CONSIDERATIONS ABOUT EVALUATION PROCESSES IN THE HISTORY FIELD AND BLOOM’S TAXONOMY: LITERATURE REVIEW.
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10144222
Cleiton Wiliam Mutschall¹
Mirian da Silva Sousa dos Santos²
Maria Solange Andrade3
Carina Araújo Vieira4
Resumo
A avaliação é uma etapa fundamental em qualquer processo educacional, incluindo o ensino de História. É por meio dela que o professor pode verificar se os objetivos de aprendizagem foram alcançados pelos alunos e identificar lacunas no conhecimento dos alunos. Uma das formas mais comuns de avaliação é a prova escrita, em que os alunos são avaliados a partir de questões que abrangem diferentes níveis cognitivos. Nesse sentido, a taxonomia de Bloom é uma ferramenta muito útil para os professores de História. A taxonomia de Bloom é uma classificação dos diferentes níveis de aprendizagem cognitiva, que vão desde a memorização até a criação. Ela é composta por seis categorias: conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. Cada uma dessas categorias representa um nível diferente de complexidade cognitiva e pode ser utilizada para criar questões de avaliação que vão além da simples memorização de fatos. Na categoria de conhecimento, o aluno é capaz de gravar informações específicas. Na compreensão, ele é capaz de compreender e interpretar essas informações. Na aplicação, ele é capaz de usar essas informações para resolver problemas. Na análise, ele é capaz de separar as informações em partes e examiná-las criticamente. Na síntese, ele é capaz de combinar informações para formar um novo todo. E, finalmente, na avaliação, ele é capaz de fazer julgamentos sobre a validade e o caráter das informações. Ao utilizar a taxonomia de Bloom na criação de questões de avaliação, o professor pode garantir que os alunos tenham níveis cognitivos diferentes. Isso significa que os alunos não serão mantidos apenas em sua capacidade de memorizar fatos, mas também em sua capacidade de compreender, aplicar, analisar, sintetizar e avaliar informações relacionadas à História. Por exemplo, uma questão que envolve a categoria de análise poderia ser: “Identifique as principais causas da Primeira Guerra Mundial e explique como elas sentem para o início do conflito”. Já uma questão que envolve a categoria de avaliação poderia ser: “Faça uma avaliação crítica da posição dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e argumente se essa posição foi justificada ou não”. Em resumo, a utilização da taxonomia de Bloom na criação de questões de avaliação na área de História pode ajudar os professores a avaliar os alunos em diferentes níveis cognitivos, garantindo que eles desenvolvam habilidades mais complexas e relevantes para a compreensão da disciplina.
Palavras chave: Avaliação. História. Prova escrita. Taxonomia de Bloom. Níveis cognitivos. Habilidades complexas
Summary
Assessment is a fundamental step in any educational process, including history teaching. It is through it that the teacher can check whether the learning objectives were achieved by the students and identify gaps in the students’ knowledge. One of the most common forms of assessment is the written test, in which students are assessed based on questions covering different cognitive levels. In this sense, Bloom’s taxonomy is a very useful tool for history teachers. Bloom’s taxonomy is a classification of different levels of cognitive learning, ranging from memorization to creation. It is composed of six categories: knowledge, understanding, application, analysis, synthesis and evaluation. Each of these categories represents a different level of cognitive complexity and can be used to create assessment questions that go beyond simply memorizing facts. In the knowledge category, the student is able to record specific information. In understanding, he is able to understand and interpret this information. In the application, he is able to use this information to solve problems. In analysis, he is able to separate information into parts and critically examine them. In synthesis, he is able to combine information to form a new whole. And finally, in evaluation, he is able to make judgments about the validity and character of the information. By using Bloom’s taxonomy in creating assessment questions, the teacher can ensure that students have different cognitive levels. This means that students will not only be retained in their ability to memorize facts, but also in their ability to understand, apply, analyze, synthesize and evaluate information related to history. For example, a question involving the category of analysis could be: “Identify the main causes of the First World War and explain how they feel for the beginning of the conflict”. A question involving the evaluation category could be: “Critically evaluate the position of the United States during World War II and argue whether this position was justified or not”. In summary, the use of Bloom’s taxonomy in the creation of assessment questions in the field of History can help teachers to assess students at different cognitive levels, ensuring that they develop more complex and relevant skills for understanding the discipline.
Keywords: Evaluation. History. Written test. Bloom’s Taxonomy. Cognitive levels. complex skills
Introdução
O processo de avaliar é intrínseco da vida, todo o organismo vivo avalia situações para sua sobrevivência, desde uma planta que lança suas raízes em diversas direções para saber qual é a direção mais propícia para o seu desenvolvimento até um astronauta em um satélite cercado do que a mente humana pode conceber de mais moderno avalia-se para tomar decisões. Se estas avaliações passam pelo escrutínio da racionalidade se elas se tornam referências de opressão ou de inclusão, se os instrumentos de coleta de dados que a compõem é capaz de gerar dados para uma decisão acertada é outro problema.
Avalia-se para conhecer e para se poder tomar a melhor decisão possível a partir dos dados oferecidos por esta avaliação, desta forma toda a avaliação é diagnóstica se não for capaz de não diagnosticar o cenário não é avaliação.
Como quer Luckesi (2003, p. 34) que considera “[…] não é possível uma decisão sem um diagnóstico, assim como não é possível um diagnóstico, sem uma consequente decisão”.
Não nos parece ser possível pensar em uma só ação da vida humana que não tenha sido precedida por uma avaliação, se esta foi capaz de apresentar todos os dados condizentes a tomada de decisão é uma outra questão, dentro deste ponto de vista todas as decisões tomadas foram sempre as melhores levando em consideração os objetivos a serem alcançados os dados disponíveis naquele exato momento levantados por aquela determinada avaliação, se momento seguinte outros dados foram oferecidos, se a avaliação foi percebida como insuficiente e o cenário foi modificado não importa, naquele momento era a melhor decisão, por isto se faz tão necessário instrumentos de avaliação cada vez mais precisos e capazes de propiciar tomadas de decisão cada vez mais conscientes e isto tanto vale para um indivíduo, uma sociedade, uma nação ou uma escola.
Vasconcelos (1994), se refere ao processo avaliativo em sentido amplo:
Avaliação é um processo abrangente da existência humana que implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências, suas dificuldades e possibilitar uma tomada de decisão sobre o que fazer para superar os obstáculos. (VASCONCELOS,1994, p. 43)
Antes de discutir as questões que permeiam as relações avaliação e escola é importante realizar uma outra distinção conceitual: avaliação e teste.
Como observado nos parágrafos acima e depois apontado por alguns teóricos aqui citados, avaliação trata-se do conhecimento de um determinado cenário que se supõe precisar de dados, por outro lado o teste remete ao conceito de uma seleção para alguma coisa. É claro que na prática estes conceitos se intercambiam o que torna necessário a cada investigação delinear com clareza a definição de cada conceito.
Dentro deste contexto um aparelho de mensuração interno (qualquer que seja, exercício individual sem consulta – nome politicamente correto para prova-, trabalho de grupo, apresentação) é uma forma de diagnóstico, uma avaliação externa como o SAEB, ou como o PISA que tem como fim último um diagnóstico mesmo que com estes dados seja possível uma comparação como é o caso do PISA não são testes por que não selecionam, ao contrário os dados levantados devem ou deveriam nortear intervenções capazes de mudar o diagnóstico realizado.
Como afirma Batista (2008)
[…] devem servir de base para o julgamento do nível de aprendizagem dos alunos e, consequentemente, do ensino do professor. Portanto, o estabelecimento de critérios tem por finalidade auxiliar a prática pedagógica do professor, posto que é necessário uma constante apreciação do processo de ensino/aprendizagem (BATISTA, 2008, p. 22).
Por outro lado, o ENEM, ou um Vestibular, ou uma prova para bombeiros, são testes mesmo que estes dados possam servir “a posteriori” para o desenvolvimento de projetos de intervenção, seu objetivo é a seleção de determinados indivíduos que apresentando determinados conhecimentos específicos são selecionados em um universo muito maior de concorrentes para compor determinado grupo, no caso um curso universitário ou outro cargo qualquer.
Os instrumentos de diagnóstico na escola foram montados naturalmente para diagnosticar o que a escola tinha como objetivo transmitir ao aprendente o que a sociedade desejava dele, mas também delineava o que, naquele momento, se chamava de inteligência, ao mesmo tempo que servia de processo de controle disciplinar.
O que estava em jogo aqui. Uma educação de performance o estudante era treinado para memorizar uma série de conceitos e deveria memorizá-los à perfeição e repeti-los com exatidão assim que lhe fosse solicitado.
O rol de propostas educacionais poderia preencher várias páginas sempre com o mesmo resultado sempre com a mesma relação entre as necessidades da sociedade e a forma de educação estabelecida, isto é natural, o anti natural é se assim não fosse. Cabe esclarecer que o processo educacional se compõe de duas forças que se retroalimentam: uma é a força formativa ( o aspecto educacional que transmite ao educando todo o conhecimento necessário para que ele possa transacionar de maneira eficiente com a sua teia social) por outra lado existe a força transformadora (o aspecto educacional que propicia ao educando mecanismos para realizar uma crítica ao próprio sistema social em que vive, permitindo que o próprio sistema se modifique conforme as circunstâncias).
Quanto mais ditatorial for uma sociedade (tanto de direita quanto de esquerda) mais esta força formativa se torna preponderante; quanto mais uma sociedade é aberta a críticas oriundas dos seus próprios pares mais ela é capaz de se adaptar, sociedades tirânicas no decurso da história tem vida curta, sociedades que apresentam uma educação que permite a formações de elementos críticos tende a sobreviver por mais tempo. Investigar mais profundamente esta afirmação fugiria dos moldes desta pesquisa, porém com este conceito em mente é preciso definir o que seja inteligência, pelo menos nos padrões acadêmicos.
Até o advento da prensa móvel de Gutenberg em 1450 a inteligência estava ligada ao poder de memorização, ou seja, era considerado inteligente aquele que acessava o maior número de informações corretas em um menor tempo possível, e isto se deve principalmente à dificuldade de acesso dos dados, como todos os registros eram feitos à mão os livros eram raros e caros.
Gutenberg desenvolveu um sistema mecânico de tipos móveis que deu início à Revolução da Imprensa, e que é amplamente considerado o invento mais importante do segundo milênio. Teve um papel fundamental no desenvolvimento da Renascença, Reforma e na Revolução Científica e lançou as bases materiais para a moderna economia baseada no conhecimento e na disseminação em massa da aprendizagem.
Com esta nova forma de estocar conhecimento muito mais barata o conceito de inteligência também começa a mudar, não é o bastante apenas acessar a informação (lembrar) mas é preciso relacionar dados e com a primazia do pensamento lógico cartesiano, ser inteligente, principalmente para o ambiente escolar era aquele/a estudante que dominava as estruturas de comunicação e lógica (na realidade brasileira saber português e/ou matemática).
O terceiro passo se concretizou com o advento do universo WWW que redimensionou todas as formas de comunicação e armazenamento de dados. Dentro deste cenário de acesso quase que imediato e gratuito a informação o conceito de inteligência também muda, não é bastante apenas ter acesso ao dado, não basta contextualizá-lo, porém é preciso saber analisar, avaliar e criar (para usar verbos da taxonomia de Bloom revisada).
Desenvolvimento
Como os processos avaliativos em história são discutidos?
Para se tentar compreender este tema, foi feito uma pesquisa dos sites de busca específicos google acadêmico e Scielo entre os dias 30 de janeiro a 10 de fevereiro de 2023 sob o tag: avaliações no ensino de história, apesar desta pesquisa tratar apenas das avaliações da segunda etapa do ensino fundamental foram incluídos neste universo de trabalho todo o material que tratasse do assunto no intuito de estabelecer em estado da arte específico para a geração da pergunta central.
Foram coletados 25 documentos, destes apresentamos dois que caracterizam este estado da arte.
O primeiro texto a ser analisado é o de Salumoni (2009) dissertação com o título “O processo avaliativo na disciplina de História no Ensino Médio” que no resumo de sua pesquisa afirma:
Esta dissertação (…) apresenta como objetivo geral analisar o processo de avaliação dos professores/as de História do Ensino Médio de uma Escola Estadual do Mato Grosso do Sul. A pesquisa segue uma abordagem qualitativa; entre os procedimentos escolhidos estão: entrevista com seis professores da escola, leitura bibliográfica, análise dos documentos oficiais. Foi analisado o paradigma hegemônico neoliberal que está permeando a rotina das salas de aula e influenciando as formas de avaliação através de avaliações externas, que são usadas como controle governamental. (…) Foi possível concluir que há muitas dificuldades em romper com a forma hegemônica de avaliação, ao mesmo tempo em que há um constante tensionamento permeando esse paradigma, provocado por pensadores da educação e pelos próprios/as professores/as entrevistados.
Em consonância com os parágrafos acima destacamos “Foi analisado o paradigma hegemônico neoliberal que está permeando a rotina das salas de aula e influenciando as formas de avaliação através de avaliações externas, que são usadas como controle governamental”.
Aqui temos dois conceitos que devem ser esclarecidos: um paradigma neoliberal que permeia a rotina das aulas. Nos parágrafos anteriores foi esclarecido que a instituição escola reflete os paradigmas de sua sociedade ao mesmo tempo que cria discursos críticos para sua adaptabilidade se isto é verdade é perfeitamente natural e não poderia ser de outra maneira que a escola refletisse os parâmetros que a própria pesquisadora define como hegemônicos, qual seria sua influência na chamada, na exposição de conteúdos, na forma em que um professor interage com seus alunos (a rotina da sala de aula) nos escapa a compreensão.
Este mesmo paradigma influencia as formas de avaliação que são usadas como controle governamental. Se este é o modelo vigente e que poderia ser qualquer outro teríamos também influência direta é natural que as formas de avaliação sigam o mesmo padrão como seguiram de qualquer outro modelo que se tornasse hegemônico.
Quanto ao “controle” governamental, ou a pesquisadora se referindo ao controle exercido pelo governo para que as avaliações externas não sejam fraudadas, o que é meritório ou está confundindo a forma neoliberal com outra qualquer. A forma neoliberal é basicamente democrática permitindo o trânsito de ideias muitas delas profundamente críticas ao próprio sistema, e não a faz por ser “boa”, mas por que tais ideias e discursos estabelecem as condições de adaptabilidade necessárias para sua sobrevivência, o que não acontece com os regimes ditatoriais tanto de direita quanto de esquerda. Uma forma bastante objetiva de testar o grau de democracia que permeia uma sociedade é contar quantos meios de comunicação existem, quantos estabelecem um discurso pró-governo, quantos fazem um discurso contrário.
A pesquisadora termina o resumo afirmando que existe uma forma hegemônica de avaliação que é muito difícil de se romper e há um constante tensionamento. em busca de um melhor entendimento do que vem a ser estas afirmações encontra-se no capítulo 4 tópico 2 que trata de um dos objetivos específicos seja, “Compreender as concepções de avaliação dos professores de História do Ensino Médio”.
Deste tópico selecionamos algumas afirmações com alguns comentários breves:
– Os/as professores/as de História evidenciaram durante as entrevistas a sua preocupação com a aprendizagem do/a aluno/a.
Como qualquer profissional de educação.
-Demonstraram que buscam desenvolver práticas avaliativas inclusivas/emancipatórias/formativas.
Os exemplos dados são trabalhos em grupo, observações comportamentais, depoimentos orais, apresentações diante da sala. Nada disto prepara o aluno de segundo grau para sua inclusão no mercado de trabalho, não o emancipa de um subemprego, para ter um emprego de qualidade precisa pontuar no teste, sozinho, sem a ajuda de nenhum grupo ou de um professor benevolente.
-Revelaram suas angústias quanto ao relacionamento professor-aluno, que para eles/as é primordial, mas que é tensionado pela ausência de participação dos pais.
Como qualquer professor, mas este é um problema administrativo e assim deveria ser considerado.
-É consenso entre os professores a necessidade de optar por formatos de avaliação qualitativos, ou seja, que priorizem o processo educacional e permitam uma melhor articulação entre o contexto observado e o resultado final, que oficialmente aparece na forma de média.
Processo este que avalia toda a jornada de aprendizagem, porém que fica muito difícil de se perceber na medida que os conceitos qualitativos tendem a ser por demais abstratos e generalistas. Para sanar este problema o atual ensino médio propõe:
Os principais sistemas de avaliação utilizados nas escolas atualmente estão descritos na sequência.
Somativa ou cumulativa: atribui notas e conceitos para promover o aluno para as próximas etapas.
Formativa: possibilita ao aluno que tenha conhecimento de seus erros e acertos e, assim, possa buscar evoluir.
Diagnóstica: identifica as causas de dificuldades específicas do estudante na assimilação do conteúdo para buscar soluções.
Comparativa: verifica se os estudantes dominam um tópico do conteúdo durante ou logo após sua apresentação em aula.
O que minimiza as avaliações qualitativas sem um referencial.
-Esses/as professores/as criticam e sentem a inconsistência do modelo de avaliação classificatória.
A partir dos conceitos expostos nos parágrafos acima a afirmação da existência de um modelo classificatório não tem sentido, senão vejamos: a avaliação interna não é um teste onde muitos fazem, poucos entram, é possível pensar claro em uma classificação para progressão anual, mas também não é um teste, onde somente alguns recebem outros não. Uma progressão anual se constrói desde o primeiro dia de aula em um mix de avaliações somativa, formativa, diagnóstica, comparativa, todas elas, inclusive, tendo intrinsecamente um caráter classificatório, cada uma delas inclusive dependendo muito mais do empenho do aluno do que a classificação de seu colega, em outras palavras, toda uma turma de trinta alunos pode ser classificada para uma progressão e todos serão, o que não acontece com o teste onde mesmo que todos os trinta tenham alcançando uma classificação de “progressão” as cinco vagas oferecidas serão preenchidas pelos cinco melhor classificados.
-Encontramos a indignação com a avaliação centrada na prova, com data e horário especial, que, segundo a professora, desvaloriza o processo de ensino e aprendizagem. (depoimento de um dos professores).
Como exercício de imaginação vamos imaginar uma prova de natação onde cada participante marca a data, local e horário para que possa nadar, ou um arquiteto que esteja participando de uma licitação que vai exigir que possa apresentar o seu projeto a hora que quiser, ou um médico que fica indignado por que o seu paciente teve uma crise na madrugada.
Na constituição de 1988 artigo 205 espera-se que a educação prepare a pessoa para o seu pleno desenvolvimento, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Dentro do cenário proposto por esta professora os testes de admissão para qualquer cargo, qualquer entrevista com hora marcada merecem toda a nossa indignação já que não possibilitam ao candidato apresentar todo o seu ensino e aprendizagem.
Neste mesmo diapasão temos de outro professor.
-É claro que existe avaliação relacionada ao conteúdo que não dá para fugir, mas existe avaliação de conceito, avaliações de projeto, de temas atuais quando aparece, isso aí a gente acaba contando no nosso método avaliativo.
A frase é de difícil entendimento já que se espera que a apropriação do conteúdo seja demonstrada de forma explícita nos conceitos, nos projetos, se assim não for a Joana pode ter um conceito de excelência por que sabe pular amarelinha, ou o João porque compareceu a todas as aulas e não cometeu nenhum ato de indisciplina (por que dormia em todas as aulas). apropriação do conteúdo deve ser avaliada e apresentada de diversas maneiras inclusive em um exercício de revisão sem consulta e individual. (nome politicamente correto para prova).
Qualquer que seja o processo um instrumento avaliativo, montagem e aplicação ele só tem sentido de cumprir sua função precípua levantar dados relativos à apropriação correta de conteúdos para o próximo planejamento.
-Os/as professores/as reconhecem que é necessário utilizar modelos de avaliação que contemplem o cotidiano do processo de ensino e aprendizagem para que não se incorra no equívoco de desvalorizar os saberes dos alunos/as, valorizando em demasia a nota da prova.
Ora, para se valorizar o cotidiano dos alunos se faz necessário em primeiro lugar conhecê-lo, segundo ser capaz de realizar as conexões entre o conteúdo programático específico e o conjunto de saberes o que operacionalmente (para o professor) se torna muito difícil na medida em que cada aluno apresenta uma realidade cultural, trabalhar a partir da realidade do aluno acontece quando o grupo é razoavelmente homogêneo, como por exemplo Angicos a famosa experiência de Paulo Freire que alfabetizou 330 oleiros em 40 horas a partir de palavras como tijolo, barro, etc…
Para o aluno isto pressupõe criar essas conexões a partir de exemplos, porém para que isto ocorra é necessário criar essas conexões de forma assertiva é necessário lembrar, entender, aplicar etc…
A última observação é feita pela pesquisadora à guisa de conclusão: No diálogo com os/as professores/as, percebemos que, embora apresentem discursos contrários à prática dominante de avaliação classificatória, sobrevivem ainda em suas práticas resquícios do modelo quantitativo.
Não sabemos o que a pesquisadora quer dizer com esta expressão, porém de qualquer forma que seja entendida passa longe de uma apropriação de conteúdos de história.
Outro documento disponível trata dos Critérios Avaliativos de História Ensino Fundamental II – 9o ano / 1o Bimestre / 2020 do Colégio Adventista em Santo André S.P. – colégio particular. É preciso notar que este documento é disponibilizado para todos os alunos nos primeiros dias de aula bem como para seus responsáveis.
Inicia com a frase: “A avaliação do ensino/aprendizagem só faz sentido para o aluno, quando é um processo contínuo com vista à reflexão crítica sobre a prática e não apenas configurada por uma classificação”. que expõe com clareza sua visão sobre avaliação.
A segunda informação é a data (24/03/2020 à 27/03/2020), o tipo de avaliação (Questionário Individual (10,0), o objeto do conhecimento (Compreender os processos de transição política no Brasil ao longo do século XX, identificando elementos de rupturas e/ou continuidades históricas. • Analisar os aspectos da noção de cidadania no Brasil em diferentes períodos do século XX.). Os critérios avaliativos (quantificáveis grifo do autor) (Respostas completas com base nos conhecimentos abordados durante as aulas. Questionário vale de 0 a 10).
No tópico seguinte uma observação: “Atividades avaliativas que podem envolver diferentes tipos de instrumentos avaliativos. Será agendada pelo professor em sala de aula. Pode haver mais de um instrumento de avaliação para a composição da nota (porém, todos os instrumentos devem estar previamente lançados).
Ou seja, um instrumento de avaliação com plena consciência para todos os atores, professores, alunos e gestores, com datas, conteúdos explícitos, critérios definidos, valor atribuído a cada um dos instrumentos.
Retomando a alegoria utilizada: um nadador que vai para uma prova sabendo o horário, o tipo de prova e o que se espera dele, um arquiteto que tenha confiança de que o que foi estabelecido da licitação será o que o exigido, um médico que tenha previamente conhecimento do que o espera na mesa de operação.
A Taxonomia de Bloom.
Entre estes dois extremos existe um espectro de possibilidades, porém em nenhum dos documentos acessados foi encontrado menção ou uso da taxonomia de Bloom como critério de análise.
Benjamin Samuel Bloom foi um psicólogo educacional e professor da Universidade de Chicago que fez contribuições para a classificação de objetivos educacionais e para a teoria do aprendizado; conhecida como a Taxonomia de Bloom.
A taxonomia de BLOOM apresenta finalidade de auxiliar a identificação e a declaração dos objetivos ligados ao desenvolvimento COGNITIVO, que engloba a aquisição de conhecimentos, competências e atitudes, ou seja, aprender a dominar um conhecimento, sendo destacadas neste domínio, as subcategorias: conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação; desenvolvimento AFETIVO, englobando os problemas emocionais, estando intimamente ligados ao desenvolvimento emocional e afetivo, que incluem o comportamento, atitude, responsabilidade, respeito, emoções e valores; e o desenvolvimento PSICOMOTOR, que abrange os termos de velocidade, técnicas de execução, reflexos, percepção, habilidades físicas, movimentos aperfeiçoados e comunicação não verbal Costa et all (2014). Podendo assim, permitir que o professor possa se diferenciar para cada necessidade específica de cada aluno (Galhardi & Azevedo, 2013).
Segundo Vockell (2001) a Taxonomia de Bloom pode ajudar os alunos a entender como navegar em direção ao entendimento do assunto, por meio dessa estrutura conceitual concebida para auxiliar a definição de objetivos de aprendizagem.
Segundo Krathwohl (2002) e Anderson (1999), na revisão da taxonomia publicada em 1956, a maior ênfase foi dada à discussão da análise e interpretação das subcategorias com a intenção de suprir a necessidade de estimular um desenvolvimento cognitivo amplo, duradouro e profundo.
Embora a nova taxonomia mantenha o design hierárquico da original, ela é flexível, pois possibilitou considerar a possibilidade de interpolação das categorias do processo cognitivo quando necessário, devido ao fato de que determinados conteúdos podem ser mais fáceis de serem assimilados a partir do estímulo pertencente a uma mais complexa. Por exemplo, pode ser mais fácil entender um assunto após aplicá-lo e só então ser capaz de explicá-lo.
A interpolação das categorias não é total, especificamente no domínio conhecimento, a ordem deve ser respeitada, pois se considera que não há como estimular ou avaliar o conhecimento metacognitivo sem anteriormente ter adquirido todos os anteriores.
O princípio da progressão da complexidade foi mantido: do simples para o complexo; do concreto para o abstrato; mas, novamente, foi atribuída mais flexibilidade ao conceito cumulativo e dependente de cada categoria, pois:
- Sabe-se que diferentes disciplinas requerem processos cognitivos diferenciados;
- Os estilos de aprendizagem possibilitam aos discentes aprenderem melhor num estágio mais elevado e depois serem capazes de entender os anteriores; e
- O conceito de metacognição abre espaço para que alunos transitem livremente pelas subcategorias com o objetivo de melhorar seu autoaprendizado (KRATHWOHL, 2002).
Considerações finais
Considerando-se então que, pelo menos nos textos pesquisados, sobre avaliação em História não foi encontrado nenhuma menção a Taxonomia de Bloom e que esta Taxonomia e além de apresentar um quadro teórico de relevância e de alta operacionalidade tendo sido utilizada em pesquisas sobre instrumentos de avaliação nas diversas modalidades educacionais como EJA, ENEM, ENADE, ensino universitário nos cursos de enfermagem, engenharia) pergunta-se se é possível aplicá-las nos instrumentos de avaliação do ensino fundamental segunda fase na matéria de História?
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¹ Graduado em licenciatura plena em História pela UNIC (Universidade de Cuiabá). Graduado em licenciatura plena em Matemática pelo Instituto Prominas, com especialização em Metodologia do ensino de História e Cultura Afro Brasileira pela AJES. Professor efetivo da rede pública do estado de Mato Grosso, Mestrando em Ciências da Educação pela UNADES – Universidad Del Sol / Paraguay, E-mail: cleitonmutschall@gmail.com
² Graduada em licenciatura plena em História pela UNIC (Universidade de Cuiabá), com especialização em Educação Especial Inclusiva pela CENSUPEG. Professora efetiva da rede pública do estado de Mato Grosso, Mestranda em Ciências da Educação pela UNADES – Universidad Del Sol / Paraguay, E-mail: mirianlv2@gmail.com
3 Graduada em licenciatura plena em Letras pela UNIFLOR (União das faculdades de Alta Floresta), com especialização em Língua Portuguesa. Professora efetiva da rede pública do estado de Mato Grosso, Mestranda em Ciências da Educação pela UNADES – Universidad Del Sol / Paraguay, E-mail: soylaandrade@hotmail.com
4 Graduada em licenciatura plena em Matemática pela UNOPAR (Universidade Norte do Paraná). Professora interina da rede pública do estado de Mato Grosso, Mestranda em Ciências da Educação pela UNADES – Universidad Del Sol / Paraguay, E-mail: carina.araujo1206@gmail.com