REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411131049
Ana Paula Konrad
Patrícia Kenf Gomes de Wall
Florcena Ferreira
Graciele Oliveira Campos Moura
Rita de Cássia Souza
Jaqueline Cardoso da Silva Souza
Jhoneta Bruna Crispim da Silva
Tissiana Carla de Almeida Gomes Machado
Jéssika de Lima Silva
Roseli Aparecida Correa
Vanilza da Silva Oliveira
Conceição Moura Teodoro
Simone Andrade Ribeiro dos Santos Rodrigues
Aline Ribeiro Barretos
Gildeth Batista de Souza
Resumo
Este artigo busca abordar a diversidade no ambiente escolar que diz respeito à presença e aceitação de diferentes origens, culturas, habilidades e perspectivas na comunidade educacional. Essa variedade enriquece o espaço, criando oportunidades valiosas de aprendizado. Na prática, isso significa reconhecer e respeitar as diferenças, promovendo a inclusão e a compreensão mútua. Ao integrar a diversidade no dia a dia escolar, os alunos têm a oportunidade de interagir com colegas de origens variadas, incentivando a tolerância e a consciência global. Os educadores desempenham um papel crucial ao criar ambientes que incentivam a expressão individual, assegurando que todos se sintam representados. A diversidade vai além das questões étnicas; inclui também diferenças socioeconômicas, de gênero, habilidades e muito mais. Ao abraçar essa pluralidade, as instituições de ensino ajudam a formar cidadãos preparados para uma sociedade inclusiva. Portanto, compreender e valorizar a diversidade no ambiente escolar é essencial para uma educação que capacite os.
Palavra chave: Cultura, Educação, Diversidade
Introdução
A escola pública brasileira, inicialmente criada para atender aos interesses ideológicos do Estado e de uma minoria, por muito tempo foi um privilégio reservado a grupos sociais economicamente favorecidos. Com um currículo rígido, sua cultura pedagógica e didática sempre se fundamentou em uma clientela escolar homogênea, tanto social quanto culturalmente.
Hoje, em resposta às demandas sociais, o ambiente escolar começa a se abrir para grupos que foram excluídos ao longo da história, transformando-se em um espaço de diversidade. No entanto, ainda persiste um currículo padronizado que desconsidera a pluralidade social e cultural presente na escola, impedindo que os alunos se manifestem em suas individualidades e experiências como sujeitos.
É reconhecido que a escola pode perpetuar desigualdades por meio de suas práticas e, assim, legitimar o status quo da sociedade, mantendo a distinção entre opressores e oprimidos. – ao adotar o currículo definido pelas classes hegemônicas. O “professor foi e, em parte, continua sendo formado para homogeneizar, para transformar o diferente em igual, para ensinar, transmitir conhecimentos, orientar atitudes, procurando transformar em algo controlável o que não pode ser controlado” (PAIM, 2015, p. 14)
Desta forma trabalhar a diversidade cultural nas classes escolares, é um certo rompimento de paradigmas, superar o preconceito por quem é diferente, vencer esta prática etnocêntrica que tem levado nações e culturas a crerem que são melhores que outras.
Portanto, justifica-se pelo presente artigo, pela relevância do tema, no sentido de promover a igualdade cultural, em todos os seus aspectos, especialmente no que tange ao surgimento de preconceitos. Assim, prima-se pela valorização das diferenças e pela diversidade cultural.
2. Referencial Teórico.
2.1. Identidade na diversidade
A discussão sobre identidade na diversidade é fundamental para a compreensão das dinâmicas sociais contemporâneas. Paulo Freire, educador brasileiro e um dos principais teóricos da pedagogia crítica, oferece uma abordagem valiosa para analisar como a identidade se forma e se transforma em contextos diversos. Freire (1996) enfatiza que a identidade não é um atributo fixo, mas um processo em constante construção. Ela se forma a partir das interações sociais, das experiências vividas e das relações de poder que permeiam a vida cotidiana. Em um ambiente escolar, a diversidade — seja étnica, cultural, social ou de gênero — deve ser reconhecida e valorizada, pois contribui para a formação de identidades plurais.
Freire defende uma educação que promova a conscientização crítica e a reflexão sobre a realidade. Para ele, a educação não deve ser um mero repasse de informações, mas um espaço de diálogo onde as diferenças são respeitadas e exploradas. Ao integrar a diversidade no currículo, os educadores podem ajudar os alunos a reconhecerem suas identidades e a valorizar a identidade dos outros.
Segundo Freire (2000), a prática pedagógica deve ser inclusiva, promovendo um ambiente onde todos os alunos se sintam representados e valorizados. Isso significa que o currículo deve refletir a pluralidade da sociedade e permitir que os alunos compartilhem suas experiências e perspectivas. Através de métodos que incentivem a participação e o diálogo, é possível construir uma comunidade escolar onde a diversidade enriquece o aprendizado. Freire destaca que o diálogo é essencial para a construção de uma identidade coletiva que respeite as individualidades. Ao dialogar sobre as diferenças, os alunos desenvolvem empatia e compreensão, elementos cruciais para a convivência harmoniosa em uma sociedade diversa. A partir dessa interação, a identidade se torna um espaço de troca e aprendizado, onde cada voz é ouvida e valorizada.
A sala de aula é um espaço crucial para a representatividade, impactando diretamente a experiência educacional dos alunos. A representatividade abrange mais do que apenas a diversidade étnica; inclui a identificação com gênero, orientação sexual, habilidades e contextos socioeconômicos. Ao integrar figuras e contextos representativos no ensino, os alunos se sentem conectados, valorizados e motivados. Isso não só eleva a autoestima, mas também cria um ambiente mais inclusivo. A representatividade na sala de aula não se resume a uma questão de equidade; é também uma estratégia educacional poderosa.
Alunos que se veem refletidos no conteúdo têm mais chances de se envolver e ter sucesso acadêmico. Os professores desempenham um papel essencial ao escolher materiais que representem a diversidade do mundo real.
Além disso, fomentar a representatividade na educação prepara os alunos para uma sociedade multicultural, promovendo a compreensão e aceitação das diferenças. Portanto, a sala de aula como um espaço de representatividade é fundamental para uma educação inclusiva e eficaz.
2.2 Educação um Direito.
A educação é um direito fundamental de todo ser humano, consagrado em diversas declarações e legislações internacionais. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, estabelece em seu artigo 26 que “toda pessoa tem direito à educação”, enfatizando que a educação deve ser gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais (UNESCO, 1948).
Esse direito à educação é essencial para o desenvolvimento pessoal e social, sendo um meio crucial para a promoção da igualdade e a redução das desigualdades. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a educação de qualidade não só empodera os indivíduos, mas também contribui para sociedades mais justas e pacíficas (UNESCO, 2015).
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 reforça a educação como um direito de todos e um dever do Estado, estabelecendo que a educação deve ser promovida em um ambiente que respeite a diversidade cultural e social. O artigo 205 afirma que “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família”, ressaltando a responsabilidade compartilhada entre esses dois agentes na promoção da educação (Brasil, 1988).
Além disso, a educação desempenha um papel vital na formação de cidadãos críticos e conscientes de seus direitos e deveres. Paulo Freire (2007) argumenta que a educação deve ser um ato de liberdade e que o diálogo e a reflexão crítica são essenciais para o processo educativo. Ele enfatiza a importância de um ensino que vá além da simples transmissão de conhecimento, promovendo a conscientização e a transformação social.
No texto “Educação em direitos humanos e formação de professores/as” de Candau, a autora discute a importância da diversidade na educação em direitos humanos. Candau argumenta que a diversidade deve ser reconhecida e valorizada no contexto educacional, pois é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Ela enfatiza que a formação de professores deve incluir uma compreensão profunda das diferentes realidades culturais, sociais e históricas dos alunos. Isso implica um ensino que não apenas respeite, mas que também celebre as diferenças, promovendo um ambiente de aprendizado inclusivo. A autora destaca que a educação em direitos humanos deve ser um espaço de diálogo e reflexão, onde todos os estudantes se sintam representados e possam desenvolver uma consciência crítica sobre suas identidades e sobre as injustiças sociais. Candau também aborda a necessidade de formar educadores que possam lidar com questões de preconceito e discriminação, propondo que a educação deve ser um meio para transformar essas realidades. Assim, a diversidade não é apenas um tema, mas um princípio orientador na formação de uma prática pedagógica que visa à promoção dos direitos humanos e à construção de uma cidadania ativa.
De acordo com Candau (2008), a necessidade de enfrentar situações concretas de discriminação e preconceito frequentemente ignoradas, muitas vezes vistas como brincadeiras ou como bullying. A autora alerta para a importância de superar a visão romântica do diálogo intercultural, propondo uma abordagem que enfrente conflitos e promova a inclusão, levando em consideração também as formas de organização do ensino, a avaliação e as escolhas de conteúdo, com base nas realidades pessoais, coletivas e culturais dos alunos. Ignorar as experiências socioculturais dos estudantes contribui para o desenvolvimento de baixa autoestima, altos índices de fracasso escolar e o aumento de manifestações de desconforto, mal-estar e agressividade em relação à escola (CANDAU, 2008).
A escola tem o papel de converter o senso comum em um conhecimento estruturado, proporcionando aos alunos acesso à cultura que foi historicamente desenvolvida. Assim, fica claro que o sistema educacional deve cumprir a legislação e, ao mesmo tempo, apoiar e respeitar o estudante. A escola deve trabalhar a partir do conhecimento prévio do aluno, valorizando suas origens e oferecendo recursos para que ele se torne um cidadão autônomo e crítico, conforme Paulo Freire (2007).
O ser humano se desenvolve em função do ambiente em que vive. A história de Amala e Kamala, as “meninas-lobo”, exemplifica isso, pois elas aprenderam a viver como lobos, adaptando-se ao ambiente em que cresceram, que era o único estímulo e exemplo que tinham (PAIN; FRIGÉRIO, S/D). No livro “A Formação Social da Mente”, Vygotsky (2007) destaca que nos primeiros anos de vida a criança está moldando sua personalidade, caráter e habilidades motoras. Durante essa fase inicial, é possível desenvolver competências, o que ressalta a importância de o educador conhecer essas etapas do desenvolvimento e observar a criança atentamente. Essa observação pode ajudar a identificar dificuldades de aprendizagem. Estar atento ao comportamento das crianças em sala de aula e manter contato com os pais para entender o contexto em que vivem é fundamental e impacta diretamente no desenvolvimento infantil e no processo de ensino-aprendizagem. A criança começa sua trajetória escolar trazendo aprendizados do seu ambiente familiar, e cabe ao educador utilizar esse conhecimento prévio para promover um aprendizado mais estruturado.
Conclusão
A diversidade cultural é, atualmente, uma questão fundamental de cidadania, e é tanto um direito da criança quanto um dever do Estado garantir que ela se sinta parte da sociedade, independentemente de raça ou cor. Essa diversidade deve ser reconhecida e integrada de maneira sistemática ao currículo escolar, permitindo que se trabalhe os direitos dos povos e a documentação e preservação de suas culturas.
Além de ser uma responsabilidade das instituições de ensino, o professor desempenha um papel crucial na transmissão das influências culturais. Ele é o responsável por interagir diretamente com os alunos na sala de aula, mostrando, por meio da arte de cada cultura, as particularidades políticas, sociais, religiosas, históricas, econômicas e ambientais que as caracterizam.
Ao desenvolver e promover relações que reconhecem as diferenças, a escola pode fortalecer nos alunos o respeito à igualdade e ajudá-los a enfrentar questões contemporâneas, como a exclusão. A valorização das diferenças e a apreciação da rica diversidade cultural do Brasil, com sua variedade de cores e raças, tornaram-se responsabilidades das instituições de ensino, que devem impulsionar as mudanças necessárias para promover a igualdade.
O objetivo de promover a igualdade cultural a partir da escola é influenciar, por sua vez, a família e, a partir dela, a sociedade.
A abordagem de Paulo Freire nos convida a refletir sobre a identidade na diversidade como um processo dinâmico e interativo. Em uma sociedade plural, a educação deve ser um meio de promover a conscientização crítica e o respeito às diferenças, contribuindo para a formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a inclusão. Ao valorizar a diversidade, educadores podem ajudar a construir identidades ricas e multifacetadas, essenciais para a convivência em um mundo cada vez mais interconectado.
Referencial
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
CANDAU, Vera Maria. Educação em direitos humanos e formação de professores/as. In: CANDAU, Vera Maria; SACAVINO, Suzana (Orgs.). Educação em Direitos Humanos – temas, questões e propostas. Petrópolis: DP et Alli, 2008. p. 73-92.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: Um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido. 1994.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
PAIN, E. R., FRIGÉRIO, N. A. O Desafio de Trabalhar Diversidade Cultural na Escola. UNIVEN Faculdades Integradas. ES. http://maratavarespsictics.pbworks.com/w/file/fetch/74464574/21165929oDesafiodeTrabalharaDiversidadeCulturalNaEscola.pdf Acessado em 28 de maio de 2020.
UNESCO. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
UNESCO. Educação para Todos: Uma Declaração Mundial. 2015.
VYGOTSKY, L. S. A formação Social da Mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.