VASCULAR CATHETER CARE IN NEWBORNS IN THE ICU: AN INVESTIGATION USING THE MAGUEREZ ARC METHODOLOGY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202511220635
Maria Tereza Gomes Lima1
Elaine Ferreira Siqueira2
Ana Paula Ferreira Do Amaral3
Geovana Muniz Kisnner4
RESUMO
O cateterismo venoso em recém-nascidos é uma prática comum nas UTIN, sendo essencial para a administração de medicamentos e nutrientes. No entanto, a má manipulação dos cateteres pode levar a complicações, como infecções da corrente sanguínea. Dessa forma, faz-se necessário adotar estratégias eficazes de prevenção e manejo. O estudo tem como objetivo investigar as estratégias de cuidados com cateteres vasculares em recém-nascidos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, utilizando a Metodologia do Arco de Maguerez, que é um método ativo de aprendizagem, centrado na solução de problemas da prática profissional. O estudo parte da observação da realidade, identificação de pontos críticos, e construção de propostas de intervenção para melhorar os cuidados com cateteres. Foram realizadas orientações com a equipe de enfermagem, focando na higienização das mãos e cuidado na manipulação dos cateteres para prevenir infecções. Os resultados esperados incluem a sensibilização da equipe de saúde sobre a importância do manejo adequado dos cateteres vasculares e a redução das taxas de infecção associadas a esses dispositivos. Conclui-se que a aplicação de estratégias preventivas, aliada ao uso da Metodologia do Arco de Maguerez, pode contribuir para a melhoria da qualidade assistencial e segurança dos recém-nascidos nas UTIN.
Palavras-chaves: UTI-neonatal. Cateter venoso central. Infecção. PICC. Enfermagem.
ABSTRACT
Venous catheterization in newborns is a common practice in ICUs and is essential for the administration of medications and nutrients. However, improper handling of catheters can lead to complications, such as bloodstream infections. Therefore, it is necessary to adopt effective prevention and management strategies. The study aims to investigate the nurse care strategies for vascular catheters in newborns admitted to neonatal intensive care units (ICUs). The research is based on the Maguerez Arc Methodology, which is an active learning method focused on solving problems in professional practice. The study starts from the observation of reality, identification of critical points, and construction of intervention proposals to improve catheter care. Guidance was provided to the nursing team, focusing on hand hygiene and careful handling of catheters to prevent infections. The expected results include raising awareness among the health team about the importance of proper management of vascular catheters and reducing infection rates associated with these devices. It is concluded that the application of preventive strategies, combined with the use of the Maguerez Arc Methodology, can contribute to improving the quality of care and safety of newborns in neonatal ICUs.
Keywords: Neonatal ICU. Central venous catheter. Infection. PICC line. Nursing.
1 INTRODUÇÃO
A inserção e a manutenção de cateteres centrais em recém-nascidos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) representam uma prática comum, mas extremamente delicada no atendimento neonatal. Esses dispositivos são essenciais para a eficácia do tratamento, pois através deles é realizada a administração de medicamentos, fluidos e nutrição parenteral, fornecendo suporte vital a uma população que, por sua natureza, é altamente vulnerável, pacientes internados em UTIs, UCI (Unidade de Cuidados Intensivos) e até mesmo em ALCON (Alojamento Conjunto). Contudo, o manejo inadequado desses cateteres pode resultar em complicações graves, como infecções, que comprometem a saúde e a recuperação dos recém-nascidos. Nesse contexto, destaca-se a importância do cuidado de enfermagem, voltado para a prevenção de complicações relacionadas ao rompimento da barreira cutânea, conforme preconizado pelos diagnósticos de enfermagem do NANDA-I.1
A atuação dos profissionais de enfermagem é fundamental para assegurar a segurança e a eficácia na utilização desses dispositivos. Devem ser adotadas estratégias de cuidado rigorosas, que visem a minimizar os riscos e a promover os melhores resultados clínicos. Higienização das mãos, o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), a desinfecção de conectores e o monitoramento contínuo do local de inserção, são práticas essenciais que devem ser realizadas corretamente pelos profissionais de saúde.2
Este trabalho propõe-se a investigar as estratégias de cuidado que os profissionais de enfermagem utilizam no manuseio de cateteres centrais em recém-nascidos internados em UTI. A análise detalhada buscará não apenas identificar as práticas em uso, mas também as lacunas existentes que podem pôr em risco a segurança do paciente. A partir dessa investigação, será possível discutir a relevância da formação contínua e da implementação de protocolos padronizados, além de enfatizar a importância de uma comunicação eficaz entre as equipes de saúde.
A importância deste estudo reside na necessidade urgente de promover a segurança do paciente em ambientes críticos. Esse esforço é vital para cultivar uma cultura de cuidado que priorize a prevenção de infecções e a melhoria da qualidade do atendimento aos recém-nascidos. Através desta pesquisa, almeja-se oferecer subsídios que contribuam para o aprimoramento das práticas de enfermagem, beneficiando assim a saúde e o bem-estar dos pacientes neonatais em terapia intensiva.
Além disso, é fundamental reconhecer que o contexto em que esses cuidados são prestados é dinâmico e exige adaptação constante. A integração de novas tecnologias, o desenvolvimento de diretrizes atualizadas e a realização de auditorias periódicas podem reforçar a prática de cuidados seguros. Portanto, este trabalho não apenas aborda os desafios atuais, mas também propõe um olhar para o futuro, visando uma evolução contínua na qualidade dos cuidados prestados em UTIs neonatais
2 MÉTODOS
2.1 Tipo de estudo
Trata-se de um estudo qualitativo, no formato de relato de experiência, o qual tem por objetivo descrever e refletir sobre as estratégias de cuidados com cateteres vasculares em recém-nascidos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) neonatal com a utilização do Arco de Maguerez.
O cenário da experiência foi a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, localizada em Porto Velho, Rondônia. Participaram da vivência profissionais de enfermagem, incluindo enfermeiros e técnicos, diretamente envolvidos no cuidado aos recém-nascidos com cateteres vasculares.
O estudo possui embasamento teórico nos pressupostos da educação problematizadora de Charles Maguerez, sistematizados por Berbel3, a qual é descrita em cinco passos, quais sejam: 1) Observação da realidade; 2) Pontos-Chave; 3) Teorização; 4) Formulação de hipóteses de solução e 5) Aplicação à realidade, conforme figura abaixo:
Figura 1: Explicação do Arco de maguerez

Fonte: Acervo dos autores, 2020.
Esta metodologia é recuperada e aperfeiçoada, no Brasil, por Bordenave e Pereira4, em 1982, tendo sofrido novas modificações por mais duas vezes, ajustando-se à pedagogia de resolução de problemas e à de Paulo Freire.
Atualmente é mais utilizada em situações acadêmicas, com alunos dos diferentes níveis de escolaridade (sem problemas de língua e sabendo ler e escrever), em qualquer unidade curricular. Embora a pesquisa de informação em bibliotecas e na internet seja usada para a aquisição de conhecimentos sobre a situação problemática, dá-se preferência às opiniões, raciocínios e experiência empírica dos alunos.4
A primeira etapa, trata-se da observação da realidade e definição do problema, no registo de todas as informações sobre o contexto ambiental, partindo do conhecimento pessoal que cada um dos alunos tem desta realidade. Se necessário, podem-se incluir atividades práticas de observação ou de entrevistas com pessoas que vivem e trabalham naquele contexto populacional ou escolar, para se obter mais informações e opiniões.4
Na segunda etapa, define-se o que é mais importante no assunto em estudo e as variáveis determinantes da situação. É o momento de sentir os aspectos que precisam ser conhecidos e mais bem compreendidos, visto que a definição dos pontos-chave leva a discussões, que contribuem para reflexões sobre o tema em questão.4
Na terceira etapa procede-se à análise teórica sobre o problema, naquele contexto, com as implicações na vida real. É a aquisição de um suporte teórico-científico que faça a ponte entre o conhecimento empírico e a realidade. A relação teoria–prática é uma constante, ocorrendo, nesse percurso, uma dinâmica de ação-reflexão-ação, caracterizando-se esta última como uma ação criativa e transformadora. O percurso é percebido como uma forma de exercitar a práxis, entendida como uma prática consciente, refletida, informada e intencionalmente transformadora.3
A quarta etapa do Arco de Charles Maguerez consiste na elaboração de alternativas viáveis para solucionar os problemas identificados, de modo crítico e criativo, a partir do confronto entre a teoria e a realidade. São elaboradas hipóteses de solução e, dentre elas, serão escolhidas aquelas que serão colocadas em prática na parcela da realidade da qual se extraiu o problema de estudo. Desse modo, todo o estudo ganha sentido, já que servirá para analisar qual a melhor hipótese de solução para o problema.3
Já na quinta e última etapa, os alunos refletem sobre a aplicabilidade à realidade de cada uma das soluções encontradas, colocando de lado as menos propícias e escolhendo as melhores.3 O estudo em questão apresenta dados importantes sobre a formação e as práticas de controle de infecções entre os profissionais de saúde, revelando áreas que demandam atenção e intervenção.
2.2. Procedimentos
Inicialmente, foram observadas as práticas cotidianas de inserção, manutenção e manipulação dos cateteres, bem como os desafios relacionados à adesão à higienização das mãos. Em seguida, identificaram-se os principais problemas que comprometiam a segurança dos recém-nascidos, destacando-se falhas no processo de desinfecção dos conectores.
Como parte da etapa de observação, também foi utilizado um questionário diagnóstico com a equipe de enfermagem, com o objetivo de identificar percepções e práticas relacionadas ao uso de cateteres venosos e à adesão às medidas de prevenção de infecção.
Na etapa de teorização, buscou-se embasamento científico em referenciais da literatura e protocolos de boas práticas em terapia intravenosa, o que fundamentou a discussão sobre a técnica “Scrub the Hub”, voltada para a fricção e antissepsia dos conectores antes de cada manipulação. A partir desse referencial, foram elaboradas hipóteses de intervenção voltadas à educação permanente da equipe e à padronização dos cuidados.
A aplicação à realidade consistiu na socialização dessas reflexões com os profissionais participantes, por meio de momentos educativos, estimulando o pensamento crítico e o comprometimento com a segurança do paciente neonatal. Os resultados do relato são apresentados sob a forma de reflexões e percepções da equipe quanto à importância da prática segura e da corresponsabilidade no controle de infecções relacionadas a cateteres.
Quanto aos aspectos éticos, a experiência seguiu os preceitos da Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde5, respeitando o anonimato dos profissionais envolvidos e assegurando o uso das informações exclusivamente para fins acadêmicos e de aprimoramento das práticas de cuidado.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Identificação da realidade
Recentemente passei visita técnica na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), no Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, Porto Velho, Rondônia. Nesse hospital de referência, há 26 leitos destinados ao atendimento de recém-nascidos desde as primeiras horas de vida até 29 dias. A unidade dispõe de estrutura adequada para o cuidado intensivo neonatal, com leitos equipados com monitores hemodinâmicos, incubadoras aquecidas, bombas de infusão e insumos básicos à beira-leito. Contudo, observou-se que, apesar da infraestrutura física satisfatória, há limitações no dimensionamento profissional da equipe de enfermagem, o que pode impactar a adesão às práticas de prevenção de infecção.
Todos os pacientes internados fazem uso de terapias intravenosas para administração de medicamentos, nutrição e fluidos, o que requer cuidados rigorosos com os dispositivos de acesso vascular. Ademais a UTIN é próxima do Centro Obstétrico, berçário e canguru, maternidade e alojamento conjunto e a equipe multiprofissional é composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, fonoaudióloga, nutricionista, psicóloga e assistente social.
Durante a vivência profissional, observou-se a ocorrência recorrente de infecções relacionadas a cateteres venosos, evidenciando um desafio assistencial de grande relevância para a segurança do paciente neonatal. A identificação dessa realidade emergiu do cotidiano da equipe de enfermagem, que vivenciava situações de risco associadas ao manejo inadequado dos cateteres e à adesão parcial às medidas de prevenção, como a higienização das mãos e a falta de antissepsia dos cateteres com clorexidina alcoólica 5 % ou 2% e álcool a 70%, no momento das administrações das medicações.
Cabe ressaltar que a unidade dispõe de um Procedimento Operacional Padrão (POP) criado em 2018 e atualizado em 2020, elaborado com base no modelo adotado pelo Hospital Universitário Federal vinculado à EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Entretanto, observou-se que parte da equipe técnica apresenta resistência em seguir integralmente o protocolo, o que reforça a importância de ações educativas e estratégias de sensibilização.
Estudos nacionais evidenciam a gravidade e a frequência desse agravo em contextos neonatais. De acordo com levantamentos realizados em hospitais vinculados à EBSERH e registros da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), as infecções de corrente sanguínea associadas a cateteres estão entre as principais causas de morbimortalidade em recém-nascidos internados em UTIs, representando risco significativo à continuidade do cuidado e ao prognóstico clínico.6 E em razão disso, a equipe de enfermagem possui uma grande importância na prevenção de infecções e manutenção dos dispositivos. Por isso a necessidade de o enfermeiro fazer orientações e observar os cuidados com os cateteres dos dispositivos venoso central, como cateter central de inserção periférica (PICC), CVC de curta duração (introduzidos por punção guiada ou direta de uma veia central), CVC semi-implantados (tunelizados) e os CVC totalmente implantados.7
Considerando essa realidade, surgiu os questionamentos sobre quais as estratégias de cuidado adotadas pelos profissionais de enfermagem no manuseio dos cateteres centrais em recém-nascidos internados em Unidade de Terapia Intensiva neonatal e quais as maneiras de intervir de forma educativa e preventiva na realidade apresentada.
3.2 Pontos-chaves
Considerando a necessidade de aprofundar os estudos a respeito da situação problema identificada, surgiu a sistematização de questionamentos capazes de balizar o entendimento do referido processo e para tal, foram elaborados os seguintes questionamentos:
- Quais as ações realizadas pela equipe de saúde na manipulação dos cateteres vasculares?
- Quais medidas de controle de infecção relacionadas a cateteres vasculares com a finalidade de substituir a prática dos profissionais de enfermagem.
3.3 Teorização
Os dispositivos intravasculares ampliaram sua utilização aos longos dos anos, servindo para administração de fluidos, medicamentos, produtos sanguíneos, nutrição parenteral, monitorização hemodinâmica e hemodiálise. Durante a inserção destes dispositivos, há ruptura da barreira da pele, tornando o organismo suscetível a infecções por bactérias e fungos. Portanto essas infecções podem acometer a corrente sanguínea e consequentemente, desencadear resposta inflamatória sistêmica que pode se traduzir como alterações hemodinâmicas ou disfunções orgânicas.8, 9
A equipe de saúde segue um protocolo rigoroso de prevenção de infecções, que inclui a antissepsia com clorexidina e o uso de barreiras estéreis completas, como luvas, avental, máscara e campo cirúrgico. Esses procedimentos são essenciais para garantir a técnica estéril ao longo de todo o processo. Entre as medidas preventivas mais destacadas estão o manuseio correto dos conectores sem agulha e a manutenção da permeabilidade do cateter, assegurada por meio de turbilhonamento. Esses cuidados são fundamentais para minimizar o risco de contaminação e proporcionar segurança ao recém-nascido.10 Além disso, o manejo adequado dos cateteres vasculares, especialmente em neonatos, é uma prática crucial para reduzir infecções e promover melhores desfechos clínicos.
Segundo Mena11, a incidência de infecção da corrente sanguínea associada ao uso de cateteres vasculares é monitorada principalmente por meio de hemoculturas positivas, especialmente em pacientes que manifestam febre ou outros sinais clínicos de infecção. Esse acompanhamento também envolve a análise de taxas de infecção por mil cateteres-dia, o que possibilita uma avaliação precisa dos riscos relacionados ao uso prolongado de cateter central. O monitoramento constante permite a detecção precoce de infecções e facilita a implementação de intervenções rápidas, diminuindo complicações e aumentando a segurança do paciente.
O Bundle de prevenção de infecções relacionadas ao cateter venoso central (CVC), reúne práticas essenciais, como a higienização das mãos antes e depois da manipulação do dispositivo, o uso de antissépticos como a clorexidina e a troca adequada e regular de curativos estéreis. Além disso, um aspecto crucial é a avaliação contínua da necessidade do cateter. A remoção precoce de cateteres vasculares quando clinicamente viável, é incentivada como uma estratégia eficaz para reduzir infecções, promovendo um cuidado mais seguro para o paciente.11 Essas medidas são reconhecidas por sua eficácia na diminuição de complicações e na promoção de um ambiente hospitalar mais seguro.
O manejo de cateteres em recém-nascidos internados na UTI exige uma atenção especial, devido à vulnerabilidade dessa população. Estratégias rigorosas são adotadas para prevenir complicações, como infecções e tromboses. Conforme Martinho13, a higienização correta das mãos e o uso de técnicas estéreis tanto na inserção quanto na manipulação dos cateteres são cruciais para reduzir o risco de infecções da corrente sanguínea. Além disso, destaca-se a importância do monitoramento contínuo do local de inserção e da troca frequente de curativos, utilizando materiais transparentes que permitem a observação constante da área.
O Ministério da Saúde14 ressalta a importância em relação aos recursos humanos, em manter proporção adequada entre os membros da equipe e o número de crianças assistidas, salienta a necessidade de treinamento dos profissionais. É fundamental a equipe multidisciplinar ser treinada para a realização de todos os procedimentos invasivos utilizando técnica adequada.
A infecção por cateter venoso central (CVC) é uma das complicações mais temidas e frequentes em unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN). Estas infecções estão associadas a altas taxas de morbidade e mortalidade em recém-nascidos (RNs), exigindo estratégias de prevenção e controle extremamente rigorosas. A infecção da corrente sanguínea associada a cateteres (CRBSI) ocorre quando microrganismos entram na corrente sanguínea através do cateter, frequentemente devido a falhas no processo de inserção, manutenção ou manipulação do dispositivo. Dado o risco elevado, as estratégias de cuidado adotadas pelos profissionais de enfermagem desempenham um papel crucial na minimização dessas infecções.15
A integração de estratégias preventivas robustas oferece várias vantagens, incluindo a redução das taxas de infecção, diminuição da morbidade e mortalidade neonatal, e melhoria geral nos resultados clínicos dos recém-nascidos. A prevenção de infecções também contribui para a redução dos custos hospitalares associados a tratamentos prolongados e complicações infecciosas.16
As infecções por cateteres centrais em recém-nascidos têm um impacto significativo na saúde a longo prazo e no desenvolvimento dos pacientes. Infecções graves podem levar a complicações como sepse, trombose, abscessos e falência de múltiplos órgãos, resultando em estadias prolongadas na UTI e atrasos no desenvolvimento. A adoção de práticas rigorosas de prevenção pode transformar o atendimento aos recém-nascidos, melhorando significativamente a qualidade de vida e os prognósticos a longo prazo. Além disso, a redução das taxas de infecção melhora a confiança dos pais nos cuidados prestados e eleva a reputação da instituição de saúde.15
Knobel17 destaca a importância da capacitação contínua da equipe de enfermagem quanto às melhores práticas no manejo de cateteres. Os autores afirmam que a educação permanente dos profissionais, combinada com a adoção de protocolos padronizados, é fundamental para a redução das complicações relacionadas ao uso de cateteres em neonatos. Além disso, a avaliação regular da necessidade de manter o cateter pode evitar seu uso prolongado desnecessário, diminuindo os riscos à saúde dos recém-nascidos. A formação contínua da equipe, portanto, é uma peça-chave para garantir a qualidade do cuidado neonatal.
3.4 Hipóteses de solução
Uma possível solução para prevenir a taxa de infecção por corrente sanguínea na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) seria a implementação de um programa contínuo de capacitação e sensibilização voltado exclusivamente para a antissepsia de cateteres. Esse programa poderia incluir, além de treinamentos periódicos, a utilização de recursos visuais, destacando passo a passo os procedimentos corretos para a antissepsia. A ideia é que, com uma abordagem prática, visual e de fácil acesso, a equipe técnica possa desenvolver maior segurança e motivação para seguir rigorosamente os padrões de qualidade estabelecidos.
Para implementar as soluções propostas na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e reduzir a taxa de infecção por corrente sanguínea, é essencial adotar uma abordagem integrada e detalhada, que envolva desde o diagnóstico inicial até a capacitação contínua da equipe de saúde. O primeiro passo é a realização de questionário com a equipe técnica para fazer um diagnóstico sobre o conhecimento do assunto discutido, com objetivo de levar os profissionais a uma reflexão sobre as formas possíveis de infecções relacionadas ao uso de cateteres, analisando os protocolos de antissepsia vigentes e o nível de adesão dos profissionais. Essa fase pode incluir uso de questionário com a equipe multidisciplinar. O objetivo é orientar sobre as práticas de higienização dos cateteres e cuidado na manipulação na prática diária e possíveis inconsistências nos processos de higienização dos cateteres.
Com os dados coletados, o próximo passo envolve o planejamento e implementação de um programa de capacitação contínua. Esse programa deve ser focado exclusivamente na correta antissepsia de cateteres e incluir conteúdos atualizados, embasados em diretrizes internacionais de controle de infecção hospitalar, como as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Devem ser realizados, capacitação com orientações sobre quais os cuidados que devem ter com os cateteres vasculares, para que os profissionais possam aplicar os conhecimentos adquiridos em situações do dia a dia. O envolvimento de especialistas em controle de infecção é fundamental para garantir que a capacitação esteja alinhada com as melhores práticas e inovações na área.
Além dos treinamentos, a utilização de materiais educativos visuais, é uma estratégia eficaz para reforçar o aprendizado e fornecer um ponto de referência visual para os profissionais. Esses materiais são utilizados na capacitação com os técnicos de enfermagem. O conteúdo dos vídeos deve ser simples e objetivo, destacando o passo a passo dos procedimentos corretos de antissepsia e enfatizando os riscos de infecção em caso de não conformidade.
Profissionais especializados, devem realizar supervisão e orientações regulares, observando a adesão das técnicas assépticas e identificando possíveis erros. Devem fazer orientações e complementar com feedbacks imediatos e construtivos, permitindo que a equipe seja rapidamente informada sobre possíveis falhas e tenha a oportunidade de corrigi-las em tempo real. Essa estratégia não só promove a melhoria contínua, mas também reforça a cultura de segurança dentro da UTIN.
De forma conjunta, é necessário instituir uma supervisão contínua, com o objetivo de medir a eficácia das intervenções ao longo do tempo. Indicadores como a taxa de infecção por corrente sanguínea, a adesão às boas práticas de segurança do paciente e a redução de eventos adversos devem ser acompanhados de perto. A partir dessas análises, ajustes e melhorias podem ser feitos nos treinamentos, materiais educativos e auditorias, garantindo a sustentabilidade das práticas implementadas e a segurança dos pacientes.
Incentivar as boas práticas de assepsia e cuidados com cateteres centrais, aliados a programas contínuos de capacitação e educação permanente para a equipe de enfermagem, com foco na monitorização rigorosa e padronização do manuseio, visando minimizar os riscos de infecção nos recém-nascidos na UTI.
Para realizar o programa de capacitação foi elaborado um questionário norteador com os técnicos de enfermagem, com 18 questões, para diagnosticar quais são as práticas realizadas nos plantões. Com base nessas perguntas, é possível realizar a capacitação com os técnicos de enfermagem.
3.5 Aplicação à realidade
Após a elaboração do questionário, foi implementado um treinamento intensivo de cinco dias, com o intuito de capacitar os participantes sobre os cuidados críticos no manejo de cateteres vasculares. Cada sessão, com duração de 15 a 20 minutos, utilizou slides como suporte visual e abordou tópicos fundamentais, incluindo a relevância do cuidado e manejo dos cateteres vasculares, ambos cruciais para a prevenção de infecções relacionadas a cateteres. Durante esse período, as instruções foram conduzidas em horários previamente estabelecidos, de modo a garantir que os participantes assimilassem adequadamente os conceitos e pudessem aplicar as técnicas com segurança no dia a dia.
Nos dias 18, 19, 20, 22 e 23 de agosto de 2024, foi realizada uma série de sensibilização e orientações voltadas à equipe sobre as práticas corretas no manuseio de cateteres vasculares, sempre com ênfase na prevenção de infecções de corrente sanguínea associadas a esses dispositivos.
As oficinas ocorreram nos turnos vespertino e noturno, às 16h e às 20h, e envolveram grupos de 4 a 5 pessoas por sessão, totalizando 25 profissionais. Ao longo dessas oficinas práticas, destacou-se a importância de uma abordagem minuciosa na higienização das mãos e cuidado com EPIs no manuseio dos cateteres vasculares e manutenção cateteres com utilizando a técnica assépticas de desinfecção, que se mostrou uma estratégia essencial na redução do risco de infecções. Além disso, foram discutidos outros aspectos preventivos, como a verificação contínua da necessidade do cateter e a prática de troca frequente dos curativos. Essas orientações visam não apenas à prevenção de infecções, mas também à promoção de um ambiente de cuidado seguro e eficiente.
3.5.1. Reflexões a partir dos dados levantados junto à equipe
Durante o processo de reflexão e discussão proposto pela Metodologia do Arco de Maguerez, foram aplicados questionários diagnósticos à equipe de enfermagem, com o objetivo de identificar as práticas relacionadas à inserção e manutenção de cateteres venosos periféricos. Os resultados serviram como subsídio para a análise crítica da realidade e planejamento das intervenções.
Observou-se que a maioria dos respondentes, 76%, é composta por Técnicos de Enfermagem, enquanto apenas 24% são Auxiliares de Enfermagem.
Um dos pontos positivos do estudo é que 100% dos profissionais relataram realizar a higienização das mãos antes da inserção de acesso periférico. A higienização das mãos é uma prática essencial na prevenção de infecções hospitalares, especialmente em unidades de terapia intensiva, onde os pacientes são mais vulneráveis. No entanto, há uma contradição alarmante: apesar da correta higienização das mãos, 88% dos profissionais afirmaram não utilizar luvas durante a inserção de cateteres periféricos. Essa prática representa um alto risco de contaminação, uma vez que as luvas são uma barreira de proteção fundamental em procedimentos invasivos.
A adesão aos cinco momentos de higienização das mãos é igualmente preocupante, pois apenas 76% dos profissionais seguem essas diretrizes. Essa falta de adesão dos 24% indica uma necessidade premente de treinamento e sensibilização sobre a importância dessas etapas para o controle de infecções. Além disso, 8% relataram não utilizar luvas para a inserção de acesso periférico, corroborando a falta de utilização de barreiras de proteção adequadas e aumentando a vulnerabilidade dos pacientes a infecções.
No que diz respeito aos antissépticos utilizados, o álcool a 70% é o produto mais mencionado, utilizado por 64% dos profissionais, seguido pela clorexidina alcoólica a 0,5%, com 32%. Embora o álcool seja amplamente eficaz, a clorexidina é preferida em muitos protocolos hospitalares devido à sua ação residual, que pode proporcionar proteção adicional contra infecções. É fundamental incentivar o uso desse antisséptico, especialmente em recém-nascidos, onde a prevenção de infecções é crucial.
Outro aspecto é que 20% dos profissionais não realizam a desinfecção de conectores ao administrar medicamentos. Essa prática é vital, uma vez que a falta de desinfecção pode resultar em infecções relacionadas ao uso de cateteres, uma das principais causas de infecções em UTIs neonatais. Além disso, 84% dos profissionais utilizam corretamente a técnica de “scrub the hub“, que é essencial para garantir que os conectores estejam livres de contaminantes antes da administração de medicamentos intravenosos.
Esses resultados, embora limitados ao grupo participante, reforçam a necessidade de padronização de protocolos e educação permanente da equipe, pois falhas pontuais nas práticas de controle de infecção, como a não utilização de luvas ou a desinfecção inadequada de conectores, aumentam significativamente o risco de infecções da corrente sanguínea em ambientes críticos como a UTI Neonatal.
4 CONCLUSÕES
A segurança e a eficácia no manejo de cateteres centrais em recém-nascidos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são questões de extrema relevância no contexto da enfermagem neonatal.
A experiência descrita evidenciou a relevância da abordagem educativa voltada à prevenção de infecções relacionadas a cateteres venosos em recém-nascidos, considerando a vulnerabilidade desse público e a complexidade dos cuidados em unidade neonatal. A prática assistencial mostrou que, apesar de algumas práticas satisfatórias, o manejo inadequado dos dispositivos e a ausência de antissepsia adequada ainda representam fatores de risco significativos para o aumento de infecções hospitalares.
A prevenção de infecções, um desafio contínuo nesse ambiente, é fortemente influenciada pela adesão a protocolos rigorosos de higienização, ao uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e à desinfecção eficiente dos conectores.
As informações reunidas neste estudo revelam a necessidade permanente de capacitação técnica e teórica da equipe multiprofissional, em conformidade com as diretrizes de Educação Permanente em Saúde do Ministério da Saúde, que propõem processos contínuos de aprendizagem nos serviços. Essa capacitação deve não apenas incluir práticas estabelecidas, mas também englobar atualizações sobre novas tecnologias e técnicas que possam enriquecer os cuidados oferecidos. A criação e a implementação de protocolos padronizados são essenciais para assegurar uma atuação uniforme entre os profissionais, reduzindo assim as variações que podem impactar a qualidade do atendimento. A ausência de capacitação e atualização periódica está diretamente relacionada ao aumento das taxas de infecção de corrente sanguínea e a eventos adversos evitáveis, tornando indispensável o investimento institucional na formação continuada.
Entre as estratégias recomendadas, destacam-se: a implantação de programas de educação continuada, a realização de treinamentos regulares sobre práticas seguras em terapia intravenosa, e o fortalecimento de parcerias com hospitais de ensino e instituições de referência, que possam oferecer certificações e protocolos padronizados.
Além disso, a comunicação efetiva entre os membros da equipe de saúde é fundamental para garantir uma coordenação adequada dos cuidados e a construção de um ambiente de trabalho colaborativo e seguro. O desenvolvimento de uma cultura de segurança deve ser uma prioridade nas UTIs, onde a complexidade do atendimento neonatal demanda um esforço conjunto e eficaz de todos os envolvidos.
Além de se concentrar na melhoria contínua das práticas de enfermagem, este estudo enfatiza a importância de uma abordagem integrada à saúde neonatal. Isso implica na colaboração com outras áreas, como medicina, fisioterapia e nutrição, para garantir um atendimento holístico que atenda às múltiplas necessidades dos recém-nascidos. A implementação de auditorias regulares e a avaliação de indicadores de qualidade são ações cruciais para monitorar a eficácia das intervenções realizadas.
Como limitação, ressalta-se que o presente relato se baseia em observações locais e não utilizou dados quantitativos primários. Contudo, ao refletir sobre a realidade prática e estimular a análise crítica da equipe, a experiência contribuiu para o fortalecimento da cultura de segurança do paciente, além de evidenciar a urgência de medidas educativas permanentes voltadas à redução das infecções hospitalares associadas a dispositivos invasivos.
Recomenda-se que estudos futuros possam aprofundar a investigação com base em dados epidemiológicos institucionais e avaliar a efetividade das estratégias educativas implementadas, garantindo a continuidade e o aprimoramento das práticas seguras no ambiente neonatal.
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11. MENA, Lizarb Soares et al. Cateter venoso central de inserção periférica em neonatologia: potencialidades e fragilidades na ótica de enfermeiros. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 18, n. 4, 2019.
12. MITTANG, Bruno Tiago et al. Cateter central de inserção periférica em recém-nascidos: fatores de retirada. Rev. baiana enferm, p. e 38387-e 38387, 2020.
13. MARTINHO, Glaucia Helena. Complicações infecciosas associadas ao uso de cateteres venosos centrais em pacientes submetidos a transplante de células-tronco hematopoéticas: incidência, fatores de risco e impacto em desfechos clínicos. 2012.
14. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. 2. ed. atual. – Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2014.
15. ANDRADE, A. et al. Prevenção da Bacteremia associada a Cateter Venoso Central. Rev Port Med Int, v. 17, n. 1, p. 55-9, 2010.
16. FRASCA, Denis; DAHYOT-FIZELIER, Claire; MIMOZ, Olivier. Prevention of central venous catheter-related infection in the intensive care unit. Yearbook of Intensive Care and Emergency Medicine 2010, p. 223-234, 2010.
17. Knobel E. Condutas no paciente grave. 3ª ed. São Paulo: Atheneu; 2006.
ANEXOS







1mategomeslima@gmail.com
Centro Universitário São Lucas Afya
2Elaineboone153@gmail.com
Centro Universitário São Lucas Afya
3amaralanap5@gmail.com
UNIP- Universidade Paulista
4Autor de correspondência:
gkisner@outlook.com
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