REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7867342
Ana Thayná de Matos Simplicio
Resumo
Esta pesquisa teve como objetivo geral elucidar as consequências do consumo de pornografia, seus efeitos na sexualidade e se a pornografia legitima a violência que expressa em seu conteúdo, violência destinada principalmente para as mulheres que tem seus corpos explorados e objetificados com o objetivo de gerar prazer, assim como apresentar a perspectiva da psicanálise diante do consumo e efeito. Por tanto foram estabelecidos os objetivos específicos de a) explanar sobre as consequências do consumo de pornografia; b) elucidar como a pornografia legitima a violência que tem como a principal vítima as mulheres devido as estruturas de gênero; c) apresentar como a psicanálise enxerga a pornografia e suas consequências. Utilizando de metodologia bibliográfica, qualitativa e exploratória, utilizando da análise de materiais produzidos sobre o tema. E assim compreender se as produções pornográficas tem o efeito de legitimar as violências de gênero.
Palavras chaves: Pornografia; Violência, Violência de gênero
Introdução
O consumo de pornografia é algo que está presente na sociedade à muitos anos e só se intensificou com a chegada da livre internet que proporcionou o que era em formato físico sendo por filmes ou revista tendo assim um maior grau de dificuldade ao acesso é transformado em uma grande rede online de inúmeros registros pornográficos acessível a qual sujeito conectado à internet, sem restrição para consumo ou produção, como a categoria amador deixa claro.
Quando falamos de pornografia falamos de uma mídia que recebe um tabu social que faz com que suas produções e consumo sejam ignorados e escondido porém isso não faz com que não seja consumida e que não gere consequências por isso, o consumo de pornografia tem efeitos na vida do indivíduo que a consome, seja na vida psíquica afetando o que sente, como sente, sua sexualidade e suas relações, e pode legitimar a violência pois essa é a imagem que a pornografia produz, em especial contra mulheres por ter como maior público final da pornografia meninos e homens héteros.
A justificativa para a realização deste trabalho está no interesse da autora em observar como a pornografia que como citada está presente no cotidiano, e de fácil acesso e se apresenta como lugar para descargas de tensões, tem efeitos individuais e sociais, alterando a sexualidade dos indivíduos que a consomem, e gerando grandes consequências como serão apresentadas.
Com contribuições para a sociedade pois é comumente ignorado na vida social a pornografia esta fica na intimidade, mas suas consequências não. Terá contribuições acadêmicas pois oferece conteúdo para que este tema ganhe mais destaque e assim mais pesquisas para que por fim possa combater as graves consequências.
Para compreender a pornografia é necessário entender sobre as sensações, emoções, sentimentos, cultura, história, comportamento e a fantasia que está intimamente ligada ao consumo de pornografia pois está alimenta e mesmo que no imaginário a realiza. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021)
1 PORNOGRAFIA
A pornografia em sua definição significa gravuras e imagens de obscenidades sobre prostitutas, seu início é difícil datar pois são encontrados vestígios de pornografias em tempos remotos. Mas ganhou força na década de 60 em conjunto com o movimento hippie nesta época em que seus conceitos começaram a ser explorados, época marcada pela ruptura das restrições que a expressão livre da sexualidade sofria, falar sobre os diversos aspectos da sexualidade humana começou a ser possível a partir de então. (Postal et al, 2018)
Muller, Oliveira e Bonfim (2021) diferencia a pornografia e o erotismo que vem do grego Eros (deus do amor) que significa sensualidade, fantasia sexual, desejo e amor representando a intimidade e também saúde física e psicológica, remetendo as relações sociais.
O conceito de pornografia não é tão simples, ao longo dos anos este foi bem diversificado e depende muito da cultura de quem o define. A pornografia pode ser definida como material sexual explicito que contenha imagens de nu ou de atos sexuais; há também definições mais críticas como a de que a pornografia é um material que explora a sexualidade humana de forma explicita com a exibição a submissão em especial feminina no ato sexual; outra definição crítica é a de que a pornografia é a reprodução não do ato sexual mas da dominação masculina sobre a feminina, colocando as mulheres em situação de abuso e exploração; diante do exposto o que fica claro é que as definições são diversas, mas sua origem vem do grego do Porne e Graphein, o primeiro tem como significado prostituta e o segundo gravura, sendo em tradução livre gravura sobre prostituta e prostituição. Mas Ribeiro (2016) complementa ao afirmar que Porne tem o significado específico de prostitutas sendo estas a classe mais baixa de prostituta aquelas disponíveis a todos, o que pode ser caracterizada como escrava sexual.
Para Andrade, Bornancin e Gaio (2022) a pornografia não é a mera reprodução de relações sexuais e se fosse, seus efeitos seriam menores e menos nocivos, porém a pornografia é a reprodução de uma linguagem que carrega ideologia que realiza a manutenção das estruturas de poder como as de gênero.
A pornografia na sociedade contemporânea é algo que atravessa a cultura produzindo sentidos e uma nova forma de expressar a sexualidade, pela pornografia representar um conteúdo violento e por vezes criminosas como a pedofilia as vezes expressa em seu material, e exibido como natural e “erótico”. (Oliveira, 2021). O que antes era considerado algo obsceno e proibido, na atualidade se tornou algo comum pelo fácil acesso e a segurança do sigilo. Anteriormente acessado por revistas e filmes alugados, comprados e às vezes compartilhados, agora é de amplo acesso. (D’Abreu, 2013)
A pornografia existe desde a antiguidade e acompanha a evolução tecnológica da época o que na contemporaneidade significa que a cada ano a pornografia acompanha a evolução e se torna cada vez mais acessível, através do acesso à internet o consumo de pornografia é cada vez mais cedo e mais fácil. (Postal et al, 2018)
O avanço tecnológico foi significativo desde a década de 90 com o surgimento da internet, celulares e a popularização de computadores, a comunicação e informação está na palma da mão e a pornografia também, atingindo um grande número de usuários e sem critérios para o consumo, basta apenas estar conectado. Com um gigantesco espaço na rede de internet a pornografia e outros conteúdos sexuais atinge gradativamente um público maior e mais diverso (Postal et al, 2018). Antes a pornografia era realizada por meio dos desenhos, escritos como livros e gravuras, mas com a evolução tecnológica a pornografia se modernizou, passou a produzir filmes e na atualidade possui site com diversos vídeos, com ou sem produção, qualquer indivíduo que tenha acesso a internet pode consumir, compartilhar e produzir pornografia. (Ribeiro, 2016)
A internet para a pornografia a transformou com a evolução da tecnologia em algo rápido, fácil e “seguro”, pesquisas apontam que as visitas em sites pornô superam a de sites como o instagram, twitter e a netflix. No ano de 2019 o pornhub o maior site pornográfico do mundo recebeu 42 bilhões de visitante na média de 115 milhões de pessoas por dia visitando o site. (Monteiro; Vianna, 2021)
As mudanças advindas da evolução tecnológica transformaram a relação dos indivíduos com a pornografia, além do já citado rompimento de barreiras no acesso a pornografia que foi simplificado e tornado cada vez mais “seguro” e sigiloso, as mudanças estão nas conexões virtuais, na criações de comunidades e fóruns na internet com o intuito de divulgar e compartilhar pornografia, aproximando fantasias, e abrindo para seus usuários novas possibilidade com as novas informações adquiridas, identificando gêneros, estilos e gostos. (Andrade; Bornancin e Gaio, 2022)
O desenvolvimento tecnológico contribui para crescimento da pornografia como indústria, comercializando produtos que apresentam atos sexuais explícitos com o público alvo de homens héteros e alimenta as estruturas e papéis de gênero. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021)
A pornografia transforma o sexo em mercadoria (Postal et al; 2018). A indústria pornográfica vende prazer, sexo e segurança e gera grandes lucros, mas esta indústria sustenta as estruturas de poder existentes na sociedade como as relações de gênero e misoginia (Oliveira, 2021). Dentro de sua origem percebemos que a definição de pornografia não meramente sobre sexo e atos sexuais, é sobre a representação de mulheres prostituídas, este é o seu significado, e se apresenta dentro de uma realidade de dominação masculina em que as mulheres são usadas para servir aos homens e seus desejos. (Ribeiro, 2016)
Muitas vezes a pornografia foi definida como tudo que representa o sexo obsceno e vulgar, atos de devassidão. Sua definição original vem do grego e significa escritos sobre prostitutas que representam submissão, violência extrema e explícita produzida para ser comercializada objetificando os corpos femininos. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021). As produções pornográficas produzem conteúdo que majoritariamente são produzidos para homens, héteros e cis, reforçando padrões sociais de desigualdades. As produções pornográficas ganham uma perspectiva feminista com o objetivo de romper essas estruturas. (Sá; Oliveira; Pereira, 2021) Como é produzida e principalmente destinada ao público masculino e heterossexuais, esta busca atender à necessidade desse público, correspondendo às estruturas socioculturais patriarcais. (Andrade; Bornancin e Gaio, 2022)
O conteúdo pornográfico sendo filmes, vídeos na internet ou revista tem como principal público homens, entretanto existem também materiais destinados às mulheres. Postal et al (2018) Os filmes pornográficos historicamente constroem um imaginário machista, que reforçam estereótipos de gênero, reproduzindo a fantasia sexual através da submissão feminina e da dominação dos homens assim como o reforço do padrão de beleza. Muller, Oliveira e Bonfim (2021) completa que essa idealização do comportamento sexual criado pela pornografia gera consequências nos relacionamentos, no desenvolvimento sexual, na autoestima e encoraja a violência contra as mulheres.
O público adulto que visita sites pornográficos é dividido em 72% do sexo masculino e 28% do sexo feminino, porém pesquisas apontam que o consumo de pornografia está iniciando cada vez mais cedo. E esse efeito podem ser ainda mais graves pois muitas vezes é a única forma de educação sexual que esses indivíduos que estão iniciando sua vida sexual que terão, o que é preocupante pois a pornografia não ensina sexualidade ensina apenas violência. Através de pesquisa é possível ver que 46% dos homens e 16% das mulheres consomem pornografia pelo menos uma vez na semana e entre 6% e 28% do sexo masculino afirmam que esse habito é problemático. (Postal et al, 2018)
O primeiro contato com a pornografia em geral acontece com 11 anos de idade com a maioria dos consumidores sendo homens e meninos. (Oliveira, 2021). E com a facilidade de acesso a pornografia se torna cada vez mais difícil um adolescente que não tenha contato com a pornografia na internet. Com uma média de 2 horas por semana divididas em sessão de 9 minutos. Com a média de idade de 17 para que o adolescente tenha sua primeira experiência sexual, em média um adolescente tem 1.400 sessões pornôs antes de ter sua primeira experiência sexual. A pornografia está disponível para o consumo na privacidade de casa por meio da internet, que possibilita anonimato. (Postal et al, 2018)
O ambiente digital e essa conexão prática que este oferece entre os usuários tem uma produção e divulgação rápida e fácil, com abastecimento de conteúdos diariamente em diferentes nichos, sustentando assim uma indústria muito forte. (Andrade; Bornancin e Gaio, 2022). Outro ponto que os autores realçam é o anonimato pois é possível entrar, divulgar e compartilhar conteúdo sem se identificar, e estes conteúdos podem ou não conter violência.
Sá, Oliveira e Pereira (2021) afirmam que exista um ciclo social que promove a objetificação de corpos femininos, que são legitimadas na pornografia e naturaliza as práticas. O corpo feminino é exibido e explorado com naturalidade, a violência sofrida pelas mulheres ao ser penetrada, recebendo fluidos corporais tendo como características de comportamentos a submissão.
2 O CONSUMO DE PORNOGRAFIA
As representações sexuais existem desde a antiguidade através das gravuras e escritas, era possível apresentar narrativas de sexo e prazer, que rompiam com as normas e a moral social o que fazia com esse conteúdo fossem uma forma de expressão política e de liberdade. Porém esse cenário muda quando nasce a indústria pornográfica que transforma o erotismo, o sexo e o corpo em mercadoria. (Oliveira; Cervi, 2021) A pornografia se torna apenas um empreendimento econômico, perdendo possíveis significados de liberdade sexual e conteúdos críticos a sociedade. (Andrade; Bornancin e Gaio, 2022)
A pornografia comercializa o sexo, o prazer e os corpos tendo como resultado a coisificação o ser humano criando a fantasia da ausência de vida nos corpos prontos para serem usados em busca do prazer, há também a dessensibilização sexual que o consumidor de pornografia pode passar com tanto tempo sentido prazer apenas através do consumo de pornografia pode ser que as relações sexuais de fato percam seu atrativo. (Oliveira; Cervi, 2021)
Segundo pesquisas o consumo de pornografia contínuo e intenso pode gerar várias mudanças cognitivas, emocionais, sociais, físicas e afetivas. Podendo ter mudanças neuroanatômicas e diminuindo as funções cerebrais, o prazer que a pornografia gera pode funcionar como um sistema de recompensas devido a atuação do neurotransmissor a dopamina. (Postal et al, 2018)
O consumo de pornografia frequente gera a dessensibilização no usuário que cada vez mais precisa consumir conteúdos mais intensos e com mais frequência, e com a evolução tecnológica que possibilita o acesso livre e ilimitado a pornografia para a internet tornou esse conteúdo que antes era um tabu e obsceno em corriqueiro, e como citado anteriormente o grau de consumo vai aumentando então a violência expressa na pornografia vai aumentando também para alcançar o prazer obtido anteriormente. (Oliveira, 2021)
Postal et al (2018) afirmam que a pornografia desenvolve em seus usuários uma expectativa sobre comportamento e aparência, dificultando suas relações e causando frustações sexuais, gerando consequências na vida de homens e mulheres. Muller, Oliveira e Bonfim (2021) completam que uma das consequências da pornografia aos homens que a consomem é o efeito na vida amorosa aumentando a dificuldade em demonstrar, desenvolver e receber afeto, que já é uma dificuldade devido aos papéis de gênero que esses desenvolvem. Contribuindo para comportamentos que expressem violência contra as mulheres, além de afetar de forma grave o âmbito social e gera muitas vezes isolamento, quebra de vínculos e até dessensibilização no ato sexual principalmente quando este não apresenta violência.
Os impactos da pornografia não estão somente no expecto individual de seus consumidores, mas também em todo um aspecto sociocultural por trazer a violência com naturalização ao contexto do prazer, as mulheres violadas são reais, a cultura que normaliza a violência contra as mulheres é real, e gerar prazer com isso é uma consequência real a toda a sociedade. (Andrade; Bornancin e Gaio, 2022)
A pornografia gravada constitui uma linguagem audiovisual que abrange conceitos culturais internalizados e naturalizados socialmente, assim como os cria e intensifica na formação cultural. Os autores finalizam afirmando que para compreender a pornografia como fenômeno cultural é fundamental compreender os contextos culturais e históricos que sustentam sua reprodução, e assim poder compreende-la como manifestação de subjetividade que ocupam e utilizam desse território linguístico. (Andrade; Bornancin e Gaio, 2022)
A busca por prazer se torna cada vez mais intensa e compulsória e assim também o conteúdo que oferece prazer se modifica se tornando mais intenso e extremo. Muller, Oliveira e Bonfim (2021) afirma que o consumo frequente de pornografia cria o que ele denominam de espiral negativo em que cada vez a intensidade e extremidade das imagens tem que ser maiores para alcançar o prazer. Entre as consequências desse comportamento estão a dificuldade com a realidade, com tanto tempo e frequência com a excitação na fantasia a realidade passa a ser menos prazerosa e isso diminui a libido, dificulta as relações sexuais com um parceiro real, dificuldade de ereção e gozo. (Postal et al, 2018)
A pornografia quando presente desde muito cedo e permanece em consumo causa muitos problemas na vida amorosa, social e sexual do seu consumidor, como a diminuição da libido, do prazer principalmente em situações que não envolvem a pornografia, assim como dificuldade de ereção, pode gerar isolamento, baixa autoestima e graves dificuldades em manter relacionamentos seja pela agressividade e comportamentos sexuais sem afetividade através da objetivação de parceiros sexuais que é aprendido e repetido, ou pelas consequências sexuais. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021)
Postal et al (2018) afirmam que uma das consequências mais devastadoras da pornografia é o vício em consumo de pornografia. O avanço tecnológico tornou a pornografia mais acessível e, portanto, aumentou seu domínio, esta carrega uma grande influência na vida sexual de seus usuários principalmente os jovens que tem como referência para suas relações sexuais a pornografia e formam suas preferências sexuais usando o conteúdo exibido pela pornografia, podendo ocorrer em consumidores mais velhos. O autor chama de “remodelagem” quando a pornografia reestrutura o cérebro de um adulto. O consumo de pornografia está também bem relacionado a frustração sexual pelas alterações cognitivas que esta causa.
As demandas dos consumidores foram atendidas com a evolução tecnológica em que o que antes era emprestado, alugado, comprado e muitas vezes acessado de forma coletiva na atualidade tornou-se algo acessível, anônimo e que pode ser acessado quantas vezes quiser tendo apenas que ter acesso a internet. (Oliveira; Cervi, 2021)
O consumo de pornografia e a masturbação podem estar unidos e nem sempre uma é realizada na companhia da outra, mas a pornografia pode ser como fantasia para a masturbação. Fantasias sustentadas pelo material sexual explicito que a pornografia oferece, que apresentam cenas intensa de dominação. (Postal et al, 2018) A experiência pornográfica e de masturbação direciona seus consumidores a um orgasmo solitário e fantasioso que através dos conteúdos perversos expõe ao consumidor suas fantasias recalcadas. (Andrade; Bornancin e Gaio, 2022)
Os autores Andrade, Bornancin e Gaio (2022) relatam a dificuldade de encontrar um limite no consumo de pornografia de forma saudável, ou seja, sem a dependência, sem a alienação que constrói e reforça estruturas de violência de gênero. Os autores Baumel et al (2020) apresentam dados sobre o consumo saudável em sua pesquisa participantes veem o consumo de pornografia como benéfico, sendo um canal para a descoberta sexual e desconstrução de estruturas limitantes da sexualidade em especial em mulheres, que podem passar a experimentar prazer com seu próprio corpo.
Quanto mais se consome pornografia mais distante fica o limite do que é erótico e sexual e o que é violência, a pornografia que antes tinha a proposta de mostrar o obsceno e explicito, atualmente mostra o extremo e o violento. A busca por esses materiais cresce com seu consumo ficando o interesse de seu consumidor cada vez mais violento. (Oliveira; Cervi, 2021)
A experiência cinematográfica traz a sensação de falsidade ao experimentado, quando se assiste um filme sempre vem na ideia de que aquilo não é verdadeiro e sim uma montagem, de atuação com roteiro e efeitos, porém o mesmo não é possível dizer da pornografia onde tudo que se apresenta é real, o sexo, a dor e a violência, os corpos estão realmente sendo dominados e violados. O cinema pode distanciar ou aproximar o desejo do telespectador, mas sempre o cinema vai expressar claramente o que a sociedade deseja. Apesar de a pornografia exibir uma violência real sem montagem e que influência mais violência, esta não é sua criadora ela apenas reflete estruturas de poder violentas que estão presentes na sociedade e pôr fim a legitimam. (Oliveira; Cervi, 2021)
3 A LEGITIMAÇÃO DA VIOLÊNCIA PELA PORNOGRAFIA
Como citado anteriormente a pornografia exibe violência, porém esta não é uma violência isolada esta é uma violência real que representa a realidade social o machismo, racismo e exploração sexual real. Produções como a pornografia alimentam os comportamentos reais. (Oliveira, 2021)
O sexo pornô não presenta o ato sexual da forma natural e saudável com a expressão de afeto, carinho e empatia e sim a presença da aversão com raiva, angustia, ódio, poder e força. A pornografia apresenta estereótipos de homens e mulheres que devem ser seguidos, os comportamentos apresentados pela pornografia configuram em violência de gênero tanto na forma sexual quanto na psicológica. A pornografia é um discurso afirmativo sobre a dominação masculina. (Monteiro; Vianna, 2021) A violência reproduzida na pornografia naturalizada a brutalidade e faz com que seus consumidores não percebam as cenas como violência. (Oliveira; Silva, 2022)
A aceitação da violência na indústria pornográfica é bem clara, ao entrar em algum site pornô é possível observar que os vídeos presentes nestes expressam em seus títulos de forma clara a violência, abuso e humilhação, sendo verbal, física, sexual ou simbólica, apresentando até ações criminosas como estupro e pedofilia. Em uma observação simples é possível perceber que a pornografia não é sobre prazer mais sim sobre violência. (Oliveira; Cervi, 2021)
A violência de gênero é o ato agressivo destinado a uma pessoa pela sua identificação de gênero, que se sustentam devido às desigualdades de gênero presente na sociedade, essa violência recai nas mulheres devido aos papéis de gênero que são determinados para as mulheres considerando estas como seres ínferos. (Ribeiro, 2016). A violência de gênero é o uso da força para se sobrepor a outro, seja de forma física, moral, psicológica ou simbólica. (Ferreira; Souza, 2018)
A pornografia não mascara suas tendências agressivas esta deixa explicito sua aceitação pelo sofrimento, da dor, da humilhação, da degradação em geral de corpos femininos, que correspondendo seu papel social assume o lugar de oprimida também na pornografia, opressão que pode ir além do gênero podendo se apresentar na raça também que se apresenta como uma categoria na pornografia. (Oliveira; Cervi, 2021) A pornografia apresenta o que os homens esperam, pensam e fazem com as mulheres, esta é a expressão da dominação masculina, personificando como os homens acreditam que podem usar as mulheres. (Ribeiro, 2016)
A pornografia tem um papel fundamental na desumanização das mulheres, quanto mais as exposições das mulheres são apresentadas mais o status de humana destas é reduzido a objetos sexuais. O desejo apresentado através da linguagem que apresenta o discurso pornográfico tem consequências desastrosas na sexualidade humana. (Monteiro; Vianna, 2021). Na pornografia a mulher é descrita como escrava sexual que está sempre à disposição para que o homem domine e sinta prazer com a dominação e humilhação sexual, a pornografia naturaliza a violência que exibe, apresentando estes comportamentos como expressão da sexualidade. (Ribeiro, 2016) Os conteúdos pornográficos reforçam e destorcem a visão dos homens sobre as mulheres e sobre o sexo, afetando assim sua sexualidade. (Oliveira; Silva, 2022)
A pornografia pode ser dividida e classificadas em heterossexual e homossexual dividida em lésbica, gay, bissexual e transexual, e em todas essas classificações o falo exerce o lugar de poder e dominação, o homem é o portador do poder, o que foge da heterossexualidade, cis e branco ocupa o lugar de submissão. (Ribeiro, 2016)
Dentro da pornografia existe também a classificação de raça em que as desigualdades de gênero e raça se fundem e intensificam a violência que as mulheres sofrem com a dupla subordinação da mulher. Apresenta a classificação de idade sendo teen e milf, em que a teen representa a fantasia de pornografia utilizando de atrizes pequenas que pareçam crianças que serão submetidas a homens mais velhos. A segunda categoria de idade a milf apresenta uma mulher mais velha que deseja sedentamente ser dominada. (Ribeiro, 2016)
A pornografia e sua produção está intimamente relacionada as estruturas de poder que definem o superior ou o inferior, com o conteúdo reproduzindo as hierarquias de poder que perpetuam a submissão feminina. (Ribeiro, 2016) A descrição e reprodução das relações sexuais são baseadas em fantasias de homens sobre as mulheres, apresentando corpos femininos como objetos servindo aos prazeres dos homens, e a pornografia é um exemplo dessas reproduções em que homens criam conteúdos para outros homens sentir prazer. (Oliveira; Silva, 2022)
Ribeiro (2016) agrega que a pornografia pode ser definida em violenta e não violenta, a primeira apresenta comportamentos de dominação, abuso e agressão, ações de extrema humilhação e desumanização das mulheres. Já na segunda a pornografia não violenta não apresenta atos físicos de violência ou sejam não são visivelmente observados, mas esta apresenta a violência psicológica, patrimonial, verbal, moral e simbólica. Podendo ser dividida em dois sendo hard core e soft core, a soft core pode ser definida como material que exibe a nudez e sugere ralação sexual, enquanto a hard core é explicita e extrema, mas é importante salientar que a pornografia hard core evoluiu com o tempo e continua a evoluir, até alguns anos a pornografia hard core era aquela com nudez explicita e penetração, na atualidade é bem mais extremo apresente comportamento de extrema violência e humilhação, e estes são intensificado com o tempo se tornando cada vez mais extremo. Mas todas as duas apresentam misoginia através da violência e degradação das mulheres.
Ribeiro (2016) em sua tese defende que o consumo de pornografia predispõe homens a violência contra as mulheres em especial a violência sexual, inibindo a consciência que é contra o desejo de estuprar, e nas mulheres pode enfraquecer as resistências à violência por acreditarem que é normal. Agressão sexual é definida como ato sexual realizado sem o consentimento da pessoa, com ampla possibilidade de comportamentos de importunação sexual que pode ser de passar a mão, tirar roupa que iram de coerção sexual até estupro. (D’Abreu, 2013)
Os efeitos da pornografia afetam homens e mulheres através dos reforços dos estereótipos de gênero através dos comportamentos sexuais rígidos que devem ser seguidos por homens e mulheres, porém tem consequências graves para as mulheres por ocuparem o lugar de submissão e inferioridade. A pornografia constrói e reproduz misoginia, e através da violência que exibe fazendo com que os homens não percebam as crueldades que cometem e as mulheres acreditarem que merecem receber. (Ribeiro, 2016)
A contribuição da pornografia para as desigualdades e violências de gênero podem ser de forma indireta através da naturalização de inferioridade das mulheres em relação aos homens e de forma direta quando exibe comportamentos sexuais de extrema violência e banalizando a violência nas relações sexuais, os títulos dos vídeos e a linguagem utilizada. (D’Abreu, 2013) E através dos sorrisos e gemidos forçados a indústria pornográfica desfaça, nega e fantasia a violência, adicionando a ideia de que a dor é prazerosa e a violação leva ao êxtase, o que gera como consequência a confusão entre o que é sexo e o que é violência, e esse é um fator significativo para a legitimação da violência contra as mulheres, fazendo dos comportamentos apresentados pelas mulheres algo essencial das mesmas. (Monteiro; Vianna, 2021)
A pornografia não é um simples sintoma da misoginia presente da sociedade, mas um agente ativo na perpetuação dessa estrutura de ódio que gera diversas violências contra as mulheres. (Ribeiro, 2016)
Neto e Ceccarelli (2015) acrescenta que o Brasil é o segundo país que mais produz pornografia sendo superado apenas pelo Estados Unidos com produtos destinados para homens e por homens. Apresenta três perfis de consumidores de pornografia online, divididos em recreacional que consome como entretenimento, os compulsivos que já apresentam características mais patológicas sobre o consumo encontrando na internet uma forma de expressar sua sexualidade; e para finalizar os consumidores de risco que em geral tem na internet sua única forma de interação sexual, e tem o consumo em níveis mais elevado.
Os movimentos encenados na pornografia são encenados, porém as mulheres são reais e performam atos sexuais violentos, que não são de mentira são reais. Ribeiro e Ceccarelli (2015) Completam que a pornografia é uma forma de expressar a violência contra a mulher, naturalizando esse comportamento. A pornografia legitima a violência pois estimula no consumidor o desejo de agredir sexualmente, ou seja, reproduzir o que assiste na pornografia, associando as práticas e comportamentos violentos a sexualidade normal.
Dines (2017) finaliza afirmando que o fim da violência por meio da pornografia só será possível quando as mulheres deixarem de ser consideradas um ser humano inferior e sua exploração seja vista como realidade de brutalidade, e assim conhecer as consequências do consumo de violência para alcançar prazer.
4 GÊNERO E PORNOGRAFIA
A definição de pornografia deixa de forma clara a subalternidade feminina e outras marcas de desigualdades sociais como raça e sexualidade, essa dominação de mulheres ocorre nas palavras e atos físicos em que ocorre violência contra a mulher, podendo ser física, sexual, verbal, psicológica ou simbólica. Essa subordinação não é apenas um aspecto mais sim algo essencial para a pornografia, todo material pornográfico terá a presença de submissão e humilhação sexual em geral de mulheres que são apresentados na pornografia como objetos sexuais desumanizados que se excitam com a dor e violação (Ribeiro, 2016)
A construção sociocultural que estabelece a condição de gênero, e segundo Oliveira e Silva (2022) a pornografia ocupa o lugar de manutenção dessa condição de gênero, ao reproduzir e reforçar estereótipos de gênero, como priorizar o prazer dos homens e o papel das mulheres é ser submissas para gerar esse prazer.
Na sociedade contemporânea as mulheres ainda ocupam um lugar de inferioridade em relação aos homens, ainda vista como objeto sexual na perspectiva da sexualidade, essa estrutura que ainda compõem a sociedade e é perpetuada pela mídia, como produções pornográficas que alimentam comportamentos violentos e abusivo com mulheres durante o sexo ou fora dele. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021)
Gênero é um papel imposto socialmente de forma distinta para homens e mulheres, esse é um processo social que cria uma condição de acordo com a estrutura de poder que marca a desigualdade. Essa condição apresenta comportamentos específicos para homens e mulheres, o homem é construído como uma figura de poder e superior enquanto as mulheres são figuras de submissão e servidão aos homens. (Souza; Simplicio, 2022)
Beauvoir (2016) em sua obra célebre expõem que não há fundamento científico que justifique diferenciação social entre homens e mulheres, e que o gênero é uma criação social assim como sua rígida divisão binária, essa divisão inferioriza mulheres a colocando no lugar social do outro, o diferente, com aspecto relacionados a submissão, pudor, passividade e silêncio.
Os papéis sociais constroem um ciclo vicioso entre a sociedade e a pornografia que se alimentam, pois, a pornografia vai legitimar os comportamentos agressivos e de degradação sexual das mulheres e justificando como desejo e fantasia sexual. (Barros et al, 2020) A reprodução dos atos apresentados na pornografia é encorajada pela narrativa misógina que esse conteúdo apresenta assim legitimando atos de crueldade e humilhação. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021)
A imagem de desvalorização feminina que a pornografia exibe com naturalidade que acaba por alimentar toda desigualdade e violência de gênero, sendo naturalizada a ponto de até as mulheres reproduzirem e acreditarem que é uma verdade, que a subordinação é o papel delas. A pornografia também sustenta a ideia de padrão corporal que idealiza o modelo de corpo ideal principalmente em mulheres, por aspectos machistas e racista a pornografia idealiza a beleza e aparência perfeita de uma mulher que ela seja magra, branca e jovem. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021)
A indústria da pornografia é um mercado direcionado para o público masculino e reflete as estruturas socioculturais reproduzindo a sociedade que hipersexualiza e inferioriza as mulheres. (Barros et al, 2020) O consumo de pornografia pode tornar as expectativas masculinas sobre as mulheres irreais e até sobre seus próprios corpos, inviabilizando o que foge do apresentado na pornografia. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021)
As produções pornográficas representam comportamentos e expectativas do que é ser mulher, reforçam as estruturas de desigualdades sociais que surgem em um sistema machista que coloca a mulher no lugar e função social de servir e satisfazer aos homens e isso adentra a sexualidade através da pornografia. (Barros et al, 2020)
Essa construção sobre o ser homem e mulher que são definidas a partir das características do sexo biológico, criam uma hierarquia de gênero que gera desigualdade e estabelecem uma dominação que é encarada como natural, mas esta é construída, essa hierarquia coloca como superior o masculino e o feminino inferior. (Souza; Simplicio, 2022)
As estruturas rígidas que definem o que é ser mulher é construída por homens e para homens, que constroem papéis para que socialmente estes possam estar em superioridade e as mulheres em inferioridade e em função de servir a estes homens que as dominam. Essas estruturas se apresentam na sexualidade definindo como padrão de gênero a subordinação sexual das mulheres, são apenas objetos belos e hipersexualizados para serem usados para satisfazer os desejos masculinos. (Barros et al, 2020)
O comportamento definido como feminino na pornografia é servidão sexual, sempre disposta a realizar o ato sexual com o homem ou homens que estão a sua volta. O autor ainda afirma existir uma resistência simbólica que seria quando a mulher na pornografia resiste com as palavras, mas com ações e comportamentos que falam sim, mesmo em situações de humilhação não apresentam desconforto. A resistência simbólica gera uma naturalização da violência sexual, cria a fantasia de que as mulheres estão sempre à disposição sexual dos homens, e que qualquer resistência que a mulher apresentar irá por fim ser expressão de prazer, alimentando a ideia de que as mulheres sentem prazer com a violência. (D’Abreu, 2013)
A dominação masculina expressa na pornografia é uma condição estruturada na sociedade cristalizada a partir do processo de socialização em que os indivíduos são ensinados a expressar um gênero que é imposto em que um é superior ao outro, e as características definidas são exigidas de forma rígidas na sociedade e são determinadas a partir do sexo que a criança nasce, sendo o gênero a identidade que vai definir a ordem social. (Oliveira, 2021)
Os papéis de gênero são rígidos, limitantes e definidos socialmente sem que o indivíduo possa escolher qual vai desenvolver, são impostos e dever ser seguidos de forma rígida. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021) A pornografia reforça crenças falsas sobre a sexualidade e sobre as mulheres, crenças relacionadas a submissão feminina, a objetificação dos corpos das mulheres em favor de prazeres masculinos e isso reforça comportamentos e práticas sexuais abusivas. (Oliveira; Silva, 2022)
A dominação masculina é uma estrutura de poder que sustenta as desigualdades de gênero e vários fatores na sociedade são influenciados por ela e a legitimam dando a esta conceitos e fantasia, como a pornografia. Estas desigualdades sustentam as violências de gênero, a dominação expressada em produções pornográficas se torna mensageira do patriarcado ensinado que os corpos femininos podem e devem ser objetificando e abusados e assim mulheres aprendem que devem ser submissas e homens que devem ser perpetradores incansáveis que dominam os corpos femininos que sentem prazer com a completa submissão. (Monteiro, Vianna, 2021)
A dominação masculina explicada acima se apresenta na sexualidade e no ato sexual, construído o masculino como ativo e o feminino como passivo, definindo a busca sexual dos homens como a busca pela posse e dominação sexual. Tendo como grande valor para o homem a virilidade, tento a necessidade constante de reafirmar a virilidade, sendo esse um ideal irreal e que tem que ser buscado a todo custo, e sendo encontrado no exercício da violência. A virilidade tem de ser vista, reconhecida e está o tempo todo sendo testada para ser um homem. A violência sexual se apresenta como uma forma de mostrar virilidade e segundo o autor o estupro coletivo também é uma forma de mostrar aos outros homens sua virilidade. (Oliveira, 2021)
A objetificação das mulheres presente na pornografia não é uma exclusividade de pornografia esta objetificação está presente em diversas formas de mídia, nas músicas, revista, propagandas, filmes, novelas e na literatura que apresentam os papéis de gênero rígido com a mulher submissa ao homem. (Ribeiro, 2016) A desigualdade de gênero é um fator significativo para as violências, pois ele legitima a violência por considerar o que sofre no caso as mulheres, inferiores e as condições a qual são expostas naturais. (D’Abreu, 2013)
A estrutura de poder de gênero define que os homens são superiores devido a seus pênis que naturalmente as mulheres são inferiores ao homem, que o sexo é a dominação e posse da mulher, a possessão fálica do corpo da mulher é um direito dos homens. (Oliveira; Silva, 2022)
Barros et al (2020) apresenta que mesmo com toda a evolução tecnológica e nos movimentos sociais as mulheres nas produções pornográficas as mulheres ainda ocupam um lugar de inferioridade e submissão, através da fetichização da degradação feminina. A pornografia heterossexual exibe sexo, exposição genital, abuso e humilhação de mulheres de maneira natural que apoia e reforça esse comportamento. (Andrade; Bornancin e Gaio, 2022)
As construções sociais dos papéis de gênero geram crenças que legitimam as violências contra as mulheres, essa legitimação é justificada na crença de que os comportamentos agressivos dos homens e submisso das mulheres é natural e significa ser homem e ser mulher. (Neto; Ceccarelli, 2015). A pornografia perpetua o ódio às mulheres expressas em suas produções violentas. (Oliveira; Cervi, 2021)
4.1 O feminismo
Como o objetivo de perpetuar as estruturas misóginas presentes na sociedade a pornografia acompanha a evolução, exibindo cada vez mais conteúdo de extrema violência, agressão, submissão e degradação feminina, legitimando assim as desigualdades e violências de gênero. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021). Na pornografia a submissão feminina é sexualizada sendo esta vendida como um produto para a satisfação masculina. (Barros et al, 2020)
D’Abreu (2013) apresenta que a desigualdade mais grave que a pornografia apresenta é a violência contra as mulheres, que de acordo com a autora é mais regra que exceção, quando falamos de pornografia, podem ser observadas nos comportamentos expressos em suas produções como espancamento, engasgos, puxões de cabelo, sufocamento, tapas, insultos em que a grande maioria é cometida por homens 70% contra as mulheres 94%.
Para Muller, Oliveira e Bonfim (2021) o sexo na pornografia é exibido como uma relação de dominação porque é construído através da construção social de gênero que divide o masculino em ativo e o feminino em passivo, os autores completam que essa construção cria, organiza e expressa o desejo, fazendo com que os homens desejem posse e dominação encarando essas vontades como muito eróticas enquanto as mulheres desejam ser dominadas encarando a subordinação como erótica.
Diante do exposto até o momento na pesquisa é comum questionar o motivo pelo qual a pornografia ainda seja livre e de fácil acesso, Monteiro e Vianna (2021) declaram que a defesa que a indústria pornográfica utiliza se baseia na defesa da liberdade de expressão que define que todos podem se expressar, mas é importante questionar as consequências de expressão livre quando está expressa violências.
Ao digitar a palavra “pornô” em um site de busca na internet em poucos segundos terá em sua tela imagens de violências brutais de desumanização. Imagens de pessoas em geral mulheres sendo estupradas, espancadas e destruídas fisicamente de todas as formas possíveis. Mas o questionamento que Dines (2017) traz em sua produção é o “Por que não há indignação?” As imagens de violências extremas principalmente contra mulheres com o objetivo de produzir excitação são invisíveis, o sofrimento feminino não comove apenas reforça definições rígidas de gênero que já foram estabelecidas aos indivíduos.
Para o movimento feminista a pornografia não é apenas a expressão gráfica de materiais sexuais, esta é a comercialização de conteúdos sexuais que desumanizam corpos femininos através da subordinação sexual a degradação corporal, que se apresenta através de comportamentos agressivos, abusivos e dominantes dos homens, sua exibição reforça e encoraja a violência de gênero (Oliveira; Cervi, 2021).
Como o crescimento do movimento feminista abriu-se nas produções pornográficas a ideia de construir uma pornografia para mulheres com direção e produção composta por mulheres que atendessem aos desejos e fantasias femininas para romper com estereótipos presente na pornografia mainstream, sendo denominada pornografia feminista. A pornografia feminista busca incluir os pontos de vista das mulheres para que esta possam apresentar suas fantasias e que tenham voz para construir conteúdos sobre sexo que representasse os desejos das mulheres (Souza; Paula, 2019)
A demanda surge com o crescimento do movimento feminista gerando a proposta de construir uma pornografia que representassem os interesses femininos, sem a violação do corpo das mulheres, criando o feminismo pró-sexo ou pornografia feminista, que iniciou na produção de conteúdo pornográfico heterossexual voltado para mulheres, oferecendo prazer e emancipação sexual. Porém o movimento anti-pornografia defende que por mais que a pornografia feminista seja produzida por mulheres e busque reproduzir a realidade humana emancipando as mulheres sexualmente, este objetivo podem não ser alcançado e as vezes até distorcido com seus conteúdos que ainda comercializam os corpos femininos e servido aos desejos masculinos. (Barros et al, 2020)
Para Souza e Paula (2019) um viés feminista na pornografia é algo improvável pois esta tem sua construção dentro da perspectiva patriarcal, e as autoras ainda definem como mainstream que seria a pornografia com viés patriarcal.
O feminismo anti-pornografia não vê possibilidade de autonomia sexual de mulheres atrás da pornografia a dita “pornografia feminista” é apenas uma nova roupagem para exploração sexual de mulheres (Monteiro; Vianna, 2021). O movimento feminista anti-pornografia faz crítica e combate a pornografia não por um motivo moralista ou conservador, mas por motivos de que a pornografia exibe e legitima a violência contra as mulheres reais e perpetua a desigualdade gênero. O problema não é o sexo e sim a naturalização da opressão de gênero. (Ribeiro, 2016)
5 PERSPECTIVA DA PSICANÁLISE SOBRE A PORNOGRAFIA
A sexualidade é um aspecto da vida humana muito importante em que às descobertas, desenvolvimento atingindo os âmbitos físicos, emocionais e sociais, corresponde a uma identificação individual. E o consumo de pornografia afeta de forma significativa esse aspecto da vida humana e interfere nos âmbitos que componham esse aspecto. (Postal et al, 2018)
A sexualidade tem uma função significativa na vida psíquica do indivíduo, as funções sexuais fazem parte da vida desde o nascimento não apenas partir da puberdade como imaginado por muitos, sendo um aspecto complexo que envolve muitos fatores humanos (Souza; Paula, 2019). A sexualidade pode ser expressa através de pensamentos, desejos, fantasias, comportamentos, crenças, papéis nas relações, na saúde e nos diversos campos da vida cotidiana de cada indivíduo (Angeloni, 2021).
A sexualidade não se resume ao comportamento sexual e ao aspecto biológico que o acompanha, a sexualidade vai além das partes do corpo e do ato sexual, tem aspectos mais amplos como a construção social em que esse indivíduo está inserido, suas experiências, seu emocional e afetivo, a forma de se expressar, ser e agir sendo assim a sexualidade um conceito muito amplo. (Postal et al, 2018) A sexualidade está presente no cotidiano de todos os indivíduos e não necessariamente apenas ao ato sexual, este é apenas um fator da sexualidade, a sexualidade é a busca por prazer em seus diversos aspectos. E falar de pornografia é falar de sexualidade. (Angeloni, 2021)
Os estudos sobre sexualidade e suas problemáticas se tornam presentes no nascimento da psicanálise, e este é um tópico fundamental na psicanálise continuar os estudos sobre a sexualidade e como a evolução tecnológica tem influência sobre a mesma. (Oliveira; Cervi, 2021)
A psicanálise desconstruiu estruturas sobre a sexualidade humana, que antes era negado às mulheres, os desejos, fantasias, libidos por muito tempo considerados algo apenas masculino, o que concretizava que a mulher eram apenas um objeto sexual a ser usado pelos homens. Souza e Paula (2019) os autores completam que a libido definida por Freud é a energia dos instintos e desejos sexuais, mas também aos fenômenos psicossociais, energia da psique que tem aspectos psicológicos e emocionais agindo no físico e social.
Para Neto e Ceccarelli (2015) a psicanálise vê o consumo de pornografia como uma forma perversa de exibir a sexualidade e este reforça fantasias perversas recalcadas no inconsciente, trazendo à tona estas, pois a sexualidade humana é composta por pulsões parciais e perversas. Souza e Paula (2019) afirmam que na atualidade a pornografia ocupa um lugar sem limitações, acessível através da internet e podendo ser consumida, compartilhada e reproduzida por qualquer pessoa que tenha acesso a internet.
A pornografia sexualiza a violência e ao oferecer as imagens de brutalidade e violação o significado de gerador de prazer e feitas para o gozo é reforçado a construção da estrutura de poder que afirma que as mulheres são inferiores e que podem ser usadas com o objetivo de gerar prazer para homens. Ao reproduzir violência como erótica abre-se a margem para que os comportamentos violentos produzidos na pornografia podem ser repetidos e imitados por homens por acreditar que são comportamentos sexuais normais. (Oliveira; Silva, 2022)
Freud com suas pesquisas dá voz aos estudos sobre a sexualidade humana fazendo significativas constatações sobre o desenvolvimento da sexualidade humana, apresentando que a sexualidade estaria presente desde a infância, fazendo parte da vida do indivíduo do nascimento até sua morte. (Postal et al, 2018)
Os estudos de sexualidade já possuem um campo sólido na psicanálise, mas é necessário que estes estudos avancem nos fatores sociais e tecnológicos para compreender como estes afetam a sexualidade humana. (Oliveira; Cervi, 2021) Freud relaciona a não satisfação de um desejo ao sofrimento, e a satisfação é compreendida como promessa de liberdade e felicidade. (Monteiro; Vianna, 2021)
Lacan e sua teoria compreende o inconsciente estruturado pela linguagem, os desejos e fantasias são desenvolvidos em forma das linguagens que o indivíduo conhece a partir do que é conhecido pelo sujeito no simbólico. A opiniões de outros são internalizadas como individuais pelo discurso. E quando trazemos isso para a pornografia falamos de um conteúdo que traz em seu significado a gravura de prostitutas no ato sexual, ou seja, coloca a mulher em uma situação de objetificação e servidão sexual como sua própria definição, o desejo feminino atrelado ao serviço a homens. (Monteiro; Vianna, 2021)
A pornografia como linguagem estruturante da sexualidade fornece significantes tais como o sorriso das mulheres – exigido pelos pornógrafos mesmo quando elas estão sendo humilhadas e difamadas. A identificação com a demonstração final de “prazer” na violação produz efeitos sobre as subjetividades das mulheres, construindo corpos submissos e retroalimentando as relações de poder desiguais entre gêneros. (Monteiro; Vianna, 2021, p. 32)
A pornografia atua como forma de descarga de pulsões sexuais, relacionadas as fantasias recalcadas do sujeito. (Oliveira; Cervi, 2021). As fantasias sexuais que se apresentam no desenvolvimento sexual humano têm grande influência no comportamento individual. E a pornografia apresenta conteúdo violento que sensualiza atos de abuso e agressão. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021)
Andrade, Bornancin e Gaio (2022) afirmam que os consumidores de pornografia encontram em seu conteúdo uma forma de realizar fantasia e desejos reprimidos atingindo assim uma possível liberdade sexual. As fantasias que são comumente apresentadas nos sites pornográficos são temas considerados socialmente impuros, inaceitáveis que fogem da moral aceita como estupro, incesto e violência, trazendo em suas fantasias contrariedades sociais o que é típico da neurose de acordo com os autores. Ainda acrescenta que a pornografia atua como escopofilia em que se obtém prazer sexual através da visualização de outros indivíduos nus e em situações sexuais. Para a psicanálise a escopofilia é considerada uma perversão primária A fantasia chama a atenção por estabelecer um paradoxo, gera prazer porem também é repugnante. (Freud, 1905 apud Andrade; Bornancin e Gaio, 2022)
Para Ribeiro (2016) a pornografia é um tema que possui diversos posicionamentos, assim como definições contraditórias, sendo sua conceituação um problema e assim afetando como a ciência enxerga esse conteúdo de grandes consequências na vida humana. A pornografia tem a capacidade de construir em seus consumidores demandas que antes não os interessavam, através da grande oferta de conteúdo de uma forma geral cada vez mais violento. (Oliveira; Cervi, 2021) O consumo da pornografia transforma o olhar do seu consumidor ao objetificar corpos e humilhar as mulheres e isso gera excitação física.
A pornografia está atenta as demandas sexuais de cada indivíduo sempre evoluindo para atender as fantasias sexuais, oferecendo com seu conteúdo imediatismo, anonimato, objetificação de corpos e violência. (Oliveira, 2021)
6 Metodologia
A pesquisa utiliza de uma abordagem qualitativa e exploratória, através de análise bibliográfica, buscando uma perspectiva teórica da psicanálise para compreender o como o consumo de pornografia afeta a vida sexual, a auto percepção de corporal e naturaliza atos de violência. A temática de pornografia e suas consequências através de uma perspectiva psicanalítica é bem rico em produções nacionais mesmo este sendo um tema relativamente novo pelo fato de a pornografia ter se tornado de fácil acesso apenas nas últimas décadas, o material utilizado na pesquisa foi coletado no google acadêmico.
A pesquisa se configura no método de pesquisa bibliográfica, qualitativa exploratória através da revisão de literatura utilizando de artigos e tese de pós-graduação para o embasamento do trabalho, com a perspectiva da psicanálise freudiana para compreender os conceitos da sexualidade, erotismo e os papéis de gênero. E como o consumo de pornografia afeta esses aspectos da vida humana.
Os materiais utilizados na pesquisa foram pesquisados no google acadêmico com descrição de pornografia e psicanálise, pornografia e violência e pornografia e feminismo.
A construção da pesquisa bibliográfica é construída através da leitura de livros e artigos científicos, esse é o instrumento exclusivo do método bibliográfico para a coleta de dados. (GIL, 2008).
Para Flick (2009) a pesquisa qualitativa é uma relevante abordagem de pesquisa para compreender as relações sociais através da comunicação que é o principal instrumento dessa abordagem, a busca de dados desse método busca compreender a relação entre o mundo e o indivíduo. Os materiais utilizados na pesquisa foram pesquisados no Google acadêmico com os descritores: pornografia e psicanalise, pornografia e violência e pornografia e feminismo.
7 DISCUSSÃO
A sexualidade tem um papel importante no desenvolvimento humano saudável, e ao longo da história a sexualidade sempre foi questionada e tratada como algo a ser escondido quando na verdade é algo saudável e essencial para o desenvolvimento. Postal et al (2018) acrescenta que culturalmente na sociedade contemporânea temos a pornografia como uma forma de expressão da sexualidade humana que exibe comportamentos e fantasias que nas produções são interpretadas como naturais.
A pornografia é uma forma de mídia que sustenta as estruturas de poder, como a violência de gênero e o machismo. (Oliveira; Cervi, 2021) A pornografia reproduz e naturaliza a violência de gênero, vendendo mulheres sorrindo enquanto são violadas. Estão disponíveis para que sejam machucadas, enforcadas, forçadas e violentadas, obrigadas a sorrir como que sentindo prazer na violência. Na pornografia a agressão é algo natural, que é provocado e esperado pela mulher, está apenas se excita com a violência, e é algo que os homens querem, e quanto mais marcas de desigualdade sociais mais a mulher será punida. (Ribeiro, 2016)
A pornografia é um fenômeno relevante para a naturalização dos papéis de gênero hierárquicos estabelecidos pelas estruturas de poder de gênero que classificam homens e mulheres como diferentes. Essa hierarquia torna a violência contra mulheres tolerável e quando falamos de pornografia os conteúdos cada vez mais apresentam violência e esses são os conteúdos que mais atraem seus consumidores e naturalizam essas práticas. (Oliveira; Silva, 2022)
Como já explicado anteriormente a pornografia gera muitas consequências sociais e individuais afetando principalmente as mulheres por ocuparem um lugar de inferioridade na sociedade diante disso é necessário para Sá, Oliveira e Pereira (2021) pensar sobre essas consequências e buscar minimizar as desigualdades que estas produções geram. Quando falamos de violência de gênero é fundamental compreender que esta surge na construção social patriarcal, que define diferenças entre os gêneros que geram a violência sustentadas por essa desigualdade. (Ferreira; Souza, 2018)
A pornografia perpetua a desigualdade de gênero, naturaliza a violência sexual de gênero, a pornografia reproduz elementos da desigualdade em que a mulher é usada para satisfazer os desejos dos homens com sua subordinação e humilhação, e muitas vezes são sutis nas produções pornográficas como na profissão encenada e posições do ato. (D’Abreu, 2013)
As características rígidas designadas para homem ou mulher definidas para cada um, estas definem comportamentos, formas de se vestir, falar, sentir e se expressar, estas são utilizadas para a divisão social que marca as desigualdades de gênero, porém essa definição de comportamentos e de ser não são naturais, as diferenças físicas não definem como o indivíduo será, essa é construída socialmente. (Oliveira, 2021)
As relações de poder constroem uma condição específica para homens e mulheres, de acordo com Souza e Simplício (2022) a condição dos homens é moldada com o objetivo de dominação e assim constroem também suas sexualidades. Nessa condição, a inferioridade das mulheres gera uma condição de vulnerabilidade às diversas violências de gênero e isso inclui violências sexuais, a violência imposta pela condição dos homens. (Oliveira; Silva, 2022)
Ferreira e Souza (2018) completa que as desigualdades de gênero têm grande influência sobre a construção da sexualidade humana, pois se divide esta em duas. Para os homens a sexualidade é livre desde cedo, esta é incentivada, naturalizando a masturbação, o desejo e a experiência, e forma contrária as mulheres tem sua sexualidade reprimida e apenas incentivadas com o objetivo de servir aos desejos masculinos, a sexualidade, prazer e desejo feminino ainda é um tabu. As estruturas sociais presentes na sociedade definem formas de sofrimento psíquico que os sujeitos irão passar. (Neto; Ceccarelli, 2015)
Os autores trazem para esse contexto de estrutura cultural de poder de gênero que através de comportamentos alguns até sutis o sexismo é reproduzido e que vão evoluindo para comportamentos mais violentos e o consumo de pornografia cria o fenômeno da cultura do estupro que está inserida em diversos comportamentos que atuam socialmente como compreensão de que o corpo feminino fosse propriedade masculina. (Oliveira; Silva, 2022)
A autora enfatiza que a pornografia aqui questionada não deve ser interpretada como uma forma moralista, mas sim como uma forma de trazer à tona a realidade do consumo, produção e suas consequências para a sexualidade humana. É fundamental pensar sobre o que é consumido na pornografia e as estruturas sociais que alimentam esse conteúdo. (Oliveira, 2021)
Ribeiro (2016) apresenta que a pornografia gera efeitos mentais e físicos em seus consumidores, o conteúdo pornográfico conte cenas de agressão, humilhação, dominação e degradação e seus consumidores sentem prazer enquanto assistem esses vídeos, muitas vezes se masturbando, gerando ereção, ejaculação e prazer com o conteúdo tendo reações físicas ao consumo. Construindo um significado também emocional que relaciona o prazer e satisfação sexual apenas ao conteúdo que consome ou na reprodução desde.
Ao falar de pornografia podemos observar dois caminhos do feminismo o pró-pornografia que compreende que a mesma pode ser produzida para romper com a dominação dos corpos femininos e libertas as fantasias, desejos e sexualidade das mulheres, e não apresentar violência. Já a parte do movimento anti-pornografia compreende a pornografia em toda a sua forma como dominação masculina sob as mulheres e pode mudar algumas formas, mas sempre será corpos femininos silenciados em espetáculos para a apreciação tanto em cenas como para o expectador de homens. (Monteiro; Vianna, 2021)
Diante dos dados sobre o conteúdo violento relatado a cima D’Abreu (2013) afirma que é possível observar a relação entre o conteúdo de pornografia e as taxas de agressão sexual de gênero, pela sua influência no comportamento de seus consumidores por colaborarem com a banalização da violência contra a mulher em especial no ato sexual. Muller, Oliveira e Bonfim (2021) acrescenta que 90% das produções pornográficas apresentam alguma forma de violência ou abuso seja verbal ou física contra as mulheres, o que naturaliza essas agressões relacionando o ato sexual a violência de gênero. O corpo desumanizado da mulher é apresentado a serviço dos homens na pornografia, e este impõe seu poder dominando a mulher, através da degradação e humilhação sexual das mulheres. (Ribeiro, 2016)
A pornografia é violenta, mostra materiais de sexo violento explicito em que se funde o sexo e a agressão que alimenta a ideia que o comportamento abusivo contra as mulheres é comum e faz parte da expressão da sexualidade. (D’Abreu, 2013) A pornografia se configura como retratação de comportamento sexual degradante e abusivo às mulheres, que relaciona o prazer e satisfação sexual a humilhação e crueldade. (Ribeiro, 2016) Pesquisas também mostram que o consumo de pornografia também está associado a comportamentos sexuais de risco como risco a agressão sexual, iniciação sexual precoce, atividades sexuais intensas e frequentes com múltiplos parceiros. (D’Abreu, 2013)
Na pornografia ocorre a erotização do sofrimento através da violência vendendo a representação de que sexo, prazer e violência andam juntas. (Oliveira; Cervi, 2021) O sexismo presente na pornografia na exibição de mulheres como objetos sexuais gera violência de gênero, ao exibir atos extremos de violência, abuso, dominação e humilhação contra as mulheres esse conteúdo legitima a violência contra as mulheres. (Ribeiro, 2016) A pornografia da forma como se apresenta na atualidade é um risco para as relações afetivas e para a própria sexualidade como um todo. (Muller; Oliveira; Bonfim, 2021)
A pornografia é definida por Dines (2017) como a documentação da tortura. É essencial na nossa contemporaneidade questionar como uma indústria que lucra milhões por ano pode se sustentar através da gravação e compartilhamento de conteúdo de violência extrema e que ninguém questione e reflita sobre as consequências.
A pornografia é majoritariamente heterossexual, ou seja, é feita por e para homens, esse conteúdo apresenta ato sexual, exposição do corpo feminino e atos de abuso e degradação de uma forma natural que encoraja e legitima esse comportamento de degradação sexual de mulheres. (Ribeiro, 2016)
Para Muller, Oliveira e Bonfim (2021) a pornografia tem grandes efeitos na autoestima de mulheres e homens por apresentar um padrão corporal distorcido e encarado uma regra que deve ser seguida de forma rígida, forçando desde muito cedo homens e mulheres a perseguir esse padrão que muitas vezes é impossível. Andrade, Bornancin e Gaio (2022) reconhecem uma relação com o consumo excessivo de pornografia e as disfunções sexuais, grande parte dos homens tem contato com esta as vezes até antes da puberdade, e seu consumo pode gerar insatisfação com o seu corpo e com a realidade.
D’Abreu (2013) completa com a afirmação de que ainda não existir estudos empíricos suficientes no Brasil que pesquisem sobre a relação direta da pornografia com as agressões sexuais. Esses estudos são fundamentais para questionar as banalizações das violências que ocorrem em diversas formas de mídias e isso inclui a pornografia alimentadas pela desigualdade de gênero que está estruturada na sociedade e assim romper com estas. A pornografia não atinge apenas quem a consome, mas também toda a sociedade. (Oliveira; Cervi, 2021)
Dines (2017) responder seus questionamentos afirmando que o motivo pelo qual a indústria pornô não seja questionada e pelo contrário a cada ano cresce mais é porque os corpos violados em sua maioria são de mulheres e em uma sociedade patriarcal a mulher é um ser humano incompleto como já afirmado por Beauvoir (1998) a mulher o outro, o inferior, construindo uma estrutura de poder em que a mulher tem que servir o homem e isso inclui sexualmente. Ao ver mulheres sendo exploradas e violadas interpretamos apenas como sexo o erótico.
A pornografia apresenta o que é tabu e improprio, escancara aos seus consumidores, e ao mesmo tempo em que choca o satisfaz sexualmente dando prazer com o que é errado, para Andrade, Bornancin e Gaio (2022) a perversão sexual caminha junto com a pornografia ao explorar o indevido na fantasia sexual dos seus consumidores, tópicos como a pedofilia, estupro, degradação e incesto são facilmente apresentado na pornografia expressando assim os desejos recalcados e que assustam e envergonham os que a desejam. Desejos que não são realidade para os que consomem, mas que os satisfazem apenas ao assistir.
Oliveira; Cervi, 2021 completam com dados relevantes para a compreensão da pornografia como alívio de tensão a descarga de energia sexual reprimida. Que é apresentada na pesquisa de Baumel et al (2020) quando os relatos dos participantes que muitos veem benefícios no consumo de pornografia, vem seu consumo como uma forma de explorar e conhecer mais sobre sua sexualidade.
As autoras Muller, Oliveira e Bonfim (2021) acrescentam que é fundamental a entrada das discussões sobre a pornografia e seus danos, assim como a construção sexual que esta fornece de uma imagem sexual objetificada e submissa. Andrade, Bornancin e Gaio (2022) completam com a afirmação de que a extinção da pornografia não é um cenário viável, mas sim que a busca para compreender sua produção e consequências. Conscientizando-se do fato da pornografia representar uma ameaça ao bem-estar individual e coletivo, e ainda limita as possibilidades individuais pois não existe a possibilidade de saciar de forma ampla seus desejos e fantasias com a pornografia.
8 Considerações finais
Diante do conteúdo discutido na pesquisa é possível observar a relação que a indústria pornográfica possui com a sexualidade humana, assim também a relação que esta tem com as estruturas sociais de desigualdades de gênero. A pornografia reproduz os papéis de gênero que marcam as desigualdades e apresenta aos consumidores como fantasia, dentro do “erotismo” que como já explicado anteriormente é o oposto da pornografia.
Os autores concordam quando apresentam que as produções pornográficas não são sobre sexo ou sexualidade, estás apresentam violência, violência presente nas estruturas de gênero.
O movimento feminista entra em discursão para falar sobre o tema que possui de uma parte do movimento a proposta de construir uma pornografia que represente seus desejos e por outra parte a certeza de que estra construção não é possível diante de tudo que a pornografia significa e o que representa.
A pornografia tem um papel fundamental na legitimação das violências de gênero pois cristaliza os estereótipos que são questionados pelo movimento feminista e tornam este em fantasia, em objeto de desejo. Por isso é essencial a ciência da psicologia estudar os efeitos da pornografia como perpetuadora da violência contra as mulheres.
Para a autora através da realização desta pesquisa ficou claro a necessidade que este tema apresenta para que seja mais pesquisado, a pornografia é um fator gerador de sofrimento silencioso, a internet proporcionou o livre e anônimo acesso fazendo com que a pornografia seja presente sem que se perceba, mas suas consequências são sentidas, então não deve ser ignorado.
Foi observado a falta de produções mais técnicas sobre o assunto, mas questionar esse conteúdo que está entranhado na sociedade há séculos é algo novo porque suas consequências se tornaram mais nítidas durante o processo de pandemia e quarentena que o mundo passou nos anos de 2020 e 2021 que fez seu consumo ser percebido como algo a ser observado.
Por fim, esta pesquisa buscou compreender como uma forma de expressão tão antiga sobre algo tão fundamental como a sexualidade vê as mulheres, como esta produção expressa o gênero e as consequências na vida das mulheres, e na perpetuação do papel submisso do feminino.
REFERÊNCIAS
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