidos estén descontextualizados, no teniendo en cuenta la vivencia del alumno, sin pensar en una construcción del conocimiento, sin tener en cuenta la lengua, lo social y lo cognitivo.

Palabras clave: Curso de idiomas, lengua española, producción oral, comprensión oral. 

INTRODUÇÃO 

Uma vez que vivemos em um mundo globalizado, é notório o crescimento no interesse pelo domínio de uma língua estrangeira no mundo. No Brasil, é possível ter acesso ao ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira por meio da escola, que oferece prioritariamente o inglês e o espanhol, atualmente, por meio de aulas particulares com professores “nativos” que moram no país ou com professores formados que dominam a língua e, ou ainda, por meio dos cursos livres de idiomas. Essa pesquisa se atém ao acesso a uma língua estrangeira, em específico o espanhol, a partir de cursos livres.  

Esta pesquisa se justifica, pois, no Brasil, os cursos livres, dentre esses o de idiomas, são ausentes de regularização e fiscalização por partes dos órgãos de educação, a saber, o MEC e as secretarias de educação dos estados brasileiros. Logo, o método de ensino, a estrutura, o material didático, os recursos, tudo é selecionado de acordo com o que cada curso acredita ser “bom”. Visto que esses cursos se propõem a levar o domínio da língua estrangeira ao aluno, acredita-se que esse curso ofertado deve englobar todos os elementos fundamentais inseridos no processo de ensino-aprendizagem de uma LE, assuntos que vamos abordar e avaliar neste trabalho.   

As grandes franquias de cursos de idiomas que atuam no Brasil, por meio de seus portais ou campanhas publicitárias, se propõem a ofertar um ensino completo da língua estrangeira, garantindo o domínio da mesma ao final do curso. E sempre afirmam que para esse alcance pleno, se utilizam do método comunicativo nas aulas e em seus materiais didáticos, ou seja, garantem atividades de excelência que auxiliam na comunicação e interação na língua estrangeira, levando assim o aluno a dominar e internalizar essa LE.  

Sendo assim, esse estudo objetiva fazer uma análise crítica quanto às atividades de compreensão e produção oral presentes nos materiais didáticos. Para isso, selecionamos os materiais de duas grandes redes de franquias, o CNA e a Yes Curso de Idiomas, que ofertam o ensino de língua espanhola como LE por todo Brasil e se dispõe a propor um ensino estritamente voltado ao método comunicativo. 

Cabe ressaltar que não é o objetivo dessa pesquisa criar uma competição entre os cursos analisados tampouco influenciar o leitor deste trabalho no ato da sua escolha. Na verdade, essa pesquisa se preocupa com o que é ofertado de fato nesses cursos de espanhol com LE e busca influenciar pesquisadores acadêmicos a voltarem seus olhares no que concerne ao ensino de espanhol com LE em cursos livres de idiomas no Brasil. 

Essa pesquisa se dá a partir do apanhado histórico da eclosão do ensino de espanhol no Brasil e a apresentação dos fatores que influenciaram nesse processo de popularização da língua espanhola no território brasileiro. Em seguida, apresenta-se o modelo estrutural e funcional das grandes franquias de cursos de idiomas e suas propostas e métodos de ensino ao aluno aprendiz da língua estrangeira.        

O método de pesquisa utilizado desse estudo é descritivo e explicativo uma vez que busca, por meio de investigações, analisar o principal instrumento de ensino dos cursos, os livros, e observar se o mesmo detém de atividades que explorem as competências comunicativas que concentram o processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira. E a partir dessa análise, com base nos referenciais teóricos que norteiam essa pesquisa, iremos propor uma atividade-modelo que promova o desenvolvimento da competência comunicativa pautadas nas discussões ao longo do trabalho.  

1. A HISTÓRIA DO ENSINO DE ESPANHOL COMO LE NO BRASIL 

O início dos estudos de línguas estrangeiras no Brasil se dá por volta do século XIX com o interesse por parte dos aprendizes de ingressar a cursos de ensino superior, a priori. Contudo, com a chegada do século XX, o Brasil passa por grandes transformações no seu sistema educativo de línguas estrangeiras vivas. E foi em 1919 que se deu a inclusão do espanhol no sistema de ensino brasileiro no Colégio Pedro II, instituição de ensino renomada da época. Aprovado pela Lei 3.674 de 7 de janeiro de 1919, o Colégio Pedro II abre o primeiro concurso para a cadeira de espanhol e o professor Antenor Nascentes assume a vaga, marcando assim na história a entrada do espanhol no quadro de ensino brasileiro. Antenor Nascentes é o responsável pela publicação do livro Gramática de Língua Espanhola, primeira gramática de língua espanhola publicada no Brasil em 1920.  

“A inclusão do ensino de espanhol no sistema educativo brasileiro tem início em 1919, com a abertura de concurso para a cadeira de espanhol no Colégio de Pedro II, em decorrência do aumento de subvenção para a criação da cadeira, aprovado pela Lei 3.674, de 7 de janeiro de 1919..” (GUIMARÃES, 2010, p.2) 

Ao longo da história diversas mudanças políticas e educacionais influenciaram na inserção dos estudos da língua espanhola no Brasil, entre essas mudanças está a Reforma Capanema que surgiu em 1942. A Reforma Capanema foi a primeira legislação que instituiu o ensino de língua espanhola como disciplina obrigatória no Ensino Médio.  

Em 1961, com a chegada da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) o ensino de espanhol sofre um declínio uma vez que a mesma deixa a cargo das instituições estaduais de educação o ensino facultativo de LE, logo, a LDB de 1961 reduz o ensino de espanhol. Nesse cenário podia-se observar uma posição desprestigia da língua espanhola visto que ficava a cargo dos Estados a escolha da língua a ser ensinada e os contextos políticos e econômicos com os Estados Unidos e a estimada cultura francesa da época favoreciam o inglês e o francês em detrimento do espanhol.  

Em 1996, é publicado o que é a nossa atual LDB. Ela confirma ser obrigatória a oferta de uma língua estrangeira a partir do 6º ano do ensino fundamental e no ensino médio é obrigatória a oferta de uma LE escolhida pela comunidade escolar e uma segunda LE optativa. O documento não diz qual deverá ser a língua escolhida como obrigatória.  

“Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição.” (BRASIL, 1996, p.10) 

Na década de 90 observa-se um elevado interesse no ensino de língua espanhola. Diversos fatores contribuíram para esse “boom” do espanhol no Brasil, entre eles a expansão das relações econômicas e comerciais do Brasil com os países vizinhos latinos e falantes do espanhol. É em 1991 que se firma o tratado do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) que se trata de um acordo econômico entre Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela inicialmente para facilitar as relações comerciais entre os países membros. Dentre os países que compõem o MERCOSUL, apenas o Brasil não possui o espanhol como língua oficial e é então assim que se constata uma necessidade na aprendizagem da língua. Outro fator que se pode observar e que contribuiu para a relevância na língua espanhola foi a chegada de grandes empresas e companhias espanholas no Brasil, entre elas o Banco Santander e a empresa Telefónica, que despertaram os ensinos de E/LE.  

Atualmente no Brasil ainda pode-se observar um cenário favorável e em expansão para o ensino Espanhol como LE. As relações comerciais internacionais do Brasil com os países latinos se ampliam, a necessidade de agregar conhecimentos de línguas estrangeiras para se destacar no competitivo mercado de trabalho e o contemporâneo mundo globalizado contribui ainda mais para o desenvolvimento do ensino da língua espanhola, não só no Brasil como em todo continente americano.  

Segundo GARGALLO (1999): 

“Las conclusiones derivadas del estudio de F. Moreno Fernández (1995) en que lleva a cabo un análisis en torno a la enseñanza del español en el mundo concretan que América – principalmente Brasil y Estados Unidos – constituye el epicentro del interés por el español; asimismo, señala que la firma de diversos acuerdos, tratados y convenios (Mercosur, Mercado Común Centro-americano, Pacto Andino o el Tratado de Libre Comercio entre Canadá, Estados Unidos y México) están incidiendo decisivamente para que el español se convierta en una de las claves de las relaciones económicas de América y del área del Pacífico.”.” (GARGALLO, 1999, p.9) 

Visto esses fatores é que começam a surgir o ensino privado de línguas estrangeiras em especial a língua espanhola nos cursos livres de idiomas. Na última década do século XX e na primeira do XXI, essas escolas de idiomas se expandem com a oferta de línguas estrangeiras e diversas franquias se espalham por todo o Brasil.  

2. CURSOS LIVRES DE IDIOMAS DE ESPANHOL COMO LE NO BRASIL 

Os cursos de idiomas que oferecem o ensino de espanhol como LE crescem com a distribuição de suas franquias pelo Brasil, em especial nas grandes metrópoles, visto o interesse dos profissionais em serem fluentes na língua estrangeira e de se destacarem no mercado de trabalho ou por questões pessoais dos aprendizes. Embora se constate esse crescimento, é possível afirmar que no que se trata de estudos acadêmicos, não há pesquisas relevantes que abordam o processo histórico da chegada dessas franquias e que analisem de maneira crítica o que se é fornecido pelos mesmos no que concerne às práticas de ensino e material didático utilizado.  

Segundo FREITAS (2010): 

“No entanto, o ensino de Língua Espanhola em cursos livres é uma área quase inexplorada no Brasil no que diz respeito aos estudos acadêmicos. Isso ocorre apesar da enorme proliferação de instituições que, nos últimos 15 anos, vêm dedicando-se ao ensino não regular de Espanhol, seja de forma exclusiva, seja em concomitância com outras línguas estrangeiras.” (FREITAS, 2010, p.1) 

2.1 A chegada dos primeiros cursos livres de idiomas de espanhol como LE: A língua perpassando dos interesses culturais aos comerciais.  

Freitas (2011), em seu artigo “Entre lembranças e esquecimentos: Relato memorístico sobre o ensino de espanhol no rio de janeiro” faz essa descrição histórica da chegada do ensino da língua espanhola como LE no Brasil, tanto no ensino regular quanto nos cursos livres de idiomas. Para a autora, não há dados tão exatos que comprovem a existência de cursos de idiomas antes desse boom do espanhol no Brasil, mas sim se acredita talvez que estrangeiros atuarem como professores no ensino da língua espanhola ministrando aulas particulares nesse período. O que se pode afirmar são os fatos a seguir que contribuem para traçarmos essa linha histórica do surgimento dos cursos livres de idiomas que atuavam com espanhol como LE no Brasil.   

Em 1956, marca-se o surgimento do Instituto Brasileiro de Cultura Hispânica (IBCH) a fim de firmar relações entre Espanha e Brasil. A instituição chega ao Brasil com o objetivo de disseminar a política e cultura espanhola. E em 1958, por meio da IBCH, se inicia o primeiro curso livre de espanhol.  

Em seguida é instaurado, em 1967, o Instituto Cultural Brasil-Argentina (ICBA). A ICBA também é instaurada no Brasil a fim de firmar relações com o país vizinho, a Argentina. Embora houvesse o ensino de língua, essa instituição era voltada muito mais para os estudos históricos, políticos, geográficos e culturais hispânicos do que para a propagação do ensino de espanhol como LE. 

 Até as décadas de 80 e 90, não há dados que marcam a presença de franquias de cursos de idiomas como se pode ver atualmente tampouco uma expressiva atuação por parte das instituições que existiam, porém é a partir desse momento que o interesse pela aprendizagem do espanhol se difunde pelo Brasil por fatores diversos e em consequência disso surge a necessidade de fornecer tal conhecimento.   

   E é em 1986 que surge a Casa de Espanha, o terceiro maior curso de espanhol do Rio de Janeiro, que fora formado por espanhóis imigrantes, compostos por maioria de galegos, com o objetivo de ensinar a língua espanhola aos filhos dos emigrantes espanhóis. No primeiro ano os alunos imigrantes eram a maioria, porém o panorama de alunos foi mudando e A Casa de Espanha passa a ser popularizar visto o boom que viveu o espanhol na década de 90.  

De acordo com FREITAS (2011): 

“Nos anos 90, o curso da Casa de Espanha foi, sem dúvida, a grande referência do ensino não regular de espanhol no Rio de Janeiro. Como dado comparativo, ainda nos primórdios do boom do espanhol, em 1992, enquanto a Casa de Espanha, como se viu, contava com 326 alunos e dezesseis professores, o IBCH tinha 260 estudantes e oito professores e o ICBA tinha 200 alunos e cinco docentes.” (FREITAS, 2011, p.14) 

A partir desse momento, passaram a surgir distintas instituições hispânicas pelos estados do Brasil, principalmente os Centros Culturais Brasil-Espanha (CCBE) que forneciam o ensino de língua e atividades culturais.  

É possível afirmar então que os primeiros cursos livres de idiomas de espanhol como LE surgem, a priori, com um viés cultural e com uma política de integração entre países a fim de estreitar relações entre eles e não com um interesse comercial de fato que começará a ocorrer a partir desse período, visto a alta busca pelo domínio de uma LE e a questão capitalista que impulsiona as relações comerciais. 

E a partir do surgimento de distintas outras franquias de cursos de idiomas e da mudança da relação do ensino da língua, de algo cultural para comercial, é que essas instituições hispânicas no Brasil perdem seu prestígio.  

Em 1993, embora já houvesse dois cursos que já atuavam com o ensino de espanhol: Fisk e Berlitz, foi a partir de investimentos em campanhas publicitárias que propagavam a importância do espanhol que o Centro de Cultura Anglo Americana (CCAA) lançou seu curso de espanhol e com isso motivou outros cursos a fornecerem também o ensino da língua espanhola. 

FREITAS (2011) afirma que: 

“No entanto, foi apenas nesse ano, com uma campanha publicitária marcante, que se iniciou, no Centro de Cultura Anglo Americana (CCAA), um investimento significativo em torno do ensino espanhol em cursos livres de idiomas. A partir de então, quase todas as instituições desse segmento passaram a oferecer cursos de espanhol, embaladas pela crença no boom do ensino da língua em virtude do advento do Tratado do Mercosul em 1991. Aqui se iniciava a construção discursiva do mito “Brasil, paraíso do ensino de espanhol […]” (FREITAS, 2011, p.15) 

Ainda no final da década de 90, em 1998, instala-se no Brasil o Instituto Cervantes (IC) que se dedicava inicialmente aos estudos metodológicos de ensino e atividades práticas, porém a partir de 2002 começou a fornecer o curso de língua.   

Além das instituições citadas e as franquias que crescem no Brasil nesse período, pode-se constatar outros contribuintes dessa propagação do ensino da língua espanhola que são os cursos de línguas que são oferecidos nas universidades públicas. 

2.2 CURSOS LIVRES:  LEI Nº. 9394/96 E O DECRETO Nº. 5.154/04 

“As instituições de educação profissional e tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade. (BRASIL, 1996, p.20) 

A lei nº 9394/96 e o Decreto nº 5154/04 classificam os cursos de idiomas na categoria cursos livres. Essa classificação de curso livre, segundo as conformidades jurídicas, ausenta aos órgãos públicos, tais como o MEC e secretarias de educação dos estados e municípios, de regularização e controle do que é ofertado nesses cursos.  

“os cursos e programas de Formação Inicial e Continuada de trabalhadores, incluídos a capacitação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização, em todos os níveis de escolaridade, poderão ser ofertados segundo itinerários formativos, objetivando o desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva e social.” (BRASIL, 2004, p.1) 

Tais cursos livres não detêm de uma carga horária mínima ou máxima, sendo de critério do fornecedor a determinação da mesma e quanto a emissão de certificado, ele não é reconhecido pelo MEC e sim, apenas, bem visto no mercado de trabalho como um diferencial entre candidatos concorrentes. Isso nos permite afirmar que a relação que há entre o curso e o seu aluno é estritamente comercial, fornecedor e consumidor. E havendo alguma eventualidade que rompe o acordo inicial com a entidade, cabe ao aluno/consumidor acionar os órgãos reguladores de compra e venda, como o PROCON.  

Visto essa realidade dos cursos livres de idiomas é que surge uma preocupação quanto ao que é fornecido nessas grandes franquias de ensino. O PROCON (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor), afirma que cabe ao contratante firmar tudo acordado no ato da contratação do serviço em contrato, horários, locais, métodos de ensino, material didático entre outras informações. Embora haja essa segurança para o aluno contratante por meio de leis protetivas, há a possibilidade do mesmo não ter conhecimentos pedagógicos adequados para julgar ou não a qualidade do método de ensino de um determinado curso. E uma vez que não é de competência das autoridades de educação fiscalizar tais ensinos, caberá aos cursos de idiomas seus próprios julgamentos quanto ao melhor método eficaz para o processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira.      

Indubitavelmente, atualmente é de extrema importância dominar uma língua estrangeira, seja para contatos com o mundo globalizado ou até mesmo para se destacar no competitivo mercado de trabalho. A língua estrangeira de maior interesse no Brasil é o inglês por ser uma língua falada mundialmente e a mais cobrada no currículo. Porém, uma vez que todos já têm o domínio da língua inglesa, o diferencial será aquele que possuir o domínio numa segunda língua estrangeira, que no Brasil é o espanhol por se tratar também de ser a segunda língua mais falada no mundo.  

Segundo MORENO FERNANDEZ (1995): 

“La expansión de la lengua española a lo largo y ancho del mundo ha sido constante desde hace cinco siglos. El español, en la actualidad, es la lengua materna de un número de hablantes superior a los 350 millones y lengua oficial de una veintena de países. Por número de hablantes es la cuarta del mundo […]; como lengua internacional ocupa en lugar destacado, siempre después del inglés; como vehículo de comunicación de la política, la economía y la cultura internacionales es la tercera, después del inglés y francés.” (MORENO FERNÁNDEZ, 1995, p. 195) 

No entanto, a partir dessa necessidade, encontra-se um meio de comercializar esse ensino e é então que grandes franquias de cursos livres de idiomas lucram.  

Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o ensino de idiomas fatura mais de R$ 35 bilhões ao ano no Brasil. Ainda de acordo com a ABF, há um ranking de 25 franqueadoras de cursos de idiomas e dessas 25, as 5 primeiras juntas somam cerca de 4 mil unidades distribuídas no Brasil. Tal panorama nos faz ver que tal atividade é lucrativa para grandes investidores. 

Vários são os cursos de línguas que existem no Brasil, com mais ou menos foco no ensino ou no capital, dentre eles: CCAA, YES, CNA, SKILL, WIZARD, FISK, Berlitz, Instituto Cervantes, Casa de Espanha, para esse estudo, nos centramos no YES e CNA, cursos que descrevemos melhor a seguir, sem falarmos na questão do lucro, apenas da qualidade do ensino, no âmbito da oralidade.    

 2.3 Franquias de cursos: CNA e Yes Curso de Idiomas. 

As grandes redes de franquias de cursos livres de idiomas tem se expandido por todo o Brasil com a oferta de ensino de línguas estrangeiras. Desses cursos em atuação no Brasil, selecionamos dois que ofertam o ensino da língua espanhola para a análise de nossa pesquisa.  

2.3.1 CNA   

CNA (Cultural Norte Americano) é uma das franquias mais renomadas do Brasil no ensino da língua inglesa e espanhola. Segundo o portal da instituição, a CNA está há 46 anos em atuação e tem cerca de 400 mil alunos distribuídos em 600 unidades em todo território brasileiro. Fundada por Luiz Nogueira da Gama Neto em 1973, a CNA em 2019, recebeu pela ABF o Selo de Excelência em Franchising pela vigésima sétima vez consecutiva. A escola de idiomas possui material didático próprio desde 1982 e propõe um método de ensino interativo e mais dinâmico se apropriando de tecnologia para melhor alcance com seus alunos. A CNA ainda conta com programas de certificações internacionais em suas instituições, sendo o Cambridge English First (FCE) para a língua inglesa e o SIELE para os concluintes de espanhol sem custo adicional.  

Quanto ao curso específico de espanhol para jovens e adultos fornecido pela empresa CNA, tem a duração de dois anos que são divididos em 4 livros, sendo eles En Contacto 1, En Contacto 2, En Contacto 3 e En Contacto 4. Segundo o portal do curso, o aprendizado se dá de forma natural e significativa a partir de contextos que vive o aluno: se apresentar, pedir informações, fazer apresentações, ler notícias, escrever e-mails entre outros. Seu objetivo é levar o domínio da LE ao aluno a partir de atividades comunicativas que propõe o curso ofertado.  

2.2.2. YES 

A Yes Curso de Idiomas é outra franquia em ascensão no Brasil. Foi fundada em 1972 e atualmente tem em média 137 unidades espalhadas pelo país, segundo a ABF. A instituição se dispõe a fornecer um ensino dinâmico e versátil voltado para as práticas comunicativas no ensino das línguas estrangeiras que atua: inglês e espanhol. Seus materiais didáticos são de produção própria, se apropria também dos recursos tecnológicos para uma melhor interação com seu quadro de aluno, a partir de plataformas digitais e rede de aplicativos.  

No que concerne ao curso de espanhol, a unidade trabalha com um curso de 2 anos e meio de duração com os seguintes materiais didáticos utilizados ao longo do curso: ¡bienvenidos!, ¡buen trabajo!, ¡avanza!, ¡hablemos!. ¡perfeccionando!. Segundo o portal da Yes Curso de Idiomas, os materiais estão voltados para os processos comunicativos e são capazes de levar o domínio da língua do aluno por meio das atividades presentes.   

Tendo em vista que ambos os cursos afirmam adotar o método comunicativo em seus cursos de língua espanhola como LE, cabe a pergunta: O que é o método comunicativo? 

2.4. O método comunicativo 

O método comunicativo consiste numa abordagem de ensino de línguas que prioriza a interação entre os falantes e um aprendizado significativo, ou seja, contextualizado com situações cotidianas em que um aprendiz possa se desenvolver na língua aprendida. Nesse método de ensino, o ensino das normas gramaticais fica em segundo plano, sendo prioridade a prática conversacional oral da língua.  

Segundo GARGALLO (1999): 

“Este concepto procede de toda una tradición etnológica e filosófica que aborda el estudio de la lengua en uso y no como un sistema descontextualizado; hasta entonces, había prevalecido un modelo que daba prioridad a la lengua como un sistema jerarquizado de estructuras lingüísticas y al aprendizaje como resultado del binomio estímulo-respuesta.” (GARGALLO, 1999, p. 31) 

Esse método se preocupa que o aprendiz de uma LE seja capaz de interagir na língua de forma mais semelhante possível como faria um nativo e para que isso ocorra, atividades são elaboradas para melhor desempenho da comunicação do aluno aprendiz.  

Como exemplo de atividades que alcançam esse método comunicativo, Gargallo (1999) apresenta em seu livro “Lingüística aplicada a la enseñanza aprendizaje del español como lengua extranjera”, uma atividade modelo elaborada por R. Pinilla Gómez (1997) que fomenta esse funcionamento e uso das estratégias comunicativas.   

FIGURA 1: Proposta de atividade elaborada por R. Pinilla Gómez (1997). 

FONTE: GARGALLO (1999, p. 44). 

Observa-se que a atividade exemplo acima abre possibilidade de um aluno se desenvolver comunicativamente a partir de uma situação cotidiana, uma saída de compras em uma loja. A atividade permite que o aluno pense e construa sentenças na LE e aplique por meio de uma interação. A proposta dessa atividade foge do padrão perguntas-respostas que cristalizam o diálogo não propondo de fato uma situação comunicativa.     

Uma vez descritos os cursos que analisaremos criticamente e o método comunicativo, apresentaremos a metodologia utilizada para esta análise. 

3. METODOLOGIA 

Neste capítulo apresenta-se a metodologia utilizada na construção desse trabalho de análise crítica de materiais didáticos de cursos de idiomas que atuam com o ensino de espanhol como língua estrangeira (Espanhol como LE). Tendo em vista que, atualmente, o ensino de Espanhol como LE é presente nas principais metrópoles do Brasil, principalmente com o surgimento de distintas franquias de cursos livres de idiomas. Para esse estudo, conta-se com o livro didático de dois (2) cursos de idiomas – Yes e CNA – cursos renomados na área de ensino de idiomas. Do curso Yes, o livro intitula-se “Avanza”, já o do CNA, intitula-se “En contacto 2”.  

Essa seção se subdivide em: 3.1 Seleção do curso de idiomas; 3.2. Seleção do material didático. 3.3. Análise crítica do livro didático. 3.4. Proposta de intervenção em atividades do material didático analisado. 

3.1. Seleção dos cursos de idiomas 

Optamos por analisar livros didáticos de cursos de idiomas, pois estes “priorizam” a oralidade, foco de nosso estudo. Além disso, por, em suas propostas de ensino, lançarem mão de métodos que focam na competência oral, como é o caso do enfoque comunicativo.  

A escolha pelos cursos livres de idioma – Yes e CNA – se deu por eu ter sido aluno de um desses e uma colega de faculdade ter sido aluna do outro.  

Outro ponto relevante em nossa escolha foi a de que fossem cursos presentes no estado do Rio de Janeiro. 

FIGURA 2: Atual logomarca da CNA (Cultural Norte Americano) 

FONTE: Wikipedia (2018) 

FIGURA 3: Atual logomarca da Yes Cursos de Idiomas 

FONTE: Portal do Yes Curso de Idiomas (2019)  

3.2. Seleção do material didático

O livro didático do curso Yes, intitula-se “Avanza”, já o do CNA, intitula-se “En contacto”. A coleção da franquia CNA apresenta quatro volumes – 1 – básico, 2 – intermediário, 3- avançado, 4- superior já o YES Curso de Idiomas apresenta cinco volumes divididos em três séries: 1 – série “comunicación”, que conta com dois livros, considerados de nível básico, 2 – série “evolución”, que também conta com dois livros, considerados de nível intermediário e 3 – série “mundo”, com um livro considerado de nível avançado, além da oferta livre de dois cursos extras de nível avançado, sendo para esse estudo será analisado o livro 2, intermédio, do CNA e o livro 3, “Avanza”, do YES.  

A escolha pelo intermédio se deu por apresentar uma maior quantidade de atividades de compreensão e produção oral, objeto de estudo desta monografia. 

Os materiais são utilizados nos cursos de ensino completo de língua espanhola para uma mesma faixa etária de alunos que são jovens e adultos e também de edições niveladas no mesmo ano de produção em média (entre 2012 e 2014).  

FIGURA 3: Livro intermediário do curso de espanhol do CNA: “En Contacto 2”. 

FONTE: Portal do CNA.  

FIGURA 5: Livro intermediário do curso de espanhol do YES: “Avanza”. 

FONTE: Elaborada pela autora  

3.3. Análise crítica do livro didático 

Após a seleção dos materiais didáticos, foram levantados pontos relevantes de análise tais como: (i) a verificação se o livro trabalha as quatro habilidades que envolvem o ensino de língua estrangeira (compreensão escrita e oral e produção oral e escrita) de igual maneira ou se prioriza uma(s) em detrimento de outra(s); (ii) se o material apresenta as variedades linguísticas do espanhol, do ponto de vista da fonética e da fonologia; (iii) como são apresentadas e trabalhadas essas variedades; (iv) como as atividades didático-pedagógicas presentes nesses materiais corroboram para o desenvolvimento da competência comunicativa, (v) se as atividades de compreensão e produção oral focam em questões referentes, de fato, à oralidade, tais como – tomada de turno, pausas, truncamento de falas, entoação …, (vi)  se estas são significativas para a vivência do aluno; (vii) se se trabalham diferentes operações cognitivas para se desenvolver a competência oral do aprendiz. 

Essa análise buscará verificar se essas atividades apresentam de fato um contexto significativo, se promovem a comunicação, se requer do aprendiz da língua estrangeira a aplicação dos conteúdos ensinados de maneira adequada e se dispõem de uma proposta que impulsione o aprendiz de Espanhol como LE a interagir com um “nativo”, sem ruído na conversação.   

3.4. Proposta de intervenção em atividades do material didático analisado. 

Ao final desse trabalho e após todas as discussões quanto ao método comunicativo no processo de ensino-aprendizagem da língua espanhola, essa pesquisa irá propor uma atividade modelo que perpassa os domínios linguístico, social e cognitivo, a partir de uma abordagem humanista para cada livro.    

4. ANÁLISE E RESULTADOS 

Neste capítulo, avaliamos criticamente os materiais didáticos de cada curso,  com ênfase nas atividades de produção e compreensão oral. Com isso, buscamos observar (i) divisão dos livros, (ii) a quantidade das atividades de produção e compreensão oral do livro, (iii) a presença ou ausência de gêneros diversos na coleção, (iv) presença ou ausência de textos com variedade dialetal nos livros, (v) a qualidade das atividades no que concerne ao método comunicativo.  

4.1 Divisões dos livros 

Ao início de cada livro “Avanza”, do curso Yes e “En contacto 2”, do curso CNA estão presentes os conteúdos que trabalham seus respectivos livros. 

 O “En Contacto 2” está dividido em 8 unidades e cada uma delas apresenta as seguintes seções: Contenidos Funcionales, que é a parte onde procura-se explorar a produção e compreensão oral de acordo com o tema da unidade; Contenidos Gramaticales, é a parte onde trabalha-se o conteúdo gramatical e Contenidos Léxicos, que são as palavras ou estruturas que, de acordo com o tema da unidade, serão esmiuçados. 

O “Avanza” está dividido em doze lições onde em cada uma dela há as seções a serem exploradas que são: Comentando, que é um diálogo escrito e oral curto e que introduz a lição; Hablando Mejor, uma seleção de palavras presentes no texto inicial que serão trabalhadas ao longo da lição. Observa-se que a seleção dessas palavras se dá talvez na dificuldade que um aprendiz pode encontrar ao pronunciá-las como, por exemplo, o “j, z, r”; Interpretación, perguntas de interpretação do dialogo presente no Comentando; A estudiar, é onde está inserido o conteúdo gramatical da lição; Vocabulário, que são palavras selecionadas a partir do tema da lição; Manos a la obra, atividades de fixação do conteúdo gramatical; Charlando, é a parte que propõe uma atividade de produção oral de acordo com o tema da lição; Todo oídos, é a seção onde sempre há um texto oral e o aluno deve ouvi-lo e completar as lacunas; Qué opinas, é a parte da lição que há um texto escrito e oral maior, abordando sempre assuntos mais culturais. E por fim; Está Claro, que são exercícios de revisão de todo o conteúdo gramatical trabalhado na lição.  

Dessa maneira, podemos observar uma discrepância entre os dois livros quanto à divisão das habilidades a serem trabalhadas. Enquanto que o livro “En Contacto 2” tenta trabalhar as habilidades de igual maneira e não apresenta uma organização fixa quanto às atividades, podemos observar que o “Avanza” se subdivide em 10 seções em cada lição sendo  3 de compreensão escrita,  1 de compreensão leitora, 4 que trabalham a compreensão oral e escrita  e 2 de fator de produção oral. Sendo assim, pode-se concluir que, ao contrário do que diz a Yes Curso de Idiomas quanto ao curso está estritamente voltada ao método comunicativo presente em todos os livros, há mais atividades que desenvolvem as habilidades escritas e leituras do que as de fato as de compreensão e produção oral. Já, a partir da análise geral do livro “En contacto 2”, observa-se mais atividades de compreensão e produção oral, do que as escritas e leituras. Essas atividades de produção e compreensão oral de ambos os livros serão analisadas mais detalhadamente ao longo dessa pesquisa. 

Uma vez que nos importam as atividades de compreensão e produção oral para esta pesquisa, nos detivemos nas seções “Charlando” e “Hablando Mejor” do livro “Avanza” do Yes Curso de Idiomas e “Contenidos Funcionales” do “En Contacto 2 “ do CNA de cada unidade/lição para analisar a produção oral e as seções “Qué opinas”, “Todos oídos” e “Comentando” do livro Avanza e ainda o “Contenidos Funcionales” do En contacto 2 para analisar a compreensão oral.  

4.2 – A compreensão oral 

As atividades de compreensão oral consistem na diferenciação auditiva e fonética do aluno. São por meio dessas atividades que se exploram a compreensão oral, que o aprendiz da língua estrangeira pode agregar ao seu processo de ensino aprendizagem novas estruturas lexicais e novos vocábulos e assim, com elas, estabelecer relações significativas com sua visão de mundo. A compreensão oral também está atrelada ao desenvolvimento da percepção do aluno, uma vez que, para alcançar êxito nas atividades que exploram esse recurso, é necessário que o aprendiz se atente ao texto oral apresentado e em todos os elementos da oralidade que estão sendo utilizados nele.  

4.2.1. – A quantidade de atividades de compreensão oral nos materiais didáticos selecionados. 

No que concerne às atividades de compreensão oral, o livro “En contacto 2 “ apresenta em todo seu conteúdo principal 23 atividades de compreensão oral divididas em 8 unidades, em média 3 por unidade, sendo utilizados áudios autênticos e originais para cada atividade. Visto que por unidade o livro tem em média 13 atividades, os três áudios correspondem cerca de em média quatro atividades da unidade. Logo, de maneira geral, constata-se uma razoável porcentagem quanto às atividades de compreensão oral uma vez que o livro deve alcançar todas as quatro habilidades. Observa-se que as atividades que serão trabalhadas o áudio apresentam um ícone de megafone e os áudios sempre estão de acordo com o tema da unidade.  

GRÁFICO 1: Quantidade de atividades de compreensão oral – En contacto 2. 

Já o “Avanza” demonstra um total de 36 áudios divididos em três por lição nas secções “Comentando”, “Todos Oídos” e “Qué opinas” e também se utiliza de áudios autênticos e originais para cada atividade. No total, o livro Avanza apresenta 120 atividades e destas, 36 se utilizam de textos orais na construção de suas atividades.  

GRÁFICO 2: Quantidade de atividades de compreensão oral – Avanza. 

Porém, o que vamos perceber em comparação das duas obras é que, embora um apresente mais textos orais no seu material que a outro, é relevante analisar a qualidade com que esses textos estão sendo apresentados ao aluno aprendiz da LE.  

4.2.2. – A presença ou ausência de gêneros diversos na coleção 

No que se trata da diversidade de gêneros textuais com que os materiais analisados elaboram suas atividades, é possível perceber que no livro “En contacto 2” os textos orais aparecem de variados gêneros ao longo das unidades, a saber, entrevistas, autoajuda, reportagens, conversas, entre outros. Não há um gênero fixo e regular ao longo das unidades do livro. Podem até aparecer textos orais distintos de um mesmo gênero, porém isso se dá de maneira alternada e dinâmica.  

Já o livro “Avanza” inicia sempre suas lições com um texto oral de mesmo gênero, diálogo, em sua seção “Comentando”. Já nas outras duas seções que trabalha a compreensão oral é possível observar que em “Todos oídos” pode aparecer um texto oral de gênero informativo ou apenas uma seleção de palavras de acordo com o tema da lição, pois o intuito dessa atividade é apenas preencher lacunas. Em “Qué opinas”, vai aparecer sempre um texto oral de gênero informativo a respeito de algum assunto cultural do mundo hispânico.  

Observa-se então uma discrepância quanto à presença de variedades de gêneros textuais. Enquanto que um curso optou em construir atividades de compreensão oral através de uma distinção de gêneros textuais e assim apresentar ao seu aluno como se dão esses distintos textos, outro cristaliza um só gênero a ser utilizado em uma seção do livro durante todo o curso e varia razoavelmente nas outras duas secções e mesmo assim não quanto ao gênero, e sim quanto à temática e o assunto abordado. Essa limitação de gênero textual reduz o ensino da língua estrangeira uma vez que a mesma dá conta de perpassar vários universos textuais levando ao aluno um maior alcance e domínio da língua.  

4.2.3. A presença ou ausência de textos com variedade dialetal nos livros 

Outro ponto de análise é se os livros trabalham e como trabalham as variedades dialetais. Uma vez que a língua espanhola detém 21 variedades, é de responsabilidade do curso que fornece o domínio de dada língua apresentar em seus materiais tais variedades dialetais. 

Desse modo, observa-se que os textos orais propostos pelos dois cursos são áudios produzidos para fins didáticos e de seus direitos reservados e dessa forma não apresentam traços mais marcantes e que permitem identificar a área dialética da variedade do espanhol. O que se pode afirmar é que ambas as coleções apresentam em seus textos orais diferentes graus do yeísmo, fenômenos fonéticos e fonológicos como o seseo e o distinguidor, trabalham o voseo e o tuteo entre outras variedades da língua espanhola. Destaca-se o livro “Avanza” que em grande parte dos seus textos orais apresenta dois interlocutores onde cada um reproduz de maneira distinta um mesmo segmento. Isso, no nível de ensino, é de extrema relevância, pois explora a percepção do aluno ao identificar a riqueza dialetal da língua espanhola. 

Embora seja muito favorável que ambos os livros busquem apresentar essas variedades dialetais da língua espanhola em seus textos orais, seria de grande valia que, além de apresentá-las, sinalizasse também qual área dialetal tal texto representa. Dessa forma, possibilitaria ao aluno aprendiz da LE a identificação regional ampliando assim seus conhecimentos no que concerne à língua espanhola. 

Cabe ressaltar que, embora os livros apresentam textos ricos no que diz respeito aos fenômenos fonéticos e fonológicos, tais como o yeísmo, debilitamento das oclusivas, aspiración entre outros, não há ocorrência de atividades ou até mesmo explicações que abarquem esses conteúdos. Logo, cabe ao professor/instrutor, a partir dos textos base, agregar tal conhecimento ao seu aluno.    

4.2.4 – A qualidade das atividades de compreensão oral nos livros 

didáticos selecionados no que concerne ao método comunicativo. 

Outro ponto relevante de análise dessa pesquisa é a qualidade dessas atividades de compreensão auditiva apresentadas pelo material didático. É possível constatar outra discrepância no que se trata da maneira que cada livro trabalha essas atividades. 

O livro “En contacto 2” sempre propõe áudios/textos orais que estejam de acordo com o tema da unidade. Esses áudios não estão transcritos na unidade e sim ao fim do livro junto com todos os áudios do livro. Observa-se também que todas as atividades são de interpretação do texto oral, podendo aparecer com o modelo de perguntas e respostas, afirmações verdadeiras ou falsas ou até mesmo quadros de preenchimentos de informações. 

FIGURA 6 – Questão de compreensão do oral do livro “En contacto 2” do CNA.  

FONTE: página 57, questão 5, unidade 4.  

E embora sejam textos orais trabalhados pedagogicamente, é possível constatar que reflete de fato a fala de nativos de língua espanhola.  Sendo assim, é possível afirmar que o livro tenta ao máximo explorar a compreensão auditiva do texto oral. Outra preocupação desta pesquisa é se essas atividades apresentam um valor significativo para o aluno, ou seja, se as atividades refletem a vivência do mundo e a realidade do aprendiz e abarque os elementos do método comunicativo. Observa-se que no exemplo abaixo, a questão traz um texto oral que se passa numa loja onde os interlocutores estão à procura de um presente ideal para um amigo em comum. Esse contexto condiz com uma situação que passou ou pode vir a passar o aprendiz da LE.   

FIGURA 7 – Questão de compreensão oral do livro “En contacto 2” do CNA. 

FONTE: página 57, questão 6, unidade 6. 

Quanto a isso, o livro En contacto 2 apresenta textos orais que perpassam os contextos vividos pelos alunos, por exemplos, um diálogo em uma entrevista de emprego, uma consulta médica, recomendações para encontrar um companheiro(a) entre outras temas que possivelmente o aluno tenha vivido ou presenciado e assim, essas estruturas usadas no textos orais farão que o aprendiz as desenvolvam em seu momento de fala.       

Já o livro Avanza apresenta seus textos orais nas secções “Comentando”, “Todos Oídos” e “Qué opinas”. Em todas elas, os áudios/textos orais são autênticos e originais para cada atividade e que refletem a fala nativa dos falantes da língua espanhola, porém o que se observa é que nem sempre os textos orais vão dialogar com o tema da lição, causando assim uma quebra na construção do raciocínio lógico dos alunos.  

Na secção “Comentando” há sempre, em todas as lições, um texto oral de gênero diálogo que introduz a aula e o mesmo se encontra transcrito no livro. Logo, é possível perceber que o material deixa a desejar no que concerne a explorar de fato a compreensão oral do aluno uma vez que ele pode simplesmente acompanhar o texto oral com a leitura do texto escrito. Na próxima seção “Todos oídos”, há um novo áudio que está relacionado com o tema, porém sempre nessa parte da lição o aluno ouvirá o texto oral e preencherá lacunas e isso se dá em todas as 12 lições. E, na última atividade em que se utiliza o texto oral, “Qué opinas”, aparecem textos que não dialogam diretamente com o tema e adotam temas mais culturais. Estes também estão transcritos no livro e aparecem acompanhados de perguntas interpretativas e não exigiram a compreensão oral do aluno uma vez que ele pode simplesmente, mais uma vez, ler o texto escrito e responder às questões propostas.  

No que concerne ao valor significativo para o aluno, é possível ver que os áudios não alcançam em sua totalidade a vivência e o contexto de mundo do aluno, pois apresentam ora diálogos que começam do nada e terminam do nada e podem ou não um aluno passar por tais circunstância e ora textos orais informativos sobre um determinado tema.   

FIGURA 8 – Questão de compreensão oral do livro “Avanza” do Yes Cursos de idiomas. 

FONTE: Seção “Comentando”, página 47, lição 29. 

FIGURA 9 – Questão de compreensão oral do livro “Avanza” do Yes Cursos de Idiomas 

FONTE: Seção “Todos oídos”, página 55, lição 29. 

FIGURA 10 – Questão de compreensão oral do livro “Avanza” do Yes Cursos de Idiomas 

FONTE: Seção “Qué opinas”, página 55, lição 29. 

Observa-se que os exemplos acima foram retirados de uma mesma lição do livro “Avanza” que tem por título e tema “Espero que te laves bien…”. A lição começa com a seção “Comentando” e um diálogo que ocorre entre mãe e filha sobre orientações de higienização. Cabe ressaltar uma vez mais que se trata de um diálogo que começou e terminou “do nada” e uma atividade que trabalha a compreensão oral na verdade trabalha a leitora uma vez que o texto está presente escrito ao aluno. Em seguida, destaca-se a seção “Todos oídos” que se trata de um texto com conselhos para a higiene pessoal. O texto na verdade são doze frases que o aluno deverá ouvir e completar as lacunas. Por fim, na última atividade de compreensão oral da lição, “Que opinas”, aparece um texto informativo falando sobre Cuba, tema este que não apresenta nenhuma ligação com o tema inicial da lição que é higienização. Ressalta-se também a presença do texto escrito num momento onde o aluno deveria exercer apenas a compreensão oral.    

Numa análise geral dos livros “Avanzar “En contacto 2” é possível afirmar que ambos apresentam ricos textos orais em suas obras, porém a maneira com que  criam suas atividades, foge de fato do que se espera quanto a um material didático que se propõe a ensinar o espanhol como LE. O “Avanza” apresenta mais textos orais ao longo do semestre em que utiliza o seu material em relação ao “En contacto 2”, porém não exploram de forma adequada, na formulação das suas atividades, a compreensão oral de fato.   

No entanto, cabe ressaltar que em nenhum momento ambas as edições abarcam atividades que explorem os fenômenos da oralidade, tais como os efeitos da irônica, tomada de turno, entoação, truncamento entre outros. O que se vê sempre são atividades que até requerem do aluno uma atenção e leitura ampliada do texto oral, porém para aplicar na produção escrita, ou seja, ouve e responde o que se pede. Essa pesquisa acredita que atividades que exploram esses fenômenos exigiram do aluno uma melhor percepção e compreensão do texto oral e com isso resultados mais proveitosos no que diz respeito à prática auditiva, no processo de ensino aprendizagem, da língua estrangeira. 

4.3 A produção oral 

A produção oral consiste em atividades que exploram recursos orais de uma língua com a intenção de se expressar ou comunicar com a mesma. Essas atividades buscam promover a produção de estruturas da língua estrangeira como meio de internalização da mesma ou a interação a partir de contextos significativos, ou seja, o aluno é motivado a se expressar, produzir oralmente, sentenças na língua estrangeira, adotando assim essas estruturas ao seu acervo linguístico.  

4.3.1 – A quantidade de atividades de produção oral nos materiais didáticos selecionados. 

Ambos os cursos se propõem sempre a fornecer com maior relevância atividades de produção oral e que promovam o método comunicativo.  

O “En contacto 2” apresentou em suas 8 unidades cerca de 50 atividades de produção oral no total.  Essas atividades, como todas as demais, não apresentam em uma seção específica e sim o livro opta pelo melhor momento de aplicação da atividade de acordo com o tema da unidade. Sob uma análise crítica, é possível ver que o livro se preocupa com a produção oral uma vez que tem em média seis atividades por unidade que serão solucionadas ao longo do semestre. 

GRÁFICO 3: Quantidade de atividades de produção oral – En contacto 2. 

O “Avanza” apresenta suas atividades de produção oral divididas em duas secções, “Hablando mejor” e “Charlando”. Ou seja, são apenas duas atividades de produção oral por lição. O livro tem um total 120 atividades, 10 por lições, sendo assim, podemos perceber que apenas 24 atividades trabalham a produção oral ao longo de um semestre de utilização desse material.   

GRÁFICO 4: Quantidade de atividades de produção oral – Avanza. 

No entanto, embora haja essa preocupação com a produção oral, constatamos problemas no que diz respeito à formulação dessas atividades de produção oral, problemas que discutiremos ao longo desta seção.   

4.3.2. Presença ou ausência de gêneros diversos nas atividades de produção oral 

No que diz respeito às variedades de gêneros orais nas atividades de produção oral é possível constatar uma significativa deficiência em ambas as coleções. Observa-se que a maioria das atividades de produção oral consiste em perguntas e respostas de acordo com um dado tema. Em toda análise de todas as atividades dos livros selecionados se encontrou pouca ou nenhuma ocorrência de atividades que permitam que o aluno, por exemplo, se expresse a partir de um determinado contexto ou até mesmo produza diferentes gêneros textuais como um relato, entrevista, uma narrativa entre outros. No livro “En contacto 2” pode-se ainda perceber uma tentativa de diversificar os gêneros propondo situações onde os alunos deverão criar diálogos que as representem, porém na maioria das atividades ainda se pode notar que são perguntas que farão que os alunos as respondam de maneira adequada.   

FIGURA 11 – Questão de produção oral do livro “En Contacto 2” do CNA. 

FONTE: página 40, questões 12 e 14, unidade 4.  

Observa-se que o exemplo da figura 10 extraída do livro “En contacto 2” apresenta na questão 12 o modelo de perguntas e respostas para a produção oral porém na questão 13 diversifica propondo uma atividade de produção oral onde o aluno deverá optar por uma das situações apresentadas e encenar tal situação a partir das orientações que a questão dá.   

4.3.3 – A qualidade das atividades de produção oral nos materiais didáticos selecionados, no que concerne ao método comunicativo. 

É nessa parte da nossa pesquisa que encontramos problemas no que se refere às atividades de produção oral e o método comunicativo que cada curso se dispõe a explorar. Porque melhor que um material rico quantitativamente em atividades de produção oral que auxiliam no aprendizado da língua estrangeira, é um material que apresenta atividades de qualidade no que diz respeito à produção oral. 

O En contacto 2 apresenta sempre em suas atividades de produção oral questões nas quais o aluno deve observar imagens e tirar suas próprias conclusões e as compartilhar oralmente em sala, esse tipo de questão quase sempre vem antes de alguma atividade compreensão oral, como uma maneira de pré-leitura. Outra maneira que o livro explora a produção oral é ao fim de cada lição, relacionando o tema da unidade com um contexto possível de vivência do aluno e até mesmo com perguntas que promovam debates e interações entre os alunos. Embora apareçam ao longo do livro algumas atividades mais práticas e dinâmicas, onde o aluno deve construir suas próprias estruturas e falas, é possível observar que a grande maioria dessas atividades de produção oral consiste em perguntas e respostas e isso impede o desenvolvimento comunicativo uma vez que a resposta que o aluno formular deverá ser apenas o que lhe foi perguntado e não promoverá de fato uma interação. 

Figura 12 – Atividades de produção oral do livro “En contacto 2” do CNA. 

FONTE: página 52, questões 13 e 14, unidade 5. 

Já o livro “Avanza” apresenta suas duas atividades de produção oral em suas lições nas secções “Hablando mejor” e “Charlando”. Encontramos um problema já muito grande na “Hablando mejor” uma vez que o aluno, nessa parte, apenas reproduz palavras selecionadas pelo livro, ou seja, não há um diálogo ou interação e sim apenas repetição de palavras. Já no “Charlando” é onde o livro de fato se propõe a uma atividade de produção oral, porém nos deparamos com algumas perguntas por lição de acordo com o determinado tema. Ou seja, em nenhum momento o livro “Avanza” possibilita a comunicação e a interação entre os alunos para de fato haver a produção e aplicação oral do que se aprende da língua estrangeira.         

Figura 13 – Seção “Hablando mejor” do livro “Avanza” do Yes curso de idiomas 

FONTE: página 18, lição 26.  

Figura 14 – Seção “Charlando” do livro “Avanza” do Yes curso de idiomas. 

FONTE: página 22, lição 26. 

5. PROPOSTA INTERVENCIONISTA  

Essa pesquisa buscou por fim propor uma ação intervencionista por meio de uma atividade-modelo para ilustrar justamente o que foi criticado ao longo desse trabalho, que é o ensino significativo do espanhol como LE e o método comunicativo por meio de atividades em seus materiais didáticos.  

Para essa ilustração, essa pesquisa se pautou no método comunicativo defendido por Isabel Santos Gargallo em seu material “Linguística aplicada a la enseñanza-aprendizaje del espãnol como lengua extranjera” e nos domínios linguísticos (DL), sociais (DS) e cognitivos (DC) de Maristela Pinto e Débora Zoletti (2018) em seu artigo “A escola em que acreditamos: explorando os domínios linguístico, social e cognitivo, a partir de uma abordagem humanista, nas aulas de espanhol como le”. 

O que se encontra muita das vezes ao analisar atividades didático pedagógicas são questões que não abrangem os três domínios. Ou requer do aluno apenas uma resposta conceitual (DL), ou só percepção ou análise (DC), por exemplo, ou até mesmo só uma resposta de cunho social (DS). Porém, acreditamos num aprendizado mais eficaz quando as atividades dão conta de perpassar todos os três domínios.     

Sendo assim, analisamos criticamente uma atividade didática de compreensão oral das coleções “Avanza” do Yes Curso de Idiomas e “En contacto 2” do CNA.  

As atividades de compreensão oral se encontram na unidade 5 “Cambios y nuevas experiencias”, questão 7 do livro “En contacto 2” do CNA e na lição 26 “cada uno con su punto de vista”, página 17, seção “Comentando” e “Interpretación”. 

Figura 15: Atividade de compreensão Oral –  Texto Escrito – “Avanza” Yes Curso de Idiomas

Figura 16: Atividade de compreensão Oral – Questões do texto escrito – “Avanza” YES 

Figura 17: Atividade de compreensão Oral – “En contacto 2” – CNA 

           Verificamos que um texto-base traz um diálogo que aborda mudanças encontradas no local de trabalho por uma das interlocutoras que está voltando após sua licença maternidade, o outro apresenta um diálogo entre dois amigos que  debatem acerca de suas opiniões sobre o descobrimento das Américas. 

Observamos que as atividades (i) tratam-se de um gênero oral bastante recorrente nas atividades dos livros analisados – diálogo -, mostrando assim a não ou pouca variação de gêneros textuais na construção das atividades; (ii) não exploram elementos da oralidade tais como a ênfase, tomada de turno, hesitação entre outros em nenhuma dos livros; (iii) não esmiúçam os temas sociais que são da relação emprego e maternidade para a mulher e respeito às divergências de opiniões; (iv) não trazem reflexões tampouco um posicionamento do aluno para tais temas; (v) não promovem a interação e comunicação entre os alunos a partir do contexto da atividade; (vi) não trabalham diferentes aspectos cognitivos, consistem apenas em explorar uma leitura ampla do aluno do texto oral para aplicação de perguntas interpretativas. 

Sendo assim, a partir dessas atividades, essa pesquisa propôs as seguintes ações intervencionistas para esses textos base. 

1º PROPOSTA DE ATIVIDADE DE CO – CNA  

Pre-comprensión oral.  

FONTE: https://www.infonova.com.br/artigo/as-vitorias-da-mulher/ 

1. O que ocorre na cena acima? 

2. Como você pensa conciliar a maternidade e a vida laboral?   

Comprensión oral 

Texto-base oral: Habla de Laura – faixa do cd 14 

TRECHO RECORTADO PARA A RESOLUÇÃO DA QUESTÃO:  “Muy bien. Eso sí, bastante ocupada últimamente. He estado seis meses de licencia de maternidad y esta semana he empezado a trabajar. Me he encontrado con muchísimo trabajo y cuántos cambios ha habido en la empresa.” (vendría sólo oral) 

1. Nesse texto, Laura conversa com sua amiga de trabalho (DS). Identifique (DC de elaboração) o sentimento de Laura, atentando para o tom de sua fala (DL).  

2. Laura conta a Inês sobre as mudanças que ocorreram em sua vida com a chegada do bebê (DS). Defina como estão sendo essas mudanças a partir da fala de Laura (DC) e ratifique a sua ideia a partir de fragmentos dos textos (DL).   

Pós-comprensión oral/Produción oral 

Debata com seus colegas, uns com o olhar da mulher e outro com o olhar do homem sobre maternidade/paternidade e vida laboral.  

Gabarito esperado: 

           Pré-compreensão oral: 

1. A cena trata-se de uma reunião de trabalho onde há uma mulher presente, participando dessa reunião, com o seu filho representando a complexidade maior que tem a vida laboral para uma mulher. 

2. Espera-se que o aluno argumente quanto às dificuldades que a mulher encontra para conciliar a maternidade e a vida profissional.   

Compreensão oral:  

1. A partir da fala de Laura é possível identificar certa aflição por conta do quantitativo de trabalho que ela encontra no seu retorno e uma surpresa ao perceber que há várias mudanças na empresa.  

2. Percebe-se pela fala de Laura que as mudanças têm sido complicadas e se adequá-las tem sido um pouco exaustivo. “As veces me cuesta un poco, pero ya me estoy organizando”.  

Producción Oral: 

Para as mulheres é possível conciliar a vida profissional e maternidade seja contratando babás ou deixando seus filhos com um familiar. Porém, quando essa mulher não tem esse suporte então assim, a situação é agravada. E o fator sentimental também influi quando uma mãe tem que deixar seu filho de seis meses de vida a outros cuidados ocasionando uma preocupação a mais além das que apresentam qualquer emprego e empresa.  

Os homens, muitas das vezes, são os provedores da casa e responsáveis pelo sustento e para que isso ocorra eles trabalham de 8 à 10 horas diárias. Esse fato faz que, muitas das vezes, o pai perca momentos especiais da vida do filho tais como: primeira fala, primeiros passos, reuniões escolares entre outros.  

2º PROPOSTA DE ATIVIDADE – AVANZA 

Pré-compreensão oral 

FONTE: https://pizarrasypizarrones.blogspot.com/2011/07/material-didacticodescubrimiento.html?m=1 

1. Qual acontecimento histórico você crê que narra o texto acima? 

2. Qual é o pensamento dos navegantes em relação aos nativos da terra? 

3. Você crê que esse contato se deu de maneira amistosa ou não? Que elementos sustentam sua ideia? 

Compreensão oral 

Texto-base: Sería sólo áudio 

Disponível em: faixa 4 do cd  

TRECHO RECORTADO PARA A RESOLUÇÃO DA QUESTÃO:   

“Alejandro: ‘No, los colonizadores venían en busca de oro, plata y esclavos, su codicia fu ela ruina de los pueblos indígenas’.  

Horacio: ‘Si no fuese por ellos no seríamos lo que somos hoy … 

Alejandro: ‘Y qué somos hoy? Mira a los descendientes de todos esos pueblos, están en la miseria, arruinados y discriminados en muchos países de América.’” (vendría sólo oral) 

1. Alejandro e Horácio têm opiniões diferentes acerca do “descobrimento” da América (DS). Indique (DC) o porquê da repetição da fala Horácio na de Alejandro “¿Qué somos hoy? ” (DL).  

2. Ao longo do diálogo de Alejandro e Horário (DS), observa-se uma alteração no tom de voz dos amigos. Tomando por base o tom de voz (DL), defina o porquê dessa alteração (DC). 

Pós-compreensão oral/Produção oral 

A turma será dividida em dois grupos, um de europeus e outro de nativos da “nova terra”, que deverão dialogar a fim de chegar num melhor acordo para que ambos os povos convivam juntos e sem diferenças. Os grupos deverão impor suas exigências e firmarem seus acordos para haja uma harmonia mesmo em cenário de diferenças sociais, culturais, econômicas, religiosas entre outras. Assuma seus personagens e discorde de seus argumentos.  

Gabarito esperado: 

Pré-compreensão oral 

1. A descoberta da América ou a chegada dos europeus às Américas. 

2. Os europeus assumiram uma postura de superioridade diante dos povos nativos das “novas” terras e se afirmavam serem maiores qualitativos e quantitativamente.  

3. Espera-se que o aluno contribua a partir de seus conhecimentos prévios desse assunto e também interprete como se dá um encontro entre dois povos de culturas e com intenções distintas.  

Compreensão oral 

1. Alejandro retoma a fala do amigo para dar ênfase e promover uma reflexão do que tinha dito a seu amigo. 

2. O debate entre os amigos se acentua e percebe-se uma elevação no tom de voz a fim de dá uma ênfase em sua fala na tentativa de convencimento de sua opinião.  

Pós-produção oral 

A turma será dividida em dois grupos, um de europeus e outro de nativos da “nova terra”, que deverão defender suas ideias, como se estivesse em um tribunal, a fim de chegar num melhor acordo para que ambos os povos convivam juntos e sem diferenças. Os grupos deverão impor suas exigências e firmar seus acordos para que haja uma harmonia mesmo em um cenário de  diferenças sociais, culturais, econômicas, religiosas entre outras. Assuma seus personagens e discorde de seus argumentos.  

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Esse trabalho buscou analisar de maneira crítica os materiais didáticos das duas principais franquias de ensino de espanhol em vigor no Brasil, CNA e Yes Curso de Idiomas. Como nunca houve de fato uma preocupação ao que se é ofertado nesses cursos de idiomas, essa pesquisa buscou apresentar que, embora sejam franquias conceituadas e citadas atualmente quando se busca aprender o espanhol, elas apresentam problemas sim em seus materiais no que concernem às atividades de produção e compreensão oral.  

Após uma minuciosa análise, conclui-se que no livro “Avanza” do Yes Curso de Idiomas, 23% das atividades de seu material são de compreensão oral com textos de gêneros textuais não variáveis e sim já preestabelecidos – diálogo ou informativo – em todas as lições. Enquanto que no livro “En contacto 2” do CNA há um quantitativo de 18% de atividades de compreensão oral, um número abaixo ao que se espera de um material que trabalhe as quatros habilidades de igual maneira, com gêneros textuais mais diversificados. Ou seja, o “Avanza” apresenta mais textos orais, porém não varia em nenhum momento quanto ao gênero textual. O “En contacto 2” apresenta menos textos orais, no entanto tenta perpassar gêneros textuais distintos.  

No que concerne à variedade dialetal, ambas as coleções apresentam ricos textos onde se é possível explorar as variações, porém não apresentam traços que definem qual área dialetal pertence às mesmas. O que se pode afirmar é que os livros apresentam distintos graus de yeísmo, tuteo e voseo, seseo e distinguidor entre outras variedades, mas em nenhum momento, em nenhum dos materiais analisados, se encontrou explicações ou atividades que explorassem tal assunto. 

Sob uma análise qualitativa, conclui-se que o livro “Avanza” apresenta mais problemas do que o “En contacto 2”. O “Avanza” apresenta um grave problema quanto a explorar a compreensão oral de fato uma vez que disponibiliza sempre os textos transcritos em seu material e suas atividades consistem sempre em interpretação textual. Logo, o aluno pode localizar no texto escrito as informações necessárias para solucionar as questões, não explorando assim a compreensão oral e sim a leitora. O “En contacto 2” apresenta o texto oral e suas atividades podem aparecer com perguntas interpretativas, verdadeiras ou falsas ou até mesmo de maneira de preenchimento de informações. Nenhuma das coleções apresenta atividades que explorem de fato os fenômenos da oralidade e atém sempre ao modelo perguntas e respostas interpretativas do texto oral.  

 Constatamos que, no que diz respeito às atividades de produção oral, o livro “Avanza” apresenta apenas 17% de atividades no total, enquanto o “En contacto 2” apresenta um quantitativo de 32% de atividades. Ambos os cursos afirmam oferecer um curso estritamente voltado ao método comunicativo, porém o que foi observado é que nenhum deles alcança esse método em sua totalidade uma vez que as atividades de produção oral consistem em modelos de perguntas e respostas. Não há atividades que possibilitem a prática comunicativa e a interação na LE, mas sim perguntas que não requerem nada além que uma resposta.  

Essa pesquisa também se preocupou em analisar se as atividades elaboradas eram significativas para o aluno aprendiz e se perpassa contextos da vivência dos mesmos, e assim constatou que o “En contacto 2” do CNA se aproxima mais desse ensino significativo quando apresentam textos com situações como uma entrevista de emprego, uma consulta médica, em uma loja. Já o “Avanza” do Yes não alcança por completo esse ensino significativo pois apresenta diálogos descontextualizados ou textos orais informativos em seu material.     

A partir da análise dos dois materiais selecionados, observou-se que há uma grande discrepância em relação a como são elaboradas as atividades. Um curso priorizou a quantidade de textos orais e deixou a desejar na qualidade das atividades que exploravam esses textos. Outro apresenta até boas atividades de compreensão oral, mas apresenta problemas nas atividades de produção oral, tais como questões que não promovem a interação e comunicação efetivamente. Enquanto uma apresenta variedades de gêneros orais, outra já determina quais trabalharão ao longo do livro, deixando fixo e cristalizado. Entre outras distinções, percebe-se que não há uma regularidade na confecção desses livros, ou seja, cada livro produz o que julgar ser bom. Acreditamos que tal fato se deva, justamente, pela falta de regulamentação que deixa a cargo do curso optar pela melhor maneira de ensinar a língua estrangeira. Isso não é, de todo, algo ruim, porém, uma vez que, na prática conseguimos perceber relevantes problemas nesses materiais elaborados a critérios próprios, aí sim cabe à discussão que buscou fazer essa pesquisa. 

Esse trabalho discutiu e acredita que o ensino da língua espanhola ou de outra língua estrangeira qualquer, é proveitoso quando se há, por exemplo, nas atividades produção oral uma variedade de gêneros orais onde abarque contextos distintos que façam o aluno relacionarem com a sua vivência e até mesmo entender a amplitude que a LE pode perpassar, ou, nas atividades de compreensão oral que requeiram de fato do aluno a sua interpretação oral do que é ouvido e que explorem e trabalhem os elementos da oralidade com questões que perpassam os domínios linguísticos, cognitivos e sociais. Essas e outras observações foram o combustível para a construção desse trabalho.   

No entanto, é importante ressaltar que não é o objetivo deste trabalho criar uma competição entre ambas as franquias citadas ou até mesmo influenciar leitores desse trabalho no ato da escolha de um curso de idiomas na qual “melhor” franquia escolher. Coube a nós apenas observar esses materiais e apontar as deficiências no que concerne ao método de ensino-aprendizagem para ao nível de reflexão uma vez que esse material é comercializado por essas franquias. Nossa preocupação se deu pelo fato de talvez o aluno/consumidor não dever dos conhecimentos das estratégias de ensino de uma LE a ponto de julgar o melhor curso para adquirir/consumir. 

Sendo assim, esperamos que este trabalho de análise das atividades de produção e compreensão oral tenha contribuído para uma reflexão quanto à formulação de atividades que explorem tais competências e em especial os cursos livres de idiomas. E que além de, talvez, provocar mudanças significativas ao cenário do ensino de língua espanhola no Brasil, formando a cada dia falantes de excelência na língua e que saibam se expressar e se comunicar em distintas situações, que estimule também outros pesquisadores, visto a baixa pesquisa acadêmica no que se trata de cursos livres de idiomas, a olharem para esses cursos, seja do espanhol ou de qualquer outra língua estrangeira, com um olhar mais crítico e de análise quanto aos métodos de ensino adotados e seus materiais didáticos.  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

BRASIL, Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. 

BRASIL, Decreto 5154, de 23 de junho de 2004. 

FREITAS, L.M.A. . O professor de espanhol em cursos livres: uma análise dialógica de atividade. Cadernos Neolatinos (UFRJ) , v. 6, p. 1-7, 2010 

FREITAS, L. M. A. Entre lembranças e esquecimentos: Relato memorístico sobre o ensino de espanhol no Rio de Janeiro. Hispanista, vol. XII, nº 46, 2011. 

GARGALLO, I. S. Lingüística aplicada a la enseñanza-aprendizaje del español como lengua extranjera. Cuadernos de Didáctica del Español/LE. Arco/Libros, S.L, 1ª edición, 1999. 

GUIMARÃES, A. História do ensino de espanhol. Scientia Plena. Vol. 7. Num. 11, 2011. 

MORENO FERNÁNDEZ, F. ¿Qué español enseñar?. Cuadernos de Didáctica del Español/LE. Arco/Libros, S.L, 2ª edición, 2007. 

PINTO, M.S; ZOLETTI, D.R.L. A escola em que acreditamos: explorando os domínios linguístico, social e cognitivo, a partir de uma abordagem humanista, nas aulas de espanhol como LE. VII ENALIC, Fortaleza, 2018. 

19 FRANQUIAS DE CURSOS E IDIOMAS PARA INVESTIR E AJUDAR A MELHORAR A EDUCAÇÃO NO BRASIL. <https://www.portaldofranchising.com.br/franquias/franquias-de-cursos-e-idiomasassociadas-da-abf/>. Acesso em: 18 de maio de 2019. 

CNA. <https://www.cna.com.br/>. Acesso em: 15 de abril de 2019. 

YES. <http://yes.com.br/>. Acesso em: 15 de abril de 2019.