CONCEITOS PRÉ-ESTABELECIDOS SOBRE AMAMENTAÇÃO E AS REPERCUSSÕES NO ALEITAMENTO MATERNO

PRE-ESTABLISHED CONCEPTS ABOUT BREASTFEEDING AND THE IMPACT ON BREASTFEEDING

CONCEPTOS PREESTABLECIDOS SOBRE LACTANCIA MATERNA Y SU IMPACTO EN LA LACTANCIA MATERNA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202506221722


Laylla Hortencia da Silva Santone1
Myrelle Ferreira Soares2
Marisa Siqueira Brandão Canuto3


RESUMO

Introdução: A amamentação é a prática de alimentar o bebê com o leite materno, diretamente do seio da mãe, sendo de suma importância para saúde de ambos, fornecendo nutrientes fundamentais e reduzindo riscos de doenças. Segundo o Ministério da Saúde, a prática reduz casos de mortalidade infantil por causas evitáveis, a manifestação de complicações relacionadas ao trato digestivo, melhora o desenvolvimento cognitivo, reduz o risco de câncer de mama em mulheres, além de atuar como método contraceptivo temporário e auxiliar na recuperação uterina. Objetivo: Elencar os conceitos pré-estabelecidos sobre a amamentação e correlacionar com as repercussões no aleitamento materno e vínculo mãe/bebê. Métodos: Trata-se de um estudo quantitativo, analítico e descritivo, realizado presencialmente por meio de um questionário de autoria própria, respondido por puérperas hospitalizadas no local de estudo. Resultados: Foram analisados 30 prontuários. Sendo encontradas maiores evidências sobre os conceitos pré-estabelecidos durante a amamentação e como podem interferir no aleitamento materno, sejam eles conceitos estéticos, familiares ou relacionados à rede de apoio da puérpera. Além disso, identificou-se diferença nas dificuldades de amamentação entre as mães que estavam amamentando pela primeira vez e as que estavam amamentando pela segunda vez. Conclusão: Os conceitos pré-estabelecidos sobre amamentação foram desmistificados durante os anos, embora, ainda se façam presentes no relato das considerações estéticas e falta de rede de apoio. O trabalho evidenciou também a necessidade de serem revistas as políticas públicas para as puérperas no auxílio do aleitamento materno exclusivo até os seis meses.

Palavras-chave: Amamentação. Aleitamento Materno. Saúde Materno-Infantil.

ABSTRACT

Introduction: Breastfeeding is the practice of feeding a baby with breast milk, directly from the mother’s breast, and is of utmost importance for the health of both, providing essential nutrients and reducing the risk of disease. According to the Ministry of Health, the practice reduces cases of infant mortality due to preventable causes, the manifestation of complications related to the digestive tract, improves cognitive development, reduces the risk of breast cancer in women, in addition to acting as a temporary contraceptive method and aiding in uterine recovery. Objective: To list the pre-established concepts about breastfeeding and correlate them with the repercussions on breastfeeding and the mother/baby bond. Methods: This is a quantitative, analytical and descriptive study, carried out in person through a questionnaire of the author’s own authorship, answered by puerperal women hospitalized at the study site. Results: Thirty medical records were analyzed. Greater evidence was found about the pre-established concepts during breastfeeding and how they can interfere with breastfeeding, whether they are aesthetic, family or related to the puerperal woman’s support network. Furthermore, differences in breastfeeding difficulties were identified between mothers who were breastfeeding for the first time and those who were breastfeeding for the second time. Conclusion: Pre-established concepts about breastfeeding have been demystified over the years, although aesthetic considerations and lack of support network are still present in the reports. The study also highlighted the need to review public policies for postpartum women to support exclusive breastfeeding up to six months.

Keywords: Breastfeeding. Breastfeeding. Maternal and child health.

RESUMEN

Introducción: La lactancia materna es fundamental para la salud del binomio madre-bebé, proporcionando nutrientes esenciales y reduciendo el riesgo de enfermedades. Según el Ministerio de Salud, contribuye a la disminución de la mortalidad infantil por causas prevenibles, mejora el desarrollo cognitivo, reduce el riesgo de cáncer de mama, actúa como método anticonceptivo temporal y favorece la recuperación uterina. Objetivo: Enumerar los conceptos preestablecidos sobre la lactancia materna y correlacionarlos con sus repercusiones en la alimentación del bebé y el vínculo madre/hijo. Métodos: Estudio cuantitativo, analítico y descriptivo, realizado presencialmente mediante un cuestionario de elaboración propia, aplicado a puérperas hospitalizadas en el lugar de estudio. Resultados: Se analizaron 30 historias clínicas, identificándose evidencias sobre los conceptos preestablecidos en la lactancia materna y su influencia en el proceso, ya sean de orden estético, familiar o vinculados a la red de apoyo de la madre. También se observó una diferencia en las dificultades de amamantamiento entre madres primerizas y aquellas con experiencia previa. Conclusión: A lo largo del tiempo, los conceptos preestablecidos sobre la lactancia materna han sido desmitificados, aunque persisten preocupaciones estéticas y la falta de apoyo como barreras significativas. El estudio resalta la importancia de revisar las políticas públicas destinadas a las mujeres en el posparto, con el fin de fomentar y garantizar el amamantamiento exclusivo hasta los seis meses.

Palabras clave: Lactancia materna. Lactancia materna. Salud aternoinfantil.

 INTRODUÇÃO

O ato de amamentar aparenta ser simples e um instinto nato, mas para seu sucesso, requer ensinamentos e um complexo conjunto de condições interacionais no contexto social da mulher e do filho¹. A amamentação é comportamento social, mutável conforme épocas e sofreu transformações durante a história¹. Este ato é influenciado pela família e pelo meio social em que a mulher vive¹. A regulamentação da comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e também a de produtos de puericultura, pela Lei 11.265, e a recente publicação das “Bases para a discussão da Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno”, também foram conquistas a favor do aleitamento materno².

O leite materno é produzido nas glândulas mamárias e é um alimento perfeito para o bebê. Ele apresenta uma composição nutricional balanceada que não necessita da complementação de outros alimentos nas fases iniciais de desenvolvimento³, mas mesmo assim a prática de amamentar está muito aquém do que se é esperado e recomendado pelas organizações internacionais e nacionais, ou seja, de forma exclusiva até os seis meses e complementar a outros alimentos até os dois anos de idade ou mais⁴⁵. O aleitamento materno (AM) é considerado um recurso fundamental para promoção da saúde nutricional da criança, com repercussões ao longo da vida. A introdução de alimentos precocemente à dieta infantil é fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas⁶.

São vários os fatores que estão interligados com esta prática alimentar, agindo de forma negativa ou positiva, sendo os principais: nível socioeconômico, grau de escolaridade da mãe, idade da mãe, trabalho materno, urbanização, condições do parto, incentivo do cônjuge e parentes, bem como a intenção da mãe de amamentar e experiência anterior a esta⁷. 

O apoio para amamentar é uma complexa mistura de intervenções que engloba elementos como apoio prático, emocional, motivacional ou informativo, visando viabilizar a amamentação. Essa intervenção multifacetada consiste em mostrar e auxiliar a mãe em como segurar o bebê e colocá-lo ao peito, em posição e pega adequadas, oferecer atenção às puérperas, fazer elogios, proporcionar tranquilidade e, ao mesmo tempo, oferecer oportunidade para que ela se sinta segura em fazer perguntas, relatar problemas, bem como discutir seus anseios e inseguranças individuais⁸.

Os índices e a duração do tempo de amamentação exclusivo podem ser influenciados por intervenções de orientação e apoio ao aleitamento materno por profissionais de saúde. Contudo, poucos estudos têm investigado as orientações fornecidas às gestantes e mães na atenção básica, bem como sua associação com o Aleitamento Materno Exclusivo (AME)⁹.

Os lactentes, principalmente nos primeiros meses de vida, estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de reações de hipersensibilidade podendo estimular o desenvolvimento de alergias alimentares. Portanto, a substituição do leite materno pode ser prejudicial, tornando- se capaz de desencadear problemas de saúde e, consequentemente, o aparecimento de doenças¹⁰.

A introdução de outros alimentos à dieta do lactente é uma fase crítica pela alta susceptibilidade de levar a criança ao déficit nutricional e ao desenvolvimento de doenças infecciosas e alergias alimentares. O primeiro e mais frequente alimento iniciado precocemente à dieta do bebê, são as preparações à base de leite de vaca, que trazem à tona o cenário das alergias alimentares, em especial, a Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV).

Quanto às políticas de incentivo, o Brasil é o país que se destaca pelo conjunto de políticas integradas de incentivo ao AM: Iniciativa Hospital Amigo da Criança, Método Canguru, licença maternidade remunerada de quatro a seis meses, Unidade Básica Amiga da Amamentação, Salas de Apoio à Amamentação, Lei de comercialização dos alimentos para lactentes e a maior rede de Bancos de Leite Humano do Mundo¹¹.

A diretriz intitulada “Proteção, promoção e apoio à amamentação em instalações que prestam serviços de maternidade e recém-nascidos”, tem o propósito de examinar cada uma das práticas contidas nos “Dez passos para a amamentação bem- sucedida”. Essa publicação oferece recomendações globais fundamentadas em evidências científicas para informar os profissionais de saúde envolvidos com a amamentação e gestores de maternidades a fim de melhorar a amamentação e, consequentemente, a nutrição e saúde das crianças⁸.

Compreender as concepções maternas sobre amamentação é imprescindível para desmistificar conceitos estabelecidos culturalmente, possibilitando êxito nesse processo. Muitas vezes as mães têm o desejo e estão determinadas a amamentar, porém, diante de algum problema ou insegurança, há necessidade da assistência qualificada dos profissionais de saúde para ser evitada ou superados os problemas de amamentação que levam ao desmame precoce, garantindo o sucesso da amamentação⁸.

Desta forma, este estudo buscou elencar os conceitos pré-estabelecidos sobre a amamentação e correlacionar com as repercussões no aleitamento materno e vínculo mãe/bebe.

 MÉTODO

Trata-se de um estudo quantitativo, analítico e descritivo, realizado em uma maternidade escolar da cidade de Maceió, no período de abril a junho de 2023.

Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas através da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, referente a pesquisas envolvendo seres humanos, em 30 de março de 2023, sob número de parecer 5.975.931 e assim foi dado início a coleta dos dados.

Com os participantes informados e cientes sobre o objetivo e a justificativa do estudo, houve a concordância e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Assim, para o levantamento de dados da pesquisa, foram utilizados um instrumento, aplicado de forma individualizada, tendo o participante autonomia para não responder aos questionamentos e para desistir da pesquisa a qualquer tempo.

A amostra foi probabilística composta por 30 formulários aplicados presencialmente, contendo perguntas para o desenvolvimento da pesquisa, a saber: questões relacionadas ao objetivo do estudo, como por exemplo: qual a idade da puérpera, saber se já amamentou antes, se teve alguma dificuldade, sentiu dor ou incômodo, se o lactente conseguiu realizar a pega ao Seio Materno (SM), se possui uma rede de apoio, se recebeu auxílio, instruções e dicas da equipe hospitalar, entender quanto tempo a mesma pretende amamentar e se conhece os benefícios para ambos.

Mediante     as  considerações    dos critérios    de  elegibilidade, participaram da pesquisa lactantes hospitalizadas em uma maternidade escola no âmbito da enfermaria. Foram desconsiderados formulários que não foram preenchidos por completo.

Os dados coletados foram registrados e armazenados em pastas físicas e tabulados em documento eletrônico (Excel), com análise analítica e descritiva de tais.

RESULTADOS

A amostra foi composta de 30 questionários com puérperas que estavam amamentando e hospitalizadas, sendo o foco a enfermaria e a Unidade  Cuidados Intermediários. Para melhor percepção dos fatores que podem influenciar no desmame, os dados obtidos foram estruturados na Tabela 1.

Ressalta-se que houve diferença nas respostas de dificuldade para amamentar entre a primeira (40%, N=12) e a segunda (60%, N=18) amamentação, perpassando da produção de leite até a estrutura da mama.

Em relação aos conceitos pré-estabelecidos e suas interferências no aleitamento materno, na tentativa de entender as questões culturais que perpetuam e ainda repercutem no ato de amamentar, apenas cinco das participantes destacaram questões estéticas, retorno ao trabalho e ausência de rede de apoio após a alta hospitalar.

Assim, 6,7% (N=2) das puérperas que mencionaram questões estéticas relataram medo e insegurança durante e após a amamentação em relação a possíveis modificações no formato, tamanho e aspecto do seio materno.

Apenas uma das entrevistadas (3,3%) respondeu que não pretendia amamentar para que o bebê não tivesse a “dependência” em estar com a mesma, pois precisava de trabalhar e possuía uma rede de apoio em casa. Todavia, 6,7% (N=2) descreveram medo, falta de experiência e tristeza em não possuir rede de apoio. Dessa forma, 83,3% (N=25) das puérperas não relataram questões adversas ao aleitamento materno.

Apesar de 100 %(N=30) considerarem importante o ato de amamentar e destas 70% (N=21) demonstraram ter ciência dos benefícios do aleitamento materno. Infere-se que talvez as campanhas sobre a importância da amamentação não permeiam conhecimentos técnicos de forma que alcance toda população feminina que em algum momento amamente ou venha a amamentar, mas consegue atingir seu objetivo ao determinar a importância do aleitamento.

A informação sobre o acompanhamento profissional junto às puérperas na maternidade, para auxílio nas amamentações foi unânime. Contudo, na enfermaria, as puérperas relatam o auxílio significativo e necessário da equipe de enfermagem, enquanto que na UCI, há uma integração entre a fonoaudiologia e a enfermagem para um bom ganho nutricional do bebê. Um ponto a ser refletido, pois sugere que o fonoaudiólogo só está participando do processo de amamentação quando o bebê se encontra mais fragilizado. Sabe- se que a participação do profissional é indispensável em todo processo de hospitalização da criança em amamentação para manutenção do incentivo e adequação do AM.

Em relação ao aleitamento materno exclusivo até os seis meses 96,6% (N= 29) responderam que pretendem realizar amamentação exclusiva, condicionado à produção do leite.

DISCUSSÃO

A pesquisa proporcionou análise da diferença dos relatos maternos durante o processo de amamentação na primeira e segunda lactação, embora quase todas as pesquisadas tenham mencionado dificuldade na amamentação e os motivos citados foram distintos.

As mães que estavam amamentando pela primeira vez descreveram pouca produção de leite, enquanto as que estavam amamentando pela segunda vez descreveram dificuldade na pega, com presença de traumas no mamilo e mastites. A literatura evidencia que a amamentação inicia-se pela mamogênese, uma fase que ocorre durante todo o período gestacional e se refere ao crescimento e desenvolvimento da glândula mamária, que faz com que a mulher seja   capaz de produzir leite¹². Sabe-se que na segunda gestação as glândulas mamárias aumentam em quantidade e tamanho, favorecendo maior produção de leite, tal fator pode ser justificador deste dado observado no estudo. Outra pesquisa já mencionava que a causa mais comum de dor para amamentar se deve a traumas mamilares por posicionamento e pega inadequados. Portanto, a maior produção de leite e a pega inadequada do lactente podem ter sido o causador dos traumas e mastites referidas pelas mães de segunda amamentação⁹.

Contudo, analisando toda a amostra da pesquisa, mais da metade não referiu problemas para amamentar. A minoria que relatou dificuldade associou as questões estéticas, necessidade de retorno ao trabalho e ausência de rede de apoio.

Em 2013 o Brasil foi o segundo país em número de cirurgias de mama, sendo a correção das “mamas caídas” a segunda busca pelo procedimento cirúrgico¹³. Para os autores, embora tenha ocorrido aumento do número de cirurgias plásticas estéticas e os riscos e limitações que elas podem trazer à amamentação, pouco tem sido produzido para esclarecer as experiências, os significados e os sentimentos de mulheres que vivenciaram esse processo. Tal fato, reforça a questão estética como um item significativo para as mulheres que amamentam.

Todas as mulheres possuem condições para amamentar, todavia, as questões socioeconômicas e culturais ainda podem influenciar o aleitamento materno. Os principais fatores de repercussão neste processo envolvem: experiências anteriores, estado emocional da nutriz, mitos e crenças, informações transmitidas por familiares e profissionais e a fonte de apoio ¹⁴. As autoras definem a rede de apoio como um sistema integrado por diferentes sujeitos pertencentes ao contexto social e familiar e fornecedores de apoio, nos mais diversos âmbitos. Evidencia-se que as dificuldades descritas pelas mães durante as entrevistas, apesar do decorrer do tempo, são as mesmas, embora em menor proporção de relato.

Assim, apesar de a maioria afirmar possuir conhecimentos frente ao aleitamento materno, algumas ainda apresentam conceitos pré-estabelecidos sobre a amamentação, estes vinculados a mitos ou histórico familiar. Partindo desse foco, compreende-se que o aleitamento materno depende de fatores que podem influir positivamente ou negativamente na sua realização.

Alguns fatores estão diretamente relacionados à mãe, como as características de sua personalidade e sua atitude e desejo frente à prática de amamentar, ao passo que outros se referem à criança e ao ambiente, como por exemplo, as suas condições de nascimento e o período pós-parto, além de fatores circunstanciais, como o trabalho materno, questões estéticas e as condições habituais de vida, corroborando com outros estudos ⁷. A influência familiar também vem sido apontada como fator importante na escolha de aleitar ou não a criança, as mulheres devido a inexperiência acabam recorrendo a ajuda das mães, avós, colegas que já tiveram filhos, para saber lidar com a maternidade¹º.

Ressaltando a importância e os benefícios da amamentação compreende-se que toda a amostra entendia a importância de amamentar, mesmo que não conseguissem conceituar. Tal observação levanta a possibilidade da eficácia da mídia nas campanhas do Agosto Dourado com esclarecimentos acessíveis a toda população.

Um fator interessante é que todas as mães afirmaram ter recebido apoio profissional enquanto internas, contudo, a participação do fonoaudiólogo nesse contexto entre enfermaria e UCI, só aconteceu na UCI, embora maior parte das mães da pesquisa estivessem internadas na enfermaria. Autores citam que embora o processo de amamentação tenha características de um ato instintivo, ele pode necessitar de aprendizagem e requerer orientações específicas¹⁵. Dentre as ações que o fonoaudiólogo realiza dentro do Alojamento Conjunto estão, levantamento das condições do RN e da mãe¹⁶.

Em outros estudos, afirmam que o fonoaudiólogo atuante na área materno-infantil é um profissional que em conjunto com a equipe multiprofissional pode intervir neste cenário, devido seu conhecimento sobre a alimentação, fisiologia das funções de sucção e deglutição, contribuindo para a eficácia da amamentação¹⁷.

O manejo das dificuldades com o aleitamento materno exige um conjunto de habilidades técnicas e relacionais, que tem por base uma boa interação com a puérpera. Isto evidencia que o processo de comunicação que se estabelece entre o profissional de saúde e a mãe favorece o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para as pessoas encontrarem, compreenderem, avaliarem e utilizarem a informação relacionada com a saúde¹⁸.

Nas enfermarias há a presença do fonoaudiólogo, mas apenas as enfermeiras orientaram as mães. Este acontecimento gera o questionamento de como está acontecendo a atuação do fonoaudiólogo nas enfermarias ou mesmo o entendimento da equipe quanto ao papel do fonoaudiólogo nestes setores da unidade hospitalar.

Assim, informam que o desmame corresponde a introdução de qualquer tipo de alimento na dieta de uma criança que, até então, se encontrava em regime de aleitamento materno exclusivo⁷. Dessa forma, é o período compreendido entre a introdução desse novo aleitamento até a supressão completa de aleitamento materno. Mencionam que a identificação dos fatores de risco para o insucesso na amamentação contribui na definição de condutas a serem utilizadas no manejo, bem como para delimitar quais conhecimentos específicos são importantes de serem enfatizados junto à população¹⁹.

Estudos explicam que o desmame não é algo desejado ou planejado pelas mães e gera sentimentos de derrota, desistência, incapacidade, o que pode configurar como obstáculo, uma vez que este olhar negativo e autoculpabilizante, além de cobranças sociais e por vezes familiares, pode influenciar nas próximas experiências com a amamentação¹⁸. Portanto, reforça-se a importância das orientações assertivas dos profissionais junto às mães.

Fundamenta-se a necessidade da comunicação entre o profissional e as mulheres que estão amamentando para que o ato de amamentar seja sempre visto considerando seus benefícios, esclarecendo dúvidas, medos e reforçando o papel da mulher, diante de uma sociedade culturalmente julgadora, auxiliando a entender limites anatômicos, fisiológicos e emocionais inerentes a mãe que amamenta.

Desta forma, poderemos proporcionar à mãe o entendimento do aleitamento materno exclusivo como uma etapa da maternidade enriquecida pelo binômio mãe-bebê, sem medos de julgamentos e sem auto cobranças; fortalecendo a amamentação no ambiente hospitalar.

CONCLUSÃO

Percebe-se que os conceitos pré-estabelecidos sobre amamentação foram desmistificados durante os anos, embora, ainda se façam presentes no relato das considerações estéticas. Porém, a necessidade de retorno ao trabalho e a ausência de apoio familiar são evidências sociais que determinam a importância de se revisar as políticas públicas de Saúde para a mãe que amamenta. Não se concebe querer imputar a ideia da importância do aleitamento materno exclusivo até os seis meses e não serem fornecidas oportunidades para estas mães vivenciarem o processo de amamentação, diante de contextos sociais para prover necessidades básicas de seus filhos, junto ao seu companheiro ou mesmo sozinhas nesse cenário.

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1Fonoaudióloga pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. E-mail: layhortencia2@gmail.com
2Discente do Curso Superior de Fonoaudiologia da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. E-mail: myrellesoares8@gmail.com
3Docente do Curso Superior de Fonoaudiologia da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. Mestre em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva (SOBRATI). E-mail: marisa.canuto@uncisal.edu.br