CONTABILIDADE DE CUSTOS: A GESTÃO DE CUSTOS NO DESENVOLVIMENTO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇO DE LIMPEZA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411131510


Marcelo Guerreiro da Silva1
Marcos Vinícius Lima Ferreira2
Vinícius Corrêa Lemos Cabral3
Zuila Paulino Cavalcante4


RESUMO

Este artigo examina o impacto da Gestão Estratégica de Custos (GEC) no desenvolvimento sustentável de micro e pequenas empresas do setor de serviços, com ênfase nas empresas de limpeza. A pesquisa investiga como a GEC pode ser uma ferramenta vital para essas empresas, facilitando o controle rigoroso dos custos operacionais, o que impulsiona sua competitividade e garante sua permanência no mercado. A metodologia utilizada baseia-se em uma revisão de literatura, analisando abordagens teóricas e estudos prévios sobre a aplicação da GEC em pequenos negócios. Os resultados sugerem que a adoção de práticas estratégicas de GEC não apenas melhora a eficiência operacional, mas também fortalece a saúde financeira e a resiliência dessas empresas diante de desafios econômicos.

Palavras-chave: Gestão Estratégica de Custos, microempresas, pequenas empresas, otimização de custos, empresas prestadoras de serviços.

ABSTRACT

This article examines the impact of Strategic Cost Management (SCM) on the sustainable development of micro and small businesses in the service sector, with a focus on cleaning companies. The research investigates how SCM can be a vital tool for these businesses, enabling strict control over operational costs, which drives their competitiveness and ensures their market survival. The methodology is based on a literature review, analyzing theoretical approaches and previous studies on the application of SCM in small businesses. The results suggest that adopting strategic SCM practices not only improves operational efficiency but also strengthens the financial health and resilience of these companies in the face of economic challenges.

Keywords: Strategic Cost Management, microenterprises, small businesses, cost optimization, service providers

1. Introdução

As micro e pequenas empresas são muito importantes para o Brasil pois empregam contingentes significativos da população brasileira. No entanto, há que se refletir que estas empresas enfrentam dificuldades significativas no que tange a sua sobrevivência no mercado, e uma das principais hipóteses para essa vulnerabilidade é a má gestão dos custos da pequena instituição. A falta de controle sobre os custos operacionais pode resultar em uma série de consequências prejudiciais, como a redução da lucratividade, a dificuldade de reinvestimento e a limitação da capacidade de expansão. Esses desafios, que têm se intensificado ao longo do tempo, exigem uma abordagem estratégica para assegurar a sobrevivência e o crescimento dessas empresas. Diante disso, surge a seguinte inquietação: De que maneira a gestão de custos impactam o desenvolvimento de pequenas e micro empresas prestadoras de serviço de limpeza? O presente estudo teve como objetivo geral analisar o impacto da Gestão Estratégica de Custos (GEC) no desenvolvimento das pequenas e microempresas prestadoras de serviço, destacando sua importância como ferramenta essencial para otimizar a eficiência operacional e promover a competitividade. Entende-se que a adoção de práticas eficazes de controle e otimização de custos permite que as microempresas melhorem sua rentabilidade e fortaleçam sua posição no mercado, possibilitando uma resposta mais assertiva aos desafios e oportunidades de crescimento.

Desse modo, para atingir o que foi estabelecido no objetivo geral, a pesquisa estabeleceu os seguintes objetivos específicos: I. Identificar no arcabouço teórico os conceitos e técnicas de custos II. Apresentar as características das microempresas no Brasil; III. Demonstrar as peculiaridades relativas a custos em empresas prestadoras de serviço de limpeza Para a consecução dos objetivos propostos, se utilizou de pesquisa de cunho bibliográfico, de natureza qualitativa e, com fins explicativos.

2. Referencial Teórico

2.1 Contabilidade de Custos

De acordo com Iudícibus (2020), a Contabilidade é uma fonte confiável e segura de informações para os gestores. Como uma ciência social, ela é composta por um conjunto de técnicas e procedimentos que, quando aplicados corretamente, visam facilitar a tomada de decisões dos gestores em relação aos seus negócios. O objetivo da prática contábil é gerar dados que contribuam para a assertividade das decisões dentro das organizações.

Crepaldi (2018, p. 3) afirma que “a contabilidade de custos é uma técnica que se utiliza para identificar, mensurar e informar os custos de produtos e/ou serviços. Sua função é fornecer informações precisas e rápidas para a administração tomar decisões”.

Diante disso, entende-se que a contabilidade de custos não se restringe ao registro dos custos de produção; ela também os analisa para fornecer indícios cruciais para a gestão empresarial. Marin e Santos (2015) ressaltam que “é a contabilidade de custos que fornece informações tanto para a contabilidade gerencial quanto para a contabilidade financeira, desempenhando um papel fundamental no apoio à tomada de decisões”. Essas informações são essenciais não apenas para avaliar o desempenho financeiro da empresa, mas também para guiar decisões estratégicas, como a definição de preços de venda, a determinação da rentabilidade de produtos ou serviços, a identificação de áreas ineficientes e a busca por oportunidades de redução de custos.

2.2 Custos

Segundo Martins (2018), os custos são definidos como gastos que refletem o consumo de serviços ou bens necessários para criar um produto ou serviço. Quando esses produtos são vendidos, os custos associados a eles são convertidos em despesas, conforme o princípio da competência, que alinha as despesas ao período em que as receitas correspondentes são reconhecidas. Eles abrangem diversos tipos de despesas diretamente vinculadas ao processo de produção. Por exemplo, os salários dos funcionários da fábrica representam um custo, assim como a matéria-prima utilizada no processo de produção. Além disso, custos com combustível para as máquinas da fábrica, alugueis e seguros do prédio da fábrica também se enquadram nessa categoria, pois todos são essenciais para a produção dos produtos, conforme demonstrado na figura abaixo.

Figura 1 – Conceitos básicos de Despesas e Custos

Fonte: Elaborado pelos autores (2024)

Esses custos precisam ser cuidadosamente contabilizados e distribuídos ao longo do processo produtivo. A alocação correta dos custos é crucial para a formação do preço final do produto, garantindo que todos os gastos necessários para a produção sejam recuperados na venda do produto. Assim, a contabilidade de custos desempenha um papel vital na determinação da rentabilidade dos produtos, auxiliando na tomada de decisões estratégicas sobre precificação, controle de gastos e identificação de áreas onde a eficiência pode ser melhorada.

2.1 Despesas

Na Contabilidade de Custos, embora tanto custos quanto despesas sejam considerados gastos essenciais para a obtenção de receita, eles se diferenciam pela sua finalidade e relação com o processo produtivo. Os custos estão diretamente associados à fabricação do produto, envolvendo os gastos com matéria-prima, mão de obra direta e custos indiretos de fabricação, como depreciação de máquinas e equipamentos. Por outro lado, as despesas são necessárias para a comercialização do produto e a manutenção da estrutura administrativa e operacional da empresa, mas não estão diretamente relacionadas à produção em si.

A despesa é definida como o consumo de bens ou serviços necessários para gerar receitas, seja de forma direta ou indireta. Essas despesas englobam uma ampla gama de gastos administrativos, comerciais, financeiros e tributários, que ocorrem dentro da empresa, mas não estão diretamente ligados ao processo produtivo. Exemplos incluem os gastos com salários e encargos sociais do pessoal de vendas, energia elétrica do escritório, aluguel do escritório, combustível utilizado pelo pessoal de vendas e seguro do prédio do escritório.

De acordo com Santos (2015), a despesa refere-se ao sacrifício patrimonial necessário para a manutenção da empresa com o objetivo de gerar receita. Este conceito abrange tanto as despesas diretamente relacionadas à obtenção de receitas, como aquelas associadas ao período, como depreciação de equipamentos administrativos e despesas de marketing, que embora não representem um esforço direto para a geração de receita, são indispensáveis para a operação e sustentabilidade do negócio. Portanto, enquanto os custos estão relacionados à produção de bens ou serviços, as despesas são voltadas para as atividades administrativas, comerciais e financeiras da empresa, desempenhando um papel crucial na sua manutenção e funcionamento.

2.2 Métodos De Custeio

Na gestão de custos, a determinação do valor dos custos é uma etapa crucial. Os sistemas de custeio são ferramentas fundamentais nesse processo, pois são responsáveis por acumular e apropriar os custos aos produtos. Como destacado por Marin e Santos (2015), tais sistemas desempenham um papel central na contabilidade de custos.

Crepaldi (2018) ressalta a existência de dois métodos básicos de custeio: o Custeio por Absorção e o Custeio Variável ou Direto. Esses métodos são aplicáveis em diferentes sistemas de acumulação de custos e representam abordagens distintas na forma como tratam os custos fixos e variáveis.

O Custeio por absorção, por exemplo, considera todos os custos, fixos e variáveis, como parte do custo do produto. Já o Custeio Variável, também conhecido como Direto, atribui apenas os custos variáveis diretamente relacionados à produção do produto, tratando os custos fixos como despesas do período.

Esses métodos têm suas vantagens e limitações, e a escolha entre eles pode impactar significativamente a avaliação do desempenho e a tomada de decisões gerenciais. É importante compreender suas características e aplicabilidade para garantir uma gestão eficaz dos custos e uma análise precisa da rentabilidade dos produtos.

Para as empresas em geral a escolha entre os métodos de custeio é crucial, dadas suas limitações de recursos e estruturas organizacionais simplificadas. A decisão sobre qual método adotar pode ter um impacto significativo na avaliação do desempenho e na tomada de decisões gerenciais. Por um lado, o custeio por absorção pode oferecer uma visão mais completa dos custos envolvidos na produção, auxiliando na alocação precisa dos recursos. Por outro lado, o custeio variável pode fornecer uma abordagem mais simplificada e direta, especialmente para empresas com capacidades limitadas de gestão financeira e contábil.

2.3.1 Absorção

O sistema de custeio por absorção abrange todos os custos relacionados à área de fabricação, tanto diretos quanto indiretos, fixos e variáveis. Nesse método, os custos de produção são absorvidos por cada produto ou serviço prestado, permitindo a análise de saldos de estoque, custo da produção vendida, posição patrimonial no balanço, cálculo de impostos e dividendos a distribuir. Este sistema é caracterizado por sua simplicidade e é amplamente utilizado em diversos contextos.

No Brasil, o custeio por absorção é abordado pelo Pronunciamento Técnico CPC 16, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que trata da valoração de estoques. Segundo Martins (2018), este método é essencial para incorporar quase todos os tipos de custos aos produtos, o que viabiliza a determinação do custo unitário e a formação do preço de venda dos produtos com base em seu custo. Além disso, está em conformidade com as normas contábeis aceitas pelas leis tributárias brasileiras e algumas internacionais.

Dubois, Kulpa e Souza (2009) destacam que o custeio por absorção é o método mais utilizado em todo o mundo devido à sua capacidade de incorporar uma ampla gama de custos aos produtos. Isso não apenas possibilita a determinação do custo unitário, mas também é crucial para a formação do preço de venda dos produtos. Para implementar este método, é necessário distinguir entre gastos, custos, despesas, perdas e investimentos.

2.3.2 ABC

O custeio baseado em atividades, conhecido como ABC (Activity Based Costing), é uma abordagem que vai além do simples custeio de produtos, sendo uma ferramenta gerencial poderosa na gestão de custos. Conforme destacado por Martins (2018), essa metodologia permite uma análise mais aprofundada dos custos por meio da identificação e análise das atividades realizadas dentro da organização. Um dos maiores desafios enfrentados pelas empresas na gestão de custos reside na distribuição adequada dos custos indiretos para os produtos e serviços oferecidos pela empresa.

Segundo Bruni e Famá (2009, p. 139), a alocação dos gastos indiretos aos produtos muitas vezes é realizada de forma simplificada, onde todos os custos são agrupados e associados gradualmente aos produtos ou serviços. O ABC, cujo nome vem do inglês Activity Based Costing, surge como uma alternativa a essa abordagem simplificada, sendo aplicável tanto em empresas de manufatura quanto em empresas de prestação de serviços.

Para implementar o ABC de forma eficaz, é essencial estabelecer uma conexão direta entre as atividades realizadas e os produtos ou serviços oferecidos pela empresa. Isso requer o uso de direcionadores de custos, que explicam a variação dos custos em cada uma das atividades. Inicialmente, os custos de cada atividade são identificados e, em seguida, alocados aos produtos ou serviços por meio desses direcionadores. Essa abordagem permite uma alocação mais precisa dos custos, oferecendo uma visão mais clara e detalhada dos custos envolvidos em cada atividade e em cada produto ou serviço oferecido pela empresa. Dessa forma, o ABC se torna uma ferramenta valiosa para a gestão de custos, possibilitando uma análise mais detalhada e uma tomada de decisão mais fundamentada.

2.3.3.Custeio Direto ou Custeio Variável

O método de custeio variável, como sugere sua própria nomenclatura, direciona seu foco exclusivamente aos custos variáveis. De acordo com Leone, citado por Weisheimer (2009, p. 31), os custos fixos permanecem constantes mesmo na ausência de produção de algum produto, sendo rateados e alocados a estes. Sob essa ótica, somente os custos variáveis são atribuídos ao produto, ou seja, apenas os custos diretamente influenciados por mudanças no volume de produção são considerados, enquanto os custos e despesas fixas são tratados como custos do período e lançados no resultado da empresa como um todo.

Nessa linha de raciocínio, Martins (2018) e Stark (2008) endossam essa perspectiva, destacando que os custos fixos mantêm sua natureza mesmo quando a empresa não está realizando atividades de produção, não estando, portanto, vinculados à quantidade de produtos fabricados. Assim, ao adotar o método de custeio variável, os custos de estoque tendem a ser menores em comparação com o custeio por absorção, uma vez que apenas os custos variáveis são incorporados ao custo dos produtos estocados.

Essa abordagem possibilita uma compreensão mais precisa do custo do produto e, consequentemente, do lucro que acompanha as vendas. Em contrapartida ao método de absorção, no qual o lucro pode ser distorcido pela variação nos níveis de produção e vendas, o custeio variável proporciona uma visão mais clara e objetiva do desempenho financeiro da empresa. Dessa forma, ao adotar o custeio variável, as empresas podem realizar uma análise mais apurada da rentabilidade dos produtos, embasando assim a tomada de decisões gerenciais estratégicas de forma mais assertiva e informada.

2.4 Gestão Estratégica de Custos

Para se manterem em evidência no mercado atual, as instituições precisam pensar e executar estratégias eficazes que auxiliem na tomada de decisões. No qual, tais estratégias são cruciais para navegar em um ambiente de negócios cada vez mais dinâmico e desafiador. O diagnóstico e o planejamento estratégico emergem como diferenciais significativos, permitindo que as empresas identifiquem oportunidades e antecipem possíveis ameaças, posicionando-se de maneira mais vantajosa em relação aos concorrentes

De acordo com Martins (2018), gerenciar custos não se restringe apenas aos controles básicos existentes na empresa, geralmente após os fatos terem ocorrido. A conotação de estratégia no gerenciamento visa à abordagem geral ou à participação dos custos em todo o processo de planejamento da empresa. Isso implica não apenas a análise retrospectiva dos gastos, mas também a integração dos custos em todas as etapas do planejamento, desde a formulação de metas até a execução das estratégias delineadas..

Segundo Simões (2016), em um mercado em constante mutação, a flexibilidade e independência das empresas são cruciais. Uma pequena empresa que consegue produzir um bem ou serviço, priorizando a eficiência na utilização de seus custos e recursos, tem a capacidade de subsidiar um planejamento estratégico e exercer maior influência em suas decisões em relação aos stakeholders. Isso destaca a relevância não apenas de gerenciar custos de maneira eficaz, mas também de utilizar essa gestão como uma ferramenta para impulsionar a estratégia empresarial e fortalecer os relacionamentos com os envolvidos no negócio.

Segundo Bacic (2011), a gestão de custos deve ser abordada levando em consideração o impacto da concorrência e das estratégias empresariais. Isso implica abandonar a visão tradicional de custos como um simples fenômeno contábil e adotar uma abordagem mais ampla e estratégica.

Para isso, é necessário expandir a perspectiva de custos além da visão interna da empresa, desenvolvendo também uma compreensão dos fatores externos que influenciam os custos. Isso envolve analisar elementos como as forças de mercado, a concorrência, as tendências econômicas e as mudanças tecnológicas. Compreender esses fatores permite identificar as causas dos custos e formular estratégias para melhorar os processos de forma competitiva.

Em síntese, Bacic (2011) propõe que a gestão de custos deve ser uma prática integrada e estratégica, que considere tanto os fatores internos quanto os externos, com o objetivo de aumentar a competitividade e a sustentabilidade da empresa no mercado.

2. 5 Micro e Pequenas Empresas

As micro e pequenas empresas (MPEs) recebem tratamento diferenciado por parte dos governos devido à sua importância na geração de emprego e fornecimento para empresas maiores. Incentivos como créditos subsidiados, empréstimos com condições favoráveis e programas especiais de financiamento são comuns para capacitá-las a competir com empresas nacionais e internacionais (MATESCO et al., 2000).

De acordo com os dados do Brasil (2006), as micro empresas são classificadas de acordo com seu faturamento anual, que não pode extrapolar o limite de R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); enquanto as pequenas empresas possuem faturamento anual superior a R$ 360.000, 00 (trezentos e sessenta mil reais), podendo alcançar valor menor ou igual a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), conforme é ilustrado no quadro abaixo.

Quadro 1 – Características das ME e EPP

Fonte: Elaborado pelos autores (2024)

Uma pequena empresa é caracterizada por suas dimensões mais modestas em comparação com grandes corporações, como podemos observar no quadro acima, em que elas geralmente têm uma estrutura organizacional enxuta, com um número limitado de funcionários, que pode variar de algumas dezenas a algumas centenas. Além disso, seu faturamento anual ou receita é consideravelmente menor do que o de grandes empresas, embora os limites exatos possam variar dependendo do setor e da localização geográfica.

Quanto às atividades de negócios, as pequenas empresas podem estar envolvidas em uma variedade de setores, incluindo varejo, manufatura, serviços profissionais, tecnologia, entre outros. Elas geralmente são de propriedade privada e administradas por um pequeno grupo de indivíduos, como proprietários únicos, parceiros ou acionistas familiares.

Em termos de escopo de operações, as pequenas empresas tendem a atuar em áreas geográficas mais restritas ou focar em nichos de mercado específicos. Elas representam uma parte significativa da economia nacional, gerando cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) e sendo responsáveis por mais da metade dos empregos com carteira assinada (Sebrae, 2022). No entanto, muitas delas enfrentam dificuldades e encerram suas atividades, com aproximadamente 22,5% encerrando suas operações até cinco anos após a abertura.

De acordo com Carneiro Neto (2018), um dos principais desafios das micro e pequenas empresas no âmbito da gestão está relacionado ao tratamento das informações. Por trata-se de instituições com uma estrutura menor, todas as decisões ficam a critério do proprietário, “e isto acaba se tornando um problema, pois nem sempre este dono de empreendimento possui a expertise necessária para tomar as melhores decisões no campo contábil/financeiro de seu empreendimento’’(Rodrigues, Cavalcante, p.123, 2022)

2.6 Gestão de Custos em Empresas Prestadoras de Serviço

A gestão de custos em empresas prestadoras de serviços é um tema cada vez mais relevante, especialmente no contexto da economia brasileira, onde esse setor tem se expandido significativamente. De acordo com Barroso (2020), as empresas de serviços desempenham um papel essencial na economia do país, mas enfrentam desafios específicos, particularmente no que se refere ao controle de seus custos. O mercado consumidor está cada vez mais exigente, e como observam Lima, Lima, Barbieri e Toledo (2013), essa demanda crescente pressiona as empresas a aprimorarem seus processos e a oferecerem serviços de qualidade a preços competitivos.

Outro ponto crítico é que, sem uma gestão eficiente dos custos, a precificação dos serviços pode ser inadequada, o que limita diretamente a lucratividade e a capacidade da empresa de responder às dinâmicas do mercado. Uma precificação correta depende de uma boa compreensão dos custos envolvidos, e sem isso, as empresas de serviços podem perder oportunidades de crescimento e se ver em desvantagem em relação a concorrentes que melhor conhecem e controlam suas finanças. Dessa forma, a administração de custos torna-se não apenas uma necessidade operacional, mas uma ferramenta estratégica para garantir a sustentabilidade e o crescimento. (Barroso, 2020)

Além disso, as empresas prestadoras de serviços possuem características que tornam a gestão de custos um processo particularmente complexo. Diferentemente das indústrias de bens tangíveis, as empresas de serviços possuem uma concentração relevante no item de mão de obra e, geralmente, enfrentam dificuldades em definir claramente o seu produto final.

Empresas prestadoras de serviços de limpeza possuem uma estrutura de custos bastante específica. Entre os principais componentes estão os custos de pessoal, que incluem salários e encargos sociais dos funcionários, além dos custos com materiais de limpeza e equipamentos de segurança necessários para a execução dos serviços. A tabela a seguir ilustra essa estrutura de custos de maneira detalhada. (Teixeira, 1997)

Quadro 2 – Exemplo de Custos e Despesas

Fonte: Elaborado pelos Autores, 2024

Conforme explica Horngren (1985), o “produto” de uma organização de serviços, como uma universidade ou um hotel, é abstrato e muitas vezes difícil de mensurar. Esse setor também lida com a impossibilidade de estocar o “produto” ou a mão de obra de forma tradicional, o que exige um gerenciamento mais cuidadoso dos recursos e dos custos operacionais.

2.7 Análise das estratégias utilizadas em empresas prestadoras de serviços de limpeza e conservação

A análise dos estudos de Teixeira (1997) e Barroso (2020) revela que, apesar das décadas que os separam, alguns desafios e padrões na gestão de custos ainda persistem em pequenas empresas prestadoras de serviços de limpeza. Ambas as pesquisas abordam práticas de apuração de custos e metodologias que impactam diretamente a lucratividade e a eficiência organizacional, embora com abordagens e ferramentas distintas.

Teixeira (1997) examinou uma empresa de serviços de limpeza que realizava a apuração de seus custos de forma global, utilizando o sistema de acumulação de custos por ordem de serviço ou produção. Nesse modelo, o autor recomendava o método de custeio por absorção, permitindo que todos os custos envolvidos fossem apropriados diretamente aos serviços prestados. Na definição dos preços, a empresa utilizava a estratégia de “mark-up”, que acrescenta uma margem de lucro ao custo dos serviços, considerando fatores como público-alvo e tipo de serviço. O uso do “mark-up” ajudava a empresa a estabelecer preços de venda que cobriam os custos e geravam lucros, porém sem um aprofundamento em estratégias de otimização de custos além da simples adição de margem.

Por outro lado, Barroso (2020) estudou uma empresa também de prestação de serviços de limpeza, mas com uma abordagem mais voltada para o uso de ferramentas de gestão contemporâneas. Nessa pesquisa, foi aplicada a metodologia do Value Stream Mapping (VSM), com foco no mapeamento e otimização de processos desde a aquisição de matéria-prima até a entrega do serviço ao cliente. A aplicação do VSM possibilitou uma revisão completa do processo de compra, que buscava reduzir custos e melhorar a relação com fornecedores. Além disso, a ferramenta foi usada na gestão do estoque e na transformação do processo final, visando uma estrutura de custos mais eficiente. A empresa conseguiu reduzir significativamente seus custos, evitar desperdícios e, com isso, aumentar sua margem de lucro. Importante notar que, enquanto Teixeira (1997) se concentrou em métodos tradicionais de apuração e precificação, Barroso (2020) adotou uma perspectiva de melhoria contínua (kaizen), adaptando-se às necessidades de um mercado mais competitivo.

Ambos os estudos convergem na importância da gestão de custos como uma ferramenta essencial para a sobrevivência e competitividade dessas empresas. Teixeira (1997), em sua época, apresentou uma abordagem que refletia as práticas mais comuns da gestão de custos em serviços, enquanto Barroso (2020) aplicou uma perspectiva mais atual e estratégica, alinhada com o uso de ferramentas de melhoria contínua. Essa diferença destaca a evolução das metodologias e o valor de uma gestão de custos mais sofisticada e adaptativa.

Dessa forma, conclui-se que a gestão de custos é fundamental não só para a precificação, mas também para a eficiência operacional e a sustentabilidade das empresas de serviços. Enquanto o modelo de Teixeira (1997) contribui para o entendimento básico de custos e formação de preços, a aplicação de métodos como o VSM, observada no estudo de Barroso (2020), evidencia que um gerenciamento de custos mais estratégico e voltado para a otimização de processos pode gerar ganhos substanciais. Portanto, práticas modernas de gestão de custos tornam-se essenciais para pequenas empresas que buscam não só manter-se no mercado, mas também obter vantagens competitivas através da eficiência operacional e de um controle rigoroso dos recursos.

3. Considerações Finais

Esta pesquisa investigou como a gestão estratégica de custos é importante para um segmento empresarial, as micro e pequenas empresas (MPEs), especificamente as empresas do setor de serviços de limpeza e conservação. O intuito da pesquisa foi colocar em evidência que o controle e gestão de custos se aplica para as empresas de forma geral, mas para pequenas empresas é estratégia de sobrevivência. A relevância da pesquisa para o meio acadêmico é fundamental pois demonstra a aplicabilidade das técnicas contábeis em empresas de qualquer porte.

Os objetivos pretendidos inicialmente na pesquisa, demonstrar conceitos sobre custos e sistema de custeio foram cumpridos. Bem como demonstrar aspectos e peculiaridades de gerenciamentos de custos em empresas de conservação e limpeza. A pesquisa buscou responder qual a importância do gerenciamento de custos neste tipo de empresa. Apurou-se que, evidenciar que o controle rigoroso dos custos é essencial para aumentar a competitividade e a eficiência dessas empresas. A adoção de estratégias de precificação e controle de custos permite uma estrutura financeira mais sólida, com melhores condições para enfrentar os desafios de mercado e responder a oportunidades de crescimento de maneira assertiva.

Além disso, os resultados indicaram a importância de uma compreensão aprofundada dos custos operacionais e da aplicação de métodos específicos de precificação. Observou-se que muitos empresários ainda não possuem o conhecimento necessário para implementar essas práticas, o que dificulta a tomada de decisões estratégicas e financeiras de forma adequada.

Portanto, é essencial que as MPEs prestadoras de serviços de limpeza busquem apoio de profissionais capacitados para estruturar e gerenciar seus custos de forma eficaz, assegurando competitividade e sustentabilidade a longo prazo. As MPEs representam um campo promissor para pesquisas não apenas na área de gestão de custos, mas também em outras abordagens.

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1Acadêmico de Contabilidade, Centro Universitário Fametro (CEUNI), Email: marceloguerreiro@gmail.com
2Acadêmico de Contabilidade, Centro Universitário Fametro (CEUNI), Email: mvlferreira2001@gmail.com
3Acadêmico de Contabilidade, Centro Universitário Fametro (CEUNI), Email: vini.correa1801@gmail.com
4Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis no Centro Universitário Fametro (CEUNI). Mestre em Engenharia de Produção, Professora FAMETRO, Email: zuila.cavalcante@fametro.edu.br