CURRÍCULO E TECNOLOGIAS CIBERCULTURAIS NA AMAZÔNIA: CARTOGRAFIAS FORMATIVAS NO  ENSINO SUPERIOR DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ (UEPA) CAMPUS VII 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202507281543


Tamirez Santana Muniz1


Resumo 

Este artigo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa em andamento, que investiga  as reconfigurações curriculares no ensino superior amazônico diante da emergência das  tecnologias ciberculturais. A investigação concentra-se no Campus VII da Universidade  do Estado do Pará (UEPA), considerando práticas formativas desenvolvidas entre os anos  de 2020 e 2025. O objetivo é compreender como as tecnologias digitais, integradas à  cultura em rede, influenciam saberes, subjetividades e modos de ensinar e aprender no contexto universitário. A abordagem é qualitativa, fundamentada na cartografia como  método de pesquisa, e utiliza análise documental. A proposta visa contribuir com reflexões  sobre currículo, cibercultura e formação docente no interior da Amazônia. 

Palavras-chave: Currículo. Cibercultura. Ensino Superior. Amazônia. Formação docente.

1. Introdução 

A crescente inserção das tecnologias digitais na educação tem provocado profundas  reconfigurações no campo curricular, especialmente em regiões periféricas onde os  desafios de conectividade se cruzam com potencialidades formativas diversas. No caso do  ensino superior amazônico, a interzona entre práticas pedagógicas tradicionais e dinâmicas  ciberculturais constitui um terreno fértil para investigações sobre a formação universitária  contemporânea. 

O Campus VII da UEPA, localizado em Conceição do Araguaia-PA, oferece cursos  presenciais de Educação Física, Enfermagem, Pedagogia, Matemática, Ciências Sociais,  Química, Ciências Biológicas e Fisioterapia. Os planos curriculares são organizados por  centros, no Campus VII tem cursos do Centro de Ciencias Sociais e Educação (CCSE) (Currículo de licencaturas) e Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) cursos na  área da saúde. Todos seguem as diretrizes nacionais, com rigor técnico-prático e articulação  com a realidade regional. 

As tecnologias ciberculturais vêm se consolidando como elementos centrais na  transformação dos currículos universitários. As tecnologias ciberculturais, segundo Lévy  (1999), integram novos modos de conhecimento mediados por redes digitais e  interatividade em tempo real. Lemos (2002) entende a cibercultura como um ecossistema  simbólico de múltiplas conexões que desafia os modelos lineares de ensino. No campo do  currículo, Silva (2007) propõe abordagens que consideram o sujeito como produtor de  sentidos, articulando saberes escolares e não escolares. Jenkins (2009) acrescenta que as  culturas participativas ampliam as possibilidades de construção coletiva do conhecimento.  A pesquisa ainda se apoia em Morin (2001), no que se refere à complexidade dos processos  educativos, e em Deleuze e Guattari (1995), cuja proposta cartográfica inspira o percurso  metodológico adotado. 

No contexto brasileiro, Santaella (2003) e Kenski (2012) observam que a educação  superior se reconfigura quando incorporadas à cultura digital, exigindo novos papéis  docentes, espaços híbridos e circulação de saberes além da sala de aula tradicional. 

2. Ementas de disciplinas que integram práticas digitais 

a) Matemática (CCSE) 

“Informática Aplicada à Educação Matemática”: Promove uso de ambientes virtuais de  aprendizagem e softwares como GeoGebra para produção colaborativa de conteúdo,  contribuindo para aprendizagem híbrida e visualização gráfica em rede. Com matriz  modular, o curso utiliza softwares como GeoGebra, ambientes virtuais e comunidades  online para ensinar o pensamento matemático. Isso amplia interações em rede e conecta o  aprendizado à dinâmica da cibercultura.

b) Pedagogia (CCSE) 

“Fundamentos da Educação Digital” (PPP do curso): disciplina estruturada para uso de  blogs, portfólios digitais e fóruns de discussão online, ampliando práticas reflexivas e  promovendo integração entre estágio supervisionado e cultura digital. O currículo de  Pedagogia adota elementos da cultura digital por meio de TICs, blogs e portfólios  eletrônicos, intensificando práticas reflexivas e colaborativas que dialogam com a  formação docente crítica e as demandas curriculares contemporâneas. 

c) Química (CCSE) 

“Equilíbrio Químico e Simulação Virtual”: parte da carga horária EaD (até 20%) inclui  laboratórios remotos e quizzes interativos via plataforma Kahoot, promovendo  gamificação e aprendizado em rede. O curso de Licenciatura em Química apresenta  desafios estruturais — como falta de laboratórios e formação docente específica — conforme apontado por pesquisas sobre sua implantação no Campus VII . As tecnologias  digitais aparecem como potencial de superação: laboratórios virtuais, simulações e  comunidades docentes colaborativas podem fortalecer o currículo e a formação de  professores. 

d) Ciências Biológicas (CCSE) 

“Biodiversidade Amazônica com Mobile Learning”: utiliza aplicativos de identificação  botânica e plataformas de coleta de campo digital, integrando pesquisa e ensino com  participação comunitária. Voltado à formação de professores em Biologia, o currículo  incorpora atividades em campo e ferramentas digitais (como apps de botânica e  plataformas de ensino), fortalecendo metodologias participativas de pesquisa e ensino em  contextos amazônicos.

e) Enfermagem (CCBS) 

“Práticas Simuladas em Saúde Digital”: torna-se essencial o uso de simuladores clínicos  virtuais, fóruns interdisciplinares e EAD para trocas entre estudantes e profissionais de  saúde. Baseado em práticas clínicas, o curso incorpora simulações virtuais, e‑saúde e  fóruns colaborativos para conectar teoria e prática. Essas ferramentas favorecem  habilidades colaborativas e reflexivas essenciais para atuação na saúde em contexto  amazônico. 

f) Educação Física (CCBS) 

“Tecnologias Aplicadas ao Ensino de Esportes”: combina gravações de desempenho físico  com criação de portfólios multimídia reflexivos sobre modalidades corporais em rede  digital. O currículo do curso combina teoria do movimento humano e práticas de campo.  Tecnologias digitais como vídeo-aulas, aplicativos de monitoramento e redes colaborativas  ampliam as possibilidades de avaliação e autoaprendizagem, promovendo subjetividades  corporais conectadas ao ambiente digital. 

g) Ciências Sociais (CCSE) 

“Metodologia da Pesquisa Social Participativa”: inclui o uso de wikis, fóruns acadêmicos  e produção colaborativa de relatórios online, com foco em educação popular digital e  diálogo com comunidades amazônicas. Voltado à compreensão das dinâmicas sociais  regionais, o curso se abre às mídias digitais e práticas participativas online: fóruns, redes  colaborativas e projetos de educação popular digital. 

h) Fisioterapia (CCBS) 

Disciplinas como Fisioterapia Respiratória e Reabilitação Funcional incorporam práticas  de teleatendimento e exercício virtual, ainda em desenvolvimento, mas com potencial transformador. Embora não confirmado diretamente em Campus VII, o curso de  Fisioterapia, vinculado ao CCBS, tem potencial para integrar tecnologias ciberculturais por  meio de teleatendimento, simulações de reabilitação online e compartilhamento de práticas  profissionais em rede. 

3. Desafios e potenciais amplificações 

• Formação docente e infraestrutura: Em comum, todos os cursos enfrentam  limitações em capacitação tecnológica de professores e infraestrutura digital (conectividade, laboratórios, etc.), o que dificulta a efetiva integração das TDICs nos  cursos. 

• Integração curricular e interdisciplinaridade: A transversalidade das  tecnologias ciberculturais ainda é incipiente; há oportunidade para práticas  interdisciplinares que conectem, por exemplo, Matemática e Química via plataformas  digitais. 

• Inclusão digital regional: As desigualdades de acesso entre zonas rural e  urbana exigem ações que considerem acesso à internet, formação para uso pedagógico das  TICs e valorização dos saberes locais. 

4. Síntese e recomendações 

Os cursos do Campus VII da UEPA demonstram avanços na incorporação das  tecnologias ciberculturais — por meio de ambientes virtuais, aplicativos, gamificação e  produção digital dos estudantes — embora de forma ainda segmentada. Consolidar práticas  integradas exige: 

1. Investimento em formação docente contínua, em especial para uso  pedagógico das TDICs.

2. Estruturação intercurso de disciplinas ou projetos que articulem conteúdos  digitais e conhecimento amazônico. 

3. Fortalecimento da infraestrutura, inclusive via espaços de EaD e  laboratórios virtuais, segundo o reordenamento curricular previsto por portarias que  preveem até 20% de EaD. 

4. Projetos extensionistas colaborativos (como eventos híbridos de Estágio ou  PIBID), que conectem pesquisadores, professores e estudantes em espaços digitais e  presenciais, fortalecendo currículo e tecnologia em rede. 

Esse panorama aponta não apenas para o avanço significativo na integração das  tecnologias digitais nos currículos da UEPA, mas também para os desafios estruturais e  formativos que precisam ser enfrentados para consolidar uma educação superior híbrida,  crítica e contextualizada na Amazônia. 

5. Metodologia 

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de abordagem interpretativa e base  construtivista (Guba e Lincoln, 1994), que adota o estudo de caso (Yin, 2015) como  delineamento investigativo. O locus da pesquisa é o Campus VII da UEPA, localizado em  Conceição do Araguaia (PA), abrangendo o período de 2020 a 2025. A metodologia da  cartografia (Deleuze e Guattari, 1995) orienta a produção e análise dos dados, priorizando  a escuta sensível e a fluidez dos percursos formativos dos sujeitos. 

6. Resultados Esperados 

Espera-se identificar de que forma as tecnologias ciberculturais estão sendo  apropriadas no contexto do ensino superior amazônico e como elas influenciam a  construção curricular, os modos de subjetivação e as práticas pedagógicas. A análise deverá revelar tensões e potências na constituição de uma formação universitária crítica,  contextualizada e conectada à cultura digital, contribuindo para formulações teóricas e  práticas sobre o currículo em territórios periféricos. 

7. Considerações Finais 

Ao mapear as práticas e sentidos da formação universitária na interzona da  cibercultura, este estudo busca oferecer subsídios para a reinvenção curricular em  contextos amazônicos, valorizando saberes locais e dinâmicas digitais globais. O currículo  é aqui compreendido como cartografia em movimento, atravessado por redes, sujeitos e  tecnologias que transformam a universidade em um espaço múltiplo de formação. 

Os currículos dos cursos mencionados mostram que existe uma abertura formal às  tecnologias ciberculturais, mas seu uso ainda é fragmentado e desigual. Há potencial  significativo para consolidar ambientes de aprendizagem híbridos, fortalecendo a formação  em rede, conectando saberes locais com práticas digitais e promovendo uma educação  superior crítica, contextualizada e colaborativa na Amazônia. A integração mais efetiva de  tecnologias digitais exige investimentos em infraestrutura, formação docente contínua e  projetos interdisciplinares que ressignifiquem o ensino superior regional. 

A oferta de disciplinas com ementas conectadas às tecnologias ciberculturais  demonstra avanços nos cursos do Campus VII da UEPA. No entanto, sua integração ainda  é desigual e segmentada. A consolidação de uma educação superior híbrida, crítica e  contextualizada na Amazônia requer investimento institucional, formação contínua,  espaços online interdisciplinares e fortalecimento das redes digitais acadêmicas. A adição  de práticas digitais em eventos, extensão e pesquisa comunitária abre novas fronteiras de  currículo em rede, alinhando educação formal e cultura digital na formação universiária  regional. 

8. Referências

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo:  Editora 34, 1995. 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 

GUBA, E. G.; LINCOLN, Y. S. Competing paradigms in qualitative research. In: Denzin, N. K.; Lincoln, Y. S. (Eds.). Handbook of Qualitative Research. Thousand Oaks: Sage, 1994. 

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009. KENSKI, Vani. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas: Papirus, 2012. 

LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto  Alegre: Sulina, 2002. 

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. 

MORIN, Edgar. Ossete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001.  SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano. São Paulo: Paulus, 2003. 

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do  currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. 

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2015.


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