CORROBORANDO A HISTÓRIA DAS ÁFRICAS NA ESCOLA PÚBLICA DO ENSINO FUNDAMENTAL

CORROBORATING THE STORY FROM AFRICAS AT THE PUBLIC SCHOOL OF TEACHING ELEMENTARY

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10828333


Alexandar Maria de Carvalho Alves1
Orientador(a): Fabiana Schleumer


Resumo:

Este artigo visa refletir sobre as perspectivas metodológicas que o docente de história pode desenvolver para aprimorar o conteúdo da cultura da África nas suas aulas. O ensino de História da África e da cultura afro-brasileira partiu das demandas sociais do movimento negro e da historiografia, tendo o embasamento da lei 10.639/03. A partir desse pressuposto, vários projetos coletivos ou individuais passaram a ser desenvolvidos nas escolas públicas sobre a perspectiva da História da África, cultura afro-brasileira e no conhecimento historiográfico através da formação de professores, tornando possível a investigação da prática desses professores no que concerne à inserção do conteúdo de História da África nos currículos escolares. E a partir daí, busca-se refletir sobre como o tema pode ser abordado em sala de aula. Portanto, através das “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais, sobre o Ensino da Cultura Afro-brasileira e africana” é possível resgatar o protagonismo do negro na África e no Brasil como forma de combater o racismo e assim, ressignificar o processo de ensino escolar. Desta forma, o presente trabalho visa através de experiências e práticas escolares refletir sobre o ensino de História da África nos currículos escolares, com o objetivo de ampliar o debate sobre o ensino de História no Brasil.

Palavras-chave: Formação de Professores, História da África no Brasil, Currículos Escolares.

Abstract:

This article aims to reflect about the prospects and methodological that the history teacher can develop to improve and dynamize their classes, teaching of history from Africa and the culture Afro-Brazilian came from the demands social movement black people and historiography, having the basis of the law 10.639/03. From this assumption, several collective or individual projects began to be developed in public schools from the perspective of the History of Africa, Afro-Brazilian culture, and historiographic knowledge through teacher training, making it possible to investigate the practice of these teachers regarding the insertion of the African History content in school curricula. And from there, we seek to reflect on how the theme can be approached in the classroom. Therefore, through the “National Curricular Guidelines for the Education of Ethnic-Racial Relations, on the Teaching of Afro-Brazilian and African Cultures” it is possible to rescue the protagonism of black people in Africa and in Brazil as a way to combat racism and thus give new meaning to the process of school education. Thus, the present work aims, through school experiences and practices, to reflect on the teaching of the History of Africa in school curricula, with the objective of broadening the debate about history teaching in Brazil.

Keywords Teacher Training, History of Africa in Brazil, School Curricula.

1. Introdução

Desde que foi estabelecida a obrigatoriedade do ensino de História da África e da Cultura Afro-Brasileira nas escolas, houve muita discussão no sentido de pensar “como deveria aplicar a lei”, uma vez que haveria necessidade de mudanças curriculares nestas instituições. Os desafios a serem enfrentados são grandes e devem ser pensados e analisados de modo a encontrar respostas que possibilitem a atualização do ensino de História para o novo século. Além disso, havia a indagação: de “conhecer o tema” para poder trabalhá-lo e aí as dificuldades se apresentaram: Como os professores, que pouco sabiam de História da África e da cultura afro-brasileira, poderiam trabalhar com essa temática? Diante destes questionamentos surgiram algumas perguntas: como os professores estão trabalhando, com seus alunos, a partir do que conhecem sobre a África? Quais as diretrizes tomadas pelos professores e gestores? Que representações da África é possível perceber no trabalho dos professores? Quais necessidades, podem ser respondidas a estes professores? quando elaboram os planos de aula. Que tipo de recursos didáticos e paradidáticos são propostos para o professor, que pretende debater sobre a África e sua cultura brasileira? Quais foram os resultados percebidos, quanto aos alunos envolvidos nesta temática?

A formação continuada propiciou aos pesquisadores, a inclusão da História da África nos currículos escolares? o curso de extensão e questionário, foi realizado pela Secretaria Estadual de Educação de Uberaba MG, (SRE). Assim, os cursos de extensão, formação de professores, seminários, congressos e publicações, vêm tentando contemplar os mais diversos objetos ligados à abordagem em sala de aula das trajetórias e características históricas africanas. O resultado do questionário realizado com os professores, apontou uma vaga busca de estudos sobre a temática africana nas escolas brasileiras.

Diante dessa constatação, surgiu a proposta de realização de um curso de Extensão sobre a temática: possibilitando os usos dos recursos didáticos e paradidáticos”, cujos objetivos foram de orientar a atuação político-profissional dos professores de Pedagogia e de História, atuantes nessa prática. Dessa forma, a intenção do presente artigo parte do pressuposto de que a historiografia sobre o tema, torna-se possível ao elaborar hipóteses que poderão ser incluídas no currículo escolar, vigentes desde a década de 1990 pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e pela Lei 10.639/03.

2. Referencial Teórico Metodológico

2.1 Ensino da História e da Cultura Afro-Brasileira e Africana na Escola

Desde que a lei nº 9.394/96, foi sancionada nas escolas públicas e privadas de ensino fundamental e médio, ficou incubido as escolas de educação básica, incluir nos seus currículos, a história da cultura Africana, garantindo que os discentes Brasileiros, tenham o direito de estudar e conhecer a história da África e sua fusão na nossa cultura. Chamamos de Afro-Brasileira, tendo a como representação do negro na formação da nossa sociedade. O propósito da lei traz a garantia que representa para a população brasileira, o exercicio da cidadania onde:

[…] A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornece-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (Lei nº 9.394/96).

Nesse contexto educacional e de cidadania, foi necessário aos professores, o conhecimento da história do negro no Brasil. Portanto coube a instituição escolar de educação básica, a função essencial de combater o preconceito e à discriminação desses povos. Pressupõe, que pelo etnocentrismo e branqueamento eurocêntrico, advindo da Europa pela população colonizada, houve no Brasil, a demonização dessa cultura sobre a forma de escravidão. Portanto, com a objetividade de desconstruir as mentalidades e visões sobre a História da África, foi sancionada a lei10.639/03, em 9 de janeiro de 2003 para:

Trabalhar com as diversidades culturais explorando as diferenças étnico- raciais que estão postas, tanto na sala de aula como na sociedade, é possibilitar a reflexão crítica, o pensar do aluno a partir do seu lugar, de suas experiências de vida, de suas lutas diárias. Propor ações afirmativas e trazer à tona a diversidade não são, de imediato, atitudes de pacifismo pedagógico ou de resoluções da contradição posta na sociedade. Ao contrário, é inserir o conflito no seio da vida real, da escola, e enfrentá-lo, explicitando as diferenças, trabalhando com clareza as contradições. (PARANÁ, 2005, p. 9)

A partir dessa nova lei os professores e gestores ficaram, incubidos de trabalhar a cultura Africana, indígena e Afro-Brasileira, valorizando a diversidade, e considerando os negros como sujeitos formadores e históricos, possuidores de ideias, cultura: (danças, músicas, culinária, religião). Nesse contexto foi instituído o dia Nacional da Consciência Negra em (20 de novembro). A”morte do líder quilombola, Zumbi dos Palmares,“ estava sendo trabalhado pelos professores com a função de homenagear as figuras históricas, a partir das datas comemorativas. Nesta perspectiva, buscou-se a coerência entre os objetivos da disciplina, dos fundamentos historiográficos e pedagógicos da história para a construção das mentalidades e:

Com isso, o aluno construirá um instrumental conceitual que permitirá a identificação das diferenças e de suas formas próprias de realização na História; estará também superando o egocentrismo e o individualismo na compreensão de caráter social da experiência humana. (SEE/UBERABA, 1994, p.77).

Nesse cenário histórico, o sujeito se configura na inter-relação complexa, das habilidades e competências, sendo o construtor do seu aprendizado. A história, se concebida como processo, busca aprimorar o exercício da problematização da vida social como ponto de partida para a investigação produtiva e criativa. De acordo com a lei 10.639/03 e PCN de história, o professor deve levar tais conteúdos para sala de aula e lidar com a pluralidade e diferenças, criando espaços para a diversidade. Mediante a esse desafio, os autores Moreira e Candau afirmam que:

A escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente mais confortável com a homogeneização e padronização. No entanto, abrir espaços para a diversidade, a diferença e para o cruzamento de culturas constitui o grande desafio que está chamada a enfrentar. (MOREIRA; CANDAU, 2003, p. 161).

E com a prática pedagógica dessa temática, sobre a ótica africana, percebemos a resistência e o desconhecimento dos docentes em relação ao cumprimento desta lei. Ao mesmo tempo que, com o despreparo do estudo, desconhecimento do tema, pelo pouco material, livro paradidatico e didatico existentes para o ensino da história Africana, indígena e Afro-Brasileira, torna-se ainda, mais difícil o desenvolvimento desse trabalho em sala de aula. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de história, (Brasil, 2004, p. 3),

(…), a educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto para construção de uma sociedade justa, igual, equânime (Brasil, 2004, p. 06).

Ressignificando o processo historiográfico do etnocentrismo europeu ocorrido, com as relações étnico-raciais, coube ao negro superar o preconceito sofrido na historia, buscando na sociedade, a construção de uma educação voltada para as relações étnico-raciais, multicultural e pluriétnica, em direção a valorização das identidades. Espera-se que com o cumprimento dos objetivos propostos pela lei, haja debates sobre a discriminação racial e principalmente para o reconhecimento dessas relações de forma equânime. Portanto, de acordo com: (MOREIRA; CANDAU, 2003, p. 161) para que esses objetivos se cumpram é necessário que exista uma educação voltada ao sujeito das relações étnico-raciais nas escolas. E nesse sentido, (Brasil, 2009), orienta que :

O ensino e aprendizagem deveriam estar voltados, inicialmente, para atividades em que os alunos possam compreender as semelhanças e diferenças, as permanências e as transformações no modo de vida social, cultural e econômico de sua localidade, no presente e no passado, mediante a leitura de diferentes obras humanas (1997, Pag.49).

A aprendizagem em história, se concebida como processo, busca aprimorar o exercício da problematização da vida social com a investigação produtiva e criativa, da identificação das relações sociais de grupos locais de outros povos pelas diferenças e semelhanças. Ao comparar as problemáticas atuais: o professor deverá se posicionar de forma crítica buscando nas relações o presente e passado no sentido de pertencimento da história das diferentes obras humanas. Zamboni (1993, pág.7), ressalta que:

[…] o objetivo fundamental da História no ensino fundamental, é situar o aluno no momento histórico em que vive […]. O processo de construção da história de vida do aluno, de suas relações sociais, situado em contextos mais amplos, contribui para situá-lo historicamente em sua formação social, a fim de que seu crescimento social e afetivo desenvolva-lhe o sentido de pertencer.

Portanto, foi inserido na educação fundamental I, o processo de construção da história popular e literária do conto, na educação do aluno, construindo suas relações sociais, afetivas e de pertencimento, ganhando espaço em nossos dias atuais. Durante séculos, os contos estiveram presentes na memória da cultura e tradição oral, sendo transmitidos de geração em geração. As crianças e jovens aprendiam as histórias que eram contadas por seus avós e parentes que compartilhavam suas experiências com a coletividade. Mediante a essas informações, Cascudo ( 2003), reitera que:

O conto Africano é um vértice de ângulo dessa memória e dessa imaginação. A memória conserva os traços gerais, esquematizadores, o arcabouço do ofício. A imaginação modifica, ampliando pela assimilação, enxertias ou abandono de pormenores, certos aspectos da narrativa. O princípio e o fim das histórias são as partes mais deformadas na literatura oral. (CASCUDO, 2003, p. 12)

Os contos são considerados pelos historiadores como fontes privilegiadas, ricas em suas variedades e são de extrema importância no desenvolvimento e transmissão de conhecimento e cultura. Na África antes da colonização europeia, as informações, de transmissão oral eram utilizadas nos vários saberes de produções culturais diversas, para que as comunidades, pudessem contar e recriar as narrativas na literatura oral. Cabe problematizarmos, as indagações sobre essa história ocorrida, e percebemos, que foi proposto pelos pesquisadores um projeto do financiamento da (UNESCO), com a finalidade de retirar a História da África da obscuridade e lançar luz sobre o conhecimento que se tinha desse continente. Nesse sentido, KIZERBO, (1982), coordenador do projeto assegura que:

Com efeito, a história da África, como a de toda a humanidade, é a história de uma tomada de consciência. Nesse sentido, a história da África deve ser reescrita. E isso porque, até o presente momento, ela foi mascarada, camuflada, desfigurada, mutilada. Pela “força das circunstâncias”, ou seja, pela ignorância e pelo interesse. (KIZERBO, 1982, p. 21)

O projeto de Ki-Zerbo e de outros estudiosos sobre a África, remonta nos dias de hoje um clássico da história daquele continente. Disseminando as possibilidades de reescrever esta história, reforçando a necessidade de aproximação destes conteúdos, de acesso às informações que lhes possibilitem conhecimento sobre a África.

3. Procedimentos Metodológicos

Para a presente proposta deste artigo, foi realizado a pesquisa Bibliográfica e investigação através da leitura, análise e interpretação de livros, paradidáticos, didáticos periódicos (jornais, revistas), obras literárias, contos, mapeamentos, questionário, curso de extensão. O estudo foi embasado na lei 10.639/03, e tem por objeto o estudo e reflexão sobre a importância de trabalhar o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana em sala de aula. Para GIL (1993):

A pesquisa Bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exibido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. (GIL, 1993, p. 65).

A proposta, possui caráter exploratório, explícito na lei 10.639/03, e nos documentos oficiais do MEC. Que Envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; (c) análise de obras sobre a temática do ensino da África realizado na sala, (d) curso de extensão sobre o ensino de história da África e dos Negros nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental com o objetivo de estimular a compreensão do conteúdo para a sala de aula (GIL, 2007). Classificada como: Bibliográfica, Qualitativa e de Estudo de Caso, a partir de um questionário realizado com os docentes, foram realizadas diversas consultas de obras confiáveis, respeitáveis e atualizadas no curso, a partir de: livros didáticos, paradidáticos, conto, questionário, obras literárias sobre a história do negro, apostilas de publicações em periódicos e artigos científicos, para estudo e leitura da temática abordada. Com o objetivo de proporcionar maior familiaridade ao problema, e visando torná-lo mais explícito no sentido de construção das hipóteses,

Minayo (2007) certifica que :

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar as suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (MINAYO, 2007, p.21)

O estudo do documento, permitiu a educação brasileira buscar a valorização da história, da cultura Afro-brasileira, indígena e Africanos para o ambiente escolar, propondo aos docentes a sensibilização e a importância das atividades e práticas metodológicas desta proposta histórica para o ensino público. Tornando-se como elementos facilitadores da aprendizagem dos discentes na compreensão desse processo educativo, utilizando-se da pesquisa e das limitações quanto à aplicabilidade da lei 10.639/03. Quando o docente utilizou-se das datas comemorativas para a produção de seus planejamentos de aulas, ficou claro, o desconhecimento da temática historiográfica. Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa visa o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, que corresponde a um espaço profundo das relações pluriéticas, fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

4. História da África no Brasil

A lei de 10.639/2003, estabelece que o conteúdo programático inclua diversos aspectos da história e da cultura dos povos tendo como referência a valorização, diversidade e incentivação. A Educação do Campo e Diversidade do Ministério da Educação (MEC) propõe: incluir no currículo temáticas que façam os alunos a refletir sobre a democracia racial e a formação cultural brasileira. Na escola o professor pode explicar aos alunos o contexto da escravidão e abolição dos povos ocorrida em (1888). Por isso, é necessário promover debates sobre as causas do preconceito, investigando os motivos dos quais os negros ainda lutam pela igualdade de direitos e oportunidades. Diversos desafios são colocados diante do professor, tais como: organizar um currículo que atenda às necessidades reflexivas dos alunos no sistema educacional brasileiro, o texto da lei pressupõe que:

[…] o estudo sobre História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional propõem a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinente à História do Brasil (Texto da Lei 10.639/03).

A Lei 10.639/03 contribui para o amadurecimento da luta da população afrodescendente no Brasil, tendo nas políticas de ação e redução das desigualdades possibilidades de rompimento com as estruturas eurocêntricas, sugerindo nos currículos escolares, a construção de conhecimentos de outros continentes e povos. Para Oliva (2006, p. 424):

[…]a história da África e a história do Brasil estão mais próximas do que alguns gostariam […]. Devemos conhecer a África para não apenas dar notícias aos nossos alunos, mas internalizá-la neles […]” de forma positivada.

Nessa perspectiva, a história da África, vêm corroborar com as representações do currículo, da cultura, sociedade e do valor, num espaço de totalidade e de permanências entre passado e o presente.

4.1 Estratégia e Metodologia de Ensino da História Afro-Brasileira.

Nos últimos anos, as estratégias de aprendizagem têm adquirido importância tanto na investigação metodológica como na prática educativa do ensino de história em sua especificidade. Não podemos esquecer que o conhecimento histórico é repassado em espaços sociais de hábitos locais, relatos familiares, espaços religiosos, escola e na manutenção de crenças. O passado é usado como referência na constituição de identidades, discursos políticos e representações de diferentes setores da sociedade. Gomes (2005) afirma que o racismo, no Brasil em relação aos indígenas e negros, é ambíguo e está sendo representado por negação, num imaginário de mestiçagem. Nesse contexto:

“[…] podemos compreender que raça é, na realidade um misto de construções sociais, políticas e culturais nas relações sociais e de poder ao longo do processo histórico. Não significa, de forma alguma, um dado da natureza. É no contexto da cultura que nós aprendemos a enxergar as raças” (GOMES, 2005, p. 49).

Historicamente, a democracia racial teve sua ascensão nos anos de 1930 e 1970, onde houve, “negação da existência por conta da discriminação e desigualdades raciais, servindo para ocultar a dominação racial. ” (SILVA, 2014, p.244) relata que no período da ditadura militar a questão racial não foi considerada importante pois o movimento negro se intensificou através da organização e das lutas antirracistas. Com o propósito de construir a identidade negra como sujeito histórico no currículo escolar, Ruiz (2008, p. 09), anuncia que:

“[…] As políticas educacionais, organizacionais e curriculares são portadoras de intencionalidade, ideias, valores, atitudes e devem ser entendidas no quadro mais amplo das transformações econômicas, políticas, culturais e geográficas que caracterizam o mundo contemporâneo.

Nesse processo das políticas educacionais, ocorrem discussões sobre o currículo possibilitando aos professores fundamentar a sua prática pedagógica na construção e organização dos conteúdos estruturantes dessa disciplina para serem socializados por meio de metodologias críticas de ensino-aprendizagem voltados para o mundo contemporâneo. Pereira (2013, p. 13) alega que o objetivo desse processo é incentivar a reflexão, o senso crítico, auxiliando o sujeito ao conhecimento histórico. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, PCNs apud Pereira (2013, p. 02), instruem que:

Os conteúdos para os primeiros ciclos do Ensino Fundamental deverão partir da história do cotidiano do sujeito em seu tempo e espaço específicos. Porém incluindo contextos históricos mais amplos, partindo do tempo presente e denunciando a existência de tempos passados, e modos de vida e costumes diferentes dos que conhecemos, sempre os relacionando ao tempo presente e ao que o sujeito conhece, para que não fique apenas no abstrato.

Deste modo, para despertar o interesse do aluno pela disciplina de história, o professor deve munir-se de estratégias de aprendizagem de acordo com o cotidiano e contexto do sujeito. É importante que o professor conheça as características locais desse sujeito, trazendo-o para este processo de aprendizagem metodológico. Propondo indagações através de diálogos para maior compreensão do conteúdo. Segundo Pereira (2013, p. 13):

[…]Faz-se necessário que a escola e o professor de História nas Séries Iniciais, considerem que é preciso instigar no aluno a formação de uma consciência crítica e cidadã, uma vez que está deve ser encarada como mola propulsora para passos na formação histórica, de cada agente.

Portanto assim, o professor de história conseguirá transmitir o conteúdo didático programado para o aluno, incentivando-o a fazer parte do processo de maneira positiva, dialógica e contemporãnea.

4.2 A Inclusão do Negro nos Livros Didáticos

Para Bittencourt (2006, p.72), os livros didáticos podem ter várias concepções diferentes, uns os compreendem como um depositório de conteúdos, e outros como um instrumento pedagógico. Por meio do qual o docente poderá elaborar diferentes procedimentos como um veículo que porta valores em favor de uma ideologia ou cultura. Nesta última concepção, a autora enfatiza que:

[…]. O livro didático é um importante veículo portador de um sistema de valores, de ideologia, de uma cultura. Várias pesquisas demonstraram como textos e ilustrações de obras didáticas transmitem estereótipos e valores de grupos dominantes, generalizando temas, como família, criança, etnia, de acordo com preceitos da sociedade burguesa branca (BITTENCOURT, 2006, p.72).

Os livros tem o papel de estimular a cidadania, produzindo efeito contrário a todo e qualquer tipo de preconceito e discriminação dentro ou fora da escola. Segundo Ponciano (2011, p.39):

[…] “o livro de História é o guia mais importante da aula de História e este deve ter algumas condições para que seja considerado um “livro ideal”, e com isso possibilite a aprendizagem da História que, no seu entender, é um processo de desenvolvimento da consciência histórica no qual se devem adquirir competências da memória histórica.”

Espera-se que a instituição escolar trabalhe com a difusão e valorização da pluralidade cultural existente na sociedade brasileira, através do livro didático no seu sentido multicultural. O papel de protagonista do livro didático, deverá contribuir para a formação desses alunos reflexivos respeitando as diferenças étnico-rraciais, deixando os preconceitos fora de sala de aula. Então, o que seria, nesse contexto um bom livro didático? Segundo Russen (1997, p 93 ):

[…] é uma fonte útil para a cultura escolar desde que não mais seja considerado o lugar de toda a História. Submetido à leitura crítica, com a ajuda interpretativa do professor e colocado em diálogo com outras fontes de estudo – acervos de museus e arquivos, livros não didáticos, produção literária e artística, por exemplo –, ele pode contribuir de modo significativo para a aprendizagem da História.

Contudo, Russen (1997) mostra que através desta pesquisa perceberemos a importancia de estudar e trabalhar o Ensino de História de forma mais consciente, valorizando assim, a Cultura indígena, Afro-Brasileira e Africana e inserindo os sujeitos étnicos na aprendizagem escolar, relações sociais, políticos permitindo assim, que haja a ampliação de seu horizonte existencial, cultural e de pertencimento sociocultural.

5. Considerações Finais:

A proposta principal deste artigo foi de investigar e desafiar o processo de ensino aprendizagem e a prática escolar presentes no cenário atual. Neste sentido, foram tecidas considerações sobre o currículo da disciplina de história, isto é, nos PCNs, LDB e formação continuada para os professores do Ensino Fundamental I. O papel do livro didático em sala de aula, os conceitos de História e Memória, presentes ou não nos livros didáticos da disciplina foram investigados nesse processo. Podemos afirmar que os desafios da Educação, sobretudo, do ensino da história, são inúmeros. Vão desde o professor ter claro consigo a diferenciação entre a História e o passado propriamente dito, até questões ideológicas trabalhadas na escola. Sabemos também, que para o ensino da História tornar-se significativo, o educando deve ver-se como sujeito histórico percebendo o quanto os fatos históricos influenciam o seu modo de vida.

Assim, ao discorrer acerca da aprendizagem histórica, ficou bastante evidente a ênfase dada ao livro didático como grande sustentáculo das aulas. Neste aspecto, uma prática de ensino de história racista, tradicionalista e de branqueamento com referência das sociedades eurocêntricas, tão comum em escolas brasileiras, evidencia que os professores de história estão diante de um cenário novo, e desafiador. E a compreensão desse fato contribuiu para entender melhor as origens, causas e efeitos desse formato de ensino- aprendizagem, como também para buscar estratégias que visem a sua superação, ou seja, uma aprendizagem histórica efetiva e que permita ao aluno desenvolver uma capacidade de criticidade real.

Esta investigação é de suma importância, porque remete a percepção desses profissionais através do estudo Bibliográfico e de estudo de caso, que buscou atingir resultados qualitativos e metodológicos para o ensino de história, através da investigação e da formação continuada, no sentido de obter conhecimento da história dos povos com a objetividade de contribuir com a aprendizagem dos discentes, e da prática pedagógica dos docentes do ensino público.

Referências Bibliográficas

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ZAMBONI, Ernesta. O Ensino de História e a Construção da Identidade. História Série Argumento. São Paulo: SEE/Cenp, 1993.


ANEXO I – SOBRE A FORMAÇÃO ACADEMICA:

QUESTIONÁRIO: “ AFRICANIDADES FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS” ANO-2017

1-Relate um pouco sobre quais foram seus motivos para fazer a faculdade de História. …………………………………………………………………………………………….

2- Quais as referências teóricas que mais lhe marcaram no campo da História? …………………………………………………………………………………………….

3- Em relação a sua licenciatura, poderia relatar um pouco sobre ela? …………………………………………………………………………………………….

4-A licenciatura foi importante para iniciar sua carreira docente?

…………………………………………………………………………………………….

SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA

5- Como você entendia os objetivos do ensino de História no inicio da sua carreira? …………………………………………………………………………………………….

6- E atualmente? …………………………………………………………………………………………….

SOBRE A LEI 10.639/03

7- Como tomou conhecimento da Lei? …………………………………………………………………………………………….

8-Qual sua primeira impressão sobre a lei? …………………………………………………………………………………………….

SOBRE A PARTICIPAÇÃO NO CURSO DE EXTENSÃO DA SRE- UBERABA.

(Sobre o interesse nas questões de relações raciais antes do curso de extensão.)

  1. Você obteve informações sobre História da África e o tema das relações raciais na sua graduação? ……………………………………………………………………………………………
  1. Qual foi o momento ou disciplina na sua graduação, em caso de resposta negativa acima, em que as discussões de conteúdo histórico, mais se aproximaram da temática instituída pela Lei 10.639? ……………………………………………………………………………………………
  1. Como seus professores de graduação tratavam a temática da História da África ou dos afrodescendentes no Brasil? …………………………………………………………………………………………

SOBRE A PARTICIPAÇÃO NO CURSO DE EXTENSÃO DO (SRE)

(Sobre o interesse nestas questões raciais durante e após a participação no curso de extensão).

  1. Quais foram as razões que o levaram a participar do curso de extensão? ……………………………………………………………………………………
  1. Poderia destacar as discussões e reflexões mais significativas para você? …………………………………………………………………………………………
  1. Em relação a abordagem da História, percebeu alguma diferença em relação a sua formação anterior? …………………………………………………………………………………………
  1. Como você avaliou e percebeu a formação seus colegas de História no curso? …………………………………………………………………………………………

SOBRE A APLICABILIDADE DA LEI NO ENSINO DE HISTÓRIA

  1. Em quais aspectos a Lei se aplica a disciplina de História? …………………………………………………………………………………………
  1. O que tem sido feito em termos de formação pedagógica nesta temática na sua rede de ensino? …………………………………………………………………………………………
  1. Você percebe mudanças nas iniciativas dos professores de História em geral? …………………………………………………………………………………………
  1. De uma forma geral, quais seriam as ações necessárias para aplicação da lei no ensino de História? …………………………………………………………………………………………
  1. Quais foram as contribuições do curso para sua prática pedagógica? …………………………………………………………………………………………


1Licenciada em Pedagogia pela Universidade Antônio Carlos (Unipac), em História pela Universidade de Uberaba (Uniube), em Geografia pela (Unopar), em Educação Especial pela (Uniasselvi), Bacharelado em Biblioteconomia pela (Claretiano) e Pós-graduada em: Educação Especial pela (Faculdade São Luís).