ACUPUNTURA E AURICULOACUPUNTURA COMO TRATAMENTOS COADJUVANTES DA FISIOTERAPIA NAS LOMBALGIAS

ACUPUNCTURE AND AURICULOACUPUNCTURE AS ADJUNCTIVE TREATMENTS TO PHYSIOTHERAPY FOR LOW BACK PAIN

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Eliedina Martins de Oliveira
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Ericka do Nascimento Rolim

Autoras:
Oliveira Eliedina Martins de1;
Rolim Ericka do Nascimento2;
Silva Vera Auda Alves Lopes3

1. Graduando em Fisioterapia – UNISÃOMIGUEL, Recife/PE-Brasil. E-mail: eli.edina@hotmail.com
2. Graduando em Fisioterapia – UNISÃOMIGUEL, Recife/PE-Brasil. E-mail: erickasjc@gmail.com
3. Mestre em Saúde Materno Infantil – IMIP, Professora Titular – UNISÃOMIGUEL, Recife/PE-Brasil. E-mail: vera_auda@gmail.com


RESUMO

Este estudo visa analisar a utilização e a eficácia da Acupuntura e Auriculoacupuntura como terapias complementares no tratamento das lombalgias. A partir da Revisão de Literatura, foram analisadas publicações entre os anos de 2017 e 2021, através da base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e revistas científicas; realizado o levantamento dos artigos, tendo por base o cruzamento dos descritores, leituras de títulos, resumos e textos completos respectivamente. 12 artigos foram selecionados a partir dos critérios de inclusão e exclusão, sendo 07 acerca da Acupuntura e 5 tendo a Auriculoacupuntura como terapia complementar. Constatou-se, com o uso das técnicas, a redução significativa e consistente da dor e incapacidade nos indivíduos submetidos às intervenções realizadas nos estudos selecionados, promovendo efeitos positivos como diminuição do uso de medicamentos e melhoria na qualidade de vida. A crescente busca pelas terapias complementares demandam mais estudos futuros.

DESCRITORES: Coluna Vertebral; Dor Lombar; Terapias Complementares; Acupuntura; Acupuntura Auricular; Fisioterapia.

ABSTRACT

This study aims to analyze the use and effectiveness of Acupuncture and Auriculoacupuncture as complementary therapies in the treatment of low back pain. From the Literature Review, publications between the years 2017 and 2021 were analyzed, through the database Virtual Health Library (VHL) and scientific journals; performed the survey of articles, based on the crossing of descriptors, reading titles, abstracts and full texts respectively. Twelve articles were selected from the inclusion and exclusion criteria, 7 about acupuncture and 5 having auriculoacupuncture as complementary therapy. It was observed, with the use of the techniques, a significant and consistent reduction of pain and disability in individuals submitted to the interventions performed in the selected studies, promoting positive effects such as a decrease in the use of medication and improvement in quality of life. The growing search for complementary therapies demands more future studies.

KEY WORDS: Spine; Low Back Pain; Complementary Therapy; Acupuncture; Acupuncture Ear; Physical Therapy Specialty.

INTRODUÇÃO

As dores e limitações funcionais decorrentes das disfunções na coluna vertebral são, sem dúvida, um sério problema de saúde pública, social e econômico, tendo em vista as incapacidades que acarretam na vida dos indivíduos. O afastamento das atividades rotineiras, a procura por assistência médica, reabilitação e previdência social motivam colocar o assunto em evidência (OLIVEIRA et al., 2020).

Mundialmente, o problema crônico de coluna (PCC) está classificado entre doenças de alta tendência global em deficiência, junto àquelas causadas por condições metabólicas, as quais são responsáveis por 80% das incapacidades, sendo, portanto, uma condição de grande repercussão entre as populações. No Brasil, em 2013, 27 milhões de pessoas de 18 anos acima, foram pesquisadas acerca da saúde, traçado o perfil epidemiológico desse público, posto em pauta os fatores que influenciam no adoecimento, acesso a assistência e o tipo de tratamento demandados. 18,5% relataram PCC, 19,2% desses, na região nordeste (IBGE, 2014; IHME, 2018).

As pesquisas apontam os possíveis fatores que contribuem para o surgimento do PCC, entre eles os hábitos de vida, idade, sexo e condições socioeconômicas. Adquirindo maior relevância, o estilo de vida sedentário e dieta desequilibrada, que colaboram para o sobrepeso/obesidade; a baixa escolaridade, a qual contribui para condições socioeconômicas menos favorecidas, tendo implicações diretas na busca por tratamento adequado (ROMERO et al., 2018; OLIVEIRA et al., 2020).

A coluna vertebral é, portanto, uma das estruturas corporais mais acometida por alterações em sua constituição no decorrer do processo de envelhecimento, ocasionando prejuízo funcional. As dores na região lombar (lombalgias) são as mais referidas, caracterizando-se por rigidez associada a quadro doloroso localizado entre o final do gradil costal (últimas costelas) e a linha glútea, podendo ser categorizada em específica, quando os sintomas justificam a situação clínica do paciente; e inespecífica, quando não se consegue determinar claramente os motivos que ocasionam a dor referida por ele (DONATT et al., 2019).

A dor é o sintoma mais referido quando se trata dos acometimentos na coluna. Atualmente se define como sendo “uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial”. E, por cronicidade da dor, o tempo é expresso como sendo três meses ou mais de quadro doloroso contínuo, sem, pois, considerar as restrições na vida dos indivíduos provocadas pelo problema. (ROMERO et al., 2018; DESANTANA et al., 2020).

Na literatura, a fisioterapia é reconhecida pela sua eficácia preventiva das incapacidades funcionais decorrentes do PCC e, é crescente a busca pelas práticas integrativas e complementares (PIC’s), por apresentarem resultados significativos para tais queixas (KIZHAKKEVEETTIL et al., 2017; ROMERO et al., 2019).

As PIC’s têm por objetivo estimular os mecanismos naturais, no intuito de prevenir agravos e recuperar a saúde com base no acolhimento, no vínculo terapêutico e na relação do indivíduo com meio ambiente, ampliando o processo de cuidado, tendo uma visão holística do ser humano (PETERMANN, 2019).

No Brasil, em 2006, foi aprovada e incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Dentre elas a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), com a Acupuntura (AC) (GONTIJO; NUNES, 2017).

A AC corresponde a estimulação de pontos específicos no corpo, a partir da introdução de agulhas no sentido de prevenir, promover, manter e recuperar a saúde. É uma das terapêuticas mais populares dos que buscam tratamento para lombalgias (KIZHAKKEVEETTIL et al., 2017; PETERMANN, 2019).

Dentro das especialidades da AC, a Aurículo Acupuntura (AAC) corresponde a estimulação de pontos específicos no pavilhão auricular, o qual é considerado um importante microssistema, promovendo alterações benéficas ao organismo como um todo, em tratamento de danos físicos e/ou psíquicos.

Nesse contexto, a AC e a AAC, terapias holísticas da MTC, podem ser utilizadas como tratamentos coadjuvantes à fisioterapia convencional no tratamento das lombalgias de forma complementar (MUNDIM et al., 2020). Assim, este estudo visa analisar a utilização e a eficácia dessas condutas terapêuticas no tratamento das lombalgias.

METODOLOGIA

Para a elaboração desse estudo foi utilizado o método de revisão de literatura, onde foram analisadas publicações entre os anos de 2017 e 2021, através da base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e revistas científicas, todavia, diante de sua importância documental e epidemiológica, foram utilizados um percentual mínimo de artigos publicados em anos anteriores (2014, 2015 e 2016) presentes na introdução e discussão respectivamente.

Foram adotados os seguintes descritores: “Coluna vertebral”, “Dor Lombar”, “Acupuntura”, “Acupuntura Auricular”, “Terapias Complementares” e “Fisioterapia”, sendo uma associação das línguas portuguesa, inglesa e espanhola.

Os critérios de inclusão adotados foram artigos publicados nos últimos 5 anos, estudos realizados com população com idade maior que 18 anos, que se utilizaram da AC e/ou AAC como tratamento complementar à fisioterapia para dores na região lombar. Foram excluídos artigos que abordaram a lombalgia em gestantes, lombalgias por fraturas e/ou pós procedimento cirúrgico. Artigos incompletos, duplicados e de revisão da literatura também foram descartados neste estudo. Os artigos foram selecionados, analisados e compiladas as informações acerca dos resultados obtidos dentro do contexto da fisioterapia.

RESULTADOS

Realizado o cruzamento dos descritores, foram selecionados 522 artigos -163 tendo a AC como tratamento para lombalgias e 359 a AAC – na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e revistas científicas. Estes foram submetidos aos filtros: idioma, ano de publicação e tipo de estudo, permanecendo elegíveis 111 publicações (AC: 65, AAC: 46).

Lidos seus títulos e respectivos resumos e, baseado nos critérios de inclusão e exclusão, restaram 24 artigos, 15 acerca da AC e 09 da AAC. Realizada a leitura na íntegra, 12 foram considerados relevantes para a realização desta revisão de literatura, os quais sobre AC restaram 07 e 05 AAC, conforme apresentado nos fluxogramas a seguir.

Figura 1 – Fluxograma – Seleção de artigos

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Fonte: Elaborado pelas autoras

A figura 2 representa o quadro contendo o resumo dos artigos selecionados para a presente revisão, sendo estes separados didaticamente em dois subgrupos: AC e AAC, apresentando seus autores, objetivos, métodos e conclusão respectivamente.

Figura 2 – Quadro com Resumo dos artigos selecionados para a presente revisão.

ARTIGOS SELECIONADOS REFERENTE AO USO DA AC NO TRATAMENTO DAS LOMBALGIAS

AUTOR/ANOOBJETIVOMÉTODOCONCLUSÃO
HONÓRIO et al., 2016Descrever as variações no consumo de analgésicos em pacientes com lombalgia crônica que receberam terapias com medicina complementar.Estudo descritivo, prospectivo e longitudinal.Concluiu-se que o uso de terapias complementares no tratamento da lombalgia crônica diminui o uso de analgésicos e fornece uma percepção de satisfação em pacientes tratados.
LIU et al., 2017Avaliar a viabilidade de um ensaio controlado randomizado investigando o número ideal de sessões de tratamento de acupuntura, usando como adjunto ao cuidado habitual, para o gerenciamento da dor lombar crônicaEstudo de viabilidade para futuro ensaio controlado randomizado com três braços paralelos. Participantes com dor lombar crônica foram aleatoriamente alocados para receber cuidados habituais mais 4, 7 ou 10 sessões de acupuntura.O estudo de viabilidade obteve excelentes taxas de recrutamento e randomização, alta conformidade de tratamento, níveis aceitáveis de taxas de retenção, alta satisfação dos participantes, e não associados eventos adversos graves.
HUANG et al., 2019Avaliar a eficácia e segurança da acupuntura para ciática discogênicaEstudo prospectivo, randomizado controlado ensaio de acupuntura simulada.O efeito de curto prazo da acupuntura pode ser superior a acupuntura simulada no alívio dos sintomas de dor nas pernas causada por ciática discogênica crônica.
GUERRERO et al., 2019Identificar a associação potencial de gênero autorreferido sobre dor e incapacidade entre pacientes em um ensaio clínico randomizado de acupuntura integrativa e terapia de manipulação espinhal para dor lombar.Estudo experimental de caso controle.O sexo feminino teve melhor resposta com o tratamento com acupuntura, sendo possível reduzir significativamente a incapacidade avaliada com o teste de Morris; mais relevante que para alívio da dor.
KIZHAKKEVEETTIL et al., 2019Identificar a associação potencial de gênero autorreferido sobre dor e incapacidade entre pacientes em um ensaio clínico randomizado de acupuntura integrativa e terapia de manipulação espinhal para dor lombar.Estudo de análise secundária dos dados obtidos a partir de um ensaio clínico de acupuntura integrativo e terapia manipulativa.Descobriu-se que o gênero autorrelatado tinha uma influência significativa nos resultados do tratamento relacionados a dor e deficiência. As mulheres respondem melhor à acupuntura e os homens à terapia manipulativa.
SUNG et al., 2020Investigar o efeito do Acupuntura de incorporação de fios combinado com acupuntura para dor lombar crônica.Estudo clínico randomizado, cego para avaliador, multicêntrico, ensaio com dois grupos paralelos.Este ensaio clínico documentou a eficácia e segurança da acupuntura com incorporação de fios combinada à acupuntura no tratamento da dor lombar crônica.
COMACHIO et al., 2020Identificar a eficácia da eletroacupuntura e acupuntura manual sobre a dor e incapacidade em pacientes com dor lombar crônica inespecífica.Estudo único, cego, randomizado e controlado.Os resultados sugerem que a Eletroacupuntura e a acupuntura manual têm efeitos semelhantes em termos de redução de dor, incapacidade, qualidade de vida, efeito percebido global e depressão em pacientes com dor lombar crônica.
ARTIGOS SELECIONADOS REFERENTE AO USO DA AAC NO TRATAMENTO DAS LOMBALGIAS
LIN et al., 2015Confirmar achados anteriores de uma resposta diferencial entre os grupos, que refletia o efeito anti-inflamatório da intervenção da acupressão do ponto auricular e investigar a associação entre a alteração do biomarcador e o resultado clínico.Ensaio clínico piloto randomizadoOs achados induzem fortemente que o alivio da dor e a melhora da função física em pacientes com dor lombar crônica por meio do tratamento com acupressão do ponto auricular podem ser modulados pelo nível de citocinas inflamatórias e neuropeptídeos.
YEH et al., 2015Determinar os efeitos de um tratamento de acupressão do ponto auricular de 4 semanas na dor lombar crônica (CLBD) e examinar a variabilidade do dia-a-dia de (CLBD) em indivíduos recebendo (APA) ao longo de 29 dias.
Estudo controlado randomizadoFoi observado uma redução de 30% da pior dor após 1º dia de tratamento e melhoria contínua de 44% ao final de 4 semanas de acupressão do ponto auricular entre os participantes do grupo real. Pode ser utilizada como terapia complementar e assim possibilitar a redução de analgésicos.
LA TORRE et al., 2016Avaliar o efeito da auriculoterapia em pacientes ambulatoriais, bem como determinar a resposta à diminuição da intensidade da dor lombar que apresentavam.Estudo experimental
O grupo que recebeu apenas o tratamento de auriculoterapia melhorou em menos tempo e teve menos reações adversas do que o grupo o qual fez uso exclusivo de medicamentos.
PINO et al., 2016Avaliar a utilização da técnica auriculoterapia no tratamento da síndrome lombar aguda.

Estudo exploratório e prospectivoOs pacientes evoluíram de forma efetiva, porém o tratamento convencional aliado a auriculoterapia obteve o melhor resultado.
GRAÇA et al., 2020Identificar as contribuições da auriculoterapia para a promoção da qualidade de vida de profissionais do sistema penitenciário.
Estudo experimentalO uso da auriculoterapia trouxe efeitos positivos sobre a intensidade da lombalgia, ansiedade e estresse. A inserção da prática foi favorável ou entender que a redução da dor proporcionou uma melhor qualidade de vida do profissional assim como a melhora de seu desempenho laboral.
Fonte: Elaborado pelas autoras

DISCUSSÃO

A AC e a AAC como tratamentos adjuvantes à fisioterapia convencional nas lombalgias, apresentam resultados positivos em termos relacionados a melhoria da dor, incapacidades funcionais e, consequentemente, na qualidade de vida.

Comachio et al. (2020), afirmam que a diminuição da intensidade dolorosa se inicia num período mínimo de aplicação sistêmica entre 15 a 20 minutos, tendo em vista o estímulo dos sistemas endógenos de inibição da dor, provocando o efeito analgésico estimado, obtendo, pois, como resposta subjetiva a redução nas escalas de dor e incapacidades. Liu et al. (2019) e Huang et al. (2019), corroboram ao destacar a tendência da melhoria dos sintomas dolorosos e funcionais desde início do tratamento sendo, pois, abreviada progressivamente as queixas álgicas e sua manutenção no decorrer das intervenções. Estimam, ainda que há maior benefício clínico em 10 sessões, observando a permanência dos efeitos positivos entre 12 a 28 semanas pós tratamento.

A respeito da lombalgia associada a hérnia discal com irradiação dolorosa para membros inferiores, Huang et al. (2019), demonstraram a eficácia da AC em detrimento do grupo placebo e considera como um meio promissor e menos oneroso para o tratamento de ciática discogênica (decorrente da má postura, deformidade anatômica ou de trauma local). Os autores afirmam que pacientes nessas condições, submetidos a AC, tendem a reduzir o consumo de medicações analgésicos e demonstram menos preocupação com a dor, quando comparados aos que estão em acompanhamento clínico usual. Honório et al. (2016), analisam o comportamento do paciente e afirma haver melhor percepção na modulação da dor e, consequentemente, satisfação dos submetidos a essa técnica.

Em um estudo comparativo entre tratamento por AC e medicamentoso para lombalgias, Guerrero et al. (2019) afirmam não haver diferenças significativas na diminuição da intensidade da dor entre essas duas vertentes, todavia salienta que os tratamentos convencionais causam mais efeitos adversos que a AC. Nesse sentido, Petermann (2019), aponta os benefícios para vida dos indivíduos que se utilizam das práticas integrativas, por serem terapias que visam fomentar o autocuidado e o autoconhecimento do corpo por completo, despertando a capacidade de lidar com as limitações provocadas pela dor sem, pois, gerar maiores prejuízos à saúde.

Vale destacar também a relação do sexo no que tange ao acometimento das lombalgias e as distintas respostas terapêuticas. Guerrero et al. (2019), constatam que o maior número de indivíduos submetidos as pesquisas clínicas se trata do sexo masculino, justificando a prevalência masculina aos cargos ocupacionais, que exigem grandes esforços físicos dessa população. Divergindo de Oliveira et al. (2020) e Donatti et al. (2019), que ressaltam a presença do sexo feminino como o mais acometido pelas lombalgias, haja vista sua constituição fisiológica, aspectos socioeconômicos e afetivos entre outros.

Para Guerrero et al. (2019), o benefício da AC é semelhante para ambos os sexos, diferenciando com maior evidência a melhoria da incapacidade em mulheres. Contrariando o que Kizhakkeveettil et al. (2019) vislumbram acerca da resposta terapêutica a AC relacionando ao sexo. Apesar de ambos obterem bons resultados, o sexo feminino demonstra responder mais positivamente que o masculino, sendo o segundo grupo mais beneficiado por terapias das do tipo manuais, evidenciados em estudo comparativo. Os autores salientam que as mulheres são mais propensas a doenças de atividade inflamatória, comparados aos homens e que a AC, pode diminuir a atividade dos macrófagos inflamatórios, beneficiando-as e projetando melhores resultados.

Há distintas técnicas atreladas a AC e também são objetos de pesquisa acerca de sua efetividade. Comachio et al. (2020), relacionam a AC com estimulação elétrica à AC manual. Os autores ressaltam que não há diferenças significativas nas respostas à dor e incapacidades entre elas e salientam que são eficazes no tratamento das lombalgias sendo recursos a mais aos tratamentos fisioterapêuticos.

Sung et al. (2020) buscaram demonstrar a eficácia da técnica de Acupuntura com Incorporação de Fios Médicos (AIF), a qual consiste na inserção desses fios nos pontos de AC tradicional, sendo absorvidos com o tempo, na pretensão de haver a estimulação contínua para o tratamento da dor musculoesquelética, visando a resposta inflamatória e, consequentemente, a recuperação tecidual. A avaliação dos autores em relação à técnica foi positiva para AIF em relação a AC em termos de melhores efeitos analgésicos em curto prazo.

Com relação aos protocolos utilizados, houve convergência na utilização do meridiano da Bexiga (B). Cinco estudos revisados utilizaram locais distintos de aplicação desses acupontos, porém houve recorrência em duas áreas: o B23, tido como analgésico local, esteve presente em quatro estudos e o B60 (distal), tendo por finalidade a dor muscular, em três artigos, demonstrando, pois, sua relação no tratamento das lombalgias. (LIU et al.,2017; HUANG et al., 2019; GUERRERO et al., 2019; COMACHIO et al., 2020; SUNG et al., 2020).

Quando se reporta à prática da AAC, esta se mostra eficaz em diversas patologias e vem sendo muito utilizada nas lombalgias como complementaridade terapêutica, nos momentos que a medicina convencional não é capaz de proporcionar um tratamento satisfatório ou por método único de terapia.

É descrito por Graça et al. (2020), a redução significativa do quadro álgico conforme a escala de dor apresentada no início, meio e fim do estudo, obtendo resultados efetivos sobre a dor, assim como, La Torre et al. (2016) expõem o alívio dos sintomas na primeira semana de intervenção e mostra que 96% dos pacientes tiveram recuperação completa ao final da prática apenas com o método. Yeh et at. (2015) relatam a redução de 30% da pior dor após o primeiro dia de tratamento.

Pino et al. (2016) associam fisioterapia, medicamento e AAC, confirmando a eficácia das terapias com sementes agindo principalmente na inflamação, rigidez e dor, tendo, pois, como causas a artrose, deformidade congênita ou antecedentes de traumas na região da coluna lombar, contribui para o surgimento da lombalgia. É observado a evolução satisfatória com o tratamento tradicional sendo o tratamento tradicional associado a terapia chinesa mais promissor.

La Torre et al. (2016), indicam a eficiência deste recurso em comparação aos fármacos, a AC elimina ou reduz consideravelmente a necessidade de medicamentos e seus possíveis efeitos adversos indesejados. Relata que 25 pacientes apresentaram gastrite e 15 epigastralgia do total de 50 participantes do grupo B que utilizaram apenas drogas durante a pesquisa em paralelo com o grupo A que não desenvolveram tais manifestações por serem submetidos apenas à terapia complementar referida. O resultado ao final de 4 semanas ficou evidente a eficiência do método, quando 92% dos pacientes do grupo A apresentaram uma evolução satisfatória em correlação ao grupo B onde apenas 60% mostraram progresso.

É importante destacar a semelhança entre dois artigos Yer et al. (2015) e Lin et al. (2015), onde um dos estudos não expõe apenas os dados apresentados no estudo piloto anterior, mas também examina de forma complementar os mecanismos fisiológicos através de monitoração de níveis séricos. Possuem 3 autores em comum, assim como pontos auriculares, orientação quanto ao manejo das sementes e características demográficas dos participantes.

Consideram-se como limitações nesse estudo as diferentes abordagens com relação a permitir ou não aos grupos de intervenção darem continuidade aos tratamentos adicionais (medicamentosos) no período das investigações. Alguns autores permitiram que os participantes continuassem os cuidados/tratamentos (tanto nos estudos da AC, quanto nos de AAC) costumeiros para as lombalgias, em detrimento de outros que não consideravam pertinente associar a terapia investigada a outras paralelamente, podendo interferir nos resultados.

A variedade de protocolos utilizados nas intervenções e/ou ausência destes nos artigos (dois dos sete artigos sobre AC e um dos cinco acerca da AAC), representou um ponto negativo nesta revisão, bem como o número de participantes envolvidos nas diversas pesquisas. Liu et al. (2017); Huang et al. 2019; Sung et al. (2020) expõem a necessidade da amostragem ser maior. Honório et al. (2016) e Comachio et al. (2020) apontaram a dificuldade em se realizar a randomização cega dos participantes, pontos que podem interferir diretamente nos resultados.

A crescente busca pelas terapias complementares nas mais variadas disfunções musculoesqueléticas demandam mais estudos futuros, os quais esta revisão sucede. Investigar a eficácia numa população em larga escala, conforme sugerido por alguns artigos estudados, averiguar o conhecimento das populações e/ou profissionais acerca destas terapêuticas, a relação do gênero as terapias, bem como a aplicabilidade na rede pública, são propostas interessantes para pesquisas futuras e disseminação dessas práticas.

Sendo assim, a dor lombar representa uma das condições mais incapacitantes em escala mundial e variadas formas terapêuticas, visando o manejo do problema, necessitam ser colocadas em evidência, haja vista a segurança, credibilidade e eficácia para, assim, proporcionar condutas coerentes. Nesse contexto, as terapias integrativas e complementares, em especial as que compõem a MTC, por fazer uso de técnicas não convencionais, demandam estudos que atestem sua utilização.

A eficácia da prática clínica da AC e AAC foram postas em evidência nesta pesquisa, a qual intencionou verificá-las como formas de tratamento complementar, direcionadas às lombalgias, observando seus efeitos terapêuticos, formas subjetivas e objetivas de avaliar sua aplicabilidade.Constatou-se a redução significativa e consistente da dor (desde o início ao final dos tratamentos) e incapacidade nos indivíduos submetidos às intervenções realizadas nos estudos selecionados, promovendo efeitos positivos como diminuição do uso de medicamentos e melhoria na qualidade de vida.

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