CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO MANEJO DA DOR EM PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA COM ENFOQUE HOSPITALAR NO CONTEXTO BRASILEIRO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202510061823


Regiane Crysthian Layanne Mendonça da Silva1
Nilvana Martins Marinho2
Giovana Pinto da Silva3
Felipe de Castro Lira4
Elaine Neves da Silva5
Raylane Katicia da Silva Gomes6
Fabiane Rodrigues Bessa7


RESUMO

A dor oncológica é considerada um dos sintomas mais frequentes e debilitantes em crianças com câncer, comprometendo não apenas o bem-estar físico, mas também os aspectos emocionais, sociais e psicológicos. Nesse contexto, a enfermagem ocupa papel fundamental na avaliação, monitoramento e implementação de estratégias que visam aliviar o sofrimento e promover qualidade de vida. O objetivo deste estudo foi analisar as principais estratégias utilizadas pela enfermagem no manejo da dor oncológica pediátrica, destacando intervenções farmacológicas e não farmacológicas, além de discutir desafios e potencialidades desse processo de cuidado. Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa, de abordagem qualitativa, realizada nas bases de dados LILACS, MEDLINE, BVS, SciELO, PubMed e Google Acadêmico, no período de 2014 a 2025. Foram incluídas publicações em português, inglês e espanhol, que abordassem o manejo da dor em oncologia pediátrica com foco em práticas de enfermagem. Os resultados evidenciaram cinco temas centrais: (i) a importância da utilização de escalas validadas para avaliação da dor, ainda subutilizadas na prática clínica; (ii) a adoção de intervenções farmacológicas, como uso de analgésicos e opioides, embora permeadas por barreiras no acesso e na padronização de protocolos; (iii) o emprego de estratégias não farmacológicas, como musicoterapia e brinquedoterapia, que favorecem vínculo e conforto; (iv) o papel da comunicação e do apoio emocional no cuidado integral; e (v) a necessidade de capacitação contínua da equipe de enfermagem. Conclui-se que o manejo da dor oncológica pediátrica requer uma abordagem humanizada, multiprofissional e fundamentada em evidências, na qual a enfermagem desempenha papel central, reforçando a importância de investimentos em capacitação, protocolos assistenciais e políticas públicas que assegurem acesso equitativo aos recursos necessários.

Palavras-chave: Dor; Oncologia pediátrica; Enfermagem; Manejo da dor.

ABSTRACT

Oncologic pain is considered one of the most frequent and debilitating symptoms in children with cancer, affecting not only physical well-being but also emotional, social, and psychological aspects. In this context, nursing plays a fundamental role in assessing, monitoring, and implementing strategies aimed at relieving suffering and promoting quality of life. The objective of this study was to analyze the main strategies used by nurses in the management of pediatric oncologic pain, highlighting pharmacological and non-pharmacological interventions, as well as discussing challenges and potentialities of this care process. This is an integrative literature review with a qualitative approach, conducted in the LILACS, MEDLINE, BVS, SciELO, PubMed, and Google Scholar databases, covering the period from 2014 to 2025. Publications in Portuguese, English, and Spanish that addressed pain management in pediatric oncology with a focus on nursing practices were included. The results revealed five central themes: (i) the importance of using validated scales for pain assessment, which are still underused in clinical practice; (ii) the adoption of pharmacological interventions, such as analgesics and opioids, although hindered by barriers in access and lack of standardized protocols; (iii) the use of nonpharmacological strategies, such as music therapy and play therapy, which foster bonding and comfort; (iv) the role of communication and emotional support in comprehensive care; and (v) the need for continuous training of the nursing team. It is concluded that the management of pediatric oncologic pain requires a humanized, multidisciplinary, and evidence-based approach, in which nursing plays a central role, reinforcing the importance of investment in training, care protocols, and public policies that ensure equitable access to necessary resources.

Keywords: Pain; Pediatric oncology; Nursing; Pain management.

1.  INTRODUÇÃO

O câncer é considerado um dos maiores problemas de saúde pública mundial, sendo responsável por elevado número de morbidade e mortalidade em todas as faixas etárias. No contexto pediátrico, embora seja classificado como uma condição rara em comparação ao câncer em adultos, o câncer infantil representa entre 2% e 3% de todos os tumores malignos, configurando-se como a principal causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos nos países em desenvolvimento (SILVA et al., 2018). No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou aproximadamente 12.600 novos casos de câncer infantojuvenil em 2016, com maior concentração nas regiões Sudeste e Nordeste (INCA, 2016). Entre os tipos mais frequentes na infância, destacam-se as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e os linfomas (PRATES et al., 2018).

A experiência dolorosa, considerada um dos sintomas mais frequentes e incapacitantes, afeta intensamente crianças em tratamento oncológico. A dor pode estar associada à própria progressão da doença, aos efeitos adversos das terapias antineoplásicas ou aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos (SANTOS; MARANHÃO, 2016). Trata-se de um fenômeno multidimensional, que compromete o bem-estar físico, emocional e social, interferindo na realização de atividades diárias, no desempenho escolar, no padrão de sono e nas relações familiares (SILVA et al., 2018; SATO; HOSTIM; BRANDÃO, 2024). Além disso, a dor oncológica pediátrica, quando mal manejada, intensifica o sofrimento da criança e de seus familiares, sendo apontada pela literatura como subdiagnosticada, subtratada e frequentemente negligenciada (SANTOS; MARANHÃO, 2016; PRATES et al., 2018).

A enfermagem desempenha papel central nesse cenário, uma vez que está diretamente envolvida na avaliação e no manejo da dor, seja pela utilização de escalas apropriadas, pela administração de terapias farmacológicas, ou pela implementação de estratégias não farmacológicas, como musicoterapia e brinquedoterapia (SATO; HOSTIM; BRANDÃO, 2024). Além disso, cabe ao enfermeiro estabelecer vínculo com a criança e sua família, proporcionando acolhimento, comunicação efetiva e apoio no enfrentamento da doença (REIS et al., 2014). Entretanto, a prática ainda enfrenta desafios como sobrecarga de trabalho, limitações no acesso a medicamentos adequados, lacunas no registro da dor e insuficiente capacitação profissional (SANTOS; MARANHÃO, 2016; SILVA et al., 2018).

Considerando a relevância do tema e as lacunas identificadas na literatura, torna-se essencial aprofundar a compreensão sobre a gestão da dor oncológica pediátrica, em especial no que se refere às contribuições da enfermagem. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar as estratégias utilizadas pela enfermagem no manejo da dor em crianças com câncer, destacando os principais tipos de dor enfrentados, as intervenções farmacológicas e não farmacológicas mais empregadas e os desafios vivenciados no processo de cuidado.

2.  OBJETIVOS

Objetivo Geral:

Analisar as estratégias utilizadas pela enfermagem no manejo da dor em crianças com câncer, com foco nos principais tipos de dor enfrentados, nas intervenções farmacológicas e não farmacológicas empregadas e nos desafios vivenciados no processo de cuidado.

Objetivos Específicos:

  • Identificar os tipos mais frequentes de dor em pacientes pediátricos oncológicos.
  • Descrever as principais intervenções farmacológicas utilizadas pela enfermagem no controle da dor.
  • Analisar as intervenções não farmacológicas adotadas no manejo da dor em crianças com câncer.
  • Reconhecer os desafios enfrentados pela enfermagem no processo de avaliação, registro e tratamento da dor oncológica pediátrica.
  • Discutir a importância da atuação multiprofissional e do cuidado humanizado na assistência à criança com dor relacionada ao câncer.

3.  METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como uma revisão bibliográfica integrativa, de abordagem qualitativa, cujo propósito foi identificar e sintetizar as principais estratégias utilizadas no manejo da dor oncológica pediátrica, com ênfase na atuação da enfermagem. A escolha por esse tipo de revisão deve-se à sua capacidade de reunir, analisar criticamente e integrar resultados de pesquisas já publicadas, oferecendo uma visão abrangente do estado atual do conhecimento sobre determinado tema. Conforme Gil (2008), a pesquisa bibliográfica é uma modalidade científica que utiliza materiais previamente elaborados, como artigos, livros, teses e dissertações, com o objetivo de atualizar e sistematizar informações relevantes, bem como reunir as principais contribuições teóricas relacionadas a um fenômeno de interesse.

A busca pelos estudos foi realizada em bases de dados científicas amplamente reconhecidas, incluindo LILACS, MEDLINE, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), SciELO, PubMed e Google Acadêmico. Essas plataformas foram selecionadas por sua abrangência e credibilidade no campo da saúde, possibilitando acesso a pesquisas de diferentes contextos nacionais e internacionais. Além de artigos revisados por pares, também foram considerados documentos de instituições reguladoras de referência, como o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS), com a finalidade de garantir a atualização e a confiabilidade das informações utilizadas (SATO; HOSTIM; BRANDÃO, 2024; ALMEIDA LIMA; PINHEIRO, 2025).

Foram estabelecidos critérios de inclusão e exclusão para assegurar a relevância da amostra selecionada. Foram incluídas publicações disponíveis nos idiomas português, inglês e espanhol, publicadas entre os anos de 2014 e 2025, que abordassem especificamente o manejo da dor em pacientes pediátricos com câncer e destacassem a atuação da enfermagem por meio de intervenções farmacológicas ou não farmacológicas. Excluíram-se artigos duplicados, resumos sem acesso ao texto completo, editoriais, publicações de opinião e trabalhos que não apresentassem relação direta com a temática proposta. Esses critérios visaram delimitar o corpus de análise e assegurar a pertinência metodológica dos estudos avaliados (SANTOS; MARANHÃO, 2016; SILVA et al., 2018).

A estratégia de busca foi realizada a partir da utilização de descritores controlados nos vocabulários DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e MeSH (Medical Subject Headings), de modo a garantir padronização. Os principais termos empregados foram: “Dor”, “Oncologia pediátrica”, “Criança” e “Enfermagem”, combinados por meio dos operadores booleanos AND e OR. Essa mesma estratégia tem sido utilizada em revisões anteriores relacionadas ao tema, assegurando maior precisão na recuperação dos estudos relevantes (PRATES et al., 2018; SANT’ANA et al., 2025).

O processo de seleção dos materiais ocorreu em três etapas sequenciais. Na primeira, realizou-se a identificação inicial de artigos a partir das buscas nas bases de dados, com a coleta de títulos e resumos. Em seguida, procedeu-se à triagem por títulos e resumos, excluindo-se publicações sem relação direta com a temática central. Por fim, ocorreu a leitura na íntegra dos estudos elegíveis, seguida de categorização dos resultados de acordo com sua relevância para os objetivos do estudo. Esse processo permitiu filtrar os materiais mais consistentes e diretamente relacionados à questão investigada.

Após a seleção, os estudos foram organizados em eixos temáticos analíticos, que contemplaram: (i) os tipos de dor em pacientes oncológicos pediátricos, (ii) protocolos de avaliação e tratamento utilizados, (iii) intervenções farmacológicas e não farmacológicas realizadas pela enfermagem e (iv) impactos das ações assistenciais na qualidade de vida das crianças. Essa categorização favoreceu a construção de um quadro teórico estruturado, que serviu de base para a análise dos achados e para a formulação de reflexões aplicáveis à prática profissional da enfermagem em oncologia pediátrica.

4.  RESULTADOS

Foram selecionados artigos que discutem o manejo da dor oncológica em pediatria, com ênfase especial no papel da enfermagem no processo de cuidado. Esses estudos apresentaram diferentes contextos metodológicos, como revisões bibliográficas, revisões integrativas e pesquisas qualitativas, o que possibilitou uma visão abrangente sobre as práticas de enfermagem voltadas para o controle da dor em crianças com câncer. Essa diversidade de delineamentos contribuiu para a compreensão tanto das evidências científicas disponíveis quanto das experiências práticas vivenciadas no cotidiano assistencial.

Apesar das diferenças metodológicas e de enfoque, os trabalhos convergem ao destacar a relevância da enfermagem como protagonista no manejo da dor oncológica pediátrica. A literatura demonstra que o enfermeiro é o profissional mais próximo da criança e da família, estando diretamente envolvido na avaliação da dor, na implementação de intervenções e no acompanhamento contínuo da resposta do paciente às estratégias utilizadas.

Entre as práticas mais evidenciadas nos estudos, destacam-se as intervenções farmacológicas, como a administração de analgésicos e opioides, fundamentais para garantir o alívio do sofrimento físico. Entretanto, observou-se também a crescente valorização de estratégias não farmacológicas, a exemplo da musicoterapia, da brinquedoterapia e de outras atividades lúdicas, que contribuem para a redução da dor e para o fortalecimento do vínculo afetivo entre criança, família e equipe de saúde.

Além disso, os artigos ressaltam a importância da comunicação e do apoio emocional como elementos indispensáveis no manejo da dor. A enfermagem, por estar em contato direto e frequente com o paciente pediátrico, assume papel de mediadora no relacionamento entre a criança, seus familiares e os demais membros da equipe multiprofissional. Essa função de acolhimento e escuta ativa é essencial para minimizar a ansiedade e proporcionar maior segurança durante o processo de tratamento oncológico.

De modo geral, os estudos analisados apontam que, independentemente da abordagem escolhida, a atuação da enfermagem é considerada indispensável para a promoção de um cuidado integral, humanizado e baseado em evidências, capaz de impactar de forma positiva a qualidade de vida das crianças com câncer e de seus familiares.

Tabela 1: Síntese dos estudos incluídos na revisão.

Autor/AnoLocalAmostraIntervenções/Cuidados de EnfermagemPrincipais Resultados
Silva et al. (2018)Brasil21 profissionais de saúdeGerenciamento do cuidado de enfermagem à criança hospitalizada com dor crônicaDestaca a complexidade do cuidado e a necessidade de planejamento multiprofissional que considere aspectos biopsicossociais.
Santos e Maranhão (2016)BrasilRevisão bibliográficaAvaliação da dor em crianças hospitalizadas; uso de escalas; dificuldades da equipeIdentificou falhas na valorização e registro da dor, destacando necessidade de capacitação profissional.
Prates et al. (2018)BrasilRevisão de 26 artigosEscalas de dor pediátricas (EVA, comportamentais, questionários)Escalas são instrumentos essenciais, mas ainda subutilizadas; enfermeiros têm papel central na mensuração da dor.
Reis et al. (2014)Brasil15 entrevistas com enfermeirosRelações estabelecidas no cuidado paliativo pediátricoEvidência importância do vínculo entre equipe, criança e família no enfrentamento da dor e sofrimento.
Costa e Ceolim (2010)BrasilRevisão integrativaCuidados paliativos à criança com câncerPapel central da enfermagem no manejo da dor, apoio à família e cuidado integral.
Sato; Hostim; Brandão (2024)BrasilRevisão narrativa (9 artigos)Cuidados de enfermagem em oncologia pediátrica; estratégias lúdicas (musicoterapia, brinquedoterapia)Técnicas não farmacológicas favorecem interação, afeto e redução da dor.
Almeida Lima; Pinheiro (2025)BrasilRevisão integrativa (7 artigos)Estratégias de enfermagem no manejo da dor crônicaEnfermeiros utilizam avaliação sistemática, escuta qualificada e terapias integrativas.
Sant’Ana et al. (2025)BrasilRevisão narrativaManejo da dor em cuidados paliativos oncológicosReforça importância de intervenções farmacológicas seguras e suporte emocional.

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de Silva et al. (2018); Santos e Maranhão (2016); Prates et al. (2018); Reis et al. (2014); Costa e Ceolim (2010); Sato, Hostim e Brandão (2024); Almeida Lima e Pinheiro (2025); Sant’Ana et al. (2025).

4.1  Análise qualitativa dos achados

A análise dos estudos possibilitou a identificação de alguns temas centrais, que se repetem na literatura e reforçam os principais desafios e contribuições da enfermagem no manejo da dor oncológica pediátrica.

O primeiro tema refere-se à avaliação da dor, reconhecida como uma etapa fundamental para direcionar a escolha das estratégias terapêuticas. A literatura evidencia que o uso de escalas específicas para crianças é indispensável para garantir a mensuração adequada da intensidade e das características da dor (PRATES et al., 2018). Contudo, apesar da existência de instrumentos validados, observa-se que sua aplicação ainda é limitada e pouco padronizada na prática clínica, o que pode comprometer a continuidade do cuidado e o registro adequado das informações (SANTOS; MARANHÃO, 2016).

Outro ponto recorrente nos estudos é o uso de intervenções farmacológicas, especialmente a administração de analgésicos e opioides. Esses medicamentos constituem a base do tratamento da dor oncológica, garantindo alívio rápido e efetivo. Entretanto, autores ressaltam que ainda existem desafios importantes nesse processo, como os efeitos adversos associados ao uso prolongado, a falta de protocolos uniformes para orientar as condutas e as barreiras institucionais que dificultam o acesso a medicamentos adequados (SANT’ANA et al., 2025).

Em paralelo às intervenções medicamentosas, destaca-se a adoção de estratégias não farmacológicas. Práticas como a brinquedoterapia e a musicoterapia surgem como alternativas eficazes, contribuindo não apenas para o alívio da dor, mas também para o fortalecimento do vínculo entre a criança, a família e a equipe de saúde. Além de promoverem conforto físico, essas estratégias favorecem momentos de interação, afeto e distração, reduzindo a ansiedade e o medo relacionados ao tratamento (SATO; HOSTIM; BRANDÃO, 2024).

Outro achado relevante diz respeito à comunicação e ao apoio emocional, elementos essenciais para um cuidado integral. A relação de confiança estabelecida entre enfermeiros, crianças e familiares desempenha papel decisivo no enfrentamento da dor e do sofrimento. O acolhimento, a escuta ativa e a disponibilidade do enfermeiro ajudam a reduzir a angústia dos familiares e a proporcionar maior segurança para a criança em tratamento (REIS et al., 2014; COSTA; CEOLIM, 2010). Assim, a dimensão relacional do cuidado aparece como um dos pilares da assistência em oncologia pediátrica.

Por fim, a análise também revelou a necessidade de capacitação contínua da equipe de enfermagem. Muitos profissionais relatam dificuldades em reconhecer, avaliar e registrar adequadamente a dor em crianças, especialmente pela complexidade da comunicação nessa faixa etária. A ausência de treinamentos específicos, associada à sobrecarga de trabalho e à carência de protocolos assistenciais, configura-se como um obstáculo recorrente à qualidade do cuidado prestado (SANTOS; MARANHÃO, 2016; SILVA et al., 2018). Nesse sentido, os estudos reforçam que investir na formação inicial e permanente dos enfermeiros é essencial para aprimorar as práticas de manejo da dor oncológica pediátrica.

5.  DISCUSSÃO

Os achados desta revisão confirmam que a enfermagem ocupa um papel central no manejo da dor oncológica pediátrica. Essa posição se deve ao contato direto e contínuo que os profissionais estabelecem com a criança e sua família, o que lhes confere maior capacidade de identificar sinais e sintomas relacionados ao sofrimento doloroso. A literatura demonstra que a avaliação sistemática da dor por meio de instrumentos padronizados é essencial para subsidiar condutas clínicas seguras e individualizadas. Prates et al. (2018) destacam, por exemplo, que as escalas visuais analógicas (EVA) e outros instrumentos adaptados para a faixa etária pediátrica são ferramentas indispensáveis na prática clínica. Entretanto, como ressaltam Santos e Maranhão (2016), ainda existe subutilização dessas escalas, associada à ausência de registros adequados e à sobrecarga de trabalho da equipe de enfermagem, o que compromete a continuidade do cuidado.

No que diz respeito às estratégias de manejo, observa-se que a prática da enfermagem vai além do uso de fármacos, abrangendo também terapias complementares que valorizam o aspecto lúdico e afetivo do cuidado. Sato, Hostim e Brandão (2024) descrevem a aplicação de intervenções como a brinquedoterapia e a musicoterapia, que contribuem para a redução da dor e promovem bem-estar emocional, favorecendo a criação de vínculos positivos com a equipe. De forma semelhante, Almeida Lima e Pinheiro (2025) apontam que a escuta atenta, a atenção individualizada e o uso de práticas integrativas constituem recursos eficazes para o controle da dor crônica em pacientes pediátricos. Esses achados sugerem que a combinação de intervenções farmacológicas e não farmacológicas potencializa a resolutividade do cuidado, aproximando-o de um modelo integral e humanizado.

Entretanto, em determinadas regiões do Brasil, sobretudo na Amazônia, a implementação dessas práticas enfrenta barreiras significativas. A literatura destaca que a escassez de recursos materiais e a dificuldade de acesso a medicamentos, somadas aos desafios logísticos relacionados às grandes distâncias e à carência de serviços especializados, comprometem a oferta de um cuidado sistemático (Reis et al., 2014; Costa; Ceolim, 2010). Além disso, fatores culturais influenciam tanto a percepção da dor quanto a adesão ao tratamento, exigindo dos enfermeiros sensibilidade cultural e capacidade de adaptar suas intervenções às especificidades locais (Silva et al., 2018). Essas dificuldades refletem desigualdades regionais que, como aponta a Organização Mundial da Saúde (2020), representam um obstáculo global para o acesso equitativo ao tratamento oncológico e ao alívio da dor.

Outro ponto que merece destaque é a relevância do cuidado humanizado e da abordagem multiprofissional. Reis et al. (2014) evidenciam que a criação de vínculos entre enfermeiros, crianças e familiares é fundamental para reduzir o sofrimento, favorecendo a confiança no processo terapêutico. O cuidado humanizado, nesse contexto, não se restringe ao controle da dor física, mas se estende à dimensão emocional e social do paciente pediátrico. Além disso, os estudos revisados convergem na defesa de uma atuação multiprofissional, em que médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e assistentes sociais compartilham responsabilidades e saberes. Essa integração é considerada indispensável para o enfrentamento de uma condição complexa como o câncer, que atinge a criança em suas dimensões biológica, psicológica, social e espiritual (Sant’Ana et al., 2025; Costa; Ceolim, 2010).

A análise também revelou lacunas importantes na formação e na capacitação continuada dos enfermeiros. Santos e Maranhão (2016) ressaltam que muitos profissionais não recebem treinamento adequado para reconhecer e registrar a dor em crianças, o que compromete tanto o diagnóstico quanto o direcionamento terapêutico. De forma convergente, Silva et al. (2018) apontam que a ausência de protocolos claros e a sobrecarga da equipe dificultam o gerenciamento eficiente da dor. Nesse sentido, torna-se urgente investir em programas de educação permanente que incluam o uso de escalas de avaliação pediátrica, a administração segura de opioides e a incorporação de terapias integrativas como parte do cuidado. Além disso, inserir conteúdos relacionados ao manejo da dor oncológica nos currículos de graduação e pós-graduação em enfermagem é fundamental para alinhar a formação às demandas reais da assistência.

Em termos de convergências, a maior parte dos estudos reconhece a dor oncológica pediátrica como um fenômeno multifatorial, que exige abordagem integrada e humanizada. Enquanto alguns autores enfatizam a persistência de barreiras estruturais e a subnotificação da dor (Santos; Maranhão, 2016; Silva et al., 2018), outros ressaltam avanços importantes, sobretudo no uso de terapias lúdicas e integrativas (Sato; Hostim; Brandão, 2024; Almeida Lima; Pinheiro, 2025). Essa diversidade de perspectivas revela tanto progressos quanto fragilidades, sugerindo que, embora a enfermagem disponha de estratégias eficazes, sua plena implementação depende de políticas públicas robustas, protocolos assistenciais padronizados e melhores condições de trabalho para os profissionais.

6.  CONCLUSÃO

O manejo da dor em pacientes com câncer pediátrico representa um dos maiores desafios enfrentados pela enfermagem, exigindo não apenas competência técnica, mas também sensibilidade, empatia e uma visão integral do paciente. A dor oncológica, considerada um dos sintomas mais debilitantes da doença, impacta profundamente não apenas a dimensão física, mas também a emocional, social e psicológica da criança e de sua família. Nesse contexto, a atuação da enfermagem torna-se indispensável, visto que o enfermeiro está na linha de frente da assistência, desempenhando funções de avaliação, monitoramento, intervenção e acolhimento, sempre com foco na melhoria da qualidade de vida do paciente.

A revisão realizada evidenciou que os enfermeiros enfrentam obstáculos que vão desde a dificuldade na avaliação precisa da dor até barreiras institucionais e limitações na execução de estratégias terapêuticas eficazes. A ausência de protocolos padronizados, a escassez de recursos materiais e humanos, bem como as lacunas na formação acadêmica e na capacitação contínua, foram apontados como entraves recorrentes na prática assistencial (SANTOS; MARANHÃO, 2016; SILVA et al., 2018). Além disso, problemas relacionados à adesão ao tratamento analgésico, tanto por questões estruturais quanto culturais, reforçam a complexidade do tema.

Apesar dessas dificuldades, o cenário mostra-se encorajador diante dos avanços científicos, do desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas e da crescente valorização do cuidado multiprofissional e paliativo. Estudos recentes destacam que a integração entre métodos farmacológicos e não farmacológicos, como musicoterapia e brinquedoterapia, contribui de forma significativa para a redução da dor e para o fortalecimento do vínculo entre criança, família e equipe de saúde (SATO; HOSTIM; BRANDÃO, 2024; ALMEIDA LIMA; PINHEIRO, 2025). Além disso, a perspectiva interdisciplinar possibilita uma abordagem mais ampla, que contempla não apenas os aspectos clínicos da dor, mas também suas implicações emocionais e sociais.

Para que a enfermagem cumpra plenamente seu papel nesse processo, torna-se essencial investir na capacitação contínua dos profissionais. O uso de escalas padronizadas de avaliação da dor, a implementação de protocolos de analgesia multimodal e a incorporação de estratégias complementares são medidas que fortalecem a prática baseada em evidências. Do mesmo modo, a inclusão de conteúdos relacionados ao manejo da dor pediátrica nos currículos de graduação e pós-graduação em enfermagem pode contribuir para a formação de profissionais mais preparados para atuar em contextos complexos e desafiadores.

Por fim, esta pesquisa reforça a importância de políticas públicas que assegurem o acesso a medicamentos, tecnologias e recursos necessários ao tratamento da dor em oncologia pediátrica. A efetivação dessas políticas, somada ao comprometimento dos profissionais de saúde e ao desenvolvimento de novas práticas assistenciais, tem o potencial de transformar a realidade do cuidado, promovendo dignidade, conforto e bem-estar às crianças que enfrentam o câncer. Assim, conclui-se que a atuação especializada, humanizada e fundamentada em evidências da enfermagem é determinante para o avanço do manejo da dor oncológica pediátrica e para a melhoria da qualidade de vida desses pacientes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA LIMA, Lindalva do Nascimento; PINHEIRO, Edvaldo Silva. Cuidados de enfermagem a pacientes com dor crônica oncológica: uma abordagem centrada na prática assistencial. Ciências da Saúde, v. 29, ed. 145, p. 1-20, 2025.

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GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

PRATES, Elton Junio Sady et al. Escalas de dor em pacientes oncológicos pediátricos: uma revisão de literatura. Revista Eixos Tech, v. 5, n. 2, p. 1-14, 2018.

REIS, Thamiza L. da Rosa dos et al. Relações estabelecidas pelos profissionais de enfermagem no cuidado às crianças com doença oncológica avançada. Aquichan, v. 14, n. 4, p. 496-508, 2014.

SANT’ANA, Francinara Ester de Oliveira et al. Revisão narrativa sobre o manejo da dor oncológica em cuidados paliativos: contribuições da enfermagem. Ciências da Saúde, v. 29, ed. 147, p. 1-19, 2025.

SANTOS, Jerusa Pereira; MARANHÃO, Damaris Gomes. Cuidado de enfermagem e manejo da dor em crianças hospitalizadas: pesquisa bibliográfica. Revista da Sociedade Brasileira de Enfermagem Pediátrica, v. 16, n. 1, p. 44-50, 2016.

SATO, Gabriella Himauary; HOSTIM, Isabella Lopes; BRANDÃO, Marlise Lima. Manejo da dor oncológica: cuidados de enfermagem. Anais do EVINCI UniBrasil, v. 10, n. 2, p. 519-530, 2024.

SILVA, Thiago Privado da et al. Aspectos contextuais sobre o gerenciamento do cuidado de enfermagem à criança com dor oncológica crônica. Texto & Contexto Enfermagem, v. 27, n. 3, e3400017, 2018.


1 Graduanda em Enfermagem, Centro Universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN, Polo Itacoatiara-AM. UL: 22115480. E-mail de contato: regianecrysthian01@gmail.com
2 Graduanda em Enfermagem, Centro Universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN, Polo Itacoatiara-AM. UL: 22104079.
3
Graduanda em Enfermagem, Centro Universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN, Polo Itacoatiara-AM. UL: 22102905.
4 Graduando em Enfermagem, Centro Universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN, Polo Itacoatiara-AM. UL: 22108288.
5 Graduanda em Enfermagem, Centro Universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN, Polo Itacoatiara-AM. UL: 22114833.
6 Professora Orientadora. Centro Universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN, Polo Itacoatiara-AM.
7 Enfermeira. Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) Enfermeira Rachel Fonseca de Castro e Costa. Itacoatiara-AM. Coorientadora.