COPRODUÇÃO AGROECOLÓGICA NA RESEX DO LAGO DO CUNIÃ NA AMAZÔNIA

AGROECOLOGICAL CO-PRODUCTION IN THE CUNIÃ LAKE RESEX IN THE AMAZON

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202507091058


Cézar Oliveira de Souza1
José Carlos Dias Curvelo Júnior2
Kênia Vitor da Paixão3
Andrea Barbieri de Barros4
Robinilson Gusen Braga5


RESUMO

Por muito tempo as discussões acerca do desenvolvimento econômico e a preservação da natureza têm sido levantadas por autoridades e pela sociedade civil. O crescimento de sistemas alimentares localizados e sustentáveis ​​é amplamente reconhecido como uma resposta à crise, cada vez mais evidente de sistemas alimentares convencionais. Apesar da crescente demanda do consumidor, a capacidade do produtor de atender à demanda surge como um ponto crítico. Novos estilos de agricultura requer mudanças radicais de conhecimento e habilidades, ativos materiais, padrões organizacionais, práticas de comunicação entre outras. Para esse fim, a interação direta com consumidores, bem como a cooperação e coordenação com outros agricultores venha ser crucial. O artigo explora os processos complexos ligados para a transição da produção, e tenta contribuir para uma teoria de redes alternativas de alimentos, representando mudanças na produção como resultado da interação dentro da rede híbrida que trabalha através da definição de novos códigos, quadros cognitivos, normas, regras e padrões organizacionais. O objetivo deste estudo é analisar como funciona a coprodução na agricultura na reserva extrativista do Lago do Cuniã no Estado de Rondônia. Verificando o engajamento da comunidade que favorece um clima de cooperação e respeito entre as pessoas pode ser analisado pelo enfoque na agroecologia, que vê nas redes de relacionamentos estabelecidas pela confiança e cooperação mútuas como um recurso importante para a condução de assuntos sociais. Os resultados mostraram que o engajamento, a confiança, as normas e a reciprocidade existentes nos relacionamentos contribuem para o sucesso do empreendimento coletivo.

Palavras-chave: Cooperação, produtor, extrativismo, inovação, consumidor.

1 INTRODUÇÃO

A busca da conservação dos recursos naturais no Brasil foi a criação de Reservas Extrativistas, em Unidades de Conservação da Natureza, em fase com a sustentabilidade, tem como carro chefe, a preservação da natureza e a manutenção de comunidades regionais. As reservas extrativistas têm como propostas promover preservação ambiental com desenvolvimento econômico e a inclusão social (ALMEIDA, 2007). Com o foco de conciliar problemas de ocupação e sobrevivência das comunidades locais tradicionais através de atividade socioeconômica ambiental sustentável e o extrativismo, foram instituídas então as Resex’s. As interações dos atores deste contexto ficariam sujeitas às relações entre indivíduos e organizações. Os esforços dos indivíduos desta comunidade estariam associados às questões sociais, envolvendo interesses individuais e coletivos pela melhoria da qualidade de vida em comum. 

A RESEX do Lago do Cuniã é localizada na zona rural do município de Porto Velho no estado de Rondônia, a uma distância de 130Km do centro urbano. Esta Reserva possui uma área de 75.876,67 hectares, sendo que a zona populacional ocupa 6% do território total, criada através de um Decreto Presidencial de 10 de novembro de 1999, quando se tornou de fato uma unidade de conservação federal do Brasil (NAPRA, 2021).

 O acesso a comunidade é por via fluvial em um percurso de pequenas embarcações que atravessam o rio Madeira da margem direita para a esquerda seguindo até o lago do Cuniã. Há também a possibilidade de fazer parte do percurso por via terrestre, da área urbana até a boca do Jamari, onde o uso de transporte fluvial se torna necessário. Nas épocas de seca, é também possível chegar ao Cuniã caminhando por uma trilha de cerca de 16 quilômetros, que corta a floresta pelo distrito de São Carlos.

 São 83 famílias divididas em quatro núcleos comunitários (Núcleo Pupunhas, Núcleo Araçá, Núcleo Neves e Núcleo Silva Lopes Araújo) que habitam o lago do Cuniã. A comunidade, atualmente composta por cerca de 400 pessoas, formada por descendentes de indígenas que habitavam a região, e de migrantes nordestinos que foram para Rondônia para trabalhar nos seringais, lutando um prolongado período por direitos e pela permanência territorial, a população local conseguiu que parte da Estação Ecológica fosse convertida em Reserva Extrativista. Hoje a comunidade se organiza a partir da ASMOCUN (Associação de Moradores do Cuniã) (NAPRA, 2021).

O Plano de Manejo (PM) da RESEX foi publicado recentemente pela Portaria ICMBio nº 899 de 24/10/2018 após a realização da oficina de elaboração do Planejamento Estratégico. No Plano de Manejo, que foi o documento norteador da gestão, estão dispostos os alvos de conservação da Unidade de Conservação, assim como seu zoneamento.

O capital social pode ser analisado em suas dimensões estruturais, cognitivas e relacionais. A dimensão estrutural do capital social relaciona aspectos de interações sociais com intensidade e capacidade de adaptação; a cognitiva aborda aspectos de um discurso comum capaz de criar linguagens e narrativas sob comportamentos individuais e a relacional, trata de questões de confiabilidade, cooperação e interação social (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998).

Ao longo das últimas décadas, as estratégias de marketing vêm proporcionando um importante papel na missão organizacional (Franková, 2012). Como a coprodução de valor resulta da interação entre empresas, clientes e fornecedores, ela representa uma estratégia fundamental para uma grande vantagem competitiva e deixando o paradigma tradicional para dar ênfase aos aspectos intangíveis. A coprodução ocorre em muitos contextos e embora, ainda incipiente, merece ênfase em pesquisas de diferentes áreas.

A implantação e execução das atividades previstas no Plano de Manejo, o Planejamento Estratégico colabora para que os gestores organizem atividades e ações que necessitam ser implementadas. O processo de gestão estratégica previsto no Balanced Scorecard (BSC) tem o propósito de aumentar a eficácia da UC, permitindo a mensuração de vetores de desempenho, construídos da visão e da estratégia da organização, considerando uma ferramenta que permite a organização expor a forma como pretende criar valores organizacionais de longo prazo (KAPLAN & NORTON, 2000). Para que a metodologia seja aplicada na gestão pública de planejamento, necessita adaptação a interligação entre os interesses dos múltiplos stakeholders do setor público (governo, funcionários, cidadãos e sociedade) com as prioridades estratégicas da organização (GUEDES, 2012).

A ASMOCUN segue o planejamento e o mapeamento dos processos pertinentes de forma considerar os interesses e expectativas da UC, permitindo ainda que a Unidade inicie uma gestão com um registro das escolhas gerenciais e com indicativo das diretrizes adotadas pelos atuais gestores, facilitando as tomadas de decisões para os próximos anos. Os atores contribuem na definição dos objetivos estratégicos e resultados esperados da gestão, numa perspectiva institucional, inclusive para subsidiar a execução dos objetivos, propostos no Planejo de Manejo da RESEX. Este artigo tem como objetivo analisar a coprodução agroecológica entre as organizações da reserva extrativista do lago do Cuniã, em Porto Velho, Rondônia. Contando ainda que a RESEX possui grande potencial para inúmeros trabalhos científicos, cujo demonstram que essa Unidade de Conservação possui fauna e flora abundante, típicas do bioma Amazônico, com áreas representativas de ambiente lacustre, o que ressalta sua importância na conservação da sua biodiversidade.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Redes Agroalimentares Alternativas (AAFNs)

Existe uma tensão contínua e dialética entre redes alternativas e convencionais (Sonnino e Marsden, 2006). “Noções de legitimidade, justiça e credibilidade são criadas e destruídas nas práticas em torno da criação de campos de mercado alternativos ” (DuPuis e Gillon, 2009, p. 45). Essas redes não podem ser analisadas isoladamente, pois cada uma pode incorporar partes dos outros, de modo que as inovações que foram originalmente produzidas em nichos que podem ser incorporados em redes convencionais. Os padrões “convencionais” e “alternativos” podem levar à convergências, que terminam com um ‘esvaziamento’ ou absorção de nichos em regimes existentes. No entanto, os nichos também podem se fortalecer adaptando tecnologias e inserindo atores do regime dominante, saindo de redes convencionais e reconectando em outras alternativas. A convencionalização e apropriação de cadeias alimentares alternativas pode ajudar o regime dominante a se adaptar à mudança, por exemplo, transformando cidadãos-consumidores em novos segmentos de consumidores, enfraquecendo o papel transformador dos cidadãos-consumidores. 

Quando o regime tenta se adaptar às mudanças da paisagem não são bem-sucedidas, novos nichos podem emergir com uma radicalidade renovada. Movimentos pós-orgânicomentos e mercados de agricultores se baseiam em pontos de fraqueza contra AAFNs, com base em um forte compromisso político para articular normas técnicas, padrões comerciais e regras organizacionais de formas inovadoras. Para manter caminhos inovadores alternativos, eles iniciam novos ciclos de inovação desenhando com base nas lições aprendidas de experiências anteriores. Para abordar adequadamente a dinâmica desses ciclos de inovação, precisamos preencher umas lacunas nas teorias de transição, em que os nichos são tratados como ‘caixas pretas’. Precisamos abrir essas caixas pretas para ver como e em que condições o ‘fechamento’ de nichos ocorre. Os nichos podem ser vistos como ‘stakeholders’ (Callon, 1999), cujo a coordenação é garantida por rotinas bem estabelecidas e tidas como certas. Se olharmos para os processos antes do fechamento, uma série de falhas são evidentes, bem como negociações, ajustes, tentativas e erros, visando dar estabilidade e organização para novas ideias, molduras, invenções.

Em uma nova visão, as novidades são ‘stakeholders’ instáveis e para promover estabilidade por meio de processos de tradução (Figura 1),  os problemas emergentes a partir do contexto ativa um processo de busca de soluções, cujo os resultados podem se transformar em uma inovação. Quanto mais intensa for a interação de rede em AAFNs, mais agricultores, consumidores e outros atores se alinharam aos seus quadros cognitivos, desenvolvendo novos paradigmas de produção, normas técnicas, padrões de interação e rotinas. Em termos de teorias de transição, isso significa iniciar novos caminhos de inovação. Laços Fortes, podem ser vistos como o resultado de processos de aprendizagem.

Figura 1 . O processo de criação de novidades.

Quanto mais os agricultores estão conectados a outros atores, mais o aprendizado se tornará inclusivo. Deste ponto de partida, estabelecemos um modelo para a compreensão da inovação como uma coprodução entre todos os atores envolvidos em uma AAFN.

O panorama das iniciativas pós-orgânicas à medida que são iniciadas, principalmente pelos consumidores que abordam especificamente a necessidade de desenvolver estilos alternativos do consumo como requisito obrigatório da sustentabilidade. Nisso, é construído críticas feitas às estratégias de busca de renda de algumas AAFNs, o sucesso de que tem sido associada a consumidores pertencentes a classes sociais mais altas (Guthman, 2002), e sobre a consciência dos limites da organização convencional das cadeias alimentares orgânicas. Com base no princípio de que a qualidade dos alimentos é um direito de todos, mas também que a produção é o elo mais fraco da cadeia, A auto-organização do consumidor por meio da criação de parcerias com agricultores, contornando intermediários, empregando voluntários, criando alternativas logísticas com base em serviços privados /ferramentas e espaços sociais, evitando operações e materiais desnecessários, visam criar uma situação ganha-ganha para os produtores e consumidores.

As redes de consumidores individuais, que interagem coletivamente com produtores, selecionando-os com base em sua adesão ao consumo sustentável e produção, organizando pedidos e distribuição. Produtores são contatado diretamente pelos coordenadores de produto que organizam a distribuição, dependendo sobre o tipo de produto: esquemas de caixa para vegetais, frutas e pão, períodos indicados para carne, queijo, vinho e azeite, massas e cereais, e pedidos sazonais para outras frutas.

O contexto relacional é criado através da comunicação estabelecida entre atores por interação direta, reuniões organizacionais, nas visitas na área produtiva, participação em fóruns virtuais, presenciais e eventos organizados. Estabelecendo padrões de comunicação, facilitam a troca de informações entre atores, a definição de regras comuns, construção de infraestruturas, organização de eventos e comunicação com o mundo exterior que permitam o debate sobre diversos assuntos, que vão desde o consumo e produção sustentáveis, para questões políticas mais amplas, contribuindo assim, para o fortalecimento da coesão do grupo.

2.2 Coprodução  Agroecológica

Para construir um modelo de negócios aplicável aos princípios produtivos solidários, os agricultores devem seguir um caminho complexo de transição, cujo cada etapa provém de um ‘fechamento’ dos stakeholders que contribuirão para iniciar as novidades em sistemas suficientemente estáveis socioeconomicamente. Quando o fechamento é concluído, as relações entre os atores e os eventos, seguem regras acordadas que se transformam em conhecimento e atitudes coletivas, e novos ciclos de inovação podem recomeçar. O processo não é linear, pois muitos fatores internos e externos podem causar uma ruptura dos equilíbrios já alcançados e a necessidade de reiniciar do ponto inicial zero. (BRUNORI, 2008) Podemos verificar pelo quadro 1, que mostra os princípios da produção, os fatores internos e externos para alcançar o objetivo esperado.

Quadro 1 – Relação dos processo coprodutivos

PRINCÍPIOS PRODUTIVOSFATORES INTERNOS E EXTERNOSOBJETIVO DE RESULTADOS
Coerência entre Valores e Práticas– confiança 
– eficiência 
– identificação de valores 
– redefinição de identidade
Interação Cliente e produtor
Caixa Coletiva para Abastecimento– consumo 
– desenvolvimento e aprendizagem 
– diversificação 
– períodos de escassez 
– cooperação 
Atendimento ao consumidor
Lacunas de demanda– demanda de abastecimento 
– flexibilidade 
– planejamento 
– clientes confiáveis
Procedimentos para assertividade
Coerência e conveniência– preço justo 
– renda 
– qualidade 
– Solidariedade
– custos ocultos
Oportunidades
Ampliando a produção– riscos 
– comportamento 
– demanda 
– transições técnica 
– conhecimento 
– treinamento
– investimentos 
– comunicação
Crescimento calculado

2.2.1 Coerência entre Valores e Práticas

Os produtores são de preferência pequenos, orgânicos, abertos ao diálogo, confiáveis, com interessantes histórias pessoais. Essas características são frequentemente percebidas como sendo mais importantes do que eficiência ou preço, sabendo de que a agricultura alternativa não pode alcançar os mesmos níveis de desempenho comercial dos produtores convencionais.

Muitos agricultores desenvolveram essas características desde o início de suas atividades. Em alguns casos, devido à sua experiência e capacidade de comunicação, orientam os consumidores na identificação de valores. A maioria dos agricultores locais, têm um grau muito menor de consciência desses valores, não sendo capazes de comunicar-se de forma coerente.

No entanto, através do diálogo, eles desenvolvem um processo de reflexão individual e coletiva. Ao fazer isso, eles descobrem que os valores pessoais e as histórias de família podem ser usadas para definir uma identidade distinta. O principal obstáculo à esta redefinição de identidade pode estar relacionada a normas conflitantes derivadas do discurso de mercado como maximização dos lucros, preço como resultado da demanda de forças de suprimento, competição como uma lei quase natural (BRUNORI, 2008).

2.2.2 Caixa Coletiva para Abastecimento

Representam a disposição dos consumidores em adotar padrões alternativos de consumo. São também as atividades que melhor contribuem para o desenvolvimento da rede e seus processos de aprendizagem. Ao contrário dos esquemas de caixa fornecidos individualmente, as regras e rotinas que regulam pedidos, preços, qualidades, entregas, penalidades no caso de inadimplência, etc. São instáveis,  são definidos e consolidados por meio de interação na rede. Esquemas de caixa representam um problema de caminho (Wilson, 2008) tanto para os consumidores quanto produtores. No que diz respeito aos consumidores, os esquemas de caixas contribuem para uma radical reestruturação dos padrões de consumo alimentar não apenas a nível individual, mas também para as famílias. Na verdade, os esquemas de caixa levam à reorganização dos hábitos de compra, da alimentação familiar, da conservação e do preparo dos alimentos. Para os agricultores, o novo ciclo de inovação ativado por esquemas de caixa baseia-se na diversificação. Em esquemas agrícolas as caixas devem conter e fornecer de seis a sete tipos de produtos ao longo das estações, cada agricultor precisa ser capaz de cultivar ao menos 20 safras por ano (BRUNORI, 2008).

Os agricultores têm a liberdade de escolher a composição do caixa. Isso dá aos agricultores muito espaço para testar novas combinações de culturas e novas variedades. Os consumidores participam desta pesquisa expressando seus comentários e avaliações sobre os novos produtos. Os agricultores, portanto, aprendem sobre diversificação e os consumidores aprendem como incluir novas espécies e variedades em suas dietas. Diversificação é uma forma de compensar as restrições que a sazonalidade e a dependência sobre as condições meteorológicas impõem: os consumidores gradualmente se acostumam elogiando a variedade de frutas e vegetais disponíveis em cada estação.

A presença de variedades locais de culturas novas e/ou antigas, mantêm os consumidores fiéis, recompensados pelos esforços pagos na mudança, oferecendo-lhes a diferença real do produto e agregar valor ao produto. A agro-biodiversidade dá aos agricultores uma vantagem competitiva sobre o canal convencional: supermercados restringem severamente a gama de variedades e raças que os consumidores escolher, seja porque variedades e raças alternativas estão disponíveis apenas em pequenas quantidades ou porque não cumprem os padrões comerciais e também pelo gosto característico do consumidor. Geralmente para os consumidores que estão abertos à inovação, os agricultores são encorajados a tornar diversificação em diferenciação, introduzindo espécies negligênciadas locais e variedades. A diversificação da agricultura também pode ser realizada através do processamento na produção de farinha, flocos, massa. Separado de ser uma boa forma de aumentar o valor agregado para a produção, o processamento ajuda a minimizar o excesso de produção em momentos críticos do ano e para administrar períodos de escassez de produção. Para os agricultores, os esquemas de caixa também envolvem várias operações pós-colheita, como lavagem e limpeza, pesagem, composições da caixa e rotulagem. Além de produzir atividades de pós-produção, os esquemas de caixas requerem um gerenciamento sofisticado de pedidos. Primeiro, isso envolve um planejamento cuidadoso da colheita. As colheitas devem ser pouco antes da entrega, caso contrário, os produtos perdem seu frescor. Alguns produtores usam células de geladeira para estocar alguns produtos e planejar melhor os pedidos (BRUNORI, 2008).

As estratégias de gerenciamento de pedidos dependem de diferentes combinações de critérios e ferramentas: da padronização de cestas à customização, desde assistida por computador ou de volta ao papel e à memória do agricultor.

Esquecer uma caixa de vegetais ou errar na sua composição pode tornar-se um problema, pois gera insatisfação e reclamações; com tantas caixas para preparar toda semana, esses erros são comuns.

A organização das entregas também envolve esforços para otimizar as viagens. Isto é um outro aspecto que estimula a cooperação: muitas vezes os agricultores tornam-se canais de comunicação, canais para coordenar os tempos de entrega.

2.2.3 Lacunas de demanda

Um dos maiores problemas para a viabilidade dos esquemas de caixa é a demanda de abastecimento ao longo do ano. Quando nos picos de produção, a demanda é muito menor porque muitas famílias estão de férias. Condições climáticas excepcionais ou ataques de pragas podem atrasar a colheita ou causar perda de produto e do lado da demanda, pode haver uma grande descontinuidade nos pedidos. Para evitar à escassez de oferta, os agricultores podem tentar diversificar ainda mais, assim, eles têm uma maior flexibilidade. O grau de tolerância permitidos aos agricultores na composição da caixa permite que eles façam uso de ‘produtos de emergência’ por exemplo, produtos processados ​​ou produtos mais duráveis. Embora esta solução não satisfaz plenamente as necessidades das famílias, há um grau considerável de aceitação como forma de solidariedade (BRUNORI, 2008).

Nem todos os consumidores estão comprometidos o suficiente a fazer o pedido de caixas todos os meses. Quando há casos de insatisfação, ou simplesmente quando a adaptação ao novo sistema é considerada muito pesada, algumas famílias param ou desistem. Essa instabilidade gera problemas financeiros para os agricultores. Alguns produtores têm, portanto, a fazer pedidos mais longos e pré-financiamento , por exemplo, dois ou três meses em vez de um, para que possam planejar melhor sua atividade. Outros estão pensando em imposição de algumas limitações à livre entrada e saída de consumidores: vista como um esforço para criar uma base de clientes leais e confiáveis. Até então não surgiram muitas soluções para resolver a escassez de demanda durante a temporada. Alguns agricultores se adaptam a esta situação, processando produtos não vendidos, para serem vendidos separadamente. Isso pode fornecer uma importante renda extra para agricultores, o que envolve muito trabalho extra e investimento (BRUNORI, 2008).

2.2.4 Coerência e conveniência

O preço é um dos desafios mais importantes para os mercados convencionais. Buscar um ‘preço justo’, significa que os preços agrícolas devem levar em consideração o custo total, incluindo os custos ambientais e sociais dos alimentos e, portanto, seu valor real. Como os vendedores não são estranhos para os compradores, mas fazem parte da mesma comunidade, os preços devem refletir a disposição de levar em consideração todos os interesses em jogo, incluindo os direitos dos agricultores a uma renda decente. O objetivo dos agricultores para obter um melhor retorno para seu trabalho seria um espaço para negociar preços.

O processo de precificação é totalmente diferente do método convencional. O preço é estabelecido com base nos ‘preços de mercado’ registrados na bolsa internacional, modulada em rígidos padrões de qualidade. Os preços são parte de um conjunto mais amplo de contratos e normas que envolvem estabilidade de preços, e alta tolerância quanto ao valor, variedade e qualidade dos produtos.

No entanto, se a definição de um preço justo envolve levar em consideração os agricultores e direitos dos consumidores, que conjunto de elementos deve ser levado em consideração? Há uma discussão interminável entre aqueles que comparam os preços nos canais convencionais e aqueles que apontam que solidariedade significa superar qualquer argumento.

Em qualquer caso, a solidariedade não é um critério sólido se não for sustentada por informações. Informações sobre os custos de produção seriam um bom ponto de partida. Contudo, muito poucos agricultores mantêm contas e são capazes de identificar seus custos.

Uma consciência mais precisa dos custos pode permitir que os agricultores definam a relação entre preços e receitas e isso, através da comunicação, pode ajudar tanto os agricultores quanto consumidores chegarem a um acordo sobre um preço justo. Mesmo onde há cooperação entre os dois lados, as dificuldades para superar são consideráveis, devido à necessidade de levar em consideração vários aspectos, como as especificidades dos diferentes sistemas de produção e um certo nível de ineficiência devido à pequena escala, ou a menor produtividade de variedades especiais. Embora não haja garantia de resultados, explorando a produção, os custos representam uma boa oportunidade para destacar os ‘custos ocultos’ de produção, contribuindo assim para os processos de aprendizagem (BRUNORI, 2008).

2.2.5 Ampliando a produção

Os agricultores tendem a lidar com o crescimento imprevisto da demanda da melhor maneira possível, mas está se tornando cada vez mais claro que esta situação desafia todo o sistema. Por um lado, o risco de aumentos de comportamento oportunista, quando os agricultores não são capazes de atender à demanda, eles podem ser tentados a integrar o fornecimento com mercadorias compradas e a confiança no sistema pode ser corroída. Por outro lado, a escassez de oferta pode forçar o relaxamento dos padrões, aceitando produtores convencionais ou ampliando a área de abastecimento.

Para lidar com o aumento da pressão da demanda, é necessário está procurando ativamente criar novas produções. Isso envolve o desprendimento desses agricultores de redes antigas e sua reconexão com novas. O desafio não é fácil, mas algumas experiências já existentes indicam o caminho a seguir, dando aos produtores tradicionais uma motivação econômica para se converterem à agricultura orgânica; mobilizando agricultores para apoiar as transições técnicas por meio do compartilhamento de conhecimento, mobilizando a aumentar a confiança dos consumidores, procurando apoio da administração local para financiamentos treinamentos, investimentos agrícolas e iniciativas de comunicação, ativando links com agro-sindicatos de trabalhadores para envolvê-los diretamente no processo (BRUNORI, 2008).

3 METODOLOGIA

A realização deste estudo possui três etapas: a fase exploratória, a revisão de literatura e a pesquisa de campo. Durante a fase exploratória da pesquisa foram identificados os primeiros atores sociais relacionados ao projeto na RESEX, estes são o ICMBio, COOPCUNIÃ, ASMOCUN e a COOMADE. Após identificação dos primeiros atores sociais será necessária a realização de entrevistas e pré-teste para devida adequação do instrumento de pesquisa. A revisão de literatura foi realizada com a intenção de levantar dados pertinentes sobre a Teoria da coprodução na agroecologia da biodiversidade e suas vertentes social, econômica e política. No decurso da pesquisa de campo, o estudo foi submetido ao SISBIO, sistema que regulamenta a realização de pesquisas em reservas extrativistas, conforme recomenda a Instrução Normativa ICMBIO 03/2014. O trabalho foi também apresentado ao Conselho de Gestão Integrada Cuniã-Jacundá no intuito de tornar público aos membros do Conselho e aos comunitários o teor e a intenção da pesquisa que se trata de um estudo qualitativo no sentido de analisar os fenômenos sociais que explicam os inter-relacionamentos existentes na RESEX Lago do Cuniã no Distrito de São Carlos do Jamari em Porto velho. O estudo caracteriza-se como descritivo-analítico pela intenção em descrever as características de um fenômeno no sentido de descrever e analisar os constructos identificados na pesquisa de campo. Quanto ao método, caracteriza-se como estudo de caso, por se tratar de uma investigação única e por permitir flexibilidade quanto à construção de hipóteses e reformulação do problema de pesquisa (YIN, 2001).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após realizada pesquisa de campo no Distrito de São Carlos no lago do Cuniã, através de questionário aplicado aos atores envolvidos na coprodução dos produtos agroecológicos existentes na região, conhecemos de perto a realidade desta comunidade ribeirinha, pelos seu administradores de associação e cooperativas atuantes localmente, trazendo informações para uma análise da relação entre estas organizações locais para o desenvolvimento da produção local e melhoria continua desempenhada pela coprodução agroextrativista.

4.1 Interação produtor, organizações e consumidores

Conforme relato com o representante da COOMADE e COOPCUNIÃ a interação com os consumidores nas atividades de produção da Resex afeta positivamente o desempenho de novos produtos, pois na medida em que há um conhecimento dos clientes a produção é aprimorada de forma atendê-los de maneira adequada. A interação com clientes nas atividades de produção da Resex torna as cooperativas e a associação mais inovadora à medida que o consumidor é consultado pelo resultado obtido, informações importantes e pertinentes podem contribuir para novas cadeias produtivas. Há várias formas de interação que ocorrem em diferentes estágios nas atividades de produção, isto é possibilitado pelo plano de turismo da base comunitária, que envolve os clientes no dia a dia dos extrativistas.

A Interação com consumidores reduz os riscos nas atividades de produção da Resex, graças a assertividade dos produtos entregues ouvindo a opinião dos consumidores destaca o consultor de agronegócio Herlan e quando voltada à resolução de problemas gera o efeito positivo maior no desenho de produção, pois é admitida as opiniões como fator determinante na finalização e entrega dos produtos. A coprodução cria capacidades à cooperativa pela adição do cliente como recurso operante, devido a importância de atendê-los com qualidade e possível aumento na aceitação dos produtos entregues.

4.2 Atendimento ao consumidor

O compartilhamento de informações com clientes durante a produção favorece a geração de inteligência de mercado à cooperativa, tanto isoladamente quanto através de rede de atores que no momento de abertura as opiniões pertinentes geralmente esclarecem dúvidas existentes e colaboram para o aperfeiçoamento do atendimento com qualidade seria nossa dúvida.

A Participação de clientes na produção gera ganha-ganha, pois é utilizado todas as informações e necessidades do consumidor otimizando a formação de ideias de produção, o que geralmente contribui para o desenvolvimento da produção local. O ganha-ganha gerado por clientes em coprodução ajuda na difusão de novos produtos, especialmente quando associado ao uso de redes sociais e comunidades de clientes, propiciando surgimento de novos produtos e otimização da produção local. 

4.3 procedimentos para assertividade

A proximidade de clientes coprodutores nas atividades de produção da Resex aumenta a assertividade do processo e reduz os custos, pois este estreitamento possibilita lançar mão de discussões pouco produtivas puramente tentando acertar, que nesse caso já temos a opinião conclusiva dos consumidores. Foi verificado que os consumidores relacionam com a coprodução sem necessariamente receber compensações financeiras das cooperativas, a participação dos clientes é limitada a visitações e diálogo, sem mão de obra, desta forma se enquadra como uma experiência colaborativa à comunidade do Lago Cuniã.

O Processo de produção é desenhado pela cooperativa de modo a permitir encontros de coprodução com clientes em momentos e intensidades diversas e somente em algumas cadeias produtivas quanto não necessita de padrões operacionais supervisionados. Os encontros desenhados na produção primam pelo diálogo, transparência, acesso a informações e compartilhamento de riscos entre cooperativa e cliente, pois o sentido do relacionamento cliente/cooperativa é puramente para dialogar e ampliar as ideias de produção.

4.4 Oportunidades

A Cooperativa quando orientada pelo mercado tem mais facilidade na adoção da coprodução como prática na produção, pois como consequência do aumento produtivo se vê a oportunidade de abranger maiores mercados consumidores. A Cooperativa desenvolve cultura colaborativa para obter facilidade na adoção da coprodução como prática na produção, adotando diálogos imprescindíveis para a finalidade de posicionamento do produto no mercado. Isso se torna uma pertinência do coprodutor em produtor uma vez que estão envolvidos dentro da cadeia produtiva.

4.5 Crescimento calculado

Grau de inovação do produto pelo cliente potencializa a atuação do cliente como co-produtor a cada vez mais se tornando constante e normal, pois o cliente passa a fazer parte do processo de produção, que proporciona economia e crescimento produtivo e financeiro em todos os aspectos na cadeia produtiva agroecológica. O perfil de envolvimento do cliente influencia em sua participação como co-produtor, certamente depende do cliente para a obtenção do êxito produtivo e que algumas vezes só se apresentam para sanar suas curiosidades sobre o processamento sem envolvimento e compromisso com a produção.

5 CONCLUSÕES

O artigo aqui desenvolvido apresentou, a análise da relação de coprodução agroecológica, identificando através de um estudo teórico empírico visando observar o comportamento e interações dos consumidores com os produtores locais do lago do Cuniã através da colaboração das cooperativas COOPCUNIÃ e COMADE junto com a associação ASMOCUN e o ICMBio que administra a RESEX que se localiza o Lago do Cuniã, no município de Porto Velho.

A relação dos produtores e moradores da RESEX Lago do Cuniã vem crescendo cada vez mais, considerando o projeto de manejo das cadeias produtivas existentes no local como o Açaí, Castanha do Brasil, Babaçu, Farinha e da Carne de Jacaré com muitas possibilidades de investimentos e incentivos. Neste contexto, outro fato primordial para o desenvolvimento e crescimento da coprodução agroecológica com sustentabilidade é a colaboração da comunidade que está envolvida no processo produtivo.

Através do referencial teórico e das entrevistas realizadas, comprova-se que as cooperativas e a associação têm uma participação primordial na relação com os consumidores finais dos produtores do Lago Cuniã. Visto que tem recuperado a credibilidade junto aos moradores da RESEX, por meio das ações realizadas por eles e por agentes do governo para desenvolvimento local, provenientes de reuniões e chamamentos públicos para que todos envolvam nessa cadeia de produtiva.

Seria de grande importância o desenvolvimento de novas pesquisas de forma fomentar o aprofundamento das questões relacionadas a coprodução de cada processo produtivo para comparar o desenvolvimento das ações descritas neste artigo alcançaram o objetivo proposto, avaliando o comportamento da produção e verificação da efetividade da cadeia produtiva agroecológica na RESEX.

6 REFERÊNCIAS

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1 Graduado em Engenharia de Produção Civil pelo CEFEWT-MG e Mestre em Administração da universidade Federal de Rondônia. E-mail: cezaros@gmail.com.
2 Docente do Curso Superior de Engenharia Civil no Centro Universitário São Lucas (UniSL), Campus Porto Velho. Mestre em Engenharia Civil da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: jose.carlos@saolucas.edu.br
3 Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela Universidade de Brasília (UnB). Engenheira Civil do Departamento de Estradas e Rodagem e Transportes de Rondônia, RO. E-mail: kenianatha@gmail.com
4 Docente do Curso superior de Medicina da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Graduada medicina e Mestre em Ciências da Saúde da universidade Federal do Mao Grosso (UFMT). E-mail: <dra.andrea.barbieri@gmail.com
5 Graduado em Engenharia Civil pela FARO, Pós-graduado em Infraestrutura de Transportes e Rodovias pela UNICID. E-mail: robinilsonbraga@hotmail.com