COMPARATIVE ANALYSIS OF STATIC AND DYNAMIC BALANCE BETWEEN ADOLESCENTS WHO PRACTICE AND DO NOT PRACTICE SOCCER
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202412120808
Grasiele Aparecida de Jesus1
Viviane Gontijo Augusto2
Lorraine Silva Costa3
Paulo Henrique Malta Coutinho Chaves4
Ana Clara de Faria Cordeiro5
João Osmar Teixeira Matos6
Cecília Ferreira de Aquino7
Resumo
O equilíbrio postural é essencial para as atividades diárias e para o desempenho no esporte. O objetivo deste estudo foi comparar o equilíbrio estático e dinâmico de adolescentes praticantes e não praticantes de futebol. Participaram do estudo 40 adolescentes, divididos em dois grupos: praticantes de futebol (n=20) e não praticantes de futebol (n=20). Para a coleta das variáveis foram utilizados o teste Balance Error Scoring System (BESS), para avaliar o equilíbrio estático e o teste Star Excursion Balance Test (SEBT) modificado, para verificar o equilíbrio dinâmico. A idade média dos indivíduos foi de 16,50 ± 0,75 anos, com peso médio de 63,00 ± 8,98 kg e estatura média de 1,73 ± 0,07 metros. Foi encontrada uma diferença significativa no teste SEBT modificado para as direções anterior (p=0,026), póstero-lateral (p=0,005) e para o escore composto (p=0,004), sendo que os adolescentes que praticam futebol apresentam melhor equilíbrio dinâmico. Não foi observada diferença significativa entre os grupos para a direção póstero-medial (p=0,157). Em relação ao teste BESS, houve uma diferença significativa nos erros observados para as superfícies firme, macia e valor total (p<0,001), sendo que os adolescentes que praticam futebol apresentam menor pontuação quando comparados aos adolescentes que não praticam futebol, o que indica melhor equilíbrio estático. Mediante os resultados obtidos, conclui-se que adolescentes que praticam futebol apresentam melhor equilíbrio estático e dinâmico quando comparados aos adolescentes que não praticam o esporte.
Palavras-chave: Adolescente. Equilíbrio estático. Equilíbrio Dinâmico. Futebol.
Abstract
Postural balance is essential for daily activities and sports performance. The objective of this study was to compare the static and dynamic balance of adolescents who practice and do not practice soccer. Forty adolescents participated in the study, divided into two groups: soccer players (n=20) and non-soccer players (n=20). For data collection, the Balance Error Scoring System (BESS) test was used to assess the static balance and the modified Star Excursion Balance Test (SEBT) test was used to verify the dynamic balance. The mean age of the individuals was 16.50 ± 0.75 years, with a mean weight of 63.00 ± 8.98 kg and a mean height of 1.73 ± 0.07 meters. A significant difference was found in the modified SEBT test for the anterior (p=0.026) and posterolateral (p=0.005) directions and composite score (p=0.004), with adolescents who play soccer having greater distance achieved in the previously mentioned directions, which indicates better dynamic balance. No significant difference was observed between the groups for the posteromedial direction (p=0.157). Regarding the BESS test, there was a significant difference in the errors observed for the firm and soft surfaces and for total score (p<0.001). Adolescents who play soccer showed a lower score when compared to adolescents who do not play soccer and this result indicates better static balance. Based on the results obtained in this research, it was concluded that adolescents who play soccer have better static and dynamic balance when compared to adolescents who do not play the sport.
Keywords: Adolescent. Static balance. Dynamic balance. Soccer.
1. INTRODUÇÃO
O futebol é um dos esportes mais populares do mundo, atraindo participantes de todas as idades e categorias. A adesão elevada a esse esporte está associada a um aumento significativo na prevalência de lesões entre os praticantes, independentemente da faixa etária (Ruivo; Pinheiro; Ruivo, 2018). Drummond et al. (2021) relataram que, em uma temporada, a prevalência de lesões foi de 29,68% do total de casos, com 86,9% dessas lesões ocorrendo em membros inferiores. Portanto, é imperativo implementar estratégias de prevenção das lesões musculoesqueléticas, reduzindo o risco de lesões e garantindo maior segurança aos jogadores.
Conforme estudo realizado por Ruivo, Pinheiro & Ruivo (2018), um enfoque preventivo que integra o treinamento de equilíbrio pode proporcionar estímulos sensoriais diferenciados aos atletas, melhorando a propriocepção e o controle postural. Isso resulta em uma transferência positiva para as situações reais de treinamento e competição, onde irregularidades no terreno de jogo são comuns. Assim, a inclusão de exercícios que desafiem o controle neuromuscular é crucial para a prevenção de lesões.
Para uma avaliação eficaz da relação entre esses aspectos, é necessário utilizar instrumentos que mensuram o equilíbrio, tanto estático quanto dinâmico. O Balance Error Scoring System (BESS), desenvolvido por Broglio et al. (2009), é uma ferramenta que fornece informações objetivas sobre o controle postural, sem a necessidade de equipamentos caros ou treinamento extensivo. Este teste avalia o equilíbrio postural estático, que é a capacidade de manter a postura em uma posição imóvel (Teixeira et al., 2015).
Melo et al. (2015) destacam que a análise do equilíbrio postural estático pode ser realizada em duas condições sensoriais: superfície estável (testes realizados no solo) e superfície instável (testes realizados sobre um bloco de espuma), subdivididas em três momentos: apoio bipodal, apoio unipodal e postura em tandem (um pé à frente do outro). O equilíbrio dinâmico, por sua vez, refere-se ao controle corporal durante variações de posição, podendo ser avaliado através do Star Excursion Balance Test (SEBT) modificado, que exige força, mobilidade e propriocepção (Teixeira et al., 2015). Este teste é uma medida de equilíbrio dinâmico que requer controle neuromuscular específico, podendo ser utilizado para avaliar o desempenho físico e identificar déficits no controle postural dinâmico, especialmente em atletas com maior risco de lesões nos membros inferiores (Plinky et al., 2006).
Na literatura, há uma escassez de estudos que comparam o equilíbrio estático e dinâmico entre adolescentes praticantes e não praticantes de futebol, o que justifica a relevância desta pesquisa. O questionamento central é: os adolescentes praticantes de futebol apresentam melhor equilíbrio estático e dinâmico em comparação aos não praticantes? O objetivo deste estudo é comparar o equilíbrio estático e dinâmico de adolescentes praticantes e não praticantes de futebol.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Equilíbrio corporal
O equilíbrio postural é definido como a capacidade de recepção e integração de estímulos sensoriais, além do planejamento e execução do movimento. Está interligado ao gerenciamento de informações sensoriais, processamento central e respostas neuromusculares, correspondendo à habilidade de controlar o centro de gravidade (CG) sobre uma base de suporte (Sachetti et al., 2012). Em um indivíduo saudável na posição bípede, o CG está localizado na frente da coluna, aproximadamente no nível da segunda vértebra sacral. Durante a movimentação, a localização do CG varia com frequência.
Lima et al. (2017) afirmam que o corpo humano está em constante processo de desequilíbrio e reajuste, resultante da adaptação do sistema sensorial e motor, que proporciona controle postural adequado para a realização de atividades motoras. O funcionamento integrado do sistema sensório-motor é crucial para a manutenção do equilíbrio postural. Lesões musculoesqueléticas, neurológicas, distúrbios sensitivos e alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento podem gerar distúrbios no equilíbrio postural.
O equilíbrio pode ser classificado em estático e dinâmico. O equilíbrio estático envolve o uso de informações internas e externas relacionadas à ativação muscular em resposta a distúrbios posturais, enquanto o equilíbrio dinâmico refere-se à capacidade de manter o controle postural durante o movimento (Almeida; Veras; Doimo, 2010; Kesilmis, 2017).
2.1.1 A influência da atividade física no equilíbrio
A atividade física, definida como qualquer movimento corporal que aumenta o gasto de energia, traz consideráveis benefícios, desde a melhoria da qualidade de vida até o aumento da funcionalidade motora (Skelton, 2001). O exercício físico, que é um tipo de atividade física, influencia positivamente o sistema neuromuscular, o aparelho locomotor e o equilíbrio, além de promover adaptações no controle postural. Além disso, o equilíbrio é um pré-requisito fundamental para a maioria das atividades esportivas (Elia, 2010).
Skelton (2001) observa que a diminuição da capacidade física pode limitar o desempenho nas atividades de vida diária (AVDs). Assim, a redução do equilíbrio, força e mobilidade pode aumentar o risco de quedas e lesões, tornando essencial a promoção da atividade física devido aos seus resultados positivos na saúde e longevidade.
2.2 Star Excursion Balance Test (SEBT modificado)
O Star Excursion Balance Test (SEBT) é uma ferramenta de avaliação do equilíbrio dinâmico, introduzida por Gary W. Gray em 1995. O teste consiste em uma série de agachamentos unipodais enquanto o membro contralateral realiza alcances em oito direções diferentes (Coughlan et al., 2012). O SEBT é utilizado para identificar déficits funcionais nos membros inferiores, exigindo controle postural, propriocepção, força muscular e amplitude de movimento articular (Teixeira et al., 2015).
Para aumentar a eficiência do teste, Hertel et al. (2006) propuseram uma versão modificada, reduzindo as oito direções de alcance para apenas três direções (anterior, póstero medial e póstero-lateral). O SEBT modificado é realizado com o participante descalço, com as mãos na cintura e em apoio unipodal, enquanto o alcance é feito com o hálux realizando contato com o chão, sem retirar do solo o calcanhar do membro de apoio. A distância é medida quando o hálux atinge a parte mais distal da linha (Hertel et al., 2006). Este teste quantifica o desempenho do participante com base na distância alcançada em equilíbrio unipodal nas direções especificadas (Coughlan et al., 2012).
2.3 Balance Error Scoring System (BESS)
O Balance Error Scoring System (BESS) é um teste utilizado para avaliar o equilíbrio estático, desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte. É um sistema padronizado, rápido e barato para identificar déficits, monitorar a recuperação de lesões ou acompanhar a evolução de alguma condição patológica (Broglio et al., 2009). O BESS utiliza uma combinação de três posições (bipodal, unipodal e em tandem) em duas superfícies diferentes (firme e macia) (Figura 1). Cada posição é mantida por 20 segundos, com os olhos fechados e as mãos nos quadris. Erros são contabilizados para comportamentos como abrir os olhos ou retirar as mãos dos quadris (Broglio et al., 2009).
Figura 1 – Posições realizadas em superfície firme (A – C) e superfície macia (D – F). Fonte: Arquivo pessoal (2022).
O desempenho no controle postural é avaliado pela média dos erros cometidos nas três etapas realizadas em solo e sobre o bloco de espuma, onde maior oscilação indica menor equilíbrio (Melo et al., 2015).
2.4 Importância da prática de atividade física na adolescência e seus benefícios
A prática regular de atividade física na adolescência é crucial para a promoção de um estilo de vida saudável, com benefícios que podem se estender ao longo da vida. Durante a adolescência, o corpo passa por mudanças significativas relacionadas à puberdade, incluindo crescimento e desenvolvimento muscular. Um estilo de vida ativo é fundamental para prevenir problemas como obesidade e doenças cardíacas, além de melhorar o equilíbrio e a saúde geral (Elia et al., 2010).
Além dos benefícios físicos, a atividade física também impacta positivamente a saúde mental. Durante o exercício, o corpo libera endorfinas, que controlam o estresse e melhoram a autoconfiança e a concentração (Lima et al., 2017). Alves et al. (2005) destacam que os benefícios do esporte incluem melhorias na eficiência pulmonar e cardíaca, aumento do volume sanguíneo e capacidade de oxigenação, além de contribuir para a saúde cardiovascular.
2.5 Lesões em jogadores de futebol
O futebol, sendo um dos esportes mais praticados mundialmente, exige movimentação intensa, incluindo corridas, mudanças de direção e saltos. Essas exigências físicas podem levar a lesões por uso excessivo em articulações, músculos e ligamentos (Campillo et al., 2018). Lesões comuns incluem entorses, contusões, distensões musculares e luxações, com os membros inferiores, especialmente coxas, joelhos e tornozelos, sendo as áreas mais afetadas (Silva et al., 2019).
A prevenção de lesões é mais eficaz quando baseada em estudos que analisam a prevalência e incidência das lesões, envolvendo uma equipe multidisciplinar de profissionais (Marcon et al., 2015).
3. METODOLOGIA
Este estudo foi concebido como uma pesquisa transversal exploratória com uma abordagem quantitativa, realizada em uma escola pública e nas categorias de base de um clube de futebol do município de Divinópolis-MG. A pesquisa recebeu a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade, sob o parecer nº 4.853.375. A amostra foi selecionada de forma não probabilística, composta por 40 adolescentes, distribuídos em dois grupos: Não Praticantes (NP) e Praticantes de Futebol (PF), com 20 participantes em cada grupo.
Os critérios de inclusão para ambos os grupos foram: ser do gênero masculino, ter idade entre 16 e 18 anos, não apresentar problemas de saúde que impedissem a realização dos testes, e ter a aprovação dos pais por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE), no caso de menores de idade. Para o grupo PF, os participantes deveriam praticar futebol nas categorias de base do clube esportivo, com experiência superior a 12 meses e sem histórico de lesões. Para o grupo NP, os critérios incluíam estar matriculado na escola pública e não ser praticante de futebol. Foram excluídos da pesquisa adolescentes ausentes no dia da coleta, aqueles com déficits cognitivos ou psicomotores graves, malformações congênitas ou adquiridas, ou que necessitassem de dispositivos auxiliares de marcha.
Antes do início da coleta, um questionário de identificação foi aplicado, coletando dados pessoais, idade, estatura, massa corporal, comprimento do membro inferior e definição do membro inferior dominante. A determinação do membro inferior dominante foi realizada por meio de perguntas diretas aos participantes, que indicaram qual membro utilizavam para chutar uma bola. O membro não dominante foi utilizado na execução de todos os testes.
3.1 Protocolo BESS
Para a coleta de dados, os adolescentes foram submetidos a uma avaliação do equilíbrio estático, conduzidos sempre pelo mesmo pesquisador, de forma individual, em uma sala reservada nas instituições. Utilizou-se o teste Balance Error Scoring System (BESS), que avaliou o equilíbrio estático em duas condições sensoriais (Melo et al., 2015):
1. Superfície firme (testes realizados no solo);
2. Superfície macia (testes realizados sobre um bloco de espuma).
O protocolo BESS compreende seis etapas, com duração de 20 segundos cada, realizadas com os olhos fechados. Durante os testes, os participantes foram posicionados de pé sobre o solo, em uma superfície demarcada, descalços e sem apoio externo para os pés ou tornozelos. Os braços foram posicionados ao longo do corpo, com as mãos sobre as cristas ilíacas, permanecendo com os olhos fechados durante todas as etapas da avaliação.
As etapas do BESS são as seguintes:
• Etapa 1: Postura estática em apoio bipodal, com os pés paralelos e juntos no solo.
• Etapa 2: Postura estática em apoio unipodal, com o membro inferior não dominante no solo.
• Etapa 3: Postura estática em tandem, com o membro inferior não dominante posicionado atrás do membro dominante, com os dedos do pé tocando o calcanhar. Após a execução das três etapas iniciais sobre a superfície rígida do solo, houve um descanso de 1 minuto para o voluntário, e as mesmas etapas foram repetidas sobre um bloco de espuma de 60 × 60 × 10 cm. O equilíbrio estático foi mensurado de acordo com a quantidade de oscilações corporais, contabilizadas como “erros” durante a permanência voluntária em cada etapa. Cada oscilação resulta em um ponto, de modo que uma maior pontuação indica menor equilíbrio.
A pontuação do BESS calcula um ponto para cada erro cometido, sendo eles: (1) levantar as mãos posicionadas acima das cristas ilíacas; (2) abrir os olhos; (3) dar um passo à frente, cambalear ou cair; (4) movimentar o quadril em flexão ou abdução a mais de 30°; (5) retirar os dedos do pé ou o calcanhar do solo; (6) permanecer fora da posição de teste por mais de cinco segundos (Melo et al., 2015).
As avaliações do equilíbrio estático foram filmadas por uma câmera de celular, posicionada sobre um tripé, a um metro do solo e a três metros dos adolescentes. O desempenho dos escolares no teste BESS foi analisado e pontuado por um pesquisador em um segundo momento.
3.2 Comprimento do Membro inferior
Após a realização do teste BESS, foi medido o comprimento do membro inferior dominante, que seria utilizado para o alcance durante o teste SEBT modificado. A medição foi realizada com o participante em decúbito dorsal sobre um colchão de espuma. Um adesivo foi colocado sobre a espinha ilíaca ântero-superior e na porção mais distal do maléolo lateral. Depois que o jogador ergueu os quadris do colchonete, fazendo um movimento semelhante a ponte de quadril, o examinador endireitou passivamente os membros inferiores. O comprimento do membro dominante foi medido da espinha ilíaca ântero-superior até a porção mais distal do maléolo lateral, utilizando uma fita métrica.
3.3 Protocolo SEBT modificado
Após um descanso mínimo de 5 minutos após o BESS, foi aplicado o segundo teste. O SEBT modificado é uma ferramenta de avaliação do equilíbrio postural dinâmico, que exige que o participante mantenha o equilíbrio unipodal enquanto realiza alcances com o membro contralateral em direções pré-determinadas. O participante usava como guia, três fitas métricas de um metro e meio coladas ao solo, dispostas nas posições: anterior (SEBT ANT), póstero medial (SEBT PM) e póstero-lateral (SEBT PL). As três fitas métricas foram posicionadas conforme a letra “Y”, formando um ângulo de 135º da primeira fita e 90° entre si nas direções póstero-medial e póstero-lateral (Plisky et al., 2006).
Os participantes receberam instruções verbais e assistiram demonstrações visuais dos procedimentos para realização do teste, devido ao efeito de aprendizagem com o SEBT. Os participantes praticaram quatro tentativas com o membro inferior não dominante, em cada uma das três direções de alcance antes do teste formal (Plisky et al., 2006).
O adolescente ficou descalço, com as mãos na cintura e em apoio unipodal no centro de interseção entre as fitas. Mantendo essa postura, foi solicitado que alcançasse com o membro livre nas direções anterior, póstero-medial e póstero-lateral em relação ao pé de apoio. A distância máxima de alcance foi medida, marcando a fita métrica no ponto onde a parte mais distal do pé atingia.
A pontuação final do SEBT modificado foi calculada a partir da soma das médias das distâncias alcançadas (em centímetros) nas três direções dividida por três vezes o comprimento real do membro inferior. Os valores finais foram expressos em porcentagem, multiplicando-se por cem, o que é denominado de escore composto.
A avaliação foi descartada e repetida novamente, quando o indivíduo não foi capaz de: (1) manter-se em apoio unipodal; (2) apresentar alguma perda considerável de equilíbrio; (3) quando o calcanhar não permanecia em contato com o solo; (4) tocava o pé de alcance no chão antes de realizar os três alcances; (5) quando não conseguia tocar diretamente na fita; (6) quando o pé de alcance não retornava à posição inicial; (7) quando o membro inferior de apoio ultrapassa a interseção demarcada das fitas e (8) quando o participante retirava as mãos da cintura.
3.4 Confiabilidade das medidas
Antes da coleta de dados oficial, foi realizado um estudo piloto para estabelecer a confiabilidade das medidas do SEBT modificado e do BESS. Foram avaliados oito estudantes universitários, com média de idade de 23,62 anos. Os coeficientes de correlação intraclasse (ICC) encontrados foram: ICC = 0,777; p = 0,033 para o escore total do SEBT modificado e ICC = 0,830; p = 0,016 para a pontuação total do BESS. Valores de ICC acima de 0,75 são considerados aceitáveis para a confiabilidade dos testes (Portney; Waltkins, 2008).
3.5 Análise dos dados
Para comparar os dois grupos em relação ao desempenho nas três categorias distintas do SEBT modificado e no escore total do BESS, foi utilizado o teste t de Student para grupos independentes. O nível de significância adotado em todas as análises foi de 0,05. As análises foram realizadas utilizando o Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 23.0.
4. RESULTADOS
4.1 Descrição da amostra
A amostra foi composta por 40 adolescentes voluntários, com idade média de 16,50 ± 0,75 anos, peso médio de 63,00 ± 8,98 kg e estatura média de 1,73 ± 0,07 metros, conforme apresentado na Tabela 1.
TABELA 1 – Descrição da amostra em relação à idade, peso e altura dos participantes.
4.2 Análise do equilíbrio estático e dinâmico
O teste t de Student para grupos independentes foi utilizado para comparar o equilíbrio estático e dinâmico entre os adolescentes praticantes e não praticantes de futebol. Os resultados referentes ao BESS e ao SEBT modificado estão ilustrados nos Gráficos 1 e 2, respectivamente.
Em relação ao teste BESS, houve uma diferença significativa nos erros observados para as superfícies firme, macia e valor total (p < 0,001), sendo que os adolescentes que praticam futebol apresentam menor número de erros quando comparados aos adolescentes que não praticam futebol, o que indica melhor equilíbrio estático.
Os dados revelaram diferenças significativas no SEBT modificados para as direções anterior (p=0,026) e póstero-lateral (p=0,005) e para o escore composto (p=0,004), demonstrando que os adolescentes praticantes de futebol alcançaram distâncias superiores nas mencionadas, refletindo um melhor equilíbrio dinâmico. Não foi observada diferença significativa entre os grupos para a direção póstero-medial (p=0,157).
GRÁFICO 1 – Média e desvio padrão dos erros apresentados no teste BESS nas superfícies firme (F), macia (M) e total geral (G) para os grupos praticantes e não praticantes de futebol.
GRÁFICO 2 – Média e desvio padrão das distâncias alcançadas no teste SEBT modificado nas direções anterior (A), póstero-medial (PM), póstero-lateral (PL) e total (escore composto) para os grupos praticantes e não praticantes de futebol.
5. DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo comparar o equilíbrio estático e dinâmico de adolescentes praticantes e não praticantes de futebol. Através dos resultados obtidos com a aplicação dos testes BESS e SEBT modificado, foi possível verificar que os jovens atletas apresentaram um equilíbrio estático melhor (em superfícies firmes e macia) e um equilíbrio dinâmico superior (nas direções anterior e póstero-lateral) em comparação ao grupo não praticante de futebol.
Embora existam estudos que abordem as diferenças de equilíbrio entre diversas modalidades esportivas e indivíduos sedentários (Khuman et al., 2014; Bressel et al., 2007), a literatura carece de comparações diretas entre os valores de equilíbrio dinâmico e estático. Os resultados obtidos corroboram as hipóteses iniciais de que os atletas, devido à sua formação contínua e habilidades motoras aprimoradas, demonstram um equilíbrio superior, em concordância com os resultados de Merlo et al. (2021).
Similar aos resultados do presente estudo, Davlin (2018) observou que os valores de equilíbrio dinâmico de atletas superaram os de indivíduos sedentários. Além disso, Gökdemir et al. (2019) descobriram que os valores de equilíbrio dos sedentários eram inferiores aos dos atletas. O estudo de Butler (2020) sobre o equilíbrio dinâmico de jovens jogadores de futebol relatou que os valores foram maiores na direção póstero-medial e menores na direção anterior. Como justificativa para o menor escore encontrado na direção póstero-medial, o estudo de Lee et al. (2021), encontrou uma correlação positiva entre a força abdutora do quadril e a distância do alcance póstero-medial. Relataram ainda, a necessidade de uma maior amplitude de movimento do quadril para as direções posteriores do teste. Portanto, os abdutores do quadril devem estar associados à distância póstero-medial, pois essa direção requer estabilização lateral da pelve.
Devido ao fato de o futebol ser um esporte de contato, Kesilmis (2020) destaca a importância de os jogadores possuírem habilidades técnicas como equilíbrio estático e dinâmico. O mesmo autor afirma ainda, que a maioria dessas habilidades, como passar, driblar ou receber a bola, são realizadas de pé em apoio unipodal. Outros estudos que realizam a comparação do equilíbrio entre atletas desta modalidade esportiva, atletas de basquetebol e pessoas sedentárias, os atletas de futebol apresentaram um equilíbrio estático mais satisfatório, e que este equilíbrio foi melhor no membro não dominante (Rami, Prabhakar, 2018; Barone et al., 2011).
Kesilmis (2020) destacou a importância das habilidades técnicas, como equilíbrio estático e dinâmico, para jogadores de futebol, uma vez que muitas dessas habilidades são realizadas em pé, em apoio unipodal. Estudos que comparam o equilíbrio entre atletas de diferentes modalidades, como basquetebol e indivíduos sedentários, demonstraram que os jogadores de futebol apresentam um equilíbrio estático mais esmagador, especialmente no membro não dominante. O desempenho do equilíbrio estático com os olhos abertos e com os olhos fechados demonstrou diferenças significativas na comparação entre sedentários e praticantes de futebol e os atletas deste esporte apresentaram desempenho superior em ambos os casos, como demonstrado no presente estudo (Kesilmis, 2020).
Com base no estudo de Junior et al. (2021), a aquisição de habilidades que aceleram o desenvolvimento do sistema vestibular e promovem o equilíbrio postural, pode estar relacionado à repetição de técnicas e movimentos específicos da prática esportiva do futebol. Os autores afirmam ainda que o treinamento esportivo pode melhorar a capacidade do atleta de usar informações somatossensoriais, resultando em melhor equilíbrio postural. O estudo de Heleno et al. (2016), mostrou que um programa de treino sensório-motor de cinco semanas com exercícios de equilíbrio estático e dinâmico ligados aos movimentos do futebol, melhorou o desempenho funcional e o controle postural de jovens praticantes de futebol.
Outro aspecto importante que auxilia no melhor desempenho dos jogadores de futebol em ambos os testes de equilíbrio, foi descrito por Sucan et al. (2005) que realizaram um estudo comparando os níveis de equilíbrio de dois grupos que jogam e não jogam futebol e concluíram que todos os parâmetros de equilíbrio se diferem e os resultados foram melhores para os atletas desse esporte. Afirmaram também que essa ocorrência pode ser explicada, devido ao fato de os jogadores de futebol controlarem melhor o sistema sensório-motor que proporciona equilíbrio, com influência significativa dos músculos de membros inferiores. O fortalecimento desses músculos pode ser considerado eficaz no desenvolvimento da capacidade de equilíbrio.
Kligyte, Ekman, Medeiros (2003) descreveram que a fraqueza dos músculos dos membros inferiores teve efeitos adversos no equilíbrio dinâmico e que jogadores de futebol, por possuírem a força muscular bem desenvolvida, obtiveram melhor desempenho nos testes de equilíbrio, enquanto que os sedentários alcançaram escores mais baixos. Ressaltaram ainda que o manejo adequado do equilíbrio na execução de gestos motores baseia-se principalmente nas sinergias musculares que minimizam os deslocamentos do centro de gravidade. Esses resultados podem ser resultados da participação regular em treinos e competições de futebol.
Os dados obtidos demonstram que a prática regular de futebol parece contribuir para um melhor equilíbrio estático e dinâmico, fazendo com que a atividade esportiva tenha um impacto positivo sobre a capacidade de controle postural. No entanto, este estudo apresenta limitações, como a falta de registro de dados sobre a frequência de treinos, o tempo de prática da modalidade esportiva e a posição dos atletas em campo. Novas pesquisas devem ser realizadas para comparar outras modalidades esportivas e aprofundar a compreensão dos benefícios da prática do futebol no equilíbrio estático e dinâmico.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo comparou o equilíbrio estático e dinâmico entre adolescentes praticantes e não praticantes de futebol. Os resultados foram significativos, com os atletas obtendo melhor desempenho em ambos os aspectos do equilíbrio. Os jovens que praticavam futebol regularmente exibiram um equilíbrio estático superior, com menor oscilação corporal em superfícies firmes e macias, quando comparados aos não praticantes. No teste de equilíbrio dinâmico (SEBT modificado), os atletas alcançaram distâncias maiores nas direções anterior e póstero-lateral, refletindo um controle postural dinâmico mais eficiente.
Esses resultados sugerem que a participação regular em treinamentos e competições de futebol contribui para o desenvolvimento e aprimoramento do equilíbrio. O esporte promove adaptações neuromusculares que se traduzem em um melhor controle postural, estático e dinâmico. O equilíbrio é um componente essencial não apenas para a execução de habilidades motoras no futebol, mas também está associado à força geral do atleta e pode influenciar o risco de lesões. A avaliação e o acompanhamento contínuo do equilíbrio em jovens jogadores de futebol podem fornecer informações avançadas para melhorar o desempenho esportivo e prevenir lesões.
Concluindo, os adolescentes praticantes de futebol apresentam um equilíbrio estático e dinâmico superior aos não praticantes, evidenciando os benefícios da participação regular no esporte para o desenvolvimento do controle postural. A avaliação do equilíbrio pode ser uma ferramenta importante para monitorar o desempenho e prevenir lesões em jovens jogadores de futebol.
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1Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade José do Rosário Vellano Campus Divinópolis. e mail: grasiele.jesus26@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade do Estado de Minas Gerais Campus Divinópolis. 3Doutora em Ciências da Reabilitação (UFMG). e-mail: vivianeaugusto2013@gmail.com 3 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade do Estado de Minas Gerais Campus Divinópolis e-mail: lorraine58costa@gmail.com
4Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade do Estado de Minas Gerais Campus Divinópolis e-mail: paulohenrique1236@hotmail.com
5Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade José do Rosário Vellano Campus Divinópolis. e mail: ana.cordeiro@aluno.unifenas.br
6Fisioterapeuta, Clínica FisioSport, e-mail: joaoosmar18@gmail.com
7Docente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade do Estado de Minas Gerais Campus Divinópolis. Doutora em Ciências da Reabilitação (UFMG). e-mail: ceciliafaquino@gmail.com