REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11928395
Thaíse Gois Rocha1
Orientador: Professor Edilson Ribeiro Filho.
RESUMO
A presente pesquisa reflete sobre o papel das bibliotecas na sociedade contemporânea, e sobre como a arquitetura pode atuar como ferramenta no processo de ressignificação desses espaços, para o incentivo ao uso do público e a leitura. As bibliotecas são, além de armazenadoras de livros, portais de conhecimento, cultura e inclusão social, logo, elas precisam se adequar à digitalização, à desvalorização da leitura e a frequentação desse local como um desafio. Com base na pesquisa exploratória e documental, o artigo propõe uma discussão sobre como a arquitetura pode atuar como ferramenta de ressignificação do espaço da biblioteca, tornando-o um espaço de acesso à conhecimento e cultura, além de um ambiente de permanência e convívio. Para tal, foram analisados trabalhos que tratam sobre o tema, desenvolvendo, a partir da bibliografia existente, a discussão sobre o tema.
Palavras-chave: Arquitetura; Biblioteca; Leitura; Inclusão Social.
ABSTRACT
This research reflects on the role of libraries in contemporary society, and on how architecture can act as a tool in the process of reframing these spaces, to encourage public use and reading. Libraries are, in addition to storing books, portals of knowledge, culture and social inclusion, therefore, they need to adapt to digitalization, the devaluation of reading and frequenting this place as a challenge. Based on bibliographical research, the article proposes a discussion on how architecture can act as a tool for using library space, making it a place of access to knowledge and culture, as well as an environment for permanence and conviviality. To this end, works dealing with the topic were analyzed, developed, based on the existing bibliography, and the discussion on the topic.
Keywords: Architecture; Library; Reading; Social inclusion.
1 INTRODUÇÃO
A leitura liberta, transforma, informa, emociona e humaniza, além de ser a principal ferramenta de estudo. As bibliotecas vão além de um depósito ou da preservação de livros, estas preservam o conhecimento, ensino e aprendizagem, e continuam sendo uma grande porta de entrada para o conhecimento. Segundo Casson (2018), as primeiras tabuletas de argila gravadas descobertas foram encontradas no Egito e na Mesopotâmia, sendo datadas pouco antes de 3000 a.C.
Mas por que elas estão em desuso? Atualmente, o desuso da biblioteca brasileira também se dá diante da característica cultural e socioeconômica da sociedade brasileira, onde o acesso a livros está restrito à uma parcela privilegiada da população, além do avanço da internet. A utilização das redes sociais e a navegação afasta gradativamente a criança, o jovem e o adulto dos livros, tendo uma perda de 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (Instituto Pró-Livro, 2019).
A pesquisa ainda confirma que o brasileiro lê, em média, apenas cinco livros no ano, dentre os motivos por não terem tempo, não gostarem ou por acharem os livros caros. Nesse contexto, a biblioteca deve atuar com um espaço facilitador do acesso à leitura, com um ambiente acolhedor, uma coleção diversificada, recursos educacionais e tecnológicos, programas de incentivo à leitura, atendimento personalizado e iniciativas comunitárias.
A arquitetura pode atuar como uma ferramenta para que haja o incentivo e aumento do uso desse espaço público, além do estímulo à leitura e estudo. Um espaço amplo, com ventilação, luz natural e bastante vegetação são maneiras que um projeto pode transformar o ambiente, tornando-o um locus de atração e permanência.
A fim de promover o acesso à informação, ao conhecimento, lazer e à cultura para o local em que está inserida, uma biblioteca deve atuar como um espaço de aprendizagem e desenvolvimento pessoal, buscando oferecer oportunidades para aquisição de novos conhecimentos, habilidades e o estímulo à leitura, além de contribuir para a formação de cidadãos críticos e conscientes. Ademais, por meio da criação de ambientes de permanência, espaços de leitura e estudos, roda de leitura, feiras literárias e divulgação desse local, a biblioteca incita o uso do espaço público.
De acordo a instituição Pró-Livro, numa pesquisa realizada em 2012, intitulada “Retratos da Leitura no Brasil” mostra que 75% da população brasileira nunca pisou em uma biblioteca, o que está diretamente relacionado à percepção predominante sobre a leitura: chata e tediosa, mas não vista como um exercício prazeroso e interessante, e isso se dá devido às questões culturais e históricas que se refletem diretamente no comportamento social.
Ademais, a dificuldade de acesso a livros, por questões econômicas, torna o hábito de leitura uma característica restrita a uma parcela privilegiada da população, onde sua grande maioria tem dificuldades em acessá-los. Diante disso, fica evidente a necessidade de facilitar seu uso, já que as bibliotecas públicas têm um papel essencial no processo de disseminação de conhecimento, tornando-a acessível, possibilitando, assim, seu uso em diferentes níveis sociais. (Freitas e Silva, 2014)
Além disso, a leitura é uma atividade que traz diversos benefícios para o desenvolvimento humano, como criatividade, imaginação, vocabulário, conhecimento, concentração, disciplina, saúde mental e emocional, de acordo Talita Cruz (VIVADECORA, 2018). Por isso, é de suma importância que os espaços arquitetônicos sejam projetados para favorecer e estimular a leitura.
“Não importa o quanto a informação está acessível a um indivíduo ou a sociedade, se ela não é usada, torna-se inútil” (Saracevic e Wood, 1981, tradução nossa). Portanto, utilizar da arquitetura para incentivar o uso da biblioteca é de grande valia para a sociedade, transformando-a em um polo cultural e comunitário multifuncional, que promova a inclusão da sociedade, o incentivo cultural com rodas de leitura e discussões sobre livros, e também atuar como um ambiente para estudo.
Outrossim, ao implementar essas estratégias arquitetônicas, as bibliotecas tornam-se um espaço dinâmico, inclusivo e plural, que atendem às necessidades da comunidade contemporânea, garantindo a permanência nesse local, transformando-o em um verdadeiro centro de aprendizado, cultura e convivência.
2 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento do presente estudo, foi recorrido da pesquisa bibliográfica, onde se “busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas” (Bocatto, 2006), o qual será utilizado a coleta de dados supracitados, como leituras de artigos, livros e trabalhos relacionados ao tema. Deste modo, elas proporcionam maior familiaridade com o problema, tornando-os mais explícitos ou até construindo hipóteses. Portanto, esse método foi utilizado para investigar a literatura existente que trata sobre o objetivo abordado, que envolve a conceituação do que é a biblioteca, sua função social atualmente, e suas problemáticas. Posteriormente foi buscado a respeito da relação entre a arquitetura e a biblioteca, e como ela pode atuar como ferramenta de garantia de permanência no espaço.
De acordo a Gil (2010), “a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. Além de procurar entender o motivo e a situação atual de desuso e abandono das bibliotecas, o presente artigo busca relacionar como parâmetros arquitetônicos podem fomentar o uso e permanência nesses locais, e, dessa forma, garantir que eles cumpram sua função social.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 O QUE É A BIBLIOTECA E SUAS CONCEITUAÇÕES
(2019), Conforme Milanesi (1983) afirma, “a história da biblioteca é a história do registro da informação, sendo impossível destacá-la de um conjunto amplo: a própria história do homem”. Logo, as primeiras bibliotecas datavam de civilizações antigas, como Egito, Mesopotâmia e Grécia, onde serviam como repositórios de conhecimento e centros de aprendizado. Construída no Egito no século III a.C, a famigerada Biblioteca de Alexandria foi uma das maiores e mais importantes bibliotecas do mundo antigo, abrigando mais de 500.000 pergaminhos.
No Brasil, “a vinda da Biblioteca e da Imprensa Real também não representou indicadores efetivos do acesso e da disponibilidade de informação para toda a sociedade” (Suaiden, 2000). De acordo Freitas e Silva, pode-se afirmar que (2014), fora solicitado para a fundação da Biblioteca, o seu plano de aprovação em fevereiro de 1811 por Pedro Gomes Ferrão de Castello Branco, ao governador da Capitania da Bahia, sendo este, o primeiro documento com o objetivo de facilitar o acesso ao livro.
Uma biblioteca é um lugar onde as pessoas podem ter acesso a uma coleção de livros, revistas, jornais e outros recursos para pesquisa, educação e entretenimento. Elas são instituições vitais que fazem parte da civilização humana há milhares de anos. Flusser (1983) afirma que a biblioteca é um local de informação, tendo como função oferecer conhecimento às pessoas. Para UNESCO, em seu Manifesto da Biblioteca Pública, a biblioteca é:
o centro local de informação, disponibilizando todo tipo de conhecimento e informação aos seus usuários. Ela é um componente essencial das sociedades do conhecimento, adaptando-se continuamente a novos meios de comunicação para cumprir sua função de fornecer acesso universal a informações e permitir que todas as pessoas possam fazer uso significativo da informação. Ela fornece um espaço de acesso público para a produção de conhecimento, compartilhamento e troca de informações e cultura, como também a promoção do engajamento cívico. (UNESCO; IFLA, 2022)
Portanto, ela é um espaço físico ou virtual destinado a reunir informações de qualquer tipo, sejam elas escritas em papel, digitalizadas ou armazenadas em outros materiais, entretanto, também são locais de inspiração, leitura e estudo. De acordo Gaiman (2013), as bibliotecas são espaços de liberdade, tanto de leitura, como de ideias e comunicação, além de um local promotor de lazer, e, por isso, precisam ser recintos seguros e com acesso à informação.
Para a Fundação Biblioteca Nacional (2010), o conceito da biblioteca se baseia na garantia de acesso por todos, sem restrição de idade, raça, sexo ou status social, e também no fornecimento de todo tipo de conhecimento à comunidade, e, por isso, ela deve assumir o papel de centro de informação e leitura. Já Carvalho (2014), afirma que a biblioteca pública não deve apenas ser vista como um ambiente educacional, mas também de lazer cultural, onde suas funções compreendam o incentivo à leitura e à formação do cidadão.
Segundo Oliveira e Zen (2010), as bibliotecas são instituições fornecedoras de informação através de livros e outros suportes, enquanto as demais instituições culturais se referem a outras formas de acesso à arte e à cultura, e que todas essas entidades se complementam, uma vez que todas elas se constituem como locais de manifestação plena de criação e ação cultural. As autoras ainda afirmam que, como o Brasil é um país que possui poucas instituições culturais especializadas, a biblioteca acaba tendo sua responsabilidade cultural aumentada, onde deve assumir o papel social de desenvolvimento da formação cultural do país.
Atualmente, as bibliotecas podem ser virtuais ou híbridas, não se limitando apenas aos livros impressos, como também incluem documentos digitais. Portanto, elas têm uma história longa e rica e continuam a desempenhar um papel crítico na sociedade moderna, tendo uma importância inegável, e seu impacto na sociedade continuará a ser sentido nas próximas gerações. Sendo afirmado por Gaiman (2013), que:
As bibliotecas realmente são os portais para o futuro. É tão lamentável que, ao redor do mundo, nós observamos autoridades locais apropriarem-se da oportunidade de fechar bibliotecas como uma maneira fácil de poupar dinheiro, sem perceber que eles estão roubando do futuro para serem pagos hoje. Eles estão fechando os portões que deveriam ser abertos (Gaiman, 2013).
Portanto, compreende-se a necessidade vital que o papel das bibliotecas exerce não apenas na construção das cidades e na malha urbana, como também no desenvolvimento da identidade de cada indivíduo, especialmente, quando se trata da amplificação do senso crítico. Esta é uma ferramenta social que permite a criação da identidade cultural das cidades e age como um equipamento de ensino indispensável. Embora exista a ampliação do campo de leitura virtual, a existência da biblioteca física permite criar uma experiência única no mundo da leitura.
3.2 A BIBLIOTECA NOS DIAS ATUAIS E SUA IMPORTÂNCIA
Como principal finalidade promover a leitura, o acesso a uma ampla variedade de livros, revistas, jornais e outros recursos que podem ajudar as pessoas a aprender, crescer e desenvolver novas habilidades, a biblioteca desempenha um papel crucial na promoção da alfabetização, educação e enriquecimento cultural entre a população local. A biblioteca desempenha um papel crucial no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, logo, ela é um recurso indispensável o qual oferece diversos benefícios, afirma Nunes.
Na sociedade atual, o acesso à informação é o elemento central, onde a posse de informação equivale a ter poder, por isso, esse espaço deve se assumir como o centro de conhecimento da comunidade, democratizando o acesso à informação (Fundação Biblioteca Nacional, 2010). Mas, em um país onde as disparidades sociais e econômicas estão aumentando entre aqueles que têm acesso à informação e aqueles que são privados dela (Ibid.), a biblioteca assume uma importância ainda maior e urgente, mas esse espaço necessita de adaptação aos novos tempos para manter sua função social e relevância para comunidade.
Além disso, com o avanço tecnológico, o crescimento do acervo e o surgimento de novos suportes, esses espaços necessitam de mudanças no seu paradigma, onde passaram de armazenadoras de documentos para intermediadoras sociais (Messias, 2010). Posto isso, a biblioteca atualmente deve ser um espaço dinâmico, diverso, inclusivo, participativo, inovador e criativo, que valoriza o patrimônio documental e o acesso ao conhecimento, incentivando o acesso à educação e à leitura cada vez mais, sendo necessária o investimento de políticas públicas para elas sejam reestruturadas. Reis aborda que:
A biblioteca moderna assume um novo conceito e em lugares onde não há espaços culturais, cinemas e teatros, a biblioteca pode e deve assumir sua função cultural, disponibilizando o seu espaço para exibições de filmes, saraus e exposições de arte, mesas de debates sobre os mais variados tipos de assuntos, apresentações teatrais e musicais, ou seja, um espaço disseminador de cultura, conhecimento e informação (Reis, 2000).
Ademais, as bibliotecas de hoje buscam inovar e criar novas formas de envolver e interagir com seus usuários por meio de projetos como bibliotecas móveis, digitais, verdes e outras. Contudo, a biblioteca deve assumir sua função cultural, como afirma Reis (2000), além de permitir que ela se adapte às mudanças e permaneça relevante para a sociedade, como também fornecer espaços e serviços que estimulem a criatividade, colaboração, experimentação e empreendedorismo entre os usuários.
A biblioteca “sustenta sociedades saudáveis baseadas em conhecimento fornecendo acesso e permitindo geração e compartilhamento de conhecimento de todos os tipos, incluindo conhecimento científico e regional sem barreiras comerciais, tecnológicas ou legais” (UNESCO, 2022). Entretanto, as bibliotecas atualmente enfrentam desafios e oportunidades diante das transformações digitais, sociais e culturais que afetam seus serviços, seus acervos e seus espaços (Jornal da Unesp, 2022).
3.2.1 DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DAS BIBLIOTECAS
Embora a biblioteca pública brasileira deva ser vista como um local para cultura e aprendizado, ela não possui as condições estruturais necessárias para funcionar efetivamente na sociedade da informação (Bernardino e Suaiden, 2013), tanto para garantir o acesso à tecnologia, como para acompanhar as exigências espaciais das novas gerações. Dessa forma, esse espaço passa a se distanciar da sua função social de promover o acesso à informação para toda a sociedade, o que leva ao fechamento ou redução de serviços que esse local fornece, gerando um processo de desintegração entre biblioteca e sociedade.
Esse processo gera um cenário de desordem e insatisfação da comunidade, podendo culminar no desaparecimento desse ambiente (Ferreira, 2006). Nesse contexto, Suaiden (2000) afirma que “a sociedade da informação traz no seu bojo as questões da globalização, das novas tecnologias e do modelo de desenvolvimento sustentável. Essas questões apresentam contrastes marcantes do ponto de vista social”. Relacionado a isso, “a crise brasileira agrava a relação da biblioteca com a sua missão social” (Machado e Suaiden, 2013), onde a maioria da população ainda não valoriza a informação, a manutenção do seu papel na sociedade se torna ainda mais relevante (Ribeiro, 2013).
Logo, é observado que o dilema da biblioteca pública na sociedade da informação evidencia sua contradição. Situada em uma sociedade repleta de grandes disparidades sociais, a biblioteca pública falha em desempenhar sua função essencial de ser a principal propagadora de informação (Suaiden, 2000). “As bibliotecas ao constatarem o esvaziamento de suas funções, buscam para si um perfil que atenda às novas demandas da sociedade, e que também justifique e garanta sua existência” (Messias, 2010). Nesse contexto, a arquitetura pode ser uma ferramenta eficaz, tanto para o auxílio organizacional, quanto em aspectos de bem-estar e utilização.
Na atualidade, tornam-se cada vez mais relevantes parâmetros como a luminosidade, a acústica, o conforto e a funcionalidade de um edifício. Além disso, “planejar o edifício da biblioteca passa por vários aspectos que caracterizam esse ambiente informacional, desde a acessibilidade física, preservação e conservação a um ambiente agradável e salubridade para usuários e funcionários” (Rodrigues, 2016). Nesse sentido, a arquitetura tem papel essencial na garantia desses aspectos a partir de um projeto adequado.
3.3 A ARQUITETURA COMO FERRAMENTA PARA SOLUCIONAR O DESUSO DA BIBLIOTECA
Compreende-se que, através da arquitetura, é possível criar ambientes capazes de influenciar e incentivar o uso do mesmo pela população. É imprescindível que se tenha uma infraestrutura que desperte o desejo de usufruir daquele espaço, seja por meio da estética ofertada, pela funcionalidade ou até mesmo por um conjunto de elementos que se comuniquem criando, assim, um local confortável e acolhedor.
A arquitetura de interiores tem uma questão fundamental que é possibilitar uma direta interação entre a funcionalidade do espaço físico e o aspecto estético. No caso específico da biblioteca, as funções de armazenamento de coleções, acesso, uso, fluxos e serviços são de tal complexidade e grandeza que necessitam de estudos muito detalhados para permitir que essa interatividade aconteça. (Santoro, 1999).
Almeida (2005) aborda os princípios e indicadores em um projeto arquitetônico. Esses critérios avaliam a qualidade dos espaços e verificam se o projeto atende aos serviços biblioteconômicos, utilizando-se de parâmetros a respeito se o espaço é flexível, compacto, diversificado, acessível, organizado e confortável, como também se ele é adaptável às novas tecnologias, à ampliação e às necessidades dos usuários; e se ele é acolhedor e seguro aos usuários ou possui a proteção e segurança do acervo.
A relação entre arquitetura e biblioteca é totalmente integrada, moldando um futuro mais promissor e inovador para a prática arquitetônica (Barros, 2015). As bibliotecas físicas têm se adaptado às aspirações da sociedade, mostrando flexibilidade e investindo em espaços novos ou renovados para “encantar” os usuários. Diante disso, ao longo da história, o processo de construção de bibliotecas tem sido cíclico, mas nos últimos vinte anos, é observado um crescimento significativo nessa área. Projetos de design e renovação de bibliotecas têm se destacado pela inventividade e criatividade, resultando em espaços mais funcionais, acolhedores e adaptados às necessidades dos usuários, afirma Barros.
Além disso, “a biblioteca como um serviço público deve ter seu espaço preparado para acolher todo e qualquer público, sendo a acessibilidade física um exemplo de inclusão para a pessoa com deficiência” (Rodrigues, 2016). Nesse contexto, a Norma ABNT 9050, que estabelece as diretrizes de acessibilidade em espaços públicos e internos, estabelece os parâmetros para se garantir o acesso de todos os indivíduos à edificação, sendo de suma importância para um projeto arquitetônico adequado.
Outro ponto relevante nesse contexto é o controle da temperatura e umidade, que se aplica tanto ao conforto térmico por parte dos usuários, quanto à conservação dos livros. Quanto à preservação do acervo, há a preocupação com o controle da umidade, entrada da luz natural, e da iluminação do seu interior. Júnior (1997, p. 13) afirma que a partir de um processo de degradação em curso, a conservação não é capaz de suspender o seu curso, apenas reduzir o ritmo que ele ocorre. Métodos como o controle da temperatura e umidade, que devem estar entre 20º a 25º e de cinquenta a sessenta por cento (Mársico, 2016; Júnior, 1997), respectivamente, e prever uma iluminação correta, evitando a incidência solar direta no acervo, são métodos capazes de reduzir a degradação dos livros. Nesse sentido, a arquitetura tem papel essencial na garantia dessas técnicas a partir de um projeto adequado.
O uso de cores adequadas também tem grande importância na garantia de conforto dentro do espaço da biblioteca. “O uso de cores adequadas têm, às vezes, um poder especial de motivação de uso de espaços” (Santoro, 1999). Sua função abarca desde a questão estética, na garantia da harmonia, beleza e luminosidade do espaço, quanto funcional em relação a demarcação dos espaços, como rampas, escadas, elevadores, entradas e saídas.
O planejamento arquitetônico de uma biblioteca busca criar um espaço funcional, acolhedor e adaptado às necessidades de todos. Portanto, ressignificar o ambiente, é uma forma de transformar a arquitetura e a função dessa instituição na sociedade atual, adaptando-a às novas demandas e desafios que se apresentam, como também preservar e valorizar a memória e a identidade dos lugares onde a biblioteca se insere, promovendo a cultura e o conhecimento como elementos essenciais para o desenvolvimento humano.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho buscou mostrar a importância da biblioteca atualmente, os desafios enfrentados para que haja valorização do espaço e como a arquitetura pode ser utilizada como ferramenta de incentivo ao uso da mesma, demonstrando que, quando relacionada à uma estrutura de qualidade, torna-se não só um local para preservação de livros, mas também um ambiente que desperte desejo pelo conhecimento, ensino e aprendizagem.
A partir da utilização de pesquisas exploratórias, levantamento bibliográfico por meio de dados supracitados como sites, artigos, livros e trabalhos, a proposta de pesquisa foi discutir a respeito da importância da valorização do espaço de leitura e como melhorá-lo através da arquitetura, auxiliando e incentivando o seu uso. Além disso, busca-se demonstrar como as bibliotecas são um espaço de acesso à informação, ao conhecimento, lazer e à cultura para o local em que está inserida, atuando como uma ferramenta de aprendizagem e desenvolvimento pessoal, oferecendo oportunidades para aquisição de novos conhecimentos, habilidades e o estímulo à leitura, além de contribuir para a formação de cidadãos críticos e conscientes. Por isso, é de extrema relevância a valorização deste elemento, a fim de perpetuar o seu uso e sua riqueza cultural, fazendo com que a sociedade a utilize como instrumento de incentivo ao estudo e busca por conhecimento.
Ademais, a essência do modelo de biblioteca é a circularidade da informação. Por meio do diálogo entre os repertórios culturais da biblioteca e das pessoas que circulam naquele meio, você cria um espaço de trocas de experiências e propicia o surgimento de uma nova relação com a informação. As bibliotecas são de suma importância em uma comunidade ou cidade, pois exercem um papel social decisivo na integração dos indivíduos na cultura da Era da Informação, sendo importantes arranjos físicos para o desenvolvimento intelectual, disseminação do conhecimento e preservação da cultura local.
Através de um projeto adequado e adaptado às necessidades contemporâneas, as bibliotecas podem se tornar centros de convivência, permanência e aprendizado. Espaços multifuncionais, acessíveis e tecnologicamente equipados podem fomentar a inclusão digital, cultural e social, atraindo diversos públicos e incentivando a participação comunitária.
Em síntese, a valorização das bibliotecas por meio da arquitetura é um passo essencial para transformar esses espaços em núcleos vivos de cultura, educação e interação social. Esse processo, portanto, não apenas preserva o patrimônio cultural e histórico da cidade, mas também impulsiona seu desenvolvimento futuro, a partir da promoção do acesso ao conhecimento e à cultura.
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1 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade Independente do Nordeste- FAINOR. E-mail: thaisegois@gmail.com