CURRÍCULO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA BOSQUE: UMA SOLUÇÃO EM MEIO A FUMAÇA DA DEVASTAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202409170330


Raisinery Macêdo da Silva¹


Resumo

Assim como na educação ambiental, o estudo do currículo revela-se território vasto de possibilidades educacionais, de poder e também de ameaça. Ambos os temas, importantes à reflexão sobre a questão ambiental no patamar educacional, parece não ter muita visibilidade quanto seu alcance pedagógico, dado o fato do currículo escolar restringir a discussão Meio Ambiente apenas em junho quando se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente. O processo educacional, atrelado historicamente em uma educação tradicionalista e conteudista, limita toda e qualquer possibilidade de ensino transversalizante, multidisciplinar e cultural, habitado por pessoas de diferentes classes sociais, de diferentes culturas, idades, gênero, etnias, crenças e valores, diante desse desafio convém perguntar: como a Escola Bosque vem discutindo educação ambiental em seu currículo e como esse processo educacional se reflete na vida escolar de seus alunos? Ao eleger como corpus do estudo a Ilha de Caratateua, a Escola Bosque como lócus da pesquisa e seu currículo como objeto de estudo, essa escrita busca analisar o impacto de uma educação sustentável na vida escolar de seus alunos e da comunidade, ao descrever as possíveis práticas da educação ambiental desenvolvida pelos docentes do Centro de Referência em Educação Ambiental Professor Eidorfe Moreira, para tanto serão utilizados os métodos de pesquisa bibliográfico, de campo e documental, de forma que seja possível identificar abordagens diferenciadas e relevantes para esse estudo às vésperas da COP30.

Palavras-chave: Escola Bosque. Currículo. Educação Ambiental. Devastação. COP30.

Abstract

Just as in environmental education, the study of the curriculum reveals a vast territory of educational possibilities, power and also threat. Both themes, important for reflection on environmental issues at an educational level, do not seem to have much visibility in terms of their pedagogical reach, given the fact that the school curriculum restricts the discussion of the Environment only in June when World Environment Day is celebrated. The educational process, historically linked to a traditionalist and content-based education, limits any and all possibilities of transversal, multidisciplinary and cultural teaching, inhabited by people from different social classes, different cultures, ages, gender, ethnicities, beliefs and values, given this challenge, it is worth asking: how has Escola Bosque been discussing environmental education in its curriculum and how is this educational process reflected in the school life of its students? By choosing Caratateua Island as the corpus of the study, Escola Bosque as the locus of research and its curriculum as the object of study, this writing seeks to analyze the impact of sustainable education on the school life of its students and the community, by describing the possible practices of environmental education developed by teachers at the Reference Center for Environmental Education Professor Eidorfe Moreira, for this purpose bibliographic, field and documentary research methods will be used, so that it is possible to identify different and relevant approaches for this study on the eve of COP30.

Keywords: Bosque School. Curriculum. Environmental education. Devastation. COP30.

Educação e Meio Ambiente: uma introdução necessária

Assim como na educação ambiental, o estudo do currículo revela-se território vasto de possibilidades educacionais, de poder e também de ameaça. Ambos os temas, importantes à reflexão sobre a questão ambiental no patamar educacional, parece não ter muita visibilidade quanto seu alcance pedagógico, dado o fato do currículo escolar restringir a discussão Meio Ambiente apenas em junho quando se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente, o que precisa ser mudado, já que “o currículo é um artefato movediço. Ele circula, percorre, move-se, atravessa vários espaços; desloca-se, desdobra-se” (Paraíso, 2010, p. 11) e também porque o tema desse estudo, “currículo e educação ambiental na Escola Bosque: uma solução em meio a fumaça da devastação”, nos convida a sair de nossa zona de conforto, visto que o processo educacional, atrelado historicamente em uma educação tradicionalista e conteudista, limita toda e qualquer possibilidade de ensino transversalizante, multidisciplinar e cultural, para essa evolução pedagógica torna-se necessário perceber que, “um currículo é um espaço habitável e habitado por pessoas de diferentes classes sociais, de diferentes culturas, idades, gênero, etnias, crenças e valores, onde se oferece a possibilidade da palavra e de aprender trocando formas de pensamento muito distintas” (Ibidem, p. 12).

Em se tratando de educação ambiental, essa discussão, importante ao processo de seleção de conteúdos e práticas escolares, é central, no amadurecimento da concepção de ideias sustentáveis que se naturaliza, formaliza e ganha espaço no currículo, oportunizando importantes reflexões ao estudo da educação ambiental, diante desse desafio convém perguntar: como a Escola Bosque vem discutindo educação ambiental em seu currículo e como esse processo educacional se reflete na comunidade da Ilha de Caratateua? O “quê” e “como” trabalhar Educação Ambiental na escola Bosque? Qual o impacto de uma educação sustentável na vida escolar dos alunos da Escola Bosque?

Na busca para esta indagação traçou-se como objetivo geral: “Analisar como a Escola Bosque vem discutindo educação ambiental em seu currículo e como esse processo educacional se reflete na comunidade da Ilha de Caratateua” e, objetivos específicos: Fundamentar como a Educação Ambiental é abordada no currículo da escola Bosque; Analisar o impacto de uma educação sustentável na vida escolar de seus alunos” e, descrever as possíveis práticas da educação ambiental desenvolvida pelos docentes, de forma tal que seja possível identificar controvérsias entre os diferentes referenciais teóricos encontrados, identificando abordagens diferenciadas e relevantes para o estudo ao fundamentar a referida produção científica.

As respostas irão explicar o nível de comprometimento que se está estabelecendo com as reflexões sobre as questões ambientais. É necessário unificar as atividades em educação ambiental ao currículo escolar, de forma que, o alcance pedagógico traga a questão ambiental para a pauta de discussão e se fortaleça o compromisso de colocar tais questões dentro de uma plataforma política definida, que esteja atrelada às discussões de poder na sociedade trazidas para o universo escolar, para que, de fato, se discuta/enfrentasse as questões ambientais conhecendo-a como algo existente ou quando nos for oportuno discuti-la, uma tensão entre sociedade e meio ambiente às vésperas de um grande evento mundial como será a COP-30 em Belém do Pará, o que apresenta o currículo como instrumento de luta, resistência e preservação da vida e do Meio Ambiente.

Proximidades metodológicas do campo de estudo

A pesquisa científica é um leque de possibilidades e informações, sua utilização possibilita enveredar o entendimento dos objetos estudados para uma contextualização. Nessa intenção, a utilização de uma metodologia adequada torna- se extremamente importante, já que dará o norte do empenho epistemológico, para esse estudo foram escolhidas as pesquisas bibliográfica, de campo e documental por permitirem um contato maior do pesquisador com temas relacionados ao objeto foco do estudo, uma vez que a análise dessas fontes favorece a observação da investigação, agregando, em seu percurso metodológico indivíduos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, práticas, entre outros (Cellard, 2008, p. 295).

[…] o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa para todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas épocas. Além disso, muito frequentemente, ele permanece como o único testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente.

Essas metodologias se justificam pelos inúmeros estudos desenvolvidos, trata-se de um rigor acadêmico da investigação científica que requer tempo, dedicação e atenção por parte de quem resolve empreendê-las. Esse artigo tem a intenção de buscar no conhecimento adquirido através dessas fontes o caminho percorrido até a informação desejada. Para Boccato (2006, p. 266),

a pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica. Para tanto é de suma importância que o pesquisador realize um planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de comunicação e divulgação.

A pesquisa bibliográfica é uma etapa fundamental para elaboração ou desenvolvimento de um estudo, artigo, tese ou dissertação. Para Lima e Mioto (2007), essa etapa não pode ser aleatória, por esse motivo ela implica em um conjunto ordenado de procedimentos de busca por soluções atentas à finalidade desse estudo. Segundo esses autores quando um estudo é bem desenvolvido pode gerar, especialmente em temas pouco explorados, a postulação de hipóteses ou interpretações que servirão de ponto de partida para outras pesquisas.

Para Gil (1999, p. 43), a principal vantagem de um estudo reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de inúmeros fenômenos pouco explorados, “tornando-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis”. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço. Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fenômenos passados se não com base em dados bibliográficos, convém, porém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, estudando-as e examinando-as cuidadosamente.

O método bibliográfico é sem dúvida uma técnica privilegiada de investigação dos saberes e das práticas da vida escolar dos alunos da Escola Bosque, pois permite reconhecer na pesquisa, construções e representações coletivas da vida escolar, trata-se de um processo que consiste no permanente engajamento do pesquisador em uma experiência de percepção de contrastes sociais, culturais, históricos, educacionais, curriculares e ambientais.

Já a Pesquisa de Campo, traz em si a necessidade do diálogo com a realidade a qual se pretende investigar e com o diferente, um diálogo dotado de crítica, canalizador de momentos criativos. Nisso consiste essa metodologia de pesquisa, visto que, os fenômenos que constitui o cotidiano, são impregnados de complexidades outras que dinamizam a vida social, fazendo dela uma rede de experiência dialética que desafia qualquer escrita, por mais criteriosa que possa se apresentar.

Por ser tratar de cotidianos, a pesquisa jamais deverá ser isolada, mas instigada e carregada de processos de investigação, visando tornar conhecido o desconhecido, ao enfrentar os limites encontrados pelo rigor acadêmico, no percurso traçado pelo pesquisador na natureza, na sociedade, no currículo e vida docente, o que confere à escrita aspectos teóricos e práticos da vida social e natural que certamente auxiliará na caracterização do problema, do objeto, dos pressupostos, das teorias e do percurso metodológico desse estudo.

Essa intencionalidade exige uma participação direta do pesquisador na condução do processo metodológico escolhido, para que as experiências do campo revelem aspectos importantes de uma aprendizagem sustentável à luz epistemológica do conhecimento científico, bem como atores sociais outros, sujeitos participantes de um plano conceitual de investigação do conhecimento.

Já a pesquisa documental visa extrair do documento sentidos, significados, soluções de problemas, resoluções de objetivos, de modo geral, conhecimentos alinhados à execução, resolução e desenvolvimento de uma pesquisa. Com o tempo a história se apropriou do termo que passou a servir como “testemunho histórico” (Le Goff, 1996, p. 536), o que permite a construção e reconstrução de conceitos de forma diversificada, contextualizada e contemporânea, permitindo a construção de teses melhorando a aprendizagem, possibilitando a construção de uma ação pedagógica crítica diante dos fenômenos que se apresentam com a pesquisa.

Os achados, proporcionado pela pesquisa documental, funcionam como fontes repletas de indícios e informações, possibilitando o entendimento acerca das diversas dimensões e aspectos da vida em sociedade, uma vez que “o documento é a matéria-prima” do pesquisador (Amâncio et al., 2010, p. 35), por isso a verificação da autenticidade de um documento é extremamente importante. Nesse sentido, o pesquisador deve questioná-lo e estabelecer as relações epistemológicas que esse achado proporciona. Para Silva et al., (2009, p. 4556), os documentos achados mostram “o jogo de força dos que detêm o poder. Não são, portanto, produções isentas, ingênuas; traduzem leituras e modos de interpretação do vivido por um determinado grupo de pessoas em um dado tempo e espaço”.

Para Amâncio et al. (2010, p. 41), o pesquisador deve, pautado nos achados, sempre analisar, selecionar e elaborar hipóteses, para só então, realizar comparações e decidir se a fonte merece credito ou não quanto à pesquisa proposta. A pesquisa documental é uma importante ferramenta de investigação científica uma vez que busca compreender um fenômeno em seu ambiente natural.

Para Bravo (1991), as experiências humanas materializam-se nos documentos e é através destes que determinadas sociedades – complexas em suas essências e aspectos sociais, podem ser explicadas, evidenciando suas maneiras de viver, formas de agir, ideias e modos de pensar, o que permite uma ressignificação do que é apresentado ao pesquisador, independente do tipo de fonte, os arquivos digitais podem e, devem, receber um tratamento cientifico analítico, são arquivos digitais que podem ser classificados como documentos prontos para análise.

A pesquisa documental, auxilia no entendimento histórico, cultural e científico de uma comunidade e/ou de um fenômeno (social ou natural), esclarecendo ou levantando mais dúvidas sobre fatos do passado. Para Godoy (1995, p. 21) “a pesquisa documental representa uma forma que pode se revestir de um caráter inovador, trazendo contribuições importantes no estudo de alguns temas”. Já para Silva et al. (2009, p. 4558) ratifica que deve haver, em meio à execução deste tipo de estudo, uma interação direta entre o pesquisador, a delimitação de seu estudo e a pesquisa documental assumindo, deste modo, que a pesquisa documental possa “ser utilizada tanto nas abordagens de natureza positivista como também naquelas de caráter compreensivo, com enfoque mais crítico”.

A Ilha de Caratateua

A Ilha de Caratateua, segundo dados da Prefeitura Municipal de Belém – CODEM – CINBESA – Programa de Geoprocessamento, possui uma área total de 31.449,07 Km², sendo 11.934,29 Km² de área urbana e 19.514,77 Km² de área rural, com acesso pela Rodovia Augusto Montenegro. É separada da sede do Distrito de Icoaraci a sudoeste, e da ilha de Mutum, a sudeste pelo Furo do Rio Maguari, da Baía de Santo Antônio, e da ilha de Mosqueiro, a noroeste do Município. A ilha de Caratateua, também denominada de Outeiro, teve seu início na história, quando várias de suas áreas serviram de cemitérios para os índios em período anterior a fundação de Belém, especialmente no Bairro que hoje se chama Itaiteua, atualmente apresenta um cenário social desafiador, o que justifica a necessidade de uma organização político-social por parte da comunidade.

A colonização de Caratateua teve prosseguimento no ano de 1893, no momento da criação da colônia de Outeiro. Uma segunda hospedaria foi implantada na antiga colônia agrícola, que funcionava nas dependências do atual Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP), hoje 26o BPM. Em 14 de abril de 1893, 14 famílias italianas iniciaram em definitivo a colonização da ilha, que até meados de 1990, foi subordinada ao Distrito Administrativo de Icoaraci². Após a construção da ponte Enéas Pinheiro sobre o Rio Maguari, houve um significativo aumento do número de visitantes. Com isso, a ilha sofreu um processo de ocupação intensa, chegando a registrar taxa de crescimento de 13,15%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), censo de 1993.

A economia da Ilha de Caratateua está representada pelo comércio varejista de mercadinhos, armarinhos, farmácias, estâncias, três pequenas feiras livres e por atividades de prestação de serviço como hotéis, pousadas, restaurantes, bares, casas noturnas com mão-de-obra informal em sua grande maioria. Nota-se, ainda que a produção artesanal de cerâmica e de biojóias é cada vez menos evidente em relação ao que se fazia no passado. Ainda, é possível visualizar a agricultura familiar como atividade econômica, principalmente quanto ao cultivo de mandioca para a produção de farinha, assim como subatividade da carvoaria em menor número entre outras.

A configuração do espaço da Ilha de Caratateua deve ser vista, a partir do conceito de um Bairro localizado em uma região periférica do Município de Belém, trata-se de uma construção social, sob uma localização e uma configuração de permanências relativas internamente heterogêneas, dialéticas e dinâmicas contidas na dinâmica geral de espaço-tempo de processos sócios ecológicos. Essa cartografia social se faz por uma dinâmica controvérsia com e pelos sujeitos desse lugar, nos espaços da feira, escolas, associações, casas de diversão, comércio em geral, igrejas e rotinas das ruas e Bairros de Outeiro.

No cotidiano da Ilha destacam-se as expressões culturais representadas pelo espaço das festas de aparelhagem, festas religiosas como Iemanjá, pelo Círio de Nossa Senhora da Conceição, o carnaval, boi-bumbá e pássaros juninos com biblioteca tralhoto do Mestre Apollo de Caratateua, que resistem ao tempo e representam um grande patrimônio cultural para a comunidade.

No entanto, apesar das belezas praianas, Caratateua, como qualquer outro lugar periférico da região metropolitana de Belém, apresenta diversos problemas sociais causados pela desigualdade social extrema, explosão demográfica, violações de direitos de crianças e adolescentes (abuso sexual, gravidez na adolescência, uso e tráfico de entorpecentes, drogas lícitas), falta de implementação de políticas públicas que atendam às necessidades primordiais da população local, saneamento básico, assistência à saúde, transporte, oferta de vagas nas escolas e, sobretudo, segurança são as principais queixas dos moradores.

Os índices de violência em Outeiro são alarmantes, em especial entre os jovens, problema que chega até às escolas de diferentes maneiras. Na Ilha, outro problema identificado está relacionado aos graves impactos ambientais provocados em especial pelas atividades turísticas tais como o acúmulo de resíduos sólidos, poluição sonora, o aumento de dejetos nos rios e praias, e a degradação ambiental com o desmatamento da floresta primária.

O Centro de Referência em Educação Ambiental Professor Eidorfe Moreira – Escola Bosque

A cidade de Belém, localizada na região Amazônica, tem um grande número de Ilhas que abraçam a cidade e a constitui enquanto cidade com imbricado cotidiano ribeirinho. Os moradores das Ilhas, estabelecem suas relações e suas sociabilidades balizadas pelo entremeio rio e floresta. No que diz respeito ao ensino, crianças, jovens e adultos, são atendidos na oferta de educação básica, educação profissional e educação de jovens e adultos, tanto pela Secretaria de Estado de Educação – SEDUC/PA, como pela Rede Municipal de Ensino, por meio da Secretaria Municipal de Educação e Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira (Funbosque).

O Centro de Referência em Educação Ambiental, foi instituído pela Lei municipal nº. 7.747, de 02.01.1995, reordenado pelas Leis nº. 2 de 20.11.1995 e nº. 3 de 28.12.1995, regulamentado pelo decreto municipal nº. 28837/96 de 13.06.1996, com sede no Município de Belém, localizada na Av. Nossa Senhora da Conceição, s/n, Distrito de Outeiro. É uma Fundação de direito público, identificada como Funbosque, sem fins lucrativos, com prazo de duração indeterminado, regida por seu Estatuto, gozando de autonomia administrativa, financeira, patrimonial e de pessoal, vinculada ao gabinete do prefeito. A Escola Bosque apresenta como principal desafio promover a formação de sujeitos críticos, ecológicos e poéticos, que vivenciem em seu processo educativo o tripé ensino-pesquisa-extensão, articulando escolarização, meio ambiente e comunidade.

No processo de reestruturação da Proposta Político Pedagógica da Escola Bosque foi apontado, de forma coletiva nos Grupos de Trabalho do I Fórum de discussão do Projeto Político Pedagógico, os marcos referenciais em Educação Ambiental que nortearam a prática educativa. Nas reflexões dos grupos de estudo apontou-se algumas palavras-chave, como: intervenção pedagógica; meio ambiente; proteção ambiental; projetos; cotidiano; concepção de sujeito; identidade e cultura, que evidenciaram a necessidade de efetivação de estudos coletivos que viabilizassem a construção da proposta educacional institucional de forma significativa para os seus atores, fazendo a ruptura com a redução do PPP a um documento meramente formal, de modo a se materializar em práticas educacionais coletivas e coerentes com as demandas educacionais locais, sobretudo as ambientais. Segundo Morin (2003, p. 40), “a Terra é a totalidade complexa físico-biológica antropológica, onde a vida é uma emergência da história da Terra, e o homem, uma emergência da história da vida terrestre”.

Habitar de forma sustentável os espaços de poder é transformar o currículo, que deixa de ser um mero instrumento técnico-científico para se tornar um processo ambiental de ensino-aprendizado, onde “a natureza torna-se um único reservatório gigante, uma fonte de energia para a técnica e a indústria modernas” (Heidegger, 1980, p. 141). O exercício da Educação Ambiental no contexto escolar parte do desafio ético-político de desenvolvimento coletivo e sustentável, de reflexões e práticas que têm como ponto de partida seus atores sociais e suas inter-relações socioambientais, que atuam sobre as formas de vida, organizações sociais, cultura e aprendizagem.

A Educação Ambiental tem no espaço escolar um território de expressão de elementos significativos que fazem parte dos processos de desenvolvimento humano. Elementos cognitivos, subjetivos, biológicos e culturais que se intercruzam na formação de vivencias e memórias de cada ator da educação. A educação ambiental no território escolar, portanto, tem como ponto de partida os sujeitos e suas relações com o meio, com a história e com a percepção de vida planetária sob a qual o exercício ético reflexivo sobre o contexto local e suas contradições atua diretamente nas formas de aprender a ser no mundo.

Segundo Reigota (1998, p. 43), “a educação ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical de educação”. Assim, a prática da Educação Ambiental no currículo da Escola Bosque tem como premissa a ruptura com as formas tradicionais de ensino que são vinculadas a uma visão dos atores da educação de modo individualista, unilateral, mecanizado e homogêneo, apartados de sua relação intrínseca com a natureza e formas de interação sociocultural. Nessa direção a Escola Bosque desenvolve vários projetos que visam a promoção da qualidade de vida e manutenção de seu currículo sustentável, entre eles:

  • Compostagem de resíduos orgânicos da Merenda Escolar;
  • Projeto Horta do Conhecimento;
  • Agentes e Monitores Ambientais – AMA;
  • Casarão da Cultura Amarildo Matos;
  • Ecomuseu da Amazônia;
  • Projeto Reciclagem: Caminhos para Sustentabilidade;
  • Ensino Médio – Técnico em Meio Ambiente – Curso Integrado;
  • Escola Casa da Pesca.

Atualmente, o grande desafio da escola na sociedade é adequar-se aos princípios do novo paradigma de complexidade, que responda precisamente às demandas da sociedade global, propiciando assim, respostas adequadas aos problemas do planeta, entre eles, o da crise ambiental. Para essa realidade a educação sistematizada, através da instituição escolar, é chamada a contribuir na formação de indivíduos que possam intervir nessa realidade. Nesse sentido, se faz necessário o diálogo com as diversas áreas do conhecimento e a relação teoria e prática no processo de ensino-aprendizado. Segundo Edgar Morin (2003) “a educação planetária deve caminhar em direção às associações, não só analisando a realidade, mas estabelecendo relações entre os conhecimentos construídos”.

Tal proposta materializa a educação ambiental como mecanismo de inclusão de uma nova ética reguladora das relações entre o ser humano e o seu meio ambiente, e a consideração deste como um bem a preservar. Este novo paradigma de educação vinculada às questões ecológicas, está respaldada em diversos documentos legais, a CF-88, inciso VI do § 1º do artigo 225, a Lei 9.394/96, a BNCC (Brasil, 2017) e a Lei nº 6.938/81 que define a Política Nacional de Meio Ambiente todas proclamam sobre o dever da educação básica promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino.

Currículo e sua expressão cultural, histórica, educacional e ambiental

O modo como pensamos o currículo, as relações que estabelecemos com os conhecimentos que consideramos importantes e necessários a serem ensinados na escola não estão desvinculados do tempo histórico em que estamos vivendo. Os momentos históricos comportam modos específicos pelos quais os homens estabelecem relações com o saber, isso significa dizer que aquilo que chamamos conhecimento e o modo como organizamos no que nomeamos de currículo passou e tem passado por várias transformações, porém, são reflexões que colocam em xeque muitas das verdades em nós cristalizadas, que por assim estarem vinculada a nós, se constituí um real desafio questioná-las.

Os estudos do currículo, que se iniciaram nos Estados Unidos no início do século XX, quando devido a um processo de [re]ordenamento da sociedade americana, estudiosos questionavam o trabalho educacional voltado para uma formação demasiadamente teórica e humanista, longe da realidade social que vivenciavam e de difícil interação com as demandas sociais existentes. Na época, surgem duas abordagens educacionais do pensamento curricular, a primeira com o educador Bobbitt que influenciado pelas teorias de Frederick Taylor, em 1911, sobre o trabalho e a disciplina do trabalhador (taylorismo), associava a escola ao trabalho da fábrica e a via como um importante instrumento de formação de indivíduos preocupados com a eficiência e a organização do trabalho no sentido de potencializar sua produção, visando sempre a produtividade.

No Brasil, essa linha educacional é conhecida como teoria educacional tecnicista, fortemente implementada nas nossas escolas na década de 60, durante o governo militar. A segunda abordagem americana surge com o filósofo John Dewey que, com uma visão mais progressista, discutia a relação da formação dos indivíduos na escola visando a construção da democracia na sociedade. Nesta, a perspectiva centrava-se na pessoa e no seu bem-estar no mundo, visando potencializar os indivíduos e suas necessidades, respeitando suas potencialidades científicas, bem como seus ritmos de aprendizagem, visão de mundo, opções na vida, visando a democracia.

Ambas abordagens surgiram como uma resistência ao currículo clássico até então trabalhado nas escolas americanas, que traziam o referencial da classe dominante, com a sedução dos estudos literários e do latim e representavam a busca por um conhecimento demasiadamente abstrato, teórico e que parecia ser de pouca serventia para a sociedade de classes americana. Entre as duas, a abordagem tecnicista foi a vertente mais fortemente divulgada e adotada como proposta curricular “padrão” pelos pedagogos, estudiosos educacionais e escolas brasileiras, pois parecia estar mais voltada para “a realidade do aluno”.

Embora buscando a transformação da educação, ambas abordagens, a tecnicista e a progressista, não chegaram a questionar a transformação pela qual a sociedade brasileira passava, questionaram a escola e a formação do indivíduo, ficando longe de preparar os educandos para o enfrentamento das relações de poder na sociedade capitalista da qual faziam parte. Foi quando, a partir da década de 70, sob a influência das teorias educacionais, começou-se a repensar o currículo dentro desse cenário de construção social da educação e sua relação social e ambiental. As teorias educacionais críticas trouxeram para o centro da discussão a função social da escola e, sob diferentes prismas, começam a tecer um novo olhar sobre a educação e sua relação com a sociedade, o que chamo aqui educação democrática, já que, “o currículo é um dispositivo de saber- poder-verdade de linguagem” (Corazza, 2001, p. 10).

Currículo é território político, ético e estético incontrolável que, se usado para regular e ordenar, pode também ser território de escapes de todos os tipos, no qual se definem e constroem percursos inusitados, caminhos mais leves, trajetos grávidos de esperança a serem percorridos (Paraíso; Caldeira, 2018, p. 13).

Desde então, houve, pelo mundo, uma explosão curricular da função social da escola, na França, o filósofo Althusser (1983) denunciava a escola como um dos aparelhos ideológicos do Estado, Bourdieu e Passeron (1975) apontavam os perigos da educação escolar como um fator de subordinação das classes menos favorecidas; na Inglaterra, Bernstein (1975) ilustrava os códigos de dominação sócio cultural trabalhados na escola e Michael Young (1971) evidenciava a relação entre o conhecimento escolar e o controle social; no Brasil, Paulo Freire (1970) surgia com a educação bancária; nos EUA, Samuel Bowles e Herbert Gintis (1976) desvelavam a escola como propagadora dos ideais capitalistas, Michael Apple (1979) surgia com a discussão de ideologia e currículo e Henry Giroux (1987) relacionou a política cultural e a pedagogia.

Desde então, o currículo vem sendo visto como um instrumento de competência pedagógica, técnica e politicamente neutralizada, que “apenas” organiza o conhecimento elaborado na escola, assim a escola passa a ser o lugar onde se aprende a viver socialmente e onde naturalmente se adquire o status de formação para a vida em sociedade e se vislumbra as bandeiras de lutas, entre elas o Meio Ambiente, que “informa, ensina, forma, produz, avalia, sugere, prescreve, categoriza” (Paraíso, 2010, p. 11).

Pode-se afirmar com isso que as discussões sobre o currículo incorporam, com maior ou menor ênfase, reflexões sobre os conhecimentos escolares, os procedimentos e as relações sociais que configuram/reconfiguram o cenário em que o saber se ensina e se apreende, as transformações que se deseja efetuar nos indivíduos, os valores que busca assimilar e as diferenças de gênero que se pretende construir, evidenciar ou afirmar, uma vez que os conflitos filosóficos em torno do conhecimento, da verdade, do poder e da identidade marcam, invariavelmente, as diretrizes curriculares, sobretudo no que diz respeito à educação. (Galúcio, 2019, p. 86).

Pensar essa relação entre teoria e prática quando se trata da discussão sobre currículo se faz extremamente necessária, pois nos conduz a refletir sobre questionamentos muito comuns e urgentes. Atualmente tem-se evidenciado a crise do conhecimento baseado na razão, campo propício para o negacionismo e terraplanimo, que contraria uma sociedade baseada na ciência. Boaventura (2004) faz menção ao enfraquecimento da confiança epistemológica pela qual a ciência moderna está passando. Considera que suas bases científicas não têm correspondido aos anseios dos cientistas e o conhecimento por eles produzido já não se molda aos princípios da racionalidade.

É nesse cenário pós-crítico que se dá a construção do currículo da Funbosque, pois é onde a cultura e o conhecimento, acionados por um conjunto de subjetividades produz conhecimentos outros, uma estrutura educacional que olha a sustentabilidade como alternativa de ensino e qualidade de vida tanto de seus alunos como de toda a comunidade da Ilha de Caratateua, uma cultura permeada pelos processos de reprodução e produção, de seleção e interpretação, de tradição e de transformação, um currículo que, dada a sua intrínseca relação com a cultura e o meio ambiente, também cria e recria, elege e dissemina, conserva e altera realidades, “cujo interior não há apenas continuidades e determinações constantes, mas também tensões, conflitos, resoluções e irresoluções, inovações e mudanças reais” (Williams, 1992, p. 29).

Um currículo sustentável que problematiza as formas de transmissão, apropriação e legitimação dos saberes escolares, questionando as disciplinas e metodologias que expressam visões particulares, significados próprios a uma determinada cultura, na disputa pela manutenção do poder. A educação que concebe o currículo ambiental como expressão do social, onde interesses diversos se contrapõem e onde a diferença existe por si própria, não aceitará um currículo fechado em suas disciplinas e metodologias, paradas no tempo, mas aceitará as diferenças em nome de uma educação humanizada e sustentável, capaz de preserva, na ancestralidade científica, heranças e tradições de gerações, “os professores podem ter hierarquias de prioridades divergentes, mas todos os professores e todas as escolas fazem seleções de um tipo ou de outro no interior da cultura” (Lawton, 1975 apud Forquim, 1993, p. 25). A organização curricular da Escola Bosque permite que professores e alunos identifiquem, negociem e participem da construção social de uma educação sustentável e dissipem a fumaça da devastação.

A educação ambiental e a COP30: iniciativas que dissipam a fumaça da devastação (!?)

Em pleno século XXI, já percebemos, no cotidiano, a urgente necessidade de transformações e propostas acadêmicas que resgatem o respeito pela vida, com justiça ambiental, equidade, diversidade, sustentabilidade e… beleza. Este é o desafio da Educação Ambiental, ao ressignificar o cuidado com a diversidade da vida como valor ético e político, fugindo da equação simplista ambiente = natureza. A humanidade sempre conviveu com o Planeta para crescer, se desenvolver e construir uma história nas suas relações com a natureza e com os outros seres vivos. Se considerarmos apenas o lado positivo dessa convivência, a proposta seria responder às necessidades básicas de todos os cidadãos em termos de água, alimentos, abrigo, saúde e energia.

No entanto, principalmente no século passado e no último governo deposto pelo povo e marcado pela exploração desenfreada dos recursos naturais e extermínio, pela fome, centenas de povos originários, como os Yanomamis, soma-se a isso a percepção de inúmeras contradições causadas pelo esgotamento sem precedentes dos recursos naturais por modos de vida destruidores e, como diria Leonardo Boff, por nossa falta de cuidado para com a vida, para com o respeito à vida.

Na carta de introdução às responsabilidades chamada “Vamos Cuidar do Brasil”, elaborada pelas delegadas e delegados da II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, com base nos sonhos e desejos de milhares de escolas e de milhões de estudantes, professores e pessoas das comunidades, foi entregue em 2007, pelos adolescentes ao presidente da República, ao ministro da Educação e à ministra do Meio Ambiente, o documento simboliza o compromisso das escolas de incentivar a sociedade a refletir sobre as questões socioambientais urgentes e a participar de ações que contribuam para melhoria da qualidade de vida de todos, abaixo segue um trecho do documento (Brasil, 2007, p. 7).

Somos jovens do Brasil inteiro envolvidos no processo da II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. Buscamos construir uma sociedade justa, feliz e sustentável. Assumimos responsabilidades e ações cheias de sonhos e necessidades […]. Este é um meio de expressar nossas vontades e nosso carinho pela vida e sua diversidade. Compreendemos que sem essa diversidade o mundo não teria cor. Encontramos caminhos para trabalhar temas globais, complexos e urgentes: mudanças climáticas, biodiversidade, segurança alimentar e nutricional e diversidade étnico-racial. Queremos sensibilizar e mobilizar as pessoas para juntos, encararmos os grandes desafios socioambientais que a nossa geração enfrenta. Para cuidarmos do Brasil precisamos de sua colaboração. Estamos fortalecendo as ações estudantis e nos unindo às Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola (COM-VIDAS), nos Coletivos Jovens de Meio Ambiente e em tantos outros grupos. Compartilhamos a responsabilidade com os governos, empresas, meios de comunicação, ONGs, movimentos sociais e culturais, além de nossas comunidades.

Vivemos em um momento bastante propício para a educação ambiental atuar na transformação de valores nocivos que contribuem para o uso degradante dos bens comuns da humanidade, a COP30 vem no segundo semestre de 2025, em Belém do Pará, Região Norte do Brasil, em plena Amazônia, justamente debater essas questões. Os processos educacionais, projetos, iniciativas de promoção da sustentabilidade devem ter seu reflexo em educação permanente, continuada, para todos e todas, ao longo da vida. Para essa missão, a escola torna-se um espaço privilegiado, onde professores e professoras, educadores ambientais e populares podem, em suas performances educacionais, propiciar a reflexão teórica ampliando o debate político sem, contudo, perder a dimensão das práticas cotidianas, visando a construção de sociedades sustentáveis e promoção da cultura de paz.

A Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, estabelecida em 1992, durante a Cúpula da Terra, mais conhecida como Rio +20, surgiu em resposta às crescentes preocupações globais em relação à proteção ambiental e à sustentabilidade da vida humana no planeta. Seu principal objetivo é enfrentar o desafio do aquecimento global e das mudanças climáticas que resultam dele, cuja consequências já são visíveis no Brasil. No momento atual, o impacto negativo produzido pelas mudanças climáticas apresenta-se como uma das maiores preocupações da humanidade, uma vez que seus efeitos alcançam todo o planeta, com diversos desdobramentos (Guerra, 2021, p. 538).

Ao longo dos anos, a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima se tornou um dos acordos mais amplamente reconhecidos e influentes no âmbito internacional, ganhando destaque significativo no contexto global. Diante disso, surgem as COP’s (Conferência das Partes), com o objetivo de definir e debater metas globais de ações práticas direcionadas ao aquecimento global, no qual envolve diversos países. Atualmente, são aproximadamente 200 países que ratificaram a Convenção, dentre os quais o Brasil, que a assinou em 4 de junho de 1992 e a ratificou em 28 de fevereiro de 1994 (Alves, 2020).

Além disso, foi anunciado pela organização que o Brasil será a sede do evento COP30, no ano de 2025, em uma capital amazônica, Belém do Pará, que se tornou, nos últimos meses, um canteiro de obras imenso, um frenesi toma conta do comércio e rede hoteleira e demais seguimentos da gestão estadual e municipal. Atualmente o governo do Estado do Pará (@governopara) e a @bookingcom_br³, assinaram um Memorando de Entendimentos para ampliar as ofertas de hospedagem, e mais, o Estado do Pará comercializou em Nova Yorque, em 25/09/2024, 1 bilhão de reais em credito de carbono4, fazendo do Brasil o primeiro país a conseguir financiamento da Coalizão LEAF (parceria público-privada) para apoiar as metas de redução do desmatamento. Mais uma vez o Brasil mostrando sua força sustentável para o mundo.

Apesar da visibilidade mundial da Amazônia, a região enfrenta diversos desafios, como a falta de saneamento básico, falta de recursos, seca extremas em vários estados que formam a Amazônia legal5, como acontece com os ribeirinhos da comunidade Paraizinho, que atravessam toda a areia do rio Madeira seco até Humaitá. Um sacrifício excruciante para garantir água pra beber, cozinhar, viver. Contradições amazônicas na maior bacia de água doce do mundo. Comunidades que lutam pra manter a floresta em pé são [in]justamente as que mais sofrem. Soma-se a isso o calor extremo, falta de energia em algumas regiões.

Além disso, a região amazônica apresenta características e condições específicas como ser longe dos grandes centros econômicos, apesar de ser uma região de grande dimensão e de pouca densidade demográfica, possui uma infraestrutura limitada, precária e insuficiente, mas é rica em biodiversidade. Desde sua colonização pelos portugueses, a região sempre foi vista como somente um elemento estratégico para escoamento de produção e um potencial “pasto”, para monoculturas e pecuária, realidade que vem mudando nos últimos tempos. Muitos são os olhares atenciosos e ambiciosos para a região, a qual é tida como peça fundamental na manutenção do bem-estar climático mundial (Grisotti; Moran, 2020).

Segundo pesquisas divulgadas pelo Instituto Nacional de Investigação Espacial (INPE), atualmente, a Amazônia brasileira já emite mais CO2 do que absorve, representando um cenário inquietante não somente para o mundo, mas principalmente, para os moradores da região, os quais já estão sendo fortemente impactados por essas modificações climáticas, como é o caso das atípicas enchentes que vem afetando os estados do Norte no início desta década e mais recentemente correntes de calor extremo.

Todas essas mudanças são frutos do longo histórico de um modelo econômico para a região baseado na sua exploração predatória, devastação do meio ambiente, afrouxamento das políticas de combate ao garimpo ilegal, grilagem, violência no campo, o que culminou nas diversas problemáticas que hoje contribuem, de maneira preocupante, para a sua destruição por meio das ações predatórias (Gatti et al., 2021).

O Brasil é um dos países que tem se tornado incisivo nas COP’s, principalmente porque a Amazônia tem se destacado como um dos temas mais discutidos nas agendas globais, tendo em vista sua importância no combate as mudanças climáticas. As esferas institucionais do país possuem alguns marcos legais importantes na política de combate a crise climática e ambiental, entre eles a Lei 12.187/2009, que instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) para incluir os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris, instrumento assinado em 2015, que se encontra atrelada às 17 metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) (ONU, 2015).

Os municípios necessitam implementar sua agenda climática no seu desenvolvimento, para que possam construir políticas públicas voltadas para a mitigação e adaptação, além de implementá-las considerando a urgência do enfrentamento às mudanças climáticas e a busca da resiliência como transformação das cidades (Gonçalves, 2017, p. 372). Entretanto, as capitais amazônicas, incluindo o Pará – sede da COP30, enfrentam um atraso em relação às políticas ambientais. Muitas vezes, as agendas existentes não são divulgadas ao público, resultando em uma falta de participação popular na construção de políticas ambientais locais efetivamente implementadas ou construídas.

Sobre o legado da COP30 para o povo de Belém do Pará se escuta nos pré-eventos: estabelecer parcerias internacionais, obter financiamento para projetos locais, aumentar a visibilidade global das organizações locais, melhorias na infraestrutura da cidade, educação ambiental, novas oportunidades de emprego e o fortalecimento da consciência climática, o que certamente irá interferir no currículo escolar e demais projetos pedagógicos, à luz do que já vem sendo feito na Funbosque. A COP30 pode ser uma plataforma para impulsionar ações locais e globais em prol do meio ambiente, tão maltratado e explorado, com pitadas de ausência de água potável, perda de biodiversidade e questões de injustiça social, revelando uma extrema perspectiva pelo evento em 2025.

Considerações Finais

Toda dinâmica que considera a educação ambiental deve sempre partir de uma revisão sobre o pressuposto fundamental da ciência como produtora de conhecimento e via para solução de diversos problemas que atingem a humanidade e, porque não, os processos de aprendizagem (?!). Um olhar crítico e contemporâneo extremamente necessário à educação ambiental frente ao interesse capitalista de ser e viver, que subverte o conhecimento científico afim de controlar e dominar a natureza. Pensar em educação ambiental importa desconstruir esse caminho e consolidar paradigmas sustentáveis do conhecimento científico.

Diante disso, a educação passou a produzir e ampliar instrumentais como forma de estruturar suas ações, em se tratando de ambiente escolar, ações pedagógicas. Para isso, uma educação ambiental somente existe se estiver afinada com seu currículo. Tal ambição educacional e ambiental exige o repensar das relações dos atores sociais da educação que compõem o ambiente escolar, bem como suas representações e entendimentos sobre natureza, planeta, a Ilha de Caratateua, a Escola Bosque, além das concepções de ser, estar e agir, mediante as complexidades que envolvem a formação da condição humana, mediada pelo meio.

Habitar genuinamente a Terra, usando sua estrutura natural, é remover a sombra que a racionalidade selvagem e predatória, impôs sobre si. “A natureza torna-se um único reservatório gigante, uma fonte de energia para a técnica e a indústria modernas (Heidegger, 1980, p. 141), que faz dela o que bem entende, é preciso intervir, e urgente! Para Heidegger (1980), o maior desafio de uma educação ambiental está em aprender a lidar com o poder do conhecimento, começando com o compreender o seu sentido no Meio Ambiente. Cabe, portanto, a uma Educação Ambiental, levar o homem para próximo do sentido da Terra que foi perdido com a expansão e domínio da técnica sobre o mundo. A Terra não mais entendida como mero depósito de energia renovável, lugar privilegiado onde tudo que surge, tudo que cresce, volta a encontrar o seu abrigo, a Terra como morada humana.

Essa é a ética que deve orientar uma educação ambiental e as ações pedagógicas da Funbosque e caminho para que a Fundação discuta a educação ambiental em seu currículo, para que suas ações e projetos, conforme visto, seja reflexo e referencial na comunidade da Ilha de Caratateua e para seus alunos. Atitudes que responde com maestria o que foi o perguntado no início dessa escrita: o “quê” e “como” trabalhar Educação Ambiental na escola Bosque? Qual o impacto de uma educação sustentável na vida escolar dos alunos da fundação? Ao analisar como essa unidade educacional vem discutindo educação ambiental em seu currículo, bem como o impacto de uma educação sustentável na vida escolar de seus alunos, ao descrever as práticas desenvolvida por seus docentes.

Esse artigo representa o esforço conjunto de muitas pessoas da comunidade para sistematizar e planejar as ações educacionais voltada para seus alunos, mas muito ainda precisa ser feito, [re]discutido e posto em execução, sem se perder durante o processo. A análise das discussões em torno da COP30 em Belém do Pará, revela amplas percepções e preocupações. Essa diversidade de perspectivas reflete a complexidade das dinâmicas envolvidas na preparação e realização de uma conferência internacional de grande magnitude, como a COP30.

Nesse cenário, é importante ressaltar que a inclusão ativa das vozes das comunidades locais e a promoção da transparência na execução dos trabalhos se mostram fundamentais. Esses elementos são pilares essenciais para o sucesso de qualquer empreendimento desse porte, uma vez que contribuem para o estabelecimento de um ambiente de confiança e engajamento efetivo de todas as partes interessadas. A perspectiva de estabelecer parcerias internacionais e ganhar visibilidade global é encarada como uma chance única de promover iniciativas locais e globais relacionadas à sustentabilidade e às mudanças climáticas. Essa abertura para colaborações internacionais sinaliza a importância de abordagens globais para desafios globais, e a Escola Bosque tem muito a oferecer.

A COP30 representa uma oportunidade crucial para colocar diversas questões na pauta internacional e buscar soluções conjuntas que possam resultar em benefícios diretos para as populações locais e/ou mundiais. Essa diversidade em torno de concepções sustentáveis e práticas educacionais efetivas, destaca a necessidade de um envolvimento ativo e inclusivo dos seguimentos sociais locais, seja na fase preparatória, seja na execução do evento, com ênfase na escuta atenta de suas preocupações e na promoção da transparência. A colaboração estreita e eficaz entre as organizações locais e os organizadores da COP30 se coloca como um requisito essencial para garantir o êxito da conferência e deixar um legado positivo e duradouro para a cidade de Belém, suas comunidades e instituições educacionais. Vem COP30!


²https://www.google.com/search?sca_esv=bafafc6381751c67&q=icoaraci&udm=2&fbs=AEQNm0A_ElqRadfJ052eEZYKSIj_O1af2QO8OzVPKUecD5Tql34XavyDvDty93DJL86YhX1jbjF47GkY304RXtoYtorni6eccS2gpF8GjNYiumEHdyWBgMXeQQyqQg9wM5VdF0xB9qKDqULOcv5Ql0iZCNrQxWnAmcalJ6_wvQp8Kkrl0L6JxddmLnZG5pGzjRHAy_4v0IRNFJrRWMQu8qdT-WSr7tMkaQ&sa=X&ved=2ahUKEwjVqJ-Q4amKAxVICbkGHcqcDP0QtKgLegQIDhAB&biw=1280&bih=639&dpr=1
³https://www.instagram.com/bookingcom_br/?hl=pt_BR
4https://www.youtube.com/watch?v=WpFkSCes0fk
5https://www.instagram.com/reel/DAE58wSg_Y9/?igsh=MWZrdHNpN25sOXR3bw==

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¹Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú e Educação Física pela Universidade Federal do Pará. Pós-Graduada em Psicologia Educacional com ênfase em Psicopedagogia Preventiva pela Universidade Estadual do Pará; Gestão Escolar pela Universidade Federal do Pará (Escola de Gestores) e Mestranda em Ciências da Educação pela Faculdade Interamericana de Ciências Sociais E-mail: macedoraisinery@gmail.com.